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(9) ackerman utilidade e bem estar ii(pec3)

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� 
 Esse “Ensaio Panorâmico” [Overview Essay] é a apresentação da Parte III do livro: ACKERMAN, F. 
et alii (eds.). (1997). Human Well-Being and Economic Goals. Washington: Island Press. Tradução: 
João Leonardo Medeiros, Março de 2008. 
 
UTILIDADE E BEM-ESTAR II: ALTERNATIVAS DA ECONOMIA 
MODERNA* 
 
 
Ensaio panorâmico 
Por Frank Ackerman 
 
 
A desigualdade entre os ricos e os pobres não é primariamente uma questão de 
utilidade, ou de quem sente o quê, mas uma questão de quem detém o quê. Não há 
razão óbvia para supor que a recusa das comparações interpessoais de utilidade 
tenha o efeito de tornar impossível a consideração da desigualdade econômica em 
juízos de bem-estar social. Amartya Sen1 
 
No início do século XX, a teoria econômica, tal como exposta por Alfred Marshall, 
oferecia julgamentos definitivos, por vezes arbitrários ou meramente pragmáticos, a 
respeito de numerosas questões imediatas relativas ao bem-estar social. No final do 
século, o mainstream da teoria econômica tornou-se rigoroso e elegante em sua lógica, 
mas indeciso quanto às implicações em termos de bem-estar da maioria das políticas 
efetivas. Diversas interpretações alternativas interessantes foram propostas, mas não 
dissolveram a controvérsia; como Sen sugeriu, há muitas bases possíveis para realizar 
julgamentos de bem-estar, além do foco estreito na utilidade individual encerrado na 
Economia neoclássica. 
Esse ensaio panorâmico [overview essay] oferece um tratamento necessariamente 
seletivo dos desenvolvimentos da Economia do bem-estar e das políticas de bem-estar 
social no século XX. Ele inicia com uma inspeção da “revolução ordinalista” da década 
de 1930, que é sucedida por um breve exame da filosofia de Keynes. As seções 
subseqüentes tratam dos primeiros desenvolvimentos da Economia do bem-estar e de 
suas contradições e da teoria da escolha social que emergiu em conseqüência do 
“teorema da impossibilidade” de Arrow. A seção final examina duas alternativas 
contemporâneas que são de certa forma independentes na discussão da escolha social. 
Aplicações ulteriores da Economia do bem-estar a problemas de externalidades, 
valorações e da análise de custo-benefício são objeto da Parte IV deste volume. 
 
DESTACANDO OS POSITIVISTAS 
 
Dois episódios cruciais na história da teoria neoclássica são usualmente retratados na 
Economia como “revoluções”. Primeiro, a revolução marginalista (veja Parte II) 
introduziu a hipótese de que os consumidores procuram maximizar a utilidade da 
mesma forma como as firmas maximizam lucros. Valores e preços basearam-se na 
utilidade marginal, permitindo um método de análise progressivamente matemático. O 
enfoque da utilidade marginal foi desenvolvido nos anos 1870 e tornou-se amplamente 
aceito por volta da década de 1890. A segunda ruptura, a revolução ordinalista da 
década de 1930, declarava que não era necessário nem possível realizar comparações 
interpessoais de utilidade e tampouco atribuir números cardinais à utilidade. Tudo que a 
 
1
 Amartya Sen, “Social Choice and Justice: A Review Article”, Journal of Economic Literature 23 
(dezembro de 1985), 1764-1776; citação de 1768. 
 2 
teoria econômica precisava era um ranqueamento ordinal que expressasse as 
preferências de cada consumidor. 
O primeiro artigo aqui resumido, de Robert Cooter e Peter Rappoport, concentra-se na 
alteração da Economia do bem-estar operada pela segunda revolução. Nas décadas do 
interregno – após o marginalismo e antes do ordinalismo – a Economia, ao menos na 
Inglaterra, foi dominada pelo que Cooter e Rappoport denominam escola do “bem-estar 
material” de Marshall, Arthur Pigou e outros. Essa escola defendia a existência de 
aspectos materiais e imateriais do bem-estar; a Economia lidaria com os primeiros, 
embora, felizmente, os dois aspectos fossem usualmente correlacionados positivamente. 
Supunha-se que as pessoas eram similares o bastante em suas necessidades básicas para 
que a utilidade média experimentada por grandes grupos, tal como os ricos e os pobres, 
pudesse fazer sentido numa comparação. Essa suposição, combinada com a utilidade 
marginal decrescente do dinheiro, levou ao argumento da redistribuição em favor dos 
pobres, já que ela não interferiria no crescimento econômico. 
Embora a escola do bem-estar material fosse um fenômeno britânico, outros dos 
primeiros economistas neoclássicos sustentavam concepções semelhantes. Na França, 
Leon Walras, o fundador da análise matemática axiomática do equilíbrio competitivo, 
estabeleceu uma distinção radical entre a “Economia aplicada” do mercado e a 
“Economia social”, que deveria lidar com as questões da equidade e da política pública. 
Seu ideal era uma sociedade mercantil socialista na qual o Estado detivesse e vendesse 
todos os recursos naturais, empregando as receitas originadas para financiar os bens 
públicos.2 Na Suécia, Knut Wicksell desenvolveu um crítica, amplamente discutida, da 
teoria de que o livre comércio e a competição necessariamente conduzem à harmonia 
social. A competição maximiza o valor da produção, mas isso não maximiza o bem-
estar social a não ser que cada indivíduo possuísse a mesma utilidade marginal da 
moeda, o que Wicksell considerava improvável num mundo de rendas desiguais. Tais 
comparações de utilidades, para Wicksell, proviriam a “base material para a idéia de 
justiça, tanto no governo, quanto na distribuição social”.3 
Uma visão crítica, ordinalista, de utilidade pode ser encontrada já nos escritos de W. 
Stanley Jevons da década de 1870, sendo posteriormente desenvolvida nos trabalhos de 
Irving Fisher e Pareto nos anos 1890 e no início da década de 1900. Perspectivas 
similares apareceram na escola austríaca de Economia (que incluía autores da Áustria, 
Alemanha e Europa central, escrevendo predominantemente em alemão) nas primeiras 
décadas do século XX.4 Os ordinalistas duvidavam que a utilidade pudesse ser 
mensurada ou comparada e enfatizavam a diversidade imprevisível dos desejos 
individuais, em lugar da similaridade das necessidades básicas. Mais importante que 
tudo, eles demonstravam que a teórica técnica do comportamento do consumidor 
poderia ser desenvolvida sem a mensuração cardinal ou comparações interpessoais de 
utilidade. Quando Lionel Robbins reiterou essas visões nos anos 1930, sendo 
prontamente seguido por John Hicks e outros economistas de ponta, o ordinalismo 
rapidamente triunfou. 
 
2
 Muitos dos trabalhos de Walras sobre essas questões nunca forma traduzidos para o inglês. Ver: “The 
Perfect Socialist Society of Leon Walras”, Capítulo 6 de Ugo Pagano, Work and Welfare in Economic 
Theory (Nova Iorque: Basil Blackwell, 1985). 
3
 Lars Pålsson Syll, “Wicksell on Harmony Economics: The Lausanne School vs. Wicksell”, 
Scandinavian Economic History Review 41 (1993), 172-1888; citação de Wicksell, 180. 
4
 A emergência do ordinalismo na escola austríaca é descrito por Jack High e Howard Bloch, “On the 
History of Ordinal Utility Theory: 1900-1932”, History of Political Economy 21 (1989), 351-365. 
 3 
Cooter e Rappoport salientam que a revolução ordinalista não era simplesmente um 
progresso científico, mas uma mudança de valores em questões tais como a importância 
da equidade e a natureza das necessidades humanas. Em alguns casos, diferenças nos 
valores implicavam diferenças políticas: enquanto Marshall e Pigou eram reformistas 
liberais otimistas, Pareto era um aristocrata influente que acreditava que a desigualdade 
substancial era inevitável e caracterizava cinicamente a política democrática como uma 
fraude – assim se tornou um membro honorário do senado italiano na época de 
Mussolini.5 No entanto, o ordinalismo não era primariamente um movimento político e, 
certamente, nem todos os seus partidárioscompartilhavam as opiniões extremas de 
Pareto. 
A rapidez das modificações na doutrina econômica permanece de certa forma 
misteriosa. Por que o ordinalismo atraiu apenas uma minoria quando foi pela primeira 
vez articulado, mas rapidamente converteu a maioria dos economistas quando foi 
reformulado na década de 1930? Compreender essa mudança de paradigma continua 
sendo relevante para a economia contemporânea, uma vez que a maior parte dos 
economistas ainda trabalham com a abordagem ordinalista descrita por Cooter e 
Rappoport. 
O ordinalismo foi bem-sucedido nos anos 1930 em parte porque estava afinado com 
outros ritmos intelectuais da época. O positivismo lógico estava entrando na moda na 
filosofia; essa perspectiva trata todos os juízos de valores como expressões subjetivas de 
atitude que não têm lugar na ciência e reivindica um discurso científico positivo não-
normativo, que consiste de teorias empiricamente falsificáveis e coleções de dados. De 
forma similar, a psicologia estava se direcionando no sentido do behaviorismo, 
procurando eliminar a discussão sobre motivações e estados mentais com o propósito de 
criar uma “ciência rígida” do comportamento observável. A psicologia behaviorista 
provia a crítica tanto do hedonismo implícito nas versões mais simples do utilitarismo, 
quanto da discussão de certa forma ad hoc, introspectiva, sobre a natureza humana 
utilizada pela escola do bem-estar material. Tanto o positivismo quanto o behaviorismo 
sobreviveram na Economia muito tempo depois de terem perecido nas disciplinas em 
que se originaram.6 
Essa explicação, contudo, serve somente para levar a questão a um nível mais profundo. 
De onde vieram as modas intelectuais dos anos 1930? Para colocá-lo de forma mais 
ampla e indefinida, a emergência do ordinalismo, do behaviorismo e do positivismo 
lógico podiam ser associadas ao contexto social da década. Eram tempos de crise 
econômica e conflito cultural e político. As feridas da última grande guerra ainda não 
estavam curadas e os sinais da próxima eram crescentemente evidentes. O liberalismo 
tradicional não floresceu nessa época; ao contrário, havia uma busca por alternativas 
fundamentais. As principais filosofias do período eram o positivismo lógico, que 
rejeitava a maior parte da discussão filosófica anterior em nome da ciência; o marxismo, 
que defendia uma mudança social radical; e o existencialismo, que, ao menos em 
algumas versões, partia da premissa da aparente absurdidade da existência humana.7 
 
5
 Everett J. Burtt, Jr., Social Perspectives in the History of Economic Theory (Nova Iorque: St. Martin’s 
Press, 1972), 267-268. 
6
 Sobre a influência do positivismo, ver John B. Davis, “Cooter and Rappoport on the Normative”, 
Economics and Philosophy 6(1990), 139-146. Sobre o behaviorismo, ver Shira B. Lewin, “Economic and 
Psycology: Lessons For Our Own Day From the Early Twentieth Century”, Journal of Economic 
Literature 34 (setembro de 1996), 1293-1323. 
7
 George Lichteim, Europe in the Twentieth Century (Nova Iorque: Praeger, 1972), particularmente 
Capítulos 9 e 11. 
 4 
Nesse contexto obscuro e desesperador, um dos poucos astros intelectuais a brilhar era o 
recente avanço da física. Empregando um complicado discurso técnico que desafiava o 
senso comum e a compreensão intuitiva, tanto a relatividade quanto a mecânica 
quântica fizeram um imenso progresso na compreensão da realidade física no início do 
século XX. Não era, portanto, surpreendente que as tentativas de imitar os métodos 
formais, objetivos, da ciência fossem atrativas para os acadêmicos de diversas 
disciplinas. O positivismo lógico presumia que as ciências naturais e a matemática 
tinham uma relação mais próxima, privilegiada, com a realidade do que outras 
modalidades de discurso. O behaviorismo tentava aplicar a mesma objetividade rigorosa 
à psicologia – como fez o ordinalismo na Economia. 
Retornando do contexto histórico ao conteúdo do ordinalismo, o novo sucesso da teoria 
na eliminação dos juízos de valor do corpo da Economia também podem ser atribuído 
em parte a uma debilidade da escola material do bem-estar. Como Marshall apreendeu, 
os seus valores “elevados”, imateriais, não eram passíveis de tratamento pela análise 
sistemática, de forma que não poderiam ser considerados rigorosamente no interior de 
sua teoria econômica. As versões ecléticas do utilitarismo e das políticas reformistas 
desenvolvidas por Marshall, como as concepções de Mill antes dele ou a visão socialista 
de Walras podiam ser todas facilmente apartadas dos aspectos técnicos de sua 
Economia. Posteriormente, autores com o propósito de introduzir questões éticas na 
Economia procuraram criar uma conexão mais estreita entre as análises moral e técnica. 
 
O INTERLÚDIO MACROECONÔMICO 
 
O livro sobre Economia mais influente da década de 1930 (e um dos mais debatidos em 
todos os tempos) nada tinha a ver com a controvérsia ordinalista, não era pró ou contra. 
Tinha, no entanto, relação direta com a crise econômica e a depressão daquele período. 
Em A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, John Maynard Keynes retornava 
o amplo escopo macroeconômico da economia clássica, mas não a seu aparato analítico, 
para produzir um novo entendimento da demanda agregada, do emprego e do 
crescimento. Num artigo aqui sintetizado, Rod O’Donnell descreve a filosofia moral e 
política a partir da qual Keynes desenvolveu suas teorias econômicas.8 
Keynes pode ser visto como o último de uma série de grandes economistas que 
estabeleceu o objetivo de uma sociedade futura ideal, na qual a afluência permitirá o 
desenvolvimento de um comportamento de traços de caráter mais éticos e menos 
egoístas, substituindo o individualismo aquisitivo incentivado pelo mercado e pelo 
regime de escassez. Mill, Marshall e Marx, dentre outros, descreveram dicotomias 
radicais similares entre as condições sociais presentes e futuras. Entretanto, nenhum 
deles, à exceção de Marx, foi capaz de integrar a busca por objetivos futuros à análise 
da economia de seu tempo. O comentário irônico de Keynes (citado por O’Donnell) 
sobre a necessidade de fingir que “o justo é tolo e o tolo é justo” para dar seqüência à 
acumulação de capital somente enfatiza a separação entre a ética definitiva e a 
economia imediata. 
 
8
 Ver também S. A. Drakopoulos, “Keynes’s Economic Thought and the Theory of Consumer 
Bevaviour”, Scottish Journal of Political Economy 39 (agosto de 1992), 318-336, sintetizado no 
predecessor desse volume, The Consumer Society, eds. Goodwin, Ackerman e Kiron (Washington, DC: 
Island Press, 1997). 
 5 
Se a filosofia de Keynes fosse mais bem conhecida, ele poderia ser também lembrado 
como aquele, dentre os primeiros economistas, que rejeitou todas as formas de 
utilitarismo e iniciou a investigação a partir de outras bases para o julgamento do bem-
estar. Como O’Donnell esclarece, Keynes tinha uma concepção detalhada da vida boa e 
encarava a economia e os direitos e instituições políticos como meios para atingir o bem 
e não como fins em si mesmos. Ou seja, sua filosofia era conseqüencialista, uma vez 
que ele julgava ações e políticas exclusivamente em termos de seus resultados; mas era 
também não-utilitarista, pois rejeitava a utilidade subjetiva como medida da boa 
qualidade dos resultados. Embora a concepção de Keynes de bem possua traços de 
elitismo cultural de sua classe e seu tempo, ela também possui muitos aspectos de valor 
mais duradouro. Guardadas as diferenças de estilo e apresentação, há muitas 
similaridades com a filosofia contemporânea não-utilitarista e conseqüencialista de 
Amartya Sen. 
 
ECONOMIA DO BEM-ESTAR: NASCIDA NA CRISE 
 
Apesar de seu papel central na macroeconomia, a filosofia de Keynes não teve nenhum 
impacto digno denota na teoria neoclássica e em sua abordagem do bem-estar. Ao 
contrário, nos anos 1930, a revolução ordinalista causou uma crise prolongada no 
campo recém-emergido da Economia do bem-estar. Em seus dias de auge, com Marhall 
e Pigou, não houve grande dificuldade em realizar juízos de bem-estar.9 Intervenções no 
mercado poderiam ser justificadas quando aspectos materiais e imateriais de bem-estar 
confrontavam-se, quando a extrema pobreza impedia a satisfação de necessidades 
básicas ou quando externalidades ou outras falhas de mercado interferiam na eficiência 
da competição. Havia, como disse Wicksell, uma base material para a idéia de justiça. 
Uma vez que a objeção ordinalista às comparações de bem-estar tenham sido adotadas, 
contudo, tornou-se difícil defender conclusões significantes sobre o bem-estar social. A 
resenha de Peter Jackson, aqui resumida, descreve os dilemas resultantes. O único 
critério que o ordinalismo parecia permitir, a defesa de melhorias Pareto-ótimas, era 
burlescamente fraco, afirmando essencialmente que qualquer política sustentada por um 
consenso sem oposição deveria ser adotado ou que nenhum recurso valioso deveria ser 
desperdiçado. Duas linhas paralelas de desenvolvimento seguiram-se: a busca por 
critérios de bem-estar mais substanciais que fossem compatíveis com o ordinalismo e a 
formalização da análise do equilíbrio geral e de suas implicações em termos de bem-
estar. 
A busca por novos critérios de bem-estar levou primeiramente a diversos princípios de 
compensação e à idéia de potenciais melhorias de Pareto: seria essa uma política 
desejável caso os ganhadores pudessem potencialmente compensar os perdedores? Essa 
concepção ruiu tanto por objeções técnicas, descritas por Jackson, quanto pela objeção 
ética de que, por exemplo, se os vencedores fossem ricos e os perdedores pobres, uma 
potencial melhoria de Pareto talvez não fosse desejável a não ser que a compensação 
potencial fosse efetivamente paga – e se a compensação fosse paga, a mudança seria 
uma melhoria de Pareto efetiva, de forma que nenhum novo princípio seria necessário. 
Abandonando o debate sobre princípios de compensação, alguns economistas 
 
9
 Sobre a maior flexibilidade das análises de bem-estar de Marshall, comparativamente à dos ordinalistas, 
ver P. L. Williams, “Marshallian Applied Welfare Economics: The Decline and Fall”, Economie Appliqué 
43 (1990), 231-245. 
 6 
propuseram a criação de uma função de bem-estar social que agregaria as preferências 
individuais numa preferência da sociedade. As esperanças depositadas neste enfoque 
foram destruídas pelo teorema da impossibilidade de Arrow, que será discutido na 
próxima seção. 
Por outro lado, a teoria do mercado competitivo ideal tornou-se crescentemente formal e 
axiomática, baseando-se no trabalho técnico de Walras (mas ignorando sua visão 
social). Os mesmos impulsos behavioristas e positivistas que contribuíram para a 
emergência do ordinalismo logo levaram à eliminação de todas as funções de utilidade, 
ordinais ou não. A teoria de Samuelson da preferência revelada estabelecia que as 
preferências dos consumidores eram reveladas por seu comportamento e que nenhum 
conhecimento adicional sobre a utilidade era necessário; a teoria econômica requeria 
somente que os consumidores obedecessem algumas premissas brandas de 
racionalidade. Dois problemas com as preferências reveladas foram percebidos por Joan 
Robinson no ensaio resumido na Parte II. Primeiro, apesar de seu aparente 
behaviorismo, a teoria baseada na preferência revelada não pode escapar à suposição 
carregada de valor [value-laden] e controversa de que todas as preferências reveladas 
deveriam ser satisfeitas. Segundo, a remoção de toda referência à utilidade favorecia a 
tendência a deslocar-se da maximização individual do bem-estar à maximização da 
renda monetária – tornando impossível descobrir quando esses dois conceitos 
coincidiam. 
O auge da formalização foi atingido por Kenneth Arrow e Gerard Debreu na década de 
1950, em suas provas do que ficou conhecido como primeiro e segundo teoremas 
fundamentais da Economia do bem-estar. Primeiro, partindo de um extenso conjunto de 
hipóteses restritivas, demonstrava-se que todo equilíbrio geral numa economia 
perfeitamente competitiva é um ótimo de Pareto; segundo, partindo de outro conjunto 
de hipóteses, estabelecia-se que todo ótimo de Pareto é o equilíbrio que deveria ser 
alcançado pelo mercado, caso se assumisse uma distribuição inicial de recursos 
apropriadamente escolhida. Essas são concepções matemáticas da visão otimista de 
Adam Smith da mão invisível, permitindo aos economistas tratar os conceitos de 
eficiência, competição e otimalidade de Pareto virtualmente como sinônimos uns dos 
outros. 
Os dois teoremas proviam uma ilustração interessante da estrutura matemática da 
Economia neoclássica. Contudo, as hipóteses requeridas sequer se aproximam de serem 
satisfeitas, de forma que nenhum dos teoremas é necessariamente aplicável ao mundo 
real. (A filosofia positivista, ainda aceita por muitos economistas, atribui escasso mérito 
a proposições não-testáveis, como “Sobre as seguintes condições não-atingíveis, um 
resultado ideal poderia ser observado”.) Na tentativa de superar esse problema, alguns 
economistas sugeriram que a competição potencial ou os mercados contestáveis são tão 
bons quanto a competição efetiva para os propósitos da teoria. Essa sugestão é rejeitada 
por Jackson e por Joseph Stiglitz em outro artigo aqui resumido. 
Stiglitz parte da posição “keynesiana”, que reconhece o desemprego persistente. Se o 
desemprego significativo existe na realidade, então uma teoria que deduza a existência 
de equilíbrio de pleno-emprego deve estar equivocada em pelo menos uma de suas 
hipóteses. Stiglitz identifica uma gama extensa de problemas de informação imperfeita e 
mercados incompletos, que são suficientes para subdeterminar a existência e/ou a 
otimalidade do equilíbrio de mercado. Se os resultados do mercado não são 
seguramente ótimos, a opinião keynesiana em favor de intervenções do governo torna-
se justificável; praticando sua própria pregação, Stiglitz foi indicado para a Council of 
Economic Advisors de Clinton. 
 7 
 
ESCOLHA SOCIAL: BEM-ESTAR DEPOIS DO TEOREMA DE ARROW 
 
A direção mais promissora para a reconstrução da Economia do bem-estar após a 
revolução ordinalista parecia ser a criação de uma função de bem-estar social que 
expressasse os juízos de bem-estar da sociedade. Antes do ordinalismo, a “função de 
bem-estar social” era, em princípio, a soma da utilidade de cada indivíduo; embora tal 
função nunca tenha sido de fato calculada, muitas versões do utilitarismo supunham que 
isso seria possível. Após o ordinalismo, Abram Bergson e Paul Samuelson propuseram, 
separadamente, que algum método não-especificado de agregação das preferências 
(ordinais, não-comparáveis) dos indivíduos poderia ainda assim levar a uma função que 
expressasse os julgamentos da sociedade. Em 1951, Arrow provou que eles estavam 
errados. Empregando apenas algumas hipóteses aparentemente inócuas, ele demonstrou 
que qualquer função de bem-estar social logicamente consistente é ditatorial – isto é, há 
um único indivíduo cujas preferências prevalecem em qualquer situação, mesmo 
quando todos os outros indivíduos possuem preferências opostas. O artigo de Peter 
Hammond, aqui sintetizado, explora as hipóteses usadas no teorema de Arrow e o 
debate subseqüente sobre modificações potenciais dessas hipóteses. A conclusão de 
Arrow provou-se extraordinariamente robusta; como Hammond demonstra, as 
mudanças nas hipóteses que eliminam o paradoxo usualmente também violentam o 
conceito de função de bem-estar social. 
Na esteira do teorema de Arrow, uma nova abordagem dos problemas da Economia do 
bem-estar emergiu. A teoria daescolha social examina a maneira como as escolhas, as 
preferências e o bem-estar individual deveriam ser considerados nos julgamentos e 
decisões sociais sobre assuntos econômicos. Isso coincidiu com o surgimento de uma 
nova discussão filosófica a respeito da ética, eqüidade e Economia (ver Parte VII) e 
levou a sínteses de abordagens de economistas e filósofos. Muitos autores procuraram 
expandir a temática da Economia do bem-estar de forma a incluir outros critérios além 
da eficiência e da otimalidade de Pareto. Para ilustrar a importância de ir além do 
critério da eficiência, Coles e Hammond argumentam que não há razão teórica para 
assumir que todos os agentes econômicos possuam a capacidade de sobreviver de um 
período para outro; o equilíbrio de mercado ainda pode ser Pareto-ótimo mesmo que 
alguns indivíduos morram de fome, enquanto outros têm recursos mais do que 
suficientes para salvá-los.10 
Nenhum autor foi tão importante para o desenvolvimento da teoria da escolha social do 
que Amartya Sen.11 Ele foi um dos principais participantes das discussões iniciais sobre 
modificações do teorema de Arrow e produziu um prova nova e simplificada do 
teorema que tornou sua lógica mais transparente. Ele também ofereceu o que talvez 
tenha sido a interpretação mais inspirada do paradoxo de Arrow. 
 
10
 Jeffrey L. Coles and Peter Hammond, “Walrasian Equilibrium without Survival: Existence, Efficiency 
and Remedial Policy”, in Choice, Welfare and Development: A Festschrift in Honor of Amartya K. Sen, 
eds. K. Basu, P. Pattanaik e K. Suzumura (Nova Iorque: Oxford University Press, 1995), 32-64. 
11
 Uma resenha bibliográfica das contribuições de Sen para a teoria da escolha social consistiria num 
esforço substancial em si mesmo. Muitos de seus mais importantes artigos da década de 1980 estão 
coletados em Amartya Sen, Choice, Welfare and Mesurement (Cambridge, MA: MIT Press, 1982). Seu 
discurso presidencial na American Economics Association, “Rationality and Social Choice”, American 
Economic Review 85 (março de 1995), 1-24, é uma valorosa resenha e contém citações de muitos de seus 
demais trabalhos. 
 8 
Sen atribui a impossibilidade de uma função de bem-estar não-ditatorial à estreita base 
informacional facultada pelas hipóteses de Arrow: nem comparações interpessoais de 
utilidade nem informações não-utilitárias de qualquer espécie são permitidas. As 
decisões reais raramente são realizadas numa base tão estreita; empregando somente as 
ferramentas permitidas pela prova de Arrow, não se pode resolver um problema 
mundano tal como a forma correta de dividir um bolo entre três pessoas. As soluções 
oferecidas pelo senso comum, que fatias iguais são justas ou que a pessoa mais faminta 
deva receber a maior fatia são excluídas, uma por empregar padrões não-utilitários de 
justiça e a outras por permitir comparações interpessoais da fome. (Observe que a regra 
da maioria é sem atrativos aqui: duas pessoas poderiam concordar em votar que elas 
deveriam pegar, cada uma, uma metade do bolo e a terceira pessoa nada). 
De forma similar, Sen argumentou que somente a satisfação da utilidade, ou das 
preferências, é uma base inadequada para a escolha social. O seu paradoxo “liberal 
paretiano” ilustra esse ponto, ao demonstrar que a otimalidade de Pareto é incompatível 
mesmo com um a interpretação extremamente restrita dos direitos individuais. Parece 
ser mais fácil criar paradoxos do que resolvê-los na teoria da escolha social. O artigo de 
Pattanaik, aqui sintetizado, passa em revista ao paradoxo liberal paretiano e a uma 
formulação relacionada, produzida por Gibbard, que também percebe um conflito entre 
a eficiência e os direitos individuais. Pattanaik é cético sobre a resolução preferida de 
Sen, assim como sobre muitas outras que foram propostas; o paradoxo de Sen, como o 
de Arrow, demonstrou-se bastante robusto. 
Parece haver, então um profundo conflito entre eficiência (definida como a satisfação 
Pareto-ótima de preferências individuais) e liberdade (i.e., o respeito por uma esfera de 
direitos individuais), diante do qual os economistas têm tradicionalmente favorecido a 
primeira alternativa. Igualmente problemático, no entanto, é o extremo oposto, como 
visto nos escritos de libertários como Nozick. Enquanto os libertários defendem uma 
avaliação das ações em termos de processos e direitos, Sen observa que Nozick faz uma 
exceção para ações com resultados “catastróficos” e, portanto, não é capaz de ignorar as 
conseqüências do conjunto de ações. De fato uma regra de decisão (não-libertária) é 
necessária para determinar quando os resultados são tão catastróficos que padrões 
conseqüencialistas devem ser invocados.12 
A filosofia do próprio Sen é, ao menos em parte, conseqüencialista, julgando as ações 
em termos de seus resultados; é também não-utilitária, recorrendo extensivamente a 
informações outras que não a utilidade ou as preferências manifestas para a avaliação 
dos resultados. Seu conceito de capacidades humanas e funcionamentos (ver o resumo 
de David A. Crocker na Parte VIII) é uma tentativa engenhosa de combinar o melhor de 
vários mundos, incluindo alguns tipos de resultados objetivos, experiências subjetivas e 
padrões processados. Os padrões éticos de Sen para julgar ações e políticas econômicas 
foram elaborados freqüentemente no curso de discussões sobre pobreza e 
desenvolvimento e serão inspecionadas na Parte VIII. 
A teoria da escolha social gerou debates vigorosos e acessíveis, mas não conseguiu 
chegar a um consenso na maioria dos pontos. Há um acúmulo continuamente crescente 
de conhecimento sobre regras e procedimentos de decisão social que não fazem sentido 
e não devem ser adotados; pouco se estabeleceu sobre o que deveria ser feito 
alternativamente. Uma regra de decisão que é aplicável a todos os possíveis conjuntos 
de preferências individuais (Hammond menciona a sugestão de Arrow de que tal regra 
poderia ser denominada constituição e não função de bem-estar social) deveria 
 
12
 Sen (1995), 12. 
 9 
assegurar que resultados paradoxais não fossem produzidos quando a regra fosse 
aplicada a qualquer algum conjunto particular de preferências. Como conseqüência 
dessas discussões, a comunicação entre alguns subconjuntos de economistas e filósofos 
aprimorou-se imensamente; a teoria da escolha social pode ter tido um impacto maior 
na filosofia do que na Economia até o momento. Como veremos na Parte IV, a 
aplicação da Economia do bem-estar a problemas de política na forma da análise custo-
benefício ignora a maioria dos dilemas que haviam sido indicados por teóricos desde a 
revolução ordinalista. Entretanto, questões levantadas por Sen e por outros teóricos da 
escolha social deveriam ser centrais para a reconstrução da Economia do bem-estar 
social e da felicidade individual. 
 
DUAS TEORIAS ALTERNATIVAS 
 
A teoria da escolha social abrange muitas das abordagens alternativas aos problemas de 
bem-estar econômico, mas não todas. Duas alternativas muito diferentes são 
examinadas nos dois últimos resumos aqui incluídos. 
Como um patinho que “gruda” em sua mãe assim que deixa o ovo, a Economia 
neoclássica pode ser inseparável do utilitarismo – a filosofia que estava presente no 
nascimento da teoria da utilidade marginal. John Harsanyi tem trabalhado há anos para 
produzir um utilitarismo modernizado, revisado, que supere as objeções de suas 
primeiras variantes. A publicação aqui sintetizada é uma de suas mais recentes e 
extensivas; temas similares são tratados em muitos de seus outros trabalhos. 
Harsanyi deriva a existência de funções de utilidade cardinal do trabalho de von 
Neumann e Morgenstern, os fundadores da teoria dos jogos. Qualquer um que responda 
racionalmente a loterias tem, com efeito, uma função de utilidade cardinal.13Então 
Harsanyi (como Sen) apela ao senso comum de que as experiências e satisfações das 
pessoas são comparáveis. A combinação destes dois princípios parece ser suficiente 
para superar o ordinalismo e permitir uma restauração da abordagem inicial, não-
problemática, da Economia do bem-estar. Os paradoxos da escolha social apontados por 
Arrow, Sen e outros seriam imediatamente resolvidos caso fosse possível determinar o 
bem-estar social pela adição de níveis de utilidade individuais. O bolo de Sen poderia 
ser dividido entre três pessoas de maneira a maximizar sua satisfação conjunta. 
Harsanyi não pretende, todavia, meramente reviver o utilitarismo do passado. Ele 
defende um “utilitarismo de regra” [rule utilitarianism], no qual os cálculos de utilidade 
determinam a escolha das regras morais da sociedade, em lugar do “utilitarismo de 
ação” [act utilitarianism], com seu imperativo impossível de avaliar a utilidade social 
de toda ação. Nem todas as preferências criadas são tratadas de forma equivalente na 
teoria de Harsanyi. Somente as preferências bem-informadas são contadas; mais 
surpreendentemente, só as preferências autodirecionadas são contadas no cálculo da 
função de bem-estar social. Embora essas modificações sejam motivadas por debates e 
objeções filosóficos levantados pelos críticos, o seu efeito é tornar o utilitarismo de 
Harsanyi menos transparente. Nenhuma soma simples de preferências individuais está 
envolvida; ao contrário, Harsanyi deriva uma complexa regra de decisão social a partir 
 
13
 Trabalho empírico na psicologia descobriu, contudo, que as pessoas não respondem racionalmente a 
loterias; apostas com baixa probabilidade e altos pay-offs são freqüentemente superavaliadas, por 
exemplo. Ver Amos Tversky, Paul Slovic e Daniel Kahneman, “The Causes of Preference Reversal”, 
American Economic Review 80 (março de 1990), 204-217. 
 10 
da tradição utilitarista. Um bolo poderia ser dividido de acordo com princípios morais 
que maximizassem a utilidade em geral, não necessariamente na base da utilidade 
efetiva de comer um bolo específico hoje. 
Harsanyi não está completamente isolado ao propor um retorno ao utilitarismo, em 
versão modernizada. Trabalhando na mesma perspectiva, Bernard van Praag, um 
economista holandês, tentou mensurar empiricamente a utilidade de renda e encontrou 
uma consistência interpessoal considerável nas respostas a suas pesquisas.14 Adeptos da 
teoria dos jogos recorrem freqüentemente ao enfoque de Neumann-Morgenstern das 
funções utilidade; alguns trabalhos em teoria dos jogos poderia ser encarados como 
sugestões de modelos de tentativa e erro para criação de normas sociais, na linha do 
utilitarismo de regra.15 A defesa do utilitarismo, no entanto, restringiu-se a uma pequena 
minoria dos economistas contemporâneos. 
Uma minoria diferente de economistas ofereceu objeção à Economia do bem-estar 
convencional argumentando que as preferências são, em parte, resultados endógenos da 
atividade econômica, de forma que é logicamente circular empregar a satisfação de 
preferências como padrão dos julgamentos de bem-estar. O exaustivo survey de E. J. 
Mishan sobre a Economia do bem-estar, realizado na década de 1960, menciona as 
complicações causadas pelas funções de bem-estar interdependentes, como as propostas 
por Duesenberry, como um dos problemas não-resolvidos da disciplina.16 Um ponto 
similar foi levantado por “economistas radicais” neomarxistas nos anos 1970. Herbert 
Gintis argumentava que a Economia do bem-estar estava incompleta, uma vez que 
falhava em reconhecer a influência de instituições econômicas sobre o desenvolvimento 
individual e, portanto, na formação de preferências.17 (Veja também o resumo do ensaio 
de Robert Frank na Parte V). 
O último resumo é uma análise mais recente que se baseia na abordagem de Gintis, 
procurando estendê-la. Robin Hahnel e Michael Albert oferecem uma crítica detalhada e 
uma proposta de reconstrução da Economia do bem-estar, incluindo uma notável 
mistura de discussão social e filosófica com intrincadas derivações matemáticas. Na 
parte do seu trabalho aqui sintetizada, eles desenvolvem um modelo matemático formal, 
inteiramente no espírito da análise neoclássica, mas que assume formação endógena de 
preferências. Eles empregam o modelo para provar três tipos de resultado: primeiro, que 
a formação endógena de preferências leva à estimação equivocada dos efeitos de bem-
estar das escolhas econômicas; segundo, que, assumindo as hipóteses usuais de 
competição perfeita e preferências endógenas, os “teoremas fundamentais” do bem-estar 
Econômico ainda se sustentam; terceiro, que, na presença de mercados imperfeitos, as 
preferências endógenas levam a desvios crescentes dos resultados ótimos ao longo do 
tempo. 
O contraste entre a segunda e a terceira categoria de resultados serve como uma 
advertência sobre a interpretação os teoremas de otimalidade em geral. Hahnel e Albert 
argumentam que a formação de preferências endógenas por si só não destrói a 
otimalidade dos equilíbrios competitivos, mas torna tal otimalidade instável. Qualquer 
 
14
 Bernard M. S. van Praag, “Ordinal and Cardinal Utility”, Journal of Econometrics 50 (1991), 69-89. 
15
 Ken Binmore e Larry Samuelson, “An Economist’s Perspective on the Evolution of Norms”, Journal of 
Institutional and Theoretical Economics 150 (1) (1994), 45-63. 
16
 E. J. Mishan, “A Survey of Welfare Economics, 1939-1959”, Economic Journal 70 (1960), 197-256. 
Sobre o modelo de Duesenberry ver a discussão e síntese em Consumer Society, eds. Goodwin, 
Ackerman e Kiron, Parte V. 
17
 Herbert Gintis, “A Radical Analysis of Welfare Economics”, Quartely Journal of Economics 86 
(novembro de 1972), 572-599. 
 11 
desvio das condições competitivas ideais – e tais desvios certamente existem – levam a 
afastamentos cumulativos da otimalidade. 
Outro trabalho que emerge de uma perspectiva similar (afastando-se crescentemente de 
suas hipóteses marxistas iniciais) enfatiza a significância de desigualdades institucionais 
de poder e conflito para os relacionamentos nas trocas mercantis, além das preferências 
endógenas.18 Há alguns pontos de convergência entre o trabalho de Stiglitz, agora 
descrito, e o que talvez seja o potencial de desenvolvimento de um novo paradigma no 
futuro. 
A discussão sobre escolha social, e sobre outras alternativas recentes, contém um claro 
avanço com relação à Economia do bem-estar marshalliana de um século atrás: as 
análises contemporâneas trazem as preocupações, os padrões e as críticas éticas para o 
coração da teoria, em lugar de relegar a busca por valores elevados para um ponto 
futuro não-especificado. Apesar disso, não há nada que se assemelhe a uma 
unanimidade entre as alternativas aqui exploradas. Não tem surtido tampouco, 
infelizmente, grande impacto sobre as práticas do mainstream da Economia. De um 
lado, a teoria do bem-estar econômico tem desempenhado um papel continuamente 
decrescente nos manuais e currículos em anos recentes. De outro lado, a Economia do 
bem-estar aplicada, sob a forma de análises de custo-benefício, assume usualmente 
hipóteses drasticamente simplificadoras que ignoram os debates sofisticados, 
eliminando em boa medida o conteúdo ético e os insights da teoria – como veremos na 
Parte IV. 
 
18
 Por exemplo, ver Samuel Bowles e Herbert Gintis, “The Revenge of Homo Economicus: Contested 
Exchange and the Revival of Political Economy”, Journal of Economic Perspectives 7 (inverno de 1993), 
83-102.

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