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Revisão Função Hepática Introdução A função de metabolismo e desintoxicação tornam o fígado associado a diversas outras patologias extra-hepáticas. Para interpretarmos os resultados dos testes laboratoriais utilizados na detecção de doença hepática é necessário compreender as três categorias de análise: 1. Testes indicativos de lesão de hepatócitos: é o aumento da atividade enzimática provocado por lesão celular. Assim, as enzimas intracelulares passam para o espaço extracelular e, em seguida, para a corrente sanguínea. As enzimas avaliadas são: Alanina aminotransferase (ALT), Aspartato aminotransferase (AST) e Sorbitol Desidrogenase (SDH); 2. Testes indicativos de obstrução do fluxo biliar (colestáse): Quando ocorre a redução ou obstrução do fluxo biliar o acumulo de ácidos biliares induz a produção e liberação de enzimas pela célula. Isso, conseqüentemente gera um aumento da atividade da enzima no soro. Os teste realizados para avaliar o processo colestático são: Fosfatase Alcalina (FA), Gama-glutamil transferase (GGT); 3. Testes que avaliam a função hepática ou indicam disfunção do fígado: busca-se avaliar quando as funções do fígado estão alteradas, geralmente em decorrentes dainsuficiência hepática. A insuficiência hepática é resultado de uma doença hepática que leve a perda de 70 – 80% da massa hepática funcional acarretando em dificuldade em desempenhar as funções normais de metabolizar e sintetizar. Os testes para avaliar a função hepática são: Proteínas (albumina), Uréia, Colesterol, Glicose, Fatores de coagulação e Bilirrubinas. Provas enzimáticas Estas enzimas aumentam na circulação à medida que são liberadas pelas células de origem. Esta liberação pelos hepatócitos pode ocorrer por: - Alteração na permeabilidade celular: reações inflamatórias, degeneração celular; - Necrose celular: ingestão de drogas hepatotóxicas, cirrose crônica (pode possuir valores normais de ALT ou diminuídos). Dessa maneira, a ALT está em maior quantidade nos hepatócitos de pequenos animais enquanto que em ruminantes e eqüinos a AST é predominante. Além dos hepatócitos, a FA pode estar localizada em quantidades significativas no tecido ósseo, mucosa intestinal, placenta e rins. A GGT está localizada também em ductos biliares, rins, pâncreas e intestinos. Devido a essa diversidade de locais é impreterível que a interpretação seja feita aliada à história clínica do paciente. Enzimas hepatocelulares Aminotransferases As aminotransferases (ALT e AST) são enzimas presentes no hepatócitos que têm por função a transferência de grupos amino durante a conversão de aminoácidos a α- oxoácidos. O aumento sérico destas enzimas irá ocorrer por extravasamento celular provocado por lesão nos hepatócitos. Alanina amino transferase (ALT ou TGP) Os testes que mensuram a atividade desta enzima sérica podem ser considerados como válidos para indicar uma lesão hepática apenas em cães e gatos. A ALT é considerada hepato-específica porque um significativo aumento em sua atividade sérica somente é observado na degeneração ou necrose hepatocelular. A atividade sérica da ALT aumenta aproximadamente 12h após a lesão hepática e atinge o pico cerca de um a dois dias após uma lesão aguda. Porem a atividade da ALT pode permanecer aumentada durante a fase de regeneração dos hepatócitos. Entretanto, tem reduzida especificidade, pois animais com doença hepática severa como cirrose ou neoplasia podem apresentar valores normais de ALT. A necrose muscular severa pode elevar os valores de ALT em cães sem que haja doença hepática concomitante; no entanto degenerações ou necrose focal da massa muscular não elevam sua atividade sérica. Em cães o aumento de corticoide sanguíneo (tratamento com corticóide ou hiperadronocorticismo) pode elevar de duas a cinco vezes a atividade da sérica da ALT. Devido a proximidade do pâncreas ao fígado, eventualmente as pancreatites podem induzir um dano mecânico no fígado promovendo a elevação da ALT sérica. Um aumento significativo da ALT pode ser observado na cirrose hepática, porém valores normais são relatados devido a substituição dos hepatócitos por tecido fibroso. Outra causa de aumento da atividade da ALT é hemólise da amostra. A redução da ALT não possui significado clínico. Aspartato amino transferase (AST ou TGO) A AST em caninos, felinos e primatas tem pouco valor diagnóstico devido as reduzidas concentrações em vários tecidos. O aumento, desde que se excluam lesões musculares e cardíacas, pode ser interpretado como sendo consequência de uma lesão hepática. Isto porque há um aumento da atividade sérica na degeneração e/ou necrose de hepatócitos e/ou músculos esqueléticos e cardíacos. Outras causas de elevaçao da AST são a hemólise e a administração de drogas hepatotóxicas. Sorbitol desidrogenase (SDH) O sorbitol desidrogenase (SDH) é uma enzima hepatoespecífica na maioria das espécies, com mínima atividade em outros tecidos. O seu uso não é rotineiro na bioquímica clínica veterinária, pois se trata de uma enzima muito instável Enzimas indicativas de obstrução biliar (colestáse) Fosfatase Alcalina (FA) A fosfatase alcalina é uma enzima de indução presente nas membramas e em organelas. A FA pode ser encontrada em vários tecidos, principalmente tecido ósseo, sistema hepato- biliar e mucosa gastro-intestinal; em menor grau nos rins, placenta e baço. Esta enzima é recomendada para avaliar colestase em cães e bovinos. O aumento pode estar relacionado a doenças que lesem os ductos hepáticos, como a colestase intra ou extra-hepática; mas também por atividade das isoenzimas extrahepáticas, como crescimento ósseo nos filhotes, isoenzima esteroidal induzida por corticóide, observada apenas em canídeos, e em várias doenças crônicas, inclusive neoplasias. Devido a isso, a interpretação dos valores de FA deve ser feita aliada a história clínica do paciente. Gama glutamil transferase (GGT) A gama glutamil transferase é um marcador enzimático sérico valioso nas desordens do sistema hepatobiliar resultando em colestase. Em gatos, a GGT tem maior sensibilidade e especifidade para determinar doenças hepatobiliares exceto a lipidose hepática onde observam-se valores elevados da FA. Portanto, a GGT é indicada para avaliar colestase em gatos e eqüinos. As causas de elevação nos níveis séricos de GGT são similares àquelas observadas para FA em pequenos animais com exceção de distúrbios ósseos (principalmente fraturas). Testes de função hepática Proteinas Hipoproteinemia por hipoalbuminemia e hipoglobulinemia podem ocorrer principalmente em cães com doença hepática crônica. Porem, o teor sérico de globulinas não reduz tanto quanto de albumina. Uréia sanguínea A capacidade de sintetizar uréia e metabolizar o nitrogênio protéico fica reduzida em pacientes com insuficiência hepáticas ou com anomalias congênitas do sistema porta. Consequentemente ocorre aumento na concentração sanguínea de amônia e redução nos níveis de uréia. Colesterol A maior parte do colesterol presente no corpo é sintetizada pelo fígado, sendo apenas uma pequena parte adquirida pela dieta. A bile é a principal via de excreção do colesterol do organismo. Sendo assim, em alguns casos de insuficiência hepática pode ocorrer hipocolesterolemia, pela redução na síntese do colesterol pelo fígado. Porem quando ocorre redução no fluxo biliar o colesterol não será eficientemente eliminado ocorrendo hipercolesterolemia. Tempos de coagulação (TP, TTPa) Quasetodos os fatores de coagulação são produzidos no fígado (fatores I, II, V, IX e X), e conseqüentemente há um aumento nos tempos de coagulação em extensas lesões hepáticas. Além disso, a obstrução do fluxo biliar pode reduzir a absorção de vitamina K e assim, menor produção dos fatores de coagulação dependentes desta vitamina (II, VII, IX e X). Na insuficiencia hepática os distúrbios de coagulação são comuns em cães, porem raros em bovinos. Glicose Fígado retém 60% da glicose que entra pelo sistema porta. Essa glicose é transformada em glicogênio pelos hepatócitos que será, novamente, convertida em glicose auxiliando no controle da glicemia sanguínea. A habilidade do fígado em produzir glicose (gliconeogênese) é geralmente à última função a ser perdida em uma falência hepática. Anormalidades do metabolismo da bilirrubina O aumento da concentração sérica de bilirrubina (hiperbilirrubinemia) pode ser decorrente de três principais mecanismos patológicos. Eles incluem aumento da produção de bilirrubina (devido à destruição acelerada de eritrócitos), menor absorção ou conjugação de bilirrubina pelos hepatócitos e menor excreção de bilirrubina (colestase). O aumento da produção de bilirrubina deve-se mais frequentemente à doença hemolítica (hemólise extravascular ou intravascular), mas também pode ser decorrente de hemorragia interna intensa e subsequente destruição de eritrócitos no local da hemorragia. Independentemente da causa primária específica, a maior destruição de eritrócitos e a produção de maior quantidade de urobilirrubina podem superar a capacidade do fígado em absorver urobilirrubina ou de excretar bilirrubina conjugada, resultando em maior concentração sérica de bilirrubina. Com frequência, isso é denominado hiperbilirrubinemia pré-hepática. Por outro lado, a hiperbilirrubinemia hepática pode ser decorrente da menor absorção ou conjugação de bilirrubina pelos hepatócitos (colestase intra-hepática, também é causa de hiperbilirrubinemia hepática). Ácidos biliares séricos A mensuração da concentração sérica de ácidos biliares é um teste diagnóstico de rotina empregado para avaliar função hepática, colestase e anormalidades da circulação porta. Esse teste tem substituído os testes de excreção de corantes, cuja realização é mais difícil, como o teste de bromossulfoftaleína (BSP) e teste do verde de indocianina (ICG). A mensuração do teor sérico de ácidos biliares é mais útil em animais com suspeita de doença hepática não confiavelmente comprovada nos testes do perfil bioquímico sérico de rotina. A concentração sérica de ácidos biliares é um indicador sensível de colestase; é importante saber que o paciente com icterícia, devido à colestase, sempre apresenta, também, aumento da concentração sérica de ácidos biliares. No entanto, a mensuração da concentração de ácidos biliares pode ser útil para diferenciar hiperbilirrubinemia hemolítica da hiperbilirrubinemia hepática ou colestática, em pacientes anêmicos, nos quais não é evidente a causa da hemólise e as atividades das enzimas hepáticas são duvidosas. Ácidos biliares na urina Quando ocorre aumento da concentração de ácidos biliares, a quantidade de ácidos biliares excretados na urina aumenta. Em teoria, a mensuração da concentração de ácidos biliares na urina em um único momento comparada com a concentração urinária de creatinina (razão ácidos biliares na urina: creatinina) pode propiciar informação semelhante à dosagem de ácidos biliares, sem necessidade de amostras de sangue obtidas em jejum e no período pós-prandial. Considerações Finais O exame de Função Hepática mede as enzimas hepáticas a fim de contribuir para o diagnóstico de alterações no fígado ou outras alterações metabólicas, cardiovasculares e gastrointestinais que podem levar ao comprometimento hepático. Já naqueles sabidamente com problemas hepáticos, a dosagem de todos os itens se faz necessária para uma melhor avaliação. Referências Bibliográficas LOPES, Sonia Terezinha dos Anjos et al. Manual de Patologia Clínica Veterinária - 4.ed. - Santa Maria: UFSM/Departamento de Clínica de Pequenos Animais, 2007. THRALL, Mary Anna ... [et. al.]; tradução Alexandre Barros Sobrinho ... [et. al.]. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. – [2. ed.] – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
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