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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 619-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CÓDIGO DE TRÂNSITO 
 Carros dos conselhos profissionais não podem ser registrados como veículos oficiais. 
 
DIREITO CIVIL 
OBRIGAÇÕES 
 Pedido para analisar se existe mesmo o débito não pode ser considerado ato que interrompe a prescrição (art. 202, 
VI, do CC). 
 
DANOS MORAIS 
 É possível que o juiz utilize presunções e regras de experiência para a comprovação do dano moral da pessoa jurídica. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
 Súmula 602-STJ. 
 
PRÁTICA ABUSIVA 
 Súmula 603-STJ. 
 
VÍCIO DO PRODUTO 
 Dever do comerciante de receber e enviar os aparelhos viciados para a assistência técnica ou para o fabricante. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
MARCA 
 Danos materiais e morais em caso de uso indevido de marca. 
 
SOCIEDADES 
 Ação de regresso proposta pela empresa cindida contra a empresa resultante da cisão. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
EXECUÇÃO 
 O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro no caso de litisconsortes com 
procuradores distintos (art. 229 do CPC). 
 
AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE 
 Conversão da ação reintegratória em indenizatória. 
 
DIREITO PENAL 
LEI DE DROGAS 
 Decisão que reconhece detração penal analógica virtual não serve para fins de reincidência. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA 
 Cartório que não certificou o dia do recebimento da sentença. 
 
RECURSOS 
 Súmula 604-STJ. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 
 Apresentação anula de relatório das atividades exercidas pela entidade beneficente não era requisito para o gozo 
da imunidade tributária. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
AUXÍLIO-ACIDENTE 
 O segurado especial tem direito ao auxílio-acidente sem precisar comprovar o recolhimento de contribuição como 
segurado facultativo. 
 
PENSÃO POR MORTE 
 Menor sob guarda é dependente para fins previdenciários. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CÓDIGO DE TRÂNSITO 
Carros dos conselhos profissionais não podem ser registrados como veículos oficiais 
 
Os conselhos de fiscalização profissional não possuem autorização para registrar os veículos 
de sua propriedade como oficiais. 
STJ. 1ª Turma. AREsp 1.029.385-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 05/12/2017 (Info 619). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
O Conselho Regional de Engenharia de São Paulo (CREA/SP) requereu ao DETRAN que os carros de sua 
propriedade fossem registrados no órgão como veículos oficiais. 
Os veículos oficiais estão disciplinados pela Lei nº 1.081/1950. 
O DETRAN negou o pedido, o que fez com que o CREA impetrasse mandado de segurança contra o ato. 
 
A pergunta que surge, portanto, é a seguinte: os conselhos profissionais podem registrar seus veículos 
como carros oficiais? 
NÃO. 
Os conselhos de fiscalização profissional não possuem autorização para registrar os veículos de sua 
propriedade como oficiais. 
STJ. 1ª Turma. AREsp 1.029.385-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 05/12/2017 (Info 619). 
 
A Resolução Contran nº 529/78 assegurava o emplacamento de veículos pertencentes a autarquias e a 
Resolução nº 756/91 dispunha sobre as cores das placas de identificação de veículos pertencentes a 
entidades públicas. Tais atos, no entanto, foram revogados pela Resolução Contran nº 298/2008. 
Por outro lado, o § 1º do art. 120 do Código de Trânsito Brasileiro prevê que somente serão registrados 
como oficiais os veículos de propriedade da Administração Direta, seja da União, dos Estados Membros, 
do Distrito Federal ou aos Municípios, de qualquer um dos Poderes da República. 
Assim, mostra-se inviável que o Conselho de Fiscalização Profissional, que possui natureza de autarquia, 
componente da administração indireta, registre seus veículos como oficiais. 
 
Rafael Verol
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
OBRIGAÇÕES 
Pedido para analisar se existe mesmo o débito não pode ser considerado 
ato que interrompe a prescrição (art. 202, VI, do CC) 
 
O pedido de concessão de prazo para analisar documentos com o fim de verificar a existência 
de débito não tem o condão de interromper a prescrição. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.895-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa 1 prestou serviços para a empresa 2. 
Por esses serviços, a empresa 1 deveria receber R$ 400 mil, que deveriam ter sido pagos em agosto/2012. 
Em julho de 2017, ou seja, 4 anos e 11 meses depois, a empresa 1 enviou notificação à empresa 2 
requerendo que esta efetuasse o pagamento da quantia devida, acrescida de juros e correção monetária. 
A empresa 2 respondeu a essa notificação solicitando prazo para que o setor técnico da empresa 
analisasse os documentos enviados e, assim, pudesse confirmar se os serviços que estão sendo cobrados 
foram realmente prestados. 
Como não houve resposta, a empresa 1 ajuizou, em setembro/2012, ação de cobrança contra a empresa 2. 
A ré, em contestação, afirmou que a pretensão está prescrita conforme prevê o art. 206, § 5º, I, do Código Civil: 
Art. 206. Prescreve: 
(...) 
§ 5º Em cinco anos: 
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; 
 
A autora refutou a alegação sustentando que o pedido feito pela empresa ré para analisar os documentos 
foi uma causa interruptiva da prescrição, nos termos do art. 202, VI, do CC: 
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: 
(...) 
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito 
pelo devedor. 
 
A tese da autora foi acolhida pelo STJ? 
NÃO. 
O pedido de concessão de prazo para analisar documentos com o fim de verificar a existência de débito 
não tem o condão de interromper a prescrição. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.895-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619). 
 
Para que se enquadre nesse inciso VI do art. 202, deve ter sido praticado um ato que, de forma inequívoca 
(sem dúvidas), demonstre que o devedor reconheceu o direito do credor. 
Assim, não serve para interromper a prescrição o ato do devedor que “(...) traduz simples possibilidade de 
que tenha havido o reconhecimento ” (CAHALI, Yussef Said. Prescrição e decadência. São Paulo: RT, 2ª ed., 
2012, p. 129). 
No mesmo sentido é a lição de Gustavo Tepedino: 
Rafael Verol
Rafael Verol
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
“A lei não especificou que atos, judiciais ou extrajudiciais, poderiam ensejar a interrupção da 
prescrição, deixando ao magistrado essa tarefa. É certo, contudo, que o reconhecimento deve ser 
inequívoco, motivo pelo qual a eventual existência de dúvida quanto à sua configuração já afasta 
o efeito estabelecido na norma.” (Código civil interpretado, Vol. 1, Parte Geral e Obrigações. Rio 
de Janeiro: Renovar, 2ª ed., 2007, p. 390). 
 
O pedido de concessão de prazo para analisar os documentos apresentados pela ré só poderia ser 
consideradocomo ato inequívoco que importasse em reconhecimento de débito (direito de receber) se 
este pedido de prazo fosse para o devedor analisar o montante dos valores (quantia exata a ser paga) e 
não para analisar se o serviço tinha sido ou não prestado (analisar a própria existência do débito). 
 
 
 
DANOS MORAIS 
É possível que o juiz utilize presunções e regras de experiência 
para a comprovação do dano moral da pessoa jurídica 
 
Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa, sendo 
necessária a comprovação nos autos do prejuízo sofrido. 
Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de experiência para a configuração 
do dano, mesmo sem prova expressa do prejuízo, o que sempre comportará a possibilidade de 
contraprova pela parte ou de reavaliação pelo julgador. 
Ex: caso a pessoa jurídica tenha sido vítima de um protesto indevido de cambial, há uma 
presunção de que ela sofreu danos morais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619). 
Cuidado: existem julgados em sentido contrário, ou seja, dizendo que pessoa jurídica pode sofrer 
dano moral in re ipsa. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 
julgado em 28/11/2017 (Info 619). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa 1 levou para protesto, em desfavor da empresa 2, um título de crédito que já havia sido pago. 
Diante disso, a empresa 2, protestada indevidamente, ajuizou ação de indenização por danos morais 
contra a empresa 1. 
 
As pessoas jurídicas podem sofrer dano moral? 
SIM. Esse tema está, inclusive, sumulado: 
Súmula 227-STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. 
 
No mesmo sentido, o art. 52 do CC prevê: 
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 
 
Vale ressaltar, no entanto, que “o dano moral de pessoa jurídica não é idêntico àquele sofrido por um 
indivíduo. Percebe-se que a expressão dano moral é usada como analogia, uma vez que envolvem direitos 
extrapatrimoniais, mas não são de natureza biopsíquica e tampouco envolve a dignidade da pessoa 
humana.” (Min. Nancy Andrigui). 
O que se protege é a honra objetiva da pessoa jurídica. Assim, quando se fala que a pessoa jurídica pode 
sofrer danos morais, o que se está dizendo é que ela pode sofrer danos contra seu bom nome, fama, 
reputação etc. 
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
 Informativo 
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
Assim, é possível que a pessoa jurídica sofra dano moral (Súmula 227/STJ), desde que demonstrada ofensa 
à sua honra objetiva (imagem e boa fama) (STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 913.343/RS, Rel. Min. Marco 
Buzzi, julgado em 06/03/2018). 
 
Dano moral in re ipsa 
Em algumas situações, a doutrina e a jurisprudência afirmam que a demonstração do dano moral não é 
necessária, bastando se demonstrar que houve a prática do ato. Nesse caso, fala-se em damnun in re ipsa, 
também conhecido como dano moral in re ipsa. 
Luiz Rodrigues Wambier e Teresa Arruda Alvim Wambier ensinam que o dano moral deve ser considerado 
in re ipsa quando ele decorrer da existência de uma comunhão de valores éticos e sociais ou, ainda, de 
uma essência comum universal dos seres humanos. Em outras palavras, existe uma espécie de “consenso” 
de que aquele fato gera um dano moral não sendo necessário que se prove que houve sofrimento. É o 
caso, por exemplo, da perda de um ente querido. Não se exige que a pessoa comprove que sofreu nem o 
quanto sofreu. Basta que se comprove o ilícito que levou à morte de alguém e a autoria deste ilícito. O 
dano moral é in re ipsa. (Dano moral de pessoa jurídica e sua prova. In: Anuário de Produção Intelectual. 
Curitiba: Arruda Alvim Wambier, 2008, p. 151). 
 
Pessoa jurídica pode sofrer dano moral in re ipsa? 
A partir do que foi exposto acima, não há como aceitar que o dano moral sofrido pela pessoa jurídica possa 
ser classificado como in re ipsa, ou seja, sem a necessidade de apresentação de qualquer tipo de prova. 
Não é possível que o julgador dispense qualquer tipo de comprovação para caracterizar os danos morais 
sofridos pela pessoa jurídica. 
É possível, contudo, que o magistrado, ao julgar pedido de indenização formulado por pessoa jurídica, 
utilize presunções ou regras de experiência. 
Veja o que dizem Luiz Rodrigues Wambier e Teresa Arruda Alvim Wambier: 
“Regras de experiência norteiam o juiz a entender ter havido dano moral de pessoa jurídica, como 
por exemplo, no caso de protesto de título já pago. (...) Sabe-se que a empresa que tem título 
protestado fica impedida de participar de licitações, assiste à desconfiança de seus fornecedores, 
deixa de ter crédito. Estas consequências não precisam ser diretamente provadas, porque se sabe 
que elas ocorrem: são as regras comuns da experiências. Mas não se trata de dano in re ipsa, pois 
se está, aqui, diante de situação que admite contra-prova. (...) o dano moral de pessoa física é in 
re ipsa e, pois, não aproveita ao réu a alegação e comprovação de que não houve abalo; o dano 
moral de pessoa jurídica pode, eventual e circunstancialmente, dispensa prova direta e ser 
provada pela via das presunções. Entretanto, prova de que o dano efetivamente não ocorreu 
certamente aproveitará àquele que se apontou como causador da lesão.” (Dano moral de pessoa 
jurídica e sua prova. In: Anuário de Produção Intelectual. Curitiba: Arruda Alvim Wambier, 2008, 
p. 159-160) 
 
Em suma: 
Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa, sendo necessária 
a comprovação nos autos do prejuízo sofrido. 
Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de experiência para a configuração do dano, 
mesmo sem prova expressa do prejuízo, o que sempre comportará a possibilidade de contraprova pela 
parte ou de reavaliação pelo julgador. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619). 
 
Cuidado porque existem precedentes em sentido contrário: 
Há julgados do STJ em sentido contrário ao que foi explicado acima e afirmando que a pessoa jurídica pode 
sim sofrer dano moral in re ipsa: 
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
 Informativo 
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
(...) O dano moral por uso indevido da marca é aferível in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da 
mera comprovação da prática de conduta ilícita, revelando-se despicienda a demonstração de prejuízos 
concretos ou a comprovação probatória do efetivo abalo moral. (...) 
STJ. 4ª Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619). 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
Aplicação do CDC aos empreendimentos habitacionais promovidos pelas sociedades cooperativas 
 
Súmula 602-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos 
habitacionais promovidos pelas sociedades cooperativas. 
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 22/2/2018, DJe 26/2/2018. 
 
Cooperativas habitacionais 
Existem determinados empreendimentos habitacionais que são planejados, construídos e comercializados 
por sociedades cooperativas. 
Um exemplo famoso é o da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop). 
A Bancoop foi criada com o objetivo de construir e vender imóveis (em geral, apartamentos) para os 
trabalhadores bancários. 
A ideia das cooperativashabitacionais é nobre, considerando que o objetivo, em tese, é o de facilitar que 
um grupo de pessoas consiga adquirir sua casa própria de forma facilitada, com preços menores, juros 
mais baixos e prazo mais extenso para pagamento. Isso porque, na teoria, a cooperativa não possui 
finalidade de lucro. Sua finalidade seria apenas a de facilitar para que aquele grupo de pessoas consiga 
atingir seu objetivo, que, no caso, seria construir um empreendimento imobiliário para moradia. 
Algumas vezes, contudo, na prática, os fins originais das cooperativas habitacionais foram desvirtuados, 
sendo comum notícias de irregularidades e até mesmo de crimes cometidos por determinados dirigentes 
de sociedades cooperativas. 
Assim, infelizmente, aconteceram vários casos de sociedades cooperativas que atrasaram a entrega ou 
mesmo não entregaram os empreendimentos habitacionais que lançaram e pelos quais as pessoas 
pagaram com o objetivo de ali morarem. 
 
Essas questões foram levadas até o Judiciário e surgiu a seguinte dúvida: os adquirentes desses imóveis 
podem ser considerados consumidores? As cooperativas habitacionais podem ser classificadas como 
fornecedoras? Essa relação jurídica é regida pelo Código de Defesa do Consumidor? 
SIM. O STJ, há muito tempo, firmou a posição de que a cooperativa que promove um empreendimento 
habitacional assume posição jurídica equiparada a uma incorporadora imobiliária, estando sujeita, 
portanto, às disposições do Código de Defesa do Consumidor. 
Quando lança um plano habitacional, a cooperativa age como prestadora de serviços, e os seus 
cooperados (adquirentes) se equiparam a consumidores. 
Os cooperados adquirem o imóvel como destinatários finais e são considerados vulneráveis, razão pela 
qual se enquadram no conceito de consumidores. 
 
 
 
 
 
Rafael Verol
Rafael Verol
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
PRÁTICA ABUSIVA 
Banco não pode descontar verbas de natureza salarial depositadas 
na conta bancária para quitar mútuo comum 
 
Súmula 603-STJ: É vedado ao banco mutuante reter, em qualquer extensão, os salários, 
vencimentos e/ou proventos de correntista para adimplir o mútuo (comum) contraído, ainda 
que haja cláusula contratual autorizativa, excluído o empréstimo garantido por margem 
salarial consignável, com desconto em folha de pagamento, que possui regramento legal 
específico e admite a retenção de percentual. 
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 22/2/2018, DJe 26/2/2018. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é servidor público aposentado e recebe seus proventos no banco “Moreal”. 
João fez contrato de mútuo com o banco, tendo tomado emprestado R$ 40 mil. 
O mutuário pagou quase todo o empréstimo, mas ficou devendo R$ 11 mil. 
No contrato havia uma previsão de que a dívida decorrente do empréstimo poderia ser descontada 
diretamente da conta-corrente que João mantém no banco “Moreal”. A cláusula dizia mais ou menos o 
seguinte: 
“O MUTUÁRIO autoriza o MUTUANTE a debitar na conta-corrente de que é titular, até quanto os fundos 
comportarem, todas as quantias devidas em função do empréstimo tomado.” 
Ocorre que, em vez de buscar os meios judiciais para receber a dívida, o banco passou a reter o valor de toda 
a aposentadoria de João (R$ 1.500) todas as vezes que ela era depositada, até quitar integralmente a dívida. 
 
A conduta do banco foi lícita? 
NÃO. O STJ entende que é ilegal a conduta do banco de se apropriar do salário do cliente, depositado na 
conta-corrente, ainda que seja para pagar um mútuo (empréstimo) contraído com esta instituição 
financeira e mesmo que exista essa autorização no contrato. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. AgRg nos EDcl 
no AREsp 429.476/RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/09/2014. 
 
Mas esse desconto foi autorizado pelo contrato assinado? 
Ocorre que o STJ entende que esta cláusula que autoriza o desconto é abusiva. 
 
Por que é abusiva? 
A conduta de instituição financeira que desconta o salário do correntista para quitação de débito contraria 
o art. 7º, X, da Constituição Federal e o art. 833, IV, do CPC, pois estes dispositivos visam à proteção do 
salário do trabalhador, seja ele servidor público ou não, contra qualquer atitude de penhora, retenção, ou 
qualquer outra conduta de restrição praticada pelos credores, salvo no caso de prestações alimentícias. 
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de 
sua condição social: 
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; 
 
Art. 833. São impenhoráveis: 
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de 
aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por 
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de 
trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º; 
(...) 
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento 
de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias 
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto 
no art. 528, § 8º, e no art. 529, § 3º. 
 
Perceba, portanto, que esta cláusula que autoriza o desconto concede ao banco a posição de credor 
ultraprivilegiado, considerando que ele poderia “executar” extrajudicialmente a dívida sem estar preso à 
limitação legal do art. 833, IV, do CPC. Ora, se o banco ingressasse com uma execução pedindo a penhora 
do salário depositado de João, o juiz não poderia deferir essa medida por conta da vedação do art. 833, 
IV, do CPC. Logo, com muito mais razão não pode o banco fazer ele próprio a penhora dos valores 
depositados. 
Como afirmou a Min. Nancy Andrighi, “Se nem mesmo ao Judiciário é lícito penhorar salários, não será a 
instituição privada autorizada a fazê-lo.” (Resp 1.012.915/PR) 
A previsão contratual nesse sentido é, portanto, ilícita por representar uma fraude, uma burla ao art. 833, 
IV, do CPC. 
 
Indenização por danos morais 
Vale ressaltar que, neste caso, o banco poderá ser condenado a pagar indenização por danos morais por 
conta de sua conduta ilícita. 
A retenção de verba salarial com o objetivo de saldar débitos existentes em conta-corrente mantida pela 
própria instituição financeira credora é conduta passível de reparação moral. 
 
Existe algum percentual baixo que o banco está autorizado a reter (ex: 30% do salário)? Essa 
possibilidade existe? 
NÃO. É vedado ao banco mutuante reter, em qualquer extensão, os salários, vencimentos e/ou proventos 
de correntista para adimplir o mútuo (comum) contraído. “Em qualquer extensão” significa aqui “qualquer 
que seja o percentual”. Desse modo, mesmo que seja um percentual baixo (10%, 20%, 30% do salário), 
ainda assim essa prática será considerada abusiva. 
 
O que o banco deve fazer nestes casos? 
A instituição financeira terá que buscar a satisfação de seu crédito pelas vias judiciais próprias (ajuizar 
ação de cobrança, monitória ou de execução, a depender do caso concreto). 
 
Esse contrato celebrado por João e que foi explicado acima é aquilo que se chama de “empréstimo 
consignado”? 
NÃO. O contrato feito por João não se trata de consignação em folha de pagamento (“empréstimo 
garantido por margem salarial consignável” ou simplesmente “empréstimoconsignado”). 
 
Em que consiste o empréstimo consignado? O empréstimo consignado também é proibido? 
NÃO. No empréstimo consignado, o mutuário autoriza o desconto dos valores da sua folha de pagamento. 
Antes mesmo de a pessoa receber sua remuneração/proventos, já há o desconto da quantia, o que é 
efetuado pelo próprio órgão ou entidade pagadora. 
Em outras palavras, há um desconto direto no salário, remuneração ou aposentadoria, com a participação 
do empregador/órgão público. 
No empréstimo consignado em folha de pagamento, se é depositada na conta do devedor uma quantia 
referente a outra fonte de renda (ex: um “bico” feito pelo mutuário) ou a doação de amigo, tal quantia 
não entrará no desconto. 
O empréstimo consignado é autorizado pelo art. 45 da Lei nº 8.112/90 e pela Lei nº 10.820/2003. Trata-
se, portanto, de prática permitida (lícita). 
 
 
 
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Por que o contrato de empréstimo consignado é válido? 
Porque o tomador do empréstimo se beneficia de condições vantajosas, como juros reduzidos e prazos 
mais longos, motivo pelo qual a autorização para o desconto na folha de pagamento não constitui cláusula 
abusiva. 
Além disso, conforme já ressaltado, o empréstimo garantido por margem salarial consignável com 
desconto em folha de pagamento possui regramento legal específico e a própria Lei admite a retenção de 
determinado percentual. 
 
 
 
VÍCIO DO PRODUTO 
Dever do comerciante de receber e enviar os aparelhos viciados 
para a assistência técnica ou para o fabricante 
 
Atualize o Info 557-STJ 
Se o produto que o consumidor comprou apresenta um vício, ele tem o direito de ter esse vício 
sanado no prazo de 30 dias (art. 18, § 1º do CDC). 
Para tanto, o consumidor pode escolher para quem levará o produto a fim de ser consertado: 
a) para o comerciante; 
b) para a assistência técnica ou 
c) para o fabricante. 
Em outras palavras, cabe ao consumidor a escolha para exercer seu direito de ter sanado o 
vício do produto em 30 dias: levar o produto ao comerciante, à assistência técnica ou 
diretamente ao fabricante. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.851-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/09/2017 (Info 619). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João comprou um aparelho celular Samsung na loja “Ponto Frio” no shopping. 
Dois meses depois, o som do aparelho não funcionava mais. 
Neste caso, João tem o direito de exigir que consertem o produto adquirido no prazo de 30 dias. 
Se o produto não for consertado nesse prazo, o consumidor pode exigir a substituição da mercadoria, a 
devolução do dinheiro ou o abatimento proporcional do preço. 
Isso encontra-se previsto no art. 18, § 1º do CDC: 
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem 
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou 
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem 
ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o 
consumidor exigir a substituição das partes viciadas. 
§ 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, 
alternativamente e à sua escolha: 
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; 
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais 
perdas e danos; 
III - o abatimento proporcional do preço. 
 
Voltando ao caso concreto: 
João viu na internet que a assistência técnica da Samsung era no centro, o que era longe da sua casa. 
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Diante disso, João voltou ao Ponto Frio e exigiu que ela recebesse o aparelho e o consertasse. 
A loja afirmou que João deveria levar o celular diretamente para a assistência técnica da Samsung. 
 
A loja está correta ao agir assim? 
NÃO. 
Se o produto que o consumidor comprou apresenta um vício, ele tem o direito de ter esse vício sanado no 
prazo de 30 dias. Para tanto, o consumidor pode escolher para quem levará o produto a fim de ser 
consertado: 
a) para o comerciante; 
b) para a assistência técnica ou 
c) para o fabricante. 
 
O consumidor já teve a frustração de ter adquirido um produto que apresentou vício. Não é razoável que, 
além disso, ele tenha que ter o desgaste de procurar onde é a assistência técnica, agendar uma visita e ir 
até o local levar o produto. Deve-se facilitar a situação do consumidor e, por isso, o mais correto é que ele 
tenha a opção de escolher para quem irá encaminhar o produto com vício. 
A responsabilidade da loja (comerciante) decorre da solidariedade passiva imposta pelo microssistema do 
CDC a todos os fornecedores integrantes da cadeia de consumo para a reparação dos vícios que os 
produtos alienados ao consumidor final venham apresentar. 
Impedir que o consumidor retorne ao comerciante para que ele encaminhe o produto para que o 
fabricante repare o vício representa lhe impor dificuldades ao exercício de seu direito de possuir um bem 
que sirva aos seus propósitos. 
O comerciante tem muito mais acesso ao fabricante do bem danificado por ele comercializado do que o 
consumidor. 
 
Resumindo: 
Cabe ao consumidor a escolha para exercer seu direito de ter sanado o vício do produto em 30 dias - 
levar o produto ao comerciante, à assistência técnica ou diretamente ao fabricante. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.851-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/09/2017 (Info 619). 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
MARCA 
Danos materiais e morais em caso de uso indevido de marca 
 
Importante!!! 
O uso indevido da marca acarreta dano material uma vez que a própria violação do direito 
revela-se capaz de gerar lesão à atividade empresarial do titular. O uso indevido da marca 
provoca desvio de clientela e confusão entre as empresas, acarretando indiscutivelmente 
dano material. 
Desse modo, se ficar demonstrado o uso indevido de marca, o juiz deverá declarar a existência 
do dano (an debeatur). O quantum debeatur, por sua vez, deverá ser apurado no âmbito da 
liquidação pelo procedimento comum, haja vista a necessidade de comprovação de fatos 
novos, nos termos do art. 210 da LPI. 
Quanto ao prejuízo extrapatrimonial, prevalece que o uso indevido da marca gera dano moral 
in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita 
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- contrafação -, revelando-se desnecessária a demonstração de prejuízos concretos ou a 
comprovação probatória do efetivo abalo moral. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.327.773-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619). 
 
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: 
COTEMIG é a marca de um famoso grupo que possui colégios e faculdades. 
Anos depois, surgiu uma outra instituição de ensino que escolheu uma marca parecida (CETEMIG). 
A empresa titular da COTEMIG ajuizou, então, uma ação contra a empresa titular da CETEMIG alegando 
que houve a práticade concorrência desleal consubstanciada na utilização indevida, pela ré, no mesmo 
ramo de atividade, de marca parecida, que confunde o consumidor. 
A autora pediu a suspensão do uso da marca, além de indenização pelos danos patrimoniais e morais 
sofridos. 
O magistrado julgou parcialmente procedente o pedido para determinar que a ré se abstivesse da 
utilização da marca “CETEMIG” e dos domínios de internet e quaisquer outros signos que se confundam 
com a marca da autora, sob pena de multa diária de R$ 100 mil, negando, porém, a indenização sob o 
argumento de que não restou comprovado o dano moral. 
A autora recorreu alegando que o dano moral, neste caso, é presumido. 
 
A tese da autora foi acolhida pelo STJ? 
SIM. Vamos entender com calma os argumentos do STJ, expostos abaixo com base nas lições do grande 
Min. Luis Felipe Salomão. 
 
O que é marca? 
A marca “é qualquer sinal distintivo (tais como palavra, letra, numeral, figura), ou combinação de sinais, 
capaz de identificar bens ou serviços de um fornecedor, distinguindo-os de outros idênticos, semelhantes 
ou afins de origem diversa. 
Cuida-se de bem imaterial, cuja proteção consiste em garantir a seu titular o privilégio de uso ou 
exploração, sendo regido, entre outros, pelos princípios constitucionais de defesa do consumidor e de 
repressão à concorrência desleal.” (Min. Luis Felipe Salomão) 
 
Funções da marca 
a) identificar o produto ou serviço, distinguindo-o do congênere existente no mercado; 
b) assinalar a origem e a procedência do produto ou serviço; 
c) indicar que o produto ou serviço identificado possui o mesmo padrão de qualidade; e 
d) funcionar como instrumento de publicidade, configurando importante catalisador de vendas. 
 
Primeiramente, a empresa autora terá direito de ser indenizada por danos materiais? 
SIM. A jurisprudência do STJ entende que há presunção da ocorrência de prejuízos materiais quando se 
constata o uso indevido da marca, uma vez que a própria violação do direito é tida como capaz de gerar 
lesão à atividade empresarial do titular. 
O uso indevido da marca provoca desvio de clientela e confusão entre as empresas, acarretando 
indiscutivelmente dano material. 
A própria Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96) presume a existência dos danos materiais, sendo 
decorrência natural da contrafação e da violação da concorrência do mercado. A norma, inclusive, 
estabelece critérios específicos para se melhor alcançar o quantum debeatur. 
Veja o que diz a Lei: 
Art. 208. A indenização será determinada pelos benefícios que o prejudicado teria auferido se a 
violação não tivesse ocorrido. 
Art. 209. Fica ressalvado ao prejudicado o direito de haver perdas e danos em ressarcimento de 
prejuízos causados por atos de violação de direitos de propriedade industrial e atos de 
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concorrência desleal não previstos nesta Lei, tendentes a prejudicar a reputação ou os negócios 
alheios, a criar confusão entre estabelecimentos comerciais, industriais ou prestadores de serviço, 
ou entre os produtos e serviços postos no comércio. 
§ 1º Poderá o juiz, nos autos da própria ação, para evitar dano irreparável ou de difícil reparação, 
determinar liminarmente a sustação da violação ou de ato que a enseje, antes da citação do réu, 
mediante, caso julgue necessário, caução em dinheiro ou garantia fidejussória. 
§ 2º Nos casos de reprodução ou de imitação flagrante de marca registrada, o juiz poderá 
determinar a apreensão de todas as mercadorias, produtos, objetos, embalagens, etiquetas e 
outros que contenham a marca falsificada ou imitada. 
Art. 210. Os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais favorável ao prejudicado, 
dentre os seguintes: 
I - os benefícios que o prejudicado teria auferido se a violação não tivesse ocorrido; ou 
II - os benefícios que foram auferidos pelo autor da violação do direito; ou 
III - a remuneração que o autor da violação teria pago ao titular do direito violado pela concessão 
de uma licença que lhe permitisse legalmente explorar o bem. 
 
A norma, em nenhum momento, condiciona a reparação à efetiva demonstração do dano, até porque, 
como dito, é inerente ao uso indevido da marca a concorrência desleal, o desvio de clientela, a confusão 
entre estabelecimentos, independentemente da análise do dolo do agente ou da comprovação de 
prejuízos. 
O dispositivo autoriza a reparação material se houver “ato de violação de direito de propriedade industrial 
e atos de concorrência desleal”, ou seja, a demonstração do dano perpassa pela comprovação da 
existência do fato - uso indevido de marca. 
Ademais, deve-se levar em consideração que a referida prova é de dificílima execução. 
Desse modo, se ficar demonstrado o uso indevido de marca, o juiz deverá declarar a existência do dano 
(an debeatur). O quantum debeatur, por sua vez, deverá ser apurado no âmbito da liquidação pelo 
procedimento comum, haja vista a necessidade de comprovação de fatos novos, nos termos do art. 210 
da LPI. 
Nesse sentido: 
O dano patrimonial causado ao titular de direito de marca configura-se com a violação dos interesses 
tutelados pela Lei de Propriedade Industrial, sendo despicienda a comprovação da intenção do agente em 
prejudicar a vítima ou do prejuízo causado, devendo o montante ser apurado em liquidação de sentença. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1635556/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/11/2016. 
 
E quanto ao dano moral? Vamos pelo início: a pessoa jurídica pode sofrer dano moral? 
SIM. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227-STJ). 
A pessoa jurídica é possuidora de bens extrapatrimoniais. 
Conforme previsto no art. 52 do CC, apesar de despida de direitos ligados à personalidade humana (saúde, 
integridade física e psíquica), a pessoa jurídica é titular de direitos da personalidade, tais como à tutela ao 
nome, à marca, à imagem, à reputação, à honra (objetiva), à intimidade (como nos segredos industriais), 
à liberdade de ação etc. 
 
No caso de uso indevido de marca, o dano moral precisa ser provado? 
NÃO. O tema ainda não é pacífico no STJ, mas prevalece que o dano moral decorre automaticamente da 
constatação do uso indevido da marca. 
Os prejuízos causados pelo uso não autorizado de marca alheia prescindem de comprovação, pois se 
consubstanciam na própria violação do direito do titular, derivando da natureza da conduta perpetrada. 
A demonstração do dano se confunde com a demonstração da existência do fato, cuja ocorrência é 
premissa assentada pelo acórdão recorrido. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1674375/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/11/2017. 
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Por sua natureza de bem imaterial, é ínsito que haja prejuízo moral à pessoa jurídica quando se constata 
o uso indevido da marca. Isso porque, obrigatoriamente, a reputação, a credibilidade e a imagem da 
empresa acabam sendo atingidas perante todo o mercado (clientes, fornecedores, sócios, acionistas e 
comunidade em geral), além de haver o comprometimento do prestígio e da qualidade dos produtos ou 
serviços ofertados, caracterizando evidente violação de seus direitos, bens e interesses extrapatrimoniais. 
Assim, o dano moral por uso indevido da marca é aferível in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da 
mera comprovação da prática de conduta ilícita - contrafação-, revelando-se desnecessária a 
demonstração de prejuízos concretos ou a comprovação probatória do efetivo abalo moral. 
 
Em suma: 
O uso indevido da marca acarreta dano material uma vez que a própria violação do direito revela-se 
capaz de gerar lesão à atividade empresarial do titular. O uso indevido da marca provoca desvio de 
clientela e confusão entre as empresas, acarretando indiscutivelmente dano material. 
Desse modo, se ficar demonstrado o uso indevido de marca, o juiz deverá declarar a existência do dano 
(an debeatur). O quantum debeatur, por sua vez, deverá ser apurado no âmbito da liquidação pelo 
procedimento comum, haja vista a necessidade de comprovação de fatos novos, nos termos do art. 210 
da LPI. 
Quanto ao prejuízo extrapatrimonial, prevalece que o uso indevido da marca gera dano moral in re ipsa, 
ou seja, sua configuração decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita - contrafação -, 
revelando-se desnecessária a demonstração de prejuízos concretos ou a comprovação probatória do 
efetivo abalo moral. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.327.773-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619). 
 
 
 
SOCIEDADES 
Ação de regresso proposta pela empresa cindida contra a empresa resultante da cisão 
 
Cabe ação de regresso para ressarcimento de condenação relativa a obrigações tipicamente 
societárias suportada exclusivamente por empresa cindida contra empresa resultante da 
cisão parcial, observando-se a proporção do patrimônio recebido. 
Ex: a Tele Sudeste surgiu a partir da cisão parcial da Telebrás (a Tele Sudeste é 2,42% do 
patrimônio original da Telebrás); determinado banco propôs ação contra a Telebrás e a Tele 
Sudeste cobrando uma quantia decorrente de uma obrigação de debênture (obrigação 
societária) anterior à cisão; ambas foram condenadas a pagar o valor total de R$ 5 milhões; a 
Telebrás cumpriu o julgado e quitou integralmente a dívida; em seguida, a Telebrás ajuizou 
ação regressiva contra a Tele Sudeste cobrando 2,42% do valor pago pela condenação judicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.118-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio 
Bellizze, julgado em 12/09/2017 (Info 619). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A Telebrás foi parcialmente cindida e, dessa cisão, surgiram 12 novas empresas. 
Uma das empresas resultantes dessa cisão parcial foi a Tele Sudeste. 
A Tele Sudeste surgiu a partir da cisão de 2,42% do patrimônio da Telebrás. 
Cerca de 1 ano depois da cisão, o Bank of America ajuizou ação de cobrança contra a Telebrás e a Tele 
Sudeste, em litisconsórcio passivo, exigindo o pagamento de R$ 5 milhões. 
Vale ressaltar que a cobrança feita pelo Bank of America estava relacionada com debêntures que teriam 
sido adquiridas pelo banco antes da cisão e que não teriam sido pagas corretamente. Em outras palavras, 
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a demanda proposta pela debenturista estava relacionada com obrigações tipicamente societárias 
(relacionadas com o direito societário) ocorridas antes da cisão. 
As duas rés foram solidariamente condenadas a pagar o Bank of America. 
A Telebras, então, cumpriu o julgado, pagando R$ 5.269.112,39 ao debenturista. 
Alguns meses depois, a Telebrás ajuizou ação de regresso contra a Tele Sudeste pleiteando o 
ressarcimento proporcional da obrigação paga, correspondente ao patrimônio líquido transferido a essa 
companhia (2,42%). Em outros termos, a Telebrás falou o seguinte: eu quitei sozinha a condenação, mas 
você também tem obrigação de pagar parte dela, proporcionalmente ao valor que eu transferi do meu 
patrimônio para você quando da sua criação. 
A Tele Sudeste contestou o pedido afirmando que ficou previsto na assembleia geral que determinou a 
cisão que caberia à Telebrás todas as obrigações referentes à parcela remanescente do patrimônio, sem 
solidariedade entre a Telebrás e cada uma das novas sociedades. 
 
O pedido da Telebrás deve ser julgado procedente? 
SIM. 
Cabe ação de regresso para ressarcimento de condenação relativa a obrigações tipicamente societárias 
suportada exclusivamente por empresa cindida contra empresa resultante da cisão parcial, observando-
se a proporção do patrimônio recebido. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.118-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio 
Bellizze, julgado em 12/09/2017 (Info 619). 
 
Em outras palavras, a Tele Sudeste deverá também ser condenada a ressarcir 2,42% do valor que a 
Telebrás pagou a título de condenação judicial. Ex: 2,42% de R$ 5 milhões (mais os juros, correção 
monetárias, honorários etc.). 
 
Obrigações decorrentes da cisão 
A responsabilidade por obrigações decorrentes da cisão envolve duas classes de obrigações: 
a) obrigações tipicamente societárias (decorrentes do vínculo societário que agrega os acionistas); e 
b) obrigações cíveis lato sensu (advindas da apuração do patrimônio líquido da sociedade cindida). 
 
No tocante à primeira classe, nos termos do art. 229, § 1º, da Lei das Sociedades Anônimas (LSA), verifica-
se que haverá indiscutível sucessão de direitos e obrigações relacionados no protocolo de cisão: 
Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para 
uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia 
cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a 
versão. 
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do patrimônio da 
companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no caso 
de cisão com extinção, as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia 
cindida sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e 
obrigações não relacionados. 
 
Com efeito, com a cisão ocorrerá o aumento de capital da empresa destinatária, que absorverá a parcela 
do patrimônio líquido cindido a título de integralização das ações subscritas em benefício dos sócios da 
empresa cindida. Assim, há um completo entrelaçamento do quadro societário das empresas em 
negociação. 
A atribuição de participação societária na empresa receptora aos sócios da empresa cindida, na medida 
em que configura elemento essencial do instituto jurídico, não pode ser afastada por mera disposição 
contratual, sob pena de absoluto desvirtuamento do instituto jurídico. 
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No caso analisado, tem-se que a natureza da obrigação debatida é inquestionavelmente de direito 
societário. Por via de consequência, é devida a ação de regresso para ressarcimento pela empresa 
resultante da cisão, observando-se a proporção do patrimônio cindido recebido. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
EXECUÇÃO 
O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro 
no caso de litisconsortes com procuradores distintos (art. 229 do CPC) 
 
Importante!!! 
Em regra, o prazo para cumprimento voluntário da sentença é de 15 dias úteis (art. 523 do CPC). 
Se os devedores forem litisconsortes com diferentes procuradores, de escritórios de 
advocacia distintos, este prazo de pagamento deverá ser contado em dobro, nos termos do art. 
229 do CPC/2015, desde que o processo seja físico. 
Assim, o prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em 
dobro (ou seja, em 30 dias úteis) no caso de litisconsortes com procuradoresdistintos, em 
autos físicos. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.693.784-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619). 
 
BENEFÍCIO DO PRAZO EM DOBRO 
Em que consiste o chamado benefício do prazo em dobro? 
Quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois ou mais réus), caso os 
litisconsortes tenham advogados diferentes, de escritórios diferentes, os seus prazos serão contados em 
dobro. É o que determina o art. 229 do CPC/2015: 
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia 
distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo 
ou tribunal, independentemente de requerimento. 
 
Por que existe esse benefício? 
Essa regra justifica-se pela dificuldade maior que os advogados dos litisconsortes encontram em cumprir 
os prazos processuais e, principalmente, em consultar os autos do processo (STJ AgRg no Ag 963.283/MG). 
Em outras palavras, havendo mais de uma parte e, sendo estas representadas por advogados diferentes, 
fica mais difícil para os advogados prepararem as peças processuais, já que eles não poderão, em tese, 
retirar os autos do cartório, considerando que a outra parte pode também querer vê-los. 
 
Se os advogados dos litisconsortes forem diferentes, mas pertencerem ao mesmo escritório de 
advocacia, ainda assim eles terão direito ao prazo em dobro? 
NÃO. O art. 229 do CPC exige, expressamente, para a concessão do prazo em dobro, que os advogados 
sejam de escritórios diferentes. Assim, se os litisconsortes tiverem advogados diferentes, mas estes 
fizerem parte do mesmo escritório, o prazo será simples (não em dobro). Trata-se de uma novidade do 
CPC/2015. 
 
 
 
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
Persiste o prazo em dobro mesmo na hipótese de os litisconsortes serem marido e mulher? 
SIM, considerando que a Lei não faz qualquer ressalva quanto a tanto, exigindo apenas que tenham 
diferentes procuradores (STJ REsp 973.465-SP). 
 
Esse prazo em dobro vale apenas na 1ª instância? 
NÃO. O benefício abrange também as instâncias recursais. 
 
Imagine que são dois réus em litisconsórcio (João e Pedro), representados por advogados diferentes, de 
escritórios distintos. Ocorre que apenas um deles (João) apresentou defesa, sendo Pedro revel. João 
continuará tendo prazo em dobro para as demais manifestações nos autos? 
NÃO. Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 réus, é oferecida defesa por apenas um 
deles (art. 229, § 1º do CPC 2015). 
 
O benefício do prazo em dobro para os litisconsortes vale para processos eletrônicos? 
NÃO. O § 2º do art. 229 do CPC/2015 determina expressamente que não se aplica o prazo em dobro para 
litisconsortes diferentes se o processo for em autos eletrônicos. Trata-se de novidade do CPC/2015: 
O artigo 229 do CPC de 2015, aprimorando a norma disposta no artigo 191 do código revogado, determina 
que, apenas nos processos físicos, os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de 
advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo 
ou tribunal, independentemente de requerimento. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1693784/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017. 
 
PRAZO PARA CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO DA SENTENÇA 
Procedimento para execução 
O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas: 
a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial; 
b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João ajuíza uma ação de cobrança contra Pedro e Ricardo. 
Vale ressaltar que Pedro e Ricardo possuem advogados distintos, de escritórios de advocacia diferentes. 
O juiz julgou a sentença procedente, condenando Pedro e Ricardo a pagarem R$ 1 milhão ao autor. 
Houve o trânsito em julgado. 
 
O que acontece agora? 
João terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença. 
 
O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz? 
NÃO. O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, só 
pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º do CPC/2015). 
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente 
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante demonstrativo 
discriminado e atualizado do crédito (art. 524 do CPC/2015). 
Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor: 
Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão 
sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do 
exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, 
acrescido de custas, se houver. 
 
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A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz? 
O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias. 
 
O prazo de 15 dias, previsto no art. 523 do CPC/2015, é contado em dias úteis ou corridos? 
Dias úteis. O tema ainda não está pacificado, mas esta é a posição majoritária: 
Enunciado 89 – I Jornada CJF: Conta-se em dias úteis o prazo do caput do art. 523 do CPC. 
 
Esse prazo de 15 dias é contado a partir de quando? 
Da intimação do devedor para pagar. Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da 
sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação. 
Assim, a multa de 10% depende de nova intimação prévia do devedor. 
A forma dessa intimação está prevista no art. 513 do CPC/2015: 
Art. 513 (...) 
§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: 
I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; 
II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando 
não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV; 
III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos 
autos 
IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento. 
§ 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver 
mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do 
art. 274. 
§ 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado 
da sentença, a intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de 
recebimento encaminhada ao endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo 
único do art. 274 e no § 3º deste artigo. 
 
Se os executados forem litisconsortes com diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, 
este prazo de 15 dias poderá ser contado em dobro? Em nosso exemplo, Pedro e Ricardo terão 30 dias 
para pagar voluntariamente a quantia fixada na sentença? 
SIM. 
O prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro no caso de 
litisconsortes com procuradores distintos, em autos físicos. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.693.784-DF, Rel.Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619). 
 
O cumprimento voluntário da sentença possui natureza dúplice. Cuida-se de ato a ser praticado pela própria 
parte, mas a fluência do prazo para pagamento inicia-se com a intimação do advogado pela imprensa oficial, 
o que impõe ônus ao patrono, qual seja, o dever de comunicar o devedor do desfecho desfavorável da 
demanda, alertando-o das consequências jurídicas da ausência do cumprimento voluntário. 
Assim, uma vez constatada a hipótese prevista no art. 229 do CPC/2015 (litisconsortes com procuradores 
de escritórios diferentes), o prazo comum para pagamento espontâneo deverá ser computado em dobro, 
ou seja, será de 30 dias úteis. 
 
 
 
 
 
 
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE 
Conversão da ação reintegratória em indenizatória 
 
O terreno do proprietário foi invadido por inúmeras pessoas de baixa renda. 
O proprietário ingressou com ação de reintegração de posse, tendo sido concedida a medida 
liminar, mas nunca cumprida mesmo após vários anos. 
Vale ressaltar que o Município e o Estado fizeram toda a infraestrutura para a permanência 
das pessoas no local. 
Diante disso, o juiz, de ofício, converteu a ação reintegratória em indenizatória 
(desapropriação indireta), determinando a emenda da inicial, a fim de promover a citação do 
Município e do Estado para apresentar contestação e, em consequência, incluí-los no polo 
passivo da demanda. 
O STJ afirmou que isso estava correto e que a ação possessória pode ser convertida em 
indenizatória (desapropriação indireta) - ainda que ausente pedido explícito nesse sentido - 
a fim de assegurar tutela alternativa equivalente (indenização) ao particular que teve suas 
térreas invadidas. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.442.440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 07/12/2017 (Info 619). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 1990, invasores de baixa renda ocuparam um terreno enorme de João. 
O proprietário ingressou com ação de reintegração de posse, tendo sido deferida liminar em 1991. 
Ocorre que o mandado não foi cumprido em virtude inicialmente da propositura de inúmeros incidentes 
processuais e, em seguida, pela ausência de força policial para a sua efetivação. 
Diante da demora para resolver o imbróglio, o Município e o Estado construíram uma infraestrutura no 
local para permitir a moradia dos invasores, fazendo ruas e construindo instalações para órgãos públicos 
atenderem a população. 
O juiz constatou, então, que já não era mais possível devolver a posse do terreno ao proprietário em 
virtude de a situação das famílias estar consolidada. Por conta disso, ele decidiu converter, de ofício, a 
ação reintegratória em indenizatória (desapropriação indireta), determinando a emenda da inicial, a fim 
de promover a citação do Município e do Estado para apresentar contestação e, em consequência, incluí-
los no polo passivo da demanda. 
 
Agiu corretamente o magistrado? 
SIM. 
A ação possessória pode ser convertida em indenizatória (desapropriação indireta) - ainda que ausente 
pedido explícito nesse sentido - a fim de assegurar tutela alternativa equivalente ao particular, quando 
a invasão coletiva consolidada inviabilizar o cumprimento do mandado reintegratório pelo município. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.442.440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 07/12/2017 (Info 619). 
 
O STJ já se manifestou no sentido da possibilidade de conversão da ação possessória em indenizatória, em 
respeito aos princípios da celeridade e economia processuais, a fim de assegurar ao particular a obtenção 
de resultado prático correspondente à restituição do bem, quando situação fática consolidada no curso 
da ação exigir a devida proteção jurisdicional, com fulcro nos arts. 461, § 1º, do CPC/1973 (art. 499 do 
CPC/2015): 
Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se 
impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. 
 
 
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Ultra petita ou extra petita 
A conversão operada no caso não configura julgamento ultra petita ou extra petita, ainda que não haja 
pedido explícito nesse sentido, diante da impossibilidade de devolução da posse ao autor, sendo 
descabido o ajuizamento de outra ação quando uma parte do imóvel já foi afetada ao domínio público, 
mediante apossamento administrativo, sendo a outra restante ocupada de forma precária por inúmeras 
famílias de baixa renda com a intervenção do Município, que implantou toda a infraestrutura básica no 
local, tornando-se a área bairro urbano. 
 
Princípio da congruência 
Não há se falar em violação ao princípio da congruência, devendo ser aplicada à espécie a teoria da 
substanciação, segundo a qual apenas os fatos vinculam o julgador, que poderá atribuir-lhes a qualificação 
jurídica que entender adequada ao acolhimento ou à rejeição do pedido, como fulcro nos brocardos iura 
novit curia e mihi factum dabo tibi ius e no art. 462 do CPC/1973 (art. 493 do CPC/2015): 
Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do 
direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a 
requerimento da parte, no momento de proferir a decisão. 
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de 
decidir. 
 
Desapropriação indireta 
O caso se amolda ao art. 1.228, §§ 4º e 5º, do CC, que trata da desapropriação judicial, chamada também 
por alguns doutrinadores de desapropriação por posse-trabalho ou de desapropriação judicial indireta, 
cujo instituto autoriza o magistrado, sem intervenção prévia de outros Poderes, a declarar a perda do 
imóvel reivindicado pelo particular em favor de considerável número de pessoas que, na posse 
ininterrupta de extensa área, por mais de cinco anos, houverem realizado obras e serviços de interesse 
social e econômico relevante. Confira: 
Art. 1.228. (...) 
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em 
extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número 
de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços 
considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. 
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; 
pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. 
 
Os conceitos abertos existentes no art. 1.228 do CC/2002 propiciam ao magistrado uma margem 
considerável de discricionariedade ao analisar os requisitos para a aplicação do referido instituto. 
 
Participação do Município e do Estado no caso 
Vale ressaltar que, em regra, o STJ entende que o simples fato de o Estado e o Município terem feito obras 
de infraestrutura no local não significa que eles passam a ter responsabilidade pela invasão ou que esta 
conduta configure desapropriação indireta. Nesse sentido: 
“(...) inexiste desapossamento por parte do ente público ao realizar obras de infraestrutura em imóvel 
cuja invasão já se consolidara, pois a simples invasão de propriedade urbana por terceiros, mesmo sem 
ser repelida pelo Poder Público, não constitui desapropriação indireta” (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 
1.367.002/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/06/2013).No entanto, no caso concreto, a situação é um pouco diferente. Isso porque ficou comprovado que os 
danos causados ao proprietário do imóvel decorreram de atos omissivos e comissivos da administração 
pública, tendo em conta que deixou de fornecer a força policial necessária para o cumprimento do 
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
mandado reintegratório, ainda na fase inicial da invasão, permanecendo omissa quanto ao surgimento de 
novas habitações irregulares, além de ter realizado obras de infraestrutura no local, com o objetivo de 
garantir a função social da propriedade, circunstâncias que ocasionaram o desenvolvimento urbano da 
área e a desapropriação direta de parte do bem. 
 
Assim, o Município e o Estado são sujeitos passivos legítimos da indenização prevista no art. 1.228, § 5º, 
do CC/2002, visto que os possuidores, por serem hipossuficientes, não podem arcar com o ressarcimento 
dos prejuízos sofridos pelo proprietário do imóvel. Nesse sentido, confira: 
Enunciado 308 da Jornada de Direito Civil do CJF: A justa indenização devida ao proprietário em caso de 
desapropriação judicial (art. 1.228, § 5º) somente deverá ser suportada pela Administração Pública no 
contexto das políticas públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores de baixa 
renda e desde que tenha havido intervenção daquela nos termos da lei processual. Não sendo os 
possuidores de baixa renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil. 
 
Enunciado 84 da Jornada de Direito Civil do CJF: A defesa fundada no direito de aquisição com base no 
interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser arguida pelos réus da ação 
reivindicatória, eles próprios responsáveis pelo pagamento da indenização. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
LEI DE DROGAS 
Decisão que reconhece detração penal analógica virtual não serve para fins de reincidência 
 
Importante!!! 
É inviável o reconhecimento de reincidência com base em único processo anterior em 
desfavor do réu, no qual - após desclassificar o delito de tráfico para porte de substância 
entorpecente para consumo próprio - o juízo extinguiu a punibilidade por considerar que o 
tempo da prisão provisória seria mais que suficiente para compensar eventual condenação. 
Situação concreta: João foi preso em flagrante por tráfico de drogas (art. 33 da LD). Após 6 
meses preso cautelarmente, ele foi julgado. O juiz proferiu sentença desclassificando o delito 
de tráfico para o art. 28 da LD. Na própria sentença, o magistrado declarou a extinção da 
punibilidade do réu alegando que o art. 28 não prevê pena privativa de liberdade e que o 
condenado já ficou 6 meses preso. Logo, na visão do juiz, deve ser aplicada a detração penal 
analógica virtual, pois qualquer pena que seria aplicável ao caso em tela estaria fatalmente 
cumprida, nem havendo justa causa ou interesse processual para o prosseguimento do feito. 
Essa sentença não vale para fins de reincidência. Isso significa que, se João cometer um 
segundo delito, esse primeiro processo não poderá ser considerado para caracterização de 
reincidência. 
STJ. 6ª Turma. HC 390.038-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 06/02/2018 (Info 619). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 2010, João foi preso em flagrante com uma pequena porção de droga. 
O flagrante foi lavrado como sendo tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006). 
João foi denunciado e permaneceu preso durante todo o processo, que durou 6 meses. 
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Ao fim do processo, o juiz proferiu sentença desclassificando o delito de tráfico para o crime de porte de 
substância entorpecente para consumo próprio (art. 28 da Lei nº 11.343/2006): 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo 
pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será 
submetido às seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 
 
Na própria sentença, o magistrado declarou a extinção da punibilidade do réu alegando que o art. 28 não 
prevê pena privativa de liberdade e que o condenado já ficou 6 meses preso. Logo, na visão do juiz, o réu 
não tem mais nada a cumprir. Veja o trecho final da sentença: 
“Julgo parcialmente procedente a denúncia para desclassificar, em relação ao réu JOÃO DA SILVA 
SAURO, qualificado nos autos, a imputação do art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006 para o art. 28 
da mesma lei. (...) 
Tendo em vista que o acusado ficou preso processualmente durante 6 meses, julgo extinta a 
punibilidade, aplicando-se a detração penal analógica virtual, pois qualquer pena que seria 
aplicável ao caso em tela estaria fatalmente cumprida, nem havendo justa causa ou interesse 
processual para o prosseguimento do feito.” 
 
Não houve recurso do MP ou da defesa e este primeiro processo transitou em julgado. 
 
Detração penal analógica virtual 
Veja que o juiz utiliza uma interessante nomenclatura: detração penal analógica virtual. O que é isso? 
Detração: a detração penal ocorre quando o juiz desconta da pena ou da medida de segurança aplicada 
ao réu o tempo que ele ficou preso antes do trânsito em julgado (prisão provisória ou administrativa) ou 
o tempo em que ficou internado em hospital de custódia (medida de segurança). 
Analógica: o juiz afirmou que a detração que ele estava fazendo era “analógica” porque o art. 28 não prevê 
pena privativa de liberdade. Logo, o magistrado utilizou-se da analogia para descontar o tempo que o réu 
ficou preso preventivamente mesmo o art. 28 não cominando pena de prisão. Em outras palavras, o juiz 
utilizou-se da analogia para descontar uma situação que não estava prevista na lei (abater o tempo em 
que o réu ficou preso mesmo o art. 28 não prevendo pena de prisão). 
Virtual: além disso, a detração foi virtual porque o juiz descontou o tempo que o réu ficou preso 
cautelarmente mesmo sem condenar o acusado. É como se ele dissesse o seguinte: eu nem vou condená-
lo pelo art. 28 porque já reconheço que não há interesse processual nisso. 
 
Segundo fato 
Em 2012, João é preso novamente com uma quantidade maior de droga em um local conhecido como 
boca-de-fumo. 
Ele foi denunciado e, ao final, condenado pela prática de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006). 
Na sentença, o magistrado considerou que João seria reincidente pelo fato de ter cometido o primeiro 
crime (aquele de 2010) que expliquei acima. 
Por conta dessa reincidência, o juiz deixou de aplicar o benefício do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas (tráfico 
privilegiado): 
Art. 33 (...) 
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um 
sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja 
primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização 
criminosa. 
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
 
A defesa recorreu alegando que a sentença proferida no primeiroprocesso e que extinguiu a punibilidade 
por levar em conta o tempo de prisão provisória do acusado não teria o condão de gerar a reincidência 
para o segundo processo. Em outras palavras, a defesa argumentou que a sentença do primeiro processo 
não foi condenatória, mas sim extintiva da punibilidade. 
O Tribunal de Justiça não concordou com o recurso da defesa. Segundo o TJ, o juiz do primeiro processo 
extinguiu a punibilidade pelo cumprimento da pena. A extinção da punibilidade pelo cumprimento da 
pena não afasta os efeitos secundários da sanção penal. Logo, se a pessoa praticar um novo delito, será 
considerada reincidente por força da primeira condenação. 
A defesa não se conformou com a decisão do TJ e conseguiu levar o caso até o STJ. 
 
O que decidiu o STJ? Foi acolhida a tese da defesa? 
SIM. O STJ decidiu que: 
Não se pode reconhecer a reincidência com base em único processo anterior em desfavor do réu, no 
qual - após desclassificar o delito de tráfico para porte de substância entorpecente para consumo 
próprio - o juízo extinguiu a punibilidade por considerar que o tempo da prisão provisória seria mais que 
suficiente para compensar eventual condenação. 
STJ. 6ª Turma. HC 390.038-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 06/02/2018 (Info 619). 
 
Ao contrário do que afirmou o TJ, a decisão do juiz no primeiro processo não foi uma decisão extintiva da 
punibilidade pelo cumprimento da pena. 
No primeiro processo o juiz proferiu uma decisão extinguindo a punibilidade alegando que houve o 
“exaurimento do direito de exercício da pretensão punitiva”. É como se o juiz tivesse dito: não se pode 
mais punir o réu porque a prisão cautelar a que ele ficou submetido já foi desproporcional e, em razão 
disso, houve o esgotamento da pretensão punitiva. 
Assim, não se pode dizer que a sentença do primeiro processo tenha natureza condenatória considerando 
que ela apenas reconheceu, ainda que implicitamente, que houve desproporção na adoção de medida 
acautelatória constritiva. 
 
Réu ficou sem direito à transação penal no primeiro processo 
Vale ressaltar, por fim, que poderia ter sido permitida a realização de transação penal em favor do réu no 
primeiro processo. Isso só não foi concedido porque o juiz reconheceu uma solução mais favorável ao 
acusado, em razão de ele ter ficado preso preventivamente durante longo tempo, fazendo com que o juiz 
optasse pela extinção da punibilidade. Assim, se o réu tivesse celebrado transação penal, ele não seria 
considerado reincidente neste segundo processo, considerando que a transação penal não gera maus 
antecedentes nem reincidência. 
Desse modo, um segundo argumento que “reforça” a tese da defesa está no fato de que o réu teria direito 
à transação penal, situação na qual não haveria dúvidas sobre a inexistência de reincidência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rafael Verol
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA 
Cartório que não certificou o dia do recebimento da sentença 
 
Havendo dúvida resultante da omissão cartorária em certificar a data de recebimento da 
sentença conforme o art. 389 do CPP, não se pode presumir a data de publicação com o mero 
lançamento de movimentação dos autos na internet, a fim de se verificar a ocorrência de 
prescrição da pretensão punitiva. 
STJ. 6ª Turma. HC 408.736-ES, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 06/02/2018 (Info 619). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João foi denunciado pela prática de crime, tendo a denúncia sido recebida em 28/09/2010. 
Em 25/09/2014, o juiz assinou sentença condenado o réu a uma pena de 1 ano de detenção. 
Em 26/09/2014, houve uma movimentação no sistema processual disponível na internet dizendo o 
seguinte: “Mandado Expeça-sentença”. 
Em 30/09/2014, o réu foi pessoalmente intimado da sentença condenatória e, neste mesmo dia, houve a 
sua publicação no Diário de Justiça. 
Vale ressaltar que o Ministério Público também foi intimado e não interpôs qualquer recurso. 
O réu peticionou, então, ao juiz pedindo que ele reconheça a existência de prescrição. 
 
Houve prescrição neste caso? 
SIM, conforme prevista no art. 110, § 1º do CP: 
§ 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou 
depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma 
hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. 
 
Vamos entender com calma. 
 
Qual é o prazo de prescrição no caso? 
Como o réu foi condenado a uma pena de 1 ano e houve trânsito em julgado para a acusação, o prazo de 
prescrição neste caso é de 4 anos, nos termos do art. 109, V, do CP: 
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do 
art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, 
verificando-se: 
(...) 
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; 
 
Quais são as causas que interrompem o prazo prescricional? 
O art. 117 do CP traz os momentos em que o prazo da prescrição é interrompido. 
Interrupção do prazo significa que ele é zerado e recomeça a ser contado a partir daquela data. 
Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se: 
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; 
II - pela pronúncia; 
III - pela decisão confirmatória da pronúncia; 
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; 
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; 
Rafael Verol
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Informativo 619-STJ (09/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
VI - pela reincidência. 
 
No presente caso, verifica-se a existência de dois marcos interruptivos da prescrição: o recebimento da 
denúncia e, depois, a publicação da sentença. 
Desse modo, deve-se verificar se, entre o recebimento da denúncia (28/09/2010) e a publicação da 
sentença, passaram-se mais de 4 anos. 
 
O que significa “publicação da sentença” para os fins do art. 117, IV, do CP? Quando a sentença é 
considerada publicada? No dia em que ela é divulgada na imprensa oficial? 
NÃO. O Código de Processo Penal prevê quando a sentença é publicada: 
Art. 389. A sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo termo, 
registrando-a em livro especialmente destinado a esse fim. 
 
“Em mão do escrivão”: o que significa isso? 
“Em mão do escrivão” significa quando a sentença sai do gabinete do juiz e é entregue ao escrivão ou 
diretor de secretaria, sendo isso consignado nos autos por termo e registrado em um livro especial. 
Normalmente, é o mesmo dia em que a sentença é assinada ou um dia depois no máximo a depender do 
volume de trabalho no cartório. 
 
Publicação da sentença não se confunde com intimação da sentença: 
• Publicação: a publicação é o ato de tornar pública a decisão, e daí em diante, imutável por seu próprio 
prolator. Isso ocorre quando a sentença é entregue “em mão do escrivão”, ou seja, quando é assinada 
pelo juiz e entregue na Secretaria da Vara para os procedimentos cabíveis. Nesse momento, a sentença é 
pública. A publicidade da sentença se mostra como requisito indispensável à própria existência do ato. 
Trata-se de um autêntico ato processual. 
• Intimação: a intimação é o ato de formalmente dar ciência, de maneira específica às partes acerca do 
julgado. 
 
Tese da defesa 
A defesa alegou que não existe, nos autos, uma informação dizendo expressamente quando ocorreu

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