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Outros aspectos da Tipicidade Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz traz discussões que ocorrem principalmente no campo da punibilidade do agente que praticou as condutas. Elas levantam discussões interessantes sobre a interpretação do iter criminis. Por isso, para aproveitar adequadamente a discussão, é importante relembrar os passos percorridos durante o iter criminis: • Cogitação; • Preparação; • Execução; • Consumação; Saber eles, é essencial para compreender o momento em que cada uma destas práticas ocorre. Desistência Voluntária: A desistência voluntária é prevista no artigo 15 do Código Penal. No dispositivo, define-se a conduta como a situação na qual o agente desiste de prosseguir a execução do resultado que seria obtido com o crime, de forma voluntária. Isso significa que ele passou pela fase de preparação e iniciou a fase de execução. No entanto, antes de terminar a execução, desiste do ato. Seu exemplo clássico é o cônjuge que envenena o café de sua parceira e o serve. Antes de a parceira beber, porém, ele joga a xícara no chão e diz que estava envenenada, desistindo do crime. Neste caso, a pessoa voluntariamente desistiu de terminar a execução do crime. Isso ocorre antes mesmo que ele possa gerar resultados, não configurando, na prática, o crime que era originalmente intencionado. Por isso, a desistência voluntária também é chamada de tentativa abandonada. Arrependimento Eficaz: O arrependimento eficaz é previsto no mesmo artigo 15 do Código Penal, em sua segunda metade. Segundo o dispositivo, arrependimento eficaz ocorre quando o agente voluntariamente impede que o resultado daquilo que já praticou venha a ocorrer. Isso quer dizer que, no arrependimento eficaz, toda a execução do iter criminis foi feita – ou seja: a fase executória já foi esgotada. Resta ao agente apenas impedir a consumação. Utilizando o exemplo anterior, em um caso de arrependimento eficaz, o cônjuge envenena o café, serve à parceira e deixa que ela beba. Só após que ela termina de beber a xícara, ele se percebe voluntariamente arrependido. Imediatamente e de maneira voluntária, ele busca um antídoto e salva a parceira, não permitindo que a consumação do resultado (morte) ocorra. Arrependimento Posterior: O arrependimento posterior é previsto no artigo 16 do Código Penal, que possui a seguinte redação: "Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços". O instituto tem natureza jurídica de causa obrigatória de diminuição de pena (de um a dois terços), analisado na terceira fase do cálculo da pena. Crime Impossível: Crime impossível, ou tentativa inidônea, tentativa inadequada, quase crime ou ainda quase morte, é aquele ato que jamais poderia ser consumado em razão da ineficácia absoluta do meio empregado ou pela impropriedade absoluta do objeto. Em resumo, é um crime impossível de se realizar, cujas duas hipóteses legais estão previstas no artigo 17 do código penal. Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. Assim, temos as duas hipóteses, ou condições: • Delito impossível por ineficácia absoluta do meio - a ineficácia absoluta do meio se traduz na impossibilidade do instrumento utilizado consumar o delito de qualquer forma. São frequentemente citados como exemplos deste tipo: usar um alfinete ou palito de dente para matar uma pessoa adulta ou querer produzir lesões corporais mediante o mero arremesso de um travesseiro de pluma. Dentro desta categoria está também a hipótese chamada tentativa irreal ou supersticiosa, onde o sujeito deseja matar a vítima através de ato de magia ou bruxaria. • Delito impossível por impropriedade absoluta do objeto material - ocorre quando a conduta do agente não é capaz provocar qualquer resultado lesivo à vítima. Outro exemplo bastante utilizado neste caso, é a ação destinada a matar um cadáver. Tentativa: Para que haja tentativa, portanto, é necessário que haja três elementos que caracterizam o crime. Em primeiro lugar, o agente deve possuir dolo em relação ao crime total. Isso significa ser necessário que o agente queira praticar aquele crime tentado. O segundo elemento é o início da execução. Utilizando-se um homicídio com arma de fogo como exemplo, é necessário que o agente puxe o gatilho (inicie a execução) para que haja a tentativa. O terceiro elemento – e definitivo para que haja um crime tentado – é a não consumação do crime. E resultado da tentativa não pode levar ao que era esperado (caso contrário, seria um crime consumado). A não consumação deve ocorrer, no crime tentado, por fatores alheios à vontade do agente. Art. 14. Diz-se o crime: Tentativa II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Parágrafo único: Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Diferença entre desistência voluntária e arrependimento eficaz: As diferenças entre desistência voluntária e arrependimento eficaz resumem-se principalmente ao momento do iter criminis em que cada um ocorre. A desistência voluntária ocorre antes do término da execução. Neste caso, a execução é interrompida pelo agente, que desiste de continuar a conduta. O arrependimento eficaz, por sua vez, ocorre após o término da execução. Toda a execução já foi realizada, restando apenas impedir que o resultado ocorra. Para haver a configuração do arrependimento eficaz é necessário, como o próprio nome indica, haver êxito na ação. Significa dizer que só há arrependimento eficaz se o agente, de fato, conseguiu evitar a consumação do crime.
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