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Teorema do Valor Me´dio para integrais Gabriel Ferraz 1 Introduc¸a˜o O leitor provavelmente esta´ familiarizado com o Teorema do Valor Me´dio(TVM) em derivadas. A fim de recordac¸a˜o, vou enunciar esse Teorema: Teorema 1 Seja f uma func¸a˜o cont´ınua em [a,b] e diferencia´vel em (a,b). Enta˜o, existe um nu´mero c tal que: f ′(c)(b− a) = f(b)− f(a) Este teorema e´ bem forte(embora possa ser ainda mais generalizado) e consegue relacionar a inclinac¸a˜o me´dia de uma func¸a˜o com a inclinac¸a˜o da reta tangente em algum ponto do intervalo (a,b). Note que na˜o dizemos nada sobre qual ponto e´ c, apenas garante a existeˆncia. 2 TVM para integrais 2.1 TVM simples Vamos, agora, estender o TVM para o campo integral. Teorema 2 Seja f uma func¸a˜o cont´ınua em [a,b]. Enta˜o, para algum c ∈ [a, b], temos: f(c)(b− a) = ∫ b a f(x)dx Prova: f e´ cont´ınua em [a,b], logo, e´ limitada. Sejam m e M seus valores mı´nimo e ma´ximo. Assim, vem: m ≤ f(x) ≤M ∀x ∈ [a, b] Agora, integrando ambos os lados, de a a b, temos: m(b− a) ≤ ∫ b a f(x)dx ≤M(b− a) =⇒ m ≤ ∫ b a f(x)dx b− a ≤M Veja que ∫ b a f(x)dx b−a e f(x) variam entre os mesmos extremos. Enta˜o, pelo Teorema do Valor Intermedia´rio. deve existir algum ponto c em [a,b] tal que ∫ b a f(x)dx b−a = f(c). Logo: ∫ b a f(x)dx = f(c)(b− a) � 2.2 TVM ponderado Agora, que ja´ temos o TVM para integrais, podemos dar mais um passo e apresentar sua versa˜o ponderada, mais geral, similar ao TVM de derivadas generalizadas. Notaremos, aqui, que o Teorema 2 e´ apenas um corola´rio do seguinte Teorema: Teorema 3 Sejam f e g func¸o˜es cont´ınuas em [a,b]. Se g nunca troca de sinal em [a,b], enta˜o, para algum c em [a,b], vale: ∫ b a f(x)g(x)dx = f(c) ∫ b a g(x)dx 1 Prova: f e´ limitada em [a,b]. Assim, de modo similar a` demonstrac¸a˜o do Teorema 2, temos m ≤ f(x) ≤ M . Sendo g na˜o negativa, vem: mg(x) ≤ f(x)g(x) ≤Mg(x). Integrando ambos os lados: m ∫ b a g(x)dx ≤ ∫ b a f(x)g(x)dx ≤M ∫ b a g(x) Se ∫ b a g(x)dx = 0, a equac¸a˜o do Teorema 3 vale para qualquer escolha de c. Se for diferente de 0, sera´ positiva e teremos: m ≤ ∫ b a f(x)g(x)dx∫ b a g(x)dx ≤M Donde, pelo Teorema do Valor Intermedia´rio, teremos, para algum c em [a,b], vale ∫ b a f(x)g(x)dx∫ b a g(x)dx = f(c), e enta˜o: ∫ b a f(x)g(x)dx = f(c) ∫ b a g(x)dx � Esse Teorema e´ muito u´til para realizar aproximac¸o˜es nume´ricas de integrais dif´ıceis de se calcular, sim- plificando o problema. 3 Exerc´ıcios Resolvidos: 1. Estabelec¸a a seguinte desigualdade: 1 10 √ 2 ≤ ∫ 1 0 x9√ 1 + x dx ≤ 1 10 Soluc¸a˜o: Veja que o integrando na˜o e´ simples de ser calculado, enta˜o vamos realizar uma aproximac¸a˜o usando o TVM. Note que em [0,1], x9 na˜o troca de sinal. Assim, podemos dizer que:∫ 1 0 x9√ 1 + x dx = 1√ 1 + c ∫ 1 0 x9dx = 1√ 1 + c · 1 10 Mas vale lembrar que c esta´ entre 0 e 1. Assim, como a raiz quadrada e´ uma func¸a˜o crescente, 1√ 1+c tera´ mı´nimo em 1 e ma´ximo em 0. Assim, segue: 1 10 √ 1 + 1 ≤ ∫ 1 0 x9√ 1 + x dx ≤ 1 10 √ 1 + 0 1 10 √ 2 ≤ ∫ 1 0 x9√ 1 + x dx ≤ 1 10 2. Se n e´ um inteiro positivo, use o Teorema 3 para mostrar que:∫ √(n+1)pi √ npi sen(t2)dt = (−1)n c , onde √ npi ≤ c ≤ √ (n+ 1)pi Soluc¸a˜o:Vamos multiplicar e dividir por t o integrando(veja que t nunca e´ nulo). Assim, a integral pode ser reescrita como: ∫ √(n+1)pi √ npi t · sen(t2) t dt Para qualquer n positivo, veja que t · sen(t2) nunca muda de sinal em [√npi,√(n+ 1)pi] (Verifique!). Assim, pelo teorema do valor me´dio, temos:∫ √(n+1)pi √ npi t · sen(t2) t dt = 1 c ∫ √(n+1)pi √ npi t · sen(t2)dt 2 Onde √ npi ≤ c ≤√(n+ 1)pi. Vamos, enta˜o, resolver a integral que restou. Fac¸amos a mudanc¸a de varia´vel u = t2 ⇒ du = 2tdt. Os limites de integrac¸a˜o sa˜o trocados: t = √ npi u=t2−→ u = npi t = √ (n+ 1)pi u=t2−→ u = (n+ 1)pi Teremos: ∫ √(n+1)pi √ npi t · sen(t2)dt = 1 2 ∫ (n+1)pi npi sen(u)du = 1 2 [−cos((n+ 1)pi) + cos(npi)] Se n for par, cos((n+ 1)pi) = −1 e cos(npi) = 1 Se n for ı´mpar, cos((n+ 1)pi) = 1 e cos(npi) = −1 Assim, a expressa˜o que chegamos acima vale 1 para n par e -1 para n ı´mpar, isto e´,∫ √(n+1)pi √ npi t · sen(t2)dt = (−1)n, n ∈ N Assim, juntando o que obtemos anteriormente, conclu´ımos que:∫ √(n+1)pi √ npi sen(t2)dt = (−1)n c , √ npi ≤ c ≤ √ (n+ 1)pi 4 Exerc´ıcios Propostos: 1. Note que √ 1− x2 = (1− x2)/√1− x2 e obtenha a seguinte desigualdade: 11 24 ≤ ∫ 1 2 0 √ 1− x2dx ≤ 11 24 √ 4 3 2. Assuma que f seja uma func¸a˜o cont´ınua em [a,b]. Se ∫ b a f(x)dx = 0, prove que f(c) = 0 para ao menos um c em [a,b] 3. Uma das afirmac¸o˜es a seguir esta´ incorreta. Explique o motivo: (a) A integral ∫ 4pi 2pi sen t t dt > 0 porque ∫ 3pi 2pi sen t t dt > ∫ 4pi 3pi |sen t| t dt (b) A integral ∫ 4pi 2pi sen t t dt = 0 porque, pelo teorema 3, para algum c entre 2pi e 4pi, temos∫ 4pi 2pi sen t t dt = 1 c ∫ 4pi 2pi sen tdt = cos(2pi)− cos(4pi) c = 0 Resp.: 3-b e´ incorreta 3
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