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NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social. Uma análise do Serviço Social no Brasil pós- 64. São Paulo: Ed. Cortez, 1991, pp.164-201 1ª parte: apresentação objetiva das idéias do autor Em seu texto Ditadura e Serviço Social, José Paulo Netto se refere à perspectiva modernizadora que constitui a primeira expressão do processo de renovação do Serviço Social no Brasil que encontra sua formulação no primeiro Seminário de Teorização do Serviço Social que foi promovido pela CBCISS em Araxá e que teve como desdobramento um segundo Seminário realizado em Teresópolis. Netto também ressalta que apesar dos documentos produzidos nesses dois seminários – Documento de Araxá e Documento de Teresópolis – terem perspectivas diferentes, tentam conceber as “(auto) representações profissionais do Serviço Social as tendências sócio-políticas que a ditadura tornou dominantes e que não se punham como objeto de questionamento substantivo pelos protagonistas que concorreram na sua elaboração.” Para ele, uma nova forma de conceber o Serviço Social no contexto brasileiro seria como instrumento profissional de suporte a políticas de desenvolvimento que teve como problemática o desenvolvimento que apresenta como viés característico as estratégias político-sociais que adotam o desenvolvimento como processo induzido de mudanças para erradicar, mediante uma gradativa ampliação dos níveis de bem-estar social, o quadro de causalidades. E é com essa compreensão desenvolvimentista, que se entende o aspecto renovador apresentado nos documentos de Araxá e Teresópolis. Netto ainda faz referência à urgência de rompimento da atuação do Serviço Social a atuação exclusiva dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, revendo e elaborando novos métodos e processos, sendo que a intenção do documento se direciona a ruptura da exclusividade tradicional onde haveria na verdade uma captura desse tradicional com novas bases. Ele ainda faz uma alusão de que a tensão entre o moderno e o tradicional que é decorrente do documento de Araxá retoma a tematização da metodologia de ação do Serviço Social. O Documento de Araxá segundo Netto conduzirá a uma adequação da metodologia as funções do Serviço Social, visto que, essas funções são efetivadas em dois níveis, o da microatuação e a da macroatuação, sendo que o é primeiro fundamentalmente operacional e o segundo abrange a integração das funções do Serviço Social no plano da política e planejamento para o desenvolvimento. Netto também afirma que o Documento de Araxá é omisso em relação à polemização acerca dos conteúdos das políticas sociais, visto que a categoria profissional assume a demanda técnico-funcional na moldura da autocracia burguesa. Netto diz que embora o Documento de Araxá esteja preocupado com a teorização do Serviço Social não a enfrenta explicitamente, pois é impossível encontrar em sua estrutura uma compreensão teórica objetivada pela profissão, já que o mesmo se reduz a uma abordagem técnica operacional em função do modelo básico do desenvolvimento. No Documento de Teresópolis, o moderno triunfa sobre o tradicional não apenas na concepção profissional, mas na pauta interventiva, além do moderno se revelar uma consequente instrumentalização da programática que o Documento de Araxá desenvolvia. Netto também faz referência ao texto da autora Costa, que se recusa a pensar no Serviço Social sem expor à problemática do fundo das ciências sociais e ao questionamento de sua constituição histórica levando em consideração a teoria de categorias e conceitos. Já para o autor Soeiro “o objeto do Serviço Social é o processo de orientação social, ou seja, o processo desenvolvido pelo homem a fim de obter soluções normais para dificuldades sociais que se desenrola no interior do „processo social básico‟ e, mais, que „é um processo natural ‟”. Entretanto, nenhum dos autores citados acima estava sincronizado com o amadurecimento do processo de renovação do Serviço Social no Brasil, visto que Costa tendia a problematizar a linha evolutiva sinalizada desde Araxá enquanto Soeiro não atendia as demandas já postas pelo desenvolvimento que vinha desde 1967. José Lucena Dantas foi o único que ateu-se ao tema central que era o objetivo do seminário, que apresentou ao debate uma concepção extremamente articulada da metodologia do Serviço Social, a mais compatibilizado com a perspectiva modernizadora. No entanto, Dantas considera que “‟a questão da „metodologia de ação‟ constitui a parte central e atual da Teoria Geral do Serviço Social‟ e afirma „que a definição de um modelo de prática do Serviço Social adequado à problemática metodológico‟”. Netto aborda ainda que o Documento de Teresópolis possui características diversas e que compõe-se dos relatde profissionais, divididos em grupo A e grupo B, que tem como temática a “necessidade de um estudo sobre a Metodologia do Serviço Social face à realidade brasileira” (CBCISS, 1986: 53), além de discutir o Documento de Araxá. O grupo A se concentrou na reflexão do tema Concepção Cientifica da Prática do Serviço Social que construiu um quadro para estudar as necessidades básicas e necessidades sociais para então classificar os fenômenos mais observados na prática do Serviço Social, além de identificar as suas variáveis e localizar as funções profissionais. O grupo B, com o mesmo tema e com inspiração diferente construiu um quadro de fenômenos e variáveis, mas segundo o critério das necessidades e problemas com referência a níveis de vida e sistemas de relações. Os dois documentos possuem em comum “a „concepção científica da prática do Serviço Social‟ que é assumida como uma intervenção sobre elementos intelectualmente categorizados da empiria social, ordenada a partir de variáveis de constatação imediata e direcionada para generalizar a integração na modernização.” (Netto, 1991, p.188). No segundo tema, A Aplicação da Metodologia do Serviço Social, o Grupo A formulou uma sequencia de procedimentos metodológicos de intervenção do Serviço Social que se compõe de investigação-diagnóstica e intervenção. O Grupo B definiu o mesmo tema como a metodologia aplicável ao nível do planejamento para em seguida a aplicar no nível de administração do Serviço Social. Netto também diz que o processo de amadurecimento de renovação do Serviço Social chegou ao seu ponto maisórios dois gruposalto na perspectiva modernizadora a partir dessas formulações, havendo um avanço em relação ao Documento de Araxá. Essas formulações apontam para a requalificação do assistente social, definem o perfil sócio técnico da profissão e inscrevem no circuito da modernização conservadora, além de repor os vetores que deram tônica na elaboração de Araxá. Netto também traz em seu livro os seminários de Sumaré e Alto da Boa Vista que não tiveram a mesma repercussão dos anteriores que teve a condução da formulação dos problemas teóricos e culturais e que se apresentaram defasadas em confronto com a modalidade de reflexão do debate profissional. 2ª parte: elaboração pessoal sobre a leitura José Paulo Netto em seu livro aborda a temática dos Seminários de Araxá, Teresópolis e pincela sobre os Seminários de Sumaré e Alto da Boa Vista dando uma visão crítica sobre o Movimento de Reconceituação do Serviço Social. Pelo que foi exposto através da leitura desses seminários em sala de aula e o exposto neste livro ficou claro que apesar de sua época, esses documentos ainda são uma referência para os futuros profissionais do Serviço Social, visto que eles abordam o processo de renovação em uma perspectiva modernizadora da profissão em um contexto em que ideias revolucionárias poderia ser pretexto para retaliações. Netto também aborda claramente todos os aspectos essenciais desses documentosanalisando-os em sua estrutura e na sua vinculação com o processo histórico-social através de uma crítica fundamentada em uma longa pesquisa das bibliografias das décadas de 60 a 80. DITADURA E SERVIÇO SOCIAL Uma análise do Serviço Social no Brasil Pós-64 Luciano Duarte Medeiros Profa. Maria Geraldina Venâncio Centro Universitário Leonardo da Vinci- UNIASSELVI SES (0086) Prática do Módulo 12/12/12 RESUMO O presente paper é um resumo do livro DITADURA E SERVIÇO SOCIAL - Uma análise do Serviço Social no Brasil Pós-64, de José Paulo Netto. O objetivo do seu livro é contribuir ao esclarecimento do processo de renovação experimentado pelo Serviço Social no Brasil após os anos sessenta, a que se denomina "teorização". Assume em seu livro uma perspectiva inspirada na teoria de Marx e nos remete as raízes culturais e a formação dos processos da época ditatorial, fazendo com que possamos refletir até nos problemas que os acadêmicos sofreram naquela época. Manifestações culturais ocorreram de forma autocrítica e mesmo com toda violência o processo cultural não foi interrompido. Netto, no primeiro capítulo do seu livro, busca explicar a sociedade política-cultural no golpe de Abril de 64 para que entendamos as mudanças sociais e as mudanças no Serviço Social. No segundo capítulo, o autor focaliza o Serviço Social no contexto das transformações, ao mesmo tempo em que busca identificar os fios condutores presentes na preparação mais representativa dos Assistentes Sociais que se lançaram a uma investida da formulação teorizante. Por fim, o autor destaca a polêmica que perpassa os dois capítulos. No primeiro, tece ponderações a respeito do conjunto das dimensões ideopolíticas existentes, ao passo em que identifica outras formas de análises do que ele chama de “apreciação esquerdista”, acadêmica ou não, dessas dimensões e a concepção liberal da ditadura, bem como de suas políticas educacionais e culturais. Já no segundo, a polêmica atravessa o debate profissional. Palavras-chave: Teorização. Ditadura. Assistente social. Cultura. 1 INTRODUÇÃO O Brasil passou por um regime militar que podemos comparar com o regime totalitário acontecido na Alemanha, esta época amarga aconteceu no período de 1964 a 1985 e caracterizou-se pela falta de democracia, suspensão dos direitos constitucionais, censura, concentração de renda, pensamentos capitalistas, perseguição política e repressão a todos que eram contra o regime militar. Para analisar a política de assistência social é fundamental investigar a sua trajetória. Uma primeira aproximação pode se fazer por um lado, analisando as relações sociais da sociedade capitalista e suas transformações, as questões e os problemas sociais que se vão colocando e como o serviço social vão sendo incorporado nas respostas a dar a esses problemas. Por outro lado, a analisando as formas de trabalho que historicamente vão sendo construídas pelos assistentes sociais com expressão no exercício da profissão. A constituição federal é um marco fundamental desse processo porque reconhece a assistência social como política social que, junto com as políticas de saúde e de previdência social, compõem o sistema de seguridade social brasileira. Portanto, pensar esta área como política social é uma possibilidade recente. Mas, há um legado de concepções, ações e praticas de assistência social que precisa ser capturado para analisar o movimento de construção dessa política social. O processo de renovação do serviço social constitui em três momentos de ruptura. O primeiro diz respeito à perspectiva modernizadora que encontra a sua formulação afirmada nos seminários de teorização do serviço social organizado pelo CBCISS em Araxá (março 1967) e Teresópolis (janeiro 1970) no sentido de inserir os profissionais num viés moderno de teorias e técnicas para novos instrumentos que possam responder as demandas da ordem do desenvolvimento capitalista. Segundo momento foi a reatualização do conservadorismo que consisti na recuperação da herança conservadora da profissão, recorrendo ao pensamento crítico-dialético, onde na tese de livre-docência de Anna Augusta de Almeida expressa novas ideias direcionadas para produções teóricas do próprio assistente social. Neste sentido mostra uma preocupação em oferecer apenas suportes teóricos para que os profissionais interpretassem e compreendesse as necessidades do cliente, descobrindo possibilidades para que se realizem de acordo com seus propósitos humanos. Este conservadorismo não se reside apenas referencial ideocultural do cristianismo, mas antes, possui um embasamento cientifico, dessa forma construindo uma relação do serviço social com o seu objetivo e possibilitando uma análise critica e rigorosa das realidades macros societária e contribuindo para que as intervenções profissionais sejam avaliadas por critérios sociais objetivos e teóricos. O terceiro momento é a intenção de ruptura que por sua vez critica o tradicionalismo e seus suportes ideológicos e metodológicos. Visa romper com tradicionalismo para que possa estar dando respostas adequadas às demandas do desenvolvimento brasileiro, surgindo assim também documentos que colocaram em pauta a necessidade de romper com o tradicionalismo, com a forma empírica de envolvimento dos profissionais do serviço social. Neste sentido na medida em que a sociedade se desenvolve, surgem vários métodos para acompanhar a revolução social e assim amenizarem a questão social. Com toda a repressão, a sociedade civil busca maneira de por fim ao sistema ditatorial, surgindo vários focos de manifestações, como por exemplo, a guerrilha armada na zona urbana e rural, greves e movimentos contra a carestia. O serviço social põe sua força em campo, para fortalecer o nascimento dessa política no campo democrático dos direitos sociais desenvolvendo múltiplas articulações e debates. 2 A AUTOCRACIA BURGUESA E O “MUNDO DA CULTURA” Nos anos sessenta, o capitalismo no Brasil apontava para a redefinição de esquemas de acumulação. O desenvolvimento fundado no modelo chamado substituidor de importações começa a se esgotar, a industrialização restringida cede lugar à industrialização pesada, implicando novo padrão de acumulação. O modelo de desenvolvimento emergente supunha um crescimento acelerado da capacidade produtiva do setor de bens de produção e do setor de bens duráveis de consumo, um financiamento além das disponibilidades do capital nacional e estrangeiro já investido nos pais. Neste sentido a crise que aos poucos foi se formando colocava a questão da necessidade do capital nacional viabilizar junto ao Estado um esquema de acumulação que lhe permitisse tocar a industrialização pesada, sob-risco de formação de outro arranjo político- econômico, que privilegiaria os interesses imperialistas. A primeira alternativa implicava em riscos para o capital, que temia as forças democráticas e populares. A segunda era como quase ausência de riscos políticos para o capital. Com o golpe de abril, ocorreu uma ampliação do mercado de trabalho dos assistentes sociais com criações de instituição e organizações estatais que por sua vez submetida ao estado ditatorial e sua racionalidade burocrática assim contribuindo para reduzir as suas expressões na (auto) reapresentação dos assistentes sociais. O desfecho de Abril foi à solução imposta à força e que derrotou uma alternativa de desenvolvimento econômico-social e político que era virtualmente a reversão do fio condutor da formação social brasileira. O Estado torna-se centro articulador e meio de coesão da autocracia burguesa. As linhas do “modelo econômico” da Ditadura Militar, induzidas para o processo de produção e acumulação, direcionam-separa racionalizar a economia, criar o quadro legal-institucional, concentrar e centralizar. Para gerir e impor este modelo foi montada uma estrutura estatal-burocrática e administrativa e implantada a excepcionalidade política. José Paulo Neto coloca o ano 1968 como marca da inflexão para cima no regime militar e 1974 como a marca para baixo, com o aprofundamento da crise do “milagre” e a estratégia denominada “processo de distensão”, lenta, segura e gradual (Geisel). Segundo ainda o autor, a posse do general Figueiredo em 1979 sinaliza o fim do ciclo autocrático burguês e a demonstração da incapacidade da ditadura de reproduzir-se como tal. A autocracia burguesa na busca do controle do “mundo da cultura” enfrenta com suas exigências, a dinâmica, a resistência democrática, o movimento popular, as colisões e contradições entre o regime autocrático e o “mundo da cultura”, que jamais foram erradicados. Estes são os poucos indicadores dos limites do projeto de controle do “mundo da cultura” implementado pelo Estado autocrático burguês. O movimento estudantil tem dois momentos principais de enfrentamento em 1964 e em 1968 e ameaça ser elemento catalisador da mobilização nas escolas capaz de condensar a oposição geral ao regime. Em 1964 e1968, a política educacional da ditadura materializou a sua intenção de controle e enquadramento implementado praticamente a destruição de instrumento organizativos do corpo discente, promovendo um clima de intimidação no corpo docente e muito especialmente, reprimindo com furor inaudito as propostas experiências, movimentos e instituições que ensaiavam ou realizavam alternativas tendentes a democratizar a política, o sistema e os processos educativos, vinculando-os as necessidades de base de massa da população. Em 1968 os movimentos sociais voltam a se articular, com objetivos diferentes, mas com um único propósito de por fim ao sistema ditatorial. Destacam-se os movimentos estudantis, religiosos, operários e camponeses. Emerge o sistema educacional da autocracia burguesa que primeiro incide sobre o ensino superior e depois nos níveis elementar e básico. Em 1968-1969 a esta dimensão negativa unem uma dimensão positiva, com a instauração de um “modelo educacional” congruente com o modelo econômico, com a compatibilização funcional operativa entre política educacional e o conjunto da política social da ditadura. Neste sentido, vale-se do modelo oferecido pelos americanos através dos acordos MEC-USAID e que comandaram a reforma universitária. A política educacional atua principalmente no sentido da neutralização e no esvaziamento da universidade, tornando-a insulada, tirando-lhe o dinamismo critico e com ensino superior asséptico, apto a produzir quadros qualificados afeitos à racionalidade formal burocrática, restringindo-se o trabalho acadêmico aos limites da academia. A universidade torna-se entidade burocratizada, disfuncional e sem identidade. 3 A RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL SOB A AUTOCRACIA BURGUESA Este período demarca uma quadra extremamente importante no desenvolvimento do Serviço Social no país. O discurso e a ação governamental, do final da década de 60 até os primeiros anos da década de 70, ocorriam no sentido de validar e reforçar o Serviço Social tradicional, buscando contar com dóceis executores de políticas sociais localizadas, bem como conseguir inocular os projetos profissionais que fossem potencialmente conflitivos. Mas a situação vigente propiciará o acumulo de vetores que irão atuar para a erosão do Serviço Social tradicional. As sequelas do “modelo econômico” da Ditadura Militar saturaram o espaço brasileiro com todas as refrações da „questão social‟ que são tratadas pelo Estado ditatorial através de políticas sociais crescentemente centralizadas. Para fazer frente a esta situação o Estado reformula substancialmente, a partir de 1966-1967, as estruturas das instituições sociais, tanto na organização quanto no funcionamento. As atividades a cargo dos Assistentes Sociais se tornam mais complexas, diversificam-se e se tornam mais especializadas nos serviços públicos quanto nas médias e grandes empresas. Esse mercado colocou para o serviço social, dada a sua contextualidade sociopolítica, um novo padrão de exigências para seu desempenho profissional – quer nas agências estatais quer nos espaços privados recém- abertos. (Netto, 2011:123). A modernização conservadora requisita do assistente social uma postura moderna. Resumindo pode-se dizer que a reformulação do Serviço Social, tanto no nível da prática quanto na formação de professores, advém destas situações colocadas pelo Estado burguês: reorganização do Estado (grande empregador dos Assistentes Sociais) e reformas das instituições, bem como, modificações profundas ocorridas na sociedade. Ao mesmo tempo o perfil da formação profissional recebe o influxo da sociologia, da psicologia social e da antropologia e sofre o impacto da Universidade que também refuncionalizava. A crise do Serviço Social “tradicional” é um fenômeno internacional, procede do exterior, da movimentação que caracteriza o período. O pano de fundo é dado pelo exaurimento de um padrão de desenvolvimento capitalista e no contexto do desanuviamento das relações internacionais (superada a guerra fria) gestando-se um quadro favorável para a mobilização das classes sociais subalternas em defesa de seus interesses imediatos. Na ditadura a „‟questão social‟‟ foi enfrentada por parte do estado e do empresariado através da repressão e da assistência. A assistência via-se expandir criando o mercado nacional de trabalho para o serviço social. Ao mesmo tempo os serviços sociais começaram a serem explorados como fonte de acumulação de renda. Questiona-se a ordem burguesa como limite da historia, as instituições e organizações governamentais e o elenco das políticas do Welfare State, recusa-se a aparente assepsia política e nega-se a eficácia da intervenção institucional a partir dos próprios resultados que produz. Este é o cenário para promover a contestação das práticas profissionais, como as do Serviço Social “tradicional”. Considerando os fatores próprios, internos que contribuíram para a erosão do Serviço Social tradicional, podem ser apontados três vetores: 1. A revisão critica que se processa na fronteira das ciências sociais (Antropologia, sociologia, psicologia social) a impugnação do funcionalismo, do quantitativismo e da superficialidade que impregnavam as ciências sociais. 2. O deslocamento desigual, porem visível e operante da igreja católica e de algumas confissões protestantes, que se mostram em dois planos: na interpretação teológica que justificam posturas anticapitalistas e na permeabilidade de segmentos da alta hierarquia a demandas de reposicionamento político-social advindas das bases e do baixo clero. 3-O movimento estudantil, que reproduz nos moldes da contestação global, todas as alterações acima nas agencias de formação, principalmente ao atrair os docentes para seu lado. No serviço social esta disjuntiva político-social se refratou no corpo profissional na forma de um movimento de renovação ou reconceituação profissional que apresentou duas faces: modernização e ruptura. O movimento de reconceituação começou no Cone Sul da América latina (no ano de 1965 se realizou o Seminário Regional latino americano de Serviço Social em Porto alegre) e se espalhou pelo resto do continente ao longo de aproximadamente uma década. Podem ser considerados como de relevância dois aspectos do Movimento de Reconceituação: 1-Relação com a tradição marxista, que pela primeira vez aparece nas elaborações do Serviço Social, deixando de ser estranho ao Serviço Social e se tornando um marco de modernidade. 2-Novarelação entre os profissionais na América Latina, que existia desde 1940, mas que é fundada como uma unidade. Na modernização temos a vontade de transformação do Serviço Social de tecnologia em ciência, adotando para isto o método cientifico. Na ruptura, temos a descoberta da ideologia como uma região, ou esfera da sociedade. Poder-se dizer que aqui também existia a vontade de fazer do Serviço Social uma ciência, sendo para isto necessário que o Serviço Social rompa com as ideologias ou que se defina a favor de uma das ideologias. Através da ideologia era possível pensar a relação entre o conhecimento e os interesses sociais quebrando assim a circularidade e autossuficiência do processo de conhecimento do positivismo. Com esta formulação o Serviço Social abandonava o lugar de neutralidade que tradicionalmente ocupava, se afastando também da proposta modernizadora e positivista já que esta era considerada como uma proposta „‟ ideológica‟‟ que visava a mascarar as relações sociais entre as classes. José Paulo Netto se refere à perspectiva modernizadora que constitui a primeira expressão do processo de renovação do Serviço Social no Brasil que encontra sua formulação no primeiro Seminário de Teorização do Serviço Social que foi promovido pela CBCISS em Araxá e que teve como desdobramento um segundo Seminário realizado em Teresópolis. 3. 1 OS DOCUMENTOS DE ARAXÁ E TERESÓPOLIS Os Documentos produzidos têm características diferenciadas, mas são modelares na tentativa de adequar o Serviço Social como instrumento de suporte a políticas de desenvolvimento e adequar as (auto) representações profissionais às tendências sociopolíticos da Ditadura, que não se punham como objeto de questionamento. Para Netto uma nova forma de conceber o Serviço Social no contexto brasileiro seria como instrumento profissional de suporte às políticas de desenvolvimento que teve como problemática o desenvolvimento que apresenta como viés característico as estratégias político-sociais que adotam o desenvolvimento como processo induzido de mudanças para erradicar, mediante uma gradativa ampliação dos níveis de bem-estar social, o quadro de causalidades. E é com essa compreensão desenvolvimentista, que se entende o aspecto renovador apresentado nos documentos de Araxá e Teresópolis. O documento de Araxá reflete o pensamento dessa fina flor da tecnocracia, pois reúne os assistentes sociais que haviam deixado de trabalhar nas obras sociais, nos morros, nas favelas, nas fábricas, nos círculos operários e passaram a ocuparem postos e cargos na administração estatal. (Faleiros, 1987:57). O Documento de Araxá foi o resultado de formulações ocorridas no “Seminário de Teorização do Serviço Social” ocorrido na estância hidromineral de Araxá entre 19 a 26 de março de 1967, patrocinado pelo CBCISS. Nele se afirma a perspectiva modernizadora, e pode ser considerado como expressão modelar das representações profissionais do serviço Social no sentido de adequar-se às tendências sociopolíticas da Ditadura, bem como, das vinculações às ideologias das políticas de desenvolvimento. Netto ainda faz referência à urgência de rompimento da atuação do Serviço Social ao uso exclusivo dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, revendo e elaborando novos métodos e processos, sendo que a intenção do documento se direciona a ruptura da exclusividade tradicional onde haveria na verdade uma captura desse tradicional com novas bases. Estas afirmações mostram uma tensão entre o “moderno” (processo de desenvolvimento), o “tradicional" (desajustamento individuais) e o abstrato (realização integral do homem). Segundo o Documento de Araxá o objetivo remoto do Serviço Social é o provimento de recursos indispensáveis ao desenvolvimento, à valorização e à melhoria das condições do ser humano, atendimento de valores universais e à harmonia entre estes e aos valores culturais e individuais. São valores universais consignados na “Declaração Universal dos Direitos do Homem” da ONU. Quanto aos objetivos operacionais, está colocado o de levar a população a tomar consciência dos problemas sociais e o estabelecimento de formas de integração social no desenvolvimento do país. Definem-se como funções os serviços de atendimento direto, corretivo, preventivo e promocional em casos, grupos, comunidade e populares e organizações. A intervenção na realidade, através de processos de trabalho com indivíduos, grupos, comunidades e populações, não é característica exclusiva do Assistente Social; o que lhe é peculiar é o enfoque orientado por uma visão global do homem, integrado em seu sistema social. (CBCISS, 1986:31). Dentro desta perspectiva de globalidade, a metodologia se efetiva em dois níveis: macro e micro atuação. A micro atuação é a administração e a prestação de serviços diretos e a macro atuação ocorre no campo da política e planejamento para o desenvolvimento e se traduz pela participação no planejamento, na implantação e na melhor utilização da infraestrutura social. O documento distingue a infraestrutura social (facilidades básicas, programas para saúde, educação, habitação e serviços sociais fundamentais) da infraestrutura econômica e física, porém harmoniza suas prioridades como idênticas. Sincronizando a micro-atuação com a macro atuação. A micro atuação pouco difere da atuação anterior e a macro atuação que dá o tom inovador. Entretanto o evidente exagero do que se propõe como macro atuação, ou seja, participar dos planos, programas e políticas sociais ao nível de formulação, exigiria uma superprofissão. Os assistentes não podem permanecer meros executores das políticas sociais, eles devem ser capazes de também de formulá-las e geri- las. Netto diz que embora o Documento de Araxá esteja preocupado com a teorização do Serviço Social não a enfrenta explicitamente, pois é impossível encontrar em sua estrutura uma compreensão teórica objetivada pela profissão, já que o mesmo se reduz a uma abordagem técnica operacional em função do modelo básico do desenvolvimento. No Documento de Teresópolis, o moderno triunfa sobre o tradicional não apenas na concepção profissional, mas na pauta interventiva. A realização do Encontro de Teresópolis (no período de10 a 17 de janeiro de 1970, enfatizando a nova postura do Assistente Social) significou a consolidação da proposta modernizadora para a profissão, evidenciada no Documento de Araxá. A participação dos Assistentes Sociais é alimentada por sete encontros regionais. Os participantes são divididos em dois grupos de trabalho, que apresentam suas conclusões, que são discutidas e realizadas uma conclusão final. Nesse documento foram apresentados três textos debatidos: Sendo o primeiro a “Introdução à questão da metodologia. Teoria do diagnostico e da intervenção no Serviço Social” de Sueli Gomes Costa. A autora é critica e atenta para questões que não são percebidas como em pensar o Serviço Social sem remetê-lo a problemática de fundo das ciências sociais e ao questionamento histórico, debilidades teóricas e condicionamentos ideológicos. O segundo texto é de Tecla Machado Soeiro - “Bases para a reformulação da metodologia do Serviço Social” tem formulações equivocas e errôneas. Para o autor Soeiro o objeto do Serviço Social é o processo de orientação social, ou seja, o processo desenvolvido pelo homem a fim de obter soluções normais para dificuldades sociais que se desenrola no interior do “processo social básico” e, mais, que “é um processo natural”. Há que se ressaltar que estes dois documentos pouco contribuíram nas discussões do Seminário, o primeiro porque problematizava o documento de Araxá e estava alem do horizonte modernizador e o segundo porque estava aquém do nível das discussões. Dantas Lucenaofereceu com o trabalho “A teoria metodológica do Serviço Social - Uma abordagem sistemática”, uma concepção extremamente articulada da metodologia modernizadora, que era o objetivo do seminário. O Documento de Teresópolis possui características diversas e que se compõe dos relatórios dos dois grupos de profissionais, divididos em grupo A e grupo B, que tem como temática a “Concepção cientifica da prática do Serviço Social” e “Aplicação da metodologia do Serviço Social”, além de discutir o Documento de Araxá. Busca a utilização do método cientifico e método profissional e a conexão com as ciências sociais. Os relatórios se caracterizaram por expor a concepção cientifica da prática do Serviço Social que é assumida como uma intervenção. Netto também diz que o processo de amadurecimento de renovação do Serviço Social chegou ao seu ponto mais alto na perspectiva modernizadora a partir dessas formulações, havendo um avanço em relação ao Documento de Araxá. Essas formulações apontam para a requalificação do assistente social, definem o perfil sócio técnico da profissão e inscrevem no circuito da modernização conservadora, além de repor os vetores que deram tônica na elaboração de Araxá. Netto também traz em seu livro os seminários de Sumaré e Alto da Boa Vista que não tiveram a mesma repercussão dos anteriores que teve a condução da formulação dos problemas teóricos e culturais e que se apresentaram defasadas em confronto com a modalidade de reflexão do debate profissional. 3. 2 A INTENÇÃO DE RUPTURA Entre os vetores que intervieram no processo de renovação da profissão está a efetiva inserção dos cursos de Serviço Social no circuito acadêmico (graduação e pós-graduação). Dentro da perspectiva renovadora a que mais se ligou a universidade foi à intenção de ruptura que pretendia romper substancialmente com o tradicionalismo e suas implicações teórico-metodológicas e prático- profissionais. É apontada como produto de professores. A perspectiva da intenção de ruptura deveria construir-se sobre bases quase que inteiramente novas; esta era uma decorrência do seu projeto de romper substantivamente com o tradicionalismo e suas implicações teórico-metodológicas e prático-profissionais. (Netto, 2011:250). Na área estatal e na área privada o terreno para inovações na perspectiva de ruptura era estreito e o custo alto. A universidade oferecia um campo novo e menos inseguro para apostas de rompimento. O espaço universitário era o que mais se prestava a este projeto- na relação ensino, pesquisa e extensão situam-se o lócus privilegiado da inovação e seus desdobramentos. Levando às experiências pilotos com campos de estágio, à interação intelectual entre assistentes sociais sem demandas imediatas da prática profissional, à perda de controle institucional e organizacional, à possibilidade de responder a demanda de interação de novo tipo com teorias e disciplinas sociais, à possibilidade de responder a necessidade de sistematizar e elaborar as práticas implementadas e à possibilidade de obter suportes teórico-metodológicos. Nas agencias de formação a primeira metade dos anos oitenta assinalou progressos notáveis nesta perspectiva. Entretanto houve um descompasso entre a formulação das vanguardas e o restante da categoria profissional. Podem ser citadas bases para o movimento de ruptura na transição democrática: - Mobilização antiditatorial dinamizada pelos setores da classe média urbana jogada na oposição; - Crise da autocracia; - Modificações sofridas pela sociedade brasileira, definindo as fronteiras e os perfis das classes sociais; - Os espaços ocupados na ultrapassagem da autocracia pelas camadas trabalhadoras começaram a oferecer suporte para intervenção social aberta e legitimada e sistemas organizativos mais avançados; - Aproximação da categoria profissional às condições de trabalho das classes subalternas, recepção das concretas situações de existência das classes e camadas exploradas e subalternas; A perspectiva da intenção de ruptura desenvolveu a sua politização, sempre em confronto com a ditadura, em certos momentos caiu para a partidarização e em posturas de evidente estreiteza. São três os momentos constitutivos da perspectiva da intenção de ruptura: A emersão, que se dá através do Método BH elaborado pela PUC/MG. Em Belo Horizonte, no inicio da década de 70, ocorriam importantes movimentos sindicais e operários. Estes movimentos assentavam-se sobre a tradição estudantil democrática no município e sobre as impulsões revolucionárias e socialistas que ocorriam nesta época. O Método BH teve a direção intelectual de Leila Lima e Ana Maria Quiroga, professoras da PUC/MG, que elaboram uma critica teórica pratica ao tradicionalismo profissional e propõem uma alternativa global para romper com o tradicionalismo no plano teórico-metodológico, no plano da concepção e da intervenção profissionais e no plano da formação profissional. Por razões pouco esclarecidas este processo foi interrompido em 1975. O primeira trabalho de implantação deste método foi no município de Itabira. A consolidação acadêmica do movimento Intenção de Ruptura ocorre do final dos anos 70 até 1983, quando há uma recuperação da intenção de ruptura sob novas bases, estritamente acadêmica. São Paulo, Rio de Janeiro, Campina Grande são os principais locais onde se adota na academia novas propostas de ruptura com o Serviço Social tradicional. A partir de então o Serviço Social interage com outras tendências operantes no Serviço Social, adensa a produção acadêmica e polarizam-se os debates profissionais. Passa-se do pensar sobre propostas para o Serviço Social a pensar sobre o próprio Serviço Social. Os Assistentes Sociais são colocados frente à “fontes” clássicas da teoria social. Configura-se a maioridade intelectual e teórica da perspectiva da intenção de ruptura. A partir de meados dos anos oitenta patenteia-se que a perspectiva da intenção de ruptura não é apenas um vetor do processo de renovação, evidencia-se o seu potencial criativo, instigante e produtivo. E o espraiamento sobre a categoria profissional. (Escapa aos limites desse estudo) A continuidade e mudança no processo da intenção de ruptura se dão a partir da referência à tradição marxista, inscrevendo-se no universo simbólico dos Assistentes Sociais de maneira significativa. O projeto de ruptura remete a tradição marxista fazendo-o de formas diversas ao longo do seu processo. No momento da emersão aproxima-se da tradição marxista pelo viés da militância política, frequentemente político-partidária. Estará presente a reiteração das discussões sobre “idealismo” e “materialismo”, “ciência“ e “ideologia”, “teoria” e “prática”. No “Marxismo acadêmico” se caracteriza pelos fortes traços de redução epistemologista, fundando um padrão de analise textual da documentação profissional da política e da historia com lente paradigmática. Com o acúmulo dos anteriores e com as condições postas da tendência democrática, direciona-se a recuperação de diferenciados substratos da tradição marxista para analisar a atualidade profissional. Netto, em seu livro, enfocou duas das contribuições que se salientam naquele acervo: Método Belo Horizonte e a reflexão produzida por Marilda Villela Iamamoto. O Método BH tem como objetivo meta a transformação da sociedade e do homem. Projeto megalômano: atribuir à profissão transformar a sociedade e o homem. Como meta meio: conscientização, capacitação e organização. E faz critica ao “Serviço Social Tradicional”: a) ideopolíticas: critica-se a sua aparente neutralidade que de fato se traduz no desempenho de funções voltadas para determinados interesses b) teórico-metodológicas: o Serviço Social Tradicional ofereceuma visão dicotômica entre a realidade social e os grupos sociais, entre a sociedade e os homens, entre o sujeito e o objeto. c) Operativo-funcionais: no Serviço Social Tradicional, os elementos constitutivos da ação metódica não são explicados claramente. Competem apenas eliminar as disfunções, problemas de desadaptação, condutas desviadas. Não delimita área de atuação, o critério é a localização dos indivíduos. Com o objetivo de elaborar um método científico, o método profissional fundamentou-se nas relações, princípios e leis inerentes ao conhecimento e à própria realidade. Tais elementos constituem o conteúdo objetivo do método e permitem concluir que o método profissional está diretamente ligado à teoria científica e à realidade histórica, sendo inconcebíveis sem elas. Desta forma, a teoria adquire sua significação metodológica e se converte em método, na medida em que seus princípios, leis e teses são utilizados consciente adequadamente como instrumentos de conhecimento e transformação prática da realidade... o método profissional é um meio de conhecimento e interpretação desta realidade e, ao mesmo tempo, um instrumento da sua transformação. (Santos, 1985:47). A principal crítica ao Método BH é que a inspiração marxista não vai a fontes originais, tem contaminação positivista. Combina formalismo e empirismo, deforma as efetivas relações entre teoria, método e pratica profissional, simplifica as mediações entre sociedade e profissão. A Reflexão de Iamamoto recusa “leitura interna” do Serviço Social e abordagem como fenômeno da ordem burguesa (reflexo do quadro social). Busca o significado social da profissão em sua conexão com a produção e reprodução das relações sociais (totalidade das relações sociais da ordem burguesa e particularidade da formação social brasileira) e como profissão referenciada no aprofundamento do capitalismo. Supõe que a apreensão do significado histórico da profissão só é desvendada em sua inserção na sociedade a partir da divisão sociotécnica do trabalho. Ela faz uma análise entre o capital e as relações sociais; o assistente social como mediador; centralização e racionalização da atividade assistencial de prestação de serviço sociais pelo Estado ocorrem à medida que se amplia o contingente da classe trabalhadora e sua presença política na sociedade; cidadania; redistribuição via Estado da parcela do valor criado pelos trabalhadores e deles extraídas pelos capitalistas; conquistas travestidas em doação. Na vertente modernizadora, que se vivencia a crise profissional como atualização da instituição e reforço de suas bases de legitimação junto ás instâncias mandatárias, acentuam-se as mudanças de forma do discurso e da prática, mantidos os vínculos do intelecto como o poder. Na tendência que se lança na tentativa de ruptura com a herança conservadora do Serviço Social, problematiza-se os requisitos e as dificuldades vivenciadas pelo intelectual que se orienta para um outro projeto de sociedade, através de uma prática efetivamente inovadora. (Iamamoto, 1982:193) . O que a renovação profissional fez, através da elaboração dos formuladores, foi construir um acúmulo no interior do qual é possível reconhecer as tendências fundamentais que mobilizam as classes e os grupos sociais brasileiros no enfrentamento dos problemas da economia, da cultura e da história. Essa renovação constituiu a contribuição dos assistentes para abrir o caminho ao futuro, da sua profissão e da sociedade. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluo que, na análise de Netto, do período da Ditadura Militar, vimos a necessidade de reconceituação do serviço social ao mesmo tempo em que se configurou com um amplo processo de questionamento e reflexões críticas da profissão. Essa renovação foi motivada pelas pressões sociais e mobilizações dos setores populares, historicamente marcada pelas desigualdades de classes e das questões sociais, em face de acúmulo do capitalismo, marcado também pela perspectiva de ruptura com o Serviço Social tradicional. José Paulo Netto em seu livro aborda a temática dos Seminários de Araxá, Teresópolis e pincela sobre os Seminários de Sumaré e Alto da Boa Vista dando uma visão crítica sobre o Movimento de Reconceituação do Serviço Social. Esses documentos ainda são uma referência para os futuros profissionais do Serviço Social, visto que eles abordam o processo de renovação em uma perspectiva modernizadora da profissão em um contexto em que ideias revolucionárias poderia ser pretexto para retaliações. O assistente social é um profissional especialmente habilitado para identificar e atuar em problemas de educação, saúde, trabalho, justiça e segurança entre outras áreas, planejando e executando políticas públicas comunitárias, podendo também atuar diretamente com os indivíduos, famílias, grupos, empresas e comunidades. Hoje a profissão do serviço social é muito admirada porque e vista como o médico da sociedade, pois profissional e politizado e bem dotado de conhecimento, compreendendo assim que ainda nos dias atuais mesmo diante de todas as limitações, sejam elas sociais, institucionais, ou profissionais, ainda existe este a vontade de sempre melhorar o exercício profissional, no qual caberia aos assistentes sociais orientar a abertura de caminhos nos quais posso exercer seu autogoverno de acordo com seus valores, crenças, anseios e aspirações. REFERÊNCIAS CBCISS/Centro brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais. Teorização do Serviço Social, Rio de Janeiro, Agir, 1986 FALEIROS, V. P. Serviço Social & Sociedade. São Paulo, Cortez, 1987 IAMAMOTO, M. V. Legitimidade e crise do Serviço Social. Piracicaba, 1982 NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social - Uma análise do Serviço Social no Brasil pós 64. 16º edição, São Paulo, Cortez, 2011 SANTOS, L. L. Textos de Serviço Social. São Paulo, Cortez, 1985. 1 INTRODUÇÃO O regime Militar no Brasil ocorreu no período de 1964 a 1985, configurando-se como um momento de extrema amargura, onde governado por militares, tinha como principais características: a falta de democracia, as perseguições políticas, a interrupção de direitos constitucionais, a censura, a concentração de renda, a repressão e violência a todos contrários a este sistema de governo. A situação da sociedade brasileira neste período de regime militar faz com que o serviço social assuma uma prática modernizadora, mudando a postura da prática do Serviço Social, marcando assim o início do Movimento de Reconceituação do Serviço social. No Brasil sua renovação, teve três pontos norteadores: Perspectiva modernizadora, Perspectiva de Reatualização do conservadorismo e Perspectiva da ruptura. A Reconceituação do Serviço Social foi marcada por um esforço para o desenvolvimento da ação profissional. Neste momento configurou-se um processo de questionamento e reflexões críticas da profissão. Tais questionamentos, motivados pelas pressões sociais, também foram marcados pela ruptura do Serviço Social tradicional, possibilitando um vínculo dos profissionais com as classes populares, em perspectiva de transformação social. 2 DESENVOLVIMENTO A institucionalização do serviço social profissional está atrelada aos efeitos políticos, sociais e populistas do Governo Vargas. O serviço social em sua origem esteve ligado fortemente a Igreja católica, onde os assistentes sociais foram inseridos rapidamente no Estado para enfrentar a questão social, nos campos de saúde e no campo jurídico. Também atuavam em grandes organizações junto aos trabalhadores da indústria e do comercio. Na Legião Brasileira de Assistência serviam a fins políticos-eleitoreiros e em organizações religiosas e privadas que possuíam variados objetivos na áreasocial. Essa atuação prática dos assistentes Sociais foi insuficiente, e a partir da década de 40 do século XX, os novos profissionais, procuraram aprimorar tecnicamente e metodologicamente, fundamentados nas ciências sociais, com uma visão funcionalista americana. Porém a partir da década de 60, esses fundamentos foram bastante questionados, época em que o Brasil passava por grandes transformações sociais, políticas e culturais. Revelavam-se os problemas de subdesenvolvimento da America Latina, sua dependência em relação aos países hegemônicos e a marginalidade de grande parte da população. A preocupação dos responsáveis pelas políticas econômicas e sociais dos países sul-americanos era buscar sair da situação de subdesenvolvimento. Diante de tal situação os intelectuais das áreas das Ciências Humanas e Sociais, dentre eles o Serviço Social, questionavam-se em como superar as situações de atraso e de marginalidade social, e sobre o papel dos diferentes profissionais no processo de desenvolvimento. Muitos profissionais da área de Serviço social se envolveram nas lutas de sociedade brasileira pelas Reformas de Base, que ocorreram nos anos 60, participaram dos movimentos de Educação de Adultos e Cultura Popular. Porém de 1964 a 1985, com o golpe militar esses Assistentes sociais, e tantos outros brasileiros que reivindicavam uma transformação social, sofreram com a repressão que “caracterizou-se pela falta de democracia, suspensão dos direitos constitucionais, censura, concentração de renda, pensamentos capitalistas, perseguição política e repressão a todos que eram contra o regime militar”. Aconteceram alterações no modelo econômico, que redefiniram e reforçaram a dependência em relação aos países industrializados, que permitiram com os investimentos de capital estrangeiros, uma grande dinamização da economia, com consequente reorganização administrativa, tecnológica e financeira. Novas formas de controle social e político foram acompanhados pela implantação e a consolidação deste novo modelo, que permitiu a acumulação e expansão capitalista. Ocorreram repressões a classes trabalhadoras e contenção de salário, como forma compensatória, foi implantada uma serie de medidas de políticas sociais, sem consulta ou participação da classe trabalhadora, proporcionando um crescimento por demanda de profissionais de Serviço social, para serem agentes executores destas políticas sociais. Eram exigências para estes profissionais uma especialização em políticas sociais, planejamento, administração de serviço, ou seja, uma formação técnica e metodológica rigorosa e adequada ao mercado de trabalho. Com estas exigências o Serviço Social se inseriu no processo de modernização da Educação, base considerada primordial para processo de desenvolvimento de um país. Para acelerar o desenvolvimento cientifico e tecnológico, era necessária urgentemente a formação de recursos humanos, com base na racionalização, eficiência e produtividade, sendo necessário reorganizar todo o sistema educacional. A Reconceituação do Serviço social se deu através de um relacionamento mais estreito com os assistentes sociais latino-americanos e a conscientização da existência de problemas comuns, caracterizada por uma crítica radical ao sistema existente e suas formas tradicionais de ação, emergindo novas propostas teóricas e metodológicas. Seu surgimento na década de 60 expandiu na década de 70, tendo uma importante contribuição para a revisão da teoria, da prática e do ensino de serviço social: [...] adequação do Serviço Social á problemática dos países latino-americanos, tendo em vista a impossibilidade de se trabalhar numa realidade concreta, com desafios próprios e específicos, utilizando-se métodos e técnicas importados de outra realidade; definição de um marco teórico referencial para a prática do latino-americano; busca de metodologia adequada as exigências dessa realidade e que pudesse assegurar a integração teórica-prática na atividade profissional; produção de uma literatura que refletisse as respostas do serviço social á realidade latino-americana (Macedo, 1981). Desde a década de 70, com uma nova análise dos fenômenos sociais e novas metodologias de ação, esse movimento propunha um referencial marxista, que considerasse a totalidade do social. O movimento de Reconceituação apresentava influência do pensamento de Althusser (1983), onde as instituições foram consideradas aparelhos ideológicos do Estado e “lugar de luta de classes pela direção da sociedade” (Althusser, 1983, p.17) e o de serviço social, como “atividade e subsidiária no exercício de controle social e na difusão da ideologia dominante” (Iamamoto e Carvalho, 1983, p.23). Houve um confronto entre as instituições e os assistentes sociais e os acadêmicos estagiários, que passaram a assumir uma postura de negação da pratica constitucional, por outro lado, a participação nos movimentos populares sofria um crescimento, que enfatizava a pratica política. Na época de transição democrática, as concepções de Gramsci (1986), foram estímulos, ao anseio de ocupar todos os espaços possíveis, dar uma contribuição ativa ao processo de libertação do autoritarismo e de luta por direitos a cidadania. Houve uma revalorização da prática institucional e uma busca por novos mecanismos de participação popular nos programas institucionais e sua articulação com movimentos populares. No Brasil o Serviço Social crítico, se caracteriza, através da herança do Movimento de Reconceituação, de acordo com Netto (2005), com sua pluralidade ideológica e teórica, sua diversidade profissional, com críticas ao tradicionalismo, através de um projeto ético-político. Atualmente a profissão do Serviço busca diminuir as disparidades sociais, atuando nas áreas de educação, Centros de convivência Administração municipais, estaduais e federais; Serviços de proteção judiciária; Conselhos de direitos e de gestão; Movimentos sociais, e Hospitais. 3 CONCLUSÃO O presente trabalho aborda a evolução do Serviço Social, no Brasil, a partir da década de 30, enfocando aspectos políticos, econômicos e sociais que são de grande importância para a compreensão da profissão e descreve o processo incessante de aprimoramento e amadurecimento da formação profissional pela qual o Serviço Social passou. O Serviço Social teve sua origem vinculada à Igreja Católica, no Brasil, na década de 60 caracterizou-se pela busca em superar as situações de atraso e de marginalidade social. O processo de ruptura com o conservadorismo representou momento significativo para a profissão, levando ao questionamento de sua formação e atuação, manifestando sua insatisfação e a necessidade de um referencial teórico-crítico que possibilitasse decifrar a realidade para uma intervenção competente frente às exigências da sociedade. Mesmo com a significativa influência do movimento de Reconceituação, da década de 60, ainda se encontra profissionais ligados ao conservadorismo. O que se percebe é que, apesar do avanço do Serviço Social a formação de pesquisadores ainda se depara com inúmeras dificuldades. Numa sociedade dinâmica, trabalhar com as demandas da questão social exige, sobretudo, construção de conhecimento e pesquisa que venha a contribuir para a transformação social.
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