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FISIOTERAPIA NA SAÚDE DA MULHER – Aula 4 Renata Campos Velasque DISFUNÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO • Consiste em uma ampla gama de problemas que surgem quando a musculatura do assoalho pélvico não funciona adequadamente. • Os músculos desta região devem apoiar os vários órgãos localizados na cavidade pélvica, como bexiga, próstata, reto e órgãos reprodutivos femininos. Além disso, também estão relacionados com o funcionamento dos esfíncteres urinários e anal. Deste modo, alterações na musculatura pélvica podem resultar em disfunções urinária e intestinal. DISFUNÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO • A disfunção do assoalho pélvico tem origem em uma lesão dos nervos dos músculos da pélvis, sendo que a mesma pode ser causada por certos fatores como: obesidade, cirurgia, gestação, parto e menopausa. Alguns indivíduos aparentemente são mais propensos a desenvolver esta disfunção em decorrência de fatores hereditários ou do seu tipo de colágeno. Principais Disfunções do Assoalho Pélvico: •Incontinência de flatus; •Incontinência urinária e fecal (perda involuntária de urina e fezes); •Dispareunia (dor durante a relação sexual); •Vaginismo (contração involuntária do assoalho pélvico que dificulta a penetração); •Ejaculação Precoce; •Disfunção Erétil; •Dor Pélvica Crônica (geralmente consequência de Endometriose). VAGINISMO É uma contração recorrente ou persistente quando se tenta a penetração vaginal com o pênis, dedo, tampão ou espéculo; o mesmo espasmo pode ocorrer perante a antecipação da introdução vaginal. A contração ocorre nos músculos perineais e elevador do ânus; Sua intensidade pode variar de ligeira, tolerando algum tipo de penetração, a grave, impossibilitando-a; Pode levar a repercussões de contração dos músculos do assoalho pélvico e adutores da coxa, impedindo a relação sexual; É um forte preditor de stresse, complicações interpessoais e problemas conjugais. O vaginismo pode ser classificado em primário e secundário; O primário é definido quando a mulher é incapaz de manter relações sexuais devido às contrações involuntárias da parede da vagina; o secundário ocorre quando a mulher eventualmente teve relações sexuais, porém não é mais hábil a mantê-las devido à mesma etiologia. É geralmente nesses casos que o vaginismo vem acompanhado de dispareunia. a. Sua etiologia não está bem esclarecida, mas uma das causas para a ocorrência do vaginismo é ansiedade fóbica das mulheres antes da penetração vaginal. b. Os fatores psicossociais estão geralmente ligados à educação sexual castradora, punitiva e/ou religiosa e a vivências sexuais traumáticas. c. As causas físicas anormalidades do hímen, anormalidades congênitas, atrofia vaginal, endometriose, infecções, lesões na vagina, tumores, doenças sexualmente transmissíveis, congestão pélvica; d. Os desequilíbrios hormonais, nódulos dolorosos ou infecções nos genitais. e. O uso de algumas medicações que tenham como efeito colateral a diminuição de lubrificação vaginal. Técnica de dessensibilização a. Consiste em expor a mulher gradativamente à situação de penetração vaginal com o uso do dedo ou de cones específicos para o tratamento. b. Inicia-se com a orientação de como são os órgãos genitais femininos, mostrando à mulher com um espelho sua própria anatomia. Em seguida, tenta-se introduzir um dedo na vagina. Gel lubrificante é utilizado. c. Com o desenvolvimento da técnica, a mulher vai reduzindo sua hiper- sensibilidade vaginal, permitindo a introdução de cones e após, do pênis de seu parceiro sexual TRATAMENTO I. combinação de dessensibilização (in vivoou in vitro) associada ao uso de dilatadores; II. terapia sexual (individual ou de casal) que consiste de educação, tarefas domiciliares e terapia cognitiva. III. Farmacoterapia IV. hipnoterapia V. injeções de toxina botulínica VI. fisioterapia no tratamento primário do vaginismo por meio de técnicas de terapia manual, exercícios para o assoalho pélvico, diferentes modalidades de estimulação elétrica e termoterapia, e biorretroalimentação. a) No entanto, ainda são restritos os estudos sobre terapia física como terapêutica do vaginismo b) Não foram encontrados dados consistentes para confirmar a efetividade de intervenção fisioterapêutica satisfatória no vaginismo. Pode ser que a dessensibilização por dilatadores de silicone, a terapia sexual cognitiva comportamental associada à estimulação elétrica funcional. É um tipo específico e delicado de massagem realizada na região genital feminina ou, mais especificamente, na região do períneo. No geral a manobra trabalha toda a pele e adjacências da entrada do canal vaginal mas tem enfoque na porção muscular (MAP), localizada há cerca de 2 centímetros para dentro da vagina e envolvendo o canal quase como um nó. A função principal da massagem perineal é permitir um relaxamento progressivo da MAP, especificamente na entrada do canal vaginal, além dos tecidos locais adjacentes (pele, camada subcutânea, pequenos músculos vaginais superficiais, etc). DISPANEURIA É um transtorno sexual caracterizado pela sensação de dor genital durante o ato sexual. Pode ocorrer tanto em homens quanto em mulheres, mas é mais comum entre as mulheres. A dor geralmente é sentida durante o ato sexual, mas pode ocorrer também antes e depois do intercurso. As mulheres podem descrever a dor como uma sensação superficial, ou até mesmo profunda; e a intensidade pode variar de um leve desconforto até uma forte dor aguda. É mais freqüente do que se pensa, podendo atingir até 50% das mulheres com vida sexual ativa. Para que o distúrbio seja denominado dispareunia, a dor deve provocar sofrimento ou dificuldade nas relações interpessoais e não ser causada exclusivamente pela falta de lubrificação vaginal, por vaginismo (contrações involuntárias dos músculos da vagina), por condições médicas gerais ou pela ação de substâncias ou medicamentos. A dispareunia leva frequentemente à rejeição ao ato sexual, com consequências graves para o relacionamento atual e comprometimento dos futuros, diminuindo o desejo sexual em diversos graus. CAUSAS Pode ser causada por fatores orgânicos ou psicológicos. O distúrbio se origina na interação de um conjunto de fatores e não de uma causa isolada. Fatores Orgânicos • Infecções genitais, tais como candidíase (monilíase), tricomoníase, etc. • Doenças de pele que acometem a região genital: foliculite, psoríase; • Doenças sexualmente transmissíveis, como cancro mole, granuloma inguinal, etc; • Infecção ou irritação do clitóris; Doenças que acometem o ânus; • Irritação ou infecção urinária; FATORES PSICOLÓGICOS • Dificuldade em compreender e aceitar a sexualidade de uma maneira saudável; • Crenças morais e religiosas muito rígidas; • Educação repressora; • Medos e tabus irracionais quanto ao contexto sexual; • Falta de desejo em fazer sexo com o(a) parceiro(a); • Medo de machucar o bebê, quando durante a gestação; • Falta de informação; • Traumas infantis relacionados à sexualidade; • Sentimento de culpa na vivência da sexualidade. TIPOS • Primária: quando acontece desde a primeira relação ou tentativa de relação sexual; • Secundária: as relações sexuais eram normais e, a partir de determinada época, passaram a causar desconforto/dor; • Situacional: ocorre apenas em determinadas ocasiões ou certos parceiros; • Generalizada: a mulher éincapaz de conseguir qualquer tipo de penetração, sem que essa se acompanhe de desconforto. TRATAMENTO DA DISPANEURIA É realizado por uma equipe multidisciplinar, passando inicialmente pelo ginecologista ou urologista, para descobrir a origem do problema, e depois pelo fisioterapeuta uroginecológico. A fisioterapia é responsável pela realização de exercícios perineais, massagens perineais e alongamentos musculares, pois auxilia a mulher na percepção do próprio corpo. Os exercícios não são invasivos e devem ser realizados em um lugar calmo, para que haja o relaxamento completo. A incontinência fecal caracteriza-se pela incapacidade de controlar os gases ou as fezes (líquidas ou sólidas). Trata-se de um problema relativamente comum, mas pouco referido, devido ao pudor do doente. É uma situação que se agrava com a idade, podendo variar de perdas ligeiras de gases a perdas severas de fezes líquidas ou formadas. Existem muitas causas, traumáticas, neurológicas, congénitas. As lacerações dos músculos que rodeiam o ânus (esfíncteres anais) durante o parto são das mais frequentes. Partos prolongados podem, também, provocar lesões dos nervos que estimulam os esfíncteres. Por vezes, a incontinência pode ser devida a acidentes graves ou a operações sobre a região anal, com lesão dos esfíncteres. As infecções que ocorrem nesta área podem, igualmente, levar à incontinência fecal. O mesmo sucede com o envelhecimento, em que existe uma diminuição da força contráctil esfincteriana. Diagnostico -a realização de um exame da região ano-rectal, que deverá ser complementado por outros exames de diagnóstico: manometria ano-rectal (estudo das pressões dos esfíncteres) e ecografia endo-retal (avaliação imagiológica da integridade ou não da musculatura anal). Nalguns casos, por outro tipo de teste, será necessário saber se a inervação dos esfíncteres está a funcionar de adequadamente. Tratamento - drogas obstipantes e com a mudança dos hábitos alimentares. , exercícios para fortalecimento dos músculos desta área através da electro-estimulação ou pela realização de “biofeedback” (em que o doente re-aprende a defecar e controlar as fezes, além de fortalecimento os esfíncteres anais). Nos casos mais graves o tratamento é cirúrgico através da reparação esfincteriana. Trata-se da estimulação neuro-sagrada ou da colocação de neo-esfincteres (artificiais ou outros). DOR PÉLVICA CRÔNICA É uma doença debilitante e de alta prevalência, com grande impacto na qualidade de vida e produtividade, além de custos significantes para os serviços de saúde. O dilema no manejo da dor pélvica crônica é constituído por uma compreensão pobre da sua fisiopatologia. O tratamento é muitas vezes insatisfatório com um alívio temporário dos sintomas. É definida como dor pélvica não menstrual ou não cíclica, com duração de pelo menos seis meses, suficientemente intensa para interferir em atividades habituais e que necessita de tratamento clínico ou cirúrgico. A etiologia não é clara e, usualmente, resulta de uma complexa interação entre os sistemas gastrintestinal, urinário, ginecológico, musculoesquelético, neurológico, psicológico e endócrino, influenciado ainda por fatores socioculturais. A prevalência estimada de dor pélvica crônica é de 3,8% em mulheres de 15 a 73 anos (superior à enxaqueca, asma e dor nas costas), variando de 14 a 24% em mulheres na idade reprodutiva, com impacto direto na sua vida conjugal, social e profissional. É um problema de saúde pública. Cerca de 60% das mulheres com a doença nunca receberam o diagnóstico específico e 20% nunca realizaram qualquer investigação para elucidar a causa da dor. Nas UBS, 39% das mulheres queixam-se de dor pélvica. É responsável por 40 a 50% das laparoscopias ginecológicas; 10% das consultas ginecológicas e, E 12% das histerectomias. FATORES DE RISCO os resultados são conflitantes, o que é, em parte, explicado pela particularidade dos dados epidemiológicos de cada localidade; São descritos nos estudos o abuso de drogas ou álcool, abortos, fluxo menstrual aumentado, doença inflamatória pélvica, patologia pélvica, cesáreas e co-morbidades psicológicas estão associados à doença. Os dados disponíveis são limitados, especialmente em países em desenvolvimento. MECANISMOS QUE CORROBORAM PARA A MANUTENÇÃO E/OU EVOLUÇÃO DA DOR PÉLVICA CRÔNICA. 1) inflamação neurológica devido à liberação de fator de crescimento neural ; 2) sensibilidade cruzada entre vísceras que compartilham uma mesma inervação (reflexo víscero-visceral); 3) Reflexo víscero-muscular que pode culminar não só em repercussões disfuncionais, como dificuldade miccional ou incontinência urinária, mas também no desenvolvimento de síndrome miofascial e geração de novos pontos de dor. Consequentemente, há uma sobreposição de sintomas como dispareunia, dismenorréia, queixas gastrintestinais, geniturinárias e músculo- esqueléticas. TIPOS DE DOR 1. Dor de origem somática: o estímulo doloroso inicia em estruturas como pele, músculos, fáscias, ossos e articulações. É menos intensa, geralmente em pontadas, e a paciente, em geral, consegue localizar um ponto específico de dor; 2. Dor de origem visceral: usualmente é mal localizada, frequentemente em cólicas, às vezes associadas a fenômenos autonômicos, como náuseas, vômitos e reações emocionais; 3. Dor de origem psicológica: é menos frequente, sendo diagnóstico de exclusão. Portanto, podemos agrupar nas seguintes categorias:: gastrintestinais, urológicas, ginecológicas e musculoesqueléticas ORIGENS DA DPC 1. No Trato reprodutivo: endometriose, aderências pélvicas, congestão pélvica (varizes), dor-do-meio (ovulação); 2. Outros sistemas: Síndrome do cólon irritável, cistite recorrente e intersticial, síndrome miofascial abdominal, anemia falciforme; 3. Não orgânica: evidências de transtornos psiquiátricos; 4. Sem causa orgânica ou psiquiátrica: história de abuso sexual, físico ou ambos, vida sexual insatisfatória, desejo de atenção, carência afetiva. CORRELAÇÃO ENTRE EXAMES E CAUSAS DOR PÉLVICA CRÔNICA O tratamento consiste de uma abordagem ampliada com ênfase na história clínica e exame físico , principalmente aos sistemas gastrintestinal, urinário, ginecológico, musculoesquelético, neurológico, psicológico e endócrino. No tratamento com abordagem multidisciplinar podem ter a inclusão de procedimentos cirúrgicos específicos, tais como a laparoscopia, deveriam ser indicados somente para pacientes selecionadas, após excluir principalmente síndrome do intestino irritável e dor de origem miofascial.