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CRIME MILITAR

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CRIME MILITAR, DIFERENÇA ENTRE O CRIME MILITAR PRÓPRIO E IMPRÓPRIO E EXEMPLOS 
O Código Penal Militar (CPM) vigente foi instituído pelo Decreto-Lei 1.001, de 21 de outubro de 1969, tendo sido recepcionado com força de lei (ordinária) pela atual Constituição Federal, ressalvadas as naturais incompatibilidades com a Carta Política.
O Direito Penal Militar possui diversos princípios e regras semelhantes ao Direito Penal comum, valendo-se o operador do Direito Castrense da doutrina e jurisprudência desses institutos comuns. Contudo, há inúmeras normas gerais e incriminadoras que são diversas ou previstas exclusivamente no Direito Penal Militar.
APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR E CRIMES MILITARES
Como exemplos desses delitos, podemos citar o crime de furto, desacato a militar de ser viço, homicídio, peculato, prevaricação.
Exceção: a insubmissão (art. 183 do CPM) é considerada, por alguns autores, como o único crime propriamente militar que só pode ser cometido por civil; enquanto para outros, é crime impropriamente militar, em decorrência desse conceito.
Crimes próprios militares: são os crimes militares que, na melhor doutrina, somente certos militares podem cometer, ou seja, são crimes próprios cuja tipicidade exige uma determinada qualidade ou condição pessoal do agente militar como, no direito comum, a de funcionário público, médico, mãe (no caso de infanticídio) etc.
Para Jorge Alberto Romeiro11, importante distinção se opera entre o conceito de crime propriamente militar (ou crime militar próprio) e o de crime próprio militar, pois o primeiro exige apenas a qualidade de militar do agente; enquanto o segundo, além da referida qualidade de militar, exige um plus, uma particular posição jurídica do agente, como a de militar de serviço, nos crimes de abandono de posto e do lugar de serviço (ar t. 195 do CPM); comandante, nos crimes de omissão de providências para salvar comandados (ar t. 200 do CPM
CRIMES MILITARES
Os crimes militares estão definidos no Código Penal Militar e divide-se em militares em tempo de paz (art 9º) e em tempo de guerra (art 10). Podem ser puros ou próprios (puramente militares) ou impróprios.
a) Puros: ou próprios são os que somente estão definidos no CPM;
b) Impróprios: são aqueles cuja definição típica também é prevista na lei penal comum, quando praticados nas condições estabelecidas no art. 9º, II, e no 10, III, do CPM.
Para Jorge A. Romeiro há uma distinção: os crimes propriamente militares são os que exigiriam a qualidade de militar para o agente; nos próprios militares, além da referida qualidade, a posição jurídica do agente como a de comandante nos crimes exemplificados (art 198, 201, 372, 373 do CPM).
Crime militar em tempo de paz (art. 9.º do CPM)
Já tivemos a oportunidade de identificar que a Constituição Federal adotou o critério ratione legis para a exação do conceito de crime militar, delegando, portanto à lei definir os limites e hipóteses em que determinado fato delituoso seria considerado crime de natureza militar.
A chave reveladora da configuração do crime militar resulta da conjugação, ou seja, dupla adequação do disposto no artigo 9.º do Código Penal Militar e das condutas descritas na Parte Especial do mesmo Estatuto.
De acordo com o Prof. M ario Porto12, para estabelecer se determinado injusto penal revela-se como crime de natureza militar, deve -se em um primeiro momento realizar a adequação da conduta em um dos tipos penais previstos na Par te Especial do CPM.
Encontrado na Parte Especial do CPM um tipo penal em que a conduta venha a se adequar, será necessária uma segunda adequação, agora no artigo 9.º do CPM. Conjugando-se ambas as adequações (Parte Especial e artigo 9.º), estará configurado o crime de natureza militar.
Art. 9.º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma 
situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reforma do, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza 
militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar 
contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, 
ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob 
administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f ) revogado (por militar em situação de atividade ou assemelhado que, em bora não estando em ser viço, use armamento de propriedade militar ou qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração militar, para a prática de ato ilegal)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa 
militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou 
assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no 
exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, 
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.
EXEMPLO DE CRIME MILITARE IMPRÓRIO
Apelação
Relator: Odilson Sampaio Benzi
Revisor: Péricles Aurélio Lima de Queiroz
Datas: Autuado em 01/06/2017,
EMENTA: RECURSO DE APELAÇÃO. DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. INJÚRIA - ART. 216 DO CÓDIGO PENAL MILITAR. PRELIMINARES. PRECLUSÃO. NÃO CONHECIMENTO. AUTORIA E MATERIALIDADE. COMPROVAÇÃO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. ESTADO DE NECESSIDADE EXCULPANTE. NÃO CONFIGURAÇÃO. ACUSADO CIVIL. ART. 218, III, DO CPM. BIS IN IDEM. CARACTERIZAÇÃO. APELO PROVIDO EM PARTE. I - Não há como se conhecer do Apelo defensivo no pertinente às preliminares de incompetência da Justiça Militar da União para o julgamento de acusados civis, e inconstitucionalidade do art. 90-A da Lei 9.099/95, pelo evidente óbice da preclusão, porquanto os temas já foram definitivamente abordados nestes autos. II - Se o civil, munido de vontade livre e consciente de atacar a honra subjetiva de militar, profere palavras injuriosas, é induvidosa a configuração do dolo. Tipicidade formal e material reconhecidas. Inaplicabilidade do princípio da insignificância. III - A configuração do Estado de Necessidade Exculpante ou Justificante exige conduta finalística do agente, na medida em que é indispensável que o sacrifício do bem jurídico alheio seja apto a salvar de perigo atual direito seu ou de outrem. Inexistindo qualquer adequação entre o meio empregado e o resultado de salvamento pretendido, ou mesmo ausente tal finalidade, não há como se reconhecer a excludente. IV - A INJÚRIA É CRIME MILITAR IMPRÓPRIONOS TERMOS DO ART. 9º, INCISO III, ALÍNEA "B", DO CÓDIGO PENAL MILITAR, motivo pelo qual a circunstância de o crime ter sido praticado contra militar "em razão de suas funções" é elementar especializante que afasta o tipo do art. 140 do Código Penal comum. Sendo civil o acusado a incidência do inciso III do art. 218 do CPM configura ilegal bis in idem, por dupla consideração de idêntica circunstância fática, primeiramente como elementar do tipo e, em um segundo momento, como majorante especial. V - A redução da pena base abaixo do mínimo legal, por aplicação de atenuantes, encontra óbice no art. 73 do Código Penal Militar. VI - Recurso conhecido em parte e, nessa extensão, parcialmente provido, apenas para excluir a causa especial de aumento de pena prevista no art. 218, inciso III, do CPM.
EXEMPLO CRIME MILITAR PRÓPRIO
CRIME DE DESERÇÃO
Classe Apelação
Assunto(s) Deserção, Crimes militares, Crimes previstos na legislação extravagante, Direito penal, Crimes contra o serviço militar e o dever militar, Direito penal militar, Recurso, Direito processual penal
Relator Luis Carlos Gomes Mattos
Revisor Luis Carlos Gomes Mattos
Datas Autuado em 02/03/2017
 EMENTA: A PELAÇÃO. CRIME DE DESERÇÃO. RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. INAPLICABILIDADE DOS PRINCÍPIOS DA INSIGNIFICÂNCIA E DA PROPORCIONALIDADE. ESTADO DE NECESSIDADE NÃO COMPROVADO. VEDAÇÃO LEGAL À CONCESSÃO DO SURSIS. ARTIGO 59 DO CPM. RECEPÇÃO PELA CARTA MAGNA DE 1988. Os tipos penais da deserção, inclusive nas suas modalidades especiais, sejam em tempo de paz ou em tempo de guerra, encontram amparo no próprio contexto principiológico constitucional, porquanto indispensáveis para a proteção do serviço militar, a repercutir diretamente na defesa da Pátria, na garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. A ação perpetrada conforma-se à norma castrense e viola os bens por ela tutelados, quais sejam: a hierarquia e a disciplina, sustentáculos das Instituições Militares. Inexiste, pois, desproporcionalidade na cominação sancionatória. Ademais, por estar-se diante de uma violação penal, não há a possibilidade de o caso ser tratado noutra esfera, qual seja, a administrativa. Ação típica, com todas as suas elementares a impossibilitar eventual descaracterização delitiva para a esfera disciplinar. Inexistem, no conjunto probatório disponível, provas que satisfaçam os elementos da excludente de culpabilidade aventada pela Defesa. Pelo contrário, o conteúdo probatório confirma a autoria, materialidade e culpabilidade do agente e chama para si a Súmula nº 3 do STM. Tendo em vista que o recorrido ostenta a condição de militar é incabível a suspensão condicional da pena, ex vi do art. 88, II, "a", do Código Penal Militar. Conquanto o Réu seja menor de vinte e um anos, observa-se que sua apenação foi fixada no mínimo legal previsto no art. 187 do Codex Penal Militar. Assim, a incidência da atenuante resultaria em reprimenda abaixo dela, violando o disposto no art. 73 da Lei Substantiva Militar e o enunciado sumular nº 231 do Egrégio STJ. As regras insculpidas no artigo 59, caput, e nos seus incisos I e II, do CPM, encontram razão nas nuanças da vida e das atividades da Caserna, cujos principais pilares são a hierarquia e a disciplina. São disposições, pois, que se distinguem dos regramentos de cumprimento de penas comuns em função do seu caráter especial; e, por aí, também os supera quanto à sua aplicação no caso concreto. As disposições do art. 59 do CPM não afrontam a dignidade do Sentenciado e não agridem a individualização da pena, ambas garantidas constitucionalmente. Nesses termos - e realçada a natureza especial do direito penal militar como um todo harmônico e sistêmico -, não há que se dizer que o art. 59 do CPM não foi recepcionado pela Carta da República de 1988 e que, nesse fio, dever-se-ia aplicar o regramento comum de cumprimento da pena no caso concreto. Não provimento do Apelo. Por maioria.
Fontes: PORTO, Mario André da Silva. Direito Penal Militar. Rio de Janeiro: Fundação Trompowski, 2008.
ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar. (Parte geral). São Paulo: Saraiva, 1994. https://eproc2g.stm.jus.br/eproc_2g_prod/jurisprudencia/html/consulta.php?q=crime+militar+pr%C3%B3prio

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