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O ESCOPO E O MÉTODO DA ECONOMIA POLÍTICA1 
Por John Neville Keynes 
 
CAPÍTULO I - INTRODUTÓRIO 
 
§1. Natureza e importância da investigação sobre o escopo e o método da economia 
política. – Nos termos economia e econômico existe uma ambiguidade que está por trás 
de boa parte da atual confusão quanto à natureza da economia política. Qualquer linha 
de ação é comumente designada econômica quando alcança seus fins com o menor 
dispêndio possível de dinheiro, tempo e esforço; e por economia compreende-se o 
emprego de nossos recursos com prudência e discernimento, de maneira a extrair deles 
o maior retorno líquido de utilidade. Mas as palavras são também usadas em um sentido 
que não implique qualquer adaptação especialmente razoável de meios a fins; e nas 
obras sobre economia política o termo econômico é geralmente empregado 
simplesmente como um adjetivo correspondente ao substantivo riqueza. Por um fato 
econômico, por conseguinte, compreende-se qualquer fato relacionado ao fenômeno da 
riqueza. Por atividades econômicas entendem-se aquelas atividades humanas que se 
direcionam para a criação, apropriação e acumulação da riqueza; e por costumes e 
instituições econômicas, os costumes e as instituições da sociedade humana 
relacionados à riqueza. 
Economia política ou economia é um corpo de doutrinas relacionadas a 
fenômenos econômicos no sentido acima; e o propósito das páginas a seguir é discutir o 
caráter e o escopo dessa doutrina, e o método lógico apropriado para o seu 
desenvolvimento. Na intenção de definir o escopo de qualquer campo de estudo, o 
objetivo em questão é primariamente determinar os aspectos distintivos dos fenômenos 
com o qual ele lida, e do tipo de conhecimento que busca acerca desses fenômenos. A 
investigação também envolve uma análise das relações entre o estudo em questão e 
ramos cognatos de estudo. Ao passar para a consideração do método, lidamos com um 
ramo da lógica aplicada, sendo o objetivo determinar a natureza dos processos lógicos 
especificamente apropriados para o estudo – isto é, os métodos de investigação e prova 
dos quais possam fazer proveito – e o caráter lógico das conclusões implicadas como 
resultado. A discussão que se segue pertence, então, ao que podemos chamar de 
filosofia ou lógica da economia política, e não nos faz avançar diretamente no 
conhecimento dos fenômenos econômicos em si mesmos. Por essa razão, certa 
impaciência é ocasionalmente sentida quando uma discussão desse tipo é proposta. O 
que nós queremos, dizem, não é mais conversa sobre método, mas, ao contrário, 
aplicações úteis do método correto; aumentem o nosso estoque atual de verdades 
econômicas, ao invés de se entregarem a disputas estéreis sobre a maneira como as 
verdades econômicas devem ser obtidas. A essa objeção o especialista em lógica 
deveria responder que a investigação tem de qualquer modo algum grau de 
significância, se não econômica, lógica. Mas ela também tem importância econômica. 
Um momento de reflexão mostrará que, do ponto de vista da própria economia política, 
 
1
 KEYNES, J. N. The Scope and Method of Political Economy. Batoche Books: Kitchener, 1999 [1890]. 
Capítulo Introdutório traduzido por Júlio César Afonso Rodrigues e João Leonardo Medeiros, para fins 
didáticos, como parte do programa de monitoria em Pensamento Econômico III (2016) / UFF. Não citar 
ou reproduzir sem autorização. 
 
2 
 
é de importância ímpar que seu escopo e método sejam corretamente compreendidos. 
Existe, para começar, uma ampla confusão corrente quanto à natureza das leis 
econômicas; e por essa razão, entre outras, é imperativo que o economista procure 
definir da maneira mais acurada possível a natureza e os limites da sua esfera de 
investigação. Não deve haver qualquer imprecisão na questão sobre se a economia 
política está preocupada com o real [actual]2 ou o ideal, se ela trata meramente do que é, 
ou pergunta ademais sobre o que deve ser, prescrevendo regras para a obtenção 
daqueles fins proclamados desejáveis. Mesmo que investigações teóricas e práticas 
sejam ambas incluídas em seu escopo, ainda assim a distinção entre as duas, e suas 
mútuas relações, precisam ser claramente e inequivocamente estabelecidas. 
Incompreensão sobre esses pontos levou à incompreensão das próprias verdades 
econômicas, e consequentemente debilitou a influência e a autoridade da ciência 
econômica. Em seguida, quanto ao método, é dito que, ao invés de discutir sobre qual 
método de investigação é certo, é melhor exemplificar o método certo empregando-o na 
obtenção efetiva de novas verdades econômicas. Mas estamos então levantando a 
questão de sua correção? No longo prazo, o tempo não poderia senão conduzir para um 
estudo preliminar dos instrumentos de investigação a serem usados, da maneira correta 
de usá-los, e dos tipos de resultados que eles são capazes de produzir. Porque na medida 
em que os métodos de raciocínio são usados sem o devido cuidado sobre sua validade, 
os resultados atingidos devem igualmente ser de validade incerta, e o progresso do 
conhecimento econômico, ao invés de avançar, será retardado. 
O processo, ademais, por meio do qual uma conclusão é alcançada afeta seu 
caráter e valor, e as qualificações e limitações às quais está sujeita devem ser aceitas. Se 
for meramente empírico, então ela será estabelecida apenas com maior ou menor grau 
de probabilidade, e não poderá ser estendida para muito além do alcance do espaço ou 
tempo no qual foram coletadas as variáveis em que se baseou. Se, por outro lado, ela é 
obtida dedutivamente, então será hipotética até que seja determinado em que medida, e 
sob quais condições, as suposições que a apoiam são de fato realizadas. Foi 
plausivelmente argumentado que a grande fraqueza de Ricardo foi a de não 
compreender claramente a verdadeira natureza de seu próprio método. Em boa medida, 
ao interpretar seus resultados, ele não tomou as precauções necessárias para prevenir 
concepções errôneas da parte de muitos dos seus leitores. 
É verdade que uma coisa é estabelecer o método certo para desenvolver uma 
ciência, e outra coisa muito diferente é ter sucesso em desenvolvê-la. É verdade 
também, como o economista austríaco Menger assinalou, que as ciências foram criadas 
e revolucionadas por aqueles que não pararam para analisar seus próprios métodos de 
investigação. Ainda assim, seu sucesso deve ser atribuído ao fato de terem empregado o 
método correto, mesmo que o tenham empregado inconscientemente ou que não tenham 
se desviado para caracterizá-lo. Seu método deve, além disso, ser sujeito a uma análise 
cuidadosa antes que o valor de suas contribuições para a ciência possa ser propriamente 
estimado. A economia não é de forma alguma peculiar ao requerer que seu método deva 
ser discutido. A lógica de outras ciências é, entretanto, em sua maior parte 
suficientemente tratada em trabalhos gerais sobre lógica ou metodologia. Há razões 
especiais, a serem encontradas parcialmente na natureza própria do assunto, e 
parcialmente devido a causas extrínsecas, que explicam por que a lógica da economia 
 
2
 [N. T.] O termo original é “actual”, que, numa tradução mais literal, poderia ser traduzido por “efetivo”. 
Optou-se por “real”, no entanto, para acentuar o contraste com “ideal”, respeitando assim a evidente 
intenção do autor. 
 
3 
 
política necessita de uma consideração mais detalhada. Em primeiro lugar, a ciência 
econômica lida com fenômenos que são mais complexos e menos uniformes do que 
aqueles com as quais as ciências naturais se preocupam; e suas conclusões, exceto em 
sua forma mais abstrata, carecem tanto da certeza como da universalidade que 
pertencem às leis físicas. Existe uma dificuldade correspondente com relação ao método 
apropriado do estudoeconômico; e o problema de definir as condições e os limites da 
validade dos raciocínios econômicos torna-se de excepcional complexidade. É, ademais, 
impossível estabelecer o direito de qualquer método de dominar o campo com a 
exclusão de outros. Diferentes métodos são apropriados, de acordo com os materiais 
disponíveis, o estágio de investigação alcançado, e o objeto em questão; e assim surge a 
tarefa especial de designar para cada [método] seu legítimo lugar e relativa importância. 
Outra razão para discutir os verdadeiros princípios do método econômico em 
algum detalhe é que raciocínios falaciosos são mais comuns na economia política do 
que na maioria dos outros estudos. Isso se deve apenas em parte à dificuldade e à 
complexidade do assunto com a qual a ciência se preocupa. Ela lida com fenômenos 
que, embora cercados de dificuldades, são assuntos de observação cotidiana; e ela 
possui uns poucos termos técnicos que não são também do discurso cotidiano. Não é 
uma consequência anormal [unnatural] que as pessoas considerem a si mesmas 
competentes para discutir sobre problemas econômicos, não importa quão complexos 
sejam, sem qualquer tipo de treinamento científico preparatório que seria 
universalmente considerado essencial em outros departamentos de investigação. Essa 
tentação de discutir questões econômicas sem preparação científica adequada torna-se 
enorme, porque as condições econômicas exercem uma influência muito poderosa sobre 
os interesses materiais dos homens. “Poucos homens”, diz o General Walker3, “são 
presunçosos o suficiente para discutir com o químico ou o mecânico sobre questões 
relacionadas com os estudos e trabalhos de sua vida; mas praticamente qualquer homem 
que possa ler e escrever sente-se na liberdade de formar e manter opiniões próprias 
sobre comércio e dinheiro. A literatura econômica de todo ano seguinte abarca trabalhos 
concebidos no verdadeiro espírito científico, e trabalhos exibindo a mais vulgar 
ignorância de história econômica e o mais flagrante desdém pelas condições da 
investigação econômica. É como se a astrologia fosse elaborada lado a lado com a 
astronomia, ou a alquimia com a química”. Falando em termos gerais, a tendência geral 
da economia popular segue em direção a generalizações precipitadas e argumentos 
falaciosos post hoc ergo procter hoc4. Isso é frequentemente combinado com uma 
análise imperfeita de concepções fundamentais, levando à confusão do pensamento e à 
seleção de falsas proposições como postulados autoevidentes; e onde o raciocínio 
dedutivo é empregado, seus resultados são frequentemente aplicados sem consideração 
pelas condições exigidas para sua aplicação válida. A isso devemos acrescentar que as 
marcadas distinções entre escolas opostas, e seu estreito dogmatismo, têm complicado 
desnecessariamente todo o problema. O assunto tornou-se envolto em acaloradas 
controvérsias, que não só o tornou exaustivo para as pessoas imparciais, mas também 
injuriou a própria imagem da economia política. Leigos [outsiders] são naturalmente 
desconfiados de uma ciência, no tratamento que tão frequente e espalhafatosamente 
proclama um novo departamento como essencial. Até aqui, pode ser inferido, pelo fato 
 
3
 Referência ao economista americano Francis Amasa Walker, que também serviu como general no 
exército norte-americano. 
4
 Do latim “depois disso, logo causado por isso”. Refere-se à falácia lógica, usualmente denominada 
correlação coincidente, que consiste em confundir sequências cronológicas de eventos (concomitância) 
com relações de causa e efeito. 
 
4 
 
de os economistas terem feito progresso em sua ciência, que eles não têm acordo sequer 
sobre a forma de iniciar seu trabalho. 
A persistente falácia dos escritores sobre método econômico tem sido justamente 
apontada como a falácia da exclusividade. Um único aspecto ou departamento do estudo 
econômico é isoladamente mantido em foco, sendo enaltecido o método apropriado para 
ele, enquanto outros métodos, de igual importância em seu devido lugar, são 
negligenciados ou até explicitamente rejeitados. Por conseguinte, os disputantes de 
ambos os lados, embora corretos positivamente, estão errados negativamente. Suas 
críticas aos métodos rejeitados são, ademais, muito frequentemente baseadas em mal-
entendidos ou más representações. Métodos são atacados por não fazerem aquilo que os 
que advogam seu uso jamais pensaram que poderiam fazer; e as qualificações e 
limitações, com as quais cada lado expõe seu próprio método, são desconhecidas pelo 
outro lado. Isso, combinado com a falácia da exclusividade, ou talvez como 
consequência dela, dota essas controvérsias de uma extraordinária prevalência de 
ignoratio elenchi5. Nas próximas páginas será feita uma tentativa de fazer justiça a 
todos os diferentes instrumentos de investigação dos quais se pode valer o economista; 
embora a atenção seja também dirigida para as limitações que afetam cada um deles. 
 
§2. A concepção da economia política como uma ciência positiva, abstrata e dedutiva. 
– Os principais pontos envolvidos em controvérsias sobre método econômico podem ser 
indicados em linhas gerais com um breve contraste entre duas escolas completamente 
distintas, uma que descreve a economia política como positiva, abstrata, e dedutiva, 
enquanto a outra a descreve como ética, realista e indutiva. Deve ser distintamente 
entendido que esse rígido contraste não é encontrado na efetiva economia dos melhores 
economistas de ambas as escolas. Nos métodos que eles empregam – quando estão 
realmente discutindo os mesmos problemas – há em grande medida substancial 
consentimento. Eles diferem, porém, na relativa importância que eles atribuem a 
diferentes aspectos de seu trabalho; e em seus enunciados formais sobre método essas 
diferenças tornam-se exageradas. 
A questão do método correto da investigação econômica não foi enquanto tal 
discutida por Adam Smith; e suas visões sobre o assunto precisam, portanto, ser 
deduzidas da sua maneira de lidar com efetivos problemas econômicos. Na verdade, o 
apoio de sua autoridade foi reivindicado em favor de ambas as escolas acima referidas. 
Tem sido dito dele que ele foi o primeiro a elevar a economia política à dignidade de 
uma ciência dedutiva. Mas ele também tem sido reconhecido como o fundador do 
método-histórico na economia política. A razão para essa aparente contradição não é 
difícil de ser alcançada. É de ser encontrada no fato de Adam Smith livrar-se dos 
excessos tanto do lado de argumentação a priori como do a posteriori. Ele não rejeitava 
métodos de investigação que poderiam de alguma forma ajudá-lo a investigar os 
fenômenos da riqueza. Para argumentar ou ilustrar ele recorreu, conforme a ocasião, 
tanto a fatos elementares da natureza humana, quanto a fatos complexos da vida 
industrial. Ele acreditava numa ordem “natural” de eventos, que poderia ser deduzida a 
priori a partir de considerações gerais; mas ele constantemente checava seus resultados 
recorrendo ao curso efetivo da história. Ele partia de abstrações para chegar à complexa 
realidade do mundo econômico no qual vivia. Portanto, se em solo dedutivo ele assenta 
uma doutrina da tendência à equalização dos salários, ele a combina com uma 
investigação indutiva das causas que confirmam ou restringem a operação dessa 
tendência. Se ele demonstra o progresso “natural” da opulência, ele também entra numa 
 
5
 Do latim, quer dizer, literalmente, “ignorância da demonstração”. Refere-se à falácia lógica de 
desconexão entre uma assertiva, seja ela correta ou não, e a questão de que se ocupa. 
 
5 
 
investigação histórica sobre como efetivamente se deu o progresso da opulência. Se ele 
condena a doutrina de proteção às indústrias nativas principalmente emterreno abstrato, 
ele reforça suas visões com ilustrações concretas e argumentos da maior variedade. 
No que tange às tendências indutivas perceptíveis em Adam Smith, seu sucessor é 
encontrado em Malthus; para a continuação e desenvolvimento das tendências abstratas 
dedutivas, voltamo-nos para Ricardo. Economistas subsequentes da escola inglesa 
assimilaram o que era mais característico em ambos os autores; mas foi Ricardo, ao 
invés de Malthus, que deu ao seu trabalho um tom distintivo, particularmente em suas 
análises específicas do método a ser adotado. Senior e J. S. Mill foram os primeiros 
economistas ingleses que definitivamente formularam princípios do método econômico. 
As visões de Senior estão contidas em suas aulas introdutórias na Universidade de 
Oxford, e no seu tratado em Economia Política; as visões de Mill são encontradas no 
seu Ensaios sobre algumas questões não resolvidas da economia política6, e no sexto 
livro de sua Lógica7. O problema é discutido com mais detalhe por Cairnes em seu 
Caráter e método lógico da economia política8, um trabalho de admirável lucidez, que 
foi por muito tempo considerado o livro-texto indispensável de economia política 
inglesa, no que concerne à sua lógica. Os ensaios de Bagehot sobre os postulados da 
economia política inglesa e sobre os princípios da economia política, publicados em seu 
Estudos econômicos9, têm também um caráter representativo em alguns aspectos. 
Existem mínimas diferenças nos princípios estabelecidos por esses quatro autores 
respectivamente, mas fundamentalmente eles estão de acordo ao encarar a economia 
política como uma ciência que possui escopo positivo, distinguindo-o do ético e prático, 
e método abstrato e dedutivo. Segue um breve sumário de suas doutrinas características. 
Em primeiro lugar, uma rígida linha de distinção é traçada entre a própria 
economia política e suas aplicações à prática. A função da economia política é 
investigar fatos e descobrir verdades sobre eles, não prescrever regras da vida. Leis 
econômicas são teoremas sobre fatos, não preceitos práticos. A economia política é, em 
outras palavras, uma ciência, não uma arte ou um departamento de investigação ética. 
Ela é descrita como posicionada de forma neutra entre esquemas sociais concorrentes. 
Ela fornece informações sobre as prováveis consequências de dadas linhas de ação, mas 
por si só não profere julgamentos morais, ou pronuncia o que deve e o que não deve ser. 
Ao mesmo tempo, é atribuído o maior valor possível às aplicações práticas da ciência 
econômica; e há acordo de que o economista deve voltar sua atenção a elas – não, 
entretanto, em seu caráter de economista puro, mas ao contrário como um filósofo 
social, que, por ser um economista, está em posse do conhecimento teórico necessário. 
Considera-se que se essa distinção for traçada, os aspectos social e ético de problemas 
práticos – que podem ser de vital importância – estão menos sujeitos a serem 
negligenciados ou subjugados. 
Quanto à sua posição entre as ciências, a economia política não é considerada 
como inseparavelmente ligada com a filosofia social em geral. Fatos econômicos são, 
concede-se, influenciados por fatos sociais de muito variados tipos, e, por sua vez, os 
influenciam; mas ainda assim é tido como possível até certo ponto isolar o estudo dos 
fenômenos da riqueza do estudo de outros fenômenos da sociedade. Tal isolamento é, 
de fato, dito como sendo implicado pelos requerimentos da ciência, que procede pela 
 
6
 [N.T.] Livre tradução do ensaio de Mill, intitulado Essays on some unsettled questions of political 
economy. 
7
 [N.T.] Referência à obra de Mill intitulada A system of logic. 
8
 [N.T.] Livre tradução do ensaio de Cairnes, intitulado Character and logical method of political 
economy. 
9
 [N.T.] Livre tradução do ensaio de Bagehot, intitulado Economic studies. 
 
6 
 
análise de fenômenos concretos, de modo a lidar separadamente com seus diferentes 
aspectos e os diferentes elementos dos quais eles são compostos. A ciência econômica 
constitui, portanto, um departamento de especulação sociológica distinto, apesar de não 
inteiramente independente. Passando para os meios mediante os quais as verdades da 
ciência hão de ser alcançadas, sustenta-se que, por conta da variedade e complexidade 
das influências às quais os fenômenos econômicos são sujeitos, o método da experiência 
específica ou indução direta é inadequado para produzir mais do que generalizações 
empíricas de validade incerta. Experimento é, ademais, um recurso do qual o 
economista é privado. Segue-se que nós não devemos tomar como nosso ponto inicial a 
análise de fatos industriais concretos. O método correto de procedimento é, ao contrário, 
dedutivo, ou, como Mill o chama, a priori. As premissas últimas sobre as quais a 
ciência dedutiva é baseada são, ademais, limitadas em número, de maneira que a mais 
importante delas admite enunciado preciso desde o início. Isso porque, embora as 
circunstâncias contribuindo em algum grau para moldar os fenômenos econômicos 
sejam indefinidamente numerosas, existem poucas cuja influência é predominante, 
tendo muito mais importância que todo o resto. Essas circunstâncias predominantes 
consistem em alguns fatos da natureza humana simples e indisputáveis – por exemplo, 
que em seus tratos econômicos os homens são influenciados pelo desejo por riqueza –, 
tomados em conexão com as propriedades físicas do solo, e a constituição fisiológica do 
homem10. 
A economia política é, por conseguinte, tida como, principalmente, uma ciência 
abstrata. Isso porque, ao basear suas conclusões em um número limitado de suposições 
fundamentais, ela tem de deixar de lado muitas circunstâncias, que são importantes em 
casos individuais, mas desimportantes quando as instâncias são tomadas em conjunto. É 
reconhecido que outros desejos, além do desejo por riqueza, operam em várias ocasiões 
na determinação das atividades econômicas dos homens. Eles devem ser, no entanto, 
negligenciados – de qualquer forma, em primeira instância – uma vez que sua influência 
é irregular, incerta e inconstante. Nesses termos, argumenta-se que a abstração por 
intermédio da qual a ciência assume como seu tema central o “homem econômico”, 
cujas atividades são determinadas somente pelo desejo por riqueza, é tanto legítima 
como necessária; e, como justificativa adicional, é traçada uma analogia com a 
matemática e a física, que são tidas como baseadas em abstrações correspondentes11. 
Em termos semelhantes, a ciência é caracterizada por Mill e Cairnes como 
hipotética. Isso porque, uma vez que suas premissas não exaurem todas as causas que 
afetam o resultado, suas leis são apenas verdadeiras hipoteticamente, isto é, na ausência 
de agentes contrapostos. O mesmo ponto é expresso pela alegação de que a economia 
 
10
 Há, no entanto, uma visão diferente sobre a medida em que a aplicação de doutrinas resultantes precisa 
ser limitada. Bagehot encara as doutrinas da economia política inglesa como não aplicáveis a todos os 
estados da sociedade, mas apenas aqueles em que o comércio se desenvolveu largamente e, em particular, 
à forma de desenvolvimento que encontramos na Inglaterra no tempo presente. A relatividade das 
investigações econômicas também é indicada incidentalmente por Cairnes. Senior, por outro lado, afirma 
que aquelas conclusões que se relacionam à natureza e à produção da riqueza são universalmente 
verdadeiras; e embora aquelas que estão relacionadas à distribuição da riqueza estejam sujeitas a serem 
afetadas pelas instituições particulares de países particulares, ainda assim o estado natural de coisas pode 
ser expresso por uma regra geral, e as anomalias produzidas por causas perturbadoras particulares 
reconhecidas posteriormente.Em outras palavras, enquanto Bagehot encara as premissas da economia 
política como relacionadas apenas aos hábitos econômicos e instituições de uma era e país particular, 
Senior os encara como “naturais”, e, com pequenas qualificações, como independentes de época e país. 
11
 Mill e Bagehot insistem particularmente no alto grau de abstração envolvido no raciocínio econômico. 
Bagehot mais de uma vez repete que “Os economistas políticos ingleses não estão falando de homens 
reais, mas de homens imaginários; não de homens como nós os vemos, mas de homens como é 
conveniente que nos suponhamos que sejam”. (Economic Studies, p. 5). 
 
7 
 
política é uma ciência de tendências apenas, não de fatos, sendo seu objeto descobrir e 
averiguar o resultado de certas forças maiores, como se elas operassem sozinhas, e nada 
mais exercesse qualquer influência modificadora12. 
Senior resume suas visões na máxima de que a economia política “depende mais 
de raciocínio [reasoning] do que de observação”. Mill, Cairnes e Bagehot, no entanto, 
insistem todos que o recurso à observação e à experiência cumpre sua função antes que 
as leis hipotéticas da ciência possam ser aplicadas na interpretação e explicação de fatos 
industriais concretos. Porque é preciso então determinar em que medida, no que diz 
respeito aos casos particulares sob consideração, deve-se ter em conta a operação de 
causas perturbadoras – isto é, as modificações peculiares introduzidas pelas influências 
menores afetando fenômenos econômicos. A comparação com fatos observados fornece 
um teste para conclusões dedutivamente obtidas, e permite que os limites de sua 
aplicação sejam determinados. Consequentemente, enquanto o método da experiência 
específica é considerado como no geral ineficaz para a descoberta de leis econômicas, e 
como incapaz de fornecer prova independente de sua validade, é, todavia, considerado a 
formar um suplemento indispensável para o raciocínio dedutivo que constitui o 
arcabouço da ciência. As doutrinas do método econômico acima, que são aquelas 
explicitamente formuladas pelos escritores referidos, precisam ser interpretadas e em 
alguns aspectos qualificadas com referência aos seus escritos efetivamente econômicos. 
Porque se, ao examinar os últimos, procuramos deduzir suas visões sobre método, nós 
descobrimos que suas práticas não correspondem precisamente a suas teorias; e nós 
somos levados à conclusão de que, julgados por seus próprios escritos, eles formulam 
suas doutrinas sobre método de maneira demasiadamente absoluta, em particular 
exagerando a abstratividade da economia política como um todo. Eles também falam 
como se a ciência tivesse alcançado o estágio dedutivo de maneira mais definitiva do 
que evidenciado por seu próprio modo de lidar com problemas econômicos. Ao tratar da 
produção da riqueza, por exemplo, como é apontado pelo Professor Sidgwick, Mill e 
outros economistas de sua escola têm sempre empregado um método indutivo e 
analítico, estando o elemento dedutivo em seus raciocínios essencialmente subordinado 
nessa parte de seu estudo. Mill é até mais distintivo: um economista indutivo em sua 
elaborada discussão sobre a propriedade camponesa em seus aspectos econômicos. Há 
indubitavelmente um elemento dedutivo, baseado em dados psicológicos, em seu 
argumento quanto ao efeito da propriedade sobre a indústria e a energia do cultivador. 
Mas, mesmo nesse ponto, ele procura sustentar-se com uma quantia considerável de 
evidência a posteriori; e seu argumento geral depende principalmente de uma 
investigação indutiva e comparativa do atual funcionamento da propriedade camponesa: 
na França, na Suíça, e em outros países, nos quais a operação do sistema pode ser 
observada em escala considerável. Cairnes, novamente, em seu trabalho sobre O poder 
da escravidão13, onde ele analisa as características econômicas gerais do trabalho 
escravo, estabelece algumas importantes doutrinas econômicas por meio de um 
cuidadoso estudo indutivo dos fatos, fazendo comparativamente pouco uso do 
raciocínio dedutivo. É verdade que a teoria geral da distribuição e da troca, exposta pela 
escola de Mill, é baseada num raciocínio de caráter abstrato; mas mesmo aqui os 
escritores, aos quais se fez referência, tendem a exagerar as características de seu 
próprio método. Eles não se mantêm à distância das realidades concretas do mundo 
econômico efetivo em favor de algo como a extensão que suas descrições da ciência 
 
12
 Senior, embora afirme que as conclusões da economia política sejam verdadeiras apenas na ausência de 
causas perturbadoras, ainda assim a denomina positiva, distinguindo-a da ciência hipotética, querendo 
com isso dizer que suas premissas não são arbitrariamente assumidas. 
13
 [N.T.] Livre tradução do trabalho de Cairnes, intitulado Slave Power. 
 
8 
 
permitiram seus leitores a antecipar: e é muito distante da verdade dizer que suas 
doutrinas são inteiramente construídas na ausência de poucas leis elementares da 
natureza humana. Em todos os casos, a fim de estabelecer sua consistência, uma enorme 
porção de seus melhores trabalhos econômicos devem ser considerados como 
interessados nas modificações práticas dos totais da economia política, e não com 
aquelas próprias verdades. 
O contraste é especialmente marcado entre a teoria do método de Mill contida 
nos Ensaios14, e sua prática, expressa nos Princípios15. No primeiro, a concepção de 
“homem econômico” ocupa uma posição central e de ampla importância; no último, ela 
desempenha um papel bem mais modesto. Ademais, em seu Princípios de economia 
política16, Mill declaradamente trata não apenas desses princípios mesmos, mas também 
de “algumas de suas aplicações para a filosofia social”. Ele declara em seu prefácio que 
ao mesmo tempo em oferece uma exposição das doutrinas abstratas da economia 
política, ele também deseja entregar algo mais; seu objeto abrange “um conjunto muito 
mais amplo de ideias e tópicos que são incluídos na economia política, considerados 
como um ramo de especulação abstrata”. Considerações morais e sociais, no sentido 
mais amplo, recebem por conseguinte a atenção devida; e seria difícil encontrar uma 
instância melhor de um tratamento ético dos problemas econômicos do que aquela 
contida no capítulo sobre “o provável futuro das classes trabalhadoras”. 
 
§3. As concepções da economia política como uma ciência ética, realista e indutiva. – 
A ênfase que os primeiros escritores sistemáticos em método econômico, especialmente 
na Inglaterra, atribuíam ao lado abstrato da economia política levou a uma reação, que 
surgiu na Alemanha, e está especialmente associada aos nomes de Roscher, Hildebrand 
e Knies. As duas escolas, assim em geral diferenciadas, são ocasionalmente 
mencionadas como a inglesa e a alemã respectivamente. Essas designações têm o mérito 
da brevidade; e, levando em conta o que foi efetivamente escrito sobre método 
respectivamente por economistas ingleses e alemães durante a parte intermediária do 
século dezenove, elas não são injustificáveis. Elas não devem, no entanto, ser 
interpretadas muito literalmente. A doutrina do método apresentada na seção precedente 
não representa exatamente a multilateralidade dos trabalhos ingleses em economia. Em 
particular, ela falha em designar um lugar suficientemente importante para a massa de 
materiais históricos e estatísticos produzida pelo trabalho de economistas ingleses. A 
doutrina seria, ademais, aceita apenas em uma forma modificada e ampliada por aqueles 
economistas contemporâneos que declaradamente levam a diante as tradições da escola 
inglesa. Novamente, as assim chamadas doutrinas alemãs, qualquer que tenha sido sua 
origem, não são mais da posse peculiar de algum país. Elas são, por exemplo, 
representadas por uma escola emergente de economistas nos Estados Unidos,que 
expressamente repudiam a assertiva de que o novo movimento é exclusivamente um 
movimento alemão. Mesmo na Inglaterra o espírito da reação foi manifestado há muito 
tempo por Richard Jones, e em anos mais recentes uma expressão muito veemente foi 
dada a ela por Cliffe Leslie e outros. Por outro lado, entre ilustres economistas que 
empregaram um método altamente abstrato de lidar com problemas econômicos, deve-
se incluir diversos alemães, e.g., von Thünen; e mais recentemente tem brotado na 
 
14
 [N.T.] Ver nota 6. 
15
 [N.T.] Referência à obra de Mill intitulada Principles of Political Economy. 
16
 [N.T.] Livre tradução da obra citada na nota 15. 
 
9 
 
Áustria uma nova escola, que insiste muito enfaticamente na necessidade de um 
tratamento abstrato da ciência17. 
Levando-se em conta a explicação acima, é conveniente falar da escola de 
Roscher e Knies como a escola alemã. Os ensinamentos explícitos dessa escola em 
relação ao escopo e método da economia é brevemente indicado nos próximos 
parágrafos18. 
Em primeiro lugar, à ciência é conferido um escopo mais extenso do que o usual 
com economistas ingleses; pois é feita assumidamente para lidar com o que deve ser 
bem como com o que é. A possibilidade de traçar qualquer clara linha de separação 
entre essas investigações é, de fato, praticamente negada. Sustenta-se que não pode 
haver ciência puramente positiva da economia política, tal como foi contemplada por 
Cairnes. 
A escola denomina-se explicitamente ética; ela considera a economia política 
como tendo uma elevada tarefa ética, e como preocupada com os mais importantes 
problemas da vida humana. A ciência não é meramente para classificar os motivos que 
compelem à atividade econômica; ela também tem de pesar e comparar seu mérito 
moral. Ela tem de determinar um padrão da correta produção e distribuição da riqueza, 
de modo que as demandas por justiça e moralidade possam ser satisfeitas. Ela deve 
delinear um ideal de desenvolvimento econômico, tendo em vista a vida intelectual e 
moral, bem como a meramente material; e ela deve discutir os caminhos e meios – 
como o fortalecimento dos motivos certos, e a difusão de costumes e hábitos saudáveis 
na vida industrial, bem como a direta intervenção do Estado – pelos quais tal ideal deve 
ser perseguido19. Outra característica da escola histórica alemã é a maneira como seus 
adeptos insistem sobre o lado social da economia política, e a interdependência de 
fenômenos econômicos e outros fenômenos sociais. Sustenta-se que, por conta dessa 
interdependência, a economia política não pode ser tratada adequadamente exceto em 
conexão estreita com outros ramos da ciência social. O tratamento adotado deve, por 
conseguinte, ser realista. Argumenta-se que o economista deveria apenas muito 
 
17
 O professor Carl Menger de Vienna é um dos principais líderes desse último desenvolvimento da 
opinião alemã. Confira seu Untersuchungen über die Methode der Socialwssenschaften uber der 
Politischen Oekonomie insbesondere. Ele insiste particularmente na necessidade de distinguir economia 
política teórica de história econômica e estatística, de um lado, e das ciências práticas de economia 
política, de outro; e ele acusa a escola alemã dominante tanto de não compreender o ponto de vista do 
método abstrato, como de atribuir uma importância exagerada ao histórico. Ele em seguida os acusa de 
errar ao tentar oferecer uma direção ética à economia política teórica. Ele fala de modo ainda mais 
contundente numa série de cartas especialmente dirigidas contra Schmoller, e publicadas sob o título Die 
Irrthümer dies Historismus in der Deutschen Nationalökonomie. O professor Emil Sax de Praga está de 
acordo com Menger em muitos pontos fundamentais, mas apresenta suas visões de modo menos 
controverso. Ele insiste fortemente na importância da teoria pura. Confira seu Wesen und Aufgaben der 
Nationalökonomie. 
18
 Sobre os pontos que se seguem, conferir Roscher, Geschichte der National-Oekonomik in Deutschland, 
especialmente pp. 1032–1036; Knies, Die Politische Oekonomie vom Standpunkte der geschichtlichen 
Methode; o artigo de Schonberg no Die Volkswirthschaft (em seu Handbuch), §§1–13; e Wagner, 
Systematische Nationalokonomie no Jahrbucher fur National ökonomie und Statistik, Março, 1886 
(traduzido no Quarterly Journal of Economics, vol. I., p. 113). Uma boa análise histórica da nova 
economia política alemã, cujas fundações foram assentadas nos anos de 1842-53, principalmente por 
Roscher, Hildebrand e Knies pode ser encontrada em System der National ökonomie, Grundlegung. 
(§§108–122), de Cohn. Ver ainda o artigo do professor Ashley sobre a Escola Histórica dos Economistas 
no Dictionary of Political Economy do Sr. Palgrave. 
19
 Deve-se observar que as diferenças com relação ao escopo de uma ciência são, numa extensão 
considerável, apenas verbais. Um autor pode incluir no interior da própria ciência investigações que outro 
autor julga com pertencente apenas a suas aplicações; mas isso não implica que o último rejeite essas 
investigações, ou mesmo, em menor grau, atribua pouca importância a elas. 
 
10 
 
raramente, se é que deveria, abstrair das realidades complexas da vida econômica 
efetiva; e deveria consequentemente na maioria de seus raciocínios lidar, não com um 
“homem econômico” abstrato, sujeito apenas a um único motivo, o desejo por riqueza, 
mas diretamente de como os homens realmente são, movidos por motivos diversos, e 
influenciados pelas condições efetivas da época e sociedade em que vivem. Intimamente 
conectado com essa característica é a insistência a respeito da relatividade das doutrinas 
econômicas. As condições econômicas da vida são sujeitas à variação; e sujeitas a tal 
variação são as leis pelas quais as atividades econômicas dos homens são reguladas. 
Quanto ao método de raciocínio mediante o qual o conhecimento econômico 
deve ser aumentado, uma grande ênfase é colocada na necessidade de apelar 
constantemente para observações específicas do mundo econômico efetivo, e de 
generalizar a partir delas. Por isso a escola é conhecida como indutiva e estatística. É 
ainda mais distintivamente designada histórica, por sua insistência especial na 
importância do material histórico na construção da ciência. Somente com referência ao 
passado, alega-se, pode o presente ser apropriadamente entendido; e somente por meio 
da comparação de condições econômicas de diferentes períodos e de diferentes países é 
que se pode adequadamente perceber as limitações das doutrinas econômicas, e salvar 
os economistas de dogmatismos unilaterais e estreitos. A importância de estudar o curso 
da evolução econômica é, por conseguinte, enfatizada. 
Deve-se acrescentar que, independentemente de diferenças a respeito do escopo 
e do método da economia política, a escola alemã dominante distingue-se dos antigos 
economistas ingleses por uma diferença de atitude em direção ao laisser faire e à 
interferência governamental. Isto é, entretanto, um ponto de contraste com o qual não 
estamos diretamente preocupados no presente tratado. 
Será observado que as características supracitadas não são, de forma alguma, 
independentes uma da outra. Em alguns casos, a conexão é, de fato, muito próxima. 
Quanto mais realista nosso ponto de vista, por exemplo, mais óbvio se torna a 
necessidade de recursos diretos à história e à estatística; o método histórico leva 
forçosamente ao reconhecimento da relatividade das doutrinas econômicas; e os pontos 
de vista realista e social são também intimamente conectados. Por sua vez, a concepção 
ética da ciência enfatiza todos os outros pontos; e,de fato, caso se assuma que a 
economia política está diretamente preocupada com o que deve ser, é preciso 
logicamentedizer, então, que quase todo o resto seguirá20. Resulta dessa dependência de 
características que, ao discutir as várias questões em foco, não se poderá evitar uma 
certa repetição. Consequentemente, nas páginas seguintes, mesmo quando estivermos 
aparentemente tratando de problemas distintos, não será infrequente uma recorrência 
dos mesmos pontos fundamentais, vistos em diferentes aspectos. 
Dentro da própria nova escola observa-se marcadas diferenças de tom e atitude. 
Os membros mais avançados da escola não se contentam em enfatizar a importância do 
método histórico, mas chegam ao ponto de rejeitar a ajuda de qualquer outro método 
exceto em subordinação extrema a ele. Eles não são meros reformistas, mas 
revolucionários; pois eles advogam uma completa reconstrução e transformação da 
economia política. Em sua visão, a ciência no passado foi estéril em resultados valiosos; 
somente uma mudança radical de método pode trazer esperança de que venha a ser 
frutífera no futuro. As velhas doutrinas, e as velhas maneiras para chegar a elas, devem 
ser colocadas de lado e não mais observadas. O professor Schmoller e o Dr. Ingram 
podem ser tomados como exemplos dessa ala avançada da nova escola. O primeiro 
praticamente identificaria economia política e história econômica, ou dissolveria de 
 
20
 Dirão por aí, no entanto, que o inverso não se sustenta; que é possível, em outras palavras, adotar um 
tratamento realista dos problemas econômicos sem passar por julgamentos éticos. 
 
11 
 
algum modo a economia política dentro da filosofia da histórica econômica. O último, 
cujo objetivo é de certa forma diferente, apesar de ser igualmente revolucionário em sua 
tendência, absorveria a economia política dentro da sociologia geral. 
A posição tomada pelos mais moderados partidários da escola alemã, incluindo 
o próprio Roscher, está em marcado contraste com a posição acima. Eles adotam um 
tom de moderação e uma atitude de conciliação. Embora insistam na importância da 
investigação histórica para a economia política, eles admitem a necessidade de 
empregar outros métodos em conjunção com esse; e embora tenham uma visão realista 
da ciência como um todo, eles reconhecem o valor da abstração, em grande medida em 
certos estágios preparatórios. Eles aceitam muitas das conclusões antigas mais 
características, e nos velhos termos. De acordo com o Professor Adolph Wagner, que 
deve ser tido como uma liderança representativa da seção mais moderada da nova 
escola, tanto o método indutivo quanto o dedutivo possuem seu espaço na economia. 
“Esses, então,” diz ele, “são os dois métodos: de um lado, dedução a partir dos motivos 
psicológicos – primeiro e principalmente, dedução a partir do motivo da vantagem 
individual, depois dos outros motivos; do outro lado, indução a partir da história, da 
estatística, e do menos exato e menos certo, mas indispensável, processo de observação 
e experiência comum. Com ambos os métodos nós podemos nos ocupar dos vários 
problemas da economia política, e resolvê-los até onde pudermos. Que método deve ser 
mais usado depende da natureza dos problemas particulares; mas depende também, por 
outro lado, da mente, muito provavelmente em processo de treinamento e educação, do 
próprio investigador”21. 
 
§ 4. O método da economia política não pode ser adequadamente descrito por qualquer 
frase única. – Não devemos então exagerar a oposição entre o que pode ser chamado de 
escola clássica inglesa e a nova escola. A primeira percebe mais nitidamente os 
problemas abstratos da ciência, e ao escrever sobre método mantém esses problemas em 
vista. A última percebe mais vividamente os problemas concretos, e, portanto, pôs 
ênfase em todos os pontos que a escola inglesa tendeu a negligenciar. Mas a diferença é 
 
21
 Quarterly Journal of Economics, vol I, p. 124. Em seu Lehr- und Handbuch der politischen 
Oekonomie, vol. I, p. 17, Wagner escrever algo na mesma linha. “Não é”, diz ele, “uma questão de mudar 
completamente o método da dedução, nem de substituí-lo inteiramente pelo método da indução. Não seria 
possível realizar o último objetivo; e, mesmo se fosse possível, não seria correto nem desejável. O 
problema consiste em obter um aprimoramento no procedimento dedutivo, uma fundação psicológica e 
seu desenvolvimento mais refinado e profundo, e uma aplicação mais cuidadosa, sobretudo nas questões 
práticas concretas. Para isso, deve-se adicionar atenção constante às hipóteses a partir das quais as 
deduções estão sendo feitas, e um discernimento claro dos limites necessários de aplicação do método. 
Em suma, a verdadeira solução para a disputa sobre o método não reside na seleção entre dedução ou 
indução, mas na aceitação da dedução e da indução. Cada uma delas deve ser empregada livremente onde 
for especialmente adaptada à natureza particular do problema a ser resolvido, e na medida do possível – 
isso porque nem sempre é possível – ambas devem ser combinadas, embora em casos concretos uma ou 
outra deve ter precedência”. O Dr. Von Scheel se expressa de modo similar. Diferentes métodos, ele diz, 
são adequados para a solução de problemas econômicos. “Nós devemos usar tanto métodos indutivos 
quanto dedutivos. O método mais adequado vai continuamente variar de acordo com a natureza particular 
do problema a ser solucionado”. (Handbuch, Die politische Oekonomie als Wissenschaft, §3, de 
Schönberg). O Professor Gustav Cohn pode ser citado com o mesmo propósito. A ideia, diz ele, que 
meras coleções de material histórico ou estatístico possam tornar-se disponíveis para a ciência sem 
auxílio dedutivo, não passa de uma extravagância, como a ideia oposta de que a ciência inteira possa ser 
construída a partir da dedução de hipóteses elementares (Grundlegung der Nationalokonomie, p. 35). O 
Dr. E. R. A. Seligman, novamente, escrevendo em nome dos americanos partidários do novo movimento, 
enfatiza que os mais extremados dos alemães “ultrapassaram o limite, minimizando indevidamente o 
trabalho da escola inglesa, e negado, em seu zelo muito dogmático, a possibilidade de formular quaisquer 
leis gerais”. (Science Economic Discussion, p. 21). 
 
12 
 
estritamente falando apenas de grau; e nós achamos a oposição reduzida a um mínimo, 
quando comparamos o procedimento efetivo de solução de determinados problemas 
adotados pelos melhores economistas contemporâneos, independentemente de se 
declararem membros da nova escola ou se contentarem com a classificação da antiga22. 
Quanto à doutrina a ser exposta nas páginas seguintes, é suficiente dizer aqui 
que embora grande importância seja atribuída ao espaço do método dedutivo na 
investigação econômica, e embora um protesto seja iniciado contra o espírito não-
histórico evidenciado pelos partidários do novo movimento que proclamam a 
necessidade de uma completa reorganização da ciência, ainda assim nenhuma tentativa 
será feita para justificar as doutrinas da escola antiga na forma precisa em que foram 
propostas por Mill e Cairnes. O método da economia política não pode ser 
adequadamente descrito por qualquer frase única; e correspondentemente o método de 
ninguém será advogado pela inteira exclusão dos outros métodos. Ao contrário, será 
difundido que, de acordo com o departamento especial ou aspecto da ciência sob 
investigação, o método apropriado seja tanto abstrato ou realista, dedutivo ou indutivo, 
matemático ou estatístico, hipotético ou histórico. 
 
22
 Em 1890, quando a primeira edição desse trabalho foi publicada, as controvérsias referentes a esse 
capítulo foram gradualmente menos agudas; e desde 1890 houve mais um avanço na direção do mútuo 
entendimento por parte dos economistas teóricos e dos historiadores econômicos.Veja, do Professor 
Ashley, On the Study of Economic History (Surveys: Historic and Economic, pp. 1–21).

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