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(6) screpanti zamagni (capitulo 5.3)(pec3)

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PANORAMA DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO 
 
Ernesto Screpanti & Stefano Zamagni

 
 
 
5. O triunfo do utilitarismo e a revolução marginalista 
 
5.3. Leon Walras 
 
5.3.1. A visão walrasiana do funcionamento do sistema econômico 
 
 
A principal contribuição de Leon Walras (1834-1910) para o desenvolvimento da 
análise econômica foi sua teoria do equilíbrio econômico geral. Ainda que o tema das 
relações entre mercados distintos tenha sido objeto de estudo por parte de teóricos 
anteriores, antes de Walras nenhum economista havia conseguido construir uma 
estrutura teórica geral que servisse de marco para estudar as múltiplas relações que 
vinculam um mercado a outro. A operação real das forças de oferta e demanda em um 
mercado depende dos preços que se estabelecem em muitos outros mercados. Daí a 
necessidade de uma análise geral. 
 
Os mercados devem se inter-relacionar para tornar compatíveis as escolhas de todos os 
sujeitos econômicos. O sujeito que não consegue realizar seu objetivo de maximizar sua 
satisfação (ou bem-estar) terá um excesso de demanda para alguns bens e um excesso de 
oferta para outros. Através do intercâmbio, o indivíduo usará os excessos de oferta para 
eliminar os excessos de demanda. Um estado de equilíbrio econômico geral é uma 
situação na qual os preços são tais que permitem a todos os indivíduos maximizar 
simultaneamente seus próprios objetivos. 
 
O livre jogo da concorrência conduzirá a distribuição dos fatores entre as produções das 
diversas mercadorias de maneira que se satisfaçam as demandas dos consumidores. A 
escassez dos recursos produtivos em relação à demanda dos bens influenciará de 
maneira decisiva os preços relativos. Walras rejeitou a distinção clássica, e sobretudo 
ricardiana, entre mercadorias escassas e mercadorias reproduzíveis. Nos Elementos de 
Economia Política Pura afirmou: “não existem produtos que possam se multiplicar 
indefinidamente. Todas as coisas que formam a riqueza social [...] só existem em 
quantidades limitadas [...]. Na produção de algumas coisas como fruta, animais 
selvagens, jazidas minerais, os serviços da terra desempenham um papel preponderante. 
Na produção de outras coisas, como os serviços legais e médicos, [...] predomina o 
trabalho. Mas na produção da maior parte das coisas se encontram juntos os serviços da 
terra, do trabalho e do capital. Daí que todas as coisas que constituem a riqueza social 
consistem em terra e em capacidades pessoais, ou então em produtos dos serviços da 
terra e capacidades pessoais. Agora, Mill admite que a terra só existe em quantidades 
limitadas. Se isso é certo também no caso das capacidades humanas, como é possível 
que os produtos se multipliquem indefinidamente?” (p.339) 
 

 SCREPANTI, Ernesto; ZAMAGNI, Stefano. Panorama de historia del pensamiento económico. 
Barcelona: Ariel, 1997. SCREPANTI, Ernesto; ZAMAGNI, Stefano. An outline of the history of 
economic thought. New York: Oxford University Press, 2005. Tradução preliminar de Bianca Bonente, 
para fins didáticos. Favor não citar sem permissão. 
 
Esta passagem, fundamental para entender o conceito neoclássico de escassez, revela 
uma má interpretação da posição clássica. Com efeito, para Ricardo, não é o conjunto 
das mercadorias que seria reproduzível de maneira ilimitada, mas sim cada mercadoria 
em particular. Em outras palavras, a estrutura dos meios de produção pode se modificar 
para produzir qualquer combinação de produtos, desde que exista liberdade de entrada 
em todas as indústrias. A concorrência, entendida como um processo que se desenvolve 
no tempo (e não como uma situação estática na qual a quantidade de cada fator é fixa e 
imodificável), levará os capitalistas a deslocar seus capitais dos setores nos quais a taxa 
de lucro é baixa para aqueles nos quais é alta. Deste modo, a estrutura de oferta se 
ajustaria a de demanda, enquanto que as quantidades dos bens de capital tenderiam a se 
fixar nos níveis que garantissem uma taxa de lucro uniforme. 
 
Na concepção walrasiana, a economia é formada por uma pluralidade de sujeitos que 
estão presentes no mercado, seja como consumidores, como ofertantes de serviços 
produtivos ou como empresários. O processo econômico surge do encontro, no 
mercado, destes distintos sujeitos: os serviços produtivos são adquiridos pelos 
empresários e transformados em bens, que são, por sua vez, adquiridos ou por outros 
empresários, que se utilizam deles com fins produtivos, ou pelos consumidores finais. 
Estes últimos são aqueles que haviam proporcionados os serviços produtivos aos 
empresários, que comprar os bens produzidos por eles, gastando a renda que haviam 
obtido na troca de tais serviços produtivos. 
 
Como se vê, não há lugar, nesse esquema, para o conceito de classe social. Pelo 
contrário, existem dois grupos de indivíduos diferentes entres si: o dos consumidores, e 
o dos empresários, e a distinção se baseia unicamente na diversidade das decisões que 
são chamados a tomar. O conjunto dos consumidores decide a composição e o nível de 
consumo e, portanto, de poupança; o conjunto das empresas decide o nível e a 
composição da produção e do investimento. As decisões dos consumidores não 
dependem do tipo de renda que obtém, mas somente de seu volume. O fato de que a 
renda de um indivíduo provenha 80% de trabalho e 20% de capital, ou vice versa, não 
estabelece diferença alguma. Ao desvanecer o vínculo entre categorias de renda e regra 
de gasto, se rompe ao mesmo tempo o vínculo entre salários e lucros, por um lado, e 
entre consumo e investimento, por outro. 
 
Ao início de cada período – suponhamos um ano – a economia se encontra com uma 
dotação inicial formada por certa quantidade de bens e recursos, que incluem os 
recursos naturais e os bens produzidos em períodos anteriores. Cada um dos agentes, ao 
início do período, possui uma determinada quantidade de bens e tem a capacidade de 
prestar certos serviços: como trabalhador, poderá oferecer horas de trabalho; como 
empresário, poderá proporcionar serviços relativos à organização e ao controle da 
atividade produtiva. Cada um trata de conseguir os melhores resultados do intercâmbio. 
Os consumidores-trabalhadores tratam, em primeiro lugar, de determinar que 
distribuição de sua própria renda entre consumo e poupança proporciona a relação mais 
satisfatória entre consumos presentes e consumos futuros; em segundo lugar, procuram 
determinar a renda consumível deve repartir-se na aquisição dos diversos bens para 
obter a máxima utilidade. Aqueles que oferecem serviços produtivos tratam de 
conseguir o melhor equilíbrio entre a renda obtida como pagamento de tais serviços e o 
incômodo de sua prestação. Finalmente, os empresários procuram conseguir o máximo 
benefício de sua atividade, ou seja, maximizar a diferença entre o valor da produção e 
os custos relativos a esta. 
 
A busca dos objetivos individuais “obriga” os agentes a intervir nas relações de troca. 
Consideremos, em primeiro lugar, cada consumidor. Certamente, uma parte dos bens e 
serviços que este consome provém de sua dotação inicial, mas a maioria deve ser 
adquirida no mercado. Em troca, cederá uma parte do dinheiro (ou outro meio de 
pagamento) que tenha obtido vendendo bens e serviços a outros consumidores e às 
empresas. A renda do consumidor depende, portanto, da quantidade de bens e serviços 
que cede aos outros e do preço a que consegue vende-los. Se abstrairmos as trocas entre 
consumidores, podemos dizer que estes últimos oferecem fatores para as empresas 
(trabalho, capital, capacidade empresarial), recebendo em troca uma renda, que utiliza 
para comprar bens eserviços, ou então guardar como poupança. Esta última retorna 
logo para as empresas, passando pelos intermediários financeiros. 
 
Consideremos agora a empresa. Para levar adiante seu plano de produção a empresa 
utiliza, além das reservas e estoques de fatores fixos já em seu poder no início do 
período, outros inputs que adquire de outras empresas e dos consumidores. O output 
obtido e vendido dá origem a uma série de receitas. A diferença entre as receitas e os 
custos representa o lucro da empresa, que ou se distribui entre os proprietários da dita 
empresa (quer dizer, aos consumidores), ou se utiliza para a aquisição de novas 
instalações e, portanto, para aumentar a dotação dos períodos futuros. Somando a 
produção de todas as empresas, se obtém a produção total do sistema. Está claro que 
esta soma inclui também os bens intermediários, isto é, os produzidos por uma empresa 
e utilizados por outra (como, por exemplo, o aço produzido por uma empresa 
siderúrgica e vendido a uma empresa de maquinário que o utiliza na produção de um 
torno). Se do valor da produção total se subtrai o valor do consumo intermediário, se 
obtém o valor do produto final (ou o produto nacional bruto, na terminologia da 
contabilidade nacional). Naturalmente, o valor do produto nacional bruto se iguala à 
renda nacional bruta. Com efeito, se do valor da produção de cada empresa se subtrai o 
valor do consumo intermediário, se obtém o que esta tem pagado pelos diversos fatores 
utilizados ou, o que é o mesmo, as rendas obtidas por estes. E, evidentemente, a soma 
das rendas pagas aos fatores por todas as empresas nos dá a renda total obtida pelo 
conjunto dos fatores. 
 
Os fatores de produção coincidem com os estoques de bens, recursos naturais e serviços 
que representam a dotação inicial do sistema. Esta é propriedade dos consumidores ou 
das empresas; mas as empresas, por sua vez, são propriedade dos consumidores. Disso 
se deduz que os consumidores possuem, direta o indiretamente, todos os fatores, de 
maneira que as correspondentes remunerações só afluem para eles. Se os lucros das 
empresas se distribuem integralmente e, portanto, não são guardados para prover as 
exigências da acumulação de capital, a renda nacional representa o poder aquisitivo real 
dos consumidores. 
 
 
5.3.2. O equilíbrio econômico geral 
 
O problema central da teoria de Walras consiste em mostrar como as trocas voluntárias 
entre indivíduos bem informados (cada qual conhece perfeitamente os termos de suas 
próprias opções), auto-interessados (cada qual pensa em si mesmo) e racionais (cada 
qual adota um comportamento maximizador), conduzem a uma organização sistemática 
da produção e da distribuição da renda que resulta eficiente e mutuamente benéfica. 
Nisso se radica a peculiaridade do problema: em que a única forma admitida de 
interação social é a que se leva a cabo no mercado por meio da troca voluntária. Nem os 
sindicatos, nem grupos de pressão, nem os cartéis de empresas, nem outros tipos de 
grupos sociais são admitidos, já que violariam um requisito fundamental do modelo de 
equilíbrio econômico geral: o da concorrência perfeita. 
 
Para explicar o fato de que o mercado coordene as ações dos sujeitos individuais, é 
preciso demonstrar que existem preços determinados de maneira tal que tornem 
vantajosas para cada indivíduo precisamente aquelas atividades e iniciativas que 
satisfazem de maneira eficiente suas necessidades. Tem-se aqui porque a teoria dos 
preços ocupa um lugar central no sistema do equilíbrio econômico geral. 
 
Mas os preços, embora constituam os parâmetros sobre cuja base se erguem distintas 
opções, não são independentes destas mesmas opções. De outro modo, entre os preços 
dos bens e o preço dos fatores se estabelece uma relação complexa. O preço de um bem 
é um dos elementos que determina o preço de demanda de um fator utilizado para 
produzi-lo. Da comparação entre preço de demanda e preço de oferta do fator se obtém 
o preço de mercado do fator, o qual, por sua vez, influi no preço de oferta do produto e, 
portanto, no preço de mercado deste último. Existe, portanto, um conjunto bem 
articulado de relações entre preços e quantidades trocadas tanto dos inputs quanto dos 
outputs. Esse conjunto de relações se encontra em um estado equilíbrio geral quando os 
preços e quantidades são tais que a máxima satisfação que cada agente persegue com 
suas próprias opções resulta compatível com as máximas satisfações que perseguem 
todos os demais agentes. A teoria do equilíbrio econômico geral é o estudo dessa 
configuração de equilíbrio. De maneira mais precisa, uma economia se acha em 
equilíbrio competitivo walrasiano se existe um conjunto de preços tais que: 
 
a) em cada mercado a demanda iguala a oferta; 
b) cada operador tem a possibilidade de vender e comprar exatamente o que 
projetou; 
c) todas as empresas e todos os consumidores tem a possibilidade de trocar 
precisamente aquelas quantidade de mercadorias que maximizam, 
respectivamente, seus lucros e utilidades. 
 
Vale a pena notar que, para obter um resultado desse tipo, é necessário unicamente 
conhecer, como dados iniciais, o número de consumidores, o número de empresas, as 
dotações iniciais de recursos, as preferências dos consumidores e as técnicas 
disponíveis. Tudo mais se confia ao comportamento maximizador dos agentes e ao 
mecanismo da concorrência. Na realidade, para chegar a um equilíbrio geral se 
necessitam de dois dei ex machina: o “leiloeiro” e o “empresário de Sisífo”. Vejamos de 
que se trata. 
 
O modelo de formação de preços em que se baseia a teoria walrasiana das trocas é o da 
negociação competitiva. Nesse modelo, os mercados são concebidos como leilões 
(pense-se na bolsa de valores ou nas bolsas de mercadoria de tipo francês), nos quais 
intervêm, de um lado, os agentes da bolsa e, de outro, o leiloeiro. No início da 
negociação o leiloeiro “grita” um vetor de preços (um preço para cada mercadoria) e 
deixa que os agentes econômicos formulem suas propostas de compra e venda, 
anotando-as em um boleto (daí o nome de ticket economy posteriormente atribuído ao 
modelo de tâtonnement). Se, em correspondência aos preços gritados, o leiloeiro 
registra que para cada mercadoria a oferta e a demanda se igualam, ele declarará 
concluída a negociação; aquele vetor de preços será então o vetor de equilíbrio. Caso 
contrário, o leiloeiro ajustará os preços com base nesta regra: aumentar os preços dos 
bens quando há excesso de demanda e reduzi-los quando há excesso de oferta. Este 
processo de tentativa e erro, ao que Walras chamou tâtonnement, continuará até a 
anulação de todos os excessos de oferta e demanda. Neste ponto termina o leilão; a 
cotação final é registrada como o preço de equilíbrio, e a oferta e a demanda declaradas 
a esse preço se convertem em contratos vinculantes, em cujos termos se levam a cabo as 
trocas. Este é um método de negociação do tipo single-agreed-price; os preços gritados 
pelo leiloeiro no transcurso do processo de ajuste são preços virtuais; somente os preços 
de equilíbrio são preços que efetivamente terão lugar nas trocas entre os agentes. Pois 
bem, somente através de um processo de tâtonnement guiado pelo leiloeiro é possível 
chegar a um equilíbrio geral walrasiano. Com efeito, se no transcurso do processo que 
conduz aos preços de equilíbrio se permitisse aos agentes trocar os bens a preços de 
desequilíbrio, as dotações individuais dos bens variariam continuamente, de modo que 
nunca se poderia chegar a um equilíbrio walrasiano, já que este, por definição, se refere 
a uma alocação inicial de recursos dada. A descrição walrasiana do funcionamento da 
economia utiliza, pois,o artifício de uma ticket economy. Certamente, Walras tinha 
consciência das importantes diferenças institucionais existentes entre seu modelo e uma 
verdadeira economia de mercado. Não obstante, seu principal objetivo era construir um 
modelo de uma economia ideal onde a justiça social e a maximização do “bem-estar 
material” fossem compatíveis. Ele sabia que este ideal, ainda que fosse realizável em 
uma ticket economy, não seria em uma autêntica economia de mercado. Contudo, nutria 
abertamente a esperança de que esta última pudesse ser reformada na linha formulada 
pelo modelo. 
 
Vejamos agora o “empresário de Sísifo”. Para Walras, a empresa está em equilíbrio 
quando os lucros se anulam por causa da competição entre os empresários. Com efeito, 
no sistema walrasiano só há uma categoria de maximizadores: os consumidores. Os 
empresários, assim como o leiloeiro, são meros coordenadores que organizam a 
atividade de produção, tomando as tecnologias e os preços como algo dado. O 
empresário walrasiano compra os inputs que necessita para produzir seu output, 
pagando por eles os preços fixados pelo leiloeiro. Se as receitas superam os custos, o 
empresário registra um benefício positivo; e vice versa. A existência de um lucro, 
positivo ou negativo, constitui um sintoma de desequilíbrio. O empresário reage ao dito 
sintoma segundo as seguintes regras: aumentar a escala de produção quando o lucro é 
positivo, e reduzi-la quando é negativo. “Por tanto”, escreve Walras, “em um estado de 
equilíbrio os empresários não tem nem lucros nem prejuízos” (p. 225). O lucro depende 
de circunstâncias excepcionais, e teoricamente deve ser ignorado. Assim, portanto, para 
Walras a opção de atuar como empresário constitui um fato puramente acidental. 
Poderia tratar-se de um capitalista, que então pagará pelos serviços do trabalho e da 
terra aos respectivos proprietários, conservando para si um resíduo que deverá se 
igualar, em equilíbrio, aos juros sobre os serviços rendidos por seu capital. Ou poderia 
ser um trabalhador, que, depois de haver pagado os serviços do capital e da terra, obteria 
um resíduo igual, em equilíbrio, ao seu salário. E o mesmo se pode dizer se é um 
proprietário de terra que decide atual como empresário. Posto que em equilíbrio os 
lucros são nulos, a identidade socioeconômica do empresário resulta de todo irrelevante. 
“[Os empresários] ganham a vida não como empresários, mas sim como proprietários 
de terra, trabalhadores ou capitalistas” (p.225). 
 
Para descrever a interação entre compradores e vendedores, Walras construiu um 
sistema de equações simultâneas. Existem tantos mercados quanto existem mercadorias, 
incluindo os fatores produtivos e seus serviços. Para cada mercado, se definem três tipos 
de equações: uma de demanda, uma de oferta e uma de equilíbrio. Em cada um dos 
mercados de bens produzidos, o número das equações de demanda é igual ao número de 
consumidores, enquanto que o número das equações de oferta é igual ao número de 
empresas que produzem o bem. Em cada um dos mercadores de fatores, o número de 
equações de demanda é igual ao número de empresas multiplicado pelo número de 
mercadorias que cada um produz, enquanto que o número de equações de oferta iguala 
ao número de proprietários dos fatores. Por outro lado, as “equações de produção” se 
definem de maneira tal que o preço de cada produto resulte igual ao custo de produção 
de modo que em equilíbrio os empresários não tenham “nem lucros, nem prejuízos”. Os 
custos de produção dependem dos preços dos inputs e da técnica utilizada. Esta última 
se representa pelos “coeficientes técnicos”, que se supõem fixos e que expressam a 
maneira em que cada input se combina com o output. Logo nas “equações de 
capitalização”, se supõe que o valor de compra de cada bem de capital é igual ao seu 
“rendimento líquido” descontado à taxa de juros corrente. E isso implica uma 
configuração de equilíbrio tal que as taxas de rendimento de todos os bens de capital 
sejam uniformes e iguais à taxa de juros. Finalmente, existe uma equação que determina 
a taxa de juros a partir das forças de oferta e demanda de novos bens de capital. 
 
Agora, a condição necessária – ainda que não suficiente – para que este sistema de 
equações admita uma solução é que o número de incógnitas seja igual ao número de 
equações. Apresentam-se aqui três tipos de problemas dos quais Walras não era de todo 
consciente. O primeiro deriva-se das equações de capitalização, que, na medida em que 
impõem uma taxa de rendimento uniforme sobre os bens de capital, um preço de 
compra igual ao preço de produção, e a igualdade entre oferta e demanda de cada bem 
de capital, introduzem no modelo uma sobredeterminação de um grau igual ao número 
de equações de produção de novos bens de capital menos um. Pode-se evitar esse 
problema se se renuncia ao requisito da uniformidade da taxa de rendimento e se 
interpreta o modelo em termos de equilíbrio temporal. Mais adiante falaremos disso. 
 
O segundo tipo de problema se deriva do fato de que uma das equações do sistema de 
Walras depende funcionalmente das outras, de maneira que o número de equações 
independentes resulta inferior ao número de incógnitas. Intuitivamente, a questão pode 
ser explicada nos seguintes termos. Se há equilíbrio em todos os mercados exceto em 
um, significa que os consumidores destinaram à aquisição de todos os bens, menos um, 
uma soma igual ao valor dos bens ofertados, menos um. Contudo, dado que o valor total 
dos bens produzidos (o produto nacional) iguala, por definição, a renda total obtida 
pelos consumidores (a renda nacional), deverá haver igualdade entre a oferta e a 
demanda também no último mercado. Esta circunstância seria posteriormente 
denominada lei de Walras: em um sistema de equilíbrio geral, se todos os mercados, 
exceto um, estão em equilíbrio e os pressupostos de todos os agentes estão nivelados, 
então também o mercado restante deve estar em equilíbrio. Esta lei é a consequência 
última do fato de que, na concepção walrasiana do sistema econômico, o ato de 
demandar bens por parte de um indivíduo pressupõe que este ofereça bens de igual 
valor, ainda que não de igual utilidade. 
 
Finalmente, há um terceiro tipo de problema, talvez o mais importante. Walras não 
levou em consideração o fato de que “contar” tantas equações – ainda que 
independentes – quantas são as incógnitas não é suficiente para garantir a existência de 
uma solução. Um sistema de equações pode não ter nenhuma solução; também pode ter 
muitas, inclusive infinitas soluções. E ainda no caso em que tenha solução, esta pode 
não ter nenhum significado do ponto de vista econômico, como sucederia, por exemplo, 
se alguns preços ou algumas quantidades resultassem negativos. Quase um século se 
passou para que os economistas neoclássicos conseguissem encontrar uma solução para 
este problema. No capítulo 10 veremos o resultado. 
 
 
5.3.3. Walras e a ciência econômica pura 
 
O impacto de Walras na evolução da teoria econômica foi enorme. Nenhum outro 
economista anterior a ele havia conseguido construir um modelo teórico e um método 
analítico tão vastos e versáteis. Outros haviam formulado já a ideia da independência 
entre os fatos econômicos: pense-se, por exemplo, em Quesnay e Cournot. Contudo, 
enquanto Cournot considera que o problema do equilíbrio geral permanece fora do 
alcance das matemáticas, o gênio de Walras lhe permitiu demonstrar que, ao menos em 
princípio, o problema pode se resolver. 
 
Entretanto, sua obra passou quase despercebida na França durante os vinte cinco anos 
seguintes a sua publicação, e na realidade só a partir da década de 1950 a atitude dos 
estudiosos franceses com respeito a ele começoua mudar radicalmente. Mas também 
fora da França seu trabalho teve, em um primeiro momento, uma acolhida bastante fria, 
para não dizer hostil. As relações entre Walras, por um lado, e Jevons, Edgeworth, 
Wicksteed e Menger, por outro, não foram precisamente muito cordiais. Em seus 
Princípios, Marshall citou Walras somente três vezes e em passagens breves. Não 
ocorreu o mesmo com os italianos: Pantaleoni, Barone e, sobretudo, Pareto foram 
grandes admiradores e fervorosos propagandistas da obra walrasiana. 
 
Walras, assim como Menger, tratou sempre de manter uma clara distinção entre valores 
morais e ciência. Para ele, a ciência “pura” não deveria ser avaliada por juízos de valor: 
“Característica distintiva de uma ciência – afirmava – é sua completa indiferença em 
relação às consequências, boas ou más, com as quais avança na busca da verdade pura” 
(p.52). E, seguindo Bentham, acrescenta: “desde outros pontos de vista, a questão de se 
um determinado remédio é requerido por um médico para curar um paciente, ou por um 
assassino para matar sua família, é uma questão muito grave, mas do nosso ponto de 
vista resulta de todo irrelevante. Para nós, o remédio é útil em ambos os casos, e talvez 
possa ser mais no segundo que no primeiro” (p.65). Este dualismo radical entre juízo 
técnico e juízo ético terminará por dominar a posterior evolução do pensamento 
econômico. 
 
Walras sempre teve a intenção de escrever outros dois tratados sistemáticos, um de 
economia aplicada e um de economia social, que de algum modo completaram sua obra 
fundamental de economia pura. Mas seu exaustivo ritmo de trabalho na cátedra de 
Lausana – a qual alcançou, não sem dificuldade, em 1870 – absorveu todas suas 
energias até 1892, ano em que abandonou a docência. Posteriormente se contentaria 
com publicar, em lugar de dois tratados sistemáticos, duas compilações de ensaios: 
Études d’économie sociale (1896) e Études d’économie politique appliquée (1898). 
 
Walras acompanhou muito de perto os problemas econômicos de sua época, declarando-
se favorável a um reformismo moderado nas questões socioeconômicas. Sua posição 
política, que se derivava da filosofia moral de Kant e do racionalismo de seu tempo, era 
uma mistura do liberalismo tradicional e da doutrina da intervenção estatal. É 
interessante o fato que, enquanto a respeito das questões jurídicas fosse um partidário 
convicto da abordagem jusnaturalista, Walras expulsou totalmente o conceito de lei 
natural do raciocínio econômico. Nunca acreditou que, além dos fatos observáveis, 
pudesse existir uma estrutura de leis econômicas capaz de refletir alguma ordem natural. 
Walras foi um severo critico da dicotomia clássica entre preços naturais e preços de 
Mercado, assim como de tudo o que derivava dessa distinção. Para ele, finalmente, a 
análise econômica não tinha, nem podia ter, nenhum vínculo com as medidas de política 
econômica: sempre manteve claramente separados o plano normativo e o plano positivo. 
 
As recomendações de política econômica propostas por Walras foram numerosas e 
bastante articuladas. Seus temas referidos foram: a nacionalização dos monopólios 
naturais; a estabilização dos preços por parte da autoridade monetária; o mercado de 
capitais, cuja eficácia e credibilidade deveriam ser asseguradas pelo Estado; a aquisição 
de terra pelo Estado e a concessão de seu uso para os agentes articulares, com o objetivo 
de incrementar as receitas governamentais. Finalmente, vale a pena destacar um aspecto 
curioso: Walras se definia como um “socialista científico”.

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