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DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO Definição: passagem do conteúdo gástrico para o esôfago, com ou sem regurgitação/vômito Refluxo (esôfago) < regurgitação (cavidade oral) < vômito (ambiente externo) Fisiológico (maioria, falta de maturidade das barreiras antirrefluxo do RN - terapia não farmacológica) ou patológico com sintomas importantes (terapia farmacológica) Usar só quando necessário por conta dos efeitos colaterais (ex: domperidona causando síndrome extrapiramidal) Ocorre em pessoas saudáveis até 3 minutos após a refeição Geralmente desaparece até os 6 meses de idade (pelo desenvolvimento das barreiras antirrefluxo) Quadro clínico: heterogêneo, depende da idade, comorbidades e complicações (regurgitação, esofágicas, extraesofágicas) Regurgitações e vômitos (não diagnosticar baseado somente nisso) retardo de crescimento, desnutrição Geralmente minutos após mamar ou até horas depois Pode ser alergia à proteína do leite de vaca, anomalias anatômicas congênitas (estenose hipertrófica de piloro), má rotação intestinal Perda de peso ou não ganho de peso (ou até excesso de peso leite básico aliviando a queimação da esofagite mecanismo compensatório aumenta a produção de ácido no estômago piora sintomas com o tempo) O emagrecimento nem sempre indica RGE, pode ser apenas uma falha dietética Irritabilidade e choro persistente (principalmente quando está deitada, mas pode ser em pé também) Manter a cabeceira elevada a 30° e jamais colocar para dormir de bruços! aumenta o risco de apneia do RN e morte súbita Diferenciar da cólica intestinal: dor mais durante a noite, bebê em BEG, disquesia (se espreme e fica vermelho), não passa (remédios são placebos) Comportamento ruminativo Azia ou dor torácica gera irritabilidade Saciedade precoce Hematêmese, melena, sangue oculto positivo nas fezes Disfagia (dificuldade de deglutir) e odinofagia (dor ao deglutir) A disfagia é esofágica (acontece depois de engolir) a orofaríngea seria durante a deglutição (não ocorre no RGE) Sibilância e estridor intermitente: por conta do broncoespasmo Esofagite de refluxo, estenose de esôfago e esôfago de Barrett Inflamação de laringe ou de faringe Pneumonia e infecções de vias aéreas de repetição Pneumonia recorrente pode ser por uma fibrose cística ou corpo estranho (se acontecer sempre no mesmo lugar) Anemia (normocítica e normocrômica) pelas microerosões e pequenos sangramentos/hemorragias Erosão dentária: sulcos no esmalte da face lingual dos dentes Não é patognomônico, pode indicar bruxismo somente um RGE muito intenso causa isso Recusa alimentar (ou pede muito leite) Manifestações otorrinolaringológicas (muito comum otite média aguda porque a criança mama deitada e o conteúdo regurgitado atinge o óstio faríngeo da tuba auditiva), sinusite, laringite Nunca amamentar a criança deitada! Postura distônica do pescoço/síndrome de Sandifer (acontece geralmente com o bebê acordado) patognomônica! Rotação lateral do pescoço Opistótono Simula convulsões Raramente ocorre em escolares Causada pela dor e apneia, porque o bebê ainda não tem toda a bainha de mielina opistótono posterior relaxamento Apneia (obstrutiva com hipoxemia e bradicardia) ou eventos que ameaçam a vida líquido gástrico pode cair na traqueia e causar espasmos criança cianótica Ocorre nos primeiros minutos após a amamentação em crianças até os 6 meses de vida Tosse, rouquidão (mais comum em adultos com RGE) Podem ser por conta de uma traqueíte ou laringite (mais comum ocorrer associada ao clima ou vírus) Alterações neurocomportamentais: distúrbios do sono, irritabilidade e síndrome de Sandifer Lactentes: Geralmente fisiológico, resolve-se de 6 meses até 1 ano de idade não usa medicamentos Ganho de peso, sem sinal de alarme nenhum problema Diferenciar de alergia alimentar e cólica (em lactentes que não amamentam, fazer tese com fórmulas hidrolisadas e aminoácidos) Sinais de alerta para DRGE: Vômitos biliosos Sangramento gastrointestinal (hematêmese, hematoquezia) Sempre que tiver anemia pesquisar sangue oculto nas fezes! Diarreia, distensão abdominal Febre Letargia Vômitos frequentes e em jato Início dos vômitos após 6 meses de vida Persistência dos vômitos após 1 ano de idade Perda de peso ou parada no crescimento Hepatoesplenomegalia Abaulamento de fontanela (pode ser causado por várias coisas – não pensar primeiramente em RGE, não é muito comum, a menos que esteja associada a anemia e perda de peso) Macrocefalia, microcefalia Convulsões Síndrome genético-metabólica Mal estado geral Disúria Crianças maiores: Mais semelhante ao tipo adulto, maior chance de cronicidade (remissão – recidiva por anos) complicações esofágicas mais graves Se não possuía sintomas anteriores investigar causa secundária Menor incidência de regurgitações Dor retroesternal (mais bem relatado por adultos) Baixo peso (não quer comer por causa da dor) Epigastralgia Azia Causas: Primário: criança nasce com a DRGE Secundário: uso de medicações, alimentação intolerante a algum componente Tratar a doença de base Fisiopatologia: relaxamentos transitórios do EEI Barreiras antirrefluxo: Esôfago abdominal (pela passagem pelo hiato esofágico como uma válvula) Pilar direito do diafragma (que se contrai) Ligamento frenoesofágico Ângulo de His (obtuso na criança) Roseta gástrica (hipertrofia das pregas estomacais dificultam o retorno do alimento) Esfíncter esofágico inferior Mecanismos de agressão: Ácido clorídrico, pepsina, tripsina Suco gástrico (ácidos biliares) Esvaziamento lento Mecanismos de defesa: Clareamento esofágico: constante movimento de substância mucosa lavagem do esôfago Regurgitações e vômitos (ascendendo) – na presença de muito ácido no estômago Peristaltismo, saliva (reduz acidez) e gravidade (auxilia esvaziamento) (descendendo) Grau de resistência tecidual do estômago O esôfago não tem essa resistência, por isso o refluxo do suco gástrico causa esofagite Grupos de risco para ter DRGE (crônica, mais grave, com mais complicações esofágicas, que podem precisar de tratamento por toda a vida): Neuropatas Crianças operadas de atresia de esôfago Portadores de hérnia hiatal Portadores de doenças respiratórias crônicas (fibrose cística) Submetidos ao transplante pulmonar Em uso de quimioterapia Prematuros Obesos Diagnóstico: clínico, sem exame padrão-ouro Possui muitos sintomas em comum com outras patologias Radiografia contrastada de esôfago, estômago e duodeno (RxEED): bom para avaliação anatômica (estenose, hérnia hiatal) Indicado para quem tem disfagia esofagiana, vômitos biliosos ou suspeita de volvo, obstrução, estenose, atresia, membrana Não deve ser usado para diagnosticar ou assessorar a gravidade da DRGE Cintilografia gastroesofágica: só serve para diagnosticar aspiração pulmonar (mas não exclui a possibilidade) Identifica o RGE mesmo após dieta com pH neutro, avalia o esvaziamento gástrico (não confirma diagnóstico) USG esofagogástrica: não é recomendada para avaliação clínica de rotina da DRGE Alta sensibilidade, baixa especificidade Importante no diagnóstico diferencial com a estenose hipertrófica de piloro pHmetria esofágica: quantifica o RGE e correlaciona os episódios de refluxo com os sinais e sintomas, mais importante e mais difícil de realizar Não detecta episódios de refluxo não ácidos (lactentes), que ocorre em 10% dos casos (conteúdo proveniente da bile) Indicado para avaliação de sintomas atípicos ou extradigestivos da DRGE; pesquisa de RGE oculto; avaliação da resposta ao tratamento clínico em pacientes portadores de esôfago de Barrett ou de DRGE de difícil controle; além de avaliação pré e pós-operatória do paciente com DRGE Impedanciometria esofágica intraluminal: detecta o refluxo independentemente do pH Mais útil realizada conjugada com a pHmetria (pH-impedanciometria) seria o padrão-ouro (sofisticado e caro) Manometria esofágica: avalia a motilidade do esôfago Indicada em quadro sugestivo de dismotilidade (disfagia e odinofagia),para os que não responderam à supressão ácida com endoscopia negativa (pode ser acalasia) Endoscopia digestiva alta com biópsia: possibilita diagnóstico das complicações esofágicas, não é bom para diagnóstico (nem no adulto) Importante no diagnóstico diferencial de: esofagite eosinofílica, esofagite fúngica, úlcera duodenal, gastrite por H. pylori, gastroenteropatia eosinofílica, malformações e neoplasias Detecta esofagite de refluxo endoscópica (macroscópica) e microscópica (biópsia) Não exclui diagnóstico (DRGE endoscópico-negativa) Teste terapêutico empírico com supressão ácida: usar IBP de 4 a 12 semanas Mais usado em crianças maiores e adolescentes, com sintomas típicos de DRGE (azia, dor epigástrica em queimação, tosse crônica, náuseas e regurgitações, dor torácica e dispepsia), sem sinais de alerta Em lactentes, fazer o teste e medidas não farmacológicas até os 6 meses e depois suspender (deveria desaparecer os sintomas pelo desenvolvimento das barreiras antirrefluxo) se persistir pode ser uma causa secundária Tratamento: Conservador: para RGE e DRGE Não usar roupas apertadas; Sugerir a troca das fraldas antes das mamadas; Evitar o uso de fármacos que exacerbam o RGE; Orientações dietéticas; Adolescentes: refeições volumosas e altamente calóricas devem ser evitadas, alimentos gordurosos não são recomendados, chocolates, refrigerantes, chá e café não são aconselháveis, não comer algumas horas antes de dormir Lactentes: fórmulas AR (antirregurgitação e não anti-RGE) diminuem a regurgitação visível, mas não diminuem a frequência dos episódios de refluxo Obesos: redução de peso Postura anti-RGE (prona – barriga para baixo) Para dormir: supina Adolescentes: decúbito lateral esquerdo com cabeceira elevada Medicamentoso: Antiácidos de contato: sintomáticos (sintomas esporádicos, diminuição da acidez noturna) Procinéticos: controlar os sintomas (vômitos e regurgitação) Aumentam o tônus do EEI e melhoram a depuração esofágica e o esvaziamento gástrico; mas não diminui a frequência dos relaxamentos transitórios do EEI, não cicatriza lesões esofágicas e não tem efeito anti-RGE Quase nunca usados pelos efeitos colaterais (SNC – síndrome extrapiramidal) Metoclopramida: melhora, mas com efeitos adversos Bromoprida: não usar Domperidona: melhora, mas sem muita eficácia (agitação, cólicas, arritmias ventriculares, prolongamento QT) Medicamentos que diminuem a secreção ácida: quando sintomas/complicações estão associados à ação do ácido no esôfago ou em outros órgãos Antagonistas H2: inibem os receptores H2 nas células parietais gástricas, diminuindo a acidez gástrica; melhor cicatrização de lesões em casos leves a moderados Taquifilaxia: diminuição da resposta Efeitos adversos: cefaleia, sonolência, ato de bater a cabeça (aumento errado da dose) Ranitidina (5 mg/Kg): age em 30min e dura até 10hs IBP: eleva o pH gástrico por longos períodos, inibe a secreção ácida provocada pela alimentação, facilita o esvaziamento gástrico e reduz o volume do refluxo Indicado para: esofagite erosiva, estenose péptica ou esôfago de Barrett, bloqueio mais efetivo da secreção ácida (doença respiratória crônica grave ou problemas neurológicos) Não tem taquifilaxia Omeprazol (0,7 a 3,5 mg/kg/dia), pantoprazol, esomeprazol, lansoprazol, rabeprazol e dexlansoprazol iguais, só muda a meia-vida Efeitos adversos: reações idiossincráticas (cefaleia, diarreia, constipação e náuseas), interações com outras drogas, hipergastrinemia e hipocloridria Usar antes da primeira refeição Não usar a longo prazo, fazer desmame de dose Cirúrgico: fundoplicatura gástrica Casos graves e refratários ao tratamento clínico, que necessitam de tratamento medicamentoso contínuo e em casos de grande hérnia hiatal ou esôfago de Barrett Lactente, sintomas leves, sem sinal de alerta terapia não farmacológica (mudança postural) Lactentes e crianças menores graves (aspiração, apneia, pneumonia) medidas farmacológicas Crianças maiores, adolescentes tratamento farmacológico Investigar causa secundária e tratar a causa e o refluxo (até a causa estar controlada)
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