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Prof. Dr. Federico Bernardino Morante Trigoso Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas “ELETRIFICAÇÃO RURAL COM RECURSOS ENERGÉTICOS RENOVÁVEIS” CAPÍTULO 1b: Energia e Desenvolvimento Rural SUMÁRIO • Eletrificação rural • Uso da rede elétrica no meio rural • Eletrificação em comunidades tradicionais • Problemática da eletrificação rural • Principais barreiras • Universalização do serviço de energia elétrica • O Programa “Luz Para Todos” • Discussão em sala de aula • Comentários finais • Questionário ELETRIFICAÇÃO RURAL • É inegável que a energia elétrica desempenha um papel de fundamental importância no desenvolvimento das sociedades. No entanto, sua introdução foi dirigida principalmente às áreas urbanas e aos lugares com maior potencial de crescimento econômico. • Fundamentalmente nos denominados países em desenvolvimento foram ficando enormes áreas de ocupação humana sem eletricidade. ELETRIFICAÇÃO RURAL A eletrificação pode ampliar as oportunidades no sentido de que ela possibilita: • O uso da iluminação residencial e pública, o que aumenta as horas de trabalho, estudo ou lazer; • O uso de eletrodomésticos como rádio, televisão, liquidificadores, máquinas de lavar, aparelhos de vídeo e de som, etc.; • A telefonia e a radiocomunicação, além do uso do fax, computadores e internet; • A eletrificação de hospitais ou postos de saúde, acompanhada do uso de refrigeradores para vacinas, microscópios ou instrumentos médicos; • A eletrificação de escolas e o emprego de sistemas audiovisuais; • A constituição de processos de produção, isto é, a utilização de máquinas com a capacidade de aumentar o nível de renda da população; • A transição energética por causa da substituição de combustíveis e dispositivos energéticos como lamparinas, velas, pilhas, etc. VISÃO HISTÓRICA DA ELETRIFICAÇÃO RURAL UTILIZANDO A EXTENSÃO DA REDE ELÉTRICA USO DA REDE ELÉTRICA NO MEIO RURAL “O Ministério de Minas e Energia, através do Decreto no 62.655 de 03 de maio de 1968, estabeleceu que a eletrificação rural compreende a transmissão e a distribuição de energia elétrica para atender aos consumidores sediados fora dos perímetros urbanos e suburbanos ou aos pertencentes a aglomerados populacionais com mais de 2.500 habitantes e com atividades ligadas diretamente à exploração agropecuária; ou consumidores sediados naquelas áreas, dedicando-se a quaisquer outros tipos de atividades, porém com carga ligada de até 45 kVA”. Fonte: “Eletrificação Rural”, Cezar Piedade Jr. 1988 • Nos países onde a maior parte da zona rural está energizada, o uso da eletricidade tem se desenvolvido no sentido de se atingir os mesmos níveis de utilização das regiões urbanas. USO DA REDE ELÉTRICA NO MEIO RURAL • A eletrificação rural se caracteriza por aspectos que lhe são peculiares, decorrentes da natureza técnico-econômica das atividades agrícolas e que podem ser resumidas em: Alta dispersão populacional. Baixa densidade econômica e de consumo. Alto investimento unitário por consumidor. Elevado custo operacional. Baixa rentabilidade financeira. USO DA REDE ELÉTRICA NO MEIO RURAL • A eletrificação rural representa um meio eficaz de levar o desenvolvimento e o bem-estar às populações rurais com os seguintes objetivos: Fixação do homem no campo, como conseqüência de melhores oportunidades de trabalho, de produção e de condições de vida. Proporcionar às atividades rurais práticas com alto grau de eficiência na produção, na industrialização primária de produtos agropecuários e na criação de animais, objetivando a produção de alimentos. Criar áreas nas regiões rurais que possam atrair novas industrias e serviços, permitindo um alívio nos grandes centros. USO DA REDE ELÉTRICA NO MEIO RURAL • O desenvolvimento da eletrificação rural em diversos países tem demonstrado as seguintes fases de evolução: 1) Uma eletrificação primitiva, na maioria das vezes de iniciativa local. 2) Uma eletrificação generalizada com o objetivo de atender a distribuição da totalidade de um território. 3) Uma eletrificação intensiva que visa a um desenvolvimento profundo do uso da eletricidade colocada no meio rural, atingindo com isso um nível de eletrificação urbana. • A passagem de uma fase a outra, em condições ideais, deveria ser a mais rápida possível, no entanto, em condições reais existem limitações econômicas e sociais. USO DA REDE ELÉTRICA NO MEIO RURAL Sistema de Transmissão brasileiro (Fonte: ONS, 2013). Configuração do sistema elétrico do estado do Piaui (CEPISA, 2011). USO DA REDE ELÉTRICA NO MEIO RURAL Tarifa de energia elétrica por classe e por região no Brasil (R$/MWh). (Fonte: ANEEL,2013) Classe de Consumo Região Centro Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil Comercial, Serviços e Outras 270,1 273,5 295,3 243,3 239,2 252,6 Consumo Próprio 297,0 278,1 273,7 266,4 243,1 268,1 Iluminação Pública 155,5 162,3 167,9 149,2 137,2 152,1 Industrial 183,8 204,9 218,4 214,7 203,0 207,9 Poder Público 265,3 284,9 314,7 260,0 251,4 271,2 Residencial 295,7 273,0 289,6 273,9 258,1 273,7 Rural 203,6 194,3 218,0 183,6 173,9 185,7 Rural Agricultor 246,8 157,9 217,3 204,3 153,0 158,4 Rural Irrigante 199,0 119,5 225,4 143,0 131,6 130,3 Serviço Público (água, esgoto e saneamento) 180,4 182,0 197,5 176,9 180,1 180,3 Serviço Público (tração elétrica) 213,6 202,0 201,5 203,1 Média 251,6 244,6 267,9 244,5 222,0 241,6 • A EXCLUSÃO ELÉTRICA é mais freqüente em domicílios com maior número de moradores e menor número de cômodos. Isto ainda é relativamente mais grave entre as faixas de renda mais baixas. • Esta exclusão acontece, na maioria das vezes, nos domicílios sem acesso à rede de água tratada, à rede de esgotos e à coleta de lixo. • A exclusão elétrica é pior entre as famílias cujo chefe tem como ocupação a agricultura e com poucos anos de estudo. Em linhas gerais, esta exclusão é grave na zona rural das regiões mais pobres. USO DA REDE ELÉTRICA NO MEIO RURAL ELETRIFICAÇÃO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS • Em muitas zonas rurais dos países em desenvolvimento fica difícil estender a rede elétrica devido a uma serie de motivos (ambientais, geográficos, econômicos, etc.) • Neste caso, novas tecnologias de geração vem sendo utilizadas como eólica, biomassa ou solar-fotovoltaica, entre outras. • No entanto, deve-se considerar que a grande maioria dos núcleos humanos onde essas tecnologias estão sendo inseridas pertence às denominadas “populações tradicionais”. • Segundo Diegues (1998: 81), apesar de sua grande diversidade, as sociedades tradicionais mostram em vários graus certas características comuns, tais como: Ligação intensa com os territórios ancestrais. Auto-identificação e identificação pelos outros como grupos culturais distintos. Linguagem própria, muitas vezes não a nacional. Presença de instituições sociais e políticas próprias e tradicionais. Sistemas de produção principalmente voltados para a subsistência. ELETRIFICAÇÃO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS • Desde o inicio da eletrificação rural em países industrializados, esforços públicos têm sido legitimados por aquilo que é entendido como as positivas EXTERNALIDADES SOCIAIS DA ENERGIA ELÉTRICA. • Isso se expressa através da institucionalização da “obrigação de serviço” para utilidades públicas. • Entretanto, diversos estudos quantitativos e empíricos mostram que os impactos sobre o desenvolvimento não são automaticamente derivados da extensão da rede elétrica para áreas rurais em países em desenvolvimento.• No meio rural onde estão estabelecidas sociedades tradicionais se verifica crises de energia resultantes de: Rápidas transformações endógenas que afetam o ambiente socioeconômico e as necessidades dessas sociedades. Uma capacidade endógena de adaptar seus sistemas tecnológicos, que é muito lento para continuar com essas transformações. PROBLEMÁTICA DA ELETRIFICAÇÃO RURAL PROBLEMÁTICA DA ELETRIFICAÇÃO RURAL • Áreas rurais em geral são caracterizadas por uma baixa densidade demográfica que não pode ser comparada a densidades observadas nas concentrações urbanas ou peri-urbanas. • Como resultado, existe uma hierarquia na provisão de serviços que vai do mais denso ao menos denso em termos de população. Hierarquia geográfica de dependência para acesso a mercadorias e serviços – Estado da Bahia. SURGIMENTO DE NOVAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS PARA PRODUÇÃO AGRÍCOLA • As mudanças que acontecem no campo revelam novas necessidades de energia influenciando a economia existente: novas despesas resultantes da monetarização das economias rurais. • A mudança na economia rural também revela novas exigências quanto ao armazenamento de produtos e transporte de pessoas e mercadorias (carga, distancia, velocidades, cansaço, etc. • Soluções tradicionais de energia voltam muitas vezes a ficar impróprias ou pelo menos seriamente limitadas, quando comparadas às novas exigências. PROBLEMÁTICA DA ELETRIFICAÇÃO RURAL A produtividade das soluções energéticas tradicionais, que foram satisfatórias no passado como resposta às necessidades de um sistema agrário convencional, tornam-se agora insuficientes: A ESCOLHA DE UMA SOLUÇÃO E DIFUSÃO NÃO É FÁCIL. NOVAS EXIGÊNCIAS LIGADAS À DIFUSÃO DE NOVOS PADRÕES DE CONSUMO CRIAM NOVAS NECESSIDADES DE ENERGIA QUE NÃO PODEM SER ALCANÇADAS • Ao lado das crises quantitativas das técnicas tradicionais e formas de energia, novas necessidades e exigências qualitativas aparecem, as quais são ligadas a difusão de um novo estilo de vida que se manifesta por: • Rejeição de responsabilidade ou ineficiência de alguma solução energética, é o caso da iluminação a vela ou candeeiros a querosene que é rejeitada quando as pessoas descobrem a luz elétrica. • A emergência de novos tipos de necessidades as quais o pessoal da zona rural pode aplicar soluções insatisfatórias. PROBLEMÁTICA DA ELETRIFICAÇÃO RURAL A produtividade das soluções energéticas tradicionais, que foram satisfatórias no passado como resposta às necessidades de um sistema agrário convencional, tornam-se agora insuficientes: A ESCOLHA DE UMA SOLUÇÃO E DIFUSÃO NÃO É FÁCIL. • Existem BARREIRAS INSTITUCIONAIS que se relacionam diretamente com as instituições governamentais ou empresariais que têm o poder de decisão para que a energia seja acessível a todos. • Estas decisões muitas vezes são guiadas por interesses econômicos ou políticos. PRINCIPAIS BARREIRAS • As barreiras que dificultam o acesso às fontes de energia mais nobres por parte da população rural mais empobrecida, ainda não foram superadas em sua totalidade. • Geralmente estas populações estão localizadas em lugares afastados, dispersos e de difícil acesso. • As BARREIRAS CULTURAIS por um lado envolvem às pessoas que nunca tiveram acesso à energia elétrica as quais têm dificuldades na adoção de uma nova tecnologia. De outro lado, uma das dificuldades provêm da denominada “cultura empresarial” que, em muitos casos, considera como algo marginal levar a energia elétrica às áreas rurais. PRINCIPAIS BARREIRAS PRINCIPAIS BARREIRAS • Uma das principais barreiras são as ECONÔMICAS as quais se relacionam com a renda muito baixa da população rural e a falta de oportunidades para gerá-la. • Existem também barreiras de ordem TECNOLÓGICA que se derivam das dificuldades encontradas no meio rural para ter acesso ao conhecimento. Isto envolve a transferência tecnológica, a disponibilidade de mão de obra qualificada e o acesso a materiais, ferramentas e acessórios adequados. PRINCIPAIS BARREIRAS • As BARREIRAS IDEOLÓGICAS têm relação com os valores, as idéias e as concepções que regem o inter-relacionamento pessoal. Assim por exemplo, a discussão das relações entre a energia e o desenvolvimento envolve questões como: Que tipo de sociedade desejamos? Que modelo de desenvolvimento se deveria seguir? Os projetos devem ser concebidos com fins produtivos? PRINCIPAIS BARREIRAS • Definir ideologia é uma tarefa muito complexa e difícil de levar a bom termo. • Eagleton em seu livro “Ideologia” (1997) consigna diversas definições: “Um corpo de ideias característico de um determinado grupo ou classe social” “Ideias que ajudam a legitimar um poder político dominante” “Comunicação sistematicamente distorcida” “O veiculo pelo qual atores sociais conscientes entendem o seu mundo” “O meio pelo qual os indivíduos vivenciam suas relações com uma estrutura social” “Ocultamento da realidade sem apelar à violência” IDEOLOGIA Marilena Chauí (“O Que é Ideologia”, 1980/2012): “Ideologia é um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política” Federico Morante (Tese de Doutorado, 2004, p. 74): “Pode-se dizer que ideologia é o conjunto de ideias enraizadas no mais profundo do espírito humano e aceitas como verdades absolutas, a ponto de dirigir a ação de uma pessoa ou grupo social”. “Uma vez assimiladas essas supostas verdades, dificilmente haverá espaço para outras e, muito pelo contrario, se tentará convencer as demais pessoas de que a percepção da realidade enunciada é a única e a melhor”. IDEOLOGIA • No Brasil, em 26 de abril de 2002 foi publicada a lei 10.438 que dispõe a universalização do serviço de energia elétrica. • A seguir, em 29 de abril de 2003 a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) emitiu a Resolução No 223 que estabelece as condições gerais para elaboração dos planos de universalização de energia elétrica e também regulamenta os artigos 14 e 15 da lei 10.438 ÍNDICE DE ATENDIMENTO DO MUNICÍPIO ANO MÁXIMO PARA ALCANÇAR A UNIVERSALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO Ia > 96,00% 2004 90,00% < Ia ≤ 96,00% 2006 83,00% < Ia ≤ 90,00% 2008 75,00% < Ia ≤ 83,00% 2010 65,00% < Ia ≤ 75,00% 2012 53,00% < Ia ≤ 65,00% 2014 Ia ≤ 53,00% 2015 Índices de atendimento municipal (Ia) e metas para alcançar a universalização. Até 2015 as empresas concessionárias deverão cumprir as metas de eletrificar 100% dos domicílios incluindo os localizadas nas zonas rurais. Sob este marco legal, qualquer cidadão pode solicitar o serviço de energia elétrica sem ônus e pagando somente seu consumo segundo as tarifas vigentes. UNIVERSALIZAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA Acesso ao Programa • “Os consumidores que ainda não têm energia elétrica em casa devem se dirigir à distribuidora local para fazer seu pedido de instalação. Esta solicitação será incluída no programa de obras das distribuidoras e atendida de acordo com as prioridades estabelecidas no manual de operacionalização do Programa e pelo Comitê Gestor Estadual (CGE). • Dessa forma, todos os projetos, idéias, avaliações e determinações são discutidos e definidos por esse colegiado. O objetivo é fazer com que o Programa atenda de forma justa as demandas do beneficiário final”. PROGRAMA LUZ PARA TODOS O “Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica - Luz para Todos" Legislação: Portaria NO 38 Resolução223 Portaria NO 447 Decreto 4.873 Lei 10.762 Protocolo de Adesão Resolução 459 Lei 10.438 22/05 – Portaria NO 115/2006 • Projetos de eletrificação rural paralisados, por falta de recursos, que atendam comunidades e povoados rurais; • Municípios com Índice de Atendimento a Domicílios inferior a 85%, calculado com base no Censo 2000; • Municípios com Índice de Desenvolvimento Humano inferior à média estadual; • Comunidades atingidas por barragens de usinas hidrelétricas ou por obras do sistema elétrico; • Projetos que enfoquem o uso produtivo da energia elétrica e que fomentem o desenvolvimento local integrado. PRIORIDADES DO LUZ PARA TODOS • Escolas públicas, postos de saúde e poços de abastecimento d’água; • Assentamentos rurais; • Projetos para o desenvolvimento da agricultura familiar ou de atividades de artesanato de base familiar; • Atendimento de pequenos e médios agricultores; • Populações do entorno de Unidades de Conservação da Natureza; e • Populações em áreas de uso específico de comunidades especiais, tais como minorias raciais, comunidades remanescentes de quilombos e comunidades extrativistas. PRIORIDADES DO LUZ PARA TODOS COMENTARIOS FINAIS • Os modelos de desenvolvimento socioeconômico implantados no Mundo, ao longo do século XX, tiveram como característica marcante provocar o êxodo rural devido a que, para serem viáveis, precisaram da concentração das populações em grandes centros urbanos. • Nestes modelos os sistemas de distribuição de energia são centralizados e requerem um alto fator de carga. Isto também acaba originando grandes agrupamentos industriais ou comerciais, além de aglomerações residenciais em pequenos espaços territoriais. • A conseqüência disso, as populações rurais localizadas de forma dispersa e afastadas das redes de distribuição até agora não podem ser atendidas em seus requerimentos energéticos: Assim sendo, esses modelos e o tipo de sociedade criada são sustentáveis e conseguirão se manter ao longo do tempo? DISCUSSÃO EM SALA DE AULA Análise da dissertação de mestrado de GABRIEL HENRIQUE KLEBIS FREITAS: “Eletrificação e mudanças socioculturais: um estudo sobre a implantação do Programa “Luz para Todos” na aldeia Guarani Urui-ty” DELIMITAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA • A pesquisa pretendeu responder a alguns questionamentos acerca de mudanças quem vem ocorrendo em sociedades indígenas a partir da eletrificação. • O trabalho de campo foi realizado na sub-etnia Guarani Mbya da aldeia Urui-ty, localizada próxima à cidade de Miracatu, São Paulo. • A eletrificação nessa aldeia ocorreu em 2009, promovida pelo Programa “Luz para Todos”. • A partir desse fato houve o contato dos indígenas com tecnologias de informação, o que gradativamente torna intenso e engendra novos hábitos e mudanças na sociedade entre eles. HIPÓTESE E METODOLOGIA • A pesquisa utilizou o método etnográfico com observação participante e entrevista aberta. • Houve duas visitas: uma, de 10 a 30 de Julho de 2010 e outra, de 8 a 21 do mês de Janeiro de 2011, perfazendo um total de 35 dias. • A hipótese desta pesquisa consistiu no fato de que a introdução da rede de energia elétrica teria causado alterações na organização social destes indígenas e que, por isso, tiveram que fazer reelaborações culturais, reestruturando valores, rituais, temporalidades e relações comunitárias. LOCALIZAÇÃO DA ALDEIA Mapa da aldeia Guarani Urui-ty, localizada no círculo coma letra A. Rodovia Padre Manoel da Nobrega, Km 38. Mapa da cidade de Miracatu, indicado no balão com a letra A. OBSERVAÇÕES DE CAMPO • Por meio da pesquisa na comunidade Guarani Urui-ty pode-se perceber que a rede elétrica com seus inúmeros postes e fiação causavam incômodos visuais em muitos indígenas, pois a tecnificação da aldeia Urui-ty para os mais idosos tirava seu caráter “sagrado”. Foto tirada em Julho de 2010 por Gabriel Klebis: Rede de eletrificação no interior da aldeia Guarani Urui-ty. Foto tirada em Janeiro de 2011 por Gabriel Klebis: Residência com eletrificação e antena parabólica na aldeia Guarani Urui-ty – Vale do Ribeira - SP OBSERVAÇÕES DE CAMPO • Existem apenas três antenas parabólicas na aldeia instaladas na casa do cacique, outra na casa da mãe do cacique e outra na casa de um professor indígena. • Estas casas se tornaram um novo ponto de sociabilidade entre homens e mulheres, pois eles se reúnem para assistir seus Programas favoritos. • No horário do futebol, reúnem-se apenas homens e mulheres adolescentes e no horário de novelas se reúnem apenas mulheres. • “Observei também na aldeia que havia três fogões em bom estado de uso, mas colocados do lado de fora da casa, em condições de deterioração”. • “A compra de fogões começou com um indivíduo da aldeia. Outros também fizeram as suas aquisições, entretanto a maior dificuldade foi com a questão do gás. Além da dificuldade de transporte do gás até a aldeia que era feito por táxi, havia também a dificuldade de subir o botijão de gás da rodovia até o topo do morro onde fica a aldeia, o que demandava muito esforço físico”. • “Ressalta-se que o transporte encarecia em 30% o preço do gás. Para a comunidade Guarani Urui-ty, este encarecimento do transporte do gás foi o principal fator que levou ao descarte dos fogões”. • “Verifica-se que, neste caso, há a dificuldade de acesso à energia, no caso representada pelo gás, para o uso dos fogões”. Fonte: Gabriel Klebis, 2012 OBSERVAÇÕES DE CAMPO Foto tirada em Janeiro de 2011 por Gabriel Klebis - modo tradicional guarani de se cozer alimentos, juntando madeira para combustão junto ao solo na aldeia Guarani Urui-ty. OBSERVAÇÕES DE CAMPO Foto tirada em Julho de 2010 por Gabriel Klebis – fogões a GLP descartados sendo deteriorados pelo tempo, na aldeia Guarani Urui-ty. OBSERVAÇÕES DE CAMPO Foto tirada em Julho de 2010 por Gabriel Klebis: Escola da aldeia Guarani Urui-ty. OBSERVAÇÕES DE CAMPO • A escola guarani tem sido uma atuante educativa do bom uso dos equipamentos eletro-eletrônicos utilizando-os como forma de valorização e fortalecimento da identidade étnica guarani e na promoção da melhor aprendizagem. Fotos tiradas em Julho de 2010 por Gabriel Klebis: Computador e televisor na escola da aldeia Guarani Urui-ty. OBSERVAÇÕES DE CAMPO • Na escola Guarani Urui-ty as crianças têm contato com programas educativos, pois nas televisões de suas casas assistem somente filmes, shows e desenhos assistidos em DVD. • Na escola as crianças e adolescentes dispõem de vídeos sobre ecologia, história, vídeos de geografia que enfatizam diferentes paisagens do Brasil e do mundo, bem como as vegetações do Brasil. Foto tirada em Janeiro de 2011 por Gabriel Klebis - Geladeira e ventilador da escola da aldeia Guarani Urui-ty. OBSERVAÇÕES DE CAMPO CONCLUSÕES • Em linhas gerais verificou-se que a eletrificação e conseqüentes usos de tecnologia de informação e comunicação, promoveram conflitos e benefícios culturais reconhecidos pelos próprios Guarani Mbya. • Esses conflitos mostram-se, principalmente em relação às práticas rituais e à percepção de paisagem e do espaço, relações coletivas que passam por mudanças em confronto com hábitos individualizantes. • Novas necessidades são por meio dessa etnia relatada, desigualdade de renda entre esses indígenas passa a ter um papel central na sociedade em razão da aquisição de produtos tecnológicos. QUESTIONÁRIO 1. Qual sua opinião sobre a eletrificação através do Programa “Luz ParaTodos” em reservas indígenas? 2. De acordo com sua visão qual foi a principal mudança sociocultural acontecida na aldeia Guarani Urui-ty após a eletrificação através do Programa “Luz Para Todos”? Justifique. 3. O contato dos jovens com as novelas está causando um sério conflito na aldeia? Especifique. 4. Segundo um jovem da aldeia quais seriam os motivos da aversão a filmes de terror transmitidos na TV? 5. Por quê motivo a “casa de reza” da aldeia Guarani Urui-ty não foi eletrificada?
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