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1 - 8 UNIDADE 1 - CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA 1. CONCEITUAÇÃO GERAL Engenharia: aplicação dos conhecimentos científicos e empíricos à concepção de estruturas, dispositivos e meios de transformar e converter os recursos naturais de modo a contemplar as necessidades humanas; Engenheiro: indivíduo que alia a um alto nível tecnológico e racionalização de recursos o trabalho de criação, organização e direção; Economia: ciência que trata dos fenômenos relativos à produção, distribuição, acumulação e consumo dos bens materiais. Ou ainda, o controle para evitar desperdícios, em qualquer serviço ou atividade (Aurélio, 19991). Os engenheiros, pela sua formação, participam de um grande número de tomadas de decisão em todos os setores de atividade das empresas. Estes setores envolvem a concepção, o abastecimento, a fabricação, distribuição e a comercialização. Neste tocante, os engenheiros podem ser responsáveis, entre outras, pela aquisição de equipamentos, escolha de investimentos em tecnologia ou a gestão de processos, buscando sempre racionalizar a utilização de recursos e envolvendo diretamente, portanto, a economia. O que é a Economia? − A ciência “economia” (in Samuelson e Nordhaus 2004): o Explora o comportamento dos mercados financeiros incluindo taxas de juros e cotações de ações; o Analisa as razões pelas quais algumas pessoas ou países têm rendimentos elevados enquanto que outros são pobres, e sugere formas para o aumento dos rendimentos dos pobres sem prejudicar a economia; o Estuda os ciclos econômicos: os altos e baixos do desemprego e da inflação, assim como as políticas para moderá-los; o Estuda o comércio e as finanças internacionais e os impactos da globalização; o Observa o crescimento nos países em desenvolvimento e propõe medidas para melhorar o uso eficiente de recursos; o Questiona como as políticas governamentais podem ser usadas para atingir objetivos importantes tais como um rápido crescimento econômico, o uso eficiente de recursos, o pleno emprego, a estabilidade dos preços e uma repartição justa do rendimento. 1.1 Escassez e Eficiência De tudo o que foi referido ressalta que “a economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam recursos escassos para produzir bens com valor e como os distribuem entre pessoas diferentes”. − Idéias chave: o os bens são escassos; o a sociedade deve usar os seus recursos de uma forma eficiente. A escassez e a eficiência são os temas gêmeos da Economia. 1 Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1999. 3 ed. 2 - 8 1.2 Microeconomia versus Macroeconomia Adam Smith mostra que a microecomonia inclui: − A análise do estabelecimento dos preços da terra, do trabalho e do capital; − O funcionamento dos mercados, propriedades e eficiência. Para John Maynard Keynes (Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro, 1936) surge a macroeconomia analisando os ciclos econômicos, com períodos alternados de desemprego e elevada inflação. Atualmente tem-se: − Determinação do investimento e consumo globais; − Gestão da moeda e taxas de juro pelos bancos centrais; − Causas para as grandes crises financeiras internacionais; − Estudo do desenvolvimento dos países. Resumindo, a microeconomia é o estudo de como as famílias e as empresas tomam decisões e de como interagem nos mercados; enquanto que a macroeconomia é o estudo dos fenômenos da economia como um todo incluindo inflação, desemprego e crescimento econômico. Dessa forma, a lógica da economia define que: − A abordagem para a compreensão da vida econômica é de tipo científico. − Isto quer dizer que: o Envolve a observação dos acontecimentos econômicos; o Tem que proceder à elaboração de estatísticas e registros históricos; o Dada a complexidade das relações econômicas e da quantidade de variáveis envolvidas há que evitar a existência de confusões sobre as razões exatas que estão na origem dos acontecimentos ou sobre o impacto das políticas (decisões estratégicas) na economia. − Nesta abordagem científica há que evitar falácias como: o Post hoc: Pelo fato de um acontecimento ocorrer antes de outro acontecimento não quer dizer que seja a causa deste. � Exemplo: antes da Grande Depressão os economistas tinham observado que períodos de expansão econômica eram precedidos ou acompanhados por aumento dos preços. � Esta idéia originou legislação e regulamentos para aumentar salários e preços sem qualquer resultado positivo. � A recuperação econômica só surgiu com o aumento da despesa global do esforço de guerra (II Guerra Mundial). o Falha em manter o resto constante: Por vezes, ao alterar uma variável, esquece-se que para avaliar ou obter o efeito desejado se deve manter todo o resto constante. � Exemplo: O aumento dos impostos fará aumentar ou diminuir as receitas fiscais? 3 - 8 o Agregação: Por vezes, admitimos que o que é verdade para uma parte do sistema também é verdade para o conjunto. � Exemplo: Se um agricultor tiver uma colheita recorde o seu rendimento aumentará, se todos os agricultores tiverem uma colheita recorde o rendimento de todos diminuirá. 1.3 Os Três Problemas da Organização Econômica Qualquer sociedade humana seja qual for o seu sistema político ou grau de desenvolvimento tem que defrontar e resolver três problemas fundamentais: o quê, como e para quem. Ou seja: − Quais os bens a produzir e em que quantidades? o A sociedade tem que determinar quanto deve produzir de cada um dos inúmeros bens e serviços possíveis e quando deverão ser produzidos… � Produzir bens de consumo ou bens de investimento? � Que tipo de bens de consumo (caros ou baratos)? � Bens de investimento que permitam ampliar a produção de novos bens. − Como são produzidos os bens? o A sociedade tem que determinar quem irá produzir, com que recursos e de que forma tecnológica… � Quem cultiva a terra e quem ensina? � A eletricidade será obtida a partir do petróleo, de energia hídrica ou solar? � Qual o grau de integração de robótica industrial? − Para quem se produzem os bens? o A sociedade estipula quem usufrui dos bens… � É a distribuição do rendimento justa e equitativa? � Como é repartido o produto nacional entre as diferentes famílias? � Existem muitos pobres e poucos ricos? � Devem os rendimentos mais elevados pertencer aos atletas? � Deve a sociedade proporcionar aos pobres um mínimo de consumo? 1.4 Economia de Mercado e Dirigida As sociedades estão organizadas em sistemas econômicos alternativos. − Num extremo, o governo toma a maioria das decisões econômicas e os que estão no topo da hierarquia dão diretrizes econômicas aos que estão na base (economia dirigida); − No outro extremo as decisões são tomadas nos mercados onde os indivíduos ou as empresas ajustam voluntariamente a troca de bens e serviços, mediante pagamentos (economia de mercado); − A maior parte das sociedades tem um sistema econômico misto com predominância das decisões nos mercados. 4 - 8 Economia de Mercado: − É aquela em que os indivíduos e as empresas privadas tomam as decisões mais importantes sobre a produção e o consumo; − As empresas produzem bens visando gerar lucro (o quê), com técnicas de produção visando maximizar a eficiência (o como) e para consumidores com capacidade de decisão sobre como aplicar os salários e os lucros gerados pelo trabalho e pela posse do patrimônio (o para quem). Economia Dirigida: − O governo toma todas as decisões importantes acerca da produção e distribuição; − O Estado possui a maior parte dos meios de produção (terra e capital); − Possuie dirige a atividade das empresas na maior parte dos ramos de atividade; − É o empregador da maioria dos trabalhadores e quem comanda a sua atividade; − Decide como a produção da sociedade deve ser dividida pelos diversos bens e serviços. 2. OS FUNDAMENTOS DA ECONOMIA Adam Smith é considerado como o pai da economia moderna. A sua obra “A riqueza das nações” (1776) marca um período de viragem no pensamento econômico depois do feudalismo medieval e do mercantilismo. − O feudalismo com a economia centrada no poder de um suserano… − O mercantilismo advogando essencialmente que a riqueza das nações estava na sua capacidade em armazenar moeda, diminuindo as importações e aumentando as exportações, promovendo a colonização de territórios para obter e controlar matérias primas… − A nova teoria centra-se essencialmente no liberalismo… (”Não é da benevolência do padeiro, do talhante ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover o seu próprio interesse.”). 2.1 Classificação de Bens e Serviços Os bens e serviços produzidos (não naturais) têm preço, os quais são observados no mercado, enquanto os bens e serviços naturais (proporcionados pela natureza) não possuem preço. Bens e serviços da natureza são proporcionados livremente, portanto, possuem preço zero. Não existe um mercado para seus valores reais. Se algo é proporcionado a preço zero, sua demanda será maior do que se tivesse um preço positivo. Classificação e bens e serviços: − Bens livres: bens que existem em abundância em sua disponibilidade. − Bens econômicos: bens que não existem em disponibilidade ilimitada. − Bens públicos: tem características próprias que inviabilizam sua produção e oferta pelo setor privado. São bens que toda a população tem acesso e são produzidos pelo setor público. 5 - 8 − Bens sociais: alguns bens são classificados como sociais devido ao caráter social dos benefícios que eles geram. Os bens sociais são similares aos bens públicos. Os produtores de bens e serviços são empresas privadas, públicas ou mistas cujas ações ou procedimentos são conduzidos pelo mercado, isto é, sinteticamente, por custos, preços, demanda, lucro e competitividade. Os consumidores são a população em geral, inclusive a que caracteriza a demanda internacional sensível ás condições de seu nível de renda, do preço e da qualidade do produto. Regra geral, a economia não absorve custos ambientais por seus próprios mecanismos nem contemplam nos preços os valores dos bens e serviços ambientais. E não o faz mesmo quando diretamente utiliza a natureza como fonte de matérias-primas e de energia ou como repositório de seus descartes, reciclando-os naturalmente (serviço ambiental) ou suportando poluição e contaminação. A constatação refere-se tanto a empresas na sua individualidade quanto a agregados produtivos como em forma agregada de produção ou de demanda. Pode ser exemplificado com o avião cujo lançamento de gases, pelas turbinas, ao meio não recebe valoração via custos e preços; e pelo comportamento coletivo de uma cidade que decide ampliar o aeroporto sem considerar o valor econômico total, isto é, valores de uso e valores de não uso da área geográfica adicional necessária à ampliação (Arlindo, 2009). 2.2 Possibilidades Tecnológicas da Sociedade Já vimos anteriormente que qualquer economia tem uma massa de recursos limitados (trabalho, conhecimento tecnológico, fábricas e ferramentas, terra, energia). Ao decidir o quê e o como devem as coisas ser produzidas, a economia está de fato a decidir a forma de aplicar os seus recursos em milhares de bens e serviços possíveis. São usuais as seguintes designações: − Fatores de produção (ou inputs) como sendo os bens ou serviços utilizados para produzir bens ou serviços; − Produções (ou outputs) como sendo os vários bens ou serviços úteis que resultam do processo de produção e que, ou são consumidos, ou são utilizados numa produção posterior. Os fatores de produção também podem ser classificados em três grandes categorias: − Terra, ou mais genericamente os recursos naturais, energéticos ou não energéticos; − Trabalho, ou seja, o tempo despendido pelos indivíduos na produção; − Capital, ou seja, os bens duráveis de uma economia, produzidos tendo como objetivo a produção de outros bens (maquinaria, estradas, edifícios, infraestruturas). Essenciais para o desenvolvimento econômico. Ao pensar nos três problemas econômicos fundamentais (o quê, como e para quem), em termos de fatores de produção e produções, podemos dizer que uma sociedade tem que decidir: − Quais as produções e em que quantidade; − Como produzi-las, isto é, com que técnicas devem os fatores de produção ser combinados para gerar produções; − Para quem devem as produções ser criadas e distribuídas. 6 - 8 2.3 O Papel Econômico do Governo Uma economia ideal é aquela onde todos os bens e serviços são voluntariamente transacionados por dinheiro aos preços de mercado. Este sistema extrai o benefício máximo dos recursos disponíveis de uma sociedade sem a intervenção do Estado. Contudo, no mundo real, nenhuma economia funciona de acordo com o mundo ideal. Há poluição excessiva, desemprego, extremos de riqueza e pobreza. As principais funções econômicas dos governos são: − Aumentar a eficiência ao promover a concorrência, ao combater externalidades como a poluição e ao fornecer bens públicos; − Promover a equidade ao usar os impostos e programas de despesa para redistribuir o rendimento a grupos específicos; − Estimular o crescimento e a estabilidade macroeconômicos reduzindo o desemprego e a inflação e enquanto estimula o crescimento econômico através da política orçamental e da regulação monetária. Com relação à Eficiência tem-se: − Quando todos os ramos da atividade se encontram sujeitos ao confronto e equilíbrio da concorrência perfeita, os mercados produzirão o conjunto mais desejado pelos consumidores usando as técnicas mais eficientes e a quantidade mínima de fatores (de produção); − Os mercados afastam-se da concorrência perfeita quando existem monopólios, externalidades, ou quando estão em causa bens públicos. Quanto a Equidade: − Os mercados não produzem uma justa repartição do rendimento. Uma economia de mercado pode gerar desigualdades inaceitáveis do rendimento e do consumo. o Essas desigualdades podem ser política ou eticamente inaceitáveis levando à introdução de: � Impostos progressivos (IRS); � Rendimento mínimo de sobrevivência; � Senhas de alimentação. o Sobrecarga da classe média cujos impostos pagam a grande fatia destas subvenções. Quanto ao Crescimento e Estabilidade Macroeconômicos: − As políticas orçamentais de um governo envolvem o poder de cobrar impostos e o poder de gastá-los; − A política monetária envolve a determinação da oferta de moeda e das taxas de juro (com influência no investimento em bens de capital); − Através destas duas ferramentas os governos podem influenciar o nível da despesa total, a taxa de crescimento e o nível de produto, os níveis de emprego/desemprego, os preços e a inflação. 7 - 8 3. ECONOMIA AMBIENTAL NEOCLÁSSICA, ECOLÓGICA E MARXISTA 3.1 Economia Ambiental Neoclássica Tem como princípio básico a elaboração e aplicação de métodos de valoração de bens e serviços ambientais, objetivando a inclusão de valor econômico. O conceito que fundamenta o pensamento neoclássico as questões relacionadas à problemática ambiental é o de externalidade. Este conceito é utilizado para expressar falhas produzidas pelo funcionamento do mercado. 3.1.1 Falhas do funcionamento do mercado a) Não existe um valor monetário para os bens e serviços ambientais (noção deabundância em relação a estes bens); b) Não existe definição de direito de propriedade sobre os recursos naturais (bens comuns). Parte do pressuposto de que toda externalidade, isto é, todo bem ou serviço não considerado no mercado, pode receber um valor monetário convincente. Na visão da Economia Ambiental Neoclássica as decisões tomadas somente com base nos custos privados (assumidos pela empresa) assumindo custo zero para os recursos naturais, fazem com que a demanda por estes recursos fique acima do nível de eficiência econômica, podendo levar aquele recurso a completa exaustão / degradação. A Economia Ambiental neoclássica opta em aplicar os métodos de valoração de bens e serviços, através de usos diretos e indiretos. Algumas definições de valores de uso: − Valor de Uso: deriva do uso (utilidade que se faz do ambiente); − Valor Intrínseco: compreende os valores de algum bem ou serviço, sem relação alguma com interesse de uso pelos seres humanos; − VET: considera além do valor de uso atual, o valor de uso futuro e de existência dos bens e serviços. O VET é obtido pela soma dos valores de uso e de não uso (VET = VU + VNU). o Valor de Uso Direto: determinado pela contribuição direta que um recurso natural faz para o processo produtivo (produção e consumo). Ex.: madeira, minerais. Estes bens possuem preço estabelecido pelo mercado. o Valor de Uso Indireto: inclui os benefícios derivados basicamente dos serviços que o ambiente proporciona para suportar o processo produtivo. Ex.: regulação climática, renovação do ciclo hidrológico, etc. Estes bens não possuem preço estabelecido pelo mercado. o Valor de Não Uso - Valor de Opção: é a quantia que os consumidores estão dispostos a pagar por um recurso não utilizado na produção para evitar o risco de não tê-lo no futuro. Opção por um uso futuro do recurso. o Valor de Não Uso - Valor de Existência: provém da satisfação provocada pelo simples conhecimento de que determinado recurso ou ecossistema existe, sem intenção de usá-lo. 8 - 8 3.1.2 Críticas à Economia Ambiental Neoclássica a) Irracionalidade ecológica: as estimativas dos preços para custos ambientais não consideram os fluxos de materiais e energia envolvidos nos processos de produção e consumo. Os valores são, portanto, subvalorados. b) Incomensurabilidade de valores: não existe um valor padrão para base. As estimativas de valores não podem ser realizadas considerando-se apenas conhecimentos / informações sobre preços e preferências das sociedades atuais. Ocorrendo isso, se exclui as preferências e valores futuros (gerações futuras). Resumindo, a proposta da Economia Ambiental Neoclássica é promover a internalização das externalidades, ou seja, determinar o valor dos impostos e repassá- los ao responsável (atividade produtiva ou consumidora) pelos danos causados. 3.2 Economia Ecológica Surgiu na tentativa de inserir preços / valores na economia ambiental. Compreende pelos fluxos de materiais e energia. − Princípios básicos: o Conceitos da ecologia: visão sistêmica, equilíbrio, geosistemas, capacidade de suporte, etc.; o Princípios da física: 1ª e 2ª Lei da Termodinâmica. 3.3 Economia Ambiental Marxista Diferencia-se das vertentes anteriores por não apresentar métodos ou técnicas de valoração ou realizar críticas específicas a estas metodologias. Sua análise está centrada na avaliação do próprio funcionamento do sistema capitalista de produção. O lucro no sistema capitalista provém do não pagamento das forças produtivas (força do trabalho). − 1ª contradição do capitalismo: apropriação das forças produtivas (forças de trabalho); − 2ª contradição do capitalismo: apropriação dos recursos naturais (utilização em níveis excedentes para aumentar a produtividade) e, ao mesmo tempo, torna-se responsável pela destruição da base natural do sistema econômico.
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