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DIREITO TRIBUTÁRIO Natallie Alves de Almeida natalliealmeida@yahoo.com (085) 9.8846.6548 / 9.9793.1290 PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS A Constituição Federal reservou um capítulo para discorrer sobre o Direito Tributário, capítulo denominado de Sistema Tributário Nacional (do art. 145 ao art. 162). Tal capítulo tem informações sobre: O Poder de tributar: quando a CF fala em poder de tributar, está outorgando esse poder para quem tem necessidade de instituir o tributo – é a competência – quem tem competência de instituir tributos são os entes federados. Regras de repartições de receitas tributárias: trata muito mais de regras de direito financeiro que de direito tributário. A repartição de receitas é imprescindível para assegurar a autonomia dos entes federados. Quando a CF institui a repartição de receitas, não está apenas distribuindo a receita, mas também conferindo autonomia a esses entes. Limitações ao poder de tributar: são os princípios e as imunidades tributárias, conforme se extrai dos arts. 150-152. Tanto os princípios quanto as imunidades restringem o poder de tributar, porém, de formas distintas. Princípios: art. 150, CF – mas existem outros princípios fora do art. 150; De forma geral, os princípios determinam como, quando e quanto cobrar de carga tributária. Imunidades: art. 150, CF – mas existem outras imunidades fora do art. 150; As imunidades protegem determinadas pessoas, bens ou situações da incidência tributária. Acabam funcionando como uma proteção à incidência de tributos. É possível a associação de um princípio tributário às cláusulas pétreas. Os princípios tributários servem para proteger garantias individuais do cidadão e essas garantias são núcleos imodificáveis da Constituição, popularmente apelidados de cláusulas pétreas. Para o STF, é possível a associação de princípio tributário à condição de cláusula pétrea. Isso significa que o princípio tributário não pode ser desafiado pelo legislador ordinário nem pelo Poder Constituinte Derivado. Algumas limitações podem configurar cláusulas pétreas (leading case: ADI 939-7 DF). Ex.: imunidade tributária recíproca decorrente do pacto federativo, que é cláusula pétrea (art. 150, VI, a, CF); imunidade de templos de qualquer culto – liberdade de culto (art. 150, VI, b); imunidade dos livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão - livre difusão do pensamento (todos reconhecidos no aludido julgamento), denominado de imunidade cultural. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Nasce, historicamente, ligado a ideia de consentimento/aprovação por parte das pessoas tributadas com a tributação. Surge com uma ideia de representação através de órgãos representativos. A ADI 939- 7/1993 considerou o princípio da anterioridade tributária uma cláusula pétrea. No direito brasileiro, aparece no art. 150 da CF, I, mais ligado ao aspecto formal, no sentido de que precisa de uma lei em sentido formal (tirando as exceções legais) para que haja instituição ou aumento de tributos. Tal lei seria resultado da aprovação/consentimento do cidadão com a tributação. Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias (ROL EXEMPLIFICATIVO NA CF) asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; Para a maioria da doutrina, “exigir” significa criar tributo; Como lei é necessária para exigir ou aumentar, lei é necessária para extinguir ou minorar. Essa é a lógica do princípio do paralelismo das formas. A lei deve tratar de todos os elementos necessários para que o tributo possa incidir e ser cobrado (elementos ou aspectos essenciais da hipótese de incidência tributária). A lei deve tratar dos aspectos material, temporal, espacial, pessoal e quantitativo como consequências do dever de alguém de pagar um tributo. Material (Objetivo) Temporal (quando?) Espacial (onde?) Pessoal (subjetivo – quem?) Quantitativo (quanto?) A regra geral é que basta Lei Ordinária para a criação de um tributo; Sendo criável por meio de LO, podem também serem instituídos via MP. A Lei Complementar só é exigida apenas nas hipóteses expressamente previstas pela Constituição: Ex.: Empréstimos Compulsórios (art. 148); Impostos sobre grandes fortunas (art. 153, VII); Impostos residuais (art. 154, I e 195, §4º) CASOS DE NÃO APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE a) Atualização monetária da base de cálculo: Art. 97- CTN - Somente a lei pode estabelecer: § 2º - Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. Somente por via de lei, no sentido formal, publicada no exercício financeiro anterior, é permitido aumentar tributo. b) Prazo de recolhimento de tributo: Não é matéria reservada à lei. Art. 160 - Quando a legislação tributária não fixar o tempo do Pagamento, o vencimento do crédito ocorre 30 (trinta) dias depois da data em que se considera o sujeito passivo notificado do lançamento. Não se trata do aspecto temporal, pois este se remete ao fato gerador e não ao prazo de pagamento. Súmula Vinculante 50: norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade. Esse prazo não precisa estar previsto em lei, mas se estiver, somente a lei poderá modificar o prazo (simetria das formas). c) Obrigações Acessórias: São deveres formais, instrumentais, no interesse da fiscalização e/ou arrecadação de tributos. Art. 113 - A obrigação tributária é principal ou acessória. § 2 - A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. ‘EXCEÇÕES’ AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Não se confundem com os casos de não aplicação do princípio. Em casos de não-aplicação, não teríamos nem a instituição ou aumento de tributo. Nas exceções, há relação com majoração ou instituição de tributos, que deveriam ser feitos via lei, mas a CF autoriza que sejam feitos via ato normativo infralegal. São exceções parciais ao princípio da legalidade, pois a CF, observados os limites e condições estabelecidos em lei, autoriza o Poder Executivo a alterar o aspecto quantitativo. a) II, IE, IPI e IOF e reduzir e restabelecer a alíquota da CIDE combustível: é possível a alteração da alíquota via decreto do executivo, observados os limites e condições estabelecidas em lei. Todos esses tributos têm uma função regulatória (são tributos extrafiscais) não tendo como única finalidade a mera arrecadação de recursos. O CTN fala em alteração da base de cálculo, o que não foi recepcionado pela CF/88, só podendo ser alterada a alíquota. Poder Executivo não significa apenas Presidente da República. É possível a delegação, pelo PR, a outro ente da União. Por exemplo, as alíquotas do IE são fixadas hoje via resolução da CAMEX (câmera do comércio exterior). Nessa hipótese, é necessário que lei preveja a possibilidade e limites da delegação. CIDE: Alterar x Reduzir/Restabelecer: Alterar significa também poder aumentar; Reduzir/Restabelecer: o governo pode pegar a alíquota específica e reduzir até zero, ou restabelecer até o teto da alíquota específica. Não poderia “furar” o teto. b) ICMS Monofásico incidente sobre combustíveis: a EC 35/01 diz que a lei complementar irá prever determinados combustíveis sobre os quais incidirá um ICMS uma única vez, chamado pela doutrina de ICMS monofásico. A alíquota, nesse caso, será dada através de deliberação dos Estados federados. Veja-se:os Estados se reúnem no âmbito do CONFAZ para deliberarem o valor da alíquota que será cobrada, para que assim exista uma única alíquota. c) Resolução do Senado Federal para fixar alíquota do ICMS nas operações interestaduais Art. 155 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: § 2º - O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação; Não é lei em sentido formal. Os senadores são representantes dos Estados e, por isso, tratam desse tema. EM SÍNTESE: PRINCÍPIO DA ISONOMIA Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; É a vedação ao tratamento desigual entre contribuintes que estão em situação equivalente. “Impõe tratamento uniforme pela entidade tributante” (Hugo de Brito Machado). PRINCÍPIOS RELACIONADOS À ISONOMIA (serão aprofundados em tópicos próprios) A) Princípio da não-discriminação tributária em razão da procedência ou do destino dos bens (art. 152, CF: “É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino”). Procura evitar a “guerra fiscal”. B) Princípio da uniformidade da tributação da renda (inciso II do art. 151 da CF: “Art. 151. É vedado à União: II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes”. Perceba-se que não se está a tributar o rendimento do ente federado que emitiu o título da dívida pública (o que é vedado pelo art. 150, VI, a, da CF), mas sim a renda gerada pela operação (juros), que é rendimento do particular adquirente do título. C) Princípio da liberdade de tráfego (inciso V do art. 150 da CF: “estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público”). O trânsito de pessoas e mercadorias não pode ser restringido por meio da imposição de tributos. A regra possui exceções: a) ICMS interestadual; b) pedágio. D) Princípio do não-confisco (TRIBUTOS e MULTAS): Também chamado de princípio da razoabilidade ou proporcionalidade da carga tributária. Veda a exigência de tributos que tenham caráter confiscatório, sendo tal termo de difícil definição. Porém, pode-se adotar a definição de confisco como sendo a exigência tributária que inviabiliza a existência ou o desenvolvimento das pessoas jurídicas, ou que priva as pessoas físicas de suas necessidades básicas. STF: (todos os tributos que ele deverá pagar, dentro de determinado período, à mesma pessoa política que os houver instituído) ADC 8 – MC (“Resulta configurado o caráter confiscatório de determinado tributo, sempre que o efeito cumulativo – resultante das múltiplas incidências tributárias estabelecidas pela mesma entidade estatal – afetar substancialmente, de maneira irrazoável, o patrimônio e/ou os rendimentos do contribuinte”). PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA O princípio da isonomia guarda relação com a capacidade contributiva. Na verdade, não pode ser analisado fora da capacidade contributiva, pois cada um vai contribuir conforme sua condição de pagar, isso para que se atenda à justiça distributiva. Não significa que todos serão tratados da mesma forma. A capacidade contributiva deve ser analisada no seu aspecto objetivo e subjetivo. Objetivo/absoluto: é a capacidade identificada pelo legislador, que elege o evento ou fato-manifestação da riqueza. Quanto maior a capacidade econômica, mais a pessoa deve pagar. Deve-se analisar o fato que comprove essa capacidade econômica como, por exemplo, ser proprietário de um imóvel ou veículo (IPTU e IPVA). Deve-se usar um critério que comprove a capacidade de contribuir. Subjetiva/Relativa: é a capacidade identificada pelo legislador, que elege o sujeito individualmente considerado, levando em consideração a progressividade, mínimo existencial, dentre outros fatores. Por exemplo, Imposto de Renda (IR) Art. 145 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Sempre que possível: o melhor entendimento é que a capacidade contributiva será adequada à natureza do imposto e à técnica de sua incidência, além de servir para compatibilizar esse princípio com a extrafiscalidade. Nem sempre a capacidade contributiva será observada como ocorre, por exemplo, com os tributos extrafiscais, como o IPI. Por exemplo, por mais que o industrial seja de grande porte, sua tributação do IPI pode ser baixa de acordo com a essencialidade do produto. Além disso, objetivos extrafiscais podem ensejar a minoração/majoração do tributo sem observar a capacidade econômica/contributiva do contribuinte. ITR seria imposto extrafiscal, cobrando-se menos das propriedades mais produtivas e mais das propriedades menos produtivas. Exemplo claro de se cobrar menos de quem tem mais capacidade. SUBPRINCÍPIOS DA CAPCIDADE CONTRIBUTIVA: proporcionalidade e progressividade a) Proporcionalidade: observar certa proporção para fixar uma tributação. As pessoas pagarão mais ou menos conforme a capacidade econômica. Essa ideia não é absoluta e evoluiu para a progressividade. Na prática, a proporcionalidade se dá com a dimensão da base de cálculo. Assim, quanto maior a base de cálculo, maior será o tributo a se pagar, em virtude da aplicação da alíquota. b) Progressividade: entende-se que cobrar o mesmo percentual de todos não é o mais justo. Sendo certo que quanto mais se afasta da margem existencial para o indivíduo, mais se cobrará do contribuinte, assim, aumenta-se o percentual do tributo. Na prática, a progressividade se dá tanto com a modificação da alíquota quanto com a modificação da base de cálculo. No Brasil, temos: Tributação fixa: como as taxas, por exemplo, de expedição de passaporte. Tributação proporcional: IPTU, ISS, ITBI, ITCMD. Tributação progressiva: IR. Alíquotas seletivas/diferenciadas: não há necessariamente proporcionalidade ou progressividade, mas uma própria atuação extrafiscal do Ente tributante. Ex.: alíquotas seletivas de acordo com a essencialidade do produto. A progressividade no Brasil pode se dar em dois critérios: extrafiscalidade ou capacidade contributiva. Capacidade Contributiva: alíquotas maiores conforme a maior capacidade contributiva. Ex.: IR. IPTU também pode ser progressivo de acordo com o valor venal do imóvel e a função social da propriedade. Dos Impostos da União (IR)Art. 153 - Compete à União instituir impostos sobre: § 2º - O imposto previsto no inciso III: I - será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade, na forma da lei. Extrafiscalidade: ITR. As alíquotas vão variar de acordo com o grau de utilização da propriedade rural. Maior utilização, menor alíquota. IPTU, quanto maior o tempo em que o imóvel não está cumprindo a função social, maior será a sua alíquota no tempo. (O IPTU pode ser progressivo tanto pela capacidade contributiva quanto pela extrafiscalidade) Art. 153 - Compete à União instituir impostos sobre: § 4º - O imposto previsto no inciso VI do caput (ITR) I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas; (...) Da Política Urbana Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado. irretroatividade; b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide Emenda Constitucional nº 3, de 1993) anterioridade anual c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b. anterioridade nonagesimal O marco temporal significativo é a entrada em vigor da lei que majora ou cria um tributo. A nova lei não pode alcançar fatos ocorridos no passado, antes da sua entrada em vigor. O princípio da irretroatividade se aplica: Instituição ou majoração de tributos, não havendo exceção. Decorrência da própria legalidade. Art. 106 do CTN: hipóteses de retroatividade da legislação tributária. Ex.: aplicação retroativa da lei que deixa de considerar ato não definitivamente julgado como infração. Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. No direito tributário, existe uma separação entre fatos geradores passados (consumados), fatos geradores futuros e também fatos geradores pendentes. A lei não se aplica aos fatos passados. A lei aplica-se aos fatos futuros. Fatos geradores pendentes: são aqueles cujo início já ocorreu, mas ainda não foram consumados em sua totalidade à data da entrada em vigor da nova lei. Quanto aos fatos pendentes, existe dúvida sobre a retroatividade da lei, formando-se correntes. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE É um princípio que se fundamenta no valor segurança jurídica. Princípio da não surpresa: representa uma forma do contribuinte não ser surpreendido com uma nova lei tributária que majore ou crie tributos em seu desfavor. Existe anterioridade do exercício financeiro e anterioridade nonagesimal / noventena / anterioridade mitigada. De acordo com Ricardo Alexandre (2016), “é importante ressaltar que o princípio existe para proteger o contribuinte, não impedindo, portanto, a imediata aplicação das mudanças que diminuam a carga tributária a que o contribuinte está sujeito (casos de extinção ou redução de tributos) ou que não tenham qualquer impacto sobre essa carga tributária.” Aqui, o marco inicial é a data da publicação da lei (e não da vigência). Enquanto o princípio da irretroatividade representa uma proteção a fatos ocorridos antes da vigência da lei (passado), o princípio da anterioridade protege fatos futuros. Reitere-se: O marco temporal no princípio da irretroatividade é a vigência da lei, ao passo que no princípio da anterioridade é a publicação da lei. É importante evidenciar esta diferença pois os conceitos são absolutamente distintos. Irretroatividade: garantia aos fatos geradores ocorridos no passado. Anterioridade: garantia aos fatos geradores a ocorrerem no futuro. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide Emenda Constitucional nº 3, de 1993) Exercício financeiro equivale a ano civil. c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) Contribuições Sociais Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998) § 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b". Aplicação da anterioridade – art. 150, III, b e c ITR. Art. 153, VI. IGF. Art. 153, VIII. Imposto residual. Art. 154, I. ITCMD. Art. 155, I. ICMS. Art. 155, II, com exceção do art. 155, §4º, IV. IPVA e IPTU. Arts. 155, III e 156. Exceto nos casos de majoração decorrente de alteração da base de cálculo. ITBI. Art. 156, II. ISS. Art. 156, III. Taxas. Art. 145, II. Contribuição de Melhoria. Art. 145, III. Aplicação somente da anterioridade anual IR. IPVA e IPTU (alteração da base de cálculo). A base de cálculo do IPVA e IPTU é o valor de mercado/venal do imóvel ou veículo considerado. Assim, se uma lei modificar a base de cálculo destes impostos, apenas a anterioridade de exercício deverá ser observada. Por outro lado, se a alteração se referir à majoração de alíquota, deverá observar também a anterioridade nonagesimal. Aplicação somente da anterioridade nonagesimal – 150, III, C IPI: a anterioridade nonagesimal do IPI deve ser observada tanto nas alterações materializadas por lei, quanto nas alterações de alíquotas materializadas por decreto do Poder Executivo. ICMS e CIDE: restabelecimento de alíquotas. Exceções à anterioridade II. Art. 153, I. IE. Art. 153, II. IOF. Art. 153, V. IEG. Art. 154, II. EC. Art. 148, I (CALAMIDADE/GUERRA). O empréstimo compulsório previsto no art. 148, II (INVESTIMENTO) se sujeita aanterioridade nonagesimal e de exercício. No II, IE e IOF, a anterioridade não é observada em virtude do caráter extrafiscal das exações. No IEG e EC, a anterioridade não é observada em virtude da urgência/calamidade pública que circunda a instituição/majoração destes tributos. Súmula Vinculante 50 STF: Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade VEDAÇÃO AO CONFISCO No ordenamento jurídico brasileiro, confisco representa a perda da propriedade sem a correspondente indenização. Assim, “utilizar tributo com efeito de confisco” seria usar a tributação para se apropriar do patrimônio do particular sem a respectiva indenização. O confisco é permitido pela legislação brasileira em algumas hipóteses. Todavia, em todos os casos, são sanções por atos ilícitos. Ex.: perda da propriedade em caso de cultura de drogas ou exploração de trabalho escravo. Ex.: perda do produto do crime. O problema é que vedação ao confisco representa um conceito jurídico indeterminado. No Brasil, há ausência de parâmetros objetivos fixados pela Constituição ou legislação. A aferição será feita em cada caso concreto. É possível que a análise do caráter confiscatório ou não seja feita com base em um único tributo (e não à carga tributária como um todo). Em que pese a dificuldade prática, também é possível a análise da vedação ao confisco levando-se em conta dois ou mais tributos que incidam sobre uma mesma base econômica. A natureza do tributo (fiscal ou extrafiscal) pode levar a algumas diferenciações no que tange à observância da vedação ao confisco. Os tributos extrafiscais visam estimular ou desestimular uma determinada conduta. Neste contexto, há quem afirme que o princípio da vedação ao confisco não poderia ser aplicado a tais tributos quando objetivassem desestimular uma conduta. Não obstante, ainda que o objeto seja desestimular certa conduta, é possível a análise da vedação ao confisco à luz da razoabilidade e proporcionalidade. Multa tributária: A multa é consequência da prática de uma conduta contrária ao direito. Embora tributo e multa não se confundam, o STF entende que o princípio da vedação ao confisco aplica-se também às multas tributárias. A sanção deve ser razoável, ou seja, proporcional à infração, sob pena de ter um efeito confiscatório. NÃO LIMITAÇÃO AO TRÁFEGO DE PESSOAS OU BENS Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público; O objeto é coibir tributos que contenham como hipótese de incidência a transposição de fronteira interestadual ou intermunicipal. Em que pese esta regra, não há óbice à cobrança dos tributos que incidam sobre a circulação, como é o caso do ICMS. Ainda de acordo com a doutrina, o referido princípio protegeria a liberdade de locomoção prevista no art. 5º, XV da CR. PEDÁGIO - POLÊMICA A polêmica do dispositivo se concentra na questão do pedágio. Há varias posições a respeito da natureza jurídica do pedágio. Corrente 1: Pedágio é tributo. Há uma vertente que acredita que teria natureza de taxa, outros consideram uma espécie tributária autônoma. Corrente 2: Pedágio é preço público. Corrente 3: Pode ser taxa ou preço público. Parte desta corrente entende que se for cobrada pelo Poder Público, será taxa, mas se a cobrança for feita por um particular, será preço público. Outra vertente deste mesmo entendimento considera que, se houver uma via alternativa para ser usada pelo cidadão, será preço público, caso não haja, será taxa. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS SOMENTE À UNIÃO Princípio da Uniformidade Geográfica Art. 151. É vedado à União: I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País; O IPI não precisa ter as mesmas alíquotas em todo o território nacional. A União pode instituir alíquotas diferenciadas, desde que tenha por objetivo promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País. Isonomia na tributação da renda Art. 151. É vedado à União: II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes; Exemplo: União não poderia estabelecer uma alíquota de IR de 10% para o servidor público federal e de 25% para o servidor público estadual. Vedação a concessão de isenções heterônomas Art. 151. É vedado à União: III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios Conceito de isenção heterônoma: Um ente federativo concede isenção de tributo da competência de outro ente. Desta forma, se a competência para instituir o tributo pertence ao estado-membro, não pode União Federal conceder qualquer isenção relativa a ele. A competência tributária conferida a cada ente engloba a possibilidade de instituir e cobrar tributo, bem como a prerrogativa de não instituí-los e de conceder isenções. O art. 13 do CTN não foi recepcionado pela CF/88. MUITO IMPORTANTE!!! Tratados e Convenções Internacionais - A União pode conceder isenção de tributo estadual/municipal através de um tratado internacional? No direito internacional, apenas a República Federativa do Brasil tem a competência para firmar tratados (art. 52, §2º CR), dela não dispondo a União, os estados-membros e os municípios. *O Presidente da República não subscreve tratados como Chefe de Governo, mas como Chefe de Estado, o que descaracteriza a existência de uma isenção heterônoma, vedada pelo art. 151, III da Constituição. PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO BASEADA EM PROCEDÊNCIA OU DESTINO Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. De acordo com a própria disposição constitucional, trata-se de princípio direcionado aos Estados, DF e Municípios.
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