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UNIÃO ESTÁVEL E A FAMÍLIA HOMOAFETIVA

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UNIÃO ESTÁVEL E A FAMÍLIA HOMOAFETIVA 
União Estável 
Aspectos Históricos
 Na antiguidade não havia uma previsão legal para as relações que não derivassem do casamento, portanto, toda relação havida fora dos “parâmetros” matrimoniais eram consideradas e tratadas pela legislação como sendo imorais e, por isso, deveriam ser renegadas. 
 Essas relações eram denominadas de concubinato e, na época, não havendo respaldo em lei, havia grandes injustiças realizadas contra aqueles que escolhiam viver em União Estável.
 Entretanto, essa situação passou a ser corrigida, aos poucos, e o primeiro passo foi a Súmula 380 do STF, editada ainda sob a luz do Código Civil de 1916. Nessa Súmula dizia que se comprovada de fato a convivência dos concubinos e o esforço comum de ambas as partes para a construção de seu patrimônio, era cabível a partilha de bens do casal.
 O grande marco para a União Estável ocorreu na Constituição Federal de 1988, quando, em seu art. 226, § 3º, passou a reconhecer a União Estável entre homem e mulher, devendo, inclusive, ser facilitada a conversão da mesma em casamento. 
 Após, surgiram algumas leis ordinárias tentando regularizar a situação de forma mais adequada. Como, por exemplo, decretando um período mínimo de cinco anos de convivência ou a existência de uma prole comum para que houvesse a comprovação da união. Sendo alterado pela Lei nº 9.278/96, que dizia que não haveria mais necessidade de haver um período mínimo de convivência. Além de incluir também direitos a alimentos e direitos sucessórios. 
 Somente no Código Civil de 2002 foi trazida uma legislação que tratava especificamente da União Estável, sendo este iniciado no art. 1.723.
Conceito
 Segundo a legislação brasileira, o art. 1.723, caput, do Código Civil de 2002, prevê que a União Estável é reconhecida como entidade familiar entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura do casal, sendo esta estabelecida com o objetivo de constituir família.
Requisitos e Características
Os requisitos para a configuração da União Estável se encontram no art. 1.723 do Código Civil, quais sejam: 
Convivência Pública: é preciso que a relação seja de conhecimento público, quer dizer que, as relações sigilosas e secretas não são consideradas como sendo União Estável.
Continuidade e Durabilidade da Relação: deve existir a intenção de permanecerem juntos, sem interrupções, de modo que, embora a lei não estabeleça um período mínimo de convivência, é essencial que a mesma seja contínua e duradoura. 
Intenção de Constituir Família: os conviventes devem ter a intenção de permanecerem juntos para que, algum dia, possam constituir uma família.
Coabitação: existe a necessidade de coabitação, ou seja, de que os companheiros vivam juntos.
Dualidade de sexos: deve ser formada por um homem e uma mulher.
 A União Estável possui os mesmos impedimentos que o casamento, constantes no art. 1.521 do Código Civil. Valendo todos os impedimentos dos incisos I ao VII, sendo exceção o inciso VI que diz respeito ao impedimento quanto às pessoas casadas. Nesse caso, as pessoas casadas podem constituir uma União Estável, desde que separadas de fato ou judicialmente. Já as clausulas suspensivas do casamento não se aplicam à União Estável.
Família Homoafetiva
Aspectos Históricos
 A homoafetividade era, na antiguidade, extremamente comum, principalmente entre homens e, muitas vezes, era até incentivada, sendo o casamento utilizado apenas como uma maneira de perpetuação da espécie. 
 Conforme o cristianismo se espalhou pelo mundo, seus princípios e costumes invadiram os demais, tornando, dessa forma, a “cultura” da homoafetividade algo inaceitável e condenável por alguns povos. Dando, assim, origem a homofobia. 
Durante um longuíssimo período histórico o comportamento homoafetivo foi considerado um tabu, uma doença, algo repugnante socialmente. Porém, com a evolução do pensamento do ser humano, aos poucos, essa realidade esta mudando. Foi-se percebendo aquilo que a muito foi perdido, o conhecimento de que os homoafetivos são pessoas “normais”, tanto quanto os heterossexuais, que não é doença, é apenas outra forma de amar. Assim, dando origem ao reconhecimento dos primeiros direitos em prol da comunidade LGBT.
Respaldo nos Princípios Constitucionais da Igualdade e da Dignidade Humana
 O Principio Constitucional da Igualdade pode ser visto claramente no art. 5º, caput, da Constituição Federal de 1988. Nesse artigo é afirmado que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”
 Já o Princípio da Dignidade Humana, trata-se sobre a importância de todo e qualquer ser humano de viver de forma digna, devendo ter seus direitos respeitados, em todas as suas formas. Sendo assim, seus direitos humanos invioláveis.
 Com base nos princípios acima mencionados, o Estado tem o dever de reger as normas de forma que todo seu povo tenha seus direitos e garantias respeitados, incluindo o direito de se casar e constituir família com quem quiser.
O Reconhecimento da Família Homoafetiva
 Dessa forma, muitos doutrinadores, como a célebre Maria Berenice Dias, se valendo dos Princípios Constitucionais ditos acima, afirmam que todos têm direitos de ter uma família e de serem respeitados. 
 Logo, com a evolução do conceito de entidade familiar, considera-se que família é formada pelos laços afetivos existentes entre seus membros e não somente da dualidade de gêneros ou de sua capacidade de reprodução. 
 Portanto, por meio da analogia, vários operadores do Direito “adaptaram” a lei e utilizam o previsto na norma da União Estável como maneira de formar a União Homoafetiva. 
 Atualmente, famílias homoafetivas estão se tornando cada vez mais comuns, já que agora existem diversas formas para que um casal tenha filhos. Lentamente são conquistados os direitos efetivos da Família Homoafetiva em diversos países e espera-se que o Brasil seja o próximo a reconhecer esses direitos.
Jurisprudência
“APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO HOMOAFETIVA. RECONHECIMENTO. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA IGUALDADE.
É de ser reconhecida judicialmente a união homoafetiva mantida entre dois homens de forma pública e ininterrupta pelo período de nove anos. A homossexualidade é um fato social que se perpetuou através dos séculos, não podendo o judiciário se olvidar de prestar a tutela jurisdicional a uniões que, enlaçadas pelo afeto, assumem feição de família. A união pelo amor é que caracteriza a entidade familiar e não apenas a diversidade de gêneros. E, antes disso, é o afeto a mais pura exteriorização do ser e do viver, de forma que a marginalização das relações mantidas entre pessoas do mesmo sexo constitui forma de privação do direito à vida, bem como viola os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade.
AUSÊNCIA DE REGRAMENTO ESPECÍFICO. UTILIZAÇÃO DE ANALOGIA E DOS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO. A ausência de lei específica sobre o tema não implica ausência de direito, pois existem mecanismos para suprir as lacunas legais, aplicando-se aos casos concretos a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito, em consonância com os preceitos constitucionais (art. 4º da LICC)”. (TJ, Estado do Rio Grande do Sul, AC 70009550070, Des. Luiz Felipe Brasil Santos, DESA. MARIA BERENICE DIAS, 2004)
Adicional
Professor, eu assisti esse vídeo na página da Maria Berenice Dias e pensei que o senhor poderia achá-lo interessante, pois ele fala sobre diversos tipos de famílias. O link é esse aqui: https://www.youtube.com/watch?v=THzRytWcHHU&feature=youtu.be
Referências
Rizzardo, Arnaldo. Direito de Família, 8º Ed. – Rio de Janeiro, Editora Forense, 2011.
Monteiro, Washington de Barros, Curso de Direito Civil, v. 2: Direito de Família, 39ª ed. Por Regina Beatriz Tavares da Silva de acordo com o novo Código Civil – São Paulo, EditoraSaraiva, 2009.
http://www.direitohomoafetivo.com.br/jurisprudencia.php#t

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