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Maiorias, Minorias e Mudanças A contribuição dos estudos de Kurt Lewin sobre as maiorias e minorias na sociedade favo- rece a compreensão de muitos aspectos da dinâ- mica interna dos grupos organizacionais. A compreensão do conceito de maiorias nu- méricas e psicológicas e de minorias numéricas e psicológicas ajuda profundamente a compreen- são dos processos de mudanças. As maiorias e minorias numéricas são aqui consideradas no seu conceito demográfico, em termos quantitativos. As maiorias e minorias psicológicas se refe- rem a um conceito qualitativo. Para facilitar, consideremos, por exemplo, a África do Sul, onde os negros são maioria numé- rica e minoria psicológica, ou seja, não detêm o poder, não têm seu "destino" em suas mãos. Já os brancos são minoria numérica, porém maioria psicológica, pois detêm o poder. Oposição Situação Maioria numérica Minoria psicológica Minoria numérica Maioria psicológica Negros Brancos A maioria psicológica, detentora do poder (situação), quer a preservação do status quo. É natural que, no sistema, apareçam dissidências. Elas podem vir das maiorias numéricas e minorias psicológicas (oposição), ou de facções internas da situação. 29 31 30 Analisaremos a confrontação entre situação e oposição posteriormente; agora vamos falar de dissidências internas, de facções que estão em luta interna pelo poder, como se observa nas lutas entre máfias, partidos políticos, lutas internas pelo poder dentro da organização, mas com gru- pos que representam a mesma ideologia. Aqui não há mudanças e sim substituição de grupos no poder. Isto justifica mudanças em diretorias de empresas, porém sem nenhuma mudança signifi- cativa na organização. Oposição Situação Maioria numérica Minoria numérica Minoria psicológica Maioria psicológica Facções Facções A, B, C, D A, B, C, D Mas todos sabem que necessitam de adesões e que estas precisam ser trabalhadas dentro da maioria numérica, para que lhes possam dar sus- tentação. Correndo o risco, na esquematização, de per- der a dinâmica do processo, procuraremos ser didáticos nesta apresentação. Por hipótese, trabalharemos, de um lado, com a maioria psicológica e, do outro, com facções da maioria numérica, portanto, a minoria psicoló- gica, que não detém o poder, porém propõe "va- lores de mudança" em oposição-ao status quo. Processo de Mudança Valores de mudança Status quo (oposição) (situação) Neste embate, aqueles que querem verdadei- ramente implementar mudanças deparam-se com a resistência daqueles que querem preservar-se no poder, dos alienados e também dos indecisos. A maioria psicológica é a legítima repre- sentante do status quo e procura preservar não só os valores vigentes, como o poder. E aqui denomi- nada de situação. É, portanto, a facção que resiste às mudanças. A maioria numérica e minoria psicológica, para alternar o poder e implementar os valores da mudança, transgredindo assim o status quo, se transforma na oposição e precisa arregimentar, dentro do próprio status quo, aqueles indivíduos alienados, vendendo-lhes os valores da mudança e trazendo-os para os seus próprios quadros. O mesmo movimento, em sentido inverso, faz a situação. Desse embate, vão surgindo os indecisos, que se confLitam entre a preservação do status quo, considerando os ganhos de sua preservação, e os "valores da mudança", considerando o desco- nhecido e suas possíveis vantagens. É da luta travada na aquisição de adeptos entre alienados e indecisos que se dará ou a preservação do status-quo ou a implementação dos valores da mudança. Maiorias numéricas, Minorias numéricas, minorias psicológicas maiorias psicológicas Oposição Situação Proposta de valores Preservação dos confrontando o status quo valores Oposição Alienados Indecisos Situação Se a situação arregimenta maior número de adeptos, preserva-se assim o status quo, não há mudanças, e a minoria psicológica se afirma no poder. Se, no entanto, a força da oposição tiver sido mais efetiva e conseguido arregimentar, para as suas bases, aqueles indivíduos que compunham o quadro dos indecisos ou alienados, então ter-se- á dado o salto para se implementarem os valores da mudança. A partir daí, torna-se a maioria psicológica e numérica no poder, logo, a situação. Assim, dinâmica e sucessivamente, onde houver uma situação instalada, existirá o germe da mudança, existirão, dialeticamente, a situação e a oposição (tese/antítese). Coalizões São movimentos internos aos grupos, em que se busca a mobilização dos membros em função de objetivos ou interesses comuns. Desse modo, cessados os interesses ou objetivos, essas co- alizões desaparecem, ressurgindo outras mais adiante. Às vezes, se o grupo não tem um bom código de ética, as facções que compõem uma dada co- alizão se desintegram e parte de seus membros 32 passa a fazer novas coalizões com aqueles que eram anteriormente rivais. Emergem daí inúmeros ressentimentos, sen- timentos de traição, dores, sabotagem, impasses etc. Por vezes, esses movimentos internos no gru- po são indicadores do seu nível de resistência. Sentindo-se ameaçado, cada subgrupo fecha-se em copas, formando facções que se vão tornando rivais. Em grande parte, nas organizações, isso muito se deve ã pouca preocupação que o ge- rente/consultor tem com a melhoria da qualidade da comunicação e com o clima interno da equipe. Tanto menos sentimento de equipe se viven- cia, mais o grupo estará sujeito a esse tipo de fenômeno. Mas as coalizões podem ser formadas para fazer frente às figuras de autoridade, aqui o ge- rente/consultor. É necessário que o gerente/consultor compreenda esse comportamento como um fenô- meno grupal que expressa sentimentos (ou res- sentimentos) conscientes ou não, que • caracterizam a vulnerabilidade dos membros do grupo que, de alguma forma, se sentem ameaça- dos, ou pelo medo do que pensam possam perder, ou pelo medo do desconhecido ou, ainda, pelas fantasias que fazem sobre dada situação ou fato, não raro porque lhes faltam informações e comu- nicações adequadas. 33 Se não se tem a maturidade de compreender isso como um processo, como aspectos relevantes da dinâmica do grupo, a tendência é se entrar em uma relação contratransferencial (aqui, o res- sentimento da figura de autoridade com os lidera- dos), o que tende a ir para uma relação de desgaste, com impasses, caça às bruxas, aos traidores etc., ou mesmo à queda do gerente/consultor. Nesse processo, só o grupo tem as verdadei- ras condições de resolver a situação. Para isso, ele precisa de espaço para a confrontação honesta, a abertura para ouvir e trabalhar as diferenças, os resíduos amontoados do desgaste das relações, dos mal-entendidos e dos subentendidos. Mais que nunca, esse processo tem que ser facilitado, o que requer dos próprios envolvidos abertura, capacidade acurada de ouvir e de em- patizar. Se assim não for, necessitará de uma tercei- ra parte para ajudá-los nesse processo. Ruídos Os ruídos em grupos são a expressão não- verbal do que o grupo não está conseguindo ver- balizar. Daí porque ser tão necessário fazer a leitura do implícito, do latente, do emergente grupal. Os ruídos expressam a tensão latente no grupo. À medida que a ansiedade aumenta, obser- va-se uma série de ruídos, tais como: • risos nervosos e tensos diante de situação que nada tem para justificá-los, ou altas gargalhadas frente a situações que não justificam sua intensidade; • silêncios ruidosos, em que se tamborilam os dedos, bate-se ritmicamente com algo etc.; • todos falam ao mesmo tempo e ninguém se entende, ninguém seouve realmente, a co- municação fica completamente comprometi- da com os diálogos paralelos e cruzados. O Caos O caos em grupo é o sentimento, vivido pelo grupo, de perda de tempo, falta de produção do grupo ou de que o que está gerando não faz diferença para a situação ou o que realiza não é de boa qualidade. O caos em grupo pode aparecer em vários momentos. Vejamos algumas situações em que isso pode acontecer. Ele se expressa, com muita clareza, no início da constituição de um grupo ou quando do início de uma tarefa que é nova para ele. O grupo sente-se desestruturado e confuso, ora porque não tem ainda um padrão de desempe- nho, ora porque as pessoas não têm experiência de trabalharem juntas, ou ainda pela dificuldade em se organizar e estruturar para desenvolver bem a tarefa. Quando- o grupo se apresenta em uma fase de grande dependência da figura de autoridade (gerente/consultor) e espera que esta lhe deter- mine o que deve realizar. Se isso não acontece, o 34 35 caos se instala. Ninguém sabe tomar a para ordenar ou direcionar a situação. Em situações de crises internas, lideranças ou facções se confrontam. iniciativa em que Aquecimento do Grupo É compreensível, para as pessoas, que um motor precisa de um determinado período de tem- po para se aquecer e, então, chegar ao seu ren- dimento máximo. Assim é com um carro, um forno, caldeira etc. Também é assim que funciona com os atletas que, antes de entrarem em uma disputa, passam um bom período de tempo aquecendo-se, de modo a não entrarem "frios" e, além de não terem uma distensão muscular, possam "entrar direto" no ritmo (aquecidos). Mas é difícil para o gerente/consultor enten- der que assim também é nas relações de grupo. Não raro, a gerência reclama que as pessoas, ao chegarem ao trabalho, gastam muito tempo em conversas ou atividades improdutivas, tais como tomando cafezinho, enquanto conversam com ou- tras; algumas preferem dar uma olhadinha no jornal; outras gastam tempo brincando entre si ou, simplesmente, falando de assuntos que não são pertinentes à tarefa. Deveriam entender, como entendem com os motores ou com os atletas, que, nas relações humanas, nos movimentos de grupo, se faz tam- bém necessária a tarefa do "aquecimento", que se caracteriza como um instante da "tarefa afetiva dos grupos", como veremos em outra parte deste livro. Essa dinâmica se impõe ao grupo em todo início de tarefa. É um movimento natural de resis- tência ao trabalho que se vai iniciar. Se a tarefa a ser desenvolvida é nova e, portanto, provoca um nível de insegurança maior, a tendência é de que o grupo tenda a se deter por mais tempo nesse aquecimento, mantendo-se, portanto, na "pré-ta- refa" (resistência). Esse movimento também tende a se alongar quando os membros do grupo não se conhecem o suficiente. Então, as pessoas precisam de um certo tempo para o "reconhecimento do terreno em que estão pisando". Pode ainda o grupo estar vivendo um clima de tensão entre seus membros, o que provoca uma reserva, pois há um nível de resistência latente, mantendo-se o grupo na pré-tarefa. A função do gerente/consultor, ao lidar com esses fenômenos, é, em primeiro lugar, entendê- los como tal e ter a abordagem adequada para intervir. Pois uma coisa é o grupo estar em um movimento normal do seu próprio aquecimento e outra é este se apresentar como a expressão de tensões internas no grupo. Será a sua abordagem competente, na aná- lise do diagnóstico, que levará a um tipo de inter- venção eficaz. 36 37 O Porta-Voz, o Implícito e o Explícito do Grupo Nas relações humanas e, sobretudo em gru- po, muitos sentimentos são reprimidos, outras tantas coisas não são ditas (o não-dito), algumas outras são os mal-entendidos e/ou os subenten- didos. Essa miscelânea de emoções latentes e sem- pre presentes no grupo apresenta-se de forma implícita. Você percebe que algo está acontecendo ali por baixo, que aparece de forma implícita através de um porta-voz, O porta-voz, portanto, é aquele que enuncia o que está latente no grupo. Ele explicita o próprio implícito, seja de forma verbal, quando fala e representa o pensamento do grupo ou de cor- rentes do grupo, seja de forma não-verbal, através de gestos, postura corporal etc. Ele quebra, por momento, a resistência. Isso fica facilmente visível em reuniões, em que há um nível de insatisfação latente. Todos estão calados, mas apenas um manifesta o seu descontentamento ou insatisfação. E isso é perce- bido pelo gerente/consultor como uma ação iso- lada daquele indivíduo, sobretudo se está falando de algo que é "tabu", ou seja, de algo latente que todos sabem existir, mas que ninguém ousa "to- car" ou se expor a trabalhar. Nesses casos, ou o porta-voz fica sozinho e o grupo se esconde atrás de seu discurso, ou alguns mostram sua solidariedade, somando-se a ele. 38 Compreender bem essa dinâmica é fun- damental para se lidar bem com grupos, porque isso exige uma boa leitura do processo grupai, que é uma das tarefas de todo aquele que lida com pessoas e grupos, sob pena de não ter nenhum papel de liderança na condução do negócio que representa. 39 Page 1 Page 2 Page 3 Page 4 Page 5 Page 6
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