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1 Lógica Matemática Argumentos: Regras de Inferência Fábio Gondim fmgondim@terra.com.br http://fabio.iesp.googlepages.com Argumento: Raciocínio, indício ou prova pelo qual se tira uma conseqüência ou dedução (Dicionário Aurélio). Um argumento é um conjunto de proposições em que se pretende justificar ou defender uma delas, a conclusão, com base nas outras, que se chamam premissas. 2 Inferência 1. Ato ou efeito de inferir; indução, conclusão, ilação. 2. Lóg. Passagem da premissa à conclusão; ilação. (Dicionário Aurélio) Inferir 1. Tirar por conclusão; deduzir pelo raciocínio (Dicionário Aurélio) 3 Argumento na Lógica Proposicional (Fonte: Iniciação a Lógica Matemática de Edgard de Alencar Filho) Argumento: Sejam P1, P2, ..., Pn (n ≥ 1) e Q proposições quaisquer, simples ou compostas. Definição – Chama-se argumento toda a afirmação de que uma dada seqüência finita P1, P2, ..., Pn (n ≥ 1) de proposições tem como conseqüência ou acarreta uma proposição final Q. 4 As proposições P1, P2, . . . , Pn são as premissas do argumento, e a proposição final Q é a conclusão do argumento. Um argumento de premissas P1, P2, ..., Pn e de conclusão Q indica-se por: P1, P2, ..., Pn ├── Q E pode ser lido das seguintes formas: a) “P1, P2, ..., Pn acarretam Q” b) “Q decorre de P1, P2, ..., Pn” c) “Q se deduz de P1, P2, ..., Pn” d) “Q se infere de P1, P2, ..., Pn” 5 Validade de um Argumento Um argumento P1, P2, ..., Pn ├── Q é válido se e somente se a conclusão Q é verdadeira todas as vezes que as premissas P1, P2, ..., Pn são verdadeiras. Um argumento não-válido é um sofisma. Teorema – Um argumento P1, P2, ..., Pn ├── Q é válido se e somente se a condicional: (P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn ) → Q é tautológica. Esta proposição resultante é denominada CONDICIONAL ASSOCIADA 6 2 Condicional Associada Dado um argumento P1, P2, ..., Pn ├── Q, obtém-se a sua condicional associada trocando-se o símbolo de acarreta (├──) pela implicação (→) e dispondo a conjunção das premissas como o antecedente e a conclusão como conseqüente. Exemplo: Construir a “condicional associada” a cada um dos seguintes argumentos: a) ~P, ~Q → P├── Q (~P ∧ (~Q → P) ) → Q b) P, P→ Q, ~Q ∨ (R ∧ S) ├── R ∧ S (P ∧ (P→ Q) ∧ (~Q ∨ (R ∧ S) ) ) → (R ∧ S) 7 Validade Mediante Tabelas-Verdade As tabelas-verdade podem ser usadas para demonstrar a validade de qualquer argumento. Para verificar a validade de um argumento P1, P2, ..., Pn ├── Q, utilizando-se este método, obtém-se a sua condicional associada: (P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn ) → Q e constrói-se a tabela-verdade da expressão resultante. O argumento será considerado válido se a tabela-verdade da condicional associada representar uma tautologia, ou seja a última coluna, a da expressão, só apresentar valores lógicos verdadeiros. Ex.: Demonstrar, usando tabela-verdade, a validade do seguinte argumento: P↔ Q, Q ├── P. 8 Argumento: P ↔ Q, Q ├── P Condicional Associada: ((P ↔ Q) ∧ Q) → P 9 P Q P ↔ Q (P ↔ Q) ∧∧∧∧ Q ((P ↔ Q) ∧∧∧∧ Q) → P V V V V V V F F F V F V F F V F F V F V A condicional associada ao argumento é tautológica, logo o argumento é válido. Exercícios Demonstrar, usando tabela-verdade, a validade dos seguintes argumentos: a) P ├── P ∨ Q b) P ∧ Q ├── P c) P, Q ├── P ∧ Q d) P→ Q ├── P → (P ∧ Q) e) P→ Q, P ├── Q f) P→ Q, ~Q ├── ~P g) P ∨ Q, ~P ├── Q h) P→ Q, Q → R ├── P → R 10 Argumentos Válidos Fundamentais Os argumentos básicos, de uso corrente, a seguir, são considerados argumentos válidos fundamentais: 01) Adição (AD): p ├── p ∨ q; p ├── q ∨ p; 02) Simplificação (SIMP): p ∧ q ├── p; p ∧ q ├── q; 03) Conjunção (CONJ): p, q ├── p ∧ q; p, q ├── q ∧ p; 04) Absorção (ABS): p → q ├── p → (p ∧ q); 05) Modus ponens (MP): p → q, p ├── q; 06) Modus tollens (MT): p → q, ~q ├── ~p; 07) Silogismo disjuntivo (SD): p ∨ q, ~p ├── q; p ∨ q, ~q ├── p; 08) Silogismo hipotético (SH): p → q, q → r ├── p → r; 09) Dilema construtivo (DC): p → q, r → s, p ∨ r ├── q ∨ s; 10) Dilema destrutivo (DD): p → q, r → s, ~q ∨ ~s ├── ~p ∨ ~r; 11 Regras de Inferência Os argumentos da lista anterior são usados para fazer inferências, isto é, executar os passos de uma dedução ou demonstração, e por isso chamam-se, também, regras de inferência. É habitual escrevê-los na forma padronizada indicada a seguir – colocando-se as premissas sobre um traço horizontal e a conclusão sob o mesmo traço. 12 3 13 Regra da Adição (AD) Dada uma proposição p, dela se pode deduzir a sua disjunção com qualquer outra proposição. p ───────── p ∨ q p ───────── q ∨ p Exemplo: r ∧ s ───────── (r ∧ s) ∨ t 14 Regra da Simplificação (SIMP) Da conjunção (p ∧ q) de duas proposições se pode deduzir cada uma das proposições, p ou q. p ∧ q ───────── p p ∧ q ───────── q Exemplo: r ∧ (s ∨ t) ───────── (s ∨ t) 15 Regra da Conjunção (CONJ) Permite deduzir de duas proposições dadas: p e q (premissas), a sua conjunção: p ∧ q ou q ∧ p (conclusão) p q ───────── p ∧ q p q ───────── q ∧ p Exemplo: r s ∨ t ───────── r ∧ (s ∨ t) 16 Regra da Absorção (ABS) Dada uma condicional (p → q) como premissa, dela se pode deduzir, como conclusão, outra condicional com o mesmo antecedente p e cujo conseqüente é a conjunção (p ∧ q) das duas proposições que integram a premissa. p → q ────────── p → (p ∧ q) Exemplo: r → (s ∨ t) ────────── r → (r ∧ (s ∨ t)) 17 Regra Modus Ponens (MP) A partir de p → q e p (premissas) permite deduzir q (conclusão) . p → q p ───────── q Exemplo: r → (s ∨ t) r ────────── s ∨ t 18 Regra Modus Tollens (MT) Permite, a partir das premissas: p → q (condicional) e ~q (negação do conseqüente), deduzir como conclusão ~p (negação do antecedente). p → q ~q ───────── ~p Exemplo: r → (s ∨ t) ~(s ∨ t) ────────── ~r 4 19 Regra do Silogismo Disjuntivo (SD) Possibilita deduzir da disjunção (p ∨ q) de duas proposições e da negação ~p (ou ~q) de uma delas a outra proposição q (ou p). p ∨ q ~p ───────── q p ∨ q ~q ───────── p Exemplo: r ∨ (s ∨ t) ~(s ∨ t) ────────── r 20 Regra do Silogismo Hipotético (SH) Permite, dadas duas condicionais: p → q e q → r (premissas), tais que o conseqüente da primeira coincide com o antecedente da segunda, deduzir uma terceira condicional p → r (conclusão) cujo antecedente e conseqüente são respectivamente o antecedente da premissa p → q e o conseqüente da outra premissa q → r. p → q q → r ───────── p → r Exemplo: (r ∨ s) → p p → (s ∧ t) ──────────── (r ∨ s) → (s ∧ t) 21 Regra do Dilema Construtivo (DC) Dadas duas condicionais e a disjunção de seus antecedentes, como premissas, podemos deduzir como conclusão a disjunção dos conseqüentes das duas condicionais. p → q r → s p ∨ r ───────── q ∨ s Exemplo: p → (r ∧ s) r → t p ∨ r ───────── (r ∧ s) ∨ t 22 Regra do Dilema Destrutivo (DD) Dadas duas condicionais e a disjunção da negação de seus conseqüentes podemos deduzir, como conclusão, a disjunção da negação dos antecedentes destas condicionais. p → q r → s ~q ∨ ~s ───────── ~p ∨ ~r Exemplo: p → (r ∧ s) q → t ~(r ∧ s) ∨ ~t ───────── ~p ∨ ~q Adição (AD) Modus Ponens (MP) Modus Tollens (MT) p ───── p ∨ q p ───── q ∨ p p → q p ────── q p → q ~q ────── ~p Simplificação (SIMP) Silogismo Disjuntivo (SD) p ∧ q ───── p p ∧ q ───── q p ∨ q ~p ────── q p ∨ q ~q ────── p Conjunção (CONJ) Silogismo Hipotético (SH) p q ───── p ∧ q p q ───── q ∧ p p → q q → r ────── p → r Absorção (ABS) Dilema Construtivo (DC) Dilema Destrutivo (DD) p → q ──────── p → (p ∧ q) p → q r → s p ∨ r ─────── q ∨ s p → q r → s ~q ∨ ~s ─────── ~p ∨ ~r Exemplo 1 Demonstrar, usando Regras de Inferência, a validade do argumento: p → q, p ∧ r├── q (1) p → q PREMISSA (2) p ∧ r PREMISSA ───────────────────── (3) p 2 – SIMP (4) q 1, 3 – MP 24 5 Exemplo 2 Demonstrar, usando Regras de Inferência, a validade do argumento: p → (q → r), p → q, p ├── r (1) p → (q → r) PREMISSA (2) p → q PREMISSA (3) p PREMISSA ───────────────────── (4) q → r 1, 3 – MP (5) q 2, 3 – MP (6) r 4, 5 – MP 25 Exemplo 3 Demonstrar, usando Regras de Inferência, a validade do argumento: p ∧ q, p ∨ r → s ├── p ∧∧∧∧ s (1) p ∧ q PREMISSA (2) p ∨ r → s PREMISSA ───────────────────── (3) p 1 – SIMP (4) p ∨ r 3 – AD (5) s 2, 4 – MP (6) p ∧∧∧∧ s 3, 5 – CONJ 26 Validade Utilizando Regras de Inferência e Equivalências Alguns argumentos não podem ser demonstrados com o uso exclusivo das dez regras de Inferência vistas. Algumas vezes é necessário que se recorra a um princípio de inferência adicional chamado “Regra de substituição”. Regra de substituição: Uma proposição qualquer P, ou apenas uma parte dela, pode ser substituída por uma proposição equivalente, e a proposição Q obtida é equivalente à P. Isto significa que as premissas que compõem o argumento, ou apenas algumas delas, podem ser substituídas por uma equivalência qualquer que o argumento resultante será equivalente conforme demonstrado no exemplo a seguir. 27 Exemplo Demonstrar a validade do argumento: p ∨ (q ∧ r), p ∨ q → s ├── p ∨∨∨∨ s (1) p ∨ (q ∧ r) PREMISSA (2) p ∨ q → s PREMISSA ───────────────────────────── (3) (p ∨ q) ∧ (p ∨ r) 1 – DIST (4) p ∨ q 3 – SIMP (5) s 2,4 – MP (6) p ∨∨∨∨ s 5 – AD 28 Exercícios Usando Regras de Inferência, prove a validade dos seguintes argumentos: 1) P → (Q → R), P → Q, P ├── R 2) P ∨ Q → ~R, P, S → R ├── ~S 3) P → Q, P ∧ Q → R, ~(P ∧ R) ├── ~P 4) P ∧ (Q ∨ R), Q ∨ R → ~S, S ∨ T ├── T 5) P ∨ Q → ~R, Q, S ∧ T → R ├── ~(S ∧ T) 6) P → Q, ~Q, ~P ∨ ~R → S ├── S 7) S ∧ ~R, Q → R, ~Q → T ├── S ∧ T 8) ~S ∨ (T ∧ R), S, R → ~Q, P → Q ├── ~P 29 Demonstração Condicional Método útil para demonstrar a validade de um argumento e que pode ser utilizado, apenas, quando a sua conclusão tem a forma condicional: P1, P2, ..., Pn ├── Q → R Ele consiste em adicionar o antecedente da condicional ao conjunto de premissas do argumento fazendo com que o conseqüente se torne a conclusão: P1, P2, ..., Pn, Q ├── R E então provar que é tautológica a condicional: (P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn, Q ) → R 30 6 Esta técnica baseia-se em que, pela “Regra de Importação”, subsiste a seguinte equivalência: (P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn) → (Q → R) ⇔⇔⇔⇔ ((P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn) ∧ Q )) → R 31 Exemplo 1 Demonstrar, usando Demonstração Condicional, a validade do argumento: R ∧ P → ~S, P, Q → S ├── R → ~Q (1) R ∧ P → ~S PREMISSA (2) P PREMISSA (3) Q → S PREMISSA (4) R PREMISSA ADICIONADA ──────────────────────────────── (5) R ∧ P 2, 4 – CONJ (6) ~S 1, 5 – MP (7) ~Q 3,6 – MT 32 Exemplo 2 Demonstrar, usando Demonstração Condicional, a validade do argumento: p ∨ (q → r), ~r ├── q → p (1) p ∨ (q → r) PREMISSA (2) ~r PREMISSA (3) q PREMISSA ADICIONADA ──────────────────────────────── (4) p ∨ (~q ∨ r) 1 – COND (5) (p ∨ ~q) ∨ r 4 – ASSOC (6) p ∨ ~q 2, 5 – SD (7) ~~q 3 – DN (8) p 6, 7 – SD 33 Exercícios Utilizando D.C., prove a validade dos seguintes argumentos: 1) P → Q, P ∨ ~R ├── R → Q 2) P ∨ (Q → R), ~R ├── Q → P 3) ~P, ~R → Q, ~S → P ├── ~(R ∧ S) → Q 4) R ∧ P → ~S, P, Q → S ├── R → ~Q 5) ~R ∨ ~S, Q → S ├── R → ~Q 6) P → ~Q, ~ ( R ∧ ~P ) ├── Q → ~R 7) P ∨ Q → R, S → ~R ∧ ~T, S ∨ U ├── P → U 34 Demonstração Indireta Neste método, para provar a validade do argumento: P1, P2, ..., Pn ├── Q, devemos provar que a partir das premissas P1, P2, ..., Pn, Q (premissa adicionada), podemos chegar a uma contradição do tipo P ∧ ~P. Teorema: O argumento P1, P2, ..., Pn ├── Q é válido SSE (se e somente se) o argumento P1, P2, ..., Pn, Q ├── F* for válido. *F representa uma contradição do tipo: P ∧ ~P. A técnica da demonstração indireta é bastante utilizada na matemática e pode ser chamada também de demonstração por absurdo. 35 Exemplo 1: Demonstrar a validade do argumento utilizando D.I.: p → ~q, r → q ├── ~(p ∧ r) (1) p → ~q PREMISSA (2) r → q PREMISSA (3) p ∧ r PREMISSA ADICIONADA (negação da conclusão) ────────────────────────────────── (4) p 3 – SIMP (5) r 3 – SIMP (6) ~q 1, 4 – MP (7) q 2, 5 – MP (8) q ∧ ~q 6, 7 – CONJ (Contradição) 36 7 Exemplo 2: Demonstrar a validade do argumento utilizando D.I.: ~p → q, ~q ∨ r, ~r ├── p ∨ s (1) ~p → q PREMISSA (2) ~q ∨ r PREMISSA (3) ~r PREMISSA (4) ~(p ∨ s) PREMISSA ADICIONADA (negação da conclusão) ────────────────────────────────── (5) ~p ∧ ~s 4 – DM (6) ~p 5 – SIMP (7) q 1, 6 – MP (8) ~q 2, 3 – MP (9) q ∧ ~q 7, 8 – CONJ (Contradição) 37 Exercícios Usando Demonstração Indireta, prove a validade dos seguintes argumentos: 1) P → Q ∨ R , ~R , P ├── Q 2) ~P → Q , ~Q ∨ R , ~R ├── P ∨ S 3) ~( P ∧ Q ), P → R, Q ∨ ~R ├── ~P 4) P → ~Q, ~R → ~P, Q ∨ ~R ├── ~P 5) ~P ∨ ~Q, R ∨ S → P, Q ∨ ~S, ~R ├── ~(R ∨ S) 6) P ∨ Q, S → ~P, ~(Q ∨ R) ├── ~S 38 Bibliografia • ABE, Jair Minoro; SCALZITTI, Alexandre; FILHO, João I. da Silva. Introdução à lógica para a ciência da computação. São Paulo: Arte & Ciência, 2002. • ALENCAR FILHO, Edgard de. Iniciação à lógica matemática. São Paulo: Nobel, 2002. • DAGHLIAN, Jacob. Lógica e álgebra de Boole. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006. • SILVA, Flávio S. Corrêa da; FINGER, Marcelo; MELO, Ana C. Vieira de. Lógica para computação. São Paulo: Thompson Learning, 2006. 39
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