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CENTRO UNIVERSITÁRIO PROF. DIONISIO ALENCAR A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA No inicio da aula, quando o professor de história começar a discorrer sobre a história da humanidade, é provável que as crianças, sedentas de curiosidade, façam as seguintes perguntas: Professor, quando a terra foi criada? Quando surgiram os primeiros homens? Essas perguntas poderão ser respondidas por vários pontos de vistas (ALENCAR, 2011 p. 40). Segundo Mota e Braick (1997, p. 3), pesquisas desenvolvidas nos campos da antropologia e da arqueologia sugerem que o homem apareceu há cerca de 5 milhões de anos, na África, e evoluiu até chegar à forma do Homo sapiens sapiens, desde 120 mil anos, capaz de produção cultural, o que o diferenciou dos outros animais. Outras pesquisas indicam a linha provável de evolução dos hominídeos, enfatizando o parentesco biológico molecular entre os humanos e os primatas. Elas mostram, por exemplo, que do ponto de vista genético, o homem e o chimpanzé são 88% idênticos. Cientistas de todo o mundo continuam procurando conclusões acerca da origem e da evolução do homem. A procura do “elo perdido” (o tão procurado espécime que dividiria características de primatas e de humanos) envolve a cada dia um número maior de pesquisadores. Antes de começarmos a discorrer sobre a história da Educação Física, é preciso entender a história da humanidade. Renomados autores afirmam que a história da humanidade começa com o surgimento da escrita, nesse sentido, tudo que aconteceu antes podemos chamar de Pré-História. De acordo com Vicentino e Dorigo (2001, p. 10), várias civilizações estabeleceram uma visão de tempo, tomando como base o movimento da terra, do sol e da lua, assim, uma volta do planeta em torno de seu eixo (rotação) foi interpretada por várias culturas como um dia, que era dividido em 24 partes iguais, chamadas de horas, esse é o “tempo cronológico”. Outras civilizações basearam-se nos períodos da existência humana, em que ocorreram os grandes eventos, esse é o denominado “tempo histórico”. Os mesmos autores afirmam que medir o tempo histórico e dividi-lo em partes ou períodos é um ato arbitrário, pois a escolha do ponto inicial da contagem do tempo e dos eventos mais importantes pode ser diversificada de uma cultura para outra, sem que haja uma concordância de todos. Por exemplo, no nosso calendário, o “calendário cristão”, quando estamos em uma determinada data, os judeus passaram dessa data há muito tempo (seu calendário está sempre 3.761 anos à frente do nosso) enquanto os muçulmanos ainda não chegaram até ela (sua contagem se inicia no ano 622 de nosso calendário). Diante do exposto, podemos asseverar que a marcação do tempo é convencionada a partir dos fatos e interesses que permeiam uma determinada cultura, facilitando uma comunicação daqueles que a pertence. Vicentino e Dorigo (2001, p. 16), baseados no calendário que herdamos da Europa cristã ocidental, afirmam que além da Pré-História, que corresponde à primeira etapa da evolução humana, e teve início com o surgimento dos primeiros hominídeos, perto de 4 milhões de anos atrás, estendendo-se até o aparecimento dos primeiros registros escritos por volta de 4000 a.C., a história divide-se em cinco grandes períodos: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Antiguidade: da invenção da escrita, aproximadamente a 4000 a.C., até a queda do Império Romano do Ocidente, 476 da era cristã. Idade Média: de 476 até a tomada de Constantinopla pelos turcos- otomanos, em 1453. Idade Moderna: de 1453 até 1789, data do início da revolução francesa. Idade Contemporânea: 1789 até os dias de hoje. Figura 1: Periodização dos tempos, segundo o calendário cristão. Fonte: Vicentino e Dorigo (2001, p. 17), Em todos esses períodos da história da humanidade, a atividade física esteve presente, seja por necessidade de vencer as barreiras impostas pela natureza, pelo caráter utilitário e utilitário-guerreiro dos primórdios, pelo caráter higiênico dos chineses, hindus e japoneses antigos, pelo aspecto pedagógico na Grécia antiga, pelo aspecto guerreiro dos romanos, pelo aspecto da origem dos esportes coletivos na idade moderna e pelo fator econômico que envolve o esporte nos dias de hoje. Ramos (1982, p. 15), relata que, dentro da acadêmica divisão da história, acompanhando a macha de ascensão do homem, documentada sobretudo no mundo ocidental, somos levados a afirmar que a prática de exercícios físicos se origina na Pré-história, afirma-se na Antiguidade, estaciona na Idade Média, fundamenta-se na Idade Moderna e sistematiza-se nos primórdios da Idade Contemporânea. Torna-se mais desportiva e universaliza seus conceitos nos nossos dias e dirige-se para o futuro, plena de ecletismo, moldada pelas novas condições de vida e ambiente. 1 EDUCAÇÃO FÍSICA NAS CIVILIZAÇÕES PRIMITIVAS Na pré-história, o homem tinha em seu cotidiano uma rotina marcada por atividades físicas. Pela necessidade da sobrevivência o homem primitivo caminhava, corria, nadava, lutava, saltava ou lançava. Essas atividades físicas eram desenvolvidas com naturalidade, visto que, fugiam de animais predadores, corriam e lutavam com animais por sua alimentação, caminhavam e corriam longos percursos em busca de rios para instalarem suas moradias, passando a utilizar as práticas da pesca, do nado e do mergulho. Outra atividade física habitual, era a luta com outros homens pelo domínio de regiões e pela disputa da caça (ALENCAR, 2011 p.42). Figura 2: Homens primitivos nômades. Fonte: http://professorevolucao.blogspot.com/2010/04/turma-maravilhosa-do-6-ano Para Marinho (1980 apud TUBINO, 1992, p. 16), os homens primitivos, enquanto nômades, contribuíram muito para a interpretação da atividade física através de sua primeira característica, o utilitarismo. Segundo esse mesmo autor, o caráter utilitário guerreiro surgiu quando o homem deixou de ser nômade, fixou-se a terra, ao lado dos grandes rios, tornando-se agricultor, e passou a participar da organização dos primeiros agrupamentos humanos que dariam origem, nos tempos seguintes, às nações dos egípcios, hindus, chineses e outras. Entretanto, os ataques dos que ainda continuavam nômades se multiplicavam, expulsando os agricultores de seus núcleos. Ao reagruparem-se novamente, iniciavam uma preparação de defesa de suas comunidades, na qual as atividades físicas passaram a preponderar. Surgiu, assim, o caráter utilitário guerreiro, que, com o utilitarismo já incorporado, permaneceu até nossos dias, associado a outras características e valores da prática de exercícios físicos. Segundo Ramos (1982, p. 16), aterrorizado por tudo que o cercava, o homem primitivo considerava sua sobrevivência como favor dos deuses, dando à sua vida, por conseguinte, sentido ritual. De várias formas, não somente empregando a dança, manifestava seu misticismo. Desde os tempos mais remotos, os exercícios corporais, rudimentares sistematizados, constituíam atos respeitosos nas grandes festividades, inclusive no culto aos mortos. O mesmo autor assevera ainda que, nos tempos pré-históricos, principalmente a partir do período paleolítico, existiam expressões de jogos utilitários e recreativos. Tais práticas, como as de hoje, sempre tiveramseu próprio cerimonial e regras estabelecidas e, geralmente tanto vencedores como vencidos aceitavam o resultado esportivamente. Para Oliveira (1983, p. 15), o ser humano apresenta comportamentos que independem de seu estágio cultural. O jogo é uma dessas manifestações. Pode-se constatar desde as épocas iletradas a existência de atividades em forma de jogo que cumpriam um papel social de maior relevância. Cabe Figura 3: A sociedade do homem primitivo. Fonte: http://fabiosurfing.blogspot. com/ salientar que as crianças também participavam. Numa espécie de preparação para a vida adulta, elas imitavam as atividades dos mais velhos. O ato de atacar, defender-se e a obrigatoriedade de locomover-se de uma região para outra, era uma constante entre os homens primitivos, essas ações os deixavam sempre em movimento, e mesmo involuntariamente, melhorava a sua condição física, nesse sentido a atividades físicas tinham uma fundamental importância (ALENCAR, 2011 p.43). Esse período que vai do surgimento do homem na terra, há cerca de 3,5 milhões de anos, até o aparecimento da escrita, por volta de 4.000 a.C., foi muito importante para a história da humanidade, pois aos poucos o homem foi desenvolvendo estratégias para resolver todos os problemas causados por ele próprio, pelos seus semelhantes, pelos animais selvagens, bem como pela própria natureza. Figura 4: Homens lutando – Mesopotâmia. Fonte: http://auladeboxe.files.wordpress.com/2010/01/357 2 EDUCAÇÃO FÍSICA NA ANTIGUIDADE As atividades físicas praticadas na Antiguidade são semelhantes às manifestações que nós chamamos hoje de Educação Física, esportes e danças. Essas atividades estão presentes em vários períodos e regiões da antiguidade (ALENCAR, 2011). Civilizações como o Egito e a China já conheciam tipos de atividades físicas organizadas, como os esportes, mas essas atividades se propagaram em sua plenitude na Grécia Antiga. De acordo com Ramos (1982) destacam-se também as populações indígenas do Novo Mundo pré-colombiano, com uma enorme gama de jogos que constituíram, geralmente, objeto de culto, recreação e preparação guerreira. Os primeiros registros de esportes na humanidade surgiram de escavações na região da Suméria (atual Iraque) e no Egito. Foram encontrados vestígios de representações de lutadores e espectadores. Na região onde ficava a Mesopotâmia (Iraque), arqueólogos acharam um pedaço de terracota com um desenho representando dois homens lutando. O objeto tem cerca de 7 mil anos. 2.1 Civilizações Orientais: Oliveira (1983, p. 17), descreve que os chineses podem ter sido os primeiros a racionalizar o movimento humano emprestando-lhe, ainda, um forte conteúdo médico. Criaram provavelmente o mais antigo sistema de ginástica terapêutica, o Kong-Fou (a arte do homem), surgido por volta de 2700 a.C. O mesmo autor afirma que a China talvez seja a civilização possuidora da mais antiga história do esporte, com registros das práticas do hipismo, do esgrima, da caça, das lutas, da natação, e de uma atividade no século III, que pode ter dado origem ao futebol de hoje, o tsu-chu. A obra intitulada “Os Exercícios Físicos na História e na Arte” de Jayr Jordão Ramos publicada em 1982 relata várias passagens importantes do esporte na Antiguidade, dentre as quais destacamos: No Egito, a prática da atividade física foi bastante evidenciada. A luta livre, o boxe, o arco e flecha, a esgrima, as corridas e os saltos, disputando primazia com a natação e o remo, foram os esportes de maior aceitação. Os povos mesopotâmicos, particularmente os assírios e babilônios, pelas suas condições de vida, cheias de imprevistos e em busca constante de novas aventuras, cultivavam exageradamente a força, a agilidade e a resistência, entregando-se a variadas atividades utilitárias. Os hititas, povos de origem incerta, destacaram-se em todos os exercícios utilitários, sendo exímios cavaleiros. Deles ficou-nos um extraordinário manual de treinamento hípico, no qual o emprego do esforço e contra esforço, na comparação de Diem, lembra o atual “interval training”. Os hindus apresentavam em suas atividades físicas as características médico-higiênica, fisiológica, moral, religiosa e guerreira. Os japoneses, cujas atividades físicas estavam relacionadas ao mar, em função das condições geográficas da região, desenvolviam também as atividades praticadas pelos guerreiros feudais, conhecidas como Samurais. De acordo com Oliveira (1983, p. 19), na região situada entre os rios Tigre e Eufrates estavam os sumérios, os caldeus ou babilônios e os assírios, ferrenhos cultores da força física e da resistência física, desenvolveram a sua formação guerreira através de um adestramento no uso do arco e flecha, na prática da equitação, na luta, etc. Tubino (1992, p. 18), sustenta que os assírios, caldeus, hebreus, medas, persas, fenícios e hititas, tinham práticas físicas ou esportivas fundamentalmente utilitárias, sempre relacionadas às guerras com as quais invariavelmente se envolviam. 2.2 Civilizações Ocidentais: As atividades físicas desenvolvidas pelas civilizações ocidentais nasceram na Grécia Antiga, onde a prática dos exercícios físicos e as manifestações artísticas sempre caminharam juntas. De acordo com Ramos (1982) vários artistas, como Miron, Praxíteles, Lísipo, Policleto, Fídias, Pitágoras, Polignato, Nauklides, Apolônio, dentre outros, tem suas obras expostas em vários museus do mundo. No campo dos poemas e das composições literárias destacaram-se Homero, Píndaro, Ésquio, Sófocles, Aristófanes, Eurípedes, Simônides e Baquílides. As obras dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles atestam o valor da Educação Física entre os Gregos. Em Roma são evidenciadas atividades físicas caracterizadas como guerreiras, tais como corridas de bigas, lutas de gladiadores e corridas a pé. Essas atividades eram desenvolvidas nos circos, nos anfiteatros e nos estádios. Quando o império romano entrou em decadência o movimento esportivo acompanhou esse caminho, deturpando até mesmo o sentido do esporte, extraordinariamente cultivado pelos gregos. Grécia Os gregos reconheciam a prática da atividade física, evidenciando os jogos e os enfrentamentos competitivos, como uma forma de preservar a saúde, um meio para adquirir a beleza e a força física, um caminho para ser reconhecido e instituir status social, bem como um treinamento para as guerras. Os eventos que envolviam a atividade física na Grécia tinham também uma finalidade educativa e faziam parte também das cerimônias religiosas da época, onde o principal objetivo era reverenciar os deuses. Segundo Oliveira (1983, p. 21), a civilização grega marca o início de um novo ciclo na história com o nascimento de um novo mundo civilizado, agora o ocidental. É o descobrimento do valor humano, de sua individualidade e o início autêntico da história da Educação Física. A filosofia pedagógica que determinou os caminhos a serem percorridos pela educação grega, tem o grande mérito de não divorciar a Educação Física da educação intelectual e espiritual. Sem dúvida, o que marcou mais a história da atividade física na Grécia antiga foram os Jogos Gregos. Esses jogos, tanto podiam ser realizados como prova de respeito aos superiores, como também podiam fazer parte das cerimônias fúnebres (ALENCAR, 2011 p. 45). Segundo Marrou (1950apud TUBINO, 1992, p. 29), os Jogos Gregos, eram festas populares, religiosas, verdadeiras cerimônias pan-helênicas, nas quais tomavam parte quase todas as cidades gregas, restritas inicialmente à Grécia Continental. No entanto, pouco a pouco, foram se estendendo às colônias e chegaram, na sua fase de decadência, ao admitir a participação de outros povos. Os Jogos Gregos marcaram o conceito inicial dos esportes. Nesse período eram disputados os Jogos Fúnebres, os Jogos Píticos, os Jogos Ístmicos, os Jogos Nemeus e os Jogos Olímpicos. Ramos (1982, p. 130), relata que, os Jogos Fúnebres eram realizados durante os funerais de personagens notáveis. Algumas cidades, como Atenas, realizavam tais certames para honrar seus guerreiros caídos em combate. No canto XIII da Ilíada, primeiro poema esportivo da história, Homero descreve, com grandiosa imagens e palavras arrebatadoras, o que foram os jogos mandados celebrar por Aquiles em honra de Pátroclo, seu fraternal amigo, morto por Heitor diante dos muros de Tróia. Antes dos jogos, Aquiles dirigiu-se a seus comandados, pronunciando: “Marmidoes! Companheiros fieis e amados! Não desatrelemos ainda os cavalos; antes de deixar os carros, acerquemos-nos do corpo de Patrócolo e honremos com nossas lágrimas, pois tal é a honra que devemos render aos mortos. Logo quando tenhamos saciado o triste pranto, desencilharemos os cavalos e aqui mesmo celebraremos o festival fúnebre”. Outros jogos fúnebres foram descritos por Homero, revelando assim um velho costume grego, dentre os quais podemos encontrar Píndaro relatando, em versos admiráveis as cerimônias fúnebres de Tleopolino, o fundador da ilha de Rodes. As vítimas das batalhas de Maratona (490 a.C.), Salamina (480 a.C.), Platéia e Leura (471 a.C.), tiveram também, em sua honra, competições glorificadoras. Os Jogos Píticos, segundo Tubino (1992, p. 30), disputado em homenagem a Apolo, foram criados em 528 a.C., eram os mais antigos e compreendiam, além das provas esportivas, as competições de poesia, canto e música. Estes jogos eram celebrados em Delfos e o prêmio, que inicialmente era sob a forma de recompensa em dinheiro, passou a ser um ramo de cedro, mais tarde substituído por uma coroa de louros. Figura 5: Escultura de Poseidon em Compenhague. Fonte: Pavilhão Literário Singrando http://singrandohorizontes.wordpress. com/2009/07/03/franz-kafka-poseidon/ Quanto aos Jogos Ístmicos, Tubino (1992, p. 30) relata que eram disputados em Corinto, a cada dois anos, tinham as mesmas provas que os Jogos Olímpicos, com ligeiras adaptações. Nesses jogos também tinham competições artísticas e intervenções de poetas e historiadores. Os vencedores recebiam uma coroa de aipo silvestre, mais tarde essa premiação foi trocada por dinheiro. Um dos aspectos mais importantes destes jogos foi que, ao lado dos Jogos Olímpicos, propiciaram tréguas nas guerras para o desenvolvimento das competições. Esses jogos eram realizados em honra a Poseidon, deus do mar, conhecido pelos romanos como Netuno. De acordo com Ramos (1982, p. 140), os Jogos Nemeus eram realizados em Philius, na Neméia, de dois em dois anos, em honra do Zeus de Kleonae. No início tinham significação fúnebre, pois foram instituídos em honra do filho de Licurgo, morto por uma serpente. Os atletas competiam classificados pela idade, em três categorias, nas corridas de estádio e hípica, na luta, no pugilato, no pancrácio e no pentatlo. Os concursos artísticos completavam a programação. Os vencedores recebiam uma coroa de mirto. Muitas cidades gregas realizavam suas festas no estilo dos Jogos Nemeus. O autor afirma ainda que, os Jogos Nemeus foram os últimos a desaparecerem, sobrevivendo por muito tempo após a destruição de Olímpia. Dentre todos os jogos que eram disputados na Grécia antiga, os Jogos Olímpicos foram os mais importantes e os que tomaram as maiores proporções. Nem os grandes conflitos entre as cidades gregas eram capazes de impedir a sua realização. Sempre reinava a paz nesses eventos. Segundo Tubino (1992, p. 31), os Jogos Olímpicos eram desenvolvidos em Olímpia, na Elida, de quatro em quatro em anos, em homenagem a Zeus (Júpiter), rei dos deuses. Estes jogos foram disputados 293 vezes, durante 12 séculos, entre 776 a.C. e 394 d.C. (para alguns autores 393 d.C.). Os jogos eram anunciados por arautos (portadores da trégua), que viajavam por toda a Grécia para anunciar “a trégua sagrada” que suspendia as guerras e divulgava o início da competição. Havia também nos Jogos Olímpicos concursos de literários, musicais e artísticos. Na organização dos jogos existia uma regulamentação precisa, dirigida pelos chamados “helenoices”, que eram pessoas de grande respeito entre os gregos e que se encarregavam de todos os aspectos organizacionais, até mesmo treinamento dos indivíduos que participavam como árbitros ou atletas. Diem (1966 apud RAMOS, 1982, p. 133), afirma que os bárbaros e os escravos podiam assistir aos jogos, ao contrário das mulheres casadas. As infrações eram castigadas com a morte, havendo exceção apenas para as sacerdotisas casadas. Ramos (1982), relata ainda que no começo os atletas usavam apenas um pequeno calção e a partir da XV Olimpíada (720 a.C.), passaram a competir inteiramente nus. Após a vitória, o vencedor apresentava-se ao árbitro, que colocava em sua cabeça um fio de lã púrpura e lhe entregava uma palma que significava a eterna juventude. O vencedor, considerado como o preferido dos deuses, recebia solenemente, como premio uma coroa de ramo de oliveira silvestre. Conforme a época, algumas recompensas foram outorgadas, como estátua no Altis (bosque sagrado), honras políticas, isenção de impostos, pensões vitalícias, dinheiro, dentre outras. Figura 6: Cidade de Olímpia na Grécia. Fonte: www.tonomundo.org.br/.../page/2/ Após um período de profunda decadência, Os Jogos Olímpicos foram abolidos em 394 d.C., pelo imperador romano Teodosio I, que convertido ao cristianismo, proibiu os cultos pagãos. Flavius Theodosius (347/395 d.C.), conhecido por Teodósio I e chamado por alguns de “O Grande”, foi o último imperador a governar as porções oriental e ocidental do Império Romano. Tornou o Cristianismo a religião oficial do Império, autorizou decretos banindo o paganismo dos territórios romanos. Por causa dessas leis, muitas pessoas morreram violentamente, monumentos gregos foram depredados, vários templos antigos e a biblioteca do Serapeum de Alexandria foram destruídos (RAMOS, 1982). Roma De acordo com Tubino (1992, p. 37), o vigor do movimento esportivo obtido na antiguidade grega esfriou na civilização romana. Roma, tendo ao norte os etruscos e ao sul os gregos, herdou dessas civilizações influências decisivas para sua cultura. Para um melhor entendimento do que ocorreu em Roma quanto à prática de atividades físicas, Ramos e Marinho (1983 e 1980 apud TUBINO, 1992, p. 37), estabeleceram três períodos distintos, o tempo de monarquia, o tempo dos cônsules e início das grandes conquistas e o tempo do império. O tempo de monarquia: esse período foi compreendido desde a fundação da cidade em 753 a.C. até 510 a.C., os exercícios físicos eram intencionalmente conduzidos para a preparação militar, recebendo muita influência dos etruscos. O tempo dos cônsules e início das grandes conquistas:período em que foram incorporados ao repertório de atividades físicas, de predominância guerreira, os exercícios físicos de características higiênicas e esportivas. Foi o período de grandes conquistas, de 510 a.C. ao ano de 30 a.C. O tempo do império: nesse 3º período, de 30 a.C. a 476 d.C., compreendendo a glória e a decadência do império romano, as atividades físicas já desenvolvidas anteriormente permaneceram, até que foram aos poucos substituídas pelos cruéis espetáculos circenses de gladiadores e naumáquias (simulações de batalhas navais). Durante esses três períodos, escritores, escultores e arquitetos romanos deixaram um enorme acervo cultural ligado aos registros das práticas físicas esportivas. O autor afirma ainda que, os romanos caracterizam-se pelos locais especializados para estas práticas, como as termas, o circo, o anfiteatro e o estádio, e, ainda, pelas festas conhecidas como jogos circenses, que se constituíram em jogos públicos e foram abolidos em 521 d.C. depois da invasão dos bárbaros. Estes jogos circenses eram inúmeros: os decenales, os capitólios, os acciacos, os quinquenales, os megalésios, os cesáreos, os florales, os campitalianos, os apolinários, os romanos, dentre outros. No entanto, o império romano foi pouco a pouco entrando em decadência e o movimento esportivo acompanhou esse caminho, deturpando até mesmo o sentido do esporte, extraordinariamente cultivado pelos gregos. Segundo Oliveira (1983, p. 30), a mais antiga instalação esportiva de Roma era o circo, concebido para a realização das corridas de carro (a grande paixão dos romanos), corridas a pé e lutas de gladiadores. O mais antigo desses circos foi o Máximo, construído ainda no império monárquico (século IV.a.C.). Coliseu foi o mais famoso anfiteatro romano, teve sua origem no final do período republicano (509/27 a.C.) e foi idealizado para abrigar festas religiosas e populares. Tinha capacidade para acomodar 100.000 pessoas (OLIVEIRA,1983, p. 30). Oliveira (1983), afirma ainda que, tanto os circos como os anfiteatros representam a decadência da civilização romana. No período imperial (a partir de 27 a.C.), transformaram-se nos locais em que multidões entusiasmadas exultavam com as deprimentes exibições dos gladiadores, lutando entre si ou com animais. Esses locais também foram palco dos degradantes espetáculos de sacrifícios humanos, onde os primitivos cristãos eram devorados por feras. Todo esse contexto fazia parte da política “pão e circo”. Os imperadores angariavam a simpatia popular, distribuindo rações diárias de trigo e alienando a plebe com esses artifícios “esportivos”, de inspiração ideológica. Figura 8: Coliseu – Anfiteatro romano. Fonte: Faces da Lona. http://facesdalona.blogspot.com/ Figura 7: Máximo – Circo romano. Fonte: Faces da Lona. http://facesdalona.blogspot.com/ 3 EDUCAÇÃO FÍSICA NA IDADE MÉDIA Segundo Vicentino e Dorigo (2001, p. 16), a periodização eurocêntrica estabelece que idade média está compreendida entre os séculos V e o século XV, ou seja, tem início em 476, com a queda de Roma, após a ocupação pelos hérulos, até a tomada de Constantinopla pelos turcos-otomanos, em 1453. Esse período durou aproximadamente mil anos. De acordo com Oliveira (1983, p. 33), podemos analisar a época medieval submetendo-a a uma divisão em dois períodos. A Alta Idade Média, que vai até o século X e foi marcado por um grande obscurantismo cultural, fruto da decadência romana e das invasões dos povos bárbaros e a Baixa Idade Média, começando no século XI e estende-se até o século XV da era cristã. Nesse último período, a partir do século XI apareceram grandes personalidades, destacando-se São Tomás de Aquino, o mais influente dos pensadores de um tipo de vida intelectual que predominou entre os séculos XI e XV, a escolástica. O movimento escolástico muito contribuiu para a criação das universidades no século XIII. Esse foi um período obscuro para a Educação Física e para as práticas esportivas, os eventos esportivos eram marcados pela violência, os princípios esportivos deixados pela Grécia foram substituídos pela brutalidade. O cristianismo pregava o descaso pelas coisas do corpo para a salvação da alma (ALENCAR, 2011, p. 51). Oliveira (1983, p. 34), aponta que, mesmo sem ter um destaque especial, as atividades físicas, receberam uma atenção cuidadosa na preparação dos cavaleiros. A cavalaria era uma instituição destinada à minoria, quase sempre aristocrática, visando o fiel cumprimento de proteção aos proprietários de terra. Os cavaleiros recebiam um treinamento onde o xadrez era a única prática intelectual. Muitos deles não sabiam ler e escrever. Eram muito hábeis na equitação, caça, esgrima, lança e arco e flecha. Os torneios e as justas (combates entre dois cavaleiros armados) representam a culminância dos exercícios físicos dos cavaleiros medievais, nos tempos de paz, como preparação para a guerra. O homem medieval, que havia abominado os espetáculos do circo e do anfiteatro, assistia agora os combates simulados, cujos desfechos eram quase sempre trágicos. O autor relata que, mesmo a pedagogia oficial não concedendo estímulos à prática esportiva, as atividades atingiam até mesmo as classes menos favorecidas, embora de modo tímido. Segundo Ramos (1982, p. 166), na Idade Média não existia a educação física escolar popular. Nos pátios dos castelos e nos campos vizinhos, os jovens se adestram na esgrima e no emprego da maça. Praticavam corrida, saltos, escaladas, natação, jogos de luta e a doma de potros. Essas atividades eram privilégio da nobreza. O povo se divertia com atividades menos custosas, exercitando-se com a prática de exercícios naturais e alguns jogos tradicionais: arremessos, lutas, caças, arco e flecha, equitação e pelota. Figura 9: Soule na Inglaterra antiga. Fonte: http://chocottone.com/blog/ index.php/tag/futebol/ 4 EDUCAÇÃO FÍSICA NA IDADE MODERNA A tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453, marca simbolicamente o início da Idade Moderna, e termina com a Revolução Francesa em 1789. Importantes acontecimentos trouxeram aprimoramento na área da educação, onde os exercícios físicos assumiram papel de alta significação. A Educação Física refletiu um passo seguro, dado em busca do seu próprio conhecimento. Para caracterizar seus primórdios, do ponto de vista cultural, utilizou-se o termo “Renascença” ou “Renascimento” (RAMOS, 1982). A Inglaterra destaca-se como um verdadeiro núcleo esportivo desse período, dando preferência às atividades coletivas. Os jogos com bola eram os mais evidenciados. Dentre eles encontramos o soule, um violento esporte jogado com as mãos e com os pés e que foi o ancestral do futebol e do rugby. Na Itália encontramos o cálcio, que foi antecessor do futebol. O jogo de malha era uma variação do soule, e era praticado com um bastão, sendo muito parecido com o hockey (OLIVEIRA,1983, p. 35). Esse período foi caracterizado como um movimento intelectual que atingiu todos os setores da sociedade: a cultura, a economia, a política, a educação e a religião, com efeitos significantes nas artes, na filosofia e nas ciências. De acordo com Ramos (1982), váriospedagogos, filósofos, artístas e homens do saber renascentistas, dedicaram suas reflexões à importância dos exercícios físicos e dos esportes, dentre eles destacamos: Erasmo de Roterdan (Holanda, 1467-1536), expoente pré-renascentista, criticando a escolástica, cooperou para a evolução da ginástica; João Calvino (França, 1508-1565), uma das maiores figuras do movimento reformista e favorável a alguns aspectos do problema pedagógico, preocupou-se pelo incremento das práticas físicas; Leonardo da Vinci (Itália, 1452-1519), sua obra mais importante relacionada com a atividade física foi Estudo dos Movimentos dos Musculos e Articulações; Gerolamo Mercuriale (Itália, 1530-1606), médico, professor e humanista, sua principal obra literária na área foi Da Arte Ginástica; Miguel Ângelo (Itália, 1475-1564), reproduziu figuras vigorosas e atléticas, mostrando grande interesse pelo corpo; Francois Rabelais (França, 1494-1553), teve como principal obra Gargântua e Pantacruel; Michel de Montaigne (França, 1533-1592), escreveu Ensaio; Francois Fénelon (França, 1651-1715), teólogo, sua obra Educação dos Jovens valeu-lhe um lugar na história da educação; Jean Jaques Rousseau (França, 1712-1778), achava que a prática da Educação Física devia correr paralelamente com a educação intelectual e que o indivíduo devia ter alimentação pura e sadia. Sua principal obra ligada a atividade física foi Emílo ou da Ginástica; Francis Bacon (Inglaterra, 1561-1623), sua obra Investigação CientÍfica enfatiza que somente se pode tirar conclusões em fatos recolhidos e estudados; Jonh Locke (Inglaterra, 1632-1704), sua obra é bastante influenciada por Rousseau e Montaigne; Thomas Morus (Inglaterra, 1478-1592), sua principal obra foi Utopia, onde prega a natureza, prevê a importância dos exercícios que mantêm e cultivam “a beleza, o vogor e a agilidade do corpo, os dons mais agradáveis da natureza”; Richard Mulcaster (Inglaterra, 1530-1611), destacou-se com seu trabalho Posições; Hoffmann (Alemanha, 1606-1742), suas obras Movimento Artificial e as Sete Regras da Saúde são muito importantes para Educação Física; Vives (Espanha, 1492-1540), animador dos jogos, que influenciou a obra de Mulcaster; Comenius (Morávia, 1592-1672), autor da Didática Magna e tido como o “primeiro evngelista da pedagogia moderna”; Pestalozzi (Suiça, 1746-1827), educador, seus ensinamentos constituíram extraordinária tentativa de pedagogia experimental, estabelecendo a unidade e a harmonia do corpo, do espírito e da alma. Todos foram precursores de uma nova tendência e avalizaram a inclusão da ginástica, jogos e esportes nas escolas. Suas idéias fertilizaram a Educação Física na segunda metade do século XVIII. Oliveira (1983, p. 36), discorre que o Renascimento representou uma reação à decadente estrutura feudal do início do século XIV. Houve um redescobrimento da individualidade, do espírito crítico e da liberdade do ser Figura 10: O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci – sintetiza o ideário renascentista: humanista e clássico. Fonte: Historia 8 carregosa. http://historia8carregosa.blogspot.com/2009/ 11/renascim ento-historia-de-um- significado.html humano. O humanismo renascente voltou a valorizar o belo, resgatando a importância do corpo, a Educação Física torna a ser o assunto dos intelectuais, numa tentativa de reintegração do físico e do estético às preocupações educacionais. Nos currículos é introduzida a Educação Física, onde o salto, a corrida, a natação, a luta, a equitação, o jogo da pelota, a dança e a pesca, são prioridades para a educação da elite. 5 EDUCAÇÃO FÍSICA NA IDADE CONTEMPORÂNEA De acordo com Alencar (2011), a Idade Contemporânea parte da Revolução Francesa e vem até nossos dias. A Revolução Francesa foi um movimento social e político que ocorreu na França no século XVIII. O objetivo principal era derrubar o antigo regime e instaurar um estado democrático que assegurasse os direitos de todos os cidadãos. Foi inspirada pelas idéias iluministas e teve como lema “Liberdade, igualdade, fraternidade”, que se alastrou por todo o mundo. Derrubou regimes absolutistas. É um exemplo clássico de revolução burguesa. Teve início em 1789. A partir do século XVIII apareceram inúmeros filósofos, pedagogos e pensadores que fixaram as bases da educação física moderna e influenciaram as escolas e sistemas posteriores. Segundo Oliveira (1983, p. 39), nesse período podemos encontrar os reais precursores de uma Educação Física que iriam se firmar no horizonte pedagógico do século seguinte. Basedow fundou em 1774, na Alemanha, o primeiro estabelecimento escolar com um currículo onde a ginástica e as disciplinas chamadas intelectuais tinham o mesmo peso. Ainda na Alemanha, Salzmann funda, em 1784, outra escola que reconhece os valores pedagógicos dos exercícios físicos. Nesse mesmo período, Pestalozzi interessou-se por Educação Física, chegando a fazer incursões até mesmo no campo da metodologia. Pestalozzi orientou a ginástica por parâmetros médicos, objetivando correções de postura. O autor relata ainda que, o século que se seguiu a Revolução Industrial e a Revolução Francesa (acontecidas no século XVIII) teve vários fatores determinantes para o desenvolvimento promissor da Educação Física e dos esportes, sendo este período desafiador para o homem contemporâneo. O crescimento das cidades e a conseqüente diminuição dos espaços livres limitavam a possibilidade de cenários apropriados aos exercícios físicos e as práticas esportivas. A permanência dos trabalhadores numa mesma posição durante longas horas de trabalho, concorrendo para o aumento de problemas posturais, o aumento das horas de estudo e a imobilidade imposta por severa disciplina criaram, para os jovens, os mesmos problemas dos trabalhadores. Todos esses fatores levaram a uma atenção maior à atividade física, nesse sentido, quatro correntes caracterizaram a historia da Educação Física durante o século XIX: A corrente alemã representa um notável impulso pedagógico aos exercícios físicos, reencarnando os ideais clássicos da educação helênica. Por influência de Rousseau, a ginástica passou a ser incluída entre deveres da vida humana. As idéias pedagógicas da época foram, de certo modo, sufocadas na Alemanha pelo o aparecimento de um novo modelo de ginástica, de conteúdo patriótico-social. A palavra Gymnastik foi substituída por Turnkunst (arte da ginástica), e ia ao encontro das necessidades do povo. O importante era formar o forte, “Viver quem pode viver” era o lema. Os exercícios físicos não eram meios de educação escolar, mas sim da educação do povo. Foram criados aparelhos de barra fixa e barras paralelas, sendo os alemães, os precursores do esporte que hoje se chama ginástica artística. Na corrente nórdica frutificaram as idéias pedagógicas alemãs, principalmente na Dinamarca. Nesse país foi criado em 1804 um instituto militar de ginástica, o mais antigo estabelecimento especializado Figura 11: Ginásio de ginástica alemã. Fonte:http://educacaohoje.no.sapo.pt/ef/ do mundo. Quatro anos depois, inaugurou-se um instituto civil de ginástica, também para formação de professores de Educação Física. Por sua vez implantou-se aginástica nas escolas. Os Suecos, arrasados em virtude da guerra com a Rússia, pretendiam que a ginástica colaborasse para elevar o moral do povo. Em 1813 foi fundado o Real Instituto Central de Ginástica de Estocolmo (hoje Escola Superior de Ginástica e Esportes). A ginástica sueca preocupava-se com a execução correta dos exercícios, emprestando-lhes um espírito corretivo, como Pestalozzi já havia feito. Na França, a ginástica foi introduzida por militares, que dominaram o panorama da Educação Física francesa ao longo do século XIX. Em 1819 foi fundado o primeiro instituto de ginástica para o exército e para as escolas civis. Apesar do marcante espírito militar, a ginástica foi introduzida nas escolas francesas, sendo ministradas quase sempre por suboficiais, sem cultura geral nem formação pedagógica. A corrente inglesa, baseada nos jogos e nos esportes, é a única das quatro correntes, nesse período, com uma orientação não-ginástica. Concebida para envolver a prática esportiva numa atmosfera pedagógico-social, a escola inglesa incorporou, no âmbito escolar, o esporte com uma conotação verdadeiramente educativa, haja vista a importância que era dada ao fair-play. Oliveira (1983, p. 43) afirma que, apesar do êxito da ginástica, esses países não se conformaram em tê-la como único instrumento para prática dos exercícios físicos. Por influência do espírito britânico, vários esportes atingiram grande popularidade. No final de século XVIII e início do século XIX, a juventude e os trabalhadores ingleses estavam com uma vida miserável, jogados as bebidas, aos jogos de azar e aos maus costumes. Tentando reverter esse quadro, a igreja e os educadores motivaram a população à prática dos jogos e dos esportes, em substituição às práticas deploráveis apresentadas. De acordo com Ramos (1982, p.230), reportando-se aos jogos, prática muito evidenciada pelos ingleses, destaca-se a figura de John Locke, o primeiro a atribuir valor educativo aos jogos, introduzindo-os nas escolas públicas. Mais tarde, ainda na primeira metade do século XIX, Thomas Arnold divulgou-os e os empregou em larga escala, atribuindo-lhes excepcional importância na formação dos jovens. O mesmo acontecendo com outras modalidades esportivas como o remo e a natação. Figura 12: Colégio de Rugby – Inglaterra. Fonte: http://virgilioneto.wordpress. com/2008/02/24/historias-e- previsoes/ Mais tarde, com a necessidade de criar entidades que coordenassem as disputas, surgiram federações e clubes. Nascia então, um componente efetivo do movimento esportivo - o associativismo, que, além de motivar a criação dos clubes, fomentou o fair play. O mesmo autor aponta que, Thomas Arnold tentou introduzir o utilitarismo no desenvolvimento do esporte moderno. Nessa premissa, ele identificava, na sua concepção de esporte, três características principais: é um jogo, é uma competição, e é uma formação. As duas primeiras características referenciavam o esporte antigo dos gregos. Entretanto, quanto à formação que o esporte propiciava, segundo Arnold, o entendimento era diferente, pois, ao contrário de Platão, que tentava unificar corpo e alma, ele considerava o corpo como um meio de contribuir à moralidade, ficando o esporte compreendido como um auxiliar do corpo. Tubino (1992) defende que o esporte moderno surgiu na Inglaterra, no Colégio de Rugby, com Thomas Arnoud, em 1928. Thomas utilizou os jogos praticados pelos aristocratas e burgueses ingleses, e os incorporou ao processo educativo. deixando que os alunos dirigissem os jogos e criassem regras e códigos próprios, dentro de uma perspectiva pedagógica, estimulando situações de fair play, respeitando as regras, os códigos, os adversários e os árbitros. Essa iniciativa, muito bem aceita por todos, não ficou restrita ao Colégio de Rugby. Logo difundiu-se para todo o povo inglês. Vários eventos e movimentos impulsionaram os esportes na era contemporânea, dentre os quais podemos destacar: Os Jogo Olímpicos da Era Moderna Ramos (1982) relata que Pierre de Fredy, o Barão de Coubertin, humanista francês, foi incomparável praticante e admirador dos esportes, e via na atividade um excelente meio de formação geral. Figura 13: Barão Pierre de Coubertin. Fonte: http://www.jornalminuano.com.br/admin/imagem_relacionadas/1217810052.jpg Em 1887, inspirado nos princípios de Thomas Arnold, resolveu organizar os tempos de recreio dos estudantes e utilizar o valor educativo dos esportes, proclamando o “meio tempo pedagógico-esportivo”. Nessa época, com 24 anos de idade, já tinha um sonho, que era reviver os Jogos Olímpicos. Após um período de reuniões e estudos sobre a maneira de como restaurar os Jogos, no dia 23 de junho de 1894, na Universidade de Sorbonne, em Paris reuniu doze nações, representadas por setenta e nove delegados, que confirmaram a proposta de realizarem o evento olímpico. Na mesma ocasião constituíram o Comitê Olímpico Internacional (COI), tendo como primeiro presidente o próprio Barão de Cobertin até o ano de 1925. No dia 6 de janeiro de 1896, no estádio de Atenas, a Grécia celebrava os Primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, com a participação de 285 atletas. Desde então, de quatro em quatro anos os Jogos foram celebrados, exceto em 1916, 1940 e 1944, devidos às duas grandes guerras mundiais, renascendo assim o Olimpismo, com o propósito de utilizar o esporte como um meio de aproximação dos povos e raças pela paz internacional (RAMOS, 1982). Renunciando à vida militar e repudiando a carreira política, com 20 anos de idade, Coubetin fez uma viagem de estudos a Inglaterra, onde direcionou o seu futuro para a educação. São suas as seguintes palavras: “O mundo exige- nos um novo homem; formemo-lo através de uma nova educação“. O Movimento Esportivo Mundial O primeiro movimento esportivo mundial moderno foi preconizado por Thomaz Arnold, então diretor do Colégio de Rugby no período de 1795 a 1842. Esse movimento foi denominado de “Cristianismo Muscular”, que tinha como finalidade a prática dos jogos educativos e exercícios desportivos, originando boa parte dos esportes atuais (RAMOS, 1982). De acordo com Tubino (1999), durante muito tempo o mundo entendeu o esporte somente pelo aspecto do rendimento. A alta performance e a sede de vitórias a todo custo provocaram reações expressivas, que podem ser caracterizadas em três movimentos: A reação da intelectualidade internacional, inconformada com os rumos perversos que o esporte vinha tomando, provocou a elaboração de artigos por autores renomados, hoje, considerados clássicos, tais como: Antonelli, Noronha Feio, Cazorla Prieto, Cagigal, Clayes, Manuel Sergio, dentre outros, e ainda conferências e comunicações em congressos internacionais. O dos organismos ligados ao esporte, que passaram a publicar documentos filosóficos que trataram do fenômeno esportivo que tiveram influência na ruptura do conceito de esporte, entendido somente na perspectiva do rendimento. Os documentos que mais podem ser colocados como referências para este período de mutação foram: o Manifesto Mundial do Esporte, editado pelo Conselho Internacional de Figura 14: Pôster dos Primeiros Jogos Olímpicosda Era Moderna. Fonte: http://www.canalolimpico.com.br/wp-content/uplo ads/2010/10/poster-olimpiadasde-Atenas-1896.jpg Educação Física e Esportes (CIEPS), da UNESCO, em 1964; a Carta Européia de Esportes para Todos, redigida e distribuída pelo Conselho da Europa, em 1966; o Manifesto Mundial de Educação Física, publicado em 1970, pela Federação Internacional e Educação Física (FIEP) e a Carta Internacional de Educação Física e Esportes, editada pela UNESCO, em 1978. E o Trim, movimento nascido na Noruega em 1967, que depois recebeu o nome de Esportes para Todos. Esse movimento chegou praticamente a todas as nações do mundo com denominações diversas, dentre elas: Trimm, na Alemanha Ocidental (1970); Participation, no Canadá (1971); Education Physique pour Tours, na França (1973), Esportes para Todos, no Brasil (1977), etc., contestava efetivamente o esporte de alto nível, evidenciando que sua elitização confrontava-se com as possibilidades democráticas da prática esportiva. A Associação Cristã de Moços Outra ação considerada propulsora do esporte moderno foi a Young Men’s Christian Association - YMCA (Associação Cristã de Moços - ACM), que além de adotar as práticas esportivas no conteúdo de suas atividades, ainda criaram novas modalidades esportivas, como o basquete em 1891, o voleibol em 1895 e futebol de salão em 1933 (TUBINO, 1992, p. 46). Figura 20: Primeira sede da Associação Cristã de Moços - Londres. Fonte:http.//rio-curiosos.blogsport.com/2009/2/associação-crista-moços.html A ACM é um movimento mundial, cristão, ecumênico e voluntário, destinado a homens e mulheres, jovens e idosos, e que procura compartilhar o A ACM foi fundada em 06 de junho de 1844, em Londres, Inglaterra. Idealizada por George Willians, na época com 23 anos de idade, Liderou um grupo de jovens imbuídos de espírito voluntarioso que reuniam-se com o propósito de melhorar a qualidade de vida da juventude da época. ideal cristão de construir uma comunidade de justiça com amor, paz e reconciliação para a plenitude da vida para toda a criação. A referida instituição associou suas ideologias religiosas aos preceitos do esporte moderno após o estabelecimento de suas sedes nos Estados Unidos, em meados do século XIX. Nesse período, é aprovado o lema que dispõe de quatro objetivos para a instituição: “a melhoria espiritual, mental, da condição social e física dos jovens”. Ao longo dos anos as ACMs se expandiram por todas as partes do mundo. Tal expansão propiciou uma vinculação da instituição a projetos esportivos de cunho educativo, tornando este um dos seus principais atrativos para a entrada de novos sócios (YMCA, 2011). O Direito de Todos à Prática do Esporte A partir da década de 70 do século XX, com a publicação dos diversos manifestos relacionados ao esporte, principalmente quando a Unesco, publicou em 1978 a Carta Internacional de Educação Física e Esportes, tem início o esporte contemporâneo. Esse manifesto, que no seu primeiro artigo estabelece que “a prática da Educação Física e do esporte é um direito fundamental para todos”, provocou modificações profundas no papel do estado diante do esporte. Possibilitou até a inclusão do tema nos textos constitucionais, como aconteceu no Brasil, na constituição de 1988. Pode-se afirmar que, depois da publicação desse documento, o mundo passou aceitar um novo conceito de esporte. Nesse contexto renovado, desenvolvido a partir do pressuposto de direito de todas as pessoas, independente de sua condição, muitos tiveram acesso às práticas esportivas. Nesse sentido, o esporte, como um direito de todos, pode ser entendido pela abrangência da suas três manifestações; o esporte-educação, o esporte participação e o esporte de rendimento, já referenciado no inicio desse texto. Atualmente, o número de idosos e portadores de deficiência física que tem o hábito de praticar esportes aumentou muito em todas essas manifestações esportivas. Eles participam desde as práticas esportivas informais do esporte participação, até os eventos do alto rendimento esportivo, que envolvem os atletas paraolímpicos e os atletas da categoria masters. 6 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL Segundo Ramos (1982), a história da Educação Física no Brasil pode ser dividida do mesmo modo que a sua história política, em três períodos, o último compreendendo três fases: 1º período: Brasil Colônia (1500 – 1822). 2º período: Brasil Império (1822 – 1889). 3º período: Brasil República (1899 até os nossos dias). Este 3º período pode ser assim dividido: - 1º fase: até 1930; - 2º fase: de 1930 a 1937; - 3º fase: de 1937 até nossos dias. 1º PERÍODO: BRASIL COLÔNIA (1500 – 1822) A mais antiga notícia sobre a Educação Física em terras brasileiras data o ano de sua descoberta, 1500. Tal fato se deve ao relato de Pero Vaz de Caminha, escrivão-mor da armada de Pedro Alves Cabral, que em uma de suas cartas ao Rei D. Manuel, relata, indígenas dançando, saltando, girando e se alegrando ao som de uma gaita tocada por um português. Esta foi certamente a primeira aula de ginástica e recreação relatada no Brasil (RAMOS, 1982). De modo geral, sabe-se que as atividades físicas realizadas pelos indígenas no período do Brasil colônia, estavam relacionadas a aspectos da cultura primitiva. Tendo como características elementos de cunho natural (como brincadeiras, caça, pesca, nado e locomoção), utilitário (como o aprimoramento das atividades de caça, agrícolas, etc.), guerreiras (proteção de suas terras); recreativo e religioso (como as danças, agradecimentos aos deuses, festas, encenações, etc.) (GUTIERREZ, 1972). Com a chegada dos Jesuítas em 1549, inicia-se a catequização do índio; pela manhã tinham aulas e a tarde era destinada a prática de atividades físicas naturais. Posteriormente, ainda no Período Colonial, criada na senzala, sobretudo no Rio de Janeiro e na Bahia, surge à capoeira, atividade ríspida, criativa e rítmica que era praticada pelos escravos (Ramos, 1982). Desta forma, podemos destacar que no Brasil Colônia, as atividades físicas realizadas pelos indígenas e escravos, representaram os primeiros elementos da Educação Física no Brasil. No campo cultural, vale ressaltar, de autoria de Luiz Carlos Muniz Barreto, o “Tratado de Educação Física e Moral”, publicado em 1787. Essa foi, possivelmente, a primeira obra sobre a Educação Física aparecida no Brasil. Há que assinalar também quatros livros publicados nesse período em Lisboa, Portugal, dois dos quais por um ilustre brasileiro, Dr. Francisco de Mello Franco. 2º PERÍODO: BRASIL IMPÉRIO (1822 a 1889) O início do desenvolvimento cultural da Educação Física no Brasil, apesar de não ter ocorrido de forma contundente, ocorreu no período do Brasil império. Pois foi nessa época que surgiram os primeiros tratados sobre a Educação Física. Gutierrez, 1972 relata que em 1823, Joaquim Antônio Serpa, elaborou o “Tratado de Educação Física e Moral dos Meninos”. Esse tratado postulava que a educação englobava a saúde do corpo e a cultura do espírito, e considerava que os exercícios físicos deveriam ser divididos em duas categorias: os que exercitavam o corpo; e os que exercitavam a memória. Além disso, esse tratado entendia a educaçãomoral como coadjuvante da Educação Física e vice-versa. Essa obra, lançada em Pernambuco, foi a primeira especializada publicada no Brasil. De 1845 em diante assinalaram-se alguns trabalhos sobre Educação Física, principalmente nas teses de doutorados da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. O Início da Educação Física escolar no Brasil, inicialmente denominada Ginástica, ocorreu oficialmente com a reforma Couto Ferraz, em 1851. No entanto, foi somente em 1882, que Rui Barbosa, na Câmara dos Deputados, ao lançar o parecer sobre a “Reforma do Ensino Primário, Secundário e Superior”, denota importância à Ginástica na formação do brasileiro. Nesse parecer, Rui Barbosa relata a situação da Educação Física em países mais adiantados politicamente e defende a Ginástica como elemento indispensável para formação integral da juventude (Ramos, 1982). Em resumo, o projeto relatado por Rui Barbosa, buscava instituir uma sessão essencial de Ginástica em todas as escolas de ensino normal; estender a obrigatoriedade da Ginástica para ambos os gêneros (masculino e feminino), uma vez que as meninas não tinham obrigatoriedade em fazê-la; inserir a Ginástica nos programas escolares como matéria de estudo e em horas distintas ao recreio e depois da aula; além de buscar a equiparação em categoria e autoridade dos professores de Ginástica em relação aos professores de outras disciplinas (Darido e Rangel, 2005). As mesmas autoras afirmam que a implementação da ginástica nas escolas, inicialmente ocorreu apenas em parte do Rio de Janeiro, capital da República, e nas escolas militares. 3º PERÍODO: BRASIL REPÚBLICA (1899 até os nossos dias) - 1º fase: de 1899 a 1930; - 2º fase: de 1930 a 1937; - 3º fase: de 1937 até nossos dias. 1º fase (1889 a 1930) Levando em conta a sistematização da Educação Física, nos primeiros tempos da República, somente o exército e a marinha utilizavam a ginástica, mesmo assim de maneira precária. De acordo com Ramos (1982) nos últimos anos do século XIX, o esporte, de maneira pouco expressiva, começou a despertar o interesse da juventude. Em 1893, a Associação Cristã de Moços estabeleceu-se no Brasil, implantando no Rio de Janeiro e em São Paulo, o basquetebol, o voleibol e a ginástica calistênica. Posteriormente, o remo ficou como o esporte de preferência. Foram fundados vários clubes de remo e natação, onde, várias provas aconteceram, principalmente no Rio de Janeiro. Em 1904, iniciam-se os primeiros passos para a fundação da Escola de Educação Física da Força Pública do Estado de São Paulo, o mais antigo estabelecimento especializado no gênero do Brasil. Nesta fase, ficou célebre o projeto apresentado pelo Dr. Jorge de Morais (1905), que pedia ao Congresso Nacional: a criação de duas Escolas de Educação Física, uma civil e outra militar e o comissionamento de pessoal idôneo para sua instalação; a aquisição de terrenos para a prática de jogos ao ar livre nas escolas superiores e a instituição da prática da ginástica sueca. Em 1907, a Missão Militar Francesa, contratada para ministrar instrução militar a Força Pública do Estado de São Paulo, funda na referida milícia, uma sala d’armas, destinada ao ensino e prática de esgrima origem da Escola de Educação Física da Força Pública do Estado de São Paulo, o mais antigo estabelecimento especializado de todo o Brasil. Em 1909, cria-se a escola em apreço, que então forma os primeiros “Mestre de Esgrima”. A 10 de janeiro de 1922, o Ministro da Guerra baixa uma portaria criando o Centro Militar de Educação Física. Este empreendimento representa a formação do núcleo do qual resultaria, mais tarde a Escola de Educação Física do Exército. Em 1927 a Escola de Preparação de monitores, mantida pela Liga de Esportes da Marinha, diploma a sua primeira turma de monitores. No ano de 1928, a direção da Educação Física na Escola Militar foi entregue ao Major Segur, da Missão Militar Francesa. A reforma Fernando de Azevedo, em 1928, é outro glorioso esforço em prol da Educação Física. Em 1929 entra em funcionamento o Curso Provisório de Educação Física, calcado nos moldes do Centro Militar de Educação Física. 2º fase (1930 a 1937) Em 1930 é criado o Ministério de Educação e Saúde Pública. Em 1931, o Governo Federal, por decreto de 18 de abril aprova a reforma Francisco Campos, pela qual ficou estabelecida a obrigatoriedade da Educação Física nos estabelecimentos de ensino secundário. Ainda em 1931 é criado o departamento de Educação Física da Escola Militar. Em junho entram em vigor os programas de Educação Física calcados no Método Francês e que vigoraram até 1944, sem sofrer qualquer modificação. Em abril de 1932 são adotadas em todas as Unidades do Exército a primeira e terceira parte do Regulamento de Educação Física (Método Francês). A 19 de outubro de 1933, por decreto do Governo Federal é criada a Escola de Educação Física do Exército, pela transformação do centro Militar de Educação Física. Os programas de Educação Física, baixados em 1931 pelo Ministério da Educação, precedidos de uma orientação metodológica, vieram emprestar unidade de doutrina ao trabalho que se desenvolvia em alguns estabelecimentos de ensino secundário, até então entregues a orientação dos caprichos e extravagâncias de cada professor, quase sempre auto didata e de conhecimentos rudimentares. A criação de órgãos especializados dos estados de São Paulo e Espírito Santo e, posteriormente, das respectivas Escolas, representam novos focos de irradiação de idéias e ensinamentos para melhoramento do físico, da moral de nossa gente. As publicações especializadas proliferam, os decretos se multiplicam e culminam com a criação da Divisão de Educação Física do Ministério de Educação e Saúde, quando se verifica reorganização dos serviços a ele afetos. Mais de um milheiro de especialistas disseminam-se pelo Brasil como se fossem missionários de uma nova fé, distribuídos entre instrutores, professores de educação física, médicos especializados, monitores, mestre d’armas e massagistas desportivos. 3º fase (1937 até nossos dias.) O cuidado devotado à Educação física pela nossa Carta Constitucional de 1937, assinala o início de uma promissora era para o seu desenvolvimento. Os governos estaduais começam a criar órgãos administrativos especializados e instrutores encarregado da formação profissional de especialistas. Integrando a Universidade do Brasil, foi criada em 1939, a Escola Nacional de Educação Física e Desportos, empreendimento de grande significação e, de há muito aspirado. Um dos acontecimentos de maior significado foi, sem dúvida, a realização Primeiro Congresso Pan-americano de Educação Física, realizado em 1943 no Rio de Janeiro, sob os auspícios do Ministério da Educação e Saúde e a assistência técnica da sua divisão de educação física. Brasil contemporâneo (até 1980) * Este texto foi extraído do artigo “Educação Física no Brasil: da origem até os dias atuais” de autoria do prof. Everton Rocha Soares, publicado na Revista Digital EFDeportes.com. No Período que compreende o pós 2ª Guerra Mundial, até meados da década de 1960 (mais precisamente em 1964, início do período da ditadura brasileira), a Educação Física nas escolas mantinham o caráter gímnico e calistênico do Brasil república (Ramos, 1982). Com a tomada do Poder Executivo brasileiro pelos militares, ocorreu um crescimento abrupto do sistema educacional, onde o governo planejou usar asescolas públicas e privadas como fonte de programa do regime militar (Darido e Rangel, 2005). Naquela época o governo investia muito no esporte, buscando fazer da Educação Física um sustentáculo ideológico, a partir do êxito em competições esportivas de alto nível, eliminando assim críticas internas e deixando transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento (Darido e Rangel, 2005). Fortalece-se então a idéia do esportivismo, no qual o rendimento, a vitória e a busca pelo mais hábil e forte estavam cada vez mais presentes na Educação Física. Dentre uma das importantes medidas que impactaram a Educação Física no período contemporâneo, está a obrigatoriedade da Educação Física/Esportes no ensino do 3º Grau, por meio do decreto lei no 705/69 (Brasil., 1969). Segundo Castellani Filho (1998), o decreto lei no 705/69 (Brasil., 1969), tinha como propósito político favorecer o regime militar, desmantelando as mobilizações e o movimento estudantil que era contrário ao regime militar, uma vez que as universidades representavam um dos principais pólos de resistência a esse regime. Desta forma, o esporte era utilizado como um elemento de distração à realidade política da época. Ademais, a Educação Física/Esportes no 3º Grau era considerada uma atividade destituída de conhecimentos e estava relacionada ao fazer pelo fazer, voltada a formação de mão de obra apta para a produção (Darido e Rangel, 2005). No entanto, o modelo esportivista, também chamado de mecanicista, tradicional e tecnicista, começou a ser criticado, principalmente a partir da década de 1980. Entretanto, essa concepção esportivista ainda está presente na sociedade e na escola atual (Darido e Rangel, 2005). Educação Física na atualidade, a partir de 1980 A Educação Física ao longo de sua história priorizou os conteúdos gímnicos e esportivos, numa dimensão quase exclusivamente procedimental, o saber fazer e não o saber sobre a cultura corporal ou como se deve ser (Darido e Rangel, 2005). Durante a década de 1980, a resistência à concepção biológica da Educação Física, foi criticada em relação ao predomínio dos conteúdos esportivos (Darido e Rangel, 2005). Atualmente, coexistem na Educação física, diversa concepções, modelos, tendências ou abordagens, que tentam romper com o modelo mecanicista, esportivista e tradicional que outrora foi embutido aos esportes. Entre essas diferentes concepções pedagógicas pode-se citar: a psicomotricidade; desenvolvimentista; saúde renovada; críticas; e mais recentemente os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil., 1997). A concepção pedagógica psicomotricidade, foi divulgada inicialmente em programas de escolas “especiais”, voltada para o atendimento de alunos com deficiência motora e intelectual (Darido e Rangel, 2005). É o primeiro movimento mais articulado que surgiu à partir da década de 1970, em oposição aos modelos pedagógicos anteriores. A concepção psicomotricidade tem como objetivo o desenvolvimento psicomotor, extrapolando os limites biológicos e de rendimento corporal, incluindo e valorizando o conhecimento de ordem psicológica. Para isso a criança deve ser constantemente estimulada a desenvolver sua lateralidade, consciência corporal e a coordenação motora (Darido e Rangel, 2005). No entanto, sua abordagem pedagógica tende a valorizar o fazer pelo fazer, não evidenciando o porquê de se fazer e como o fazer. Já o modelo desenvolvimentista por sua vez, busca propiciar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido, oferecendo- lhe experiências de movimentos adequados às diferentes faixas etárias (Darido e Rangel, 2005). Neste modelo pedagógico, cabe aos professores observarem sistematicamente o comportamento motor dos alunos, no sentido de verificar em que fase de desenvolvimento motor eles se encontram, localizando os erros e oferecendo informações relevantes para que os erros sejam superados. A perspectiva pedagógica saúde renovada, diferentemente das citadas anteriores, tem por finalidade convicta e às vezes única, de ressaltar os aspectos conceituais a cerca da importância de se conhecer, adotar e seguir conceitos relacionados à aquisição de uma boa saúde (Darido e Rangel, 2005). Por outro lado, as abordagens pedagógicas críticas, sugerem que os conteúdos selecionados para as aulas de Educação Física devem propiciar a leitura da realidade do ponto de vista da classe trabalhadora (Darido e Rangel, 2005). Nessa visão a Educação Física é entendida como uma disciplina que trata do conhecimento denominado cultura corporal, que tem como temas, o jogo, a brincadeira, a ginástica, a dança, o esporte, etc., e apresenta relações com os principais problemas sociais e políticos vivenciados pelos alunos (Darido e Rangel, 2005). Em 1996, com a reformulação dos PCNs, é ressaltada a importância da articulação da Educação Física entre o aprender a fazer, o saber por que se está fazendo e como relacionar-se nesse saber (Brasil., 1997). De forma geral, os PCNs trazem as diferentes dimensões dos conteúdos e propõe um relacionamento com grandes problemas da sociedade brasileira, sem, no entanto perder de vista o seu papel de integrar o cidadão na esfera da cultura corporal. Os PCNs buscam a contextualização dos conteúdos da Educação Física com a sociedade que estamos inseridos, devendo a Educação Física ser trabalhada de forma interdisciplinar, transdisciplinar e através de temas transversais, favorecendo o desenvolvimento da ética, cidadania e autonomia. De forma geral, pode-se concluir que a Educação Física vem se desenvolvendo no Brasil a partir de importantes mudanças político-sociais e que atualmente é vista como um elemento essencial para a formação do cidadão Brasileiro. Referências (específicas do artigo “Educação Física no Brasil: da origem até os dias atuais” de autoria do prof. Everton Rocha Soares) Betti, M. Educação Física e Sociedade. São Paulo: Movimento. 1991. Brasil. Decreto-lei 705/ 69, de 25 de julho de 1969. Altera a redação do artigo 22 da Lei nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961. D.O.U. de 28.7.1969, 1969. Brasil. Parâmetros curriculares nacionais : Educação física Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF 1997.. Castellani Filho, L. Política educacional e educação física. Campinas Autores Associados. 1998. Darido, S. C. e Rangel, I. C. A. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2005. Gutierrez, W. História da Educação Física. 1972. Ramos, J. J. Os exercícios físicos na história e na arte. São Paulo: Ibrasa. 1982. Educação Física: a regulamentação da profissão Em 1º de Setembro de 1998, o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sanciona a lei 9696/98, publicada no Diário Oficial da União em 02/09/98. No dia 08 de novembro do mesmo ano na cidade do Rio de Janeiro, a Federação Brasileira das Associações de Profissionais de Educação Física (FBAPEF) elegeu os primeiros membros do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), estes eleitos pelas Associações de Professores de Educação Fisica - APEFs e Instituições de Ensino Superior em Educação Física. Na ocasião, o Prof. Jorge Steinhilber, então presidente do Movimento Nacional pela Regulamentação do Profissional de Educação Física, apresentou a chapa dos Conselheiros, sendo aprovada por todos os presentes. Foram eleitos os seguines 18 primeiros Conselheiros Federais de Educação Física: Alberto dos santos Puga Barbosa, Almir A. Gruhn, Antonio RicardoCatunda de Oliveira, Carlos Alberto O. Garcia, Edson Luiz Santos Cardoso, Flávio Delmanto, Gilberto José Bertevello, João Batista A. Gomes Tojal, Jorge Steinhilber, Juarez Muller, Laércio Elias Pereira, Manoel José Gomes Tubino, Marcelo F. Miranda Marino Tessari, Paulo Robertto Bassoli, Renato M. de Moraes, Sérgio K. Sartori, Walmir Vinhas. A posse solene dos primeiros membros do CONFEF foi realizada no dia 10 de janeiro de 1999, na abertura do 14º Congresso Internacional de Educação Física da FIEP, em Foz do Iguaçu-PR, como agradecimento ao apoio da Federação ao Movimento da Regulamentação, cerca de 1.500 congressistas presenciaram este acontecimento histórico. REFERÊNCIAS ALENCAR, Dionisio Leonel de. A História do Esporte: pré-história, antiguidade e origem das regras. Curso Olimpíada e Cidadania. Universidade Aberta. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2011. DARIDO, Suraya Cristino. e RANGEL, Irene Conceição. Educação física na Escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2005. GUTIERREZ, Washington. História da Educação Física. Porto Alegre: Escola de Educação Física do Instituto Porto Alegre, 1972. MOTA, Myriam Becho; BRAICK, Patrícia Ramos. História: das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 1997. OLIVEIRA. Vitor Marinho. O Que é Educação Física. São Paulo: Brasiliense, 1983. RAMOS, Jayr Jordão. Os Exercícios Físicos na Historia e na Arte. São Paulo: IBRASA, 1982. SOARES, Everton Rocha. Educação Física no Brasil: da origem até os dias atuais. Revista Digital EFDeportes.com. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd169/educacao-fisica-no-brasil-da-origem.htm>. Acesso em: 17 de mai. 2013. TUBINO. Esporte e Cultura Física. São Paulo: Ibrasa, 1992. ______, O Que é Esporte. São Paulo: Brasiliense, 1999. VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Para o Ensino Médio: história geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2001. YMCA – Associação Cristã de Moços. Disponível em: http://www.acm-sp- ymca.com.br/. Acesso em: 04 de jan. 2011. Não paginado.
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