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Avaliação Pericial

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Avaliação pericial (Aula 9)
- A perícia tem como finalidade fornecer ao juiz informações que escapam ao conhecimento jurídico ou ao senso comum. O juiz, entretanto, mantém seu poder de decisão:
Art. 436 do CPC: “O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos.”
Art. 182 do CPP: “O juiz não ficará adstrito ao laudo I, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.”
- De acordo com o CFP: “A avaliação psicológica é entendida como o processo tecnológico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas- métodos, técnicas e instrumentos.
- Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo (as questões de ordem psicológica).
- Ao produzir documentos escritos, os profissionais devem se basear exclusivamente nos instrumentais técnicos, entre eles: entrevistas, testes, escalas e inventários padronizados, observações, dinâmicas de grupo ou de interação entre membros, escuta e intervenções verbais.
- Para realizar a avaliação no âmbito jurídico, deve-se sempre se familiarizar com os fatos pertinentes à solicitação do processo, elaborar um plano de avaliação, identificar quais são os melhores recursos (técnicas) que permitam responder os questionamentos ou hipóteses iniciais, considerar, sempre que necessário, o parecer de outros profissionais de outras áreas.
- Deve-se ainda levar em conta o setting jurídico que : 
Possui natureza compulsória e não voluntária;
Podem ocorrer graus variados de desconfiança, exigindo, portanto, manejos específicos para superá-la;
Na entrevista, os questionamentos são mais “invasivos” (abordam-se precocemente aspectos que não foram trazidos inicialmente pelo entrevistado) e diretivos.
- Trata-se de um procedimento técnico que requer do entrevistador respaldo em uma teoria de personalidade ou de funcionamento do sujeito. Não consiste na simples coleta de dados, diferenciando-se, portanto, da aplicação de questionários. Refere-se a uma relação que se constrói num processo interativo entre entrevistador e entrevistado.
- Ao mesmo tempo em que o sujeito traz informações sobre sua história, apresenta também seu modo de interagir e agir na relação com o outro. Este manifesta conteúdos objetivos, subjetivos e não-verbais.
- Os testes psicológicos são importantes instrumentos na realização do psicodiagnóstico, possibilitando ao avaliador analisar aspectos subjetivos, no entanto, não podem ser usados como defesas do psicólogo para proteger-se da ansiedade gerada pela dificuldade de lidar com os conteúdos emergentes da entrevista.
- É preciso observar que não se deve apreender a totalidade do indivíduo em apenas um teste. É preciso, antes, atentar-se para a validade dos testes (SATESPI). É possível utilizar procedimentos da área clínica, como os testes projetivos, que permitem uma ampla variedade de respostas.
- Os testes projetivos possuem: a vantagem de permitir um diálogo entre profissionais da mesma área (perito e assistente técnico); a desvantagem de serem tão projetivos para o avaliador em relação a sua abordagem teórica quanto para o avaliando.
- O Rorschach e o TAT são testes que favorecem uma análise mais profunda e abrangente, devendo ser utilizados em casos de queixas mais graves ou em segunda perícia. Todos são complementares e revelam atitudes do indivíduo em relação às pessoas e à capacidade de adaptação ao meio.
- Para crianças, testes gráficos que favorecem a realização de desejos possibilitam a descontração e o engajamento na avaliação, revelando aspectos de sua personalidade, dinâmica familiar e a representação que fazem de suas figuras parentais. O HTP e o DFH são os mais utilizados, podendo ser usados também o CAT, Pfister e testes das fábulas.
- A utilização de escalas e inventários também são úteis, entre eles: IEP, IPSF, ESI ou ESA. Alguns autores criticam o fato de não haver material específico para a prática jurídica, levando os profissionais a utilizarem os mesmos métodos da avaliação clínica.
- Sessões lúdicas: favorecem à criança expressar seus discursos e conflitos (manifestos e latentes) através do brincar.
- Ludodiagnóstico: no campo jurídico, observa-se muito mais a representação e a compreensão que o infante faz acerca do conflito e de seus vínculos familiares.
- Sessões conjuntas ou de interação dinâmica: favorecem observar a qualidade dos vínculos. Por vezes, é necessário, primeiramente, estabelecer um vínculo com a criança.
- A avaliação pode ser pedida pelo autor na petição inicial ou por outros sujeitos envolvidos no processo, através de seus representantes legais (advogados ou defensores). Pode ser também solicitada pelo Ministério Público ou determinada de ofício pelo juiz.
- Os envolvidos têm o direito de se manifestar sobre a avaliação, questionando métodos e diligências, pedindo impugnação total ou parcial das conclusões do trabalho e até mesmo requerer nova perícia. Insuficientemente esclarecido, o juiz pode determinar realização de uma nova perícia.
Art. 437: “O juiz poderá determinar, de oficio ou a requerimento da parte, a realização de nova perícia, quando a matéria não lhe parecer suficientemente esclarecida.”
Art. 439: “A segunda perícia rege-se pelas disposições estabelecidas para a primeira.”
Parágrafo único: “A segunda perícia não substitui a primeira, cabendo ao juiz apreciar livremente o valor de uma e outra.”
Laudo pericial: é a materialização do trabalho desenvolvido pelo perito (prova técnica). É realizado após as operações de coleta e averiguação.
- É necessário que ele responda aos questionamentos levantados no processo, pelo juiz. Embora não haja uniformidade, deve-se seguir o Manual de Elaboração de Documentos produzidos pelo psicólogo, decorrente de avaliação psicológica.
Relatório ou laudo psicológico: é a apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica, relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.
- Deve conter narrativa detalhada e didática, com clareza precisão e harmonia, tornando-se compreensível e acessível ao destinatário. Os termos técnicos devem, portanto, estar acompanhados das explicações e/ou conceituações retiradas dos fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam.
- Deve conter no mínimo cinco itens: identificação; descrição da demanda; procedimento; análise e conclusão.
- Nem a resolução, nem o CPC determinam a maneira adequada de se redigir. Contudo, diversos especialistas ressaltam algumas orientações técnicas, baseadas na resolução e no código, entre elas: objetividade, padrão culto de linguagem, impessoalidade, natureza dinâmica, precisão, evitar julgamentos.
- “O que o perito diz, de modo algum vem a ser julgamento, mas auxílio ao juízo para que ele chegue a conclusões importantes no fechamento ou continuidade de determinado caso.”
Parecer psicológico: não é um documento decorrente de avaliação psicológica, embora muitas vezes apareça dessa forma. Tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-problema”, visando dirimir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portando, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência ao assunto.
- Quando não houver dados para a resposta ou quando o psicólogo não puder ser categórico,deve-se utilizar a expressão “sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver mal formulado, pode-se afirmar “prejudicado”, “sem elementos” ou “aguarda evolução”.
- O parecer é composto por quatro itens: identificação, descrição da demanda e análise (deve respeitar-se as normas de referência de trabalhos científicos para suas citações e informações) e conclusão.
- De acordo com o CPC, o perito elabora o laudo e os assistentes técnicos apresentam seus pareceres críticos, concordando ou não, mas sempre fundamentando seus pareceres. Com maior frequência, acabam ocorrendo dois ou três laudos distintos, com referência ao laudo oficial. Isso pode acentuar as divergências e desfocar a questão a ser analisada, dificultando o entendimento do juiz.
- Caracteriza-se o laudo como prova, na medida em que ele permite incluir nos processos judiciais informações técnicas fundamentais para o juiz.
- Prova documental é todo material que contenha símbolos (letras, algarismos, números, sons e imagens, entre outros).
- No que se refere ao laudo psicológico, entretanto, dois elementos devem ser considerados antes de chama-lo de prova pericial: a natureza da ciência psicológica e as condições em que o estudo é realizado.
- O perito é profissional da confiança do juiz, decorrente não só de seu compromisso, mas de sua capacidade técnica, conhecimento e idoneidade.
- Já o assistente técnico é profissional de confiança das partes envolvidas em um processo judicial.
- O princípio do contraditório e ampla defesa garante aos litigantes o direito de se manifestar sobre as provas e contraditá-las.

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