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Kant e a revolução copernicana.docx

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KANT E A “REVOLUÇÃO COPERNICANA” E O QUADRO PANORÂMICO DOS DESDOBRAMENTOS DA TEORIA CRÍTICA KANTIANA
Prof. John Luiz B. B. de Castro
Dando continuidade à identificação dos referenciais epistêmicos na delimitação do objeto da Psicologia, vamos nos deter nesta aula nos argumentos concebidos pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que viveu entre os séculos XVIII e XIX.
Embora exista inicialmente em sua obra uma adoção irrestrita das ideias de René Descartes – “o sono dogmático” –, é, seguramente, a partir da sua leitura da obra principal do empirista inglês David Hume – Tratado da natureza humana (1739-1740), que o despertou desse sono – que se inicia o que os comentadores chamam de “fase crítica”, desenvolvida em suas mais importantes obras. São elas:
 Crítica da razão pura (1781)
 Crítica da razão prática (1788)
 Crítica da faculdade de julgar (1790)
Particularmente, nesta aula vamos nos deter na Crítica da razão pura, que é a obra na qual Kant (1781) se propõe a conceber sua teoria crítica do conhecimento. Nela argumenta acerca dos limites da razão e da experiência – tema dos acirrados debates filosóficos entre racionalista e empiristas – elaborando uma teoria crítica dos juízos. 
O que são os juízos?
São as formas básicas de conhecimentos e nomeadas por ele como juízos analíticos, juízos sintéticos e juízos sintéticos a priori. 
Podemos encontrá-los nessa obra, que se tornou sua principal produção filosófica e que divide essencialmente a história da filosofia em duas partes: antes e depois da Crítica. 
Crítica: deve ser entendida como um método de análise ou conhecimento e não uma espécie de julgamento, refutação ou objeção. 
 Razão pura: diz respeito ao que os racionalistas defendiam acerca da razão não afetada pela experiência sensível.
Unindo os termos, Crítica da razão pura é, essencialmente, uma obra na qual Kant busca conhecer algo distinto do que Hume elaborou com sua teoria do hábito. O filósofo de Königsberg se propõe a conhecer e explicitar os fundamentos do conhecimento. Crítica da razão pura é uma extensa obra voltada para os alcances e limites da razão pura a partir do sujeito cognoscente, do sujeito do conhecimento. 
Esse empreendimento filosófico o leva a comparar sua filosofia à revolução efetuada por Copérnico no âmbito da física, ao situar no sujeito cognoscente o ponto central da crítica, reinaugurando, com efeito, o idealismo com base numa estética transcendental. 
David Hume 
Para esse filósofo não havia possibilidade de fundamentar a ciência e o conhecimento porque as coisas ocorriam por hábito. Sua explicitação do princípio da causalidade vai de encontro ao que defendiam aqueles que se baseavam nesse princípio. Para Hume (1739), as coisas não são determinadas por necessidade universal. Não há um ente científico demonstrável e verificável. O princípio de causalidade está assentado na noção de hábito. Estamos habituados ou acostumados a atribuirmos causas aos fenômenos. 
Immanuel Kant 
Com intento de fundamentar um pensamento científico que demonstrasse efetivamente como funciona a razão humana, Kant (1781) deu um passo fundamental para a história da filosofia ao efetuar o que denominou como “revolução copernicana”. Ao contrário de Hume, que partiu do objeto da experiência sensível, Kant parte do sujeito que vai dar forma ao objeto com base nas intuições puras (espaço e tempo) e nos conceitos puros do entendimento ou categorias. Essa é a revolução copernicana. 
Ao que se refere?
A “revolução copernicana”, como a chama, refere-se precisamente à descoberta realizada pelo astrônomo polaco Nicolau Copérnico (1473-1573) com sua teoria heliocêntrica, apresentada em Das revoluções das esferas celestes, obra publicada em 1543. A pedra angular dessa revolução repousa na descoberta de que o Sol (Helios) seria o centro do universo, contrapondo-se, diretamente, à teoria geocêntrica, que orientava o pensamento da tradição antiga e medieval com argumento de que a Terra seria o centro. 
Que relação há entre a “revolução copernicana” e a filosofia de Kant?
O argumento kantiano é o de que devemos tomar o sujeito cognoscente como ponto central da filosofia e é isso o que ele faz ao abordá-lo no interior de sua estética transcendental.
Kant abre a Introdução B de Crítica da razão pura com a tese central dos empiristas levada ao extremo por Hume: “Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência”, mas adverte que “nem por isso surge ele apenas da experiência” (p. 45). A diferença entre conhecimento puro e empírico, tema do ponto 1. são os esboços do que desenvolverá com sua teoria dos juízos. 
Há uma questão, portanto, que demanda pelo menos uma investigação mais detida e que, à primeira vista, não deve ser de pronto descartada: se existe tal conhecimento independente da experiência, e mesmo de todas as impressões dos sentidos. Tais conhecimentos são denominados a priori e se diferenciam dos empíricos, que têm suas fontes a posteriori, i. e., na experiência (KANT, 1781[2012], p. 46). 
Essas duas formas de conhecimentos vão receber, respectivamente, os nomes de juízos analíticos e juízos sintéticos.
Juízos analíticos 
São as formas do conhecimento seguro, universal, ligado à lógica matemática. No entanto, é um conhecimento limitado por não gerar novos conhecimentos. 
Juízos sintéticos 
São as formas do conhecimento sensível, capaz de gerar novos conhecimentos. No entanto, não é um conhecimento seguro, confiável para a elaboração de uma ciência. 
Juízos sintéticos a priori 
São as formas de conhecimento que Kant oferece como solução à oposição entre os juízos precedentes, o que asseguraria à ciência basear-se na experiência formalizando-a e ordenando-a através das intuições puras e das categorias do entendimento, tornando os juízos coesos no ponto onde se produzem seus limites. 
A doutrina transcendental é o campo de partida para a análise de Kant e que dá escopo ao seu sistema filosófico, sendo desenvolvida nos dois únicos e extensos capítulos de Crítica da razão pura. 
Em I. Doutrina transcendental dos elementos, Kant, na primeira parte, apresenta sua estética transcendental, que tem como objeto de análise na primeira e segunda seção, respectivamente, o espaço e o tempo.
Estética transcendental é a ciência de todos os princípios da sensibilidade e que deve se ocupar detidamente das duas formas puras da intuição sensível como princípios do conhecimento a priori.
Espaço e tempo são as intuições puras através das quais o sujeito pode conhecer os objetos. Essas intuições não estão nos objetos, mas, antes, no sujeito. Esse só pode conhecer o que se lhe apresenta ao representá-lo com base na forma ordenada pelas intuições puras.
A doutrina transcendental é o campo de partida para a análise de Kant e que dá escopo ao seu sistema filosófico, sendo desenvolvida nos dois únicos e extensos capítulos de Crítica da razão pura. 
Em I. Doutrina transcendental dos elementos, Kant, na primeira parte, apresenta sua estética transcendental, que tem como objeto de análise na primeira e segunda seção, respectivamente, o espaço e o tempo.
Estética transcendental é a ciência de todos os princípios da sensibilidade e que deve se ocupar detidamente das duas formas puras da intuição sensível como princípios do conhecimento a priori.
Espaço e tempo são as intuições puras através das quais o sujeito pode conhecer os objetos. Essas intuições não estão nos objetos, mas, antes, no sujeito. Esse só pode conhecer o que se lhe apresenta ao representá-lo com base na forma ordenada pelas intuições puras.
Kant não põe ao alcance do crivo da Crítica o que a realidade seja em si mesma. Ele se interessa, particularmente, em conhecer como o sujeito constrói uma realidade. Em sua filosofia, o sujeito formaliza o objeto. É ele quem dá forma (através das intuições puras) às coisas separando-as do que seriam essas em si mesmas. Ele constitui a realidade à medida em que é afetado em sua sensibilidade por ela. Em suas palavras: “O mundo que o sujeito conhece é omundo que o sujeito construiu”. Assim, podemos afirmar que a realidade é o que o sujeito constitui, constrói ou formaliza a partir de suas intuições puras. É o que chama de experiência possível e o que o situa na esteira dos filósofos idealistas.
René Descartes 
Parte da subjetividade e sua filosofia pode ser considerada uma primeira revolução idealista. No entanto, Descartes partia da certeza de sua própria subjetividade (cogito ergo sum) depois de submeter a realidade externa à dúvida hiperbólica. Para ter certeza da realidade externa Descartes recorreu a Deus (que não engana), à veracidade divina. 
Immanuel Kant 
Também parte da subjetividade. No entanto, distintamente de Descartes, Kant supõe que se há coisas externas ao sujeito é porque esse deu a elas forma. O mundo tem forma e ordem porque o sujeito cognoscente as concebeu. Por isso, Kant não recorre a Deus, à veracidade divina. O mundo que o sujeito conhece é o mundo que o sujeito construiu. 
Na Segunda parte da Doutrina transcendental dos elementos, intitulada Lógica transcendental, Kant examina os conceitos puros do entendimento ou categorias (segundo a conceituação aristotélica). De modo divergente de Aristóteles, que reservou as categorias à realidade, Kant as redimensiona para o sujeito. São categorias do sujeito.
Quantidade (unidade, pluralidade e totalidade);
Qualidade (realidade, negação e limitação);
Da relação (de inerência e subsistência, de causalidade e dependência, de comunidade);
Da modalidade (possibilidade-impossibilidade; existência-não existência; necessidade-contingência).
Tal é o catálogo, diz Kant, “de todos os conceitos puros originários da síntese, que o entendimento tem em si a priori e em virtude dos quais ele é um entendimento puro” (p. 114). 
Faz parte da “revolução copernicana” a diferença que Kant propõe entre númeno (noumena) e fenômeno (phaenomena).
Númeno: diz respeito à Coisa considerada em si mesma – “Ding an sich” –, sem relação alguma com o sujeito. Trata-se do que não se apresenta e que foi “objeto” de inúmeras especulações metafísicas.
Fenômeno: diz respeito à coisa [Sache] enquanto objeto que se apresenta ao sujeito do conhecimento. Trata-se de algo sensível que é passível de observação imediata e de logificação, tornando-se o fenômeno, portanto, objeto do conhecimento científico. Kant afirma que “só podemos analisar os objetos na medida em que eles se apresentam”.
A partir dessa distinção, acentua o fenômeno em detrimento do númeno, na medida em que esse não contribui para o avanço da ciência e para a edificação dos postulados básicos concernentes às questões da moralidade e da ética, tema da sua obra Crítica da razão prática (1788).