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Lenocínio: Crimes e Definições

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LENOCÍNIO
Trata-se de toda ação que visa facilitar ou promover a prática da prostituição de pessoas ou dela tirar proveito. O lenocínio está previsto nos artigos 227 a 230 do Código Penal e consiste, portanto, na mediação para servir a lascívia de outrem, no favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual, na manutenção de casa de prostituição e no rufianismo. Nos comentários abaixo, destacarei o que temos de mais importante em relação aos aludidos crimes.
Mediação para servir a lascívia de outrem (art. 227 do CP):
Busca-se tutelar a moral sexual, bem como a liberdade sexual da vítima. Note-se que a conduta punível é a de induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem, ou seja, a ação deve recair sobre pessoa determinada.
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, isolada ou associada a outra. Da simples leitura do tipo percebe-se que a mediação pressupõe um triângulo constituído
pelo sujeito ativo (lenão), a vítima (pessoa induzida a satisfazer a lascívia de outrem) e o destinatário da atividade criminosa do primeiro. 
O destinatário do lenocínio, em favor de quem age o sujeito ativo, não responde pelo delito, ainda que haja instigado o lenão, já que a norma exige o fim de servir a lascívia alheia, e não a própria.
A lei não distingue o sexo do sujeito passivo (ambos podem ser induzidos à satisfação dos desejos eróticos de terceiro).
O crime se verifica quando o sujeito ativo induz (aliciar, persuadir) alguém a satisfazer a lascívia (sensualidade, libidinagem, luxúria) de outrem. 
Pouco importa a espécie de ato libidinoso, que tanto pode ser a
conjunção carnal como as práticas sexuais anormais ou meramente contemplativas, ou quaisquer outras expressivas de depravação física ou moral.
Trata-se de crime de ação livre, não necessariamente habitual, lembrando que a violência, a grave ameaça e a fraude atuam como qualificadoras (§ 2º). Nos casos de violência ou grave ameaça, a conduta do agente estaria muito próxima daquela prevista pelo art. 213 do Código Penal (estupro). A diferença fundamental entre essas figuras típicas é que a vítima, no delito em estudo, é induzida, mesmo que à força, à satisfação da lascívia de outrem. No caso do estupro, a vítima é compelida ao ato sexual, não havendo qualquer consentimento de sua parte. Noutro giro, na figura típica do art. 227 do CP, mesmo que induzida à força ao ato que tenha por finalidade satisfazer a lascívia de outrem, ainda há resquício da vontade da vítima, ou seja, ela o pratica com o seu consentimento.
A conduta deve recair sobre pessoa determinada, pois se o agente induz a vítima a satisfazer a lascívia de um número indeterminado de pessoas, o crime passará a ser o de favorecimento da prostituição (art. 228 do CP). 
Ressalte-se que, se a vítima contar com menos de 14 anos, haverá o crime previsto no art. 218 do CP.
A ação penal será pública incondicionada.
Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (art. 228 do CP):
Pune-se o favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual. A exploração sexual pode ser definida como uma dominação e abuso do corpo de crianças, adolescentes e adultos (oferta), por exploradores sexuais (mercadores), organizados, muitas vezes, em rede de comercialização local e global (mercado), ou por pais ou responsáveis, e por consumidores de serviços sexuais pagos (demanda), admitindo quatro modalidades:
a) prostituição - atividade na qual atos sexuais são negociados em troca de pagamento, não apenas monetário;
b) turismo sexual - é o comércio sexual, bem articulado, em cidades turísticas, envolvendo turistas nacionais e estrangeiros e principalmente mulheres jovens, de setores excluídos de países de Terceiro Mundo;
c) pornografia - produção, exibição, distribuição, venda, compra, posse e utilização de material pornográfico, presente também na literatura, cinema, propaganda, etc.; 
d) tráfico para fins sexuais - movimento clandestino e ilícito de pessoas através de fronteiras nacionais, com o objetivo de forçar mulheres e adolescentes a entrar em situações sexualmente opressoras e exploradoras, para lucro dos aliciadores, traficantes.
A exploração da prostituição de adolescentes está prevista como crime no art. 218-B do CP. A exploração da prostituição de adultos está tipificada no art. 228 do CP. No art. 149-A pune-se o tráfico interno e transnacional de pessoas com a finalidade de exploração sexual (inciso V). A pornografia envolvendo crianças e adolescentes foi incriminada no ECA, mais precisamente nos arts. 240, 241, 241-A a 241-D; a de adultos, em regra, não configura crime.
OBS: No Brasil, o exercício da prostituição, em si, embora seja considerado imoral, não é punido, reservando-se a incidência da lei penal somente àqueles que tomam proveito da prostituição alheia. Nesse cenário, afirma-se que nosso país adotou o sistema abolicionista da prostituição.
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, a reclusão passa a ser de 3 a 8 anos (§ 1º).
O polo passivo pode ser integrado por qualquer pessoa não menor de 18 anos, seja homem ou mulher, capaz mentalmente, possuindo, no momento do crime, o necessário discernimento para a prática do ato.
Cinco são as ações nucleares típicas: induzir (inspirar, instigar), atrair (aliciar) alguém à prostituição (comércio sexual) ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la (proporcionar meios, afastar dificuldades), ou impedir (opor-se) ou dificultar (criar obstáculos) que alguém a abandone.
A lei não diferencia o já corrompido daquele que com sua moral intacta. A prostituta pode ser vítima do delito? Quando impedida de deixar a prostituição, sim. Contudo, por já se dedicar ao comércio carnal, não seria possível, obviamente, induzir, atrair ou facilitar o seu ingresso na libertinagem.
A pena deve ser perseguida mediante ação penal pública incondicionada.
Casa de prostituição (art. 229 do CP):
A nossa legislação pune a manutenção de prostíbulos, exigindo, todavia, um estabelecimento onde haja exploração sexual, e não simplesmente sexo. O que está reprovado não é o sexo (a libidinagem), mas sim a exploração.
A proibição legal não abrange só os prostíbulos, mas qualquer espaço que venha a servir de abrigo habitual para a prática de comportamentos contra a dignidade sexual de alguém, ou seja, comportamentos que denotem exploração sexual.
Qualquer pessoa pode praticar o delito, não apenas o proprietário, mas também o locador e gerente do estabelecimento (desde que, obviamente, cientes da destinação que é dada ao local). O sujeito passivo (vítima) é a pessoa explorada sexualmente. 
Se o sujeito passivo for pessoa menor de dezoito e maior de quatorze anos, o crime será o do art. 218-B, § 2º, inciso II, do Código Penal. Se menor de quatorze anos de idade, o responsável pelo estabelecimento em que ocorria a exploração sexual responderá como partícipe do crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP).
A conduta consiste em manter (sustentar, conservar, prover o necessário para que permaneça a atividade), por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente.
É indiferente que o proprietário do local ali compareça, já que o tipo não pune a conduta daquele que participa do comércio carnal, mas tão somente daquele que mantém local destinado a esse fim.
Trata-se de crime habitual, conclusão que se extrai do núcleo típico manter, isto é, comportamento costumeiro, corrente e reiterado. Logo, não admite a tentativa.
Igualmente aos delitos acima já estudados, a ação penal será pública incondicionada.
Rufianismo (art. 230 do CP):
São duas asações nucleares típicas: tirar proveito da prostituição ou fazer-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça.
Na primeira (rufianismo ativo), o rufião obtém vantagem proveniente diretamente dos lucros auferidos pela prostituta (formando, mal comparando, uma sociedade empresarial), embora deles não necessite para seu sustento. Não é necessário que o agente tome a iniciativa requerendo participação (a espontaneidade do oferecimento por parte da meretriz é indiferente à configuração do delito).
Já na segunda modalidade (rufianismo passivo) o agente participa indiretamente do proveito da prostituição, vivendo às custas da meretriz, recebendo dinheiro, alimentação, vestuário, moradia e outros benefícios de que necessita para sua manutenção.
Nas duas formas de execução, a vantagem direta ou indireta deve ser proveniente da prostituição (se originário de outras formas de renda por parte da meretriz, o delito não se configurará).
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo desse crime, vivendo às expensas de prostitutas. Sujeito passivo será a pessoa que se dedica à prostituição, tendo sua atividade explorada pelo rufião (ou rufiã). Se menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (quatorze) anos, a reclusão passa a ser de 3 a 6 anos, e multa( § 1º do art. 230 do CP).
Trata-se de crime habitual, cuja consumação ocorrerá com a prática de atos reiterados de obtenção de proveito ou de sustento por parte do rufião. A tentativa, em razão da habitualidade, não é admitida.
É perfeitamente possível concurso material entre os crimes de casa de prostituição (art. 229 do CP) e de rufianismo (art. 230 do CP), entendendo o STJ no sentido de que o primeiro não fica absorvido pelo segundo.
Por fim, vale registrar que a ação penal será pública incondicionada.

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