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22ª AULA - CONTRATO DE TRESPASSE - Artigos 1.144 e seguintes, C.C. Professora: Luciana Castro Artigo 1.142: “Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.” -Organismo econômico utilizado pelo sujeito para explorar atividade econômica ESTABELECIMENTO -Não possui personalidade jurídica, mas, tão somente, a empresa. EMPRESARIAL -Pode ser classificado como bem móvel. -É propriedade da empresa. -Pode alienar, sem prejuízo de sua existência, um ou mais de seus estabelecimentos, como um todo unitário cada um deles, como a universalidade que é. -Constitui o aparato instrumental que o empresário deve dispor e organizar, para adequá-lo ao exercício da empresa. Todos os bens que integram o estabelecimento são indispensáveis ao regular exercício da atividade empresarial. Compondo-se pelos bens materiais (móveis, maquinários etc) a reunião organizada desses bens é definida como estabelecimento. bens imateriais (marca, ponto empresarial etc) débitos Quando o estabelecimento é colocado como objeto de um negócio, nele se incluem créditos aviamento, ponto comercial etc. É muito comum, na prática empresarial, que um empresário venda a outro uma universalidade de bens pertencentes à pessoa jurídica da qual era titular ou sócio, ficando o adquirente responsável, a partir de então, pela condução do negócio, mas sem qualquer vinculação com a pessoa jurídica anterior. Essa operação é conhecida como trespasse e tem como objeto a transferência do conjunto de bens organizados pelo alienante ao adquirente, para que este último prossiga com a exploração da atividade empresarial e assuma os clientes e os contratos celebrados anteriormente pelo alienante. TRESPASSE é a transferência do estabelecimento empresarial. É A TROCA DA TITULARIDADE DO CONJUNTO PATRIMONIAL POR ELE REPRESENTADO. Ocorre o trespasse quando o estabelecimento deixa de fazer parte da propriedade de um empresário e passa para a propriedade de outro. PODE SER DE FORMA GRATUITA ONEROSA Para que a venda do ponto comercial seja formalizada, é indispensável a observação de diversas formalidades legais. Art. 1.144, CC. deve estar devidamente registrado perante os órgãos competentes. REQUISITOS que se dê publicidade ao negócio realizado, através da publicação na imprensa oficial. O trespasse é um contrato oneroso de alienação ou transferência do estabelecimento empresarial para o adquirente1, sendo que, para que possa ter eficácia perante terceiros, é necessário efetuar o devido registro na Junta Comercial com a sua posterior publicação. Se o empresário devedor não dispor de patrimônio suficiente para garantir suas pendências frente aos seus credores, o trespass e apenas terá eficácia na hipótese de: 1) pagamento de todos os credores, PRAZO: 30 DIAS – A PARTIR DA NOTIFICAÇÃO2 2) consentimento dos credores com o negócio de modo expresso ou tácito. Art. 1.145, CC. OBS: O estabelecimento pode ser o único patrimônio da empresa, de tal sorte que eventuais execuções recairão exclusivamente sobre es se bem, o que justifica à forma prescrita em lei para formalização do negócio. A venda do estabelecimento comercial sem o consentimento de todos os credores e, desde que, inexistam bens suficientes para garantir as obrigações assumidas, poderá ensejar na falência da empresa. Artigo 129, IV da lei 11.101/05 Se os envolvidos no negócio observarem o procedimento legal e promoverem à notificação de todos os credores, não incorrerão nesse risco, sendo certo dizer que, se houver oposição de um credor, ao menos em tese, o negócio não deve prosseguir, pois restará fragilizado. A inobservância dos requisitos anteriormente destacados tornará o negócio sem validade jurídica, não surtindo efeito algum contra terceiros, podendo ainda, ser motivo de quebra da empresa. Pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que tais pendências estejam todas escrituradas. RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE A responsabilidade solidária do alienante e adquirente pelo prazo de um ano. O art. 1.146 do Código Civil ainda prevê que o adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, através dos livros contábeis do estabelecimento ou outro meio capaz de demonstrar inequivoca mente quais seus os ativos e passivos, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento. 1 Nesse tipo de contrato, não existe venda isolada de bens específicos de propriedade do alienante, mas, sim, a totalidade dos bens materiais ou imateriais pertencentes ao estabelecimento comercial, incluindo o aviamento ou capacidade de gerar lucros, baseado na expectativa de retorno financeiro e nas diversas características do empreendimento. Apesar de o conceito da totalidade de bens, é possível a exclusão de alguns bens no contrato de trespasse desde que isso não imp ossibil ite a permanência do negócio. 2 Portanto, havendo credores, deve o alienante dar ciência aos mesmos acerca do negócio, para que se manifestem nos trinta dias subsequentes à notificação. Por outro lado, em se tratando de empresário solvente, que dispõe de outros bens para arcar com seu pa ssivo, mesmo em caso de existência de credores, nenhuma nulidade poderá ser arguida no contrato de trespasse. CLÁUSULA DE NÃO RESTABELECIMENTO3 Faculta aos contratantes a vedação à concorrência do alienante com o adquirente, pelo prazo de 5 anos. A regra é pela proibição da concorrência, porém, o adquirente poderá autorizar de forma expressa que o alienante permaneça no mesmo ramo de negócio. Art. 1147, CC CRÉDITOS DO ESTABELECIMENTO4 transferem-se com a realização do negócio, salvo se existir expressa disposição em contrário. a partir da publicação mencionada no art. 1.144, os devedores do estabelecimento deverão honrar seus compromissos perante o adquirente. a norma exonera de responsabilidade o devedor que, de boa-fé, efetuar o pagamento ao alienante. É peculiar a esse tipo de contrato a formalização de um inventário com a descrição de todos os bens negociados, cuja transferência se dá: no caso de bens móveis, será feita pela tradição; no caso de imóveis, mediante a averbação no competente registro; em caso de propriedade industrial, é necessária a transferência de titularidade perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Oportuno destacar entendimento exarado pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal, por ocasião do julgamento do Agravo de Instrumento 20130020008062, relatado pelo EminenteDesembargador José Divino de Oliveira, que reconhece a possibilidade da sucessão presumida: A caracterização da sucessão empresarial não decorre necessariamente de sua formalização, admitindo-se sua presunção quando os elementos indiquem a aquisição do fundo de comércio e o prosseguimento na exploração da mesma atividade econômica, no mesmo endereço, com o mesmo objeto social, atingindo, inclusive, a mesma clientela já consolidada pela empresa sucedida. Ocorrendo a sucessão, a sociedade adquirente passa a responder solidariamente pelos débitos contraídos pela empresa sucedida, mesmo os contraídos anteriormente à aquisição. No presente caso, a sucessão foi regularmente formalizada por meio do negócio jurídico entabulado entre a devedora e a agravante (fls. 208/227). Nos termos encetados, houve a transferência de todo o fundo do comércio, incluído o ponto, as instalações e demais recursos materiais e humanos do estabelecimento comercial localizado no Lago Sul. 3 Outra disposição comum aos contratos de trespasse é a cláusula de não concorrência, pela qual o alienante não poderá atuar no mesmo nicho de mercado em que atuará o adquirente ou captar a clientela do mesmo, pelo prazo estipulado entre as partes. No entanto, em caso de omissão, estabelece o artigo 1147 o período de cinco anos, sendo que, no caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição persistirá durante o prazo do contrato. 4 Salvo acordo em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, ressalvado o direito de terceiros de rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da transferência, se ocorrer ju sta causa, podendo o alienante ser responsabilizado, como dispõe o artigo 1.148. Já em relação aos créditos do estabelecimento trans ferido, poderá ocorrer a cessão dos direitos, que produzirá efeito em relação aos devedores desde a publicação da transferênc ia, ficando o devedor exonerado se pagar ao cedente. A alegação de que outras unidades ou filiais da empresa devedora continuaram suas atividades após a referida sucessão não fic ou comprovada, sendo certo que, consoante explicitado pela certidão do oficial de justiça de fls. 185, o Supermercado Bom Motivo encerrou suas atividades no local indicado em seus registros comerciais há muitos anos, conforme, inclusive declarado pelo patrono da devedora (fl.192). Dessa forma, está sobejamente demonstrada a sucessão empresarial, porquanto devidamente comprovada a transferência do estabel ecimento comercial, o encerramento das atividades pela empresa sucedida e a continuação da atividade empresarial pela agravante. Caracterizada, portanto, a sucessão, impõe-se a responsabilização da sucessora pelas obrigações da devedora. Por oportuno, reitero os seguintes precedentes: "DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE. INCLUSÃO DE PARTE NO POLO PASSIVO DA EXECUÇÃO. SUCESSÃO EMPRESARIAL. RECONHECIMENTO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. REJEIÇÃO. PRESCRIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. INOCORRÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DESCABIMENTO. DECISÃO PARCIALMENTE REFORMADA. 1 - Em face dos documentos acostados aos autos, dos quais se extrai que a Excipiente/Agravante adquiriu o fundo de comércio da empresa que inicialmente constava do polo passivo da Execução Fiscal, o que se presume pelo fato de os sócios das referidas empresas serem parentes, de as empresas usarem o mesmo nome fantasia, de funcionarem no mesmo endereço, bem assim porque o encerramento das atividades da empresa anterior coincide com o início das atividades da nova empresa e, ainda, por explorarem o mesmo ramo de comércio, é certo que a hipótese se enquadra no comando legal constante do art. 133 do CTN, portanto, houve a sucessão empresarial e, por conseguinte, afigura-se correta a inclusão da empresa sucessora no polo passivo da Execução Fiscal. (...) Agravo de Instrumento parcialmente provido."
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