Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Estácio de Sá Direito Redação Instrumental ProfªMarilza Roco Fundamentação – Notas de aula referentes a tipos de argumentos abordados nas aulas 10, 11, 12, 13 e 14. I. Que utilização fazemos da narrativa jurídica? II Fundamentação - Tipos de argumento 1. ARGUMENTO PRÓ-TESE (Argumentação baseada nos fatos) Caracteriza-se por ser extraído dos fatos contidos no relatório. Deve ser o primeiro argumento a compor a fundamentação. A estrutura adequada para desenvolvê-lo seria: Tese + porque + e também + além disso. Cada um desses elos coesivos introduz fatos distintos favoráveis à tese escolhida. Anísio cometeu um crime doloso inaceitável, repudiado com veemência pela sociedade, porque desferiu três facadas certeiras no peito de sua companheira, e também porque agiu covardemente contra uma pessoa desarmada e fisicamente mais fraca. Além disso, ele já estava desconfiado do caso extraconjugal da mulher, o que afastaria a hipótese de privação de sentidos. Pró-tese = TESE + porque+ e também + além disso 2. ARGUMENTO DE AUTORIDADE Argumento constituído com base nas fontes do Direito e/ou em pesquisas científicas comprovadas. A Constituição é muito clara quando diz que a vida é um bem inviolável. Uma sociedade democrática defende esse direito e recorre a todos os meios disponíveis para que a vida seja sempre preservada e para que qualquer atentado a esse direito seja severamente punido.No caso em questão, Teresa foi atacada de maneira covarde e violenta, porque não dispunha de meios para ao menos tentar preservar sua vida. Portanto, o réu desrespeitou a Constituição Brasileira e incorreu no crime de homicídio doloso previsto no artigo 121 do Código Penal Brasileiro. A voz da autoridade pode ser introduzida no texto por meio de verbos dicendi (de dizer) ou expressões conformativas: De acordo com o art. X do Código Penal, Capez diz que.. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em acórdão de processo X de nº..., decidiu... O STJ, em acórdão de ação de... de nº..., decidiu... O STF, em relação a casos dessa natureza, vem entendendo que... São fontes de autoridade: norma, doutrina, jurisprudência, disciplinas de fundamento (psicologia, sociologia, antropologia etc.), voz da Mídia, voz da Igreja, voz da Família. 3. ARGUMENTO DE OPOSIÇÃO Consiste na apresentação de um ponto de vista oposto ao da tese do argumentador, parecendo admiti-lo, para em seguida ser apresentada uma ideia que seja superior, enfraquecendo a perspectiva oposta. "Embora se possa alegar que Teresa tenha desrespeitado Anísio, traindo-o com outro homem em sua própria casa, uma pessoa de bem, diante de situações adversas, reflete, pondera, o que a impede de agir contra os valores sociais. Eis o que nos separa dos criminosos.(Oposição concessiva) Conectivos concessivos: Embora, apesar de, mesmo que, não obstante, posto que, conquanto É certo que o flagrante de uma traição provoca uma intensa dor, porém o ato extremo de assassinar a companheira, por sua desproporção, não pode ser aceito como uma resposta cabível ao conflito amoroso". (Oposição restritiva/adversativa) Conectivos restritivos: Entretanto, todavia, mas, no entanto, contudo Nos dois exemplos, temos em amarelo ideias que são contrárias à tese, porque destacam que a vítima agiu contra valores sociais. No entanto, em seguida, é ressaltada a desproporção do ato cometido pelo acusado, pois respondeu a uma traição tirando a vida de uma pessoa. 4. ARGUMENTO DE SENSO COMUM Consiste no aproveitamento de uma afirmação que goza de consenso; está amplamente difundida na sociedade. A sociedade brasileira sofre com a violência cotidiana em diversos níveis e não tolera mais essa prática.Certamente, a violência é o pior recurso para a solução de qualquer tipo de conflito.Uma pessoa sensata pondera, dialoga ou se afasta de situações que podem desencadear embates violentos. Não foi essa a opção de Anísio. Preferiu pegar uma faca e, como um bárbaro, assassinar a mulher, evitando todas as outras soluções pacíficas existentes, como a imediata separação que o afastaria definitivamente de quem o traiu. Aceitar sua conduta desmedida seria instituir a pena de morte para a traição amorosa. 5. ARGUMENTO DE ANALOGIA Estabelece-se uma relação de semelhança entre elementos presentes tanto no caso concreto analisado quanto em outros casos. A jurisprudência é uma fonte de analogia; no entanto, é preciso que o caso concreto tenha ocorrido em condições semelhantes à do caso sobre o qual se argumenta. "Qualquer pessoa tem dificuldade de negar que utilizaria qualquer meio para defender alguém que ama. Em casos de um assalto, por exemplo, uma mãe está perfeitamente disposta a matar o assaltante para defender a vida de seu filho. Para fugir de uma perseguição, o motorista de um carro é plenamente capaz de causar um acidente para evitar que algo de mal aconteça aos caronas que conduz. O que há de comum nestes e em tantos outros casos de que se tem notícia é que existe um sentimento de amor ou bem querer que impede que uma pessoa dimensione racionalmente as consequências do ato que pratica em favor da proteção de alguém. Anísio, se nutria algum sentimento por Teresa, ao ponto de não ser indiferente ao fato de ela se envolver com outra pessoa, devia agir em prol de protegê-la e não de matá-la friamente." 6. ARGUMENTO A FORTIORI A fortiori significa “com maior razão”. Ao fazer uso dele, o argumentante cria uma analogia fazendo crer que o seu raciocínio tem ainda maior razão para valer do que aquele que seria fruto da analogia perfeita. Se uma norma jurídica impõe uma conduta a alguém, com ainda mais razão determina uma conduta que tenha as mesmas características, mas com ainda maior intensidade, com maior gravidade ou razão. Exemplo: se uma jurisprudência defende que aquele que cometeu crime com abuso de violência possa responder a processo em liberdade, com mais razão deve ser solto aquele que cometeu o mesmo delito sem o uso da violência. O cuidado que se deve ter com o argumento a fortiori é que ele muitas vezes se constitui em uma falácia, já que procura ampliar ou restringir interpretação da lei. Argumentar a fortiori não significa apenas estender o sentido da norma jurídica, mas sim fazer isso com maior razão. Para combatê-lo, basta buscar imperfeição na analogia por ele criada. Anísio já seria punido por ter desferido as facadas certeiras em Teresa. Com maior razão que receba a pena máxima prevista em lei, já que agiu premeditadamente, pois desconfiava do envolvimento de Teresa com outra pessoa. 7. Argumento de causa e efeito (CAUSA) Anísio matou com dolo porque já desconfiava da traição da mulher, o que afasta a hipótese de ter agido por privação de sentidos. (EFEITO) 8. Argumento ad hominem É o argumento contra o homem. Neste caso, ataca-se a pessoa contrária, desmerecendo suas ideias, mas não por elas mesmas e sim por terem sido apresentadas por alguém de caráter duvidoso ou em uma circunstância que torna suspeito o que diz. a) abusivo: ataca-se o caráter do indivíduo Anísio já havia praticado violência contra duas mulheres com quem manteve um relacionamento antes de conhecer Teresa. Além de já ter espancado um vizinho em uma discussão por causa dos cães que Anísio insistia em deixar soltos, pondo em risco as crianças do condomínio em que morava. Fica claro que se trata de pessoa habituada a empregar a violência como forma de solução para os conflitos em que seenvolve. Ataca-se o caráter de Anísio, considerando seu passado de atos violentos. b) circunstancial: põe-se em dúvida o indivíduo, devido às circunstâncias em que se encontra. Há que se desconsiderar o que relatou a testemunha apresentada pela defesa de Anísio, pois afirmou ter despertado com os gritos do casal que discutia e, após um período de silêncio, ouviu os gritos desesperados de Anísio. O que interpretou a distância como desespero era na verdade a expressão de ódio e vingança de um homicida frio. (A interpretação feita pela testemunha fica comprometida pela distância em que se encontrava em relação ao fato)
Compartilhar