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CENTRO UNIVERSITÁRIO TABOSA DE ALMEIDA-ASCES/ UNITA BACHARELADO EM DIREITO A HERMENÊUTICA JURÍDICO-CONSTITUCIONAL NO FILME: “EM NOME DO PAI” CLÍVIA CAROLINE R. C. S. DO NASCIMENTO LETÍCIA GOMES OLVEIRA SYLMARA CARLA TAVARES MARTINS TAYSE GREGORIO DA SILVA CARUARU 2018 CLÍVIA CAROLINE R. C. S. DO NASCIMENTO LETÍCIA GOMES OLVEIRA SYLMARA CARLA TAVARES MARTINS TAYSE GREGORIO DA SILVA A HERMENÊUTICA JURÍDICO-CONSTITUCIONAL NO FILME: “EM NOME DO PAI” Trabalho apresentado ao professor ARMANDO ANDRADE, como requisito parcial para aprovação na disciplina de Hermenêutica Jurídica. CARUARU 2018 INTRODUÇÃO A vida cotidiana de forma geral é um conglomerado de diversas formas de expressões artísticas. Um filme de forma simbólica poderá propor várias interpretações a partir de suas respectivas mensagens ou significados, portanto, representações artísticas de uma forma geral denotam instrumentos de mudança ou de reflexão sobre o contexto social a que se referem, buscando uma resposta por parte dos que a notam. O filme “Em Nome do Pai”1 é um grande referencial teórico no que concerne à hermenêutica, mas absolutamente, é uma reflexão sobre os caminhos perpetuados pela justiça em busca de si própria. No filme, Gerry, o artista principal é acusado de um crime que não cometeu, chegando a ser julgado e condenado. Ao cumprir metade da pena, este descobre que não passou de um bode expiatório, uma resposta urgente que as autoridades precisavam dar a sociedade, pois muitos danos estavam sendo causados de uma forma geral, onde o pânico já tinha se instaurado e a melhor resposta para este seria a justiça como uma afagadora dessas discrepâncias. Em meio as suas próprias tragédias, assim como os efeitos colaterais em sua família, Gerry nos leva a um caminho de expiação, onde dados, depoimentos, provas e ação da justiça, sofrem manipulação de autoridades ou pessoas que deveriam se comprometer com a verdade absoluta dos fatos para garantir a justiça e nos faz refletir até que ponto a justiça deve ser buscada desenfreadamente. Poderia ser apenas um enredo pseudo-reflexivo para a sociedade que busca atentamente se comprometer com os aspectos de justiça e igualdade numa cultura fadada a reconhecer que esses ideais podem ser vilmente manipulados, mas Terry George e Jim Sheridan, roteiristas do filme, utilizaram como plano de fundo uma história real, um caso jurídico real conhecido como The Guildford Four, no qual Gerry Conlon, Paul Hill, Paddy Armstrong e Carole Richardson, jovens irlandeses, foram presos, torturados, interrogados e condenados à prisão perpétua, em que toda a família de Gerry, inclusive, foi presa como cúmplice 2 . Ocorre que, o caso foi uma farsa judicial, e foi descoberto anos depois que todas essas provas que foram usadas para substanciar o caso tratavam-se de provas obtidas mediante procedimento secreto, onde inclusive havia prova convicta da inocência de Gerry Conlon, que por sua vez foi surrupiada da defesa, dos autos e do próprio magistrado que julgou o caso. 1 2 BBC News. Innocents jailed over bombings. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/northern_ireland/4249943.stm> Acesso em 31 de maio de 2018. 1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO VIOLADOS NO FILME E FORMA DE IMPLICAÇÃO NA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL BRASILEIRA É notório que o filme e o caso de forma geral se submeteram a análise concernente ao sistema jurídico conhecido como Common Law, ordenamento pátrio do país de origem desses fatos (Reino Unido), porém, este trabalho se propõe a refletir o assunto como se este fosse tratado no Brasil, diante do nosso sistema jurídico que baseia-se no Civil Law. Preliminarmente convém trazer ao aspecto discursivo o contexto social ao qual o caso está atrelado e que é a referencia para a película cinematográfica: a guerra civil irlandesa e o surgimento do Exercito Republicano Irlandês, a partir de agora tratado apenas pela sua sigla IRA. O IRA era um grupo paramilitar católico que pretendia separar a Irlanda do Norte do Reino Unido e integralizando-a a República da Irlanda, seus métodos de conflito eram os de cunho terrorista, com ataques através de bombas e armas de fogo, cujos alvos eram os protestantes tradicionais, políticos unionistas e representantes do governo britânico. O estopim para inicio do filme, assim como da vida de Gerry Colon, foi um ataque a um PUB londrino em que cinco pessoas vieram a óbito e dezenas ficaram feridas, e diante de um anseio popular e missões secretas o governo britânico encontra em Gerry convicção de culpa. Preliminarmente é preciso abordar as fases iniciais do processo, no qual Gerry foi interrogado, espancado e privado de comida, água e sono, por dias, pela polícia que queria que ele confessasse esses atentados em Guildford. Dias antes de sua prisão, o parlamento britânico aprovou uma lei que permitia que os suspeitos de envolvimento com o IRA fossem capturados e mantidos sob custódia por sete dias, sem qualquer acusação prévia, como uma maneira de encontrar ou investigar respostas efetivas. Então toda vez que Gerry gritava: “Eu sou inocente; Não fiz nada; Nunca estive em Guildford”, os acusadores apenas riam. Um procedimento assim, impossivelmente seria juridicamente aceito no Brasil, uma vez que a Constituição Federal em seu artigo 5º preleciona conjunto de regras e princípios básicos essenciais ao cidadão e ao Estado Democrático de Direito, como os princípios da: Legalidade; Liberdade; Igualdade; Ampla Defesa; Isonomia; Contraditório; Simetria e da Proporcionalidade da Lei, e todos foram violados no caso/filme. De acordo com o Princípio da Legalidade, substanciado na Declaração dos Direitos do Homem de 1789, sintetiza que: “Ninguém poderá ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescrita”, a lei aprovada pelo Reino Unido para a prisão inconclusiva de 7 dias seria inconstitucional se ditada no Brasil, por ser uma afronta à um direito fundamental do cidadão, o principio de interpretação constitucional a ser levantado é o da harmonização, pois um direito protegido constitucionalmente não pode ser sacrificado em pról de nenhum outro, mesmo que seja o bem comum, portanto, a sua primeira violação, já impossibilita o principio da liberdade de coexistir. Se todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, este principio sintetizado na Igualdade está atrelado ao da Ampla Defesa, cuja regra básica é o direito de se defender e recorrer da decisão injusta ou desproporcional, atrelando-se também ao princípio do contraditório, interpretados sob o viés da Proporcionalidade e Razoabilidade procurando- se evitar excessos, caso claramente evidenciado no caso em tela, pois uma vez que as provas foram manipuladas e os operadores do direito de forma geral se concentraram apenas na convicção absoluta de culpas, restou prejudicada a possibilidade de defesa plena e justa. 2. QUAL A IMPORTÂNCIA DE SE TER PRINCÍPIOS NUM SISTEMA JURÍDICO PARA EVITAR SITUAÇÕES COMO AS DO FILME? Princípios de uma forma geral são considerados guardiões de valores num sistema jurídico, sendo tratado inclusive como pilares, pois norteiam os operadores do Direito em como devem agir diante dos conflitos de normas e situações anômalas apresentadas na representação factual da vida cotidiana. Com a sutilezade uma marreta, tanto o filme quanto o caso concreto se propõem a transmitir um aviso sombrio: qualquer inobservância processual deve ser analisada criticamente, porque o processo que se desenvolve de forma ineficaz não prova nada, e princípios impedem o uso cruel da lei apenas para fins punitivos. O direito de uma forma geral, na sociedade mais desenvolvida está suscetível aos redemoinhos de injustiças que podem ser amenizadas se o sistema jurídico dispor de outras fontes legitimas, além da lei, para se fazer justiça, invocando-se por fim o Princípio da Presunção de Inocência, que nunca deve ser mitigado mesmo que a ocasião ou situação constranja a justiça, a legalidade sempre estará acima desta. 3. INJUSTIÇAS NO BRASIL O ordenamento jurídico brasileiro não é um modelo de leis para nenhum outro, suas brechas e sua seletividade são uma afronta quase que enigmática aos seus próprios princípios, portanto, não é difícil observar muitas situações como a de Gerry acontecerem mais vezes do que se imagina. Costumeiramente, há casos em que pessoas são presas por erros dos agentes públicos, tornando-se invisíveis para a justiça real, inicialmente, nunca foi vislumbrado qualquer estudo ou dados a respeito de pessoas condenadas injustamente, porque nenhum órgão jurisdicional acompanha esses casos. Pesquisas independentes, no entanto, mostram a gravidade das prisões injustas no Brasil. Em 2013, só no Rio, 772 foram presos, supostamente em flagrante, para depois serem absolvidos. O número, que inclui pessoas inocentadas e liberadas por falta de provas, corresponde a cerca de 10% dos 7.734 flagrantes na cidade durante o ano 3 . Podemos pressupor também que em meio aos métodos da famigerada operação lava- jato ou de qualquer pressuposto jurídico vitimado pelo grande apelo midiático, ou o exarcebado ativismo de decisões do STF ou dos demais Tribunais, sempre possibilitará que inocentes confessem ou paguem por crimes que não cometeram, pois diariamente vemos provas serem forjadas nos porões dos interesses da seletiva justiça brasileira. 3. POSTURA DO INTÉRPRETE Todo sistema jurídico tem como pressuposto a confiança na convicção pela confissão, essa caracteristica consiste em obter a verdade, ao invés de averiguá-la de maneira verdadeira. Excessos podem acontecer com frequencia, e isso se arrasta desde os tempos medievais. Isso significa que, em todo o país, aproximadamente um quarto de milhão de pessoas todo ano confessam crimes criminosos que os interpretes não podem provar além de qualquer dúvida razoável de que sejam culpados ou que, de fato, podem ser inocentes de cometer. O Guildford Four demonstrou isso com clareza cristalina. Suas condenações injustas de cometer cinco assassinatos foram baseadas somente em confissões contraditórias e 3 O levantamento foi realizado pelo Instituto Sou da Paz em parceria com o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Cândido Mendes. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/brasil/as- injusticas-da-justica-brasileira-18541969#ixzz5H7fy76Kw> Acesso em 31 de maio de 2018. incompletas que todos eles repudiaram durante seu julgamento como falsas e coagidas. Considerando a ausência de provas corroborativas de depoimento ou físicas, todos os que não participaram da extração de suas confissões deveriam ter suspeitado de sua autenticidade desde o momento em que souberam deles. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Estado Democrático de Direito é o que designa a democracia propriamente dita e só é perceptível nas sociedades em que o Estado consegue a garantir o respeito das liberdades civis, ou seja, o respeito aos direitos humanos e garantias fundamentais, através de seu jus puniendi. Nesse estado de direito, todos, sem exceção estão sujeitos ao respeito das normas jurídicas. As normas jurídicas, como já depreendidas, não são a mesma coisa que lei, uma vez que esta equivale ao texto legal, enquanto que a norma é a atividade de produção interpretativa. No filme, representando o caso “The Guildford Four”, abrange-se a importância dos princípios e garantias processuais, de forma que, se essas tivessem sido respeitas teriam dado substancialidade ao sistema jurídico e condicionado o trabalho interpretativo. Pois, o principal objetivo de um sistema jurídico pautado nos princípios é trazer harmonia ao sistema como forma de valores sociais e que surgem em determinando momento histórico. Dentro do nosso ordenamento jurídico, resta comprovado que os princípios não possuem abrangência puramente axiológica ou ética, mas possuem eficácia jurídica e aplicação direta e imediata tornando o nosso sistema dinâmico e, consequentemente, mutável, porque também mutável é a sua base de sustentação, as relações sociais. Sendo esses princípios imutáveis, a sua colisão são normais e resolvidos assim com a interpretação jurídica, que atua como um filtro tendo como foco de proteção as garantias.
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