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MÓDULO 2 TRABALHISTA

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MÓDULO 2.
Dos princípios do Direito Processual do Trabalho.
DOS PRINCÍPIOS.
Os princípios, ideias básicas da disciplina, perdem em concretude, não definem, por exemplo, o prazo para um recurso, os pressupostos para a propositura de uma ação, mas ganham em abstração, como a igualdade, a dignidade, e por isso podem e devem ser observados e respeitados em todos os casos concretos. São gerais, e não específicos como peculiaridades de momentos processuais.
Os princípios gerais de direito orientam a interpretação constitucional e suprem lacuna no ordenamento jurídico brasileiro (inclusive no campo infraconstitucional, nos termos do art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil), norteando os julgados que não encontram uma norma específica para aplicar ao caso sub judice. São normas abstratas, extraídas do ordenamento jurídico e com base em observações sociológicas. Possuem, portanto, em vista de sua abstração, uma amplitude tal que permite adequá-lo à solução de um caso concreto [1].
Como afirmam Wagner Giglio e Claudia Giglio Veltri Correa, “cada autor arrola os seus princípios, e poucos são os que coincidem” [2].
Conforme os autores, a inversão do ônus da prova é técnica, e não princípio; a desigualdade das partes é particularidade do conflito e não do processo; o juízo especial nem sempre existe e diz respeito à organização judiciária, e não ao processo [3].
 Outros princípios são de todo processo, e não peculiares do processo trabalhista, como o do acesso à justiça (direito à ação, previsto no art. 5º, XXXV, CF), inafastabilidade da prestação jurisdicional (direito de cada um de obter uma decisão judicial); da igualdade, ampla defesa e contraditória (art. 5º, LV, CF), do juízo e do promotor natural (art. 5º, LIII, CF), do devido processo legal (art. 5º, LIV, CF), da liberdade, da economia processual, da preclusão, da boa-fé e da lealdade processual, da fundamentação das sentenças, do duplo grau de jurisdição, da humanização da justiça, da oralidade e seus corolários (concentração, irrecorribilidade das decisões interlocutórias, predomínio da palavra falada, imediatidade e identidade física do juiz), da celeridade, da gratuidade, da imparcialidade rigorosa dos funcionários judiciais, da coisa julgada, da publicidade do processo etc.[4] Os princípios gerais do direito processual aplicam-se, via de regra, ao direito trabalhista [5].
 Antes de analisarmos cada um dos princípios, faz-se importante consignar que a existência de princípios [6], institutos e fins próprios, contribuem para a autonomia do Direito Processual do Trabalho, no plano científico, embora no plano legislativo haja controvérsias sobre a sua autonomia, já que não existe um Código Processual do Trabalho – “são poucas e lacunosas as normas específicas do processo trabalhista, que têm como subsidiárias as do Código de Processo Civil” [7].
Dos princípios específicos do Direito Processual do Trabalho.
Celeridade.
 Ainda maior que em qualquer outro tipo de processo, já que os créditos trabalhistas têm natureza alimentar, e que as greves são importante fator de atraso no desenvolvimento econômico e empecilho para a circulação dos bens, o que é essencial para a vida em sociedade.
 Reformas legislativas e o crescimento da Justiça do Trabalho são importantes para dar cumprimento ao princípio ideal da celeridade.
Instrumentalidade das formas.
O ato deve ser aproveitado, independentemente da forma. É como a fungibilidade dos recursos, nos dizeres de Pedro Paulo Teixeira Manus. Cuida-se do entendimento de que o conteúdo é mais importante que a forma, por isso não se pode privilegiá-la. Tal princípio encontra limites na lei – o juiz, por exemplo, não pode suprir requisitos como custas ou guia.
Maior concentração dos atos processuais.
Por força deste princípio que a audiência trabalhista assume importância especial.
Proteção e gratuidade.
 
O princípio protecionista é um princípio internacional, decorrente do caráter tutelar do Direito Material do Trabalho, que se aplica também ao Direito Processual do Trabalho. O processo se adapta à natureza da lide, e como o Direito do Trabalho entende que o trabalhador é a parte vulnerável, a ser protegida, assim é o processo trabalhista, cuja finalidade é restabelecer uma igualdade prejudicada pela inferioridade econômica do empregado diante do empregador ou beneficiário dos serviços.
Assim, a presunção é que no processo do trabalho também se destaca a posição privilegiada do beneficiário dos serviços, já que tem melhor assessoria jurídica, melhores condições de produzir provas (especialmente testemunhal, entre subordinados), melhores condições econômicas para suportar um processo demorado e as despesas processuais.
Por isso, como corolário do princípio protecionista, proporciona-se ao trabalhador a gratuidade do processo, a isenção do pagamento de custas e despesas; a assistência judiciária gratuita sindical, a inversão do ônus da prova, com presunções em favor do empregado.
Ressalte-se que a imparcialidade do juiz só nos permite afirmar que a proteção é conferida pela lei, e não pelo juiz. O juiz não pode favorecer nenhuma das partes; já a lei, protecionista, trata com desigualdade os desiguais, restabelecendo assim o equilíbrio entre as partes.
Conforme Amauri Mascaro Nascimento, “se a fonte da favorabilidade não for à lei e sim o critério pessoal do juiz, pode-se consumar, em um caso concreto, uma desproporcionalidade excessiva a título de promoção da igualdade que não se coaduna com os fins do processo” [8].
Decorrem do princípio protecionista as regras: in dubio pro operário (na dúvida decide-se em favor do operário); prevalência da norma mais favorável ao trabalhador; preservação da condição mais benéfica para o trabalhador; fixação da competência no local da prestação de serviços, para favorecer o trabalhador.
Imediação ou imediatidade.
O juiz colhe a prova, inquire a testemunha. O juiz dirige o processo. O juiz ou tribunal deve conhecer e decidir o conflito trabalhista, por isso precisa estar em contato direto, ao redor das partes, presidindo todas as audiências, para que possa conhecer o negócio jurídico pessoalmente, para proferir sentença justa.
Dispositivo.
O juiz é inerte; o processo depende de provocação das partes para se iniciar. Tal princípio se contrapõe ao princípio do impulso processual.
Jurisdição normativa.
Só ocorre no direito brasileiro – o judiciário pode modificar uma norma jurídica – a sentença normativa é lei e só pode ser aplicada após ação de conhecimento, e não mera execução.
Além disso, a sentença normativa vigora até que outra a revogue – assim, prestações pagas em cumprimento da primeira sentença normativa não podem ser recuperadas. A nova sentença normativa revoga a anterior, mas não tem efeitos retroativos.
Despersonalização do empregador.
 Diante da sucessão de empresas, é possível estender os efeitos da coisa julgada a quem não foi parte no processo de conhecimento, tudo para garantir o trabalhador. O conceito de parte no processo trabalhista é relativo, diferente daquele dos demais tipos processuais.
 9. Simplificação procedimental.
 Princípio internacional que concede capacidade postulatória às partes, comunicação postal dos atos processuais (a citação é feita por carta com aviso de recebimento, por exemplo), nomeação de perito único, eliminação da fase de avaliação dos bens penhorados etc. Tudo no intuito de tornar mais simples o processo.
DOS PRINCÍPIOS IDEAIS.
Extra petição.
Para que o juiz possa decidir ultrapetita, por exemplo, atribuindo responsabilidade solidária à reclamada e seus sócios, em caso de fraude, quando na realidade o empregado só requereu responsabilidade subsidiária dos sócios.
 A Súmula 211 do TST determina que o magistrado condene ao pagamento de juros e correção monetária, ainda que não haja pleito do reclamante neste sentido.
 O art. 496 da CLT faculta ao juízo trabalhista converter pedido de reintegração do empregado estável em pagamento de indenizaçãodobrada – o empregado só pode pleitear a reintegração. O julgador concede indenização não pleiteada (a obrigação de fazer se transforma em obrigação de dar).
 Iniciativa extra parte.
Trata-se da iniciativa ex oficio nas causas de acidente de trabalho e de conflitos coletivos. É princípio que se aproxima do princípio da extra petição [9].
 Exemplo: quando a Justiça do Trabalho determina de ofício a citação do empregador para, na falta de anotação em carteira de trabalho e previdência social, transformar o procedimento administrativo em ação penal.
 No exemplo supra, o Poder Judiciário foi provocado pela Delegacia Regional do Trabalho – mas o empregado não tomou iniciativa, se não de apenas apresentar queixa na esfera administrativa. A ação trabalhista é de iniciativa do órgão judicial.
 Outro exemplo: nos dissídios coletivos em que ocorra greve a ação pode ser proposta pela Procuradoria do Trabalho (art. 856 da CLT e 114, §3º, CF, com a nova redação dada pela EC n. 45/2004) [10].
Coletivização das ações individuais.
Tendência atual no processo do trabalho revela a ampliação dos casos de aplicação da substituição processual.
 Trabalhadores que se encontram na mesma situação de fato do autor são abrangidos pela ação, por economia processual – ocorre uma chamada ao processo de litisconsortes ativos necessários, determinada de ofício.
 O sindicato pode requerer (art. 195, §2º, CLT) em juízo, como substituto processual, o reconhecimento de insalubridade ou periculosidade, em benefício de grupo de associados, para não haver desnecessariamente várias ações individuais idênticas, com o desperdício de tempo, despesas, perícias, esforços.
 No âmbito do processo civil, a sentença é Inter partes e só por exceção erga omnes.
Se a ação é proposta por um trabalhador, ou grupo de trabalhadores, também é possível que o juiz determine a integração na lide por todos os trabalhadores que exerçam suas atividades no mesmo ambiente.
Fins próprios.
Trata-se de fazer valer os direitos materiais trabalhistas, igualando com superioridade jurídica o trabalhador e o beneficiário da prestação de serviço, já que há inferioridade econômica do trabalhador.
 O objetivo é a melhoria do padrão de vida através de melhor distribuição da riqueza nacional.
 A desigualdade é maior durante o período de duração do vínculo, ou prestação de serviços do trabalhador, quando este, com receio de perder a fonte de seu sustento, não tem liberdade plena de manifestação. Daí a análise cautelosa de quitação, transação, renúncia. Provas documentais e testemunhais são mais fáceis para o empregador ou tomador de serviço, daí a inversão do ônus da prova em favor do trabalhador, para restabelecer o equilíbrio entre as partes.

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