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Anemia de Doença Crônica, Sideroblástica e Intoxicação por Chumbo Prof. Esp. Willians Melo Mestrando em Saúde Pública – Fiocruz Pernambuco MKT-MDL-05 Versão 00 Introdução • A anemia ferropriva é a causa mais comum de anemia microcítica; • Caracteriza-se pela diminuição do volume corpuscular médio (VCM), geralmente acompanhada pela diminuição da hemoglobina corpuscular média (HCM) e da concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), caracterizando a presença de hipocromia associada; • Entretanto, outras condições podem cursar com anemia microcítica, tais como: talassemias, anemia de doença crônica, anemia sideroblástica e envenenamento por chumbo; Vicari, 2010 Anemia de Doença Crônica - ADC • O diagnóstico de deficiência de ferro poderia ser simples se não houvesse uma série de situações clínicas que influenciam o perfil do ferro; • A anemia de doença crônica é a anemia mais comum em pacientes hospitalizados e, em geral, incide em indivíduos com patologias inflamatórias crônicas devido aos elevados níveis de citocinas inflamatórias, que interferem na utilização da eritropoetina e no metabolismo do ferro; • Os valores de hemoglobina oscilam entre 9 e 11 g/dL e é, habitualmente, assintomática ou oligossintomática; • A anemia é normocrômica e normocítica, podendo ser microcítica e hipocrômica; Vicari, 2010 • Altera os testes de triagem na avaliação do perfil do ferro; • A adequada diferenciação entre ADC e AF requer a mensuração tecidual do ferro, que pode ser inferida pela medida do receptor solúvel da transferrina; • Embora a coloração do mielograma para ferro permaneça como o exame padrão para determinação do depósito de ferro, utilizamos a avaliação da concentração da ferritina sérica, mesmo reconhecendo sua elevação na doença crônica; • Assim, ferritina sérica inferior a 15 ng/mL é atribuída à anemia por deficiência de ferro, enquanto valores superiores a 100 ng/mL praticamente excluem este diagnóstico, mesmo na presença de doença inflamatória ou doença hepática; Vicari, 2010 Hoffbrand, 2013 Patogênese • Dos vários mecanismos envolvidos na etiopatogenia da ADC, os três principais são: diminuição da sobrevida das hemácias, resposta medular inadequada frente à anemia e distúrbio do metabolismo do ferro; • A ADC compreende uma das alterações de um complexo de respostas metabólicas frente à estimulação do sistema imunológico celular; • Esta resposta inicia-se com a ativação dos macrófagos e a elaboração e secreção de citocinas; • Tem sido cada vez mais evidente a participação central dos monócitos e macrófagos na patogênese da ADC; Cançado e Chiattone, 2002 Diminuição da sobrevida das hemácias • Atribuída ao estado de hiperatividade do sistema mononuclear fagocitário desencadeado por processo infeccioso, inflamatório ou neoplásico; • Tal estado hiper-reativo leva à remoção precoce dos eritrócitos circulantes e, portanto, à diminuição da sobrevida das hemácias, que varia de 80 a 90 dias, considerando o normal de 110 a 120 dias; • Outros fatores como: febre (que pode causar dano à membrana eritrocitária), liberação de hemolisinas (em algumas neoplasias) e liberação de toxinas bacterianas podem levar à condição de hiperhemólise; Cançado e Chiattone, 2002 Resposta medular inadequada • A medula óssea normal é capaz de aumentar 6 a 8 vezes sua capacidade eritropoética e, portanto, facilmente compensaria a diminuição modesta da sobrevida das hemácias; • No entanto, não é isto que se observa nos pacientes com ADC; • Tal falha do aumento da eritropoese deve-se, particularmente, à secreção inapropriadamente baixa de EPO; Cançado e Chiattone, 2002 • Normalmente, existe correlação positiva entre síntese de eritropoetina e intensidade da anemia, ou seja, a diminuição da hemoglobina promove aumento da secreção da eritropoietina em indivíduos com função renal normal; • Entretanto, vários trabalhos têm mostrado que nos pacientes com artrite reumatoide e ADC tal aumento ocorre, porém é muito pequeno quando comparado ao aumento observado nos indivíduos com artrite reumatoide sem ADC, o qual é capaz de corrigir a anemia; Cançado e Chiattone, 2002 • Uma das explicações para essa resposta medular inadequada está diretamente relacionada à ativação dos macrófagos e à liberação de citocinas inflamatórias, principalmente da interleucina-1 e interleucina-6 (IL-1, IL-6), do fator de necrose tumoral alfa (TNF α) e do interferon gama (INF γ), que atuam inibindo a proliferação dos precursores eritrocitários e, portanto, inibindo a eritropoese; Cançado e Chiattone, 2002 Cançado e Chiattone, 2002 Distúrbio do metabolismo do ferro • Na ADC ocorre distúrbio da reutilização do ferro que se mantém sob a forma de depósito; • Esse bloqueio deve-se ao aumento da síntese da lactoferrina, promovido pela IL-1, que é uma proteína semelhante à transferrina (transferrina-like) secretada pelos neutrófilos, que compete com essa; • A lactoferrina difere funcionalmente da transferrina em três importantes aspectos: tem maior afinidade pelo ferro, especialmente em pH mais baixos, não transfere o ferro às células eritropoéticas e é “retida” rápida e ativamente pelos macrófagos; Cançado e Chiattone, 2002 Cançado e Chiattone, 2002 Quadro Laboratorial da ADC • Normocitose e normocromia (levemente hipocrômico, VCM raramente <75 fL); • Anemia leve e não progressiva (hb raramente abaixo de 9 g/dL); • Ferro sérico e TIBC diminuídos; • Ferritina sérica normal ou alta; • Depósito de ferro normal (reticuloendodetial) na medula óssea; • Depósito de ferro nos eritroblastos: diminuídos; Hoffbrand, 2013 Anemia Sideroblástica • A anemia sideroblástica é um grupo heterogêneo de desordens com duas características em comum: presença de sideroblastos em anel na medula óssea e biossíntese do heme prejudicada; • Ocorre eritropoese ineficaz com acúmulo de ferro medular e anemia hipocrômica concomitante, hiperferremia, saturação quase total da transferrina, sideroblastos em anel devido à distribuição das mitocôndrias na região perinuclear das células em desenvolvimento; • A anemia sideroblástica geralmente é transmitida hereditariamente, ligada ao cromossomo X, levando a um defeito no metabolismo mitocondrial ainda não muito claro; Vicari, 2010 • A anemia tende a ser moderada a grave, com níveis de hemoglobina que variam, geralmente, de 4 a 10g/dL; • O esfregaço de sangue revela hipocromia, microcitose e basofilia; • A população de células vermelhas dimórficas é característica de mulheres portadoras de condições hereditárias; • Anemia sideroblástica permanece no diagnóstico diferencial de pacientes com deficiência de ferro e anemia refratária à reposição de ferro; • A medula óssea revela a presença diagnóstica dos sideroblastos em anel; Vicari, 2010 Bárbara Bain, 2006 Bárbara Bain, 2006 Hoffbrand, 2013 Hoffbrand, 2013 Intoxicação por Chumbo • Patologia pouco frequente, que atualmente está associada ingestão de tintas à base de chumbo ou pela contaminação ambiental; • Clinicamente manifesta-se com dor abdominal difusa, náuseas, vômitos, anorexia, obstipação ou, ocasionalmente, diarreia e sintomas neurológicos, tais como: irritabilidade, incoordenação, lapsos de memória, apatia, paranoia e cefaleia; Vicari, 2010 • Laboratorialmente, a anemia é hipocrômica microcítica com pontilhado basofílico grosseiro nas hemácias; • A concentração corpórea de chumbo conclui o diagnóstico; • A dosagem de protoporfirina eritrocitária ou zinco-protoporfirina pode ser realizada, entretanto esta dosagem também está aumentada na deficiência de ferro; Vicari, 2010 Bárbara Bain, 2006 Pontilhadobasófilo Hoffbrand, 2013 Referências 1. Victor Hoffbrand. Fundamentos em hematologia. Capítulo 03 – Anemias Hipocrômicas; 2. VICARI, Perla; FIGUEIREDO, Maria Stella. Diagnóstico diferencial da deficiência de ferro. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 2010; 3. CANÇADO, Rodolfo D.; CHIATTONE, Carlos S. Anemia de doença crônica. Rev Bras Hematol Hemoter, v. 24, n. 2, p. 127-36, 2002; 4. Barbara Bain. Blood cells : a practical guide. 4th ed. Blackwell Publishing.
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