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O material ora apresentado ao aluno é mero auxilio as aulas ministradas em sala. Não tira, portanto, do aluno a responsabilidade de estudar em outras fontes de informação tais como: doutrinas, indicadas pela Docente que serão também exigidas em provas. AULA INTERVENÇÃO DE TERCEIRO, ASSISTÊNCIA, DENUNCIAÇÃO DA LIDE, CHAMAMENTO AO PROCESSO, INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E AMICUS CURIAE . 1 – INTERVENÇÃO DE TERCEIRO. CONCEITO: Ocorre o fenômeno processual chamado intervenção de terceiro quando alguém ingressa, como parte ou coadjuvante da parte, em processo pendente entre outras partes. A intervenção, sempre facultativa para o terceiro, não é, porém, arbitrária. Só pode ocorrer naquelas hipóteses especialmente previstas pela lei processual. 1.1 – Classificação: assistência (arts. 119 a 123); denunciação da lide (arts. 125 a 132); chamamento ao processo (arts. 130 a 132); Incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137); amicus curiae ( art. 138). 2 – DA ASSISTÊNCIA. 3 Conceito: dá-se a assistência quando o terceiro, na pendência de uma causa entre outras pessoas, tendo interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma das partes, intervém no processo para prestar-lhe colaboração. O assistente, não é parte da relação processual – pelo menos na modalidade de assistência simples - e nisso se distingue do litisconsorte. Sua posição é de terceiro que tenta apenas coadjuvar uma das partes a obter vitória no processo. 3.1 Pressupostos da intervenção: a) existência de uma relação jurídica entre uma das partes e o terceiro (assistente); b) possibilidade de vir a sentença a influir na referida relação; A intervenção do terceiro, como assistente, pressupõe interesse. Mas seu interesse não consiste na tutela de seu direito subjetivo, mas na preservação ou na obtenção de uma situação jurídica de outrem que possa influir positivamente na relação jurídica não-litigiosa entre ele, assistente, e a parte assistida. O interesse do assistente deverá ser jurídico, isto é, deve relacionar-se com um vínculo do terceiro com uma das partes. Ex: Se “A”., dono de uma coisa, convenciona alugá-la ou emprestá-la a “B” e a “C”., ajuíza uma ação reivindicatória sobre a mesma coisa, é intuitivo que “B”, tem interesse jurídico em que “A”, saia vitorioso na causa, pois, caso contrário, não poderá desfrutar da coisa que foi objeto do contrato. Legítima será, destarte, sua intervenção no processo para ajudar “A”, a obter sentença que lhe seja favorável. 3.2 Assistência Simples e Assistência litisconsorcial. 3.2.1 – Assistência Simples ou Adesiva: diz-se simples ou adesiva quando o terceiro tem interesse jurídico no resultado da sentença, cujo resultado possa vir a influir de modo relativo nesta situação. Os efeitos da decisão do processo, para autorizar a assistência simples, são apenas indiretos ou reflexos, visto que a relação material invocada pelo interveniente não será objeto de julgamento, por não integrar o objeto litigioso. O assistente simples é mero auxiliar da parte assistida, por isso não pode contrariar a linha de defesa nem praticar atos de disposição de direitos ou interesses, como confessar, transigir, renunciar ou desistir. 3.2.2 – Assistência Qualificada ou Litisconsorcial: dá-se a assistência litisconsorcial quando o direito em litígio pertence tanto ao assistido como ao assistente, de tal forma que este poderia ter proposto a ação individualmente ou em litisconsórcio com o assistido, figurando como parte principal. Ex.: herdeiro que intervém na ação em que o espólio é parte representada pelo inventariante. A sentença a ser proferida perante o espólio não terá apenas reflexo para o herdeiro, mas efeito direto e imediato sobre seu direito de herança litigiosa. Embargos do Devedor. A mulher pode intervir, como assistente litisconsorcial, nos embargos do devedor opostos pelo marido, alegando a nulidade da fiança prestada apena pelo varão. 2.2.3- Requisitos: a) há de haver uma relação jurídica entre o interveniente e o adversário do assistido; b) essa relação há de ser normada pela sentença. 3.3 – Pressuposto da Assistência Litisconsorcial. A Substituição Processual, é em regra o pressuposto da assistência litisconsorcial, alguém está em juízo defendendo, em nome próprio, direito alheio (art. 18). Embora o terceiro seja titular do direito litigioso, sua defesa em juízo, por alguma excepcional autorização da lei, está sendo promovida por outrem. Mesmo não sendo parte processualmente, a coisa julgada o atingirá. O assistente litisconsorcial é aquele que mantém relação jurídica própria com o adversário da parte assistida e que assim poderia desde o início da causa figurar como litisconsorte facultativo. Seu ingresso posterior, como assistente, assegura-lhe, assim, o status processual de litisconsorte. 3.4 – Cabimento da intervenção assistencial. - art. 119 - § único. - Enquanto não há coisa julgada, é possível a intervenção do assistente, mesmo que já exista sentença e a causa esteja em grau de recurso. 3.5 – Procedimento. a) a assistência deve ser requerida, por petição do terceiro interessado, dentro dos autos em curso. Ambas as partes serão ouvidas e qualquer delas poderá impugnar o pedido, em 15 dias, constados da intimação ; b) se não houver impugnação, ao juiz caberá, simplesmente, admitir a assistência sem maior apreciação em torno do pedido; c) todavia, se houver impugnação, esta só poderá referir-se à falta de interesse jurídico do terceiro para interferir a bem do assistido- art. 120, § único; d) procedimento da impugnação art. 120, § único. 3.6 Poderes e Ônus Processuais do Assistente. a) pode o assistente produzir provas, requerer diligências e perícias, apresentar razões e participar de audiências; art. 121. b) sujeita-se, aos ônus ou encargos que tocam ao assistido. Por isso, “se o assistido for vencido, o assistente será condenado ao pagamento das custas em proporção à atividade que houver exercido no processo – art. 94; c) Se a assistência se der em favor do demandado revel ou de qualquer outro modo omisso “o assistente será considerado seu substituto processual” art. 121, § único. Os prazos que, para o revel, correria independentemente de intimação passarão a depender, então da ciência a ser dada ao assistente, como substituto processual do assistido. d) a participação do assistente é acessória, pressupõe a do assistido, que é a principal; e) essas limitações, restringem-se à assistência simples ou adesiva; A assistência não pode impedir – art. 122, que: a) o autor desista da ação e provoque a extinção do processo; b) o réu reconheça a procedência do pedido, provocando julgamento de mérito contrário à parte assistida; c) as partes ponham fim ao litígio mediante transação; d) ou as partes renunciem ao direito sobre o qual se funda a ação. O assistente litisconsorcial é parte no processo e como tal, sujeita-se, a eficácia da coisa julgada e não pode formular pedido novo, pois o que lhe é permitido é simplesmente aderir aso pedidos já formulados pela parte à qual se coliga ; 3.7 – Recursos. Art. do CPC; * O recurso de terceiro prejudicado é uma forma de intervenção de terceiro em grau de recurso ou, mais propriamente, uma assistência na fase recursal, porque, no mérito, o recorrente jamais pleiteará decisão a seu favor, não podendo ir além do pleito em benefício de uma das partes do processo.Segundo o entendimento mais condizente com o instituto da assistência simples, a legitimidade para recorrer do assistente não esbarra na inexistência de proposição recursal da parte assistida, mas na vontade contrária e expressa dessa no tocante ao direito de permitir a continuidade da relação processual. Desta forma, se o assistido deixar de recorrer, “o recurso do assistente evitará a preclusão”, por se tratar de omissão contumacial, ou de simples inércia na interposição do recurso pelo assistido. Se, contudo, a parte principal tiver expressamente manifestado a vontade de não recorrer, renunciando ao recurso ou desistindo daquele já interposto, o assistente não poderá apresentar recurso próprio, pois a sua atuação fica vinculada à manifestação de vontade do assistido. 3- A Assistência e a Coisa Julgada O assistente litisconsorcial é parte do processo e, como tal, sujeita-se, normalmente, à eficácia da coisa julgada, frente à sentença que decidir a causa. A essa regra restritiva, porém, o código abre duas exceções, para permitir ao assistente simples a reabertura de discussão em torno do que foi decidido contra o assistido, e que ocorrem quando alegar e provar que – art. 123: a) Pelo estado em que recebera o processo, ou pelas declarações e atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença. – inciso I; b) Desconhecia a existência de alegações ou de provas da quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu – inciso II. 4 – DENUNCIAÇÃO DA LIDE. Conceito: consiste em chamar o terceiro (denunciado), que mantém um vínculo de direito com a parte (denunciante), para vir responder pela garantia do negócio jurídico, caso o denunciante saia vencido no processo. Art. 125 – Casos em que tem cabimento a denunciação a lide: I – o de garantia da evicção; II – o do direito regressivo de indenização; I – refere-se ao chamamento do alienante, quando o adquirente a título oneroso sofre reivindicação da coisa negociada por parte do terceiro. (evicção) Se o adquirente não lançar mão da denunciação da lide e vier a sucumbir perante a reivindicação da outra parte, não poderá exercitar, contra o transmitente, o direito de garantia que da evicção lhe resultaria. II – refere-se a denunciação da lide àquele que estiver obrigado por lei ou contrato, a indenizar o denunciante, em ação regressiva, pelo prejuízo que eventualmente advier da perda da causa. 4.1- Responsabilidade Civil do Estado: A denunciação, para que o Estado exercite a ação regressiva contra funcionário faltoso, realmente não é obrigatória. Mas, uma vez exercitada, não pode ser recusada pelo juiz. Em se tratando de responsabilidade civil do estado, é a constituição que, ao mesmo tempo que consagra o dever objetivo da Administração, de reparar o dano causado por funcionário a terceiros, institui também a ação regressiva do estado contra o funcionário responsável, desde que tenha agido com dolo ou culpa (art. 37, § 6º). 4.2 – Obrigatoriedade da denunciação da lide. - art. 125- a denunciação da lide é admissível nas hipóteses em que é cabível. Essa admissibilidade decorre do direito material e não da lei processual. A parte que pretender sentença que envolva, além da causa principal, também o direito de regresso contra o terceiro responsável pela garantia de seu direito envolvido no litígio, admitirá o uso de denunciação da lide. 4.3 – Não cabe denunciação da lide: - Não cabe nas ações fundadas no código de defesa do consumidor, oriundas de relação de consumo – Lei 8.078/1990, art. 88; - Nos embargos à execução, por seu âmbito restrito e específico; 4.4 – Legitimação: Pode denunciar: o autor, o réu, em face do alienante da coisa evicta. São legitimados passivos: o alienante a título oneroso, o responsável pela indenização regressiva – art. 125, I e II. 4.5 – Procedimento: 4.5.1 Denunciação feita pelo autor: Quando a denunciação da lide parte do autor, deverá fazê-lo na própria petição inicial, junto com o requerimento de citação do réu. Ex: “um veículo foi objeto de apreensão policial promovida por alguém que se diz dono é vítima de furto. O comprador, então, move ação reivindicatória ou possessória e, desde, logo, inclui o vendedor na demanda como responsável pelo garantia da evicção.” Na petição inicial, portanto, será pedida a citação do denunciado, juntamente com a do réu, fundada em pretensão regressiva da qual o autor se alega titular. Haverá, assim, um litisconsórcio eventual inicial entre o réu e o denunciado. O denunciado será citado antes do réu, para ter a oportunidade de eventualmente assumir a posição de litisconsorte do autor e aditar, se lhe convier, a petição inicial com novos argumentos. O juiz deverá marcar o prazo de resposta do denunciado, e o processo ficará suspenso (art. 126). Em princípio por 30 dias, para residente na comarca, e de dois meses para residente em outra Comarca, ou em lugar incerto. (art.131) 4.5.2 Posição do Denunciado: a) permanecer inerte, deixando escoar o prazo de 30 dias, caso em que findo o prazo de comparecimento, o denunciado incorrerá em revelia, e o juiz determinará a citação do réu, prosseguindo-se a ação sem mais intimações pessoais ( art. 346); ou b) comparecer e aceitar a qualidade que lhe é atribuída pelo denunciante, o denunciado assume a posição de litisconsorte do autor, caso em que poderá acrescentar novos argumentos à petição inicial; c) Negar a qualidade que lhe é atribuída pelo denunciante, caso em que o autor prosseguirá com a ação contra o réu e terá, mesmo assim, assegurado o direito a ver solucionado na sentença final o direito decorrente da evicção, ou da responsabilidade por perdas e danos a cargo do denunciado, conforme apurado no processo. Só depois de solucionado o incidente da citação do denunciante é que, restabelecido o curso do processo, se realizará a citação do réu – art. 127. 4.6 – Denunciação feita pelo réu: a) o réu deverá fazer a denunciação da lide no prazo para contestar a ação – art. 126; b) é conveniente que o réu faça a denunciação da lide no prazo da contestação 30 dias na mesma Comarca e 2 meses em Comarca diversa ou em lugar incerto; c) Ao denunciado, o juiz marcará o prazo de resposta (15 dias) e, após sua citação, poderá ocorrer uma das seguintes hipóteses prevista pelo art. 128: 4.6.1– Posição do Denunciado: * o denunciado terá o prazo de 15 dias para se manifestar, podendo: a) aceitar a qualidade que lhe é atribuída pelo denunciante e contestar o pedido, tornando-se dele litisconsorte; b) silenciar deixando o prazo escoar em branco, tornando-se revel, o denunciante poderá deixar de prosseguir em sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-se de recorrer, restringindo sua atenção à ação regressiva (inciso II). Diante do desinteresse do denunciado, pode o denunciante desistir da contestação antes produzida, ou, caso não o faça e a sentença lhe seja adversa, poderá usar dos recursos cabíveis, sem que essa atitude comprometa a garantia de regresso. Nesse caso, o réu denunciante passa a se preocupar única e exclusivamente com a ação secundária de garantia, na tentativa de obter êxito em seu pedido de regresso. c) comparecer, aceitar a qualidade que lhe é atribuída e confessar os fatos alegados pelo autor na petição inicial, poderá o denunciante prosseguir na defesa ou aderir a tal reconhecimento e apenas pedir a procedência da ação de regresso – art. 128, III4.7– Efeitos da Denunciação da Lide. a denunciação provoca cumulação de ações; o denunciante perdendo a causa originária, já obterá sentença também sobre a sua relação jurídica perante o denunciado e estará, dispensado de propor nova demanda para reclamar a garantia da evicção ou a indenização de perdas e danos devida pelo denunciado; Num só ato judicial, duas condenações serão proferidas: uma contra o denunciante e em favor do demandante; e outra contra o denunciado, em favor do denunciante, desde que este tenha saído vencido na ação principal e que tenha ficado provada a responsabilidade do primeiro. Quando, porém, o denunciante for vitorioso na causa principal, não haverá julgamento de mérito na demanda regressiva. Esta ficará simplesmente prejudicada e, o juiz condenará o denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado – art. 129. A propósito dos honorários deve ser observado: a) Se o denunciante sair vencido na ação originária e vencedor na denunciação referente à evicção, o denunciado será condenado nos encargos da ação regressiva e no reembolso daqueles a que o evicto for condenado a pagar ao evictor. b) Se a denunciação for prejudicada pela vitória do denunciante na ação originária, haverá condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado. 4.8 – Recursos. Se a admissibilidade da denunciação da lide for rejeitada na fase de saneamento da causa, ter-se-á configurado decisão interlocutória, o recurso cabível, será o agravo; Quando a apreciação se der na sentença, o recurso será o de apelação. 4.9 – Denunciação Sucessiva. O novo código não acolheu a sistemática do código de 1973. Em primeiro lugar, autorizou à parte denunciar a lide àquele que lhe transmitiu o bem que corre o risco de evicção – art. 125- I Apenas tão somente uma única denunciação sucessiva foi permitida, que é a promovida pelo denunciado ao transmitente imediato, ou seja, daquele de quem ele adquiriu o bem litigioso – art. 125 § 2º 5 – CHAMAMENTO AO PROCESSO. Conceito: é o incidente pelo qual o devedor demandado chama para integrar o mesmo processo os coobrigados pela dívida, de modo a fazê-los também responsáveis pelo resultado do feito. O Chamamento ao processo é uma faculdade e não uma obrigação do devedor demandado. Só o réu pode promover o chamamento ao processo. 5.1 Cabimento. É admissível ao processo de conhecimento (cognição). 5.2 – Casos de Admissibilidade do Incidente Conforme o art. 130, é admissível o chamamento ao processo: a) Do afiançado, na ação em que o fiador for réu; b) Dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; c) Dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum; 5.3 – Procedimento. O réu deve propor o incidente na contestação – art. 131. E a citação do chamado deverá ser promovida: I- no prazo de trinta dias, se o chamado residir na mesma Comarca; ou II- em dois meses, se residir em outra Comarca, ou em lugar incerto. Não sendo promovida a citação no devido prazo, o chamamento tornar-se-á sem efeito – art. 131. Haja ou não aceitação do chamamento, pelo terceiro, ficará este vinculado ao processo, de modo que a sentença que condenar o réu terá, também, força de coisa julgada contra o chamado. 5.4 - Chamamento ao Processo em Caso de Seguro de Responsabilidade Civil. A nova conceituação do contrato de seguro de responsabilidade civil feita pelo C.C/2002 teve importante repercussão sobre a intervenção da seguradora na ação indenizatória intentada pela vítima do sinistro. Não é mais o reembolso de seus gastos que o seguro de responsabilidade civil cobre. O ofendido tem, portanto, ação que pode exercer diretamente, tanto contra o segurado como contra a seguradora. Embora, a jurisprudência não admita que a ação seja intentada apenas e exclusivamente contra a seguradora – súmula 529/STJ. 6 - INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. O Código Civil de 2002 em seu artigo 50, assim dispõe: “em caso de abuso de personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”. Assim, coube à jurisprudência dar forma à desconsideração. Demonstrando o credor estarem presentes os requisitos legais, o juiz deveria levantar o véu da personalidade jurídica para que o ato de expropriação atingisse os bens particulares de seus sócios, de forma a impedir a concretização de fraude à lei ou contra terceiros. Somente após a desconsideração, os sócios eram chamados a integrar a lide e interpor os recursos cabíveis. Suprindo a lacuna processual, o novo código cuidou da matéria nos arts. 133 a 137, traçando o procedimento a ser adotado na sua aplicação, de maneira a submetê-lo, adequadamente, à garantia do contraditório e ampla defesa. 6.1 – A desconsideração inversa da personalidade jurídica. Essa modalidade particular de desconsideração atualmente encontra previsão no novo código de processo civil, no art., 133, § 2º, restando, assim, suprida a lacuna do direito material e chancelada a jurisprudência a respeito. Mas é preciso que sejam preenchidos os requisitos do art. 50, do C.C, pois não é ilícito a formalização e capitalização de pessoa jurídica, em si. Daí que, somente por meio de demonstração da fraude cometida pelo sócio, é que se poderá alcançar a desconsideração inversa. Ex. A confusão patrimonial verificada quando o sócio devedor age como verdadeiro “dono” ou “controlador” da sociedade, retirando do caixa da empresa, mediante expedientes lícitos ou ilícitos, formais ou informais, o necessário para sua manutenção e de sua família. “Se o sócio não possui dinheiro em suas contas pessoais, mas está a usufruir dos benefícios derivados da retirada que faz na sociedade”, comete fraude que deve ser coibida para impedir os efeitos da confusão patrimonial. 6.2 – Procedimento do Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica. I- Desconsideração Requerida com a Petição Inicial: Pode o autor, ao ajuizar a ação, apresentar provas da utilização indevida da personalidade jurídica da empresa e requer a sua desconsideração, para atingir os bens particulares dos sócios ou administradores responsáveis pelos atos fraudulentos. Nesse caso, o requerente promoverá a citação do sócio ou da pessoa jurídica para integrar a lide e contestar o pedido de desconsideração – art. 134, § 2º. Assim, não será necessária a instauração de um incidente específico, nem mesmo a suspensão do processo, na medida em que a defesa a respeito da desconsideração será apresentada pelos réus com a contestação. II- Desconsideração Requerida como Incidente: Se o Requerente não tiver conhecimento da fraude ao ajuizar a ação, o pedido pode ser feito posteriormente, durante a marcha processual, por meio de simples petição em que se comprovem os requisitos legais. Em tal circunstância, a instauração do incidente suspenderá o processo – art. 134, § 3º. O incidente pode ser instaurado em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial – art. 134. A instauração do incidente e desconsideração será imediatamente comunicada ao distribuidor paraas anotações – art 134, § 1º, em decorrência da ampliação subjetiva da relação processual originária. Além disso, o sócio ou a pessoa jurídica serão citados para apresentar defesa e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 dias, - art. 135, a fim de cumprir a garantia fundamental do contraditório. O incidente deverá ser julgado pelo juiz logo após a defesa ou depois de realizada a instrução, se necessária, por meio de decisão interlocutória, contra a qual caberá agravo de instrumento – art.136, caput, e 1015, IV. Se o incidente for resolvido em sede recursal, pelo relator, a decisão será atacável por meio de agravo interno – art. 136, § 1º. III - Desconsideração Requerida em Execução ou no Cumprimento de Sentença. Na hipótese de desconsideração da personalidade jurídica ser requerida nos autos da execução ou durante o cumprimento de sentença, mesmo quando a formulação do pedido se der na própria petição inicial ou no requerimento do cumprimento da sentença será sempre obrigatória a observância do incidente regulado pelos arts., 134 e 136. É que o procedimento executivo, em sua forma pura, não tem sentença para resolver sobre a responsabilidade nova (a do sócio ou da pessoa jurídica não devedores originariamente) e, sem tal decisão, faltará título executivo para sustentar o redirecionamento da execução. 6.3 – Efeitos da Desconsideração da Personalidade Jurídica. O principal efeito da desconsideração da personalidade jurídica é imputar aso sócios ou administradores da empresa a responsabilidade pelos atos fraudulentos praticados em prejuízo de terceiros. Desta forma, a indenização será assegurada não apenas pelos bens da pessoa jurídica, mas, também, pelo patrimônio pessoal dos sócios ou administradores envolvidos. Ocorrendo a desconsideração inversa, a pessoa jurídica será responsabilizada por obrigações contraídas por seu sócio, de modo que o patrimônio daquela será utilizado para a reparação dos danos provocados. 6.4 – Prevenção contra a Fraude. Dispõe o novo Código que a partir do acolhimento do pedido de desconsideração, a alienação ou oneração de bens, havida em fraude a execução, será considerada ineficaz em relação ao requerente – art. 137. Ou seja, antes mesmo que se verifique a penhora, os credores serão acautelados com a presunção legal de fraude, caso ocorram alienações ou desvios de bens pelas pessoas corresponsabilizadas. Como a penhora só será viável depois da decisão do incidente, a medida do art. 137 resguarda, desde logo, a garantia extraordinária que se pretende alcançar por meio da desconsideração. Da mesma forma que se passa com a fraude cometida dentro da execução ordinária, a presunção legal de fraude do art. 137 pressupõe que o sujeito passivo da desconsideração da personalidade jurídica já tenha sido citado para o incidente, quando praticar o ato de disposição. Antes da citação, o devedor ou responsável não fica imune à consequências da fraude, mas se sujeita ao regime de fraude contra credores e não fraude à execução. Note-se, outrossim, que o negócio jurídico acaso praticado após a instauração do incidente não será nulo, mas apenas ineficaz, não surtirá efeitos em relação ao credor requerente. Por essa razão, os bens desviados poderão ser penhorados, sem embargo de pertencerem aos terceiros adquirente, para o fim de garantir a execução ajuizada em desfavor da pessoa jurídica ou de seus sócios ou administradores. 7- AMICUS CURIAE. O amicus Curiae, ou amigo do Tribunal, previsto pelo NCPC entre as hipóteses de intervenção de terceiros – art. 138, mostra-se- preponderantemente, como auxiliar do juízo em causas de relevância social, repercussão geral ou cujo objeto seja bastante específico, de modo que o magistrado necessite de apoio técnico. Sua participação é meramente opinativa a respeito da matéria objeto da demanda. 7.1- Natureza Jurídica O amicus curiae, é um auxiliar especial do juiz, a quem cabe fornecer informações técnicas reputadas relevantes para o julgamento da causa. Sua interferência é, pois, típica e particularíssima, seja pelas condições em que se dá, seja pelo objetivo visado. Trata-se de modalidade interventiva cuja finalidade é permitir que terceiro intervenha no processo para a defesa de interesses institucionais tendentes a serem atingidos pela decisão, viabilizando, com a iniciativa, uma maior legitimação na decisão a ser tomada, inclusive perante aqueles que não tem legitimidade para intervir no processo. 7.2 – Procedimento da Intervenção I- Requisitos para a Intervenção: A participação do amicus curiae no processo pode dar-se por inciativa do juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou do próprio amigo do Tribunal. Será cabível se: a) Se a matéria discutida nos autos for relevante; b) O tema objeto da demanda for específico; c) A controvérsia tiver repercussão social. Presente um desses requisitos, o juiz poderá solicitar ou admitir a sua manifestação, por meio de decisão irrecorrível – art. 138. O magistrado é livre para decidir acerca da conveniência ou não da intervenção do amicus curiae. Entretanto deve expor suas razões de fato e de direito que o levaram a admitir ou não a participação do amido do Tribunal. II- Quem Pode Atuar como Amicus Curiae: Pode ser pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada – art. 138. É fundamental, contudo, que tenha conhecimento específico, sobre a matéria objeto da lide, de modo a propiciar ao juiz elementos e informações relevantes para bem solucionar a causa. III- Prazo e Oportunidade para Manifestação. Uma vez convocado a se manifestar, o amigo do tribunal deve fazê-lo no prazo de 15 dias, a contar de sua intimação, - art. 138. Sua intervenção é meramente colaborativa, não tem por função comprovar fatos, mas, sim, opinar sobre eles, interpretá-los segundo seus conhecimentos técnicos específicos, a fim de auxiliar o juiz no julgamento do feito. Assim, entende a doutrina que a participação do amicus curiae pode dar-se a qualquer momento, desde que seja assegurado o contraditório para as partes com ele dialogarem. IV- Representação por Meio de Advogado: A intervenção do terceiro, como amicus curiae, quando realizada espontaneamente, só pode dar-se por meio de representação por advogado, por ser esta a forma legal obrigatória de pleitear em juízo. Quando, porém, a inciativa é do próprio órgão judicial, que procura obter contribuição técnica para melhorar avaliação da causa, não há como sujeitar o interveniente a se fazer representar por advogado para apresentar a manifestação requisitada pelo juízo. 7.3- Poderes do Amicus Curiae O novo código não determinou especificamente os poderes do amicus curiae, dispondo, apenas, que caberá ao juiz ou relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir seus poderes – art. 138 §2º. Contudo a jurisprudência do STF, admite que poderá fazer sustentação oral e apresentar informações e memoriais nos autos: na dicção do Ministro Celso de Mello, ocorre “ a necessidade de assegurar, ao amicus curiae, mais do que o simples ingresso formal no processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, a possibilidade de exercer a prerrogativa da sustentação oral perante esta Suprema Corte”. 7.4- Deslocamento de Competência A legislação atual foi expressa em determinar que a intervenção do amicus curiae “não implica alteração de competência”, razão pela qual, ainda que o terceiro seja ente daadministração pública federal, não haverá, nos processos afetos e outras justiças, o deslocamento de competência para a justiça federal. Art. 138, § 1º - primeira parte. 7.5- Custa e Honorários Processuais. O amicus curiae é um colaborador do juízo, razão pela qual se encontra dispensado do pagamento de custas, despesa e honorários. Entretanto, ressalta- se que ele poderá ser condenado como litigante de má-fé- art. 79.
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