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Psicologia e Filosofia P1

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Psicologia e Filosofia
 
Prova 1
 
Conceitos Gerais:
Epistemologia: filosofia do como. Que busca explicar e entender as formas mais corretas, eficientes e éticas para a construção do conhecimento. Oferece os procedimentos pelos quais conhecemos, as ciências propriamente ditas e o conhecimento do conhecimento científico.
Metafísica: busca trazer a natureza essencial das coisas, explicar a essencialidade das coisas.
Axiologia: Trata de valores, sobretudo das questões éticas e morais.
Ontologia: o conhecimento da realidade última de todos os seres, ou da essência de toda a realidade.
Períodos da Filosofia Grega:
Período Pré-Socrático ou Cosmológico:  buscava a explicação racional das transformações da natureza e do homem (no sentido do homem ser parte da natureza);
A noção de eternidade do mundo e das coisas, de que tudo se transforma em outra coisa. Embora a forma particular que uma coisa possua desapareça, sua matéria não some, mas sim, se transforma.
Noção de que os sentidos não vêem o que o pensamento racional pode ver.
PHYSIS: é a natureza eterna e em perene transformação, verbo que significa fazer surgir, fazer brotar. Embora seja imperecível, dá origem a todos os seres, que, ao contrario do seu criador, são perecíveis e mortais.
Ideia de que o mundo está em constante transformação, sem por isso perder a sua forma, sua ordem e sua estabilidade.
DEVIR: o constante movimento das coisas. As transformações dos objetos. O devir segue leis rigorosas.
É a passagem continua de uma coisa ao seu estado contrario de maneira não caótica, obedecendo a leis determinadas pela PHYSIS.
Os filósofos escolheram diferentes physis (o que é responsável pelas transformações do mundo). Uns escolheram a água, outros o ar ou o fogo.
Psicologia no período Pré-Socrático: as primeiras manifestações estavam ligadas ao misticismo, que eram forças responsáveis pelo sucesso ou fracasso. A humanidade tinha o interesse de domesticar essas forças.
Acreditava-se que a alma (mente, psique) era separada do corpo. Na vida, alma e corpo estão unidos.
A alma preexistia o corpo, e quando o habita sente nostalgia do além.
A libertação só poderia ser alcançada repudiando os prazeres do corpo e as atrações da vida terrena.
O homem estava à mercê da causalidade divina, não sendo responsável por seus atos.
Com Eurípedes começa-se o início do estudo da vida interior (debates, hesitações, sentimentos contraditórios). Inicia a ideia de responsabilidade pessoal do homem pelos seus atos.
A Origem da Racionalidade: quando se passa a buscar o princípio de todas as coisas, a essencialidade (metafísica).
Ideia de que a natureza é independente do homem.
Surge o princípio do espírito (NOUS), que é a inteligência, mente e razão, algo divino e infinito, penetra nas ideias, formas exemplares ou unidades objetivas eternas que conferem o verdadeiro sentido ao mundo e à vida.
Os filósofos desse período se dividiam em três grupos importantes:
FÍSICOS: preocupavam-se com a questão de Unidade (para uns era o fogo, outros a água ou o ar).
Alcméon foi o primeiro a estudar o cérebro, definindo-o como o órgão central da alma, que ele dividiu em três partes (intelecto, consciência e paixão).
Definiu a razão como algo sendo inerente apenas aos seres humanos e não a outros animais.
ELEATAS: o ser é Unidade e Imobilidade e as mudanças (o devir) não passam de aparência. Esses filósofos colocaram o SER no centro e negaram o DEVIR.
Preocupavam-se com a definição do seres (problema ontológico – o que é).
Ideia de que a Unidade das coisas se dá pela junção dos elementos fogo, água, terra e ar, e essa junção ocorre por ação divina de amor e ódio.
ATOMISTAS: o mundo é formado por átomos (corpúsculos minúsculos, últimos invisíveis, todos da mesma qualidade, e diferentes e sua magnitude e formas).
Preocupação com a incerteza das impressões sensíveis, uma síntese entre o DEVIR (físicos) e o SER (eleatas).
 
Período Socrático ou Antropológico: nesse período, a filosofia se volta para questões humanas, sobretudo questões morais e políticas.
Tinham a confiança no homem como um ser racional, capaz de reflexão e de conhecer-se a si mesmo. É a consciência conhecendo-se a si mesma como capacidade para conhecer a essência e o conceito das coisas.
A preocupação se volta para estabelecer procedimentos que nos garantam que encontremos a verdade. O pensamento deve oferecer a si mesmo caminhos, critérios e meios próprios para saber o que é a verdade (problema ontológico e metafísico) e como alcançá-la (problema epistemológico e axiológico).
O objetivo central era a investigação sobre a moral e a política, ideias e práticas humanas (como indivíduos e cidadãos). Cabia à filosofia definir esses conceitos e explicar valores como a justiça, a coragem e a amizade.
São separadas radicalmente as opiniões (construídas pelos órgãos dos sentidos, tradições, interesses) das ideias (essência intima, invisível, verdadeiras das coisas que só podem ser alcançadas pelo pensamento puro). A opinião, as percepções e imagens sensoriais são consideradas falsas, mentirosas, mutáveis, inconsistentes, devendo ser abandonadas para que o pensamento siga seu caminho próprio no conhecimento verdadeiro.
A Origem da Subjetividade:
SOFISTAS: se preocupavam com questões de inteligência e da moralidade. Tratavam da retórica (arte de argumentar).
Tinham um relativismo subjetivista de que era impossível atingir uma verdade universal e absoluta para todos os homens.
Essas posições os levaram ao ceticismo.
Ensinavam a arte da persuasão à alta aristocracia grega.
Negaram os ensinamentos dos cosmologistas alegando diversos erros e contradições.
Segundo eles, o sujeito humano é um espelho da realidade que é multiforme, sendo o espelho, portanto, da mesma forma.
Aceitavam a validade de opiniões e sensações para a produção de argumentos de persuasão.
SÓCRATES: se opõe aos Sofistas. Alegou que os cosmologistas eram contraditórios e não eram uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro.
Alegou que antes de conhecer a natureza o homem deveria conhecer-se a si mesmo. Voltou-se para o autoconhecimento do seu espírito e a capacidade para conhecer a verdade.
Fazia perguntas sobre as ideias e valores que os gregos julgavam conhecer.
Declarava a consciência de sua própria ignorância.
Buscava a verdadeira essência das coisas, da ideia, do valor, buscava o concreto e não a mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas, das ideias e dos valores.
O saber fundamental era conhecer-te a ti mesmo.
Para ele o sujeito humano é o centro de toda a inquisição, como esta se reduz a uma única questão, conhecer o bem, o sujeito tem uma só realidade.
Seguia uma argumentação dialética (uma pergunta apontava para outra pergunta).
Considerava as opiniões e as percepções sensoriais como formas imperfeitas do conhecimento que nunca alcançam a verdade plena da realidade.
Acreditava que o conhecimento já estava impresso na alma e deveria ser buscado no mais profundo do ser.
PLATÃO: buscava encontrar uma justificativa ontológica para as posições de Sócrates. Suas teorias trazem um primeiro esboço dos principais temas psicológicos, tais como intelecto (via cognitiva), emoção (via afetiva), motivação e saúde mental (via ativa e grandes sínteses), e diferenças individuais.
A origem do intelecto estava na alma. Sua ligação com o corpo era de aprisionamento estando nele por uma espécie de decadência e assim buscando a purificação e a libertação.
Acreditava numa perspectiva dualista (alma x corpo), opunha a vida biológica e a espiritual. Para ele a forma de ser mais próxima do conhecimento que conseguimos advém-nos de ter o mínimo de relações possíveis com o corpo.
Platão entendeu as funções da alma como organizadas em uma hierarquia. No nível mais elementar a alma é simplesmente o princípio da vida, não apresentando nem percepção, nem memória, nem desejo. No segundo nível, a alma aparece em seu lado mortal e é constituída pelas paixões, apetições e sensações irracionais. Este níveldivide-se em dois subníveis: o mais baixo formado pelos apetites e pela luxúria; e o mais alto formado pelas emoções. Por fim, no terceiro nível estava a parte imortal da alma que era a racionalidade e a inteligência. Baseado nessa hierarquia, Hearnshaw entende que Platão não seria um dualista pois acenava para interações entre corpo e alma em níveis multivariados.
Platão distanciou-se dos filósofos que o antecederam, negando qualquer materialidade à alma, pois sua existência era tida como antecedente do corpo.
Para ele o conhecimento não poderia ser apoiado nas percepções sensoriais pois elas estão em constante mudança. Teria que se valer de algo que fosse permanente e existisse fora da mente do percebedor.
O verdadeiro conhecimento seria atingível por uma habilidade de raciocinar dialeticamente, isto é, através da dedução racional das formas. Essas formas seriam estruturas eternas que organizam o mundo e que são conhecidas através da dedução racional. São reais e permanentes e preexistiam a alma.
Com essa noção de alma que contém em si mesma toda a sabedoria e a verdade, valoriza todo o esforço no sentido de alcançar essa ‘via de libertação’, que é o bem absoluto e universal.
Seu entendimento de uma alma organizada em diferentes níveis antecipa a organização de áreas básicas da psicologia contemporânea, ou seja: sensação, percepção, memória, emoção e cognição.
Período Sistemático: construído por Aristóteles, que elaborou uma enciclopédia de todo o saber produzido e acumulado pelos gregos em todos os ramos do pensamento e da prática. Definindo a filosofia como uma forma de conhecer todas as coisas.
Classificou as formas de conhecimento. Declarou que o conhecimento deve conhecer primeiro as leis gerais que governam o pensamento. O estudo das formas gerais do pensamento, sem a preocupação com seu conteúdo, foi chamado de LÓGICA.
 
Campos do Conhecimento Filosófico:
Ciências produtivas: todas as atividades humanas ou artísticas que resultam num produto ou numa obra.
Ciências práticas: ética e política.
Ciências teoréticas, contemplativas ou teóricas: as coisas da natureza e as coisas divinas.
Psicologia Aristotélica: criticou os platônicos por defenderem uma alma sobrenatural e não atentarem para as características reais, físicas e orgânicas do homem. No entanto, não aceitava o extremo materialismo dos atomistas, pois acreditava que as características humanas de poder escolher e pensar eram de outra ordem.
Declarava que a relação entre a alma e o corpo era funcional, e que a alma não subsiste sem o corpo, não pensando em uma dualidade de substâncias, como Platão. A alma e o corpo são elementos inseparáveis.
Delimitou a psicologia em três grandes vias: cognição, afeição e conação.
Para ele, o intelecto surge da relação entre a alma e o corpo. Alma e corpo não são entidades separadas. A alma é causa e princípio do corpo vivo. O corpo é meio de manifestação da alma. A relação entre a alma e o corpo é funcional. No homem, a alma é racional. Alma e corpo são aspectos de uma mesma substância. Substancia é composição de matéria e forma. Matéria é potencialidade e forma é realização. Temos portanto uma teoria que é realista mas não materialista.
O intelecto é a capacidade humana de conhecer. São elas: sensação, imaginação, memória, razão prática e razão criativa. A inteligência racional é o NOUS. A sensação envolve um ato que contém um objeto real, enquanto a imaginação lida com as ausências.
Os materiais fornecidos pelos sentidos são transformados em informações inteligíveis pela razão. A razão é diferenciada em razão passiva e razão ativa. A razão passiva é aquela que sintetiza os dados do sentido e da imaginação. A razão ativa é aquela capaz de abstrair, organizar e transcender. Aristóteles não encontrou um meio de explicar a razão ativa a não ser atribuir-lhe uma natureza divina. Em outras palavras, a alma em suas funções mais elevadas não recebeu uma explicação empírica.
O conhecimento deve ser obtido através de um equilíbrio entre a indução baseado no material empírico (observação e experiência) e a dedução decorrente de um pensamento formal. O grande destaque de suas análises é a noção de causalidade.
O objetivo da moral seria trazer a felicidade para todos.
 
Período Helenístico ou Greco-Romano: período da chamada filosofia cosmopolita.
Essa época é constituída por grandes sistemas ou doutrinas, isto é, explicações totalizantes sobre a natureza, o homem, as relações entre ambos e deles com a divindade. Predominam preocupações com a ética, a física, a teologia e a religião.
Passou por uma orientalização, ocorrida devido ao contato permitido do oriente com o ocidente dado pelo Império Romano.
Céticos: possuíam a dúvida radical sobre o conhecimento verdadeiro. Há dois tipos: o ceticismo metodológico é um procedimento necessário para que se legitime o conhecimento; o ceticismo universal preocupa-se com as contradições insolúveis do conhecimento, com a relatividade do conhecimento sensorial e com a falta de um critério suficiente da verdade.
Pirrón defendia que nossos juízos sobre a realidade são convenções pois são sempre baseados em sensações mutáveis. Dessa forma, deveria suspender-se o juízo (epoché) e não se decidir por nenhuma crença ou opinião.
Epicuristas: radicaliza a concepção materialista de Aristóteles e, por conseguinte, nega qualquer possibilidade de influências sobrenaturais ou de realidades incorpóreas. Conceito de átomo de Demócrito é a base desta filosofia. Alma e corpo são entendidos como pertencentes a uma única substância. Tudo que afetará a alma, afetará o corpo, e vice-versa.
As informações sensoriais eram apreendidas pela memória e eram confiáveis. Se houvesse erro, era devido a equívocos na interpretação. 
Estóicos: as preocupações éticas ganham prevalência sobre as questões ontológicas, epistemológicas e lógicas. Mesmo assim, se dedicaram a essas áreas. No plano ontológico eles entendiam que a realidade era material. No plano epistemológico eles acreditavam que uma razão universal deveria guiar a razão humana. Anularam as diferenças propostas por Aristóteles entre sensação e intelecto. O conhecimento verdadeiro era a harmonia entre o homem e a realidade (a compreensão).
Na ética, ensinavam que o bem não estava nas coisas e atrativos do mundo exterior. O bem estava na alma, isto é, na sabedoria de afastar-se das paixões e desejos que perturbam a vida quotidiana.
Retoma a questão da interioridade já levantada pela tragédia grega. A valorização do autodomínio assume uma importância crescente. O homem deveria travar uma guerra às paixões e aos vícios que o subjugam.
A alma era considerada sujeito e objeto das ações e era considerada material, como tudo que existe.
Definem coisas incorpóreas, também, como tempo e espaço.
A questão das representações é abordada pelos estóicos, que distinguem dois tipos, as ilusórias e as vazias, como as da imaginação, as que se apoderam do sonhador, e as compreensivas, que se impõe a nós com força, com uma nitidez e vivacidade tamanhas que nunca poderíamos duvidar da sua realidade ou da sua ligação com um objeto exterior, real.
Assiste-se a reabilitação do conhecimento sensível: conhecer é constatar. O mundo é seguro, o homem deve confiar nele, tanto quanto em si mesmo. Porém, a alma deve intervir para terminar o ato do conhecimento: tem de dar o seu assentimento, e este, é a marca da atividade e da liberdade do homem.
Com efeito, ilustra a implicação pessoal, livre e voluntária, do homem no processo do autoconhecimento e do mundo exterior. A aparência, suscitada pelo objeto, é elaborada por nós: esta subjetividade é que devemos escolher como objeto de estudo e de crítica.
Não se deve buscar a verdade na relação com o objeto exterior, mas no sentimento subjetivo que acompanha a representação verdadeira, a que recebeu o assentimento do sujeito do conhecimento.
Conhecer-se a si mesmo, descer para dentro de si mesmo, para melhor controlar as paixões, este é que é um dos aspectos principais do projeto dosestóicos.
O tema da interioridade assumiu uma importância considerável nos estóicos, e o cuidado consigo mesmo conduz a autoconquista.
Plotino: tem como ponto de partida um princípio cósmico chamado Ser Absoluto, ou o Um. Haveria uma alma universal de onde emanaria todas as almas. Essa alma universal seria o NOUS que é a pura inteligência, dela emanaria a alma que faz fluir o mundo que por sua vez faria fluir a alma dos homens e animais até chegar à matéria propriamente dita.
Fala em um conhecimento de um mundo interior e também o conhecimento de uma identidade individual. Faz uma distinção entre a informação sensorial e a impressão que é influenciada pela interpretação e pelo julgamento.
Parece reconhecer a existência de um mundo exterior e interior.
Filosofia Patrística: buscava conciliar o cristianismo com o pensamento dos filósofos gregos e romanos.
Introduziu a idéia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre arbítrio pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo.
Transformaram as escritas da Bíblia em verdades absolutas vindas de Deus, que por serem decretos divinos, seriam dogmas irrefutáveis e inquestionáveis.
Dividiram as verdades em verdades naturais que são verdades da razão ou humanas e verdades sobrenaturais, introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional.
Queriam conciliar razão e fé, tendo três proposições:
Fé e razão são inconciliáveis e a fé é superior à razão.
Fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé.
Razão e fé irreconciliáveis, sendo que cada uma teria seu campo próprio de conhecimento e não deveriam se misturar. 
A alma é considerada como o bem mais precioso do ser humano. O ser humano é valorizado, pois foi criado a imagem e semelhança de Deus.
Em síntese, o Cristianismo entende a alma como criação de Deus. O conhecimento não pode fundamentar-se no critério grego da evidência racional. A prece e a meditação substituem a observação e a análise.
Assistimos aos progressos paralelos, nos Estóicos e nos Patrísticos, da interioridade e do individualismo, duas dimensões determinantes para a emergência de uma nova disciplina, centrada no autoconhecimento íntimo.
Santo Agostinho: foi durante um tempo adepto do maniqueísmo, que pregava a dualidade entre o Bem e o Mal. Após, conheceu o neoplatonismo de Plotino e influenciado por Santo Ambrósio converteu-se ao Cristianismo.
Foi um meticuloso observador da natureza humana fazendo algumas observações que são descrições de estágios de desenvolvimento psicológico.
Deu muita importância sobre o conhecimento de si mesmo com o argumento de que somente a alma era capaz de conhecer a própria alma. O conhecimento de si mesmo através da memória foi definida como sendo constituído de uma realidade temporal e não espacial. Desta forma, entendia a vida interior como uma experiência temporal.
A introspecção adquire um autêntico valor moral. Deitar luz sobre as regiões mais escuras da consciência, tornar-se senhor das recordações mais antigas e mais recônditas, é este o projeto no cerne da diligência agostiniana.
Ele faz a descoberta de toda uma atividade mental que ocorre à sua revelia: em suma, que nem todos os conteúdos psíquicos são conscientes. Toda a reflexão agostiniana sobre a memória surge como o antepassado da pesquisa freudiana sobre o inconsciente. Realça o surpreendente caráter da memória.
A perspectiva que podemos considerar psicológica continua intimamente ligada à metafísica, e, para Agostinho, o mistério e o prodígio da memória vão fazer dela uma via de acesso para Deus e a beatitude.
O “eu” entrou nos raciocínios filosóficos, que o homem se separa do cosmos, se identifica com a sua alma, começa a ter dentro de si, já não um ele, mas sim um eu.
Filosofia Medieval ou Escolástica: época do surgimento das Universidades. Os escolásticos eram cuidadoso com a terminologia, enfatizavam o estudo teve como influências principais Platão (o neoplatonismo de Plotino) e Aristóteles (conservado e traduzido pelos árabes).
Sofreu grande influência de Santo Agostinho e traz os problemas dos universais. Surge a teologia, filosofia cristã. 
Utilizavam da razão para tentar provar a existência de Deus e da alma.
Possuía como temas a separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo), a diferença entre razão e fé (a primeira deve se subordinada a segunda), a diferença entre corpo (matéria) e alma (espírito), o Universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam e governam os inferiores (Deus, arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais, minerais).
O método de busca da verdade era conhecido como disputa – apresentava-se uma tese que deveria ser refutada ou defendida por argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles ou Platão.
Valorizavam o princípio da autoridade que é considerar como verdadeiro todo o argumento baseado na idéia de uma autoridade conhecida (Platão e a Bíblia, por exemplo).
Tomás de Aquino: a filosofia de Aristóteles mostrava a importância do conhecimento empírico levando seus estudiosos compreenderem que filosofia era independente da revelação. Tal posição entrava em conflito com o pensamento ortodoxo da Igreja. Restou a ele reconciliar os ensinos da origem espiritual do homem de Agostinho com a autonomia do conhecimento derivado dos sentidos de Aristóteles. Foi o príncipe da escolástica. Criou o conceito de intetio que quer dizer alcançar ou dirigir a mente para. A verdade estaria na concordância da forma do objeto com a forma da mente.
Análise Platão, Aristóteles, Agostinho e Aquino: a diferença entre a psicologia dos filósofos gregos e dos teólogos cristãos mostra-se claramente na definição de alma (o que é – ontológico), nos modos de conhecimento (como se conhece – epistemológico), nas justificativas lógicas e implicações éticas (para que(m) – axiológico).
Platão define a alma como reencarnável, incorpórea e essencialmente moral. Assim, o verdadeiro conhecimento seria alcançado através do afastamento do mundo sensível e do exercício de uma capacidade de raciocinar que se manteria distante das sensações. Essa capacidade seria atingível por uma habilidade de raciocinar dialeticamente. O esforço é necessário para chegar a verdade que preexiste a alma. A alma continha em si mesma a sabedoria e a verdade, e valorizava todo o esforço para alcançar essa via de libertação, que é o bem absoluto e universal.
Aristóteles define a alma como princípio da vida animal e assume assim uma perspectiva biológica. A alma expressa todas as suas afecções através do corpo e assim também o modifica. Temos então uma condição metafísica em que a realidade psíquica constitui-se através de um paralelismo entre alma enquanto substancialidade e corpo enquanto instrumentalidade. O conhecimento se constrói por intermédio das sensações corpóreas e uso da razão. A verdade pode ser alcançada pelo exercício intelectivo que abrange a informação sensorial, as representações da imaginação, os materiais fornecidos pela memória e o raciocínio. Enfatizava a importância do estudo da Biologia, Psicologia e Política e definia o bem como um conceito racionalmente construído a partir da educação do indivíduo.
Agostinho e Aquino modificam estas psicologias para ajustá-las à doutrina cristã. Agostinho valoriza a autonomia da alma não como algo reencarnado, mas como dádiva do criador. A verdade estaria não nas reminiscências da alma como falava Platão, mas no despreendimento das seduções do mundo dos sentidos e, principalmente, na purificação por iluminação divina (a fé substitui a lógica). Colocava na ajuda do Criador todas as possibilidades de uma vida virtuosa.
Aquino conceitua a alma como imaterial, unida ao corpo sem intermédio e permanentemente orientada para o mundo natural. Resolve o problema da primazia do mundo sensível argumentando que se tratava de um mundo criado por Deus. Valoriza a razão como importante para decodificar e apropriar-se das informações do mundo sensível, o que tambémnão seria problema pois a razão enquanto poder do intelecto era uma dádiva de Deus. Reconhecia a importância da razão nas decisões práticas, que devem estar baseadas nas leis naturais e nas leis divinas, as quais complementam uma a outra. Contudo, em dúvida, a orientação da Igreja deveria permanecer.
Filosofia da Renascença: foi marcada pela descoberta de outras obras de Platão e Aristóteles. Com a expansão marítima e descoberta de novas terras, a Igreja passou a ser contestada, surgindo, juntamente o Protestantismo, a prensa tipográfica (que disseminou o conhecimento para fora da Igreja) e a pólvora (que contestou o funcionamento do sistema feudal) foram criações importantes para as mudanças.
A síntese de Aquino estava começando a ruir, criando-se um abismo entre teologia e filosofia.
Tudo isso afetou a psicologia em dois pontos principais: no aumento das críticas a Aristóteles e na produção de concepções da natureza do homem.
Nessa Renascença as visões dos altos e baixos da irracionalidade humana estavam vindo à superfície, esquecendo áreas que no curso do tempo abrangeriam todo o âmbito da psicologia.
Foi contra esse complexo, um mundo intelectual despedaçado, que a ciência moderna começou a manifestar seus primeiros movimentos significativos.
Filosofia Moderna: foram os gregos que assentaram as bases essenciais da mentalidade cientifica, o nosso conhecimento por ciência como o que é abstrato, generalizável e baseado em princípios, que é público e testado, não esotérico, organizado e coerente, sujeito à correção e, quando possível, experimentalmente e matematicamente sedimentado.
A mente medieval foi basicamente não científica. Procurou mais por semelhanças simbólicas do que por conexões causais.
A Europa foi herdeira de duas grandes tradições: o pensamento filosófico grego e a teologia judaica. O modelo helênico da lógica e racionalidade nunca extinguiu-se totalmente e foi revivido no escolasticismo.
Com a chegada do universo heliocêntrico o medievalismo foi condenado, e a ciência moderna foi lançada em seu momentoso curso; enquanto a anatomia do corpo humano de Vesalius abriu um caminho para um novo entendimento, primeiro do corpóreo, e então, do funcionamento psicológico do homem.
Com Kepler veio o reconhecimento de que as teorias devem estar de preciso acordo com as observações:”Sem os experimentos adequados não concluo nada.
Então, no início do século XVII emergiu o profeta de seu futuro papela na pessoa de Francis Bacon, um homem com uma visão excepcional que levou todo o conhecimento ao seu campo de estudos e previu não apenas o impacto que a ciência teria nos assuntos humanos, mas que a psicologia, a ciência da mente, conquistaria seu espaço entre as ciências.
Conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, marcado por 03 mudanças:
o reconhecimento do homem como sujeito do conhecimento, qual a capacidade do homem? A volta do pensamento para si mesmo para conhecer a capacidade de conhecer.
Definição de objeto do conhecimento, que pode ser conhecido desde que sejam considerados idéias ou representações;
A realidade concebida como um sistema racional físico-matemático. A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem.
Nasce a idéia de experimentação e de tecnologia.
Francis Bacon: entendeu as bases essenciais para uma ciência efetiva, a necessidade de uma pesquisa organizada e da coleta sistemática de dados.
A verdade parece ser que ele viu mais claramente do que qualquer outro de seu tempo a necessidade e as potencialidades de uma psicologia fundamentada em dados empíricos e capaz de ser aplicada no auxilio da condição do homem.
A façanha realmente significativa de Bacon foi sua compreensão de que um fato, cientificamente baseado no conhecimento, poderia se transformar numa fonte de domínio do homem sobre a natureza, que este era o caminho para a utilidade e poder do homem, que isso capacitou o homem a passar de imitador passivo para dominador ativo da natureza.
Bacon deu início à uma ambiciosa tentativa de produzir ‘uma reconstrução total das ciências, artes e todo o conhecimento humano em seu próprio alicerce’. Seu objetivo era firmar as bases sobre as quais pudesse se estabelecer um corpo progressivo e crescente do conhecimento científico.
A lógica de Bacon era basicamente indutiva. O ponto de partida era, essencialmente, a coleta de fatos; esses fatos deveriam ser arranjados e classificados em tabelas e, dessas, derivariam generalizações. Isso capacitaria, definitivamente, o pesquisador a chegar ao conhecimento das causas, porque o conhecimento científico era essencialmente o conhecimento causal. Por isso Bacon entendeu o conhecimento das causas eficientes; ele considerou as causas finais e formais como não sendo de interesse próprio da ciência, mas da metafísica.
Se não foi um modelo, sua nova lógica foi, entretanto, um encorajamento à pesquisa empírica e à experimentação, e tinha alguma coisa a ver com o cultivo à ciência crescente no século dezessete. Além disso, Bacon deteve-se em um princípio lógico extremamente valioso, o vis instantiae negativae, a força das instâncias negativas. Como o lógico von Wright observou, isto foi ‘o mérito imortal de Bacon, ter apreciado essa assimetria na estrutura lógica das leis’, o fato, em outras palavras, que uma instância negativa pode refutar decisivamente, enquanto que uma acumulação de instâncias positivas não pode provar decisivamente.
Além de declarar uma nova metodologia, Bacon foi, talvez, o primeiro a propor um prosseguimento ordenado e sistemático em ciência, e a recomendar sua profissionalização.
Entre as ciências que Bacon listou em suas classificações estavam ‘conhecimentos que diziam respeito à mente.
A psicologia foi definida por Bacon simplesmente como ‘o conhecimento da mente’ e, para isto, ele dedicou uma parte considerável do seu Advancement of Learning e dois livros do De Augmentis. Em suas concepções básicas de psicologia, Bacon seguiu principalmente Aristóteles e seu método das faculdades, mas as considerações teológicas, e possivelmente as influências de Ockham, conduziram-no a distinguir duas partes da psicologia, ‘uma que investigava a substância ou natureza da alma ou da mente, e outra que investigava suas faculdades ou funções.
Mas as faculdades e as funções humanas poderiam ser investigadas pelo mesmo método das demais disciplinas científicas. Dessa maneira, empiricamente a divisão da disciplina teria duas subdivisões principais; o estudo do ‘homem segregado’ (psicologia individual) e do ‘homem congregado, ou em sociedade’ (psicologia social).
Infelizmente, Bacon não desenvolveu uma psicologia geral nestas linhas. O que ele fez foi esboçar em resumo campos de pesquisa que, mais tarde, se tornariam conhecidos como a psicologia diferencial, a psicoterapia e a psicopatologia do pensamento.
Para construir um conhecimento perfeito era necessário considerar diferenças resultantes do sexo, idade, região, saúde ou doença e de circunstâncias externas como riqueza e posição social.
Bacon considerou o conhecimento das pessoas como importante, não somente em uma escolha vocacional, mas também no tratamento dos distúrbios da mente. A psicoterapia ou o tratamento de ‘problemas ou enfermidades da mente’ foi uma questão de muita preocupação para Bacon, que tinha, além de tudo, uma grande experiência na vida pública em relação às leis e à política, e uma larga convivência com as aberrações da natureza humana. Sua famosa obra Essays é composta de nove observações perspicazes que evidenciam a amplitude da sabedoria de Bacon. De uma maneira prática ele considerou a ‘administração da mente’ como sendo prioritária, ‘pois a remoção dos impedimentos da mente tornará mais claras as passagens da fortuna do que fortuna obtida removerá os impedimentos da mente’. Existe uma necessidade real, por conseguinte, pelo que ele chamou ‘a agricultura da mente’, o que eqüivale dizer o trabalho de cultivo da mente, o que seria conseguido sabiamente atravésde um ordenamento e de um exercício, envolvendo uma consideração de diferenças individuais, de influências dos fatores ambientais e das variações de humor. Em particular, ele prescreveu um conhecimento de sentimentos dinâmicos, e uma série de leis sensíveis para a aquisição e a remoção de hábitos - a aspiração de metas delimitadas, monitoramento, atenção para ‘as horas boas da mente’, a necessidade de esforço e o valor das distrações.
De especial interesse para Bacon foi a psicopatologia do pensamento. Nesta área ele foi novamente um pioneiro. Aristóteles na sua obra De Sophisticis Elenchis (Refutações Sofistas) tinha examinado falácias lógicas no pensamento. A famosa teoria dos ‘ídolos’ de Bacon foi talvez a primeira a alcançar importância e a trabalhar sistematicamente com distorções psicológicas do processo de pensamento. De ‘ídolos’ Bacon chamou os fantasmas, desilusões e preconceitos aos quais a mente humana está propensa. A compreensão humana é como um espelho falso, o qual recebendo raios irregularmente, distorce e descolore a natureza das coisas misturando sua própria natureza com elas. Algumas destas distorções são comuns à humanidade, como, por exemplo, as distorções por fatores emocionais (ídolos da tribo). Outros relacionados com viesses individuais (ídolos da caverna), onde ‘todo o indivíduo em conseqüência de sua educação, seus interesses e sua constituição é freqüentado por um poder de desilusão, seu próprio demônio familiar, o qual zomba de sua mente e o atormenta em vários aspectos secundários. Outros relacionados com armadilhas verbais (os ídolos do mercado), aqueles falsos significados das palavras que moldam seus raios, que marcam suas impressões na própria mente. Finalmente, aqueles relacionados aos sistemas (ídolos do teatro), ou ideologias, como deveríamos chamá-los hoje em dia, que produzem exemplos pensamentos prontos e, conseqüentemente, de uma realidade obscura. Estas patologias do pensamento Bacon acreditou poderem ser superadas através de uma aderência estrita à uma metodologia perfeita. ‘Um novo método deve ser encontrado para calmamente ingressar nas mentes asfixiadas e desenvolver-se. Ter dado uma metodologia segura para a habilidade de compreensão para a metodologia perfeita não foi importante. ‘Meu sistema de método de pesquisa’, declarou Bacon, ‘é de tal natureza que tende à igualar as faculdades e as capacidades do homem’. Sem dúvida alguma, Bacon colocava muita fé nas virtudes de uma metodologia restrita e tinha um conhecimento inadequado das profundas raízes inconscientes do preconceito humano. Como sempre, sua avaliação dos "ídolos" foi o primeiro esboço notável da psicopatologia do pensamento.
O caminho imediato do avanço na ciência, entretanto, não foi Baconiano, e os desenvolvimentos que se seguiram na psicologia foram atribuídos muito menos à Bacon do que aos filósofos que o sucederam.
Galileu Galilei: foi Galileu Galilei (1564-1642) quem, acima de todos os outros, assinalou o caminho que a ciência moderna deveria seguir, causando a morte decisiva à física e à cosmologia Aristotélica.
Foi Galileu, também, quem compreendeu os princípios metodológicos que poderiam realmente transformar as ciências físicas. Em Il Saggiatore (The Assayer) (1623), proclamou que ‘o livro do universo é escrito em linguagem matemática, tendo como caracteres triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem as quais é impossível compreender uma única palavra’. Defendeu o uso do método hipotéticodedutivo, e do teste experimental das hipóteses. Galileu apontou que os processos a serem quantitativamente avaliados poderiam ser isolados e abstraídos da situação total, sendo manuseados abstratamente por meio da matemática.
O que Galileu havia conquistado era uma substituição de generalizações empíricas dos Aristotélicos, pelo o conceito de movimento per se, matematicamente expresso e abstraído de todas as circunstâncias particulares e estreitas.
O domínio psicológico foi posto de lado, um mundo próprio no qual atributos que a física havia rejeitado residiam em uma separação ilusória. Uma nova era em psicologia foi, desse modo, inaugurada, e uma nova série de problemas trazida à tona.
Acaba de ocorrer uma mudança de grande importância na vida intelectual do homem, o que forçou os psicólogos a uma escolha entre uma assimilação materialista ou declaração dualística de independência ao domínio da física. As psicologias filosóficas dos séculos XVII e XVIII foram tentativas de vir a termo com esse dilema.

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