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A Construção da Ideia de Infância

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A construção da ideia de infância (Aula 8)
- A compreensão que se tem a respeito deste período inicial da vida dos indivíduos variou significativamente ao longo da história. A própria origem da palavra (infância = não falante), já aponta a diferenciação que os adultos incialmente fizeram em relação a este grupo de indivíduos.
Infante: oposto de adulto e, portanto, desprovido de comportamentos esperados e providos de razão.
- Até mesmo o resgate que alguns historiadores fizeram sobre o tema deve ser visto com certa relatividade, pois se originam a partir do discurso dos próprios adultos e não deste grupo denominado de infância.
- Além das diferentes formas em que a relação entre adultos e crianças foi se construindo ao longo da história, outros elementos devem ser considerados, entre eles a classe social. Em famílias mais vulneráveis ou consideradas dominadas, o tempo da infância se mostra mais abreviado se comparado às famílias pertencentes às classes dominantes, onde a infância poderia se prolongar um pouco mais.
- Philippe Ariés foi um dos principais pesquisadores sobre o tema, sua obra “História social da criança e da família” (1960) é uma das principais referências sobre o assunto. Sua tese é a de que, durante muito tempo, estes indivíduos não foram vistos como seres em desenvolvimento, mas sim como “adultos em miniatura”.
- A pesquisa de Ariés se concentrou no período entre o século XII e o século XVII, sendo utilizadas variadas fontes de estudo, como a iconografia religiosa e leiga, diários e dossiês da família, cartas, registros de batismo e inscrições em túmulos.
- Para o autor, inicialmente não existia um sentimento de infância. As famílias não estabeleciam com os seus filhos uma relação sentimental, vez que a família cumpria apenas a função social. O sujeito socialmente valorizado era aquele que fosse produtivo e a partir dos 7 anos as crianças já acompanhavam seus pais em seus ofícios, imitando os seus comportamentos e realizando tarefas que cumpriam o seu papel perante a coletividade.
- As crianças, entre o século XII e XV, participavam ativamente da vida dos adultos, vestindo-se como eles em reuniões, festas e danças. Não havia discriminação entre elas e os adultos, pois estes, não acreditavam na existência de uma inocência pueril e na diferença entre eles e as crianças. Deste modo, incluíam-nos em diversas atividades tais como participação em jogos sexuais, assim como a apresentação de falas e brincadeiras vulgares na presença dos mesmos.
- O autor destaca o alto índice de mortalidade infantil e o infanticídio cometido nestes séculos, assim como a naturalidade com que se encarava a morte das crianças, consideradas “desnecessárias”.
- Crianças: algo utilitário que poderia facilmente ser substituído.
- No Brasil também houve experiências semelhantes de violência, exclusão, abuso sexual e maus-tratos a crianças e adolescentes desde a vinda dos exploradores portugueses. A caminho para o Brasil colônia, crianças e jovens pobres e órfãos eram recrutados em Portugal para trabalhar nas naus transoceânicas, prestando variados serviços à tripulação.
- Na época da escravidão, as crianças já eram incorporadas ao trabalho escravo a partir dos 7 ou 8 anos, susceptíveis também aos castigos corporais e às humilhações.
- A produtividade, nessa época, era tão valorizada que também era comum entregar a criança para ser cuidada por outra família, podendo ela retornar aos pais quando tivesse completado 7 anos e se mostrasse apta ao trabalho e a produção.
- Para Ariés, a mudança em relação aos cuidados da infância passou a ocorrer apenas no século XVII, com a intervenção dos poderes públicos e, principalmente, da Igreja Católica, com a cristianização dos costumes.
- Surge a imagem da criança anjo, associada ao menino Jesus, favorecendo o sentimento de angústia e o desenvolvimento da ternura nas pessoas. As condições de saúde, higiene e cuidados aos infantes também se tornam melhores. Passa a existir a preocupação com a perda, as mortes não eram mais aceitas com naturalidade e as crianças passam a ser educadas em seu lar, pela própria família.
- Para Ariés, é nesse contexto que surge o “sentimento de infância” e as famílias passam a se apegar e a estabelecer relações afetivas com os seus filhos.
- Com a nova organização social da Idade Moderna, surge a preocupação com a educação e a criança passa a ter um papel central nas preocupações da família e da sociedade, fortalecendo os vínculos entre pais e filhos.
- Nos séculos seguintes, principalmente no século XX, o interesse sobre as crianças e os cuidados familiares ganha um entorno especial. Diversas disciplinas e especialidades médicas se desenvolvem em torno do tema “crianças e cuidados parentais”, como a psicanálise, a pediatria, a ginecologia, a obstetrícia, psiquiatria infantil, entre outras.
- Autores como Kuhlmann Jr. Riché e Alexandre-Bidon, citados em uma revisão feita por Rocha (2002), criticam as considerações de Ariés afirmam que as pesquisas de Ariés se concentram apenas nas famílias abastadas, havendo poucos registros de fontes mais populares, devido à precariedade de suas condições econômicas; questionam as conclusões lineares de Ariés, salientando a diversidade de experiências que podem ter sido construídas no relacionamento entre essas crianças e suas famílias; consideram generalizante concluir que os infantes eram vistos apenas como servidores e sujeitos produtivos, indicando ser improvável que o sentimento de amor pelas crianças não existisse em tempos ainda mais remotos, como na Idade Média, ou que os adultos tivessem permanecido tantos séculos entorpecidos, sem manifestar qualquer sentimento pelas crianças.
- Os autores indicam outras possibilidades das famílias se relacionarem com as crianças, ao invés de generalizar a indiferença. Apontam para a possibilidade de a criança ser vista de forma diferente como, por exemplo: uma possibilidade de ascensão social; administradores do patrimônio e até mesmo ampliadores dos bens familiares.
- De qualquer forma, é válido observar que, tanto na história da humanidade como na história do Brasil, crianças e jovens foram expostos a situações de violência e nem sempre seus direitos ou condições de sujeitos em desenvolvimento foram desrespeitadas. Além disso, não se pode esquecer que, mesmo nos dias atuais, ainda é possível verificar experiências em que estes indivíduos figuram como vítimas de variadas formas de violência.
- No Brasil, a primeira lei voltada para crianças e jovens foi criada em 1927, pelo jurista José Candido de Albuquerque Mello Mattos. Apesar dos avanços da época, pois foi a primeira vez que houve intervenção do estado a questão da infância, o Estado, entretanto, cumpria prioritariamente uma função punitiva. Não havia diferenças em relação ao tratamento penal entre crianças, jovens e adultos.
- Este código sofreu algumas modificações em 1979 (Lei nº 6.679/79), pela lei denominada Código de Menores. Nesta nova versão, foi enfatizada a dicotomia entre a “infância abandonada”, considerada sem valor e com poucas perspectivas futuras, e a “infância perigosa”, que demandava a necessidade de intervenções do Estado.
- Em ambos os códigos, predominada a visão moralista, com o intuito de inibir os desvios ou os vícios que se apresentavam na família ou na sociedade: 
a) preponderância da filosofia higienista, correcional e disciplinar, onde o menor era visto como uma ameaça social;
b) clara divisão de crianças segundo a classe social, com intervenções direcionadas àquelas com condições econômicas inferiores;
c) sobreposição do Estado em relação à família, com a função de vigilância de autoridade pública às crianças e adolescentes, visando corrigi-los, regenerá-los e reforma-los pela reeducação, para que eles pudessem ser devolvidos ao convívio social sem qualquer vestígio de periculosidade, garantindo a higiene e a raça.
- Com a ascensão da ditadura militar, foram formuladas as diretrizes de uma Política Nacional do Bem-estar do menor, através da Funabem. A institucionalizaçãode crianças e jovens se justificava por acreditar-se que na internação, seriam melhor assistidos do que em suas famílias (economicamente desfavorecidas).
Modelo Repressivo 		->		Modelo Assistencialista
- Na prática, manteve-se o autoritarismo como forma de controle social.
Menores:
- Indivíduos que nasciam impossibilitados de se realizarem como cidadãos;
- Frutos da pobreza, das estruturas injustas e da exclusão a qual foram submetidos;
- Carentes e considerados biopsicossocial e culturalmente inferiores;
- Feixe de carências.
- Década de 80: surge o movimento de defesa das crianças
1985: criação do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua;
1986: I Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua;
1988: I Fórum Nacional de Entidades Não-Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, que mobilizou várias organizações pró-constituinte, as quais, juntas, elaboram o projeto que resultou na criação da Lei nº 8.069/90, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente.
- Baseada na Doutrina da Proteção Integral, onde crianças e jovens passam a ser considerados não só sujeitos de direito, mas principalmente, sujeitos em desenvolvimento.
- A responsabilidade por estes indivíduos passa a ser de todos: Estado, sociedade, estabelecimentos de atendimento, ensino, pais, entre outros.
Art. 4º ECA: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar comunitária.”
- Cobra-se da família que, junto ao Estado e à sociedade civil, protejam estes indivíduos. Entretanto, na prática verifica-se que a necessidade de auxílio às famílias, haja vista a vulnerabilidade e dificuldade de muitas em oferecer condições mínimas de desenvolvimento aos filhos.
- A partir do Estatuto, abandona-se a denominação “menor”, evitando-se a interpretação de sujeitos em condição inferior, contemplando crianças e adolescentes de modo geral e não mais direcionando a atenção para aquelas consideradas em situação de risco ou situação irregular (feixe de carências – feixe de possibilidades abertas para o futuro).
- No que se refere à natureza da ação violenta, diversas definições costumam classifica-las em quatro tipos:
Violência física (maus tratos): é o uso da força física de forma intencional, não acidental, com o objetivo de ferir, danificar e até mesmo destruir, deixando marcas significativas;
Violência psicológica: é toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. Incluem ameaças, humilhações, chantagem, discriminação, isolamento e rejeição, entre outros. Embora ocorra em maior frequência, é difícil de ser identificada.
Violência sexual: é todo tipo de ato ou jogo sexual, relação hétero ou homossexual, cujo agressor esteja em estágio de desenvolvimento psicossocial mais adiantado que a criança ou adolescente. Geralmente tem por intenção estimulá-la sexualmente ou, através de seu corpo, obter satisfação sexual.
Negligência: se refere à falta de proteção e cuidado mínimo por parte de quem tem o dever de fazê-lo. é quando os responsáveis pela educação das crianças e adolescentes não os atendem ou deixam de satisfazer as suas necessidades básicas, sejam estas psicológicas, cognitivas, sociais ou físicas. O abandono seria uma expressão extrema da negligência; alguns autores, entretanto, fazem apenas três distinções, incluindo a negligência e o abandono na classificação de violência física.

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