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Clínica Complementar ao Diagnóstico – Laboratório Avaliação da função hepática - Fisiologia • Vias Biliares, Intra e Extra Hepática: o Para compreender os exames laboratoriais de um perfil hepático, é necessário compreender a anatomia/fisiologia (tente entender a imagem, vai ajudar muito!). o O Parênquima hepático é composto por células chamadas de hepatócitos, entre eles, além dos vasos sanguíneos, permeiam os canais biliares. o A proximidade destes componentes, faz com que quando haja uma lesão em qualquer uma das partes, todos eles sejam afetados. o O QUE OCORRE QUANDO HÁ UM PROBLEMA NOS HEPATÓCITOS: ▪ Este desenho, demonstra o que há em um hepatócito (enzimas presentes na membrana e no citoplasma). ▪ Quando algo é capaz de atingir a membrana (romper/lise), obviamente, serão liberadas na circulação, as enzimas que estão na membrana (FA E GGT) e as enzimas de dentro do citoplasma (ALT E AST). o COLESTASE: ▪ Outro evento capaz de aumentar os níveis de FA e GGT na circulação, é a Colestase. Quando o fluxo da bile não ocorre normalmente, ele acaba afetando a membrana dos hepatócitos, porém, não de um jeito que provoca necrose, apenas conseguindo liberar as enzimas presentes ali (FA e GGT). ▪ Lembre-se de que os canais biliares permeiam os hepatócitos (ressaltando novamente a importância de entender as imagens do começo) Laboratorialmente o Lesão de Hepatócitos → enzimas liberadas quando o hepatócito se rompe ▪ Alanina Aminotransferase (ALT) • Análise em pequenos animais ▪ AspartatoAminotransferase (AST) • Análise em Grandes Animais ▪ Em quais ocasiões estas enzimas podem estar aumentadas? • Necrose de hepatócitos ou lesão subletal (principal causa) • Presente em células musculares AST (5 a 25%) o Se houver alguma lesão nas células musculares do animal (Grandes Animais principalmente), pode ocorrer o aumento desta enzima na circulação. Obviamente, deve ser somado a outros fatores, como histórico do animal ou uma dosagem de creatinaquinase (CK). ▪ Principais alterações que levam a lesão em hepatócitos (normalmente estão associadas com sobrecarga / excesso de metabolização hepática): • Hipóxia • Acúmulo de lipídios • Toxinas bacteriana • Inflamação • Neoplasias • Compostos químicos tóxicos • Fármacos Glicocorticóides e anticonvulsivantes ▪ De que forma ocorre o aumento destas enzimas na circulação? • Processo AGUDO (exemplo: processo tóxico) o Se houver algum problema ocasionando morte de hepatócitos, agressivamente e de um modo rápido: Os níveis de ALT e AST vão aumentar significativamente na circulação. o Aumento diretamente relacionado com o tamanho da lesão hepática. • Processo CRÔNICO (exemplo: cirrose) o Em processos crônicos, existem áreas de fibrose que ocupam o espaço de células do tecido, isto quer dizer: com menos células presentes, menos enzimas são liberadas em uma agressão aos hepatócitos. Por isso ocorre um aumento pouco significativo • Processo REGENERATIVO o O fígado possui a capacidade de se regenerar, durante este processo pode ocorrer extravasamento das enzimas, das células que estão sendo formadas. o Para diferenciar de um processo agudo ou crônico, se analisa outros parâmetros (outras enzimas e histórico do animal). É necessário que acompanhe o paciente e repita o exame (US abdominal se possível também). Fígado microscopicamente Hepatócitos Canais biliares Veia Fígado macroscopicamente Por que ocorre essa diferença entre espécies? • Estas enzimas possuem um tempo de meia vida diferente em cada espécie. • É mais viável avaliar a enzima que tem um tempo maior, para que o exame seja mais confiável e evite falso negativo. o Colestase → enzimas liberadas quando há um problema biliar ▪ Fosfatase Alcalina (ALP) ▪ Apesar do aumento de FA ser um indicativo de Colestase, existem diagnósticos diferenciais possíveis (ou seja, outras causas): • Atividade Osteoblástica. Exemplo: Neoplasias ósseas, fraturas, filhotes, osteomielite, osteossarcoma, hiperparatireoidismo secundário renal... • Indução por Fármacos. Exemplo: Consumo de Glicorticoides excessivamente (Isoformada FA induzida), ou de medicações metabolizadas pelo fígado, Anticonvulsivantes (além de sobrecarregar o fígado, altera metabolização de vit. D e estimula liberação FA). • Doenças Crônicas. Exemplo: Normalmente pacientes com algum tipo de neoplasia maligna, apresentam aumento de FA • Por isso é muito importante sempre realizar mais de um exame e não depender apenas do dado de uma enzima. ▪ Mas as principais causas para solicitar uma dosagem de FA, são problemas Hepáticos. E quando um problema hepático pode provocar aumento da FA? • Colangite, Obstrução em Ducto Biliar, Lipidose Hepática Felina... ▪ FOSFATASE ISOENZIMAS • É possível realizar um exame específico identificando a origem da FA (Hepática, Induzida por Corticoide, Óssea). Isto permite eliminar os diagnósticos diferenciais. • É um exame complementar a dosagem de FA, pois mostra exatamente as frações. Exemplo: 50% de FA de origem hepática, 7% de origem pancreática... ▪ γ Glutamiltrasnferase (GGT) • Mais especifica em gatos, equinos e ruminantes • Meia vida: 96h em gatos 10 dias bovino 7 dias equino • Sintetizada por quase todos os tecidos, principalmente pelo fígado, pâncreas, baço e rins. • A diferença da GGT é: apesar de ela ser produzida por vários tecidos, apenas a porção hepática é que cai na circulação. Ou seja, se a GGT está aumentada no exame de sangue, é muito difícil existir um diagnóstico diferencial. • Os diagnósticos diferenciais possíveis para o aumento de GGT na circulação: Alta concentração em colostro (ou seja, se for um animal ainda ingerindo o colostro, é normal ter este aumento); Glicocorticóides e anticonvulsivantes induzem aumento de GGT em cães o Função Hepática → enzimas que indicam se o hepatócito está conseguindo cumprir suas funções corretamente ▪ Bilirrubinas (importante): • Fisiologia: o Um dos componentes de uma hemácia é a hemoglobina. o A hemoglobina é composta por uma porção HEME e uma porção GLOBINA. o Na porção Heme está presente a bilirrubina. E esta é a principal forma de armazenamento de bilirrubina no corpo. o Quando ocorre um processo hemolítico (quebra de hemácia), estas porções HEME e GLOBINA se separam. o A porção HEME é degradada e libera dois componentes importantes: BILIRRUBINA E FERRO o Esta Bilirrubina liberada é chamada de: Bilirrubina indireta ou Bilirrubina Não Conjugada ou Bilirrubina pré Hepática. o Esta bilirrubina indireta, é encaminhada para os órgãos responsáveis pela hemocaterese (processo de destruição das hemácias velhas). Os órgãos são: Fígado e Baço. o No fígado, esta bilirrubina sofre um processo de conjugação e então passa a ser chamada de: Bilirrubina direta ou Bilirrubina conjugada. o Esta por sua vez será eliminada: ou pelo trato digestivo nas fezes na forma de urobilinogênio, ou será convertida em Urobilina e será eliminada pela urina. o A bilirrubina é um dos componentes que garantem a coloração das fezes e da urina. • Icterícia por Hiperbilirrubinemia: o Pré-Hepática: ▪ Quando ocorre um processo hemolítico em excesso, os níveis de bilirrubina indireta se tornam muito altos na circulação (hiperbilirrubinemia), pois o fígado não consegue metabolizar tudo e ocorre um refluxo da bilirrubina (do fígado para o sangue). ▪ Esse aumento de bilirrubina na circulação, provoca icterícia nos vasos. Quando o aumento é muito exacerbado, ocorre transferência desta bilirrubina para os tecidos, provocando icterícia visível nas mucosas e na pele. ▪ Porém, a quantidade que o fígado metaboliza ainda sim é alta, por isso há um aumento de bilirrubina indireta e de direta também! (indireta vai estar mais aumentada. ▪ Resumindo: Hemólise exacerbada → Sobrecarga do Fígado → Aumento de bilirrubina indireta e direta → Sobrecargaainda maior do fígado → Refluxo de Bilirrubina Indireta → Aumento muito maior de bilirrubina indireta → Icterícia de vasos → Icterícia de Tecidos. o Hepática ou pós Hepática: ▪ Por alguma razão pós -hepática, ocorre um refluxo de bilirrubina direta para o fígado. Por exemplo: Obstrução em ducto biliar; Doença inflamatória intestinal. ▪ Também ocasionando aumento de bilirrubina indireta e de bilirrubina direta (a direta vai estar maior). • Avaliação Laboratorial: o As dosagens de bilirrubina podem ser totais ou fracionadas. ▪ Total: Não diferencia de qual bilirrubina é ▪ Fracionada: Quantificação de cada tipo de bilirrubina (direta e indireta) • Aumento de indireta: Processo hemolítico • Aumento de direta: Disfunção em Fígado, Sistema Biliar e Sistema Digestório. ▪ Ácidos biliares • Fisiologia: o O Colesterol sofre a ação de dois ácidos, que o transforma em ácido biliar primário. o Este ácido biliar primário sofre conjugação com aminoácidos e é transformado em ácidos biliares de fato. o Este ácido formado é depositado na vesícula biliar. o Função: O ácido possui como função, auxiliar no processo digestivo na porção do duodeno. Isto quer dizer que ELE SÓ É LIBERADO APÓS A ALIMENTAÇÃO! o Uma porção acaba sendo eliminada junto com as fezes (interferindo inclusive na pigmentação), outra porção é reutilizada, retornando do intestino para o fígado, através do sistema porta hepático. Uma pequena parte acaba indo para a circulação através do sistema porta. • Avaliação Laboratorial: o É possível realizar a avaliação dos níveis em dois momentos: ▪ Jejum (basal): para saber a dosagem fisiológica ▪ Pós-prandial: Para avaliar quanto desse ácido está na circulação. ▪ Exemplo de momentos que os níveis estão alterados: • Obstrução em ducto Biliar (acumula e provoca refluxo) • Neoplasia Hepática (comprometimento do parênquima hepático, pode interferir na produção dos ácidos) • E a causa mais comum Shunt Portossistêmico (os ácidos biliares que deveriam estar retornando ao fígado, caem na circulação, pode ser feita a dosagem de ácidos em jejum). o Cães ▪ JEJUM: 0 A 13 µmol/L ▪ PÓS PRANDIAL (2 horas): 0 A 30 µmol/L o Gatos ▪ JEJUM: 0 A 13 µmol/L ▪ PÓS PRANDIAL (2 horas): 0 A 25 µmol/L ▪ Proteína total e frações • Proteína total: Albumina + Globulinas, valor total somado das duas • Proteína em frações: Valor específico de cada porção (Albumina e/ou Globulina) • Albumina: o É uma enzima produzida pelo fígado, quando há uma disfunção hepática crônica, os níveis séricos de albumina diminuem (hipoalbuminemia). • Globulinas: o As globulinas analisadas são as imunoglobulinas (anticorpos); o Elas aumentam quando há um processo inflamatório/infeccioso no corpo (hiperglobulinemia). • Situações Exemplo: o Hiperproteinemia ▪ Por Hiperglobulinemia: • Quando ocorre o aumento da proteína total, devido ao aumento de globulinas na circulação. Associado a processos inflamatórios/infecciosos. o Hipoproteinemia ▪ Por Hipoalbuminemia: • Quando há a diminuição de albumina sérica, devido a um comprometimento hepático crônico. o Hiperglobulinemia com Hipoalbuminemia ▪ Comprometimento hepático associado a processo infeccioso/inflamatório (não necessariamente no fígado). ▪ Colesterol e Triglicérides • Ambos são gorduras produzidas pelo fígado. Porém o Colesterol é a porção que fica mais circulante (LDL E HDL), enquanto o Triglicéride é a forma de gordura estocada, encontrada nos adipócitos. • Os valores destes também variam conforme o estado do fígado. ▪ Glicose • Não é comum na rotina pedir dosagem de glicose para a avaliação hepática, porém, poderia ser um parâmetro, pois para ter glicose disponível é necessária uma ação direta do fígado (armazenamento de glicogênio e glicogenólise). • Ou seja, disfunção hepática crônica/grave, pode provocar tanto Hiperglicemia ou Hipoglicemia. Porém, a análise deve ser associada com os níveis de outras enzimas, para provocar estes efeitos, as outras enzimas hepáticas já estariam muito comprometidas. ▪ Amônia x Ureia • Fisiologia: o A amônia é um composto gerado a partir do catabolismo proteico (originado da digestão), porém, é tóxico para o organismo em altas doses. Por isso o corpo a transforma em ureia para que possa ser eliminada pelos rins. o Essa transformação de Amônia para Ureia é realizada pelo Fígado. Raciocinando: ▪ Ureia diminuída + Amônia Aumentada = O fígado não está cumprindo suas funções corretamente → indicativo de disfunção hepática. ▪ Fatores de coagulação • A maioria dos fatores de coagulação são produzidos no fígado ou dependem de vitamina K que é produzida no fígado. • Por isso analisar os níveis destes fatores na circulação é uma das formas de verificar se as funções hepáticas estão ocorrendo corretamente. Caso Clínico • Cão, fêmea, rottweiller, 03 anos • Anamnese o Anorexia o Colúria o Histórico de vacinação antirrábica 05 dias antes do começo das manifestações clínicas. • Exame físico o Mucosas intensamente ictéricas o Apatia e prostração o Taquipneia • Alteração dos Exames: o Eritrograma: ▪ Anemia Macrocítica Hipocrômica (diminuição de hematócrito, aumento de VCM e diminuição de CHCM) ▪ Hiperproteinemia ▪ Regeneração marcante (reticulócitos > 500.000) ▪ Observações indicam hemácias jovens e com formatos alterados. Além de uma possível anemia hemolítica (anisocitose são hemácias de diversos tamanhos, ou seja, hemácias mais jovens, hemácias em Rolleaux são hemácias aglomeradas como moedas, ocorre quando há muita proteína na circulação e hemácias Howell-Jolly também são hemácias jovens, porém com resquício de núcleo) o Leucograma: ▪ Leucocitose por neutrofilia com presença de monocitose (neutrófilos aumentados, sendo que deles os segmentados estão em maior valor que os bastonetes, por isso regenerativa) ▪ Processo inflamatório agudo regenerativo ▪ Observações indicam um processo ocorrendo no momento da coleta (neutrófilos tóxicos) o Bioquímica Sérica: ▪ Alt e FA aumentadas: indicativo lesão de hepatócitos e congestão biliar ▪ Hiperproteinemia por hiperglobulinemia – está ocorrendo um processo inflamatório por isso há muito globulina (anticorpos) ▪ Hiperbilirrubinemia com aumento de bilirrubina direta e indireta – como a bilirrubina indireta está maior, é um processo pré hepático – anemia hemolítica o Urinálise: ▪ Proteinúria – por imunoglobulinas aumentadas na circulação ▪ Bilirrubinúria – pois há uma anemia hemolítica ocorrendo, aumentando o nível de bilirrubina na circulação ▪ Presença de sangue oculto – como não há presença de hemácias, pode-se afirmar que é bilirrubina ▪ Leucocitúria – pelo excesso de leucócitos na circulação ▪ Presença de células do epitélio da bexiga e de descamação – provavelmente devido ao método de coleta • Possível reação imunomediada provocando anemia hemolítica
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