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Motivacoes_Psicologia

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ALUBRAT – Associação Luso Brasileira de Transpessoal 
CESBLU – Centro de Educação Superior de Blumenau 
 
 
 
 
 
 
 
ROGÉRIO CANCIAM 
 
 
 
 
 
 
MOTIVAÇÕES E PSICOLOGIA – A PRESENÇA DE 
ABRAHAM A. MASLOW 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPINAS 
2009 
 
 
ALUBRAT – Associação Luso Brasileira de Transpessoal 
CESBLU – Centro de Educação Superior de Blumenau 
 
 
 
 
 
 
 
ROGÉRIO CANCIAM 
 
 
 
 
MOTIVAÇÕES E PSICOLOGIA – A PRESENÇA DE 
ABRAHAM A. MASLOW 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada no Curso de 
Pós-Graduação em Psicologia 
Transpessoal Lato Sensu do CESBLU – 
Centro Educacional de Blumenau & 
ALUBRAT – Associação Brasileira de 
Transpessoal como requisito para 
obtenção do título de Especialista em 
Psicologia Transpessoal, sob a 
orientação do Profº Ms. Luiz Carlos 
Garcia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPINAS 
2009
 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho para todas as 
pessoas que não estão motivadas, na sua 
vida, e para aquelas que já descobriram 
que a maior motivação começa por si 
mesma. 
E aos meus sobrinhos, que nunca deixem 
de viver a motivação: Thais, Beatriz, Júlia, 
Mário Francisco, Roberta, Pietra, Carlos 
Alberto e Gustavo. 
 
 
 
 
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AGRADECIMENTOS 
 
À querida Profª Drª Vera Saldanha, pelo carinho e estímulos em saber dividir o 
conhecimento na psicologia. 
Ao meu professor e orientador Mestre Luiz Carlos Garcia, que, pela paciência e 
dedicação, me ajudou a descobrir a motivação. 
Ao meu querido Pai e Pastor Dom Bruno Gamberini, pelo apoio e incentivo. 
Aos meus colegas da pós-graduação pela amizade e partilha nas vivências e no 
saber. 
Ao meu amigo e professor José Antônio Lourenço Barros, que sempre disponível e 
alegre acolheu em seu saber. Eterna gratidão! 
Ao amigo e companheiro Padre Carlos Roberto Marassato de Moraes, que soube 
respeitar e apoiar meus estudos e pela amizade. 
Ao Padre João Luiz Fávero, que acreditou em mim. 
Aos amigos Marilza, Rodrigo e Rafael Danelon, pela amizade e carinho. 
Ás minhas amigas professoras e psicólogas Arlete, Célia e Márcia, pela alegria, pelo 
conhecimento e pela amizade. 
À minha querida amiga Beth Peres, pelo companheirismo e apoio nas horas difíceis. 
Ao meu amigo Fernando Souza que, com sua dinâmica, soube compreender e 
admirar a psicologia. 
Aos meus queridos amigos da paróquia São Sebastião, Aydê Capovilla, Augusta 
Fazani, Sidney Costalonga, Filomena e João Amatti. 
Às secretárias Ariana e Amanda que, com sua simpatia, sempre acolheram meus 
pedidos. 
Ao Deus da vida e a Nossa Senhora, meu reconhecimento, gratidão e amor, num 
louvor eterno! 
 
 
 
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REVOLUÇÃO DA ALMA 
 
Ninguém é dono da sua felicidade, por isso não entregue sua alegria, sua paz, sua vida nas 
mãos de ninguém, absolutamente ninguém. Somos livres, não pertencemos a ninguém e não 
podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja. 
 A razão da sua vida é você mesmo. A tua paz interior é a tua meta de vida, quando 
acreditares que ainda está faltando algo, mesmo tendo tudo, remete teu pensamento para os teus 
desejos mais íntimos e busque a divindade que existe em você. Pare de colocar sua felicidade cada 
dia mais distante de você. 
 Não coloque objetivo longe demais de suas mãos, abrace os que estão ao seu alcance hoje. 
Se andas desesperado por problemas financeiros, amorosas, ou de relacionamentos familiares busca 
em teu interior a resposta para acalmar-te, você é reflexo do que pensas diariamente. Pare de pensar 
mal de você mesmo(a), e seja seu melhor amigo(a) sempre. 
 Sorrir significa aprovar, aceitar, felicitar. Então abra um sorriso para aprovar o mundo que te 
quer oferecer o melhor. 
 Com um sorriso no rosto as pessoas terão as melhores impressões de você mesmo, que está 
“pronto” para ser feliz. 
 Trabalhe, trabalhe muito a seu favor. Pare de esperar a felicidade sem esforços. Pare de 
exigir das pessoas aquilo que nem você conquistou ainda. 
 Critique menos, trabalhe mais. E, não se esqueça nunca de agradecer. 
 Agradeça tudo que está em sua vida nesse momento, inclusive a dor. 
 Nossa compreensão do universo ainda é muito pequena para julgar o que quer que seja na 
nossa vida. 
 A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las. 
Aristóteles, filósofo grego, escreveu este texto “Revolução da alma” no ano 
360 a.C. e é eterno. 
 
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RESUMO 
_______________________________________________________ 
CANCIAM, Rogério. MOTIVAÇÕES E PSICOLOGIA – A PRESENÇA DE 
ABRAHAM A. MASLOW, Orientador: Profº Ms. Luiz Carlos Garcia. Monografia 
apresentada como requisito para obtenção do título de Especialista em Psicologia 
Transpessoal, p. 137. 
__________________________________________________________________ 
 
 
Este estudo, de fundo analítico sobre bases bibliográficas, constitui-se na 
investigação especialmente de uma obra de Abraham A. Maslow, o “Diário de 
Negócios, editado por Deborah C. Stephens. Nosso objeto de pesquisas pretende 
restringir-se à compreensão de alguns elementos fundamentais sobre a Teoria da 
Motivação de Maslow e suas repercussões de ordem mais direta sobre assuntos 
com Liderança e Criatividade, mas também busca, nesse mesmo recorte, articular as 
concepções de Maslow com a Psicologia Transpessoal, sobretudo com as etapas 
interativas e integrativas relacionadas como os sete passos. Assim, nossa opção foi 
por efetuar um trabalho de investigação e análise bibliográfico – teóricas, de tal modo 
que a argumentação aqui apresentada pudesse garantir os nossos propósitos – 
poder verificar, já com Maslow, a emergência de uma 4ª força no terreno da 
Psicologia e, especialmente com relação ao mundo das organizações e empresas, 
recolher informação que também nos possam ajudar a entender melhor a nossa 
presente época de tantas e radicais transformações. 
 
 
Palavras-chave: Teoria da Motivação em Maslow – Necessidades – Auto-realização 
– Criatividade – Psicologia Transpessoal. 
 
 
 
 
 7
 
 
 
 
ABSTRACT 
_______________________________________________________ 
CANCIAM, Rogério. MOTIVATIONS AND PSYCHOLOGY – THE PRESENCE OF 
ABRAHAM A. MASLOW. Orientador: Profº Ms. Luiz Carlos Garcia. Monografia 
apresentada como requisito para obtenção do título de Especialista em Psicologia 
Transpessoal, p. 137. 
__________________________________________________________________ 
 
 
This study, characteristicaly analytical based on pertaining bibliography, is an 
investigation of a specific work of Abraham Maslow, the “Maslow Business reader”, 
edited by Deborah C. Stephens. As object of research we made the choice for 
exploring, in a restricted way, the understanding of some fundamental elements 
about the theory of motivation as proposed by Maslow and its implications, more 
directly, over subjects such as Leadership and Creativeness; but also we intended to 
search, in this same delineation, to articulate the conceptions of Maslow with 
Transpersonal Psychology, mainly with interative and integrative moments. So, our 
choice carried us to a work of analysis and inquiry on theoretical issues and 
literature, so as to guarantee our argumentation here developed in relation to our 
proposals – may proceed the verification of, since with Maslow, the emergence of a 
so-called 4thforce in Psychological domains; and, related specifically with business 
and organization world, to achieve some information that may helps us witha better 
understanding of our present times of so many and radical changings. 
 
 
Key-words: Maslow Theory of Motivation – Necessities – Self-actualization – 
Creativiness – Transpersonal Psychology. 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.......................................................................................................09 
 
CAPÍTULO I 
MOTIVAÇÃO: O CONTEXTO IMPLICADO................................................................16 
 
CAPÍTULO II 
MASLOW: O HOMEM E A OBRA...............................................................................35 
 
CAPITULO III 
ORGANIZAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM MASLOW...................................................48 
 
CAPÍTULO IV 
MOTIVAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE NEGÓCIOS – O QUE PODEMOS FORMULAR, 
SEGUNDO MASLOW?................................................................................................76 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................123 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................127 
 
ANEXOS 
SUPLEMENTO: UMA AULA SOBRE MOTIVAÇÃO.................................................130 
 
 
 
 9
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 INTRODUÇÃO 
 
 O tema da ação humana tem sido pensado, refletido e discutido desde 
sempre. Uma afirmação como essa não é desprovida de fundamentos, uma vez que, 
com base nos indícios e registros que muitos estudiosos, investigadores e 
pensadores conseguiram recuperar, descobrir e organizar a respeito de povos e 
civilizações muito antigos, ou mesmo a respeito de grupos e comunidades em nossa 
época ainda em plena oralidade primária, muitas informações de peso puderam ser 
reunidas, através de inúmeros recursos e tecnologias atualmente possíveis que nos 
serviram para tanto. Assim, sabemos hoje que mesmo as culturas mais afastadas de 
nós temporalmente, de uma ou outra forma, tematizaram e problematizaram a 
questão do agir humano. Tanto nas tradições mais propriamente ocidentais, quanto 
nas que caracterizaram civilizações mais afastadas espacialmente, cujo 
conhecimento, em termos relativos, é para nós recente, conseguimos perceber o 
quanto esse assunto tem sido recorrentemente reposto e reiterado dentre as 
 10
preocupações mais centrais da humanidade em sua história. Representações 
grafadas em pedra, pictóricas ou esculturais, registros antiqüíssimos em materiais 
incipientes de escrita e, inclusive, relatos transmitidos oralmente em grupos e 
comunidades ágrafas (ainda hoje), por diversos meios podemos hoje ter uma noção 
razoavelmente aproximada do que pôde significar para nossos antepassados o 
fenômeno que, paulatimente, mas já desde épocas muito antigas, foi se 
configurando na idéia da agência humana, que torna o ser humano sujeito e autor de 
atos, atitudes, disposições visívivelmente intencionadas, orientadas e dirigidas, em 
contraposição a comportamentos mecânicos, reativos, involuntários e/ ou 
inconscientes. Hoje, tanto as ciências sociais e humanas, quanto, indiretamente, 
também as naturais e Biológicas têm por um dos objetos privilegiados o agir do 
homem. Por exemplo, na Filosofia e, por conseqüência, nos saberes sobre os 
comportamentos de indivíduos e grupos em geral, ação e intenção, causa e motivo, 
consciência e mecanismo, são, dentre vários outros, aspectos aprofundamente 
discutidos. O levantar de um braço pode ser explicado em termos voluntários e 
causais assim como fisiologicamente, e saber com propriedade se esse tipo de 
explicação ou compreensão diz respeito ao como ou ao porquê tem trazido muito 
material para a discussão. Saberes como a Antropologia e a História levaram-nos a 
poder verificar que a noção do si mesmo em termos da identidade agencial, ou seja, 
a questão da subjetividade, não se apresentou inalterada desde o surgimento da 
espécie humana, mas, diversamente, colocou-se mais propriamente em função dos 
desenvolvimentos experimentados pelos grupos sociais. Assim, por exemplo, 
podemos constatar, por meio do acesso de que hoje dispomos sobre manifestações 
de comunidades historicamente diferenciadas ao longo do tempo, que os relatos 
conservados em legendas e mitos, de início, na própria época de sua constituição, 
versados apenas oralmente (inclusive como primeira função de salvaguarda da 
memória do grupo) e posteriormente registrados em documentos mais 
sistematizados, apresentam comunidades e grupamentos sociais em que a 
diferenciação identitária não é nem nítida nem naturalmente manifesta, mas se 
mostra como se constituindo aos poucos, gradativamente, em ritmos e medidas 
diversos segundo o desenvolvimento dos grupos e sociedades. Assim, o sentimento 
 11
e a noção da coletividade aparecem como preponderantes, o que implicar em 
termos de apreciar e considerar com bastante cuidado noções que hoje nos 
parecem bastante simples e naturais, como consciência, autoria, agência, dentre 
outros. 
 É nesse sentido que, exemplarmente, o surgimento enfático do gênero trágico 
na literatura e na artística da Grécia Antiga (sobretudo no período clássico) mostra-
se, aos nossos olhos de hoje, dentre outros aspectos também fundamentais, como a 
configuração de um embate no qual a tentativa de uma ação mais pessoal, contrária 
muitas vezes às determinações coletivas, não fez senão reforçar a figura do destino 
– o caso mais classicamente discutido, inclusive na Psicologia mesma (propriamente 
nas interpretações psicanalíticas), é o de Édipo que exatamente faz aquilo que 
oracularmente havia sido previsto, ainda que medidas tenham sido tomadas para 
que se não o cumprisse – sem o saber, Édipo dá fim a Laio, seu pai, e casa-se com 
a própria mãe, Jocasta. Aí prevalece ainda a direção impressa pelo destino e é bem 
isso o que a tragédia aponta: querer escapar, por modos próprios ao que se anuncia 
para o futuro, não é senão reforçar e garantir um direcionamento que escapa ao 
controle humano, e, neste caso, não pode o homem ser visto singularmente como 
autor e agente, mas bem mais como ser submisso às legislações maiores (que 
aquelas determinadas por sua interioridade). 
 Enfim, todo este longo preâmbulo nestas páginas introdutórias tem por 
finalidade fornecer horizonte e o panorama com que nosso tema será introduzido. 
Exatamente intencionamos verificar o papel e o significado da motivação que induz a 
um ou outro comportamento ou disposição, tal como ela é proposta e investigada por 
um psicólogo americano, A. Maslow, cuja obra e atividade fornecem subsídios 
relevantes para a instalação de outras perspectivas no campo da Psicologia. Mas, 
esclarecemos, tal investigação será levada com atenção a uma sua obra específica, 
aquela que, no Brasil, aparece com o título de Diário de Negócios de Maslow cuja 
organização coube a Deborah C. Stephens. Pretendemos, com isso, encontrar e 
apresentar respostas para uma pergunta que poderia ser formulada como: qual a 
relevância e o significado da apropriação, efetuada por A. Maslow para o campo das 
 12
organizações negociais e empresariais, de suas teorias sobre motivação para a 
área da chamada Psicologia Transpessoal? 
 Com esta investigação, pretendemos proceder à localização e situação de 
conceitos e categorias fundantes em seu pensamento, tais como motivação, 
necessidade, patologia e saúde, liderança e criatividade, psicologia transpessoal, 
dentre outros. E nosso interesse, com tais procedimentos, reside em se afigurar 
como bastante importante verificar com adequação e propriedade as implicações da 
teoria psicológica da motivação, em Maslow, para o campoempresarial, tendo em 
vista poder contemplar por tal viés a abertura para concepções, formuladas por esse 
psicólogo, conducentes ao patamar de uma Psicologia que hoje conhecemos como 
Transpessoal. Em breves palavras, trata-se de verificar a contribuição de Maslow, 
por um viés específico, para a instalação de uma vertente outra no campo da 
Psicologia. 
 Todavia, é necessário que ressaltemos que o nosso interesse pelas 
concepções de Maslow radica-se sobretudo no fato de que, com o pensamento que 
desenvolveu e propôs para o campo psicológico, ele faz adentrar em um patamar 
diferenciado que se vai constituir no fortalecimento das condições para a emergência 
e fundamentação daquela que hoje conhecemos como a 4ª força no campo do saber 
psicológico – a Psicologia Transpessoal, para a qual a sanidade humana resulta da 
consideração, de forma integrada e interada, dos vários elementos característicos 
que parecem constituir o que poderíamos chamar, tal como usualmente se faz, de 
personalidade. Não se trata, portanto, para nós de explorar uma teoria motivacional 
que aparece, ainda que de modo não exatamente sistematizado, aplicável, tal como 
pode sugerir a obra maslowiana, a propósito de estruturas e organizações 
empresariais e de negócios, a situações definidas por regulações que 
costumeiramente chamamos econômicas. Tal situação constitui, sem dúvida 
alguma, tanto quanto outras demais, adequadamente legítima para Maslow. Mas, 
parece-nos, conforme o pudemos entender, que o que aí podemos encontrar, ao 
final das contas, é também mais um fator, uma dimensão em que, também, as 
considerações levantadas por Maslow parecem remeter a um parâmetro mais 
 13
essencial, mais fundante – a questão da compreensão do alcance daquilo que 
subjaz à idéia mesma de humanidade. 
 Nosso procedimento, para tanto, consistiu em investigar, em alguma obras 
que escolhemos como centrais, situações contextuais e, mais especificamente, com 
base em um texto em que a situação organizacional e empresarial parece mais 
reiteradamente expressa – o “Dicionário de Negócios de Maslow”, editado por 
Deborah C. Steplens e publicado em língua portuguesa, no Brasil, em 2003, pela 
Editora Qualitmark. Com isso, nossa metodologia procurou, por meio da consulta 
bibliográfica, levantar aspectos conceituais que nos pareciam fornecer condições 
para entender como se ia constituindo o assunto e terreno tal como trabalhados por 
Maslow. É, portanto, a nossa monografia uma obra de análise e articulação, 
esclarecimento e formulação de nexos, de uma vertente ou face do pensamento de 
Maslow; e ela tem a intenção, tanto quanto podemos, de situar e pensar contextos, 
alcance e significado numa perspectiva algo crítica, mais do que apenas 
comentadora. Embora a relação bibliográfica acompanhe nosso trabalho, pensamos 
que, com respeito à obra – marco frequentemente consultada por nós, é conveniente 
indicarmos desde já como instituímos aqui nosso modo de referenciação dessa obra 
– sendo composta de artigos, ensaios, cartas, comunicações, organizados e 
editados por Deborah C. Stephens -, toda vez que em nossas citações a utilizamos, 
o “Diário de Negócios de Maslow” aparece referenciado como Stephens (autor), ano 
e página (quando necessário), uma vez que, na relação bibliográfica, essa obra é 
introduzida pela entrada correspondente a STEPHENS, Deborah C. 
 Retomamos, após tais esclarecimentos, sinoticamente os objetivos: 
 - verificar como A. Maslow compreende e intervém, com base em sua teoria 
psicológica, a propósito da situação; 
- por conseqüência, verificar com sua obra, nesse contexto, vincula-se ao momento 
atual da Psicologia Transpessoal; 
- oferecer possibilidades de avanço a respeito da situação analisada. 
 Esperamos, com nossa investigação, obter a articulação de informações de 
relevância, junto à teoria da motivação de A. Maslow, de modo a levar a 
compreender, também por esse aspecto, em quê sua contribuição pode ser 
 14
evidenciada, de forma mais evidente, como essencial para o campo da Psicologia, 
de uma forma bem informada, integrada e crítica. 
 Os capítulos componentes da obra caracterizam-se da seguinte forma: 
 - o 1º capítulo tem natureza de revisão bibliográfica, com o propósito de 
oferecer os contextos intelectuais e históricos sobre o pensamento a respeito da 
Motivação, em geral, procurando introduzir informações de caráter terminológico, 
conceitual e da histórica do pensamento filosófico (e psicológico) sobre as principais 
tendências vigentes, de modo a proporcionar elementos para situar a obra de 
Maslow epistemologicamente. 
 - o 2º capítulo pretende aprofundar contextualmente a atuação de Maslow, 
tendo por foco diretor a obra de Maslow com relação ao terreno da Motivação e suas 
implicações e conseqüências, assinalando, no interior dos desenvolvimentos de seu 
momento, a repercussão de seu pensamento, inclusive no sentido de buscar 
preparar a emergência de novos patamares na consideração da teoria psicológica, 
com ressonâncias para a instalação de novos paradigmas – Humanista e 
Transpessoal. Nesse momento, nossa atenção estará focalizada em depreender as 
conotações presentes em alguns conceitos centrais utilizados em Maslow, como 
estrutura, organização e o próprio sentido de humanismo, humanização, bom e 
bondade. 
 - o 3º capítulo pretende atribuir uma atenção mais centrada, em relação às 
concepções formuladas por Maslow, à questão da Motivação, tendo por objeto a 
análise justamente da obra que trata mais especificamente da situação também em 
relação ao campo mais delimitado dos negócios e empresarial numa situação de 
organização capitalista de mercado, preparando a consecução, para o 4º capítulo, 
dos quadros contextualizados até então para efetuar a ponte entre sua obra e a 
Psicologia Transpessoal. 
 - o 4º capítulo buscará, com base na imbricação, a partir das perspectivas 
levantadas por Maslow entre motivação e necessidades, formular, num terreno 
adequado, a atuação desse meio, de forma que, além do tratamento de alguns 
outros elementos de importância, como criatividade e liderança, e afins, centra nossa 
atenção para a relevância de sua contribuição a respeito da Psicologia 
 15
Transpessoal. Aqui, procuraremos, ressalvados os limites próprios pessoais e os 
trabalho, demonstrar a pertinência da obra maslowiana inclusive junto a construtos 
teóricos em voga, atualmente, no estudo da Psicologia Transpessoal. 
 A tal capítulo seguir-se-ão as considerações finais de natureza mais 
conclusivas, o trabalho apresentará, ainda, após as referências listadas como anexo 
e suplemento, a proposta de elaboração, formulação e operacionalização 
envolvendo o tema investigado, na forma da Relação entre motivação, 
Necessidades, Liderança e Criatividade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 16
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I 
 MOTIVAÇÃO: O CONTEXTO IMPLICADO 
 
 
“Não tenho medo de morrer, tenho saudade de deixar a vida” 
 Tota 
 
 A investigação que pretendemos aqui desenvolver tem por tema as 
implicações, ao menos algumas que nos parecem relevantes, a propósito da obra de 
Maslow com relação à articulação ou envolvimento dos aspectos ligados à 
Motivação, Criatividade, Auto-Realização e Liderança, no seio e no âmbito do mundo 
organizacional, notadamente empresarial, tendo por base, sobretudo, o chamado 
“Diário de Negócios de Maslow”, obra organizada e editada por Deborah O. 
Stephens reunindo e articulando os pensamentos registrados e as observações 
elaboradas por Abraham Maslow, num período de sua vida, cuja publicação e 
conhecimento pelo público, principalmente nas últimas décadas (após a morte de 
seu autor), têm resultado em desenvolvimentos muito expressivos, porpsicólogos, 
administradores, gestores, e outros, contribuindo em muito para diversos campos do 
saber humano sobre o próprio homem. 
 17
 Poderíamos estabelecer, como termos do problema que nos interessa cuidar, 
a situação da relação entre Motivação e Comportamentos segundo a ótica elaborada 
e proposta por Maslow e, para nós, justamente o elemento problematizador, aí, 
reveste-se da preocupação em verificar se essa relação pode, legitimamente, 
basear, fundar e extrapolar para outros níveis do conhecimento psicológico 
contemporâneo. 
 Pensamos, com relação a esse aspecto, nas possíveis implicações para o 
desenvolvimento da Psicologia Transpessoal, como um nível diferenciado do campo 
psicológico, e nas atualizações que o pensamento Maslowiano, em sua versão e 
extrapolação para a área organizacional, empreendedora e de negócios, poderia 
fornecer, seja a que título fôr. Embora saibamos que um trabalho dessa dimensão 
possa (e deva) contemplar áreas afins de conhecimentos e, institucionalmente, 
aquelas que mais de perto dizem respeito à perspectiva empresarial, como por 
exemplo, Relações Humanas, Psicologia do Trabalho, Gestão de Negócios, entre 
muitas outras, não é escopo deste trabalho delimitar-se segundo essas confirnações. 
 Nesse sentido, embora possa o tema estar sendo delimitado, permanece uma 
dimensão de generalidade e abrangência, necessária, segundo pensamos, para que 
se mantenha possível transcender a aplicação do conhecimento psicológico votado, 
de início, ao campo empresarial para uma dimensão que parece não se ater nem 
corresponder exatamente à definição de uma área estritamente delimitada. 
 Por várias razões, sobretudo a que se refere às condições de tempo e 
consecução objetiva, nosso estudo estará limitado a um levantamento de 
informações de ordem bibliográfica e à analise e, se possível, avaliação do material 
enfocado. Os critérios, tanto para a análise quanto para a avaliação, estão sendo 
determinados, nos quadros de nossa pesquisa, principalmente pelos elementos de 
coerência (interna e externa) do material a ser estudado e investigado em sua 
relação com a proposta de verificar a possibilidade de seu alcance e extrapolação, 
conseqüentes, para dimensões outras que apenas a negocial, ainda que, tal como 
neste momento é – nos possível prever, muitas das situações exploradas o sejam 
em contextos bem delimitados (aqueles fornecidos pela obra principal em estudo, tal 
como organizada por Deborah C. Steplens). 
 18
 Acreditamos que não exista maior justificativa para tal empreendimento que o 
fato de, após ter sido escrito há quase quatro décadas, nas quais as mudanças 
objetivas, seja de fundo tecnológico quanto filosófico-existencial, parecer-nos 
prudente e proveitoso verificar em que medida Maslow (aqui tomado em sua 
singularidade frente a outros pensadores da área que igualmente são considerados 
como propulsionadores para um novo modelo do conhecimento psicológico) 
realmente é um contribuidor, ou, mais modestamente, é visto como tal. 
 Trabalhamos com a hipótese de que, com relação a esse aspecto, lidamos 
com uma situação um tanto híbrida: Maslow, de fato, trouxe e sugeriu contribuições 
efetivas para o desenvolvimento do conhecimento e do saber sobre o psiquismo 
humano que oferecem uma abertura considerável; mas, ao mesmo tempo, essa sua 
dimensão não pode ser sobreestimada, sobretudo por aqueles que querem a todo 
custo legitimar o curso dos encaminhamentos, de modo a evitar mistificações em 
nada desejáveis, uma vez que, em isso ocorrendo, as reais contribuições estariam 
sendo obliteradas. 
 Julgamos que, para iniciar convenientemente a discussão seria de interesse 
voltar um pouco à conceituação (teórica, filosófica e mesmo etimológica) dos termos 
e conceitos com os quais nosso estudo procede. Ao mesmo tempo, cremos que, por 
conta disso, o âmbito da discussão acabará por se tornar mais claro, isto é, teremos 
ou disporemos dos elementos conceituais para pensar o contexto do problema da 
motivação. 
 Igualmente, em momento subseqüente, parece-nos também importante 
pensar o próprio contexto da história do pensador, e, nesse sentido, iremos 
recuperar alguns elementos que nos soam como significativos acerca do percurso de 
Abraham Maslow. 
 Somente então estaremos considerando de fato as proposições com que suas 
teorias se distinguiram e dando andamento ao que nos propomos nesta 
investigação. 
 O que significa dizer que as pessoas, as mais diferentes possíveis e em 
situações também muito diversas, chegaram a um estágio tal de motivação que 
foram capazes de, muitas vezes alterando comportamentos habituais e regulares, 
 19
disporem-se a adotar outros e enfrentarem mudanças e novidades de modo a 
conseguir atingir tanto objetivos, metas, estados e situações antes inexistentes bem 
como criar condições para a consecução e efetivação para tanto? Qual é a 
compreensão que, usualmente, temos quando ouvimos dizer ou mesmo 
constatamos que alguém está muito (ou pouco) motivado? Por que, em nossos dias, 
os estudos de natureza psicológica e filosófica, sobretudo, têm se voltado com tanta 
freqüência para a investigação daquilo que, comumente, subjaz ao termo motivação? 
 É bem verdade que o interesse por tal assunto (ou tema) sempre se 
apresentou nas mais diversas considerações, ao longo da história do pensamento 
sobre as práticas humanas, que se preocuparam tanto com aspectos éticos, morais 
e pragmáticos quanto com aqueles de natureza fisiológica (basta ver as questões 
levantadas pelas teorias sobre a ação) vinculados aos elementos determinantes da 
conduta humana. E, com relação a tais considerações, nos defrontamos com uma 
longa tradição iniciada, no mundo ocidental, desde os pré-socráticos e atingindo o 
pensamento da modernidade, cujo clímax, naquilo que nos interessa, chega a residir 
nos problemas relativos às questões de liberdade, suscitados pelo pensamento 
iluminista. 
 No conjunto desse universo de observações, podemos considerar, com 
legitimidade, traços e elementos etimológica e conceitualmento implicados no termo 
Motivo – como originariamente esclarecedor para esse outro, o de Motivação, que 
nos interessa para os fins do presente estudo; e aqui o fazemos agora exatamente 
com o propósito de trazer à cena informações de ordem conceitual para mais 
adequadamente nos orientarmos. 
 Assim, recorrendo a Abbagnano (1970), encontramos algumas indicações 
bastante elucidadoras para nos situarmos no contexto adequado de nossa 
investigação. No verbete dedicada a Motivo, a noção que nos é trazida apresenta-o 
como “causa ou condição de uma escolha, ou seja, de uma volição ou de uma ação” 
(1970, p. 655). Trata-se, assim, de uma noção que introduz, ao verificarmos com 
certo cuidado o seu significado, duplamente dimensões tanto de âmbito externo 
quanto interno; e isso porque, referindo-se a volição ao campo da vontade e a ação 
ao do comportamento e da prática, respectivamente, temos como implicação as duas 
 20
acima referidas dimensões. Enquanto a volição, não colocada em ação, mantem-se 
fora das vistas do observador (mesmo quando expressando-se uma suposta volição 
experimentada), o mesmo já não ocorre de tal modo com a ação, a práxis, cuja 
característica é a de ser observável como comportamento e atitude. Essa 
“duplicidade” está também presente, na mesma noção, com relação à menção de 
causa ou condição. Pois é-nos bastante comum, no senso usual, tratarmos o motivo 
segundo a acepção de causa, razão, que, sem dúvida, são-lhe correspondentes, 
mas igualmente, não lhe são exclusivas; por exemplo, segundo o autor: 
 
“...chama-se alguma vezes movente (Franc. Móbile; al. Triebfeider) o 
Motivo que não tem caráter “racional”, isto, que não pode ser 
considerado uma ‘razão’ da escolha. (ABBAGNANO, 1970, p. 655). 
 
 As informações trazidas, neste Dicionário de Filosofia de Abbagnano, sãoricamente exaustivas e essenciais; contudo, vamos nos restringir, de acordo com 
nosso interesse, aos aspectos que mais de perto dizem respeito ao objeto de nossa 
investigação. Tendo passado por algumas formulações historicamente relevantes 
para a constituição do entendimento contemporâneo desse conceito, inclusive em 
relação à obra de pensadores cuja repercussão foi bastante grande no terreno da 
Psicologia, o que nos chama a atenção é o aspecto, ali mencionado e discutido, do 
papel dos diferentes graus de determinação vinculados ao Motivo, uma vez que o 
problema que aqui se coloca, com respeito a essa diferenciação, é o problema da 
liberdade, ou seja, resumidamente, a compreensão do conceito tanto enquanto 
causa quanto em termos de explicação está correlacionada à presença ou não da 
situação de liberdade com que se poderia caracterizar um estatuto de humano, de 
humanidade. 
 Chamamos a atenção para esse ponto porque, a nosso ver, como poderemos 
observar mais adiante, a questão (ou questões) levantada com o estudo da 
motivação em contexto, isto é, sobretudo no interior do pensamento da A. Maslow, 
aqui tematizado, e no âmbito das implicações verificadas nas vertentes e 
conseqüências daí derivadas, propõe a necessidade de lidarmos, com clareza 
suficiente, com o conceito de motivação. 
 21
 Aliás, ainda respaldados em Abbagnano (1970), basta seguir o 
encaminhamento de suas considerações, no referido verbete, a propósito de Dewey, 
que considerava, em situações cotidianas (isto é, apreciadas segundo a ótica do 
senso comum), a motivação como uma: “... verdade extrapsicológica” 
(ABBAGNANO, 1970, p. 655); e que apenas e notadamente, atribuía ao conceito um 
papel de relevância quando, referindo-se ao ser humano, destacava a pertinência do 
conceito quando se tratava de desencadear, provocar ou elicitar ações exigidas de 
modo específico, e, ainda mais, fazia notar que, nessas condições, o Motivo 
constituiria “... o elemento do complexo total da atividade humana...” (ABBAGNANO, 
1970, p. 655 grifo nosso). 
De acordo com uma concepção desse porte, o motivo poderia ser tomado 
sobretudo enquanto um instrumento para 
 
“...orientar e guiar a conduta humana do que um fator de explicação 
desta”. (ABBAGNANO cita a obra de onde deriva essa visão – 
“Humana Nature and Conduct, pps. 199-220). 
 
 É imprescindível atentar com cuidado e profundidade para esse tipo de 
orientação teórica, pois Dewey, no campo dos estudos psicológicos desenvolvidos 
nos E.U.A., serve de referência fundamental para toda uma elaboração posterior por 
pensadores de peso, dentre os quais também Maslow, na área psicológica. E, enfim, 
poder ter elementos de modo a perceber que o entendimento adequado do 
desempenho teórico-experimental de uma figura relevante, como esta, não pode 
dispensar a apreciação de perspectivas historicamente significativas para o 
desenvolvimento e efetivação (atualização) dos aparatos e arcabouços conceituais 
posteriormente colocados em ação. 
 Oras, o estudo e a reflexão daí advinhas trouxeram-nos, com maior interesse 
então, à apreciação do próprio conceito de Motivação, também presente no referido 
dicionário (ABBAGNANO, 1970), com o que, após também uma série de 
observações de grande clareza (apresentando inclusive Schopenhauer como um 
precursor significativamente determinante), o referido conceito aparece claramente 
vinculado e expresso em termos da forma de causalidade do motivo, diferenciada de 
 22
outras formas de causalidade, que, em nossos tempos e em nossos teóricos e 
pesquisadores, ainda se conserva como essencial e permanece vigente, uma vez 
que a motivação pode ser e boa medida reconhecida como: “...ação determinante do 
motivo” (ABBAGNANO, 1970, p. 655). 
Reproduzimos aqui a enunciação em Abbagnano: 
 
“... quaisquer que sejam os limites que se coloquem a tal 
determinação. Os problemas da Motivação são, por um lado, de 
natureza psicológica, e concernem ao modo de agir dos motivos 
enquanto se presta a ser observado pelos instrumentos de que a 
psicologia dispõe; por outro lado, são de natureza filosófica enquanto 
concernem os limites ou as modalidades de determinação e, portanto, 
a liberdade e o determinismo” (1970, p. 655 – grifos nossos). 
 
 Parece-nos, sem dúvida, que, a despeito da “separação” aí formulada, para os 
interesses dos estudos psicológicos são essenciais todos os elementos apontados. E 
isto porque, apesar da indispensabilidade das comprovações do/de comportamento, 
por meio de um instrumental apropriado (aspecto ao qual voltaremos mais adiante), 
para os propósitos da significação de um conceito como esse, não é possível 
escapar de pensar as limitações apresentadas quando se vincula o conceito de 
motivação a outros, igualmente essenciais, como o de necessidade (s) (imbricado 
nas considerações derivadas tanto do aspecto da liberdade quanto do determinismo, 
nos contextos apropriados); e, tendo no horizonte nossa investigação pautada em 
variadas formulações de Maslow, tal ponto parece assumir, em consonância com a 
“teoria” da hierarquia das necessidades e dos movimentos “dialéticos” aí presentes, 
a característica de dever ser pensado e verificado, junto ao nosso autor principal, 
como um ponto fulcral para a precisa compreensão da relação motivação-
necessidade, base para outros demais considerações que em nossa monografia são 
essenciais. 
 Além do mais, e seguindo a explanação do dicionarista, essa relação e suas 
implicações parecem ter sido bastante bem percebidas e elaboradas por outro 
investigador/pensador fundamental na contemporaneidade, Husserl, que se coloca 
como um dos pilares da corrente fenomenológica que, ultrapassando os “limites” do 
 23
pensamento filosófico, adentraram os terrenos das Ciências Sociais e Humanas e, 
notadamente, o da Psicologia – referimo-nos, agora, à vinculação, em tal pensador, 
das condicionantes trazidas pela experiência ao fenômeno da Motivação, como 
elemento de conexão que permite o estabelecimento de uma base concreta para a 
manifestação, efetividade e atualização da motivação (ABBAGNANO, 1970). 
 Estas apreciações revelam-nos, desde já, as dificuldades percebidas e 
enfrentadas (com maior ou menor sucesso), por estudiosos e investigadores na 
Psicologia, bem como em Maslow, caso que nos interessa mais de perto. Na medida 
em que temos a intenção de verificar, neste autor, os subsídios para uma reflexão 
sobre a motivação, criatividade, comportamento e Psicologia Transpessoal, não 
resta dúvida de que é preciso explorar com acuidade o terreno por onde nos 
movemos. Um primeiro passo está sendo dado com a remissão aos problemas 
conceituais, de natureza teórica, envolvidos na noção e em suas implicações; e foi 
nesse sentido que buscamos o recurso a Abbagnano. 
 Daqui, e é o que faremos imediatamente a seguir, podemos, acreditamos, 
delinear algumas reflexões que parecem se nos apresentar seja como 
problemáticas, seja como exigindo uma maior explicitação, de sorte que, ao mesmo 
tempo em que possamos deixar de lado um senso comum tão repisado, consigamos 
nos preparar com questões bem constituídas para poder verificar o alcance do 
pensamento de Maslow, de modo a podermos prosseguir segundo o nosso percurso 
programado. 
 Passamos, assim, a um segundo momento central, qual seja, tendo 
estabelecido, no interior do pensamento ocidental, a respeito da história do conteúdo 
da noções-base, substratos comuns e fundantes, perquirir algumas das relações que 
daí derivam e interessam ao desenvolvimento de nosso raciocínio. 
 Nesse sentido, manter à vista as imbricações que podem, usualmente, serem 
desdobradas entre o fenômeno investigado-a motivação -, em suas manifestações 
passíveis de apreciação psicológica, e variados fatores intervenientes significa 
estabelecer relações, de modo a respeitar exigências (de cunho metodológico 
inclusive) por um cuidadoessencial para não incorrer definitivamente em uma 
abordagem estática e fragmentada. Aliás, um tal tipo de preocupação, que 
 24
encontramos em diversos estudiosos, é bastante bem caracterizado em Maslow. 
Quando ele se refere, por exemplo, no que respeita às teorias sobre a motivação, a 
um “status definitivo” (MASLOW, 2003, p. 249), uma tal preocupação é muito 
evidenciada na relação apresentada das propostas sugeridas (ver p. 249/250), e, 
analisando-a, é possível verificar que as questões vinculadas aos “aspectos” da 
unidade, integração, totalidade, organicidade e contextualidade são enfaticamente 
assinaladas, sobretudo quando a 13ª afirmação é introduzida, de modo a esclarecer 
a situação de uma teoria da Motivação frente aos problemas levantados pela 
teorização acerca do comportamento humano em função da distinção aí traçada. 
Reproduzindo os termos da obra, encontramos: 
 
“13. A Teoria da Motivação não é o mesmo que teoria 
comportamental. As motivações são apenas uma entre as várias 
classes de determinantes do comportamento. Assim como o 
comportamento quase sempre é motivado, também é quase sempre 
determinado biológica, cultural e circunstancialmente”. (MASLOW, 
2003, p.250). 
 
 Não fica fora de propósito, pensamos, considerar que, exatamente porque 
efetua uma discriminação clara com relação a ambas as teorias, reduzindo as 
motivações a uma dentre as variadas classes de determinantes do comportamento 
humano, Maslow introduz uma imbricação de interatividade – os diversos tipos de 
fatores ou elementos determinantes do comportamento humano acabam por 
interrelacionar-se e influenciar sistemicamente – o que faz ressaltar, segundo seu 
pensamento, as propriedades características daquilo que ele denomina de “uma 
teoria positiva da motivação” (MASLOW, 2003, p. 251). 
Estes traços assertivos são já fornecidos pela/ na relação apresentada. É 
interessante, e não menos curioso, percebermos que, neste momento, Maslow 
procura deixar claro que é necessário dizer o que é, ou como se caracteriza de 
modo afirmativo, o conjunto de proposições capazes de levar à emergência de uma 
teoria motivacional humana, justamente quando busca mostrar que a descrição, a 
que procedeu anteriormente no artigo, pode ser tomada como propiciadora da 
 25
constituição de uma teoria “válida”, a respeito da qual as filiações inspiradoras 
podem ser reconhecidas, assim como o caráter “exploratório” se mantém indicado. 
Enfim, o que gostaríamos de estar apontando especificamente nesse momento de 
análise da obra de Maslow é que, além do conteúdo positivo das próprias afirmações 
relacionadas, também a “tipologia constitucional” da teoria que ele avança 
metodologicamente preserva requisições de organicidade, sistematicidade e abertura 
a ponto de poder explicitamente declarar: “Essa fusão em síntese pode ser 
arbitrariamente chamada de teoria geral e dinâmica” (MASLOW, 2003, p.251). 
Oras, são esses aspectos que acabamos de fazer notar que nos reconduzem 
às considerações com que iniciamos a proposição de um segundo momento (neste 
trabalho). O importante não é recuperar, apenas, elementos de fundo histórico da 
constituição, sobretudo, do pensamento ocidental no qual poderíamos buscar 
encontrar a presença do que viria a constituir, em nossos dias, correntes teóricas 
mais afinadas com a elaboração de visões, perspectivas e posições na Psicologia 
que queremos discutir; antes , nossa intenção é manter em vista o contexto das 
diversas vertentes que promoveram (e promovem) a apreciação e a atualização de 
pensamentos acerca do homem, de sua natureza e, inclusive, da própria questão da 
existência ou não de uma natureza humana. 
Muito se poderia investigar aqui, com grande proveito para diversos aspectos 
em que os estudos e investigações da condição psicológica levam a encaminhar 
esse saber (e prática) para outros patamares, mais abrangentes e transcendentes, 
sobretudo com relação à tradição clássica greco-latina de natureza, desafiada 
modernamente por correntes expressivas do pensamento humano, desde o 
darwinismo, passando pelo materialismo histórico, o pensamento da psicanálise e 
as vertentes estruturalistas e pós-modernas, cujas implicações trazem sérias dúvidas 
e questionamentos para o próprio conceito (e seu estatuto) de natureza. Na 
realidade, o que nos interessa mais é apontar alguns traços fundamentais de tal 
modo que possamos ter e constituir consistentemente uma perspectiva sólida, na 
qual se posiciona Maslow ( e outros pensadores de seu nível), com suas proposições 
e teoria frente ao contexto constituído pelos diferentes posicionamentos clássicos, e 
possamos claramente discernir os lugares de onde fala Maslow e poder perceber 
 26
quais são os seus interlocutores, ou antes, bem mais, o background que lhe serve 
(positiva e negativamente) de referência. 
Brevemente, pois, introduzimos agora um sumário do que nos parece 
relevante apontar, delineado com base nos quadros de uma estipulação conceitual 
(sobre a motivação), bastante simples, mas, por isso mesmo, de utilidade para 
remeter-nos às implicações envolvidas. Assim, embora a motivação pareça 
corresponder a tudo o que é capaz de compelir alguém a comportamentos 
determinados, entre aqueles que se dedicam (e dedicaram) a verificar a situação 
com relação aos elementos, fatores e “variáveis” impulsionadoras, isto é, todos 
aqueles que, de uma outra maneira, poderiam ser significativos no que diz respeito a 
induzir a ações, atitudes e comportamentos (no homem), a questão não é 
exatamente pacífica e as posições muitas vezes chegam a divergir até chegar 
mesmo a antagonismos. 
Desde há muito, desde quando se afirmaram os embriões de um pensamento 
tido por racional e desenvolvido na cultura da civilização grega em face de 
tradicionais visões míticas do mundo e do homem, as posições foram se 
diversificando. Sem dúvida, para aqueles para os quais o homem, por sua natureza 
de criatura passiva, encontrava-se submetido à força e ação de elementos 
sobrenaturais, a própria questão dos motivos e da motivação não se colocava, uma 
vez que substantivamente era percebido muito mais como instrumento, e nesta 
situação tudo quanto se referisse a aspectos motivacionais seria, antes de mais 
nada, da ordem do externo, não passível de controles eficientes científicos ou 
racionais (cabe notar que, mesmo em formulações muito posteriores, na época 
moderna e mesmo em nossa própria contemporaneidade, traços dessa visão se 
mantiveram, sobretudo em configurações extremamente reducionistas e 
mecanicistas, nas quais a determinação originava-se e submetia-se quase que 
exclusivamente por elementos fora do âmbito de uma volição humana, de tal modo 
que falar em motivos reduzia-se a pensar em elementos de causalidade, fazendo-se 
subtrair à questão uma dimensão mais presente de subjetividade humana); são 
dessa ordem, as visões materialistas e mesmo aquelas ortodoxamente derivadas da 
postulação de um inconsciente cujo acesso praticamente era negado, bem como 
 27
posições de caráter estruturalista inadequadamente fundamentadas que reservavam 
ao ser humano o papel de um ator cujo comportamento, atitudes e mesmo 
concepções já eram estabelecidos e dados de antemão, de tal modo que não 
restava a ele senão assumir papéis previamente estipulados. 
Sem dúvida, nestes momentos mais recentes das concepções teóricas, 
mesmo aquilo que se poderia considerar como determinações procedentes de um 
âmbito interno, o fato de que a subjetividade se encontrasse cerceada, seja por 
estruturas internalizadas seja por dimensões de um desconhecido ao qual não se 
teria senão acessos mediatizados por fenômenos dependentes de interpretação, 
trazia (traz) um deslocamento tal que falar-se em motivação causava, no mínimo, um 
certo desconforto. 
Por outro lado, a evolução do pensamento ocidental atingiu igualmenteimplicações restritivas quando, tendo o ser humano passando a ser considerado (sob 
o influxo de correntes que, na atualidade, se caracterizaram por um racionalismo de 
tipo positivista e mecanicista) como mecanismo, as ações e reações, nele, deveriam 
ser observadas e consideradas, no máximo, como resultados da atuação de leis de 
tipo físico (da Física), o que levava a uma perspectiva na qual assumia (assume) 
extrema relevância a presença (ou não) de estímulos (conhecidos e observáveis) 
originadores de reações (também para as quais se requeria a necessidade de 
conhecimento e observação adequadas, para os fins do estabelecimento de uma 
regularidade forte que permitisse considerar-se a presença atuante de leis); neste 
caso, ganham (ganhavam) um peso extremamente decisivo os critérios suscetíveis 
do estabelecimento de teorias comportamentalistas fundamentalmente positivistas. 
Já nos séculos XVIII e XIX, em plena época moderna, com os descobrimentos 
ocorrendo nas diversas áreas das Ciências Naturais, adquirem particularmente uma 
expressão de relevância aquelas concepções derivadas de teorias que culminariam 
no que conhecemos como teoria da evolução (e suas derivações), para as quais, 
numa compreensão bastante rasa, o homem, na escala evolutiva, decerto seria um 
animal superior aos demais, mas ainda assim um animal, o que implicaria em que 
nada de sumamente substantivo tornaria sua natureza distinta da dos demais 
animais. Como resultado de tal tipo de visão, o que se coloca sobretudo como 
 28
implicativo e essencial é a compreensão do papel das necessidades básicas, fontes, 
impulsos “primários” situados na ordem do instintivo, de cuja satisfação dependeria 
basicamente a determinação do comportamento humano. 
Ainda que tais concepções carreguem uma vinculação aparentemente mais 
próxima entre necessidades e satisfação (ou frustração) e os conseqüentes 
comportamentos suscitados, as propriedades em se trabalhar conceitualmente com 
categorias como motivo e motivação, no interior desse quadro, não permitiriam ainda 
abrir adequadamente o espaço para se pensar também um outro grande tema 
correlato, o da liberdade, também estudado ao longo da história do pensamento na 
civilização ocidental, uma vez que a dominância de necessidades básicas e sua 
satisfação apresentavam inúmeros problemas para se poder pensar a situação do 
ser humano, da constituição de sua natureza, e o papel, as funções e os significados 
de situações de escolher e de toda uma série de noções, categorias e conceitos 
associados, como, por exemplo, o de transcendência, superação, realização, 
valores, dentre outros (para nós, no escopo de nossa investigação, decisivos para se 
pensar os rumos dos atuais momentos dos saberes psicológicos com a intervenção 
de A. Maslow). 
Enfim, do lado desta vertente, as pesquisas e investigações levadas a efeito, 
por exemplo, com experimentos envolvendo ratos, cobaias, macacos e outros 
animais seriam capazes de fornecer dados informacionais básicos para, por 
extrapolação ou analogia, pensar-se a investigação da situação humana, uma vez 
que o homem nada de novo apresentaria, ainda que situado no ápice de uma cadeia 
evolutiva, em relação aos demais seres vivos, sendo visto, ainda, como resultado e 
produto de tendências instintivas, isto é, básicas. 
Se, guardadas as devidas proporções, observarmos como, no decorrer do 
pensamento ocidental, o homem chega a ser compreendido e pensado como 
produto da sociedade em que vive – o que, de uma ou outra maneira, negativamente 
ou não, foi a tônica de estudiosos mais diretamente preocupados com as 
conseqüências do comportamento humano para os aspectos sócio-políticos das 
organizações sociais, apenas estamos deixando um pouco mais à parte a situação 
das determinantes de caráter biológico para fazer sobrelevar aquelas de natureza 
 29
social. Àqueles que se pautam por tal orientação, a motivação acaba sendo 
colocada, predominantemente, em elementos de ordem externa-social, que, levados 
às últimas conseqüências acabam por subordinar o homem às estruturas e padrões 
culturais dominantes. No entanto, a matriz de raciocínio que conjuga e condiciona 
essa vertente ainda é substancialmente a mesma- a ação e o comportamento 
humanos determinam-se por necessidades (naturais ou socialmente elaboradas), 
reduzindo-se as dimensões da motivação também aos limites de uma teoria da 
causalidade cujo poder de fogo explicativo privilegia esquemas dominantemente 
positivistas. 
Por outro lado, uma tendência ocupou (e tem ocupado) com bastante 
expressividade essa área de interrogações, desde que, buscando atingir um estatuto 
de maior cientificidade, segundo o modelo nomológico-explicativo da tradição 
ocidental racionalista, a Psicologia enveredou pelos caminhos de uma maior auto 
nomização, também possível de ser percebida, dentre várias das vertentes, com a 
emergência de posições que levam o tratamento e consideração do comportamento 
humano para uma perspectiva, igualmente bastante restritiva, segundo a qual são 
forças, pulsões, tendências, cujo conhecimento nos é imediatamente negado ou 
acessível, e que se formulam (aos olhos dos estudiosos) como inconscientes, ou 
seja, à parte das condições de reflexividade usuais, aqueles elementos 
determinantes das atitudes, posicionamentos e comportamentos humanos; nessa 
situação, as assim, poderíamos dizer, razões legítimas e genuínas (as motivações, 
usando outro registro) compelidoras seriam, em sua originalidade, ignoradas de todo 
por nós, ainda que supostamente pensássemos saber reconhecer as razões pelas 
quais agimos de uma ou outra forma (essa, por exemplo, seria a situação das 
racionalizações elaboradas, por exemplo, subjetivamente, para se entender e 
explicar comportamentos). 
Também, neste caso, a impossibilidade de se chegar à coisa em si (vertente 
Kantiana no campo psicanalítico) mas apenas aos modos de manifestações delas – 
os fenômenos, como sonhos, lapsos, associações, etc. - , reduziria, agora sob 
limitações de natureza hermenêutica e fenomenológica, igualmente a figura humana 
a uma passividade frente a forças em sua primordialidade desconhecidas. Com o 
 30
quê, novamente, a questão da motivação e do comportamento do ser humano 
apresentar-se-ia reduzida, tanto do ponto de vista do conteúdo envolvido quanto 
daquele mais metodológico, a parâmetros no mínimo mecanicistas, ainda que 
inconscientes. E essa situação, não obstante a tentativa de buscar sucedâneos 
passíveis de, pela observação e elaboração da manifestação de eventos, subsidiar a 
organização de recursos para a formulação de substratos teóricos regulares, não 
poderia transcender a situação de uma metateoria, ou seja, a de uma explicação e 
descrição baseadas não exatamente sobre os objetos em estudo mas em sua 
apresentação à compreensão humana. 
É diante desse quadro que pretendemos considerar alguns aspectos 
significativos no pensamento de Maslow a propósito do problema da motivação no 
ser humano e de algumas de suas implicações para as condutas e comportamentos. 
O que nos interessa apontar, aqui, é o fato de que, se não houver espaço, em 
qualquer teoria, de modo adequado, para se levar em conta a possibilidade de tratar 
tantas questões fora dos quadros de um determinismo estrito e de um reducionismo 
precário, o universo determinado pela presença e efetividade da motivação, e suas 
conseqüências, perde todo o sentido. 
Assim, as posições de Maslow, compreendidas contra o fundo do quadro 
traçado, como um enfrentamento aos problemas derivados desse quadro, acarretam 
uma revisão de parâmetros tradicionalmente sedimentados, que levam a introduzir 
princípios e conseqüências que necessitam ser compreendidos com precisão para 
se poder atinar com o desvendamento de novas dimensões, no interior do 
conhecimento psicológico, e seu real alcance. E isto, é nossa intenção,será 
elaborado a seguir. 
É importante, e esclarecedor, para fins de compreender o quanto as 
elaborações de Maslow sobre a motivação humana se tornaram relevantes, 
repercutindo em diversas áreas e adquirindo, conforme o contexto, significações de 
vulto, atentar para as palavras de Stephens (2003), que aqui reproduzimos: 
 
“Maslow é importante porque entendeu a natureza humana, a 
motivação e o desempenho auto-realizador melhor do que qualquer 
um ainda vivo hoje é capaz” (p.11). 
 31
 
São palavras escritas no prefácio com que Deborah C. Stephens introduz a 
obra que editou e organizou para “O Diário de Negócios de Maslow, escrita nos anos 
finais do século XX, muito próximas de nós, portanto. E expressam, com 
abrangência, o alcance que as anotações de Maslow a respeito do papel das 
motivações, necessidades e auto-realização, pensadas no contexto do mundo do 
trabalho, do gerenciamento e da gestão de negócios, adquiriram e se impuseram ao 
pensamento administrativo em geral. Embora não fosse o único, dentre seus pares, 
a voltar a atenção, a respeito do assunto, para a área das organizações, 
influenciando, concordando e divergindo de vários expoentes de renome no setor, a 
influência que Maslow exerceu tornou-se ímpar e, novamente, retomando as 
palavras de Stephens (2003, p. 10), podemos perceber claramente uma grande 
razão para tanto: 
“Na medida em que vamos abraçando as inovações e o capital 
humano como fatores primordiais da superioridade competitiva, 
Maslow torna-se mais importante agora do que na época em que se 
encontrava entre nós”. 
 
É bem verdade que tais palavras são enunciadas a partir de uma perspectiva 
bem específica, uma vez que, para Maslow, transpor para “áreas empresariais” 
diversas das implicações constantes do cerne de seu pensamento tratava-se de uma 
decorrência quase que natural de suas observações e teorizações a respeito de 
seus interesses idiossincráticos no terreno da Psicologia, enquanto que para 
Stephens, cujo foco é já, desde o início das atividades que desenvolve, voltado para 
a área negocial, o contato e o estudo de sua obra representam um aprofundamento 
de sua própria experiência. Sem dúvida, esse tipo de observação significa fazer 
notar que, não obstante a convergência de interesses e situações, para ambos, 
ainda que haja redigido muitas observações e especificamente publicado, em 1960, 
uma obra de caráter gerencial, as preocupações de Maslow são mais universais. 
Contudo, nossa intenção neste trabalho é propriamente lançar nossos olhos 
sobre esse tipo de obra e verificar algumas das implicações de maior relevo cuja 
significação, originada no interior das formulações de Maslow, de natureza mais 
 32
ampla e geral, pode contribuir para podermos levantar alguns aspectos que mais 
diretamente nos tragam informações conseqüentes sobre motivação e criatividade, 
inovação, liderança e auto-realização, tópicos que elegemos para nossa 
investigação. Apenas para aqui notificar, após procedermos à nossa investigação, 
também estabeleceremos alguns comentários mais críticos. 
No entanto, no sentido de finalizar esta breve introdução ao tema e assunto, 
cumpre, para observarmos com precisão a apreciação que a organizadora da obra 
apresenta, na mesma (Stephens, p.11, 2003), revermos o que por ela também foi 
dito: 
“Suas [de Maslow] mensagens são nítidas: 
• os seres humanos são capazes de aquisições extraordinárias. 
• a criatividade e inovação são elementos naturais de nossa formação. 
... a política de gerenciamento esclarecido não apenas aperfeiçoa os 
produtos e lucros por cota de ação; ela aperfeiçoa pessoas e desses 
e, dessa forma, melhora o mundo. 
• Esses pensamentos sobre os quais Maslow escreveu há tanto tempo, 
hoje repercutam em nós de maneira clara e impositiva” (grifos nossos) 
 
Tendo logo atrás expresso quais especificamente são os pontos que nos 
chamam atenção, ao investigar “O Diário de Negócios” de Maslow, cumpre que 
sejamos suficientemente claros para chegar a poder abordá-los articuladamente. 
Assim, e mantendo em vista o que anteriormente já expressamos acerca do 
desenvolvimento de Maslow e da orientação que desenvolveu nos terrenos da 
Psicologia, gostaríamos de assinalar que, para os fins que pretendemos enfrentar, as 
relações entre motivação, necessidades e auto-realização, sobretudo, são pontos 
nodais para os quais decidimos nos voltar mais de perto, de tal modo que o 
problema que gostaríamos de discutir transpareça translucidamente. 
Para tanto, é mister que possamos estabelecer, desde agora, as já bem 
conhecidas bases da teoria de Maslow, não só porque, mesmo o fazendo 
brevemente, recuperamos um arcabouço consistente, mas também lançamos, assim 
procedendo, os requisitos para podermos ir além da mera reflexão sobre Maslow, 
conseguindo igualmente reunir aqueles nos serão necessários para pensar as 
 33
influências, conseqüências e articulações com o pensamento da Psicologia 
Transpessoal e o que ela nos tem revelado em termos de uma transcendência que, a 
nosso ver, é vital para compreendemos com maior propriedade a situação do ser 
humano; e aí nos reencontramos, sem sombra de dúvida, com implicações 
fundamentais da obra Maslowiana. 
Queremos, aqui, retornar a um ponto já bastante comentado por estudiosos 
de Maslow e encampado, também, por pesquisadores que o seguiram na vertente 
que inaugurou. Ou seja, Maslow considerava fundamental, para os propósitos de um 
saber psicológico adequado, nem observar apenas o comportamento humano 
limitado pelas restrições inevitáveis (e reducionistas) da teoria behaviorista, nem, 
tampouco, focalizar exclusivamente (ou quase) a visão e o enfoque psicológicos e 
terapêuticos em patologias psíquicas, como se tal situação de coisas 
correspondesse legitimamente e tão apenas às constantes do psiquismo humano a 
ser estudado, investigado e tratado. Maslow, sobretudo tendo em vista, as situações 
de auto-realização de pessoas notadamente realizadoras, propôs que ao campo do 
saber psicológico também, e com ênfase, se reservasse a investigação não apenas 
do caráter constitutivo e das atitudes e comportamentos reiterados de tal tipo de 
pessoas como também a investigação dos contextos e das condições pelas quais 
um tal tipo de comportamento se pudesse observar em seus mecanismos e 
procedimentos. 
Julgamos que este ponto nos coloca muito próximos ao terreno da discussão 
da motivação, tal como Maslow elaborava a questão. E a razão pela qual assim 
pensamos reside no fato de que, como tão bem compreendeu o nosso pensador, se 
a todos os elementos motivacionais correspondesse rotineiramente situação e 
condições de falta, deficiência ou, para resumir, fatores que poderíamos visualizar 
como “negativos” – isto é, relacionados à ordem do não ser, não ter, não poder, não 
conceber, e assim por diante – ao campo de estudos da Motivação estariam 
ausentes variáveis de suma importância capazes de estabelecer, sobre estados de 
necessidades e contextos problemáticos, o encaminhamento de condutas e atitudes 
para a superação, para o ir além, por parte de seres humanos cujas obras, 
realizações e modos de ser os distinguiram de muitos outros, com os quais, ao 
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menos com base numa perspectiva positiva, ficaria muito difícil de caracterizar em 
termos de realização. 
Maslow, não apenas por seu passado acadêmico e pelas influências que o 
marcaram profundamente, reconhecia o papel e a função crucial da atuação das 
necessidades, mesmo no interior de uma escala puramente animal. E, com certeza, 
a clareza de seu julgamento sobre as observações e experimentos realizados levou-
o ao desenvolvimento de uma “teoria” das necessidades (e de sua satisfação e 
frustração), no âmbito do psiquismo e conduta humanas, cuja unidade teórica e 
articulação argumentativa, em que pesem muitas críticas que então e posteriormentese fizeram, são ainda hoje marcantes e servem de inspiração para muitos estudos de 
proveito atualmente. Não há dúvida de que Maslow soube analisar cuidadosamente 
a contribuição tanto de estudiosos clássicos quanto a de seus contemporâneos, e 
delas sabiamente tirar partido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 35
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
MASLOW: O HOMEM E A OBRA 
 “Há três coisas em que nunca pude acreditar: 
 que Deus criasse o mundo como o nosso e depois lhe desse as costas; 
 que Ele criasse o homem e depois o desertasse na sepultura; 
 que Ele plantasse o desejo da imortalidade no coração humano e falhasse 
 em fazer as adequadas provisões para sua realização” 
 Charles B. Yale, p. 140 
 
Torna-se importante, neste momento, ampliar a apresentação do tema com o 
qual trabalhamos e uma forma mais organizada de fazê-lo, acreditamos, consistiria 
em introduzir informações mais substanciais a respeito do autor e pensador que 
escolhemos para nortear nossa pesquisa, assim como a respeito de suas 
formulações teóricas e seu pensamento, notadamente no que se relaciona à questão 
da Motivação. 
Utilizamos, nesse sentido, basicamente dois livros editados no Brasil, quais 
sejam, o de Vera Saldanha (2008), e aquele organizado por Deborah Stephens 
(2003), na medida em que neles são apresentadas informações de grande 
 36
relevância. Procuramos, tendo por foco o ponto sobre o qual nos debruçamos, 
organizarmos da forma mais conseqüente esse material central utilizado, até onde 
nos foi possível e visível no conjunto desta investigação. Mas, como bem observa 
Saldanha (2008), “... a publicação de sua obra no Brasil é limitada...” (p.70), “... há 
pouco aprofundamento sobre sua teoria em nosso país” (p.70), e além de variáveis 
não exatamente tão favoráveis à compreensão de seu trabalho, como, por exemplo, 
a questão de terem sido seus últimos textos publicados postumamente, e em 
publicação cuja edição não observou uma “ordenação prévia” dos muitos rascunhos, 
acresce mais uma interveniente, a dispersão dos inúmeros “conceitos e conclusões” 
(p. 71). Além disso, Saldanha (2008) faz observar o caráter da prolixidade do autor 
em pauta, 
 
“...pois citava de diferentes formas e com diferentes exemplos os 
dados obtidos, ou definições similares, o que tornava o seu trabalho 
experimental ‘mais explanatório’ do que conclusivo, sem tentar 
‘provar’ algo, constituindo-se mais numa forma de esclarecer e 
acrescentar detalhes às suas teorias” (p. 71). 
 
Embora isso não adquira a feição de um contraponto negativo, uma vez que a 
dimensão e significado do trabalho de Maslow ultrapassam de muito esse aspecto, 
para os fins de um trabalho como o nosso, implica um conhecimento bastante 
aprofundado do conjunto de sua produção, do qual, reconhecemos, o nosso saber é 
precário; e, portanto, essas características acabam por poder nos levar a 
formulações inadequadas, extempôraneas ou anacrônicas, as quais somos os 
primeiros a reconhecer. Não obstante, o fato de que, dentro dos limites apresentados 
por Saldanha (2008), tenha havido, de sua parte, uma “reordenação dos textos”, 
muito nos auxiliou a avançar, inclusive para o nosso entendimento da edição da 
obra de Stephens (2003), a propósito do “Diário de Negócios de Maslow”. 
Assim, tendo sido colocadas tais observações, parece-nos uma boa opção 
apresentarmos um pouco da pessoa e figura desse pensador. 
Filho mais velho (dentre sete) de uma família judia, de imigrantes russos, 
Maslow, nascido em 1908, em Nova York, fez seus estudos de graduação na 
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Universidade de Wisconsin, onde tornou contato profundo com o behaviorismo e a 
psicologia experimental. Em 1934, obteve o doutorado, com uma tese a respeito da 
“dominância e o comportamento sexual entre os primatas” ( SALDANHA, 2008, 
p.71); é relevante observar esse dado uma vez que, mais tarde, efetuou vários 
estudos de pesquisa incidentes sobre o comportamento sexual humano, sob a 
influência de teses psicanalíticas a propósito da relevância do papel e função do 
sexo em termos do comportamento humano. (SALDANHA, 2008). 
As influências sofridas e experimentadas por Maslow são derivadas de 
diversos campos do saber, e não apenas do campo psicológico. Por outro lado, é 
conveniente observar que Maslow esteve sempre muito ligado a toda uma série de 
eventos concernentes aos destinos de grupos sociais, maiores ou menores, e um 
caso exemplar reside na atitude que desenvolve por ocasião da Segunda Guerra 
Mundial ao perceber e constatar que as ciências psicológicas, tal como se haviam 
estabelecido e desenvolvido, muito pouco haviam trazido em termos de contribuição 
para o enfrentamento e a solução de grandes problemas daí derivados para a 
convivência humana pacífica. 
Esse tipo de situação levou Maslow a se voltar e interessar por aspectos de 
cunho nitidamente mais social, reservando para a Psicologia Experimental um 
espaço bastante menor dentre seus interesses. 
Assim, os aspectos culturais presentificados nos comportamentos de 
grupamentos humanos bem como aqueles que mais diretamente incidiam sobre o 
problema da personalidade humana e seu desenvolvimento acabam por redirecionar 
as atenções do psicólogo. 
É bastante interessante notar que, por essa época, a América do Norte 
recebera um contingente expressivo de intelectuais europeus forçados a emigrar 
com a ascensão nazista. Embora não haja nenhum tipo de evidência direta de 
relações entre as pesquisas, humanas, psicológicas e sociais, desenvolvidas por 
parte desse pessoal, é bastante significativo observar que uma parcela considerável 
desses trabalhos e pesquisas conduziam à verificação de condições favoráveis ou 
não à instalação de traços de personalidade mais ou menos democráticos e à 
tematização, sob diversos aspectos e óticas, da discussão de problemas correlatos, 
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como o da liberdade e o das condições para o desenvolvimento de personalidades 
saudáveis franqueado por situações de maior ou menor liberdade. Um dos grandes 
trabalhos, por exemplo, desenvolvido por essa época por um dos expoentes da 
chamada Escola de Frankfurt, Theodor Wiesengrund Adorno (associado a colegas 
também emigrados, como Horkheimer e Franz Neumann), trata justamento da 
personalidade autoritária. Quanto a outros estrangeiros, residentes desde então na 
América, como Erich Fromm e Melanie Klein, é certo que as influências exercidas 
sobre Maslow foram bastante significativas e diretivas, ao menos para o 
levantamento de problemas de importância. Outros expoentes da intelectualidade 
americana, como foi o caso de Ruth Benedict, Mead, Linton e das correntes 
antropológicas de cunho sócio-cultural, exerceram também sobre Maslow um 
impacto bastante grande. 
O que é correto enunciar é que os interesses de Maslow passaram a versar, 
com bastante conseqüência, sobre aspectos culturais, e os processos de introjeção e 
internalização operantes, responsáveis, em alguma medida, pela constituição de 
traços de personalidade, comportamentos e atitudes, em função de uma 
preocupação, que Maslow absorveu não apenas a partir do espírito da época, 
concernente às determinantes substantivas da sanidade do psiquismo humano. 
Assim, desde muito cedo, ainda no período da Guerra, Maslow constitui como 
objeto de grande interesse seu as relações entre motivação, comportamento e 
elementos elicitadores como necessidades, centrados a partir de um foco que 
privilegiava as capacidades de desenvolvimentoe atualização/ efetivação de estados 
de realização (pessoal). 
Todas essas observações têm por finalidade mostrar uma característica 
bastante presente na personalidade e no trabalho de investigação próprios a 
Maslow, isto é, um grande grau de abertura ao mundo circunstante e aos contextos, 
o que, nele, o leva a propugnar pela ampliação dos campos estabelecidos nos 
estudos psicológicos na medida em que estes podiam, e de fato proporcionavam, 
fornecer indícios de ampliação, maior abrangência e superação que deveriam ser 
respeitados e resguardados como espaços legítimos para os desenvolvimentos, sob 
várias orientações e sentidos, das realizações da Ciência Psicológica. 
 39
Portanto, é notável verificar como Maslow encampou, extrapolou, reviu e 
redirecionou contribuições sumamente representativas das influências das ciências 
psicológicas afins que recebeu a partir do convívio com as idéias e teorias de figuras 
como Freud, Goldstein, Werheimer, Hartman, dentre outros, e dos conjuntos 
representados pelas vertentes do gestaltismo, do humanismo (do qual o próprio 
maslow é um dos iniciadores – formadores). Notável porque, com esse tipo de 
abertura e aproximação, Maslow conseguiu pôr em relevo a importância das 
capacidades de disponibilização favoráveis, seja por processos de extrapolação, de 
recontextualização, reinterpretação, analógicos e outros, à instalação de 
predisposições indispensáveis para reavaliações, insights e reorientações capazes 
de fornecer novas chaves, ainda inapercebidas e indisponíveis, suscetíveis de elevar 
a novas dimensões e patamares os conhecimentos até então obtidos. 
É a respeito desse tipo de orientação, presente em Maslow, com relação às 
influências recebidas que gostaríamos de nos estender, em nossos comentários, 
agora; e isso, ao menos por duas boas razões, das quais a primeira já foi comentada 
no parágrafo anterior; e, quanto à segunda, pelo fato de poder demonstrar, de modo 
mais concreto, como a atitude de Maslow permitiu-lhe descobrir e avançar, junto a 
pontos e aspectos já levantados por outros pensadores, novas posições e 
significações, ou seja, um lado reverso da moeda. 
E este aspecto, principalmente, acarreta para as psicologias que se 
sucederam ao que se convencionou chamar de psicologia humanista, algo que, 
praticado com e em Maslow, transcendeu um nível puramente metodológico e 
passou a constituir mesmo uma característica inusitada, relativa ao próprio conteúdo 
das correntes psicológicas derivadas, que tornou capaz, juntamente com mais 
alguns elementos de relevo, de fundar paradigmas inovadores, dentre os quais 
aqueles que levaram, por exemplo, à emergência da Psicologia Transpessoal. 
Nesse sentido, gostaríamos de apresentar com algum detalhe as 
“apropriações” levadas a efeito por Maslow com relação a influências determinantes 
que acabaram por formar seu pensamento. 
Tendo vivido sobretudo nos três primeiros quartos do século XX, Abraham 
Maslow vivenciou um período bastante conturbado, com duas grandes guerras que 
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envolveram muitos países do mundo e diversas outras guerras localizadas, 
ocupando os Estados Unidos papel central em boa parte delas. Ao mesmo tempo, 
presenciou um grande desenvolvimento científico e tecnológico, nos diversos 
campos da Ciência, desde a introdução das teorias acerca da relatividade, da física 
quântica, biologia genética, dentre outros, que mudaram radicalmente o plano de 
compreensão do funcionamento da vida e do universo. 
Também foi contemporâneo de grandes mudanças nos comportamentos e 
situações sociais e individuais, que, a partir do final da 2ª Grande Guerra, trouxeram 
sobretudo mentalidades, movimentos e atitudes de revolta e contestação – é a 
época dos movimentos de libertação das colônias, na África e Ásia; e também o 
momento do surgimento nas artes e modo de vida de comportamentos não-
conformistas; e no próprio campo da Psicologia, após um domínio quase que 
exclusivo das vertentes behavioristas, nos Estados Unidos, a emergência das 
tendências psicanalíticas e analíticas, conjuntamento com eventos de grande 
significação como experimentos com substâncias chamadas alucinógenas, cuja 
experimentação inclusive por pesquisadores e cientistas, e também por pessoas 
comuns, revelou aspectos até então desconhecidos ou ignorados do funcionamento 
mental, que representaram a consubstancialização de condições que tiveram grande 
impacto na reorientação do pensamento de Maslow. 
Todos esses e vários outros aspectos, concernentes inclusive à própria vida 
pessoal de Maslow, acabaram, evidentemente, por reorientar as preocupações 
desse estudioso. Formado acadêmicamente dentro dos parâmetros de um 
paradigma cientificista de alto teor positivista, mas tendo subsequentemente entrado 
em contato com a Psicanálise freudiana e algumas das vertentes daí decorrentes 
(inclusive com notória contraposição), com matrizes fundamentais do pensamento 
antropológico social culturalmente estabelecido, assim como com os avanços das 
neurociências e ciências cognitivas, o caminho de Maslow foi se configurando cada 
vez mais por tendências aos questionamentos e aberturas, até que, propugnando 
que os saberes psicológicos não podiam deixar de atender aspectos centrais como 
os fatores afetivos e emocionais, acaba por lançar as bases daquela que ficou 
conhecida como psicologia humanista, ainda que ressalvando sempre que essa 
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orientação “nova”, fundada em elementos provenientes das grandes correntes que 
movimentavam o pensamento filosófico, cultural e social, tais como a Fenomenologia 
e o Existencialismo, apenas podia ser resultado da colaboração e troca do esforço 
de vários pesquisadores e intelectuais. 
 O que nos interessa indicar, como ponto central, nessa situação, é uma 
recusa a um pensamento psicológico fundado em elementos deterministas e 
mecanicistas, bem como o descarte, como “expediente” observacional direto e 
exclusivo, da postura positivista que acaba por determinar como científico o tipo de 
conhecimento determinado sobretudo pelas contraposições quantificáveis oriundas 
da observação e experimentação. Com tal recusa, Maslow abria as portas para o 
reconhecimento da importância dos aspectos subjetivos mais internos, cujo estudo 
poderia ser formulado em contextos de introspecção, para os quais os processos 
hermenêuticos-interpretativistas de busca e avaliação poderiam contribuir 
notadamente. Assim, é possível compreender claramente como Maslow, em seus 
anos de maturidade, compreendia a relevância dos procedimentos analíticos e 
terapêuticos derivados tanto da escola freudiana quanto das que a partir daí se 
constituíram, na medida em que elas propugnavam a possibilidade de se encontrar 
significados válidos para um mundo psíquico interno que, aparentemente, fugia à 
compreensão humana. 
 É certo que Maslow, assim como outros pensadores e psicólogos, ressalvava, 
quanto ao paradigma psicanalítico, o fato de se restringir ao estudo de situação 
patológicas e doentias. No entanto, não deixava de reconhecer a valiosíssima 
compreensão, ou, ao menos os esquemas de compreensão assim alicerçados, 
atualizados e efetivados no sistema psicanalítico. Oras, isso nos pode mostrar que 
Maslow percebia com grande lucidez o que os esquemas tradicionais da psicologia 
tradicional deixavam de lado. Ou seja, todo o campo da intencionalidade e da 
subjetividade pessoais humanas colocado agora ao alcance do entendimento para a 
formulação e constituição de um vasto território, cuja pesquisa, efetuada por 
mecanismos de aproximação válidos, poderia resultar no encontro de chaves 
básicas para a apreensão do comportamento humano. 
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 O que Maslow e companheiros defendiam, contra uma visão centrada na 
psicopatologia pelo freudismo e análogos, era a possibilidade da descoberta dos 
elementos integradores de uma experiência do psiquismo humano mais

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