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S U M Á R IO Terapias de terceira onda Terapia do esquema - TE Terapia do esquema emocional - TEE Terapia de aceitação e compromisso - ACT Terapia comportamental dialética - DBT Terapia focada na compaixão - TFC Terapia cognitiva processual - TCP Terapia metacognitiva - TMC Terapia de modificação do viés atencional Conclusão Referências 1 5 13 19 25 32 45 53 66 71 72 www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br Uma das características mais marcantes da história da psicologia é o surgimento de escolas de pensamento diferentes e por vezes simultâneas, além do seu declínio e substituição por outras. Por décadas os psicólogos têm buscado, aceitado e rejeitado diferentes definições. No entanto, nenhum sistema ou ponto de vista individual conseguiu unificar as várias posições a ponto de se tornar dominante. (Melo, 2014b) Com os modelos cognitivo-comportamentais, este mesmo fenômeno se repete na forma de sucessivas “ondas” de novos conhecimentos que vão sendo incorporados aos antigos modelos, visando sempre a aprimorar o entendimento do funcionamento psicológico humano e aumentar a taxa de eficácia dos tratamentos oferecidos (Melo, 2014a). A primeira onda é representada pela Terapia Comportamental, baseada em princípios clássicos de aprendizagem. O modelo comportamental é representado pelos fundamentos comportamentais de Watson (1913), Skinner (1938), Bandura (1986), Wolpe (1973). A segunda onda é definida pela abordagem da Terapia Cognitiva conforme os conceitos cognitivos foram sendo trazidos para o centro da psicoterapia comportamental. Segundo Hayes e Pistorello (2015), o crescimento da TCC envolveu mais do que a simples disponibilidade de focar a cognição. Uma vez que não existia nenhuma abordagem da cognição humana para prover o mesmo tipo de orientação para intervenções cognitivas que os princípios comportamentais forneciam para as intervenções comportamentais, os terapeutas desenvolveram teorias cognitivas baseadas na clínica. A segunda onda é representada pelas teorias cognitivas com a descrição do processamento da informação na forma de conceitos como esquemas, pensamentos automáticos e crenças. A Terapia Cognitiva de Aaron T. Beck é a principal abordagem da segunda onda. Beck entendia que determinadas distorções cognitivas ou erros de pen- TERAPIAS DE TERCEIRA ONDA 2 https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 3 Terapia do Esquema (Young, Klosko & Weishaar, 2008), TE pensamento pareciam ser características de pacientes com determinadas condições e, assim, pesquisas foram feitas no sentido de identificar tais distorções, bem como os métodos necessários para corrigi-las. Desde o protocolo original de Beck para depressão, os protocolos da TCC foram desenvolvidos para diversos transtornos emocionais, os quais utilizam diferentes técnicas terapêuticas e compartilham a premissa de que cognições mal-adaptativas estão relacionadas de forma causal ao sofrimento emocional e assim, por meio da modificação das cognições, o sofrimento emocional e os comportamentos mal-adaptativos diminuiriam. A segunda geração enfatizou a necessidade de uma relação terapêutica colaborativa sob a premissa de que tal relação otimizaria a eficácia das técnicas utilizadas. Ao final do século XX e o início do século XXI ocorreu o desenvolvimento de terapias que se destinavam a aliviar o sofrimento dos pacientes por meio de abordagens que utilizavam estratégias de aceitação e mindfulness. Neste momento iniciava-se a Terceira Onda das TCCs. As Terapias de Terceira Onda compartilharam as premissas básicas da cognição (acesso, mediação e modificação) e avançaram em conceitos e entendimentos, além de integrar técnicas de diferentes abordagens como neurociências, análise do comportamento, teoria evolucionista, teoria do apego, psicanálise etc. Duas características mais importantes dos métodos de terceira onda são a articulação contextual e o foco nos princípios e processos direcionados a pessoas e seus problemas e desejos de felicidade ao invés de “pacotes de síndromes”. Para o presente trabalho serão apresentadas as seguintes abordagens de terceira onda: https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 4 Terapia do Esquema Emocional (Leahy, Tirch & Napolitano, 2012), TEE Terapia de Aceitação e Compromisso (Hayes, Luoma, Bond, Masuda & Lillis, 2006), ACT Terapia Comportamental Dialética (Linehan, 1993), DBT Terapia Focada na Compaixão (Gilbert, 2009), TFC Terapia Cognitiva Processual (De Oliveira, 2013). TCP Terapia Metacognitiva (Wells, 2008), TMC Terapia de Modificação do Viés Atencional (MAcLeod, Rutherford, Campbell, Ebsworthy & Holker, 2002). TMVA https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br “Os pacientes devem estar dispostos a renunciar a seus estilos de pensamento e comportamento desadaptativos para conseguir mudar.” Jeffrey E. Young TERAPIA DO ESQUEMA - TE 6 A Terapia do Esquema constitui-se originalmente em uma ampliação da TCC em sua forma padrão, para se adequar mais facilmente ao tratamento de pacientes ditos “difíceis” – indivíduos resistentes à mudança e/ou que manifestam transtornos de personalidade. Esses indivíduos possuem mais dificuldade para acessar, avaliar e mudar as suas cognições e emoções, para formar uma aliança terapêutica e para estabelecer um alvo de tratamento, em razão de apresentarem problemas vagos, crônicos e difusos. A TE reúne elementos característicos das terapias cognitivo- comportamentais (TCCs), integrando-os com outros advindos da psicodinâmica (especialmente relações objetais) e da Gestalt, da teoria do apego (Bowlby, 1984) e os vínculos afetivos, além de contribuições do modelo cognitivo-construtivista de personalidade de Guidano e Liotti (1983). A Terapia do Esquema tem aplicabilidade para o tratamento dos transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, dependência química, problemas conjugais e tem sido adaptada ao formato de terapia de grupo. Os esquemas podem ser definidos como padrões de processamento das informações que levam a um viés na atenção, memória, valor ou interpretação dos estímulos. Funcionam como lentes tendenciosas através das quais vemos e interpretamos o mundo. Temos esquemas sobre nossos traços pessoais e os dos outros, sobre como as pessoas responderão a nós, sobre nossas emoções e sobre qualquer conteúdo que possamos conceitualizar (Leahy, 2018). Os esquemas são caracterizados pela “automaticidade” – tendem a en- https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ volver o processamento da informação que está fora da consciência do indivíduo e assim determinam o próprio processo, operamfora do conhecimento consciente, de forma que o indivíduo processa automaticamente informações consistentes com o esquema. Terapia do Esquema e Personalidade Jeffrey Young propôs um modelo de personalidade baseado na Teoria do apego (Bowlby,1984) e na teoria do processamento da informação, principalmente o conceito de esquemas. A Terapia do Esquema entende que, desde os primeiros anos de vida, as experiências são armazenadas em nível não-verbal em nossa memória autobiográfica por meio de esquemas. Este modelo descreve que esquemas desadaptativos se desenvolvem em idade precoce como resultado de uma combinação de fatores tais como o temperamento da criança, os padrões parentais e as experiências negativas repetidas ou traumáticas. Ou seja, os modelos internos de funcionamento são compreendidos, em sua patologia, como esquemas desadaptativos remotos (EDRs). A Terapia do Esquema compreende a estruturação da personalidade como um processo natural e que tem suas fundações nas bases genéticas herdadas, as quais definem o temperamento, as tendências comportamentais, afetivas, cognitivas e motivacionais que sofreram os efeitos do ambiente por meio das aprendizagens constantes no transcorrer do ciclo vital. A importância do papel do temperamento é mais explicitada na TE. Nas demais teorias cognitivas era considerado apenas mais uma influência, mas sem definir a extensão de seus efeitos. O temperamento é visto como a base que determinará as tendências de funcionamento do indivíduo e tem vital efeito sobre o que resultará na identidade pessoal. Sendo um determinante biológico da personalidade, é previsto que ele não poderá ser totalmente modificado pelas influências ambientais posteriores ao nascimento. Portanto, as tendências geneticamente herdadas poderão ser amplificadas, reduzidas, encobertas ou expressas em sua natureza, mas nunca elimi- www.ellocursos.com.br 7 https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 8 nadas ou aumentadas exacerbadamente em sua totalidade (Young, 2008). Ao postular novos conceitos teóricos e intervenções clínicas decorrentes destes, a TE complementou aspectos que se mostravam incipientes ou mesmo ausentes para o tratamento das patologias da personalidade. A aplicação do novo modelo da TE gerou maior adesão e o aumento de posturas colaborativas do paciente ao tratamento, o estabelecimento de uma relação terapêutica sólida, empática e afetiva (condição imprescindível para tratar os problemas da personalidade); e uma concepção de psicoeducação que integra, ao mesmo tempo, validação de sentimentos e necessidade de mudança. Esquemas Desadaptativos Remotos (EDR) e seus domínios Os indivíduos são programados, desde o nascimento, a ter necessidades emocionais satisfeitas (vínculos seguros, base estável, previsibilidade, amor, carinho, atenção, aceitação, elogio, empatia e limites realistas), para se desenvolver e para manter as relações com os outros de forma saudável. Necessidades emocionais frustradas de forma consistente e/ou traumática, p. ex., padrões parentais erráticos ou disfuncionais, podem levar à construção de EDRs, os quais representam formas autoderrotistas de funcionamento interpessoal. Com as pesquisas e a experiência clínica, Young encontrou 18 esquemas, organizados em cinco domínios, os quais são baseados nas cinco etapas evolutivas, ao longo das quais se estabelecem as crenças e regras que o indivíduo constrói sobre aspectos de sua vida. www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 9 Cada EDR contém temas específicos relacionados a necessidades emocionais não atendidas: www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 10 Uma vez construídos, os esquemas se fortalecem ao longo do desenvolvimento a partir de estratégias ou estilos de enfrentamento. Embora esses estilos desadaptativos de enfrentamento produzam alívio em curto prazo (ex., evitar relacionamentos amorosos para não sofrer o abandono), eles criam e/ou mantém as dificuldades inerentes aos esquemas (ex., manter uma vida solitária para evitar perdas e confirmar o abandono) Esquemas Desadaptativos Remotos e estilos de enfrentamento O conceito de estilos de enfrentamento está incorporado ao conceito de modos de esquemas, definidos como “estados emocionais, cognitivos e comportamentais” nos quais uma pessoa se encontra em um determina- www.ellocursos.com.br Tabelas de EDRs retiradas de: Melo, W. V. (et al.). (2014). Estratégias psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva. Novo Hamburgo: Sinopsys. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ do momento. Os modos são agrupados em quatro categorias: a) Modos Primários ou Inatos da Criança (criança vulnerável, criança com raiva e criança impulsiva), os quais se desenvolvem quando as necessidades emocionais da criança (segurança, confiança e autonomia) não são atingidas. Esses modos infantis são identificados por sentimentos intensos, tais como medo, desamparo ou raiva, e envolvem reações inatas, tais como as manifestadas por crianças pequenas; b) Modos Parentais Disfuncionais (pais punitivos ou pais exigentes) refletem uma internalização seletiva dos aspectos negativos das figuras de apego (ex.: pais, professores, pares etc.) durante a infância e adolescência. Assim, o indivíduo pode agir de forma excessivamente crítica ou exigente consigo mesmo, como se a 'voz dos pais ou cuidadores' fosse agora a 'sua própria voz'. c) Modos Desadaptativos de Enfrentamento (render-se, evitar ou supercompensar) correspondem aos estilos de enfrentamento previamente especificados e visam proteger a pessoa de sentir dor, ansiedade ou medo. d) Modos do Adulto Saudável (inclui pensamentos e comportamentos funcionais, assim como habilidades para atingir as próprias necessidades) e da Criança Feliz (fonte de atividades prazerosas de jogos e diversões, especialmente em redes sociais). Terapia do Esquema em resumo A Terapia do Esquema tem como objetivo ajudar os pacientes a mudar os seus padrões de vida disfuncionais e a atingir as suas necessidades centrais de forma adaptativa, através da mudança de esquemas e de modos. A mudança de padrão envolve reduzir a intensidade dos EDRs que disparam emoções e ações referidas como modos. Com isso, as metas da TE vão além do ensino de habilidades específicas comportamentais e www.ellocursos.com.br 11 https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 12 incluem um trabalho fundamental de mudança da personalidade. A TE se diferencia da TCC padrão por utilizar um modelo de desenvolvimento que ajuda a conscientizar o paciente sobre as origens dos seus problemas a partir de suas relações parentais, de seu temperamento e dos estilos de enfrentamento que desenvolveu ao longo da vida. O paciente compreende que para se adaptar à forma como foi tratado por seus cuidadores na infância (p.ex., rejeição, ausência de afeto, abuso, negligência, superproteção etc.), ele cria padrões de funcionamento cognitivo, emocional e comportamental que se repetirão ao longo de sua vida. Assim, ele escolherá situações e relações que confirmem e reforcem esses padrões, o que o leva a fracassar na busca de seus objetivos e na satisfação de suas necessidades. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br “Tenha em menteque o objetivo da Terapia do Esquema Emocional não é livrá- lo das emoções – é fazer você ser capaz de conviver, aprender e lidar efetivamente com elas.” Robert L. Leahy TERAPIA DO ESQUEMA EMOCIONAL - TEE 14 O modelo cognitivo do processamento emocional proposto por Leahy (2013) utiliza o termo “esquema emocional” para se referir a planos, conceitos e estratégias empregadas em resposta a uma emoção. Neste modelo, os esquemas emocionais constituem os diferentes padrões de interpretação, avaliação e comportamento que um indivíduo pode utilizar quando uma emoção é ativada. O modelo do esquema emocional amplia os modelos cognitivos para a avaliação das emoções, bem como para as estratégias de lidar com elas. Defende-se que as emoções podem constituir objetos da cognição; isto é, elas também podem ser encaradas como um conteúdo a ser avaliado, controlado ou utilizado por um indivíduo. Nesse sentido, a Terapia do Esquema Emocional busca identificar a “teoria” que os pacientes têm sobre suas emoções e suas estratégias de controle emocional. As crenças do indivíduo sobre a legitimidade das emoções, a necessidade de controlá-las, suprimi-las ou expressá-las constituem o foco de análise desse modelo terapêutico. Na tentativa de lidar com a experiência emocional, o indivíduo pode apresentar comportamentos de esquiva experiencial (entorpecimento, evitação, fuga), estratégias cognitivas disfuncionais (preocupação, pensamentos obsessivos) e busca de apoio social (tentativas tanto adaptativas quanto não adaptativas de validação). Indivíduos diferem quanto às estratégias que supõem ser necessárias para lidar com as emoções; podendo aceitá-las, validando e ampliando a compreensão a partir da experiência vivenciada; ou suprimindo a experiência emocional, buscando alívio ou remissão da experiência emocionalmente desconfortável. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 15 Validação Inteligibilidade Culpa Visão simplista das emoções Valores mais elevados, controle Entorpecimento Necessidade de ser racional Duração Consenso Aceitação dos sentimentos Ruminação Expressão Responsabilidade incluem um trabalho fundamental de mudança da personalidade. A TE se diferencia da TCC padrão por utilizar um modelo de desenvolvimento que ajuda a conscientizar o paciente sobre as origens dos seus problemas a partir de suas relações parentais, de seu temperamento e dos estilos de enfrentamento que desenvolveu ao longo da vida. O paciente compreende que para se adaptar à forma como foi tratado por seus cuidadores na infância (p.ex., rejeição, ausência de afeto, abuso, negligência, superproteção etc.), ele cria padrões de funcionamento cognitivo, emocional e comportamental que se repetirão ao longo de sua vida. Assim, ele escolherá situações e relações que confirmem e reforcem esses padrões, o que o leva a fracassar na busca de seus objetivos e na satisfação de suas necessidades. Leahy definiu 14 dimensões às quais os esquemas emocionais podem ser compreendidos, a saber: A TEE é uma forma de TCC que adota a reação emocional como norteadora dos fenômenos cognitivos. Compreende os seguintes princípios fundamentais: https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 16 As emoções dolorosas são universais e constituem produtos da evolução; no passado remoto, serviram como sinalizadores de perigos e necessidades; Crenças e estratégias subjacentes (esquemas) acerca das emoções determinam o impacto de uma emoção sobre seu aumento ou manutenção; Esquemas problemáticos incluem tornar as emoções catastróficas; estratégias de controle emocional, como tentativas de suprimir, ignorar, neutralizar ou eliminar as emoções pelo uso de substâncias psicoativas ou compulsão alimentar, reforçam as crenças negativas a respeito das emoções como experiências intoleráveis; Expressão e normalização das emoções são úteis na medida em que universalizam e ampliam a compreensão e a tolerância da experiência. Identificar e nomear as diferentes emoções; Normalizar a experiência emocional, especialmente as emoções mais dolorosas e intensas; Conectar as emoções às necessidades pessoais e à comunicação interpessoal; Identificar crenças e estratégias que se revelam problemáticas, para que se possa interpretar e lidar de forma diferenciada com a emoção experienciada. A Terapia do Esquema Emocional busca auxiliar o paciente a: A TEE busca validar a experiência emocional, explorar sentidos envolvidos na sua expressão, normalizando-a, em vez de eliminá-la ou suprimi-la. Ressalta a importância de discriminar as emoções, buscando formas construtivas de utilizar a experiência emocional. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 17 Modificação de esquemas emocionais: identificação de esquemas emocionais; nomeação e diferenciação de outras emoções possíveis; normalização da emoção; aprender a como tolerar sentimentos mistos; exploração das emoções como metas; abertura de espaço para a emoção; escada de significados elevados. Aceitação: prática de aceitação, ação comprometida, desfusão Atenção plena(mindfulness): atenção plena respiratória, ampliação do espaço, atenção plena do movimento; Redução de excitação: relaxamento muscular progressivo; respiração diafragmática; relaxamento e imagens mentais; Resolução de problemas: identificar e especificar o problema; levantamento de possíveis soluções; avaliar as consequências de cada uma das resoluções levantadas; prática da solução; avaliar resultados obtidos; Ativação comportamental: programa de atividades e previsão de prazer; gerenciamento do tempo; autorreforçamento; Reestruturação cognitiva: distinção entre pensamento e sentimentos; descatastrofização; questionamento socrático; Comportamentos adaptativos voltados à busca de apoio social: resistência à validação; identificação de reações problemáticas à invalidação; exame do significado da invalidação; desenvolvimento de estratégias mais adaptativas para lidar com a invalidação; superação da validação de si mesmo. Por fim, esta abordagem também entende que experiências emocionais intensas podem constituir importantes oportunidades terapêuticas para acessar conteúdos cognitivos relevantes, crenças centrais, imagens e lembranças associadas a emoções intensas e demais eventos significativos da vida. Técnicas em Terapia do Esquema Emocional As técnicas terapêuticas comumente empregadas neste modelo clínico são: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. TEE e conceituação de caso https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 18 Para que o terapeuta escolha as técnicas mais adequadas é importante ressaltar que a TEE começa realizando uma avaliação do estado mental (Exame do Estado Mental[1]) e da história de vida do paciente, elaborados a partir de uma anamnese criteriosa. Os dados coletados a respeito da história e da dinâmica de funcionamento do paciente permitem ao terapeuta elaborar uma conceituação emocional ampla que orientará o trabalho a ser desenvolvido com o paciente. A conceituação permitirá que o terapeuta tenha uma compreensão da teoria geral do paciente sobre suas emoções, incluindo avaliações, previsões e estratégias empregadas para lidar nas diferentes situações-problema. Objetiva-se no processo terapêutico a flexibilidade psicológica a partir do desenvolvimento de habilidades de tolerância e regulação emocional. A TEE auxilia o paciente a elaborar sua teoria implícita da emoção e da regulação, bem como a desenvolver um modelo mais realista e adaptado da experiência emocional. A literatura pesquisada compreende que os esquemas emocionais parecem desempenharum papel importante em diversos transtornos psicológicos. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br “A aceitação não implica em concordar ou achar bom, mas aprender a compreender a natureza das coisas sem se debater contra ela.” Steven C. Hayes TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO – ACT 20 Do inglês – Acceptance and Commitment Therapy, a ACT é provavelmente uma das abordagens mais conhecidas e estudadas entre as que compõem a terceira onda. O próprio nome da abordagem resume os principais elementos da proposta. De um lado, a aceitação daquilo que está fora do nosso controle, seja no mundo externo, seja no mundo interno. Do outro lado, está o compromisso que podemos estabelecer em praticar ações que possibilitam uma vida mais significativa, independentemente da presença de eventos internos ou externos indesejáveis. O compromisso firmado é o de praticar ações significativas, não de atingir um resultado específico. A ACT se baseia em uma teoria comportamental da linguagem e cognição humana denominada Teoria das Molduras Relacionais (RFT). Metaforicamente, é como se a RFT fosse o conhecimento sobre o funcionamento do motor de um carro e a ACT fosse o processo de dirigir este carro. Da RTF deriva o modelo de psicopatologia utilizado em ACT como base para a conceitualização de caso. Este modelo norteia todas as intervenções terapêuticas em ACT. A Terapia de Aceitação e Compromisso entende que a origem da psicopatologia é a Inflexibilidade Psicológica. A ACT não é um protocolo ou um conjunto de técnicas. Ao contrário, é uma abordagem que visa um pequeno conjunto de processos-chaves de flexibilidade. Essa abordagem baseada em processos é um recurso que distingue a ACT das muitas formas de terapia que enfatizam protocolos sobre processos. Em essência, a ACT está baseada na ideia de que a linguagem humana https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 21 dá origem tanto às realizações humanas quanto ao sofrimento humano. Por “linguagem humana” refere-se à atividade simbólica em qualquer forma que ela ocorra – seja por meio de gestos, figuras, formas escritas, sons ou o que quer que seja. Na abordagem da ACT, um objetivo de vida saudável não é tanto sentir-se bem, mas sentir bem. É psicologicamente saudável ter pensamentos e sentimentos desagradáveis, além dos prazerosos, e isso nos dá pleno acesso à riqueza de nossas histórias pessoais únicas. Quando pensamentos e sentimentos passam a ditar o que fazemos – ou seja, quando eles “significam apenas o que dizem que significam” –, com frequência ficamos relutantes em “sentir os sentimentos” ou “pensar os pensamentos” abertamente e, assim, aprender com o que eles têm a nos ensinar. Em contrapartida, quando os sentimentos são apenas sentimentos e os pensamentos são apenas pensamentos, eles podem significar o que eles realmente significam, ou seja, que partes da nossa história pessoal única estão sendo trazidas para o presente pelo contexto atual. Pensamentos e sentimentos são interessantes e importantes, mas não devem necessariamente ditar o que acontece a seguir. Seu papel específico em cada caso depende do contexto psicológico em que ocorrem. Flexibilidade psicológica: um modelo de funcionamento humano O modelo de flexibilidade psicológica sustenta que a dor é uma consequência natural de viver, mas que as pessoas sofrem desnecessariamente quando seu nível geral de rigidez psicológica as impede de se adaptar a contextos internos e externos. Na ACT há seis processos centrais que são responsáveis pela promoção da flexibilidade psicológica. E na ausência de um ou mais deles há o risco de rigidez psicológica. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 22 www.ellocursos.com.br Esquiva experiencial: Fonte dos problemas psicológicos, pois quando nos esquivamos do que sentimos ou pensamos não estamos evitando a situação aversiva original, mas apenas o efeito dela; Fusão cognitiva: Considerar palavras, pensamentos, sentimentos, sensações corporais e memórias como se fossem fatos. É quando começamos a responder às nossas construções mentais como se estivéssemos respondendo diretamente a uma situação física. Neste processo entende-se que as pessoas ficam mais emaranhadas e vivem mais em suas cabeças; Para cada um dos seis processos associados à psicopatologia, existe um processo terapêutico correspondente, cujo objetivo é mitigar os efeitos de desenvolvimento da Inflexibilidade Psicológica. É descrito pela imagem de um hexágono cujos vértices compõem cada processo envolvido na flexibilidade psicológica. Inflexibilidade psicológica – a base do sofrimento humano A Inflexibilidade Psicológica é o resultado da ação conjunta dos 6 processos centrais compreendidos como a base do sofrimento humano e da psicopatologia. São eles: Imagens retiradas de: Hayes, S. C. (2021) Terapia de aceitação e compromisso: o processo e a prática da mudança consciente. 2. ed. – Porto Alegre: Artmed. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 23 Atenção inflexível: Os indivíduos que não são capazes de entrar em contato com o aqui e agora costumam ter dificuldades em alterar seu comportamento para se adequar às demandas de mudança do seu contexto social. Enquanto estão fixados no seu passado e no futuro, ocupando-se deles repetidamente, a vida escapa e acontecem coisas importantes que são perdidas; Apego ao eu conceitualizado: Neste processo entende-se que a variedade de comportamentos emitidos pela pessoa fica restrita àqueles compatíveis com a visão que tem de si. Construímos histórias sobre nós mesmos, e sobre os outros. Ex: “Sou o engenheiro João, diretor de logística da empresa XYZ”; “Eu sou ansiosa”, “Cristina tem a personalidade forte...” Inação, impulsividade ou evitação persistente: São diferentes manifestações de um repertório comportamental limitado e inflexível. Este estreitamento de repertório é em grande parte decorrente das tentativas do indivíduo de não entrar em contato com estados internos desconfortáveis; Falta de clareza em relação aos valores: Se não possuirmos valores bem definidos, teremos uma inflexibilidade psicológica na medida em que nosso comportamento será determinado apenas pelas circunstâncias imediatas nas quais nos encontramos. Esses processos estão associados ao problema da experiência literal da linguagem, ou seja, ao fato de reagirmos à linguagem interna da mesma forma que reagiríamos aos eventos reais que ela representa. Como consequência, há uma tendência de intensificação da dor experimentada frente a eventos indesejados (pois o indivíduo acaba entrando em contato apenas com representação linguística destes), o que, por sua vez, predispõe a pessoa a lançar mão de uma abordagem de resolução de problemas na tentativa de aliviar a dor sentida. Na perspectiva da ACT, a psicopatologia não é caracterizada pela presença de sintomas, tais como sentimentos de tristeza, pensamentos intrusivos ou baixa motivação. Ao invés disso, entende-se que a psicopa- https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 24 tologia só ocorre quando a pessoa deixa de buscar uma vida significativa para evitar experiências internas indesejadas. O aspecto central da ACT é levar o indivíduo a aceitar acontecimentos pessoais negativos (e aqui se incluem pensamentos, emoções, memórias e vivências) sem a utilização de qualquertipo de esquiva. É comum observarmos nos pacientes e em nós mesmos uma forte tendência a tentar controlar as emoções e em lutar contra elas. A aceitação não implica em concordar ou achar bom e sim, aprender a compreender a natureza das coisas sem se debater contra ela. Dessa forma, foram desenvolvidos os seis conceitos que são centrais na teoria, e que integram o modelo de intervenção da ACT. Por fim, a Terapia de Aceitação e Compromisso apresenta técnicas que são utilizadas para separar os pensamentos de seus referenciais e que não precisam ser empregadas em uma ordem pré-estabelecida e, muitas delas podem, inclusive, se sobreporem umas às outras. Por exemplo: Exercícios de mindfulness, metáforas, histórias e exercícios experienciais. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br “Eu estava no inferno (...) e fiz uma promessa: quando eu saísse, eu iria voltar e tirar os outros dali”. Marsha M. Linehan TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA – DBT 26 Desenvolvida na década de 1990, por Marsha Linehan, a Terapia Comportamental Dialética (DBT) era orientanda inicialmente para tratar mulheres com níveis graves de Transtorno da Personalidade Borderline (TPB). Pessoas com TPB podem apresentar inúmeros padrões disfuncionais nas esferas cognitivas, emocional, comportamental e interpessoal. (APA, 2013 apud Melo, 2014). A DBT mescla elementos de diferentes abordagens teóricas, tanto para o tratamento quanto para o manejo de situações de crise ao longo dele tais como: sistemas psicodinâmicos, centrada na pessoa, Gestalt e estratégias paradoxais. Contudo, as características essenciais vêm da aplicação da Ciência comportamental, mindfulness e a filosofia oriental. Baseia-se em uma teoria biossocial e dialética da psicopatologia, que evidencia o papel das dificuldades na regulação emocional (tanto na falta de controle quanto no excesso de controle) e do comportamento. Neste modelo de terapia o conceito de Dialética é utilizado tanto como um método de persuasão, quanto uma visão de mundo, ou um conjunto de pressupostos acerca da natureza da realidade. Em se tratando de diálogos e relacionamentos, a dialética se refere à abordagem do tratamento ou às estratégias utilizadas pelo terapeuta para efetuar a mudança. A DBT propõe uma abordagem organizada e sistemática, na qual uma numerosa equipe de tratamento compartilha alguns pressupostos fundamentais acerca da terapia e do paciente. Tal abordagem considera comportamentos suicidas como uma estratégia mal- adaptativa de resolução de problemas e usa técnicas bem estudadas e empiricamente validadas pela TCC para ajudar os pacientes a resolver https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 27 seus problemas de modo mais adaptativo. A conceitualização de caso em DBT é baseada na Teoria Biossocial e no nível de comprometimento e gravidade do transtorno. Vários elementos da DBT fornecem uma estrutura claramente definida para a intervenção terapêutica. Por sua vez, essa estrutura se traduz em uma postura terapêutica colaborativa e em objetivos e metas de tratamento que são hierarquicamente organizados de acordo com a importância a ela atribuída. A Teoria Biossocial descreve que as disposições para emocionalidade negativa e impulsividade são precursores de base biológica da desregulação emocional. As influências biológicas incluem hereditariedade, fatores intrauterinos, danos físicos que afetam o cérebro na infância ou na idade adulta e efeitos das experiências de aprendizagem precoce tanto no desenvolvimento do cérebro quanto em seu funcionamento. As influências sociais são as contribuições do ambiente social, particularmente da família e incluem: tendência para invalidar emoções e incapacidade de modelar expressões emocionais apropriadas; estilo de interação que reforça a ativação/excitação emocional; e ajuste frágil entre o temperamento da criança e o estilo parental dos cuidadores. O ambiente social inclui ainda o que se denomina por ambiente invalidante – experiências dolorosas que muitas vezes são banalizadas e atribuídas às características negativas como: a falta de motivação, a falta de disciplina e a incapacidade de adotar uma atitude positiva e que contribui para a desregulação emocional por não conseguir ensinar a criança a nomear e modular a ativação/excitação emocional, a tolerar o mal-estar ou confiar que suas próprias respostas emocionais são interpretações válidas dos eventos. Nesse ambiente a criança aprende a invalidar suas próprias experiências uma vez que passa a sondar no ambiente pistas sobre como deve interpretar, sentir e agir. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 28 Estrutura de tratamento na DBT Em qualquer tratamento psicoterápico, é importante que o paciente possa ser avaliado do ponto de vista do diagnóstico descritivo e ateórico. O diagnóstico nosológico será a chave para saber se o paciente tem ou não indicação para a DBT, bem como se ele poderá se beneficiar de um acompanhamento psicofarmacológico adicional. Uma adequada avaliação diagnóstica envolve a busca por eventuais comorbidades, bem como demais informações clínicas relevantes para a elaboração de uma hipótese diagnóstica confiável. A DBT é uma abordagem com uma estrutura de intervenção bastante clara, na qual é necessário um total compromisso para com as metas de tratamento. O estabelecimento adequado de metas é uma condição imprescindível para que o trabalho tenha sucesso e, da mesma forma, para que seja possível a obtenção de resultados. Na DBT as metas e objetivos da terapia não consistem apenas em suprimir comportamentos disfuncionais graves, mas sim em construir uma vida que qualquer pessoa consideraria razoavelmente digna de ser vivida. Estrutura geral do tratamento: https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 29 Pré-tratamento: Terapeuta e paciente estabelecem uma relação colaborativa de trabalho, firmam uma concordância quanto às metas essenciais e ao método de tratamento. Dado o nível de gravidade de muitos casos, um dos acordos que devem ser assumidos nesse estágio é o compromisso de um ano de tratamento. Muitas vezes, nessa etapa do tratamento, os princípios da Entrevista Motivacional (o que realmente importa é aquilo que o paciente se escuta dizendo, e não aquilo que o terapeuta diz) podem ser empregados como estratégia terapêutica auxiliar no comprometimento do paciente. Primeiro estágio: Após a fase do pré-tratamento, inicia-se o primeiro estágio, indicado para os casos mais graves do TPB. Nesta etapa o alvo são os comportamentos necessários para alcançar imediato aumento da expectativa de vida, controle das ações e vínculo suficiente para o tratamento, além das capacidades comportamentais para atingir esses objetivos. Segundo estágio: As metas estão em alcançar experiências não- traumáticas e a conexão com o meio ambiente. O trabalho com as memórias traumáticas derivadas do Ambiente Invalidante e experiências negativas da história de vida são a prioridade nesta etapa. Terceiro estágio: O paciente sintetiza o que foi aprendido nos estágios anteriores, com ênfase no aumento do respeito próprio e um permanente sentido de conexão, bem como resolução de problemas de vida. Nessa etapa do tratamento, a psicoterapia assemelha-se ao atendimento de um paciente sem TPB, com problemas do cotidiano que podem ser encontrados na vida de qualquer pessoa. Os alvos aqui são o autorrespeito, o domínio deseus comportamentos e emoções, a autoeficácia, um senso de moralidade, e uma qualidade de vida aceitável; Quarto estágio: Foco no senso de incompletude que muitos indivíduos borderlines experimentam, mesmo após seus problemas de vida terem sido essencialmente resolvidos. Para muitos, as metas dessa https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br 30 etapa final do tratamento estão além da terapia tradicional e caminham para uma prática espiritual que dá origem a uma maior capacidade de liberdade, alegria ou realização espiritual. O objetivo da terapia não é fazer com que o paciente esqueça as experiências dolorosas do passado, mas sim tornar possíveis as lembranças sem sofrimento, ou pelo menos conseguir que essas lembranças não acarretem um descontrole devido à hiperativação emocional. A DBT incentiva a aquisição de competências em um nível suficiente para que se tenha uma qualidade de vida razoável, bem como estabilidade do controle comportamental, antes da exposição sistemática para os estímulos que estão associados a traumas passados. Estratégias em DBT A DBT utiliza protocolos empiricamente validados para o tratamento dos diferentes transtornos que possam estar associados ao diagnóstico de TPB. Assim como outras abordagens em terapia cognitiva, os princípios da análise do comportamento são utilizados para determinar o controle das variáveis para lidar com os problemas de comportamento; também são utilizadas as estratégias da terapia cognitiva para auxílio na resolução de problemas tais como a psicoeducação, reestruturação cognitiva, automonitoramento, treino de habilidades sociais e mindfulness. As estratégias de modificação cognitiva são baseadas na persuasão dialética. Apesar de o terapeuta algumas vezes poder desafiar as crenças disfuncionais com técnicas como a disputa racional, diálogo socrático ou checagem de evidências e pensamentos disfuncionais, como nas abordagens de segunda onda em terapia cognitiva, na DBT existe uma ênfase nas modificações cognitivas através da conversação que cria uma experiência de contradição inerente à própria posição. As estratégias dialéticas permeiam todos os aspectos do tratamento na https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 31 www.ellocursos.com.br DBT. Enfatizam as tensões criativas geradas por emoções contraditórias e padrões de pensamento, valores e estratégias comportamentais opostos, tanto dentro da pessoa quanto no sistema pessoa-ambiente. A principal dialética da terapia é a da mudança no contexto da aceitação da realidade como ela é. A seguir, alguns exemplos de estratégias dialéticas: https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br “Somos uma espécie moldada pela evolução que funciona melhor em condições de segurança, apoio, conexão e gentileza.” Paul Gilbert TERAPIA FOCADA NA COMPAIXÃO – TFC 33 A Terapia Focada na Compaixão foi inicialmente concebida para pacientes com níveis elevados de vergonha e de autocriticismo. Atualmente é implementada em pacientes com patologias depressivas, ansiosas, psicóticas, com transtornos alimentares e com transtornos de personalidade. É uma terapia integrativa e transversal, cujo quadro teórico e estratégias de intervenção recebem influências da psicologia evolucionista, social, desenvolvimental, do budismo e das neurociências. A TFC não se baseia num único modelo ou escola, mas sim no estudo e compreensão de como a nossa mente funciona. Ao contrário da abordagem convencional da terapia cognitiva, na TFC não se busca mostrar ao paciente a disfuncionalidade do seu pensamento ou estilo de processamento de informação, mas sim compreender onde e de que maneira o indivíduo se fixou em formas inúteis, ainda que compreensivas, de tentar aumentar o seu sentimento de segurança perante as ameaças. A TFC assume que os sujeitos devem adquirir conhecimento e insight sobre a própria mente, bem como sobre a herança genética e evolucionista que todo o ser humano possui. Por isso, uma parte significativa da intervenção implica que o paciente ganhe insight sobre o funcionamento da mente. Os pilares fundamentais dos conceitos da TFC são a perspectiva evolucionista da mente humana, os sistemas de regulação de afeto e o modelo biopsicossocial da vergonha. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 34 www.ellocursos.com.br A perspectiva evolucionista – o cérebro dividido em três unidades funcionais 1) Cérebro reptiliano – estruturas mais arcaicas (tronco cerebral e cerebelo) que controlam o sono, as motivações e comportamentos mais instintivos e fundamentais à sobrevivência/preservação do organismo e dos genes, tais como a reprodução, a defesa e a aquisição e recursos. Aqui o processamento da informação é automático, rápido, inconsciente (p. ex., reflexos) e, por isso, muitas vezes difícil de controlar; 2) Cérebro dos mamíferos inferiores – inclui o sistema límbico, responsável pelo processamento das emoções, da motivação, das aprendizagens e da memória, tornando os comportamentos mais complexos e flexíveis. É também a área responsável pelo comportamento de procura e prestação de cuidados, fundamental para a adaptação e evolução da maioria dos mamíferos; 3) Cérebro racional – Abrange toda a área do neocórtex e córtex telencefálico. É considerado o “cérebro novo”, que dota o ser humano de características únicas, tais como a capacidade de observação, pensamento abstrato, planificação, comunicação, imaginação, autoconhecimento e autoidentidade. O processamento da informação nessa área é mais lento, intencional e controlado. Com base nessa visão evolucionista, a TFC assume que diversos problemas psicológicos podem surgir através da interação entre os sistemas mais arcaicos e os mais recentes, em que a emoção e a lógica entram, frequentemente em conflito. Quando tal fato acontece, as estruturas mais antigas assumem o comando de todo o processamento da informação, modelando a experiência, a atenção, os pensamentos, as motivações e os comportamentos subsequentes. Os sistemas de regulação do afeto As nossas diferentes motivações são reguladas por emoções que, por sua vez, são reguladas por três sistemas que funcionam de forma integrada e interdependente, e essa maturação e equilíbrio parece ser https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 35 www.ellocursos.com.br afetado por condições genéticas e ambientais. São eles: 1) O sistema de defesa-ameaça: É um sistema de proteção partilhado por todas as espécies animais e que serve para nos proteger de um potencial perigo real ou imaginado (p. ex., predadores, adversários, frustrações, situações desconhecidas). Os humanos também podem se sentir ameaçados por si próprios, através de pensamentos e sentimentos negativos acerca do self (não ser atraente ou desejável, ser incompetente, ser inferior etc.), podendo, em consequência, sentirem-se mal consigo. O sistema de defesa-ameaça está desenhado para detectar diferentes tipos de ameaça de uma forma rápida, processá-las e selecionar uma reação emocional (raiva, medo, ansiedade, nojo/aversão) e uma resposta comportamental adequada (imobilização, luta, fuga, submissão). Todos esses mecanismos operam de forma quase automática e ao menos inicialmente, fora da nossa consciência. É considerado um sistema de regulação de afeto negativo que tem raízes ancestrais muito primitivas; é facilmente ativado e não estádesenhado para pensamentos complexos, mas sim para ações rápidas. Quando o modo de defesa-ameaça é ativado (p.ex., na presença de um estímulo fóbico ou numa situação envergonhadora), todos os aspectos da nossa mente (experiência emocional, atenção, pensamento, motivação, comportamento, imaginação e fantasia) focam-se na ameaça e centram-se na procura de segurança e proteção. Funcionar num modo de defesa-ameaça pode ser adaptativo, especialmente em contextos desenvolvimentais hostis. No entanto, quando a pessoa funciona num modo de defesa-ameaça durante a maior parte do tempo, facilmente se torna hipervigilante e, portanto, pouco disponível para outros tipos de atividade (p.ex., relaxar, explorar), o que pode estar na gênese e manutenção de problemas psicológicos, frequentemente associados a problemas de vinculação. Muitos tipos de psicopatologias estão associados a uma ativação excessiva do sistema de defesa-ameaça: comportamentos de evitação, comportamento https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 36 www.ellocursos.com.br agressivo e antissocial, ou sintomatologia ansiosa. 2) O sistema de procura de recursos e de recompensas: É concebido para dar uma sensação de bem-estar, para criar sentimentos positivos que orientem, motivem e encorajem para a procura de recursos e recompensas vantajosas, tanto para a nossa sobrevivência como para a prosperidade. É considerado um sistema de afeto positivo, que motiva e permite procurar, consumir e alcançar bens e recursos (p. ex., comida, sexo, relações de amizade, status e reconhecimento), fazendo com que o indivíduo sinta alegria, vitalidade e prazer. No entanto, um problema nos mecanismos envolvidos nos processos naturais de procura de recursos (p.ex., uma atividade hipodopaminérgica do cérebro), predispõe os sujeitos a procurarem estímulos ou comportamentos estimulantes (p.ex., ingestão compulsiva de carboidratos, abuso de substâncias, jogo compulsivo, sexo compulsivo) que criam um estado artificial de prazer. Quando este sistema é ativado, todos os aspectos da mente ficam focados nos objetivos, mantendo o trabalho nos mesmos até que se consiga alcançá-los. Quando está equilibrado com os outros sistemas, constitui uma clara vantagem que guia em direção a importantes objetivos de vida. Contudo, perdas patológicas de prazer podem constituir um componente central dos transtornos de humor ou nos transtornos relacionados ao uso de substâncias. Além disso, se um sujeito falha em alcançar seus objetivos, persegue objetivos que não podem ser alcançados ou está constantemente tentando impressionar os outros (estratégia defensiva típica de indivíduos com pais hipercríticos e perfeccionistas), isso poderá levar à ativação simultânea do sistema de defesa-ameaça. Com ambos ativados ao mesmo tempo, ocorrerá ansiedade, frustração e até a raiva, fazendo com que os indivíduos se envolvam mais facilmente em comportamentos agressivos. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 37 www.ellocursos.com.br 3) O sistema de afiliação, de calor e afeto: Está associado à vinculação e tem como função tranquilizar e acalmar o indivíduo, quando este não está focado em ameaças ou na procura de recursos. É diferente do entusiasmo ou da ausência de ameaça, pois, quando esse sistema se encontra ativado, o indivíduo se sente bem, seguro e ligado aos outros. Além disso, enquanto nos sistemas de defesa-ameaça e busca por recompensar os relacionamentos interpessoais são secundários à proteção e aquisição de bens e recursos, o sistema de afiliação implica a experiência de estar (seguro, tranquilo) no momento presente. Relações interpessoais calorosas, baseadas na partilha e no afeto, são centrais para o desenvolvimento e maturação desse sistema. O condicionamento, as memórias emocionais, um foco excessivo na ameaça ou na procura de recursos e maus-tratos parentais, entre outros, podem dificultar o desenvolvimento e a maturação do sistema de afiliação. No entanto, esse sistema é de extrema importância no equilíbrio emocional, uma vez que regula tanto a ameaça como a procura de recursos ou recompensas. A procura de calor e afeto e a proximidade com uma figura de vinculação segura constitui uma estratégia inata para a regulação do afeto e constitui uma estratégia evolutiva para a sobrevivência e reprodução. Uma vinculação segura não só está associada a comportamentos de prestação de cuidados, como também se associa a baixos índices de psicopatologia. Modelo biopsicossocial da vergonha Este modelo propõe que todos os seres humanos têm necessidades inatas de ligação ao outro, de cuidado/afeto e partilham também a necessidade de estimular afeto positivo nos outros. p.ex., desejado, acarinhado, apreciado, escolhido e valorizado), permitindo-lhes estabelecer vínculos dentro e fora do seio familiar. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 38 www.ellocursos.com.br Essa necessidade de vinculação e pertença ao grupo faz com que os indivíduos procurem aceitação social, no sentido de facilitar as suas relações interpessoais, de promover sentimentos de desejabilidade e de valorização perante os outros. Toda e qualquer interação ocorre em contextos que podem ter características favoráveis ou, pelo contrário, aspectos hostis, dando ao indivíduo a informação sobre o que é aceitável e atrativo. A forma como cada sujeito percebe as experiências precoces vividas no seio da família ou com outros significativos (p.ex., pares, professores) tem um forte impacto, não só na forma como avalia a si mesmo, mas também na forma como pensa que existe na mente dos outros. Indivíduos que se percebem na visão do outro como indesejados, pouco passíveis de serem amados e como vulneráveis à rejeição, têm uma visão do mundo como um lugar inseguro e hostil. Essa percepção do mundo e dos outros faz com que sejam desencadeados sentimentos de vergonha. De um modo geral, a vergonha tem sido caracterizada como uma emoção autoconsciente que envolve culpabilização e avaliações negativas do self, mas também uma imagem dos outros como reprovadores. A vergonha influencia a forma como os indivíduos em geral pensam e sentem, não só em relação a si mesmos, mas também em relação à sua aceitabilidade e desejabilidade social, o que, consequentemente, tem um grande impacto no seu comportamento em contextos sociais. A percepção de que os outros têm uma visão negativa em relação ao self é experienciada pelos indivíduos como uma ameaça, podendo, por isso, ativar sentimentos de vergonha (ativando o sistema de defesa- ameaça) e, consequentemente, diversos tipos de respostas defensivas. No sentido de proteger o self contra as ameaças sociais e pessoais (tais como a rejeição por parte dos pares, pais ou outros significativos, a perda de proteção, amor, carinho etc.), os indivíduos podem adotar algumas estratégias defensivas. Estas podem ser de dois tipos: https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 39 www.ellocursos.com.br I) estratégias internalizantes, nas quais os sujeitos se identificam com a avaliação negativa, adotando uma postura de subordinação ou de submissão em relação ao outro e se autocriticando; II) estratégias de defesa externalizantes, nas quais é adotado um comportamento dominante, agressivo e de ataque ao outro. Quando a estratégia de defesa adotada passa pelo ataque, o sujeito atribui más intensões ao outro, o que implica sentimentos de raiva e desejos de retaliação. Pelo fato de, aparentemente a vergonha desempenhar um papel importante na gênese e manutenção da psicopatologia, a explicação para o desenvolvimento dela pode estar, não na experiência dessa emoção por sisó, mas sim na forma como cada indivíduo lida com ela. Vergonha, autocriticismo e psicopatologia Conforme o modelo evolucionista, o autocriticismo é uma estratégia adaptativa em contextos de ameaça social, abuso ou hostilidade, encontrando-se frequentemente associado à vergonha, sentimentos de derrota, rejeição e perseguição social, bem como a comportamentos de defesa. O autocriticismo tem sua origem na memória de eventos ameaçadores (p.ex., sentir-se criticado/humilhado pelos pais ou por um professor), sendo que a internalização desses sinais sociais externos é facilmente ativada em situações sociais semelhantes ao evento, ou eventos, de ameaça originais. O autocriticismo também é compreendido como uma resposta típica a situações em que o indivíduo considera que errou ou falhou em tarefas ou objetivos importantes, sendo que a monitorização constante desses erros e falhas leva à vergonha, ao sentimento de frustração e/ou de inadequação, o que contribui para uma visão negativa de si próprio. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 40 www.ellocursos.com.br Quando ocorre frequentemente a essa autoavaliação negativa ou quando o autocriticismo é entendido como fazendo parte da sua identidade, o indivíduo fica mais vulnerável a dificuldades interpessoais e à psicopatologia, na medida em que se reforçam sistemas neurofisiológicos ligados ao sistema de defesa-ameaça e se dificulta o desenvolvimento do sistema de afiliação. Quando tal acontece, a relação estabelecida com o próprio eu é pautada pela desvalorização, hostilidade e humilhação. O autocriticismo desempenha um papel nuclear na gênese e na manutenção da psicopatologia não apenas pelo conteúdo crítico dos pensamentos sobre si próprio, mas sobretudo os processos originados por essa crítica dirigida ao eu (p.ex., raiva) associados a dificuldades em produzir um discurso interno de autotranquilização e de aceitação do eu. Desse modo, não se trata apenas de reduzir os pensamentos e a hostilidade dirigida ao eu, mas sobretudo, de desenvolver a capacidade de autotranquilização e de autocompaixão. Na TFC, fica evidente que, em oposição às abordagens cognitivas mais racionalistas, não se trata de mostrar ao paciente a irracionalidade ou a falta de lógica do seu pensamento ou estilo de processamento de informação, mas antes de compreender onde e de que forma é que o sujeito ficou “preso” em formas inúteis (ainda que compreensivas) de tentar aumentar o seu sentimento de segurança perante as ameaças. Compaixão ou mente compassiva e autocompaixão Pode-se dizer que o objetivo da TFC é o de equilibrar a atuação dos sistemas de regulação de afeto, promovendo a ativação do sistema de afiliação, de calor e afeto. Ao estimular esse sistema, procura-se desenvolver competências de autotranquilização e de autocompaixão, mas também de ligação/prestação de cuidados com os outros. Dessa forma, será possível reduzir níveis elevados de vergonha e, consequentemente, o uso do autocriticismo. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 41 www.ellocursos.com.br A psicologia conceitualiza a compaixão como uma combinação de motivos, emoções, pensamentos e comportamentos que abrem alguém ao sofrimento do outro, levando-se a compreender o sofrimento numa atitude não avaliativa, bem como a atuar tendo em vista o alívio deste. A compaixão também é entendida como uma competência que cada indivíduo pode treinar, havendo evidências de que a sua prática pode ter influências tanto no âmbito neurofisiológico como no sistema imunológico. O treino da mente compassiva (TMC), envolve atividades específicas, concebidas para desenvolver atributos e competências compassivas, especialmente aquelas que influenciam a regulação do afeto. Na TFC é necessário que o próprio terapeuta tenha desenvolvido uma mente compassiva. A compaixão pelo self tem sido associada a maiores níveis de satisfação com a vida. Essa forma alternativa de relação com o eu em situações de ameaça é denominada de “eu tranquilizador”. Nesse sentido, o desenvolvimento da autocompaixão estimula o sistema de afiliação (ao mesmo tempo em que reduz a superativação do sistema de defesa-ameaça), promovendo sentimentos de aceitação, de tranquilização e de cuidados com o próprio eu e com os outros. Medo ou bloqueio da compaixão Um aspecto que deve ainda ser realçado relaciona-se ao medo/bloqueio da compaixão. Alguns pacientes, sobretudo os mais autocríticos e com elevada vergonha, podem apresentar alguma resistência à adesão às tarefas terapêuticas ou ao próprio resultado das intervenções promotoras de autocompaixão. Muitas vezes a maior parte desses pacientes provém de contextos abusivos e negligentes; tem poucas (ou nenhumas) experiências de se sentirem tranquilos e seguros, e não são capazes de o fazer em relação a si próprios. Aqui, o sistema de afiliação está desativado ou subdesenvolvido. Nesses casos, os pacientes podem https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 42 www.ellocursos.com.br considerar que não merecem compaixão ou que ser compassivo é um sinal de fraqueza. O terapeuta deve começar por normalizar e validar essas dificuldades, salientando, no entanto, o valor da autocompaixão. Ao se trabalhar a resistência à compaixão, é útil identificar possíveis crenças que alimentem essa resistência, bem como trabalhar memórias emocionais que a mantêm. Nesse tipo de intervenção, deve-se focar a realidade de que a compaixão permite ao paciente se tornar mais corajoso ao lidar com as próprias dificuldades emocionais. A mudança cognitiva deve ser encarada com um desejo, e não apenas como algo puramente lógico e racional que deva ser alcançado. Formulação de caso em TFC A formulação de caso gira em torno do equilíbrio da atividade dos três sistemas, com particular ênfase na forma como atuam e se desenvolveram as estratégias para lidar com a vivência da ameaça e as estratégias que servem a procura de segurança. Em muitos casos, as estratégias de segurança que os pacientes utilizam integram o repertório inato de defesas que a espécie foi adquirindo ao longo dos tempos. No entanto, na psicopatologia, elas não só se tornaram recorrentes como ficaram automatizadas e ligadas a sistemas cognitivos que fazem com que a pessoa rapidamente se automonitore, culpe, critique ou, por exemplo, se comporte de forma ou agressiva ou submissa. A TFC ajuda o paciente a compreender que essas estratégias são evolutivamente determinadas, promove o insight sobre a função, e reconhece a dificuldade/medo do paciente em desistir delas. São os perfis idiossincráticos de estratégias de segurança, resultantes quer da ameaça quer de necessidades não satisfeitas, que são importantes na TFC, mais do que a identificação de sintomas, crenças ou esquemas nucleares. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 43 www.ellocursos.com.br Relação terapêutica: Se uma aliança terapêutica segura e de qualidade facilita a adesão às estratégias de intervenção e o impacto das mesmas, na TFC é dada ênfase à capacidade da relação terapêutica para “desavergonhar” e “despatologizar” o paciente; Validação empática: Significa que, por um lado, temos compreensão e somos capazes de nos ligar ao ponto de vista do outro e, por outro lado, somos capazes de validar a experiência do outro como genuína. Experiência essa que faz parte da condição humana e da vida de cada um. Princípios e estratégias de intervenção na TFC O recurso à validação empática vai para além da habitual reflexão terapêutica, porque reconhece a reação do paciente como compreensível e como uma experiência válida. Por exemplo, em vez de refletir “vocêestá muito zangado por causa do que lhe fizeram”, o terapeuta diria “tendo em vista o que aconteceu, é compreensível que você se sinta dessa maneira”. Muitos conflitos na relação terapêutica podem resultar de o paciente sentir que está sendo invalidado pelo terapeuta ou sentir que este demonstra pouco interesse ou que não se esforça para compreendê-lo, cuidar dele, que o está “patologizando” ou rotulando, ou ainda forçando-o a uma mudança. Quando o paciente sente que o terapeuta se interessa genuinamente por ele e é capaz de oferecer cuidados na própria terapia, se consegue promover a ativação do sistema de avaliação, objetivo último da TFC. Qualquer intervenção num processo de TFC deve ser realizada com espírito e motivação de calor e afeto, encorajamento, suporte e bondade. Por exemplo, quando se está ajudando um a paciente a desenvolver pensamentos alternativos, deve-se primeiro focar na empatia pelo desconforto, capacitar-se para refletir na experiência de humanidade comum, mostrar aceitação pelas limitações e dificuldades, distinguir a autocorreção de autocriticismo, e auxiliar no acesso a me- https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 44 www.ellocursos.com.br mórias encorajadoras que ajudem na realização da tarefa terapêutica. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br “A autoacusação como uma metáfora, transformada na simulação de um processo judicial.” Irismar Reis de Oliveira TERAPIA COGNITIVA PROCESSUAL – TCP 46 A terapia cognitivo processual é, em essência, uma modificação do modelo da terapia cognitiva desenvolvido por Aaron Beck. Utiliza-se dos mesmos princípios teóricos, conceitos e em grande parte, de técnicas semelhantes. É uma abordagem transdiagnóstica, o que possibilita a abordagem de múltiplos transtornos em seu protocolo. A ideia por trás do desenvolvimento da TCP foi oferecer ao terapeuta, em qualquer nível de experiência, uma forma organizada de aplicação de técnicas mais utilizadas na TCC, porém, conduzida em sequência de passo a passo, tendo o terapeuta que se ater menos às tentativas e erros para encontrar as técnicas mais adequadas para determinado paciente. A TCP tem este nome porque suas principais técnicas simulam um procedimento jurídico. É uma abordagem apresentada em três níveis e três fases, com base na formulação do caso, e foi desenvolvida na Universidade Federal da Bahia (UFBA) por Irismar Reis de Oliveira. Embora tenha os mesmos fundamentos que embasam a TCC tradicional, possui conceituação própria, técnicas próprias, tornando-se assim uma abordagem distinta quanto à modificação das crenças nucleares, especialmente daqueles referentes ao próprio paciente. A TCP é uma abordagem estruturada passo a passo, dividida em três níveis e três fases, e sua conceituação de caso envolve um mecanismo de interação cíclico em que os componentes de cada nível interferem nos outros. Assim, essa abordagem permite que o terapeuta tenha flexibilidade para adaptar o tratamento às necessidades e às características de cada paciente. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 47 www.ellocursos.com.br Atualmente é a única abordagem de tratamento brasileira que participa do status de Abordagens da Terceira Onda. TCP e o Processo Inspirada na obra O processo, de Franz Kafka a TCP apresenta-se como metáfora da Lei, nas quais o terapeuta convida o paciente para, juntamente com ele, simular processos judiciais criminais, colocando uma ou várias crenças nucleares negativas em julgamento diante de um tribunal cujos personagens internos incluem promotor, advogado de defesa, juiz, jurados e testemunhas. Duas das principais técnicas da TCP, o Registro de Pensamentos Baseado no Processo (RPB ou Processo I) e a Consciência Metacognitiva Baseada no Processo (CMBP ou Processo II), foram desenvolvidas e estruturadas para modificar as crenças nucleares disfuncionais e consolidar as crenças nucleares positivas. A técnica Processo foi desenvolvida como evolução de outra técnica, o Registro de Pensamentos com Base na Reversão de Sentenças (RPBRS), criado para lidar com pensamentos automáticos do tipo “sim, mas...". Esse registro se baseava principalmente no princípio de que, ao se inverter a ordem de determinadas colocações verbais contendo a conjunção “mas”, usada pelo paciente para desqualificar suas próprias realizações, o sentido da frase se tornava mais favorável e tendia a mudar seu humor desagradável. Notando que o paciente tende a usar a estrutura da frase para se desqualificar, como no exemplo “Consegui sair de casa, mas ainda é muito difícil”, Oliveira observou que a inversão da sentença poderia fazer com que o paciente usasse a mesma estrutura, porém, em sentido inverso: “Ainda é muito difícil, mas consegui sair de casa”. Desse modo, o paciente flexibiliza sua forma de pensar e obtém um sentido mais positivo e funcional ao ativar uma CN positiva. Entretanto, algumas limitações, sobretudo relativas à implementação da técnica fora do consultório como tarefa, dificultavam seu curso, tendo esta sido abandonada e substituída pelo Processo. https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 48 www.ellocursos.com.br Para o desenvolvimento do RPBRS, foram utilizadas as seguintes combinações de técnicas: seta descendente, para identificar a CN negativa; reversão de sentenças, para trazer significados positivos à expressão verbal; seta ascendente, para ativar e reafirmar CNs mais saudáveis. O Processo veio então preencher essa lacuna, tendo recebido tal denominação por duas razões: por um lado, trata-se da simulação de um processo jurídico e, por outro lado, foi inspirada na obra O Processo, de Franz Kafka. Nesse romance, o personagem Joseph K., por razões não reveladas, é detido por agentes da lei e, ao final, é condenado e executado sem que jamais lhe seja dado saber de que crime era acusado. Partindo da ideia de que Kafka talvez estivesse propondo a autoacusação como princípio universal, da qual o homem raramente se dá conta e, sobretudo, não se permite a defesa adequada. Com isso, De Oliveira, concluiu que tal autoacusação poderia ser compreendida como manifestação de uma crença nuclear negativa ativada. Portanto, a base racional para o desenvolvimento do Processo seria a sua utilidade em tornar os pacientes conscientes das crenças nucleares a respeito de si mesmos (autoacusações). Assim, diferentemente do que ocorre com Joseph K., a ideia é a de estimular os pacientes a desenvolverem crenças nucleares mais positivas e funcionais durante a terapia. Conceituação de caso em TCP A conceituação de caso é um elemento-chave na TCC e pode ser definida como uma descrição dos problemas atuais do paciente, que utiliza a teoria para criar explicações a respeito dos fatores que causam e mantêm os problemas, assim como informações a respeito das intervenções. Na TCP, foi proposto um novo diagrama de conceituação, com os mesmos elementos do diagrama proposto por Judith Beck na TCC tradicional, mas numa disposição diferente. Neste diagrama, o paciente compreende a natureza circular dos pensamentos automáticos (PAs) e o https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 49 terapeuta dá prosseguimento à sessão por meio da psicoeducação, visando as distorções cognitivas. O paciente aprende quais são os tipos existentes de distorções cognitivas, ou seja, quais são os padrões de erros de pensamento queeste utiliza diante de situações desconfortáveis. Na TCP isto é feito com o uso do Questionário de Distorções Cognitivas (CD-Quest). O diagrama de conceituação cognitiva (DCC) possui vários objetivos, tais como conectar todas as técnicas da TCP, organizar sua utilização durante a terapia, facilitar o raciocínio clínico do terapeuta e educar o paciente sobre o modelo cognitivo. Foi a mais recente ferramenta desenvolvida na TCP, marcando seu início como abordagem psicoterápica individualizada. O DCC da TCP foi formulado considerando três níveis do processamento de informações. No primeiro nível, uma situação avaliada pelo paciente de forma equivocada por meio de um PA disfuncional, pode provocar uma emoção negativa e igualmente disfuncional que, por sua vez, pode produzir comportamentos e/ou respostas fisiológicas indesejáveis. A figura a seguir mostra também setas que retornam, apontando para as caixas da emoção, do PA e da situação, indicando, assim, interações circulares por meio de um viés de confirmação, o que impede o paciente de reavaliar a situação e mudar as percepções errôneas que produz. Os pressupostos subjacentes (PSs), que mantêm os comportamentos de segurança, possuem uma função modulatória, regulando e intermediando as cognições de primeiro e terceiro níveis. Da mesma forma, as CNs (avaliações de terceiro nível) são ativadas quando os PSs são desafiados (exposição) e inativada quando eles deixam de ser desafiados (evitação). Foram desenvolvidas na TCP ferramentas para ajudar os pacientes a identificar (por exemplo, CD-Quest) e reformular os PAs (por exemplo, RP- Intra), flexibilizando-os com avaliações alternativas mais funcionais. Ao fazer isso, o paciente pode, gradualmente, notar mudanças nos outros níveis de processamento de informações (por exemplo, níveis 2 e 3). No www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 50 entanto, a reestruturação do segundo e terceiro níveis são passos essenciais para que os resultados sejam mais consistentes e duradouros na terapia, tornando-se um dos principais objetivos do terapeuta ao utilizar a TCP com seus pacientes. www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 51 CD-Quest O Cognitive Distortions Questionnaire (CD-Quest), ou Questionário de Distorções Cognitivas, foi desenvolvido com um instrumento operacional para ser usado na rotina de avaliação dos pacientes, facilitando a percepção da ligação entre distorções cognitivas e os estados emocionais decorrentes dessas distorções, bem como os comportamentos disfuncionais. O CD-Quest foi também desenvolvido para ajudar terapeutas a quantificar e acompanhar a evolução do paciente durante a terapia, de acordo com os escores obtidos. O questionário é composto de 15 itens que acessam as distorções cognitivas em 2 dimensões: frequência e intensidade. Descrição da técnica – O processo Inicialmente, pede-se ao paciente que apresente uma situação incômoda ou um problema em uma ou duas frases. Habitualmente, a situação equivale ao tem escolhido pelo paciente para compor a agenda da sessão. O terapeuta pergunta o que se passa pela mente do paciente ao notar algum sentimento ou emoção forte. Essa técnica pretende buscar os PAs ligados ao estado emocional atual. Para descobrir qual é a crença nuclear ativa (ou a ser ativada), responsável por estes pensamentos automáticos e o estado emocional atual, o terapeuta pergunta o que os PAs que acabam de ser expressos significam sobre o paciente, supondo que sejam verdadeiros. A resposta, expressa habitualmente na forma “Sou..., corresponde à crença nuclear ativada “Sou uma fraude” (p.ex). O terapeuta explica então que o procedimento (Processo) se inicia de forma análoga a uma investigação ou inquérito com o objetivo de descobrir a acusação (neste caso, a autoacusação) que corresponde à crença nuclear que o paciente alimenta sobre si mesmo. Por fim, nessa abordagem, após o paciente acumular suficiente evidência contra a visão negativa de si mesmo, esta costuma ser desconsiderada pelas afirmações que contenham a conjunção “mas”, trazidas pelas crenças nucleares negativas ativadas. O terapeuta utiliza www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 52 então a reversão de sentenças e a seta ascendente como estratégias para ressignificar os elementos negativos. Nas semanas seguintes, o paciente será estimulado a mantê-las ativa(s) através da observação e do registro de fatos que a(s) confirmem. Outras técnicas compõe a TCP tais como Processo II (consciência metacognitiva com base no processo), Processo III (grade de participação) e a metáfora do barco a vela. www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ www.ellocursos.com.br O estilo de pensar e de lidar com os próprios pensamentos tem uma função preponderante no que se refere à intensidade e à manutenção do desconforto emocional vivenciado. Adrian Wells TERAPIA METACOGNITIVA – TMC 54 A terapia metacognitiva (TMC) é uma abordagem relativamente recente que faz parte do rol das terapias cognitivo-comportamentais (TCCs). Criada a partir dos anos 1990, por Adrian Wells, essa abordagem parte do princípio de que a interpretação sobre processos cognitivos está na base da gênese e na manutenção de transtornos psicológicos. Fenômenos como a preocupação, a ruminação, as obsessões, o preenchimento de lacunas, entre outros, são interpretados pelos indivíduos de modo a produzir mais sintomas de ansiedade e de depressão. Wells e colaboradores produziram, até o momento, trabalhos voltados para alguns transtornos específicos, como transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e transtorno depressivo maior (TDM). A abordagem metacognitiva começou com investigações de Wells acerca da importância dos processos de atenção na manutenção da ansiedade e da preocupação desadaptativas. Wells e Matthews (1996) fizeram uma extensa revisão sobre o papel da atenção nos sintomas de ansiedade. A correlação entre a ansiedade e a preocupação desadaptativas serviu de base para que Wells desenvolvesse uma teoria que, mais tarde, fundamentou a elaboração de um novo sistema de tratamento cognitivo-comportamental para transtornos de ansiedade e de depressão: a TMC. O conceito de metacognição foi descrito, inicialmente, na década de 1970, por John Flavell, que apresentou uma série de estudos feitos com crianças sobre a capacidade delas em entender seus próprios fenôme- https://www.instagram.com/ellocursospsicologia/ https://www.youtube.com/channel/UCCR6Jr4ol7-d6mnujFZIJ4g https://www.ellocursos.com.br/ 55 nos cognitivos. Neste artigo, foram descritos alguns experimentos que envolviam a monitoração acerca da própria memória e da capacidade de compreensão em crianças mais novas e mais velhas. Concluiu-se que crianças mais novas tendem a ser limitadas no que se refere às suas capacidades de pensar sobre a sua memória ou sobre a sua compreensão de uma instrução. Por exemplo, caso seja dada para uma criança uma lista de objetos e seja pedido para que ela memorize todos eles, a tendência será a de que ela diga que está pronta para lembrar sem, de fato, estar preparada para isso. Essa habilidade envolve a compreensão acerca da própria memória, ou seja, um processo metacognitivo. Assim como qualquer indivíduo precisa ter consciência sobre os seus processos cognitivos para o pleno funcionamento deles, a pessoa que