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São José dos Campos, SP 2018 Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Instituto de Ciência e Tecnologia – ICT Laboratório de Metalografia e Ceramografia São José dos Campos - SP, Brasil PREPARAÇÃO METALOGRÁFICA DE LIGAS DE Fe-C Disciplina: Materiais Metálicos – IA Docente: Profa. Dra. Danieli Aparecida Pereira Reis Data: 26/06/18 GRUPO 1 Matheus Domingues Silva RA: 112240 Paulo Roberto S. Gonçalves RA: 112250 Resumo O presente relatório disserta sobre os procedimentos laboratoriais necessários para a preparação metalográfica de amostras metálicas; neste caso, formadas por ligas de ferro e carbono. As diversas etapas realizadas durante a prática são explicadas detalhadamente ao longo do documento e com os resultados, observações e discussões obtidas a partir das mesmas chegou- se a identificação do material formador da amostra 2 (aço eutetóide). Basicamente, pode-se dizer que realizou-se o corte da amostra, passo que visa escolher a geometria ideal e a melhor porção da amostra para o estudo; depois foi feito o embutimento, que proporciona um manejo facilitado e seguro da amostra; em seguida, o lixamento e subsequente polimento (grosseiro e fino) que possibilitaram a eliminação dos riscos, defeitos do corte, irregularidades e impurezas, além de aplainar a superfície de observação (dando origem a uma imagem especular). Por último, no processo de finalização, realizou-se algumas vezes o ataque químico para retirar possíveis pontos de oxidação, facilitar o contraste das fases presentes e revelar a microestrutura. Ao final foi possível apontar, discutir e classificar as características da amostra 2 através da análise ao microscópio, pelas fotomicrografias e ensaio de microdureza, identificando a microestrutura, diferentes fases, microconstituintes e até informações sobre o histórico térmico. 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Como visto nas aulas teóricas ao longo do semestre na disciplina de Materiais Metálicos, os diagramas de fases ou de equilíbrio constituem-se em ferramentas muito importantes para a interpretação das microestruturas de ligas metálicas e são essenciais para engenheiros e técnicos do setor. Aços são ligas de ferro (Fe) e carbono (C) cujas características dependem da concentração de C na liga. Concentrações de carbono acima de aproximadamente 2,06% fazem a liga ser considerada ferro fundido, que possui características distintas das do aço (de 0 até 2,06 % wt. C). Porém, existem aços que possuem outros elementos que são provenientes da formação de seus minérios, os exemplos são o fósforo (P) e o enxofre (S). Há ainda outros elementos químicos que são adicionados durante o seu processamento a fim de melhorar seu desempenho e isso vai depender do uso final para o qual o aço será destinado (o projeto do produto). Esses elementos da composição promovem alteração da sua microestrutura e influenciam as propriedades [1]. Aços eutetóides possuem uma composição específica ~0,80% wt. de C e são produtos da reação eutetóide, no resfriamento. Esse tipo de aço possui uma microestrutura formada única e exclusivamente por inúmeros grãos de perlita, onde existem duas fases; uma matriz de ferrita (Ferro ) [pobre em C, por isso é clara] e lamelas de cementita [rica em C, por isso é escura]. A perlita é vista como uma disposição lamelar alternada de ferrita e cementita. Portanto, um grão mais rico em cementita será mais escuro do que o que é pobre nesse microconstituinte. O aço possui uma estrutura cristalina, na qual os átomos dos elementos estão dispostos de maneira ordenada e dão origem as células unitárias, que formam o cristal com contorno geométrico. O contorno geométrico pode se tornar irregular ao longo do processamento do aço (a partir da nucleação e posterior crescimento) originando os grãos. Como cada grão que compõe a microestrutura é formado por uma certa combinação de componentes e se originam em pontos distintos do material, eles logo terão planos cristalográficos, textura e topografia diferentes e isso resultará numa interação diferente dessas superfícies com a luz incidida, o que permite a identificação das fases e dos microconstituintes. O processo de metalografia se utiliza basicamente dessas informações para se chegar a identificação de materiais metálicos, suas características e histórico de processamento [3,4]. A análise metalográfica pode ser de duas formas; (1) macrografia: consiste na análise do aspecto de uma amostra segundo uma secção plana devidamente polida e atacada por um reagente sem auxílio de equipamentos sofisticados. (2) micrografia: consiste em um conjunto de ações onde ocorre a caracterização da matriz da microestrutura com auxílio de equipamentos ópticos sofisticados [4,5]. Nesta aula prática, além de se utilizar dos resultados gerados (micrografias) e do teste de microdureza, foi construído todo o arcabouço teórico sobre o diagrama Fe-C; fundamental para orientar a compreensão das microestruturas presentes na amostra, visando relacioná-las com diferentes teores de carbono e realizar sua identificação. 2 OBJETIVO 2.1 Objetivo geral Essa prática teve como objetivo principal a identificação e descrição das características do tipo de liga Fe-C que forma a amostra metálica escolhida pelo grupo (desconhecida até então), através de diversas etapas fundamentais no âmbito da metalografia. 2.2 Objetivos específicos Os objetivos específicos se resumem nos seguintes passos: Execução do corte da amostra visando obter uma geometria ideal e a melhor porção para o estudo; Efetivação do processo de embutimento, proporcionando um manejo facilitado e seguro da amostra; Efetuação das etapas de lixamento e subsequente polimento, almejando a eliminação dos riscos, defeitos do corte, irregularidades e impurezas; dando origem a uma imagem especular; Realização do ataque químico, a fim de proporcionar a remoção de possíveis pontos de oxidação, facilitar o contraste das fases presentes e revelar a microestrutura; Obtenção dos resultados das micrografias e ser capaz de fazer a correta comparação com a bibliografia acadêmica, para apontar, discutir e classificar as características da amostra 2. 3 PARTE EXPERIMENTAL Antes de tudo, para a realização adequada dos testes foi garantido que todos os integrantes do grupo estavam devidamente protegidos com os equipamentos de segurança necessários aos riscos oferecidos por essa prática. Dentre esses equipamentos cita-se jaleco de manga longa, calça comprida, sapato fechado, óculos de proteção e luvas. 3.1 Materiais, equipamentos e soluções A prática de preparação metalográfica de ligas de Fe-C exigiu o emprego dos seguintes materiais, equipamentos e soluções, listados logo abaixo. Tabela 1. Compilado de materiais, equipamentos e soluções necessárias para a execução da preparação metalográfica realizada nessa aula prática. 3.2 Processo Experimental Primeiramente, o grupo ouviu atentamente aos recados importantes dados pela professora responsável, checou as instruções do laboratório, recebeu o kit de lixas e a amostra, com as quais trabalhou. Logo em seguida foram iniciadas as etapas necessárias para a preparação da mesma, a primeira delas foi o corte da amostra. 3.2.1 Corte Inicialmente, determinou-se a porção da amostra a ser cortada e foi escolhida tanto a sua forma geométrica bem como a superfície ideal para análise. Logo depois executou-se a operação de corte desta amostra (transversalmente) utilizando-se a cortadeira cut off da fabricante AROTEC e modelo Orocor 80, para a obtenção de uma boa superfície a ser analisada. Durante todo o tempo de execuçãodesta etapa garantiu-se o aporte de fluido refrigerante no ponto onde o disco de corte encontrava-se com a amostra, para que não houvesse um superaquecimento da região e possível danificação da amostra metálica, já que altas temperaturas poderiam induzir mudanças de fases alterando assim as características estruturais da amostra. Além disso, manter a temperatura baixa nessa região preservou a lâmina de corte do disco da máquina, prolongando sua vida útil. 3.2.2 Embutimento Já com a amostra cortada, começou-se o procedimento de embutimento que basicamente consiste em encaixar e cravar a amostra em uma base de polímero termorrígido (no caso em questão, a baquelite) com a finalidade de proporcionar um manuseio/manejo facilitado e seguro da amostra. Inicialmente levou-se a amostra para a embutidora metalográfica da fabricante TECLAGO modelo EM30D e logo depois foi feito o correto posicionamento da amostra no êmbolo da máquina, cuidando para que a face escolhida estivesse voltada para baixo. Após isso, o êmbolo foi baixado lentamente (através do acionamento da válvula de alívio de pressão) até se obter um espaço suficientemente grande para a deposição do pó de baquelite. Com o auxílio de um béquer de 50 mL acrescentou-se 20 mL do pó de baquelite e utilizando uma espátula transferiu-se esse volume cuidadosamente para o espaço disponível e em seguida fechou-se esse compartimento. A pressão adequada para essa operação foi ajustada para 110 bar durante o ciclo de aquecimento, que foi iniciado e configurado para a temperatura de 174 ºC e uma duração 3 minutos e 24 segundos. Ao final desse período de aquecimento e fusão/moldagem do termorrígido a amostra embutida começou a passar pela etapa de resfriamento e nesses instantes a pressão já não estava sendo mais aplicada (pressão aliviada). Então, o compartimento foi aberto e com o auxílio de uma luva térmica (resistente ao calor) retirou-se a amostra embutida em baquelite. Posteriormente, realizou-se a marcação “2” na parte traseira do disco de baquelite onde estava embutida a amostra. 3.2.3 Lixamento Antes de iniciar o processo de lixamento da amostra metálica em si foi feito a quebra dos “cantos vivos” no disco de baquelite resultante do embutimento e tal operação exigiu a montagem da lixa #180 na politriz lixadeira de velocidade variável TECLAGO modelo PW-300, o que permitiu a suavização das arestas cortantes para um maior conforto e segurança. A sequência de lixamento iniciou-se pela montagem de uma lixa mais fina (#320) na politriz [retirou-se o anel de fixação, posicionou-se a lixa e recolocou-se o anel] e logo em seguida configurou-se a politriz para a rotação de 306 rpm. A torneira lateral foi aberta para fornecer a vazão necessária de água (para o resfriamento, lubrificação e remoção de material) e a politriz foi finalmente colocada em funcionamento. Pressionando o disco de baquelite com a superfície da amostra metálica voltada para baixo (contra a lixa abrasiva) garantiu-se a aplicação da pressão adequada sobre a amostra e observou-se de tempos em tempos a taxa de remoção de partículas. Para as demais lixas (#600 e #1200) exatamente os mesmos passos foram executados, com a ressalva de que a cada troca a amostra foi enxaguada tanto em água corrente como em álcool, além de ter sido secada com secador/soprador de ar a 45º de inclinação. Também executou-se a observação da evolução da quantidade e disposição dos riscos antes de seguir para as demais lixas. Um ponto importante executado foi a mudança de angulação da amostra a cada troca de lixa, variando 90º de uma para outra a fim de eliminar os riscos deixados pela lixa anterior. O tempo dispendido nessa etapa foi prolongado devido a identificação de um problema ocorrido no embutimento da amostra 2 entregue ao grupo, onde basicamente se notou que as faces do disco de baquelite não estavam paralelas, já que um dos lados se mostrou levemente inclinado. Para evitar complicações nas etapas de observação ao microscópio foi necessário então lixar essa face inclinada do disco (parte de baixo) até adquirir-se o paralelismo ideal [usou-se o micrômetro]. Ao final, a superfície preparada no lixamento foi avaliada no microscópio óptico convencional Feldmann Wild Leitz modelo FWL 3500 POL e decidiu-se que a amostra estava pronta para o polimento, ou seja, sem marcas profundas das lixas anteriores. Porém, antes do início dessa próxima etapa foi feita a lavagem e secagem de cada lixa utilizada (#180, #320, #600 e #1200) além de ter sido realizada a limpeza da politriz. 3.2.4 Polimento Utilizando o mesmo equipamento (politriz semi-automática) deu-se prosseguimento ao processo de aplainamento e regularização da superfície, porém agora com uma correção mais precisa, visando um acabamento superficial final polido e isento de marcas. Iniciou-se com o polimento “grosseiro” e para isso executou-se a montagem do pano de polimento amarelo (com trama de 1 m) no disco de rotação da politriz (tal como descrito na seção 3.2.3). Logo depois foi realizada a umidificação do pano com pouca água e efetuou-se a deposição de uma certa quantidade de fluido de polimento (suspensão abrasiva de Al2O3) sobre o pano amarelo. Para que a solução de abrasivo (alumina) não fosse dispersada do pano pela ação força centrífuga durante a rotação configurou-se a velocidade da politriz para apenas 150 rpm e durante o tempo do polimento a torneira se permaneceu fechada. Tendo sido ajustados todos esses detalhes foi iniciado de fato o polimento “grosseiro” da amostra pressionando-a contra o tecido e, ao contrário do que aconteceu no lixamento, aqui no polimento a amostra foi movimentada contra o sentido de rotação do disco através de movimentos circulares, essa medida visou uma melhor eficiência dessa etapa. Uma averiguação do estado da superfície foi efetuada no microscópio óptico convencional Feldmann Wild Leitz modelo FWL 3500 POL e decidiu-se que a amostra estava pronta para a próxima etapa do polimento (fino), ou seja, nesse momento viu-se apenas poucos riscos. A amostra foi lavada em água corrente, entrou em contato com álcool e partiu para a secagem no soprador de ar posicionado a 45º, enquanto isso um dos integrantes do grupo realizou a troca dos panos de polimento e ainda lavou/secou o pano amarelo até que toda a suspensão de alumina fosse removida. O polimento fino se iniciou por meio da deposição de um novo fluido abrasivo [suspensão coloidal de sílica – (OPS)] com granulometria menor (0,25 m) sobre o pano de polimento OPCHEM (pano preto). Novamente a máquina foi ligada em rotação baixa (150 rpm), com aporte de água mínimo apenas para a umidificação inicial do OPCHEM e a partir disso a amostra foi pressionada contra o pano, sofrendo rotações no sentido contrário ao disco e observada no microscópio óptico convencional Feldmann Wild Leitz modelo FWL 3500 POL a cada ciclo [para acompanhar a evolução do padrão dos riscos]. Ao final do polimento fino realizou-se tanto a lavagem e secagem da amostra e do pano OPCHEM, bem como a limpeza, desligamento e fechamento da politriz. Foi constatado que a amostra apresentava grande quantidade de impurezas residuais deixadas pelo processo lavagem ineficiente e optou-se por fazer, antes do ataque químico, a submissão da amostra a um procedimento de esterilização em banho de acetona PA 99,5 % com incidência de ultrassom. A cuba foi preenchida com acetona e o equipamento da marca SCHUSTER L100 foi ligado e configurado para um tempo de 480 segundos de permanência. 3.2.5 Observação da amostra polida (sem ataque) Após já ter sido feita a verificação através do microscópio óptico convencional Feldmann Wild Leitz modelo FWL 3500 POL de que a amostra se encontravaisenta de riscos e resíduos foi realizada uma observação mais detalhada no microscópio óptico com aquisição de imagem ZEISS modelo AXIO Scope. A1, onde a amostra foi colocada sobre a base rolante, posicionada, atingida pela luz e previamente observada por meio das lentes oculares. Após ter sido feita a regulagem da aproximação, do foco da região escolhida (com o maior número de informações) e do aumento de 125x a imagem capturada pela câmera foi transmitida ao computador e uma fotomicrografia foi obtida (Figura 1.a). 3.2.6 Ataque químico Num processo metalográfico como este a etapa de ataque químico é essencial, uma vez que esta tem o objetivo de permitir uma melhor visualização dos contornos dos grãos e aumentar o contraste das fases presentes na microestrutura, facilitando a identificação da liga que compõe a amostra. Sabendo disso e assegurando que todos os integrantes do grupo estavam devidamente protegidos com os EPI’s necessários (luvas, jaleco e óculos) transportou-se a amostra para a capela e iniciou-se a preparação da solução de ataque NITAL 2%. Utilizando-se uma proveta de 100 mL pipetou-se 98 mL de álcool e logo em seguida mais 2 mL de ácido nítrico com a pipeta de Pasteur, respeitando-se essa sequência de adição para não gerar uma reação muito exotérmica. Tal solução formulada foi colocada em um pote de plástico (já identificado com o número do grupo) e certa quantidade foi despejada sobre uma placa de Petri. No passo seguinte a amostra foi agarrada pela pinça tenaz para cadinho e foi colocada em contato com a solução NITAL 2% por um tempo de 3,19 segundos (tempo medido com o cronômetro), sendo posteriormente lavada em água corrente na torneira da capela que já se encontrava aberta. Rapidamente o álcool foi despejado sobre a amostra e o secador/soprador de ar realizou a sua secagem. A amostra foi levada para observação no microscópio óptico com aquisição de imagem ZEISS modelo AXIO Scope. A1 e constatou-se que esse primeiro ataque não foi suficiente para revelar completamente a microestrutura. Logo, um outro ataque foi necessário (este com 6,63 segundos de duração), mas também não foi suficiente. Ao final, após várias observações foram efetuados mais 3 ataques, cada um com uma duração (Tabela 2) totalizando um tempo final de 20,91 segundos em que a amostra ficou exposta a solução de ataque. Apenas após essa exposição (5 ataques) que a microestrutura finalmente se revelou por completo. Tabela 2. Duração de todos os ataques químicos com NITAL 2% necessários para que a microestrutura da amostra 2 se revelasse de maneira satisfatória sob o microscópio com aquisição de imagem ZEISS. Em cada imersão em NITAL 2% realizada a superfície foi atacada e ocorreu uma série de transformações eletroquímicas com os grupos do ácido e do álcool, o que aumentou seu contraste por meio das diferenças de potencial químico de cada componente do material. 3.2.7 Observação da amostra (depois do ataque) Após ter sido realizada a averiguação prévia da condição da amostra no microscópio convencional Feldmann Wild Leitz modelo FWL 3500 POL, verificando que sua microestrutura estava bem definida e não seriam necessários novos ataques, efetuou-se observação sob o microscópio óptico com aquisição de imagem ZEISS modelo AXIO Scope. A1 e a peça foi avaliada em toda a sua extensão. Usou-se para isso lentes objetivas com diversos aumentos (250x, 625x e 1250x), configurou-se o foco e o filtro. Depois, sabendo que quando a luz incide sobre uma superfície metálica plana e polida ocorre além de difração uma reflexão bastante uniforme dos raios e que esse fenômeno dificulta tanto a visualização como a análise dos aspectos da estrutura/composição do material buscou-se contornar a situação e conseguiu-se obter melhorias no contraste das fases presentes através da utilização de alguns recursos oferecidos pelo microscópio ZEISS, como aumento da intensidade de luz incidida, uso de filtro amarelado e configurações na escala de cores no software do fabricante. Apenas após terem sido ajustados todos esses parâmetros é que se fez a obtenção das fotomicrografias, para cada um dos aumentos (adicionando ainda a escala ideal) e a partir destas foram coletadas/anotadas as informações observadas relevantes sobre as características microestruturais, para serem discutidas e justificadas posteriormente. 3.2.8 Ensaio de microdureza Após terem sido feitas todas as micrografias e observações registradas partiu-se para a análise da dureza média da amostra 2. Esse dado foi crucial e constituiu-se como mais uma boa evidência para auxiliar na definição do material formador da amostra analisada. Com auxílio do técnico de laboratório responsável realizou-se a configuração do durômetro de bancada EMCOTEST modelo DuraJet 10 ajustando-o para verificar a dureza da amostra na escala de dureza Rockwell C. Foram feitas marcações com a caneta marcadora permanente em pontos espaçados e equidistantes na superfície da amostra a fim de evitar que a deformação gerada por uma indentação influenciasse a medição da outra. Sobre essas marcações posicionou-se a ponta do indentador, realizou- se a aproximação inicial e liberou-se a carga de penetração. Os valores de cada uma das cinco medições de microdureza foram anotados para o cálculo da média e desvio padrão. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO As medições realizadas e a execução do procedimento experimental tendo sido conduzido da forma como foi descrito anteriormente geraram resultados observacionais e numéricos importantes, que foram devidamente registrados, cuidadosamente discutidos por todos os integrantes do grupo e ao final, a utilização deles permitiu certas conclusões sobre a natureza da liga Fe-C e a determinação de sua microestrutura. Os resultados discutidos de cada um desses passos bem como suas sintetizações na forma de tabelas estão descritos nas seções subsequentes. 4.1 Características da amostra antes do ataque Antes do ataque se observou a amostra no microscópio óptico com aquisição de imagem ZEISS modelo AXIO Scope. A1 e uma fotomicrografia foi realizada para o aumento de 125x. Como é possível observar na Figura 1.a) a microestrutura ainda não estava completamente revelada, mas algumas considerações importantes já puderam ser feitas. Figura 1. Em a) tem-se uma visão geral da microestrutura (sob aumento de 125x – lente vermelha) onde se pode observar apenas alguns traços da microestrutura sutilmente ao fundo e em bastante evidência tem-se pontos alongados (L) e globulares (G) escuros. Em b) tem-se o detalhe das possíveis inclusões de óxidos (G), de sulfetos (L) e uma região ao redor [principalmente das inclusões (L)] onde se encontram as manchas de impurezas alojadas (I), em marrom-claro. Constata-se que a microestrutura da amostra é muito fina já que é possível visualizar apenas linhas sutis delimitando algumas porções do material, mas isso é o máximo de informação disponível que se pode obter, uma vez que essa micrografia é inconclusiva no que diz respeito a extração de qualquer informação sobre fases ou microconstituintes. O que realmente fica mais visível nessa fotomicrografia é a presença de uma sequência bem espaçada e alinhada de pontos (alongados ou globulares) escuros que não constituem riscos (oriundos do processo de lixamento/polimento), mas sim inclusões remanescentes das etapas de produção do material [3]. De acordo com a classificação para avaliação micrográfica de inclusões de aços adotada pela Associação dos Siderúrgicos Suécos de Estocolmo [ANEXO A], possivelmente os pontos alongados (L) são inclusões da série grossa e do tipo A, tipicamente causadas pela presença de partículas de sulfetos. Já os pontosglobulares (G) são classificados como inclusões da série grossa e do tipo D, comumente causadas pela ocorrência de óxidos. Além disso, ao redor das inclusões de sulfetos e de óxidos percebe- se que também podem estar contidas impurezas (I) resultantes de um processo de lavagem/secagem ineficientes, que se alojaram dentro das micro-depressões [3]. 4.2 Características da amostra depois do ataque Após 20,91 segundos de ataque NITAL 2% tanto os grãos e seus contornos quanto os microconstituintes presentes foram devidamente revelados sob diversos aumentos. A fotomicrografia mostrada na Figura 2 obtida também através do microscópio com aquisição de imagem (aumento de 250x) evidencia esse fato. Nela pode-se observar que o material possui tanto grãos equiaxiais claros quanto escuros, têm tamanhos variados, estão uniformemente distribuídos no material e não apresentam tendências preferenciais por uma única orientação. Os contornos são muito bem delimitados e escurecidos, porém são extremamente finos. Figura 2. Microestrutura completamente revelada após 20,91 segundos de ataque [sob aumento de 250x – (lente verde), filtro amarelo e RGB] onde são encontrados grãos equiaxiais de tamanhos variados, tonalidades claras e escuras e contornos bem nítidos. No centro da imagem ainda é possível observar uma zona escura com bordas amareladas onde o ataque químico foi provavelmente muito agressivo. Por mais que até esse momento as micrografias (com esses baixos aumentos) não tenham dado a possibilidade de identificar com clareza e assertividade qual é o material formador da amostra 2 pode-se dizer, se embasando na bibliografia científica que, os grãos mais claros possuem lamelas mais espaçadas e os grãos enegrecidos têm lamelas mais justas, sabendo-se que a Fe2C3 é escura e a ferrita é clara [3]. A cementita aparece tanto em ferros fundidos quanto em aços e é também chamada de carboneto de ferro, sendo muito frágil, dura (mais de 840 Vickers de dureza) e resistente ao cisalhamento. É termodinamicamente instável em temperaturas inferiores a 1200 ºC, ou seja, é metaestável a temperatura ambiente e só existe porque a reação de grafitização (decomposição da cementita em grafita) é muito lenta para se completar em períodos de tempo tão curtos quanto são as taxas de resfriamentos [6]. Suspeitando se tratar de uma amostra de aço as próximas micrografias realizadas (para aumentos de 625x e 1250x) foram editadas e configuradas para escala de cores preto e branco (BW) para facilitar a visualização e comparação com as microestruturas estudas pela fonte principal deste trabalho; COLPAERT, H [3]. A partir da fotomicrografia com aumento de 625x (Figura 3) foi possível observar os microconstituintes, mais especificamente destacaram-se e foram identificados aqui inúmeros grãos de perlita, facilmente reconhecíveis por sua morfologia lamelar onde alternam-se as fases ferrita (veios claros) e cementita (veios escuros), sendo a espessura das lâminas de ferrita superior ao das de cementita; estas últimas ficam em relevo depois do ataque com ácido nítrico. Pelo fato de a perlita ser uma estrutura bifásica desses dois constituintes ela reúne e combina suas propriedades, sendo mais dura e resistente que a ferrita, porém mais branda e maleável que a cementita, podendo se apresentar na forma laminar (como é o caso), reticular e globular [3]. A morfologia da perlita pode variar de acordo com o platô isotérmico ao qual se submete a liga Fe-C após o resfriamento, já que se sabe que o espaçamento entre as lamelas diminui com o decréscimo da temperatura da isoterma, dando origem a perlita grossa e perlita fina. A perlita grosseira é formada por lamelas espessas de ferrita e cementita, já a perlita fina é formada por lamelas finas, que se nucleiam progressivamente com a diminuição da temperatura e como consequência da diminuição da taxa de difusão. Na Figura 3 são destacados dois grandes grãos de perlita grossa (detalhe A e B) e todos os demais grãos também apresentam a estrutura lamelar de perlita (embora estejam menos reveladas) como é o caso do detalhe (C e D). Figura 3. Ao analisar a microestrutura policristalina nota-se que a mesma é composta completamente por grãos de perlita laminar (100% perlítica) onde se pode verificar a disposição lamelar de seus microconstituintes (ferrita e cementita) tanto em grãos de perlita grossa bem revelada (detalhes A e B) quanto em grãos menos atacados pela solução NITAL 2% (detalhes C e D). Todos esses grãos foram formados durante um resfriamento extremamente lento no qual a totalidade dos grãos de austenita se converteram em perlita (estrutura que se desenvolveu das bordas para o centro do grão até ocupar toda a área disponível). Os veios claros e escuros são ferritas e cementitas (respectivamente) formadas imediatamente abaixo da temperatura eutetóide (723°C) e na composição ~80% wt. C. Geralmente a espessura das lâminas de ferrita é superior ao das de cementita (que ficam em relevo depois do ataque), mas os grãos mais escuros são perlitas onde as lamelas estão mais próximas. Os contornos dos grãos estão bem definidos e nítidos, pois são zonas mais instáveis e com maior energia sendo assim mais atacadas pelo ácido. [aumento de 625x – lente azul, com escala BW] Portanto, sabendo que a fotomicrografia mostra todos esses grãos como sendo perlita (mesmo que alguns ainda não estejam tão nítidos ainda) chega-se à conclusão de que a amostra 2 é composta por um aço eutetóide, com uma microestrutura formada por condições específicas, ou seja, produzida a 723 ºC e quando a composição é de ~0,80 % wt. C. Nesse caso tem-se 100% de grãos de perlita formados durante um resfriamento extremamente lento onde todos os grãos de ferro- (austenita) se converteram em perlita, e a direção dessa conversão se deu das zonas limítrofes do contorno dos grãos de austenita para o centro grão, ou seja, a microestrutura de perlita se desenvolveu das bordas para o centro do grão até ocupar toda a área disponível. 4.3 Teste de dureza Rockwell-C Para a amostra 2 foi designado que o teste de microdureza seria realizado na escala Rockwell-C. Após cinco indentações obteve-se a seguinte relação de valores de dureza (Tabela 3) onde também se encontram a média e o desvio padrão extraídos utilizando as equações 1 e 2, respectivamente. Tabela 3. Valores de microdureza obtidos pelo durômetro de bancada EMCOTEST modelo DuraJet 10 para cada um dos cinco pontos de indentação na amostra, bem como a média e o desvio padrão calculados para esses dados. 𝑀𝑣 = 𝑣1+𝑣2+𝑣3+⋯+𝑣𝑛 𝑛 (1) 𝐷𝑃 = √ ∑ (𝑋𝑖−𝑀𝑣) 2𝑛 𝑖=1 𝑛 (2) Buscando-se na bibliografia os valores de dureza para aços 1080 (eutetóides) encontram-se apenas valores na escala Brinell, portanto fez-se necessário antes o uso de uma tabela de conversão de durezas do catálogo de aços GERDAU (ANEXO B). Como a dureza na escala Rockwell-C (HRC) da amostra 2 ensaiada pode variar de 36,7 até 37,9 HRC encontra-se que na escala Brinell (HB) a dureza da amostra 2, já convertida, está num intervalo entre 336 até 344 HB. Analisado a seção de durezas esperadas para aços no mesmo catálogo encontra-se que o aço 1080 normalizado e recozido tem dureza na escala Brinell de 293 (ANEXO C). No entanto, esse valor diverge da média dos valores coletados na amostra no laboratório (Tabela 3). Portanto, na amostra em questão deve ter sido empregado algum tratamento térmico para aliviar as tensões e promover um certo aumento de dureza, já que em outra parte do catálogo se encontra uma seção que evidencia a influência da temperatura de revenimento na medida de dureza (ANEXO D) e pode-se observar que,para esses casos, a dureza do aço 1080 pode variar de 321 até 388. Logo, o aço que constituí a amostra 2 é um aço 1080 (eutetóide) que muito provavelmente passou por um tratamento térmico de revenimento. 5 CONCLUSÃO A partir da análise e discussão das características microestruturais evidenciadas nas micrografias pode-se concluir que a liga metálica Fe-C que constitui a amostra 2 analisada nessa prática experimental é um aço eutetóide 1080, que durante taxas de resfriamento extremamente lentas sofreu a reação eutetóide e foi formado em condições específicas (produzido a 723 ºC e composição de ~0,80 % wt. C), já que se observa uma microestrutura composta completamente por grãos de perlita laminar. As medidas de dureza quando comparadas com os handbooks e catálogos também confirmam a assertividade na identificação do material como sendo este e mais do que isso, ainda permite dizer que o mesmo provavelmente passou por um tratamento térmico. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ROHDE, Regis Almir. Metalografia Preparação de Amostras “Uma abordagem pratica Versão-3.0”. LEMM Laboratório de Ensaios Mecânicos e Materiais www.urisan.tche.br/~lemm. 2010. [2] SENAI – Fundamentos da Metalografia dos Aços. Disponível em: <https ://pt.slideshare.net/elizeuferreiradossantos/metalografia-38105352> Acesso em 15 jun. 2018. [3] COLPAERT, H. Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns. 4ª ed. São Paulo, Edgard Blücher, (pg. 121-127). 2008. [4] INFOPÉDIA. Micrografia. Disponível em: https://www.infopedia.pt/$macrografia Acesso em: 15 jun. 2018. [5] PROAQT. Análise Metalográfica. Disponível em: <http://www.proaqt.com.br/analisemetalografica> Acesso em: 14 jun. 2018. [6] SHACKELFORD, James. E. Ciência dos materiais. 6ª Edição. São Paulo: Prentice Hall, Pearson. I.S.B.N 9788576051602. 576 p. 2008. ANEXO A ANEXO B ANEXO C ANEXO D
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