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r e v i s t a FA E B U S I N E S S , n .5, abr. 2003 26 G es tã o CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO: dificuldades e oportunidades CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO: dificuldades e oportunidades Informações na elaboração de estratégias exportadoras fazem a diferença na conquista do mercado externo No mundo verde e amarelo dos negócios existe atualmente uma situação bastante comum: a maioria dos empresários quer exportar. Motivos para isso não faltam: constante valorização da moeda estrangeira, ampla discussão sobre o tema “exportação” realizada pela imprensa escrita e falada e, sem dúvida alguma, a renovada credibilidade no interesse do governo brasileiro em criar alternativas que estimulem cada vez mais as vendas externas. O governo vem desenvolvendo esforços para aumentar ainda mais a base das exportações, destacando-se: a ampliação dos acordos comerciais, a promoção do produto e da marca brasileira no mundo, a redução da burocracia, a disseminação da cultura exportadora pelo país, a busca de novos mercados e a capacitação de pessoal técnico para trabalhar com o comércio exterior. Na esteira da expectativa nacional e em uma dezena de outras razões positivas, o processo de exportação deveria ser uma condição estratégica de todas as empresas brasileiras. Constata-se, porém, que a prática é muito diferente da teoria e aqui não cabe aquele famoso ditado popular “Querer é poder”. Querer não é poder As empresas querem exportar, mas uma das dificuldades permanentes nesse processo é a falta da cultura exportadora, aliada à total falta de informação, que é a base da estratégia de mercado. Um exemplo marcante dessa dificuldade aconteceu quando ministrava aulas para alguns alunos europeus de intercâmbio e um deles perguntou por que havia tanta preocupação no Brasil em se demonstrar a importância e a necessidade brasileira de exportar. Explicou o aluno que, em seu país de origem, os processos de vendas internacionais eram comuns e as empresas já produziam com objetivo de atender o mercado doméstico e as vendas externas, como uma conseqüência natural para o crescimento e a sobrevivência da organização. João Emilio Thomaz Granato r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n.5, abr. 2003 ... 27 Infelizmente, em um mercado como o brasileiro, de dimensões continentais, os empresários desenvolvem estratégias exclusivas para atender o mercado interno, que de forma alguma é desprezível, mas com isso esquecem ou deixam para segundo plano a possibilidade de resultados através da exportação. Muito lentamente essa visão está mudando e, aos poucos, as pequenas e médias empresas estão buscando um caminho comum para o difícil ingresso no mercado internacional, onde se deslumbra uma alternativa viável, não somente para incrementar faturamento, mas principalmente para aumentar a competitividade de seus produtos nos mercados interno e externo. Por outro lado, também é consenso que a busca desse caminho comum apresenta-se como uma barreira cultural pela falta de conhecimento, amedrontando e ao mesmo tempo criando uma passividade nos empresários, que não sabem como proceder para chegar ao mercado externo. Este é um questionamento freqüente: Como fazer chegar ou mesmo colocar o produto e/ou serviço no exterior? ou ainda Como transferir o produto ao consumidor final? A lógica é simples: “vender” é uma atividade à qual todo fabricante ou produtor está habituado e, por conseguinte, essa prática não se altera em relação ao tipo de mercado, seja doméstico ou externo. Evidentemente, algumas regras são modificadas, como, por exemplo, o idioma e os aspectos culturais e religiosos de cada nação, o resto é estratégia, vontade e organização administrativa para vencer novos desafios. P rocedimentos Para as empresas estabelecerem alguns procedimentos e se prepararem para seguir nesse mercado, exigir-se-á delas uma avaliação detalhada de sua estratégia de penetração no mercado internacional. Uma vez identificado o mercado alvo, a possibilidade de comercializar com o exterior obrigará as empresas a encontrar respostas mais concretas em relação ao(s): • objetivos da empresa nesse mercado (rentabilidade, volume de vendas pretendido); • tipos de produtos destinados a esse mercado (adaptações); • grau de controle que a empresa pretende exercer sobre a sua engenharia de vendas (posicionamento em relação aos níveis de intermediação); • investimento e orçamento para o desenvolvimento do mercado escolhido; • cultura e hábitos de compra dos consumidores locais; • tradição e natureza do mercado alvo; • legislação, aspectos jurídicos e tributários do mercado em análise; • disponibilidade e custos estimados dos serviços de distribuição; • perspectivas da ampliação do market-share e crescimento desse mercado; • barreiras tarifárias e técnicas a serem enfrentadas no alcance do mercado indicado. Após essa avaliação inicial, caberá à empresa decidir o formato de sua comercialização e como irá administrar os canais de distribuição dos seus produtos. Conceitualmente existem apenas duas modalidades para realizar uma exportação: a direta e a indireta. Exportação direta Sob o aspecto comercial, o exportador será responsável pelos contatos com o comprador no exterior, respondendo a cotações e preparando ofertas que contenham todas as particularidades da futura venda até a concretização do negócio. Sob o aspecto operacional, será responsável pela manufatura dos documentos nacionais e internacionais, bem como estará obrigado a conhecer as normas administrativas e fiscais e também as questões de logística internacional que envolvam o transporte e o seguro, estando atento aos aspectos cambiais e participando ativamente do processo fiscal e aduaneiro (figura 1). As empresas querem exportar, mas uma das dificuldades nesse processo é a falta da cultura exportadora, aliada à total falta de informação, que é a base da estratégia de mercado V e n d e - d o r F a b r i - c a n t e C o n s u - m i d o r C o m p r a - d o r P r o d u - t o r D i s t r i - b u i d o r E x p o r - t a d o r I m p o r - t a d o r F IGURA 1 - NEGOCIAÇÃO DIRETA “SEM” AUXÍLIO INTERMEDIÁRIO r e v i s t a FA E B U S I N E S S , n .5, abr. 2003 28 G es tã o Exportação indireta Sob o aspecto comercial, o exportador deixará de ser responsável pelo conhecimento de mercado e de suas particularidades. Sem intenção de alcançar os importadores diretamente, estará optando por vendas realizadas através de um interveniente. Esse interveniente poderá ser uma empresa comercial que tem em seu objeto social, dentre outros, a exportação. Sob o aspecto operacional, as vendas a esses intervenientes serão conduzidas sob a denominação “com fim específico de exportação”, em que deverá ser observada a peculiaridade dos tratamentos fiscais para esse tipo de operação. Também será de responsabilidade do interveniente a prova ao fabricante e/ou produtor da efetiva saída do produto para o exterior, além da manufatura de documentos, dos cuidados com a logística e câmbio, sem esquecer os processos aduaneiros (figura 2). Independentemente do conceito teórico, deve ser evidente para as empresas que definem estrategicamente a opção de se tornarem exportadoras que, para atuar em diferentes mercados e com diferentes tipos de consumidores finais, também serão diferentes as formas de comercialização. Formação de preços Os canais de distribuição são apenas pontes onerosas entre o exportador e o consumidor, conforme alguns exemplos evidenciados na figura 3. O foco da venda de exportação deve estar voltado para o consumidor final. Este deverá ser o alvo de qualquer exportador. A estratégia não será completa, se o exportador não conseguir enxergar o usuário de seu produto ou serviço. Traduzindo essa análise para um formatomais simples, a resposta a uma dúvida freqüente de como alcançar o mercado externo, baseada em uma definição do melhor canal de distribuição do produto, ensejará uma engenharia de formação de preço de venda. O conceito atual na formação de qualquer preço de venda, principalmente nos preços de exportação, se expressa na fórmula: Ou seja, o valor que o mercado se predispõe a pagar (consumidores) menos o lucro (empresa exportadora) é igual ao custo com o qual se tem que produzir e distribuir o produto e/ou serviço para ser vendido. A aplicação dessa fórmula somente será possível após visitas de campo aos mercados-alvo, presença como visitante e expositor em feiras internacionais, participação em missões comerciais, leitura de literatura técnica sobre o produto e mercado, análise da concorrência local e internacional e navegação pela Internet para conhecer o consumidor, o produto e, por último, o mercado que se pretende atuar. Ao final desse estudo, cada empresa receberá, como prêmio pelo trabalho e pela pesquisa de campo, informações que subsidiarão o caminho a ser seguido para alcançar o mercado importador. V e n d e - d o r F a b r i - c a n t e C o n s u - m i d o r C o m p r a - d o r P r o d u - t o r D i s t r i - b u i d o r E x p o r - t a d o r I m p o r - t a d o r F IGURA 2 - NEGOCIAÇÃO INDIRETA “COM” AUXÍLIO INTERMEDIÁRIO ( I N T E R V E N I E N T E ) T r a d i n g C o m p a n y C o m e r - c i a l E x p o r - t a d o r a MERCADO – LUCRO = CUSTO DE FABRICAÇÃO + DISTRIBUIÇÃO Torna-se uma ameaça a escolha arbitrária do canal de distribuição, proveniente da falta de profissionalismo da empresa que quer exportar sem angariar as informações necessárias para realizar seu planejamento estratégico de preparação para ingresso no mercado externo No Brasil, os empresários desenvolvem estratégias exclusivas para atender o mercado interno, esquecendo-se das possibilidades de resultados através da exportação r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n.5, abr. 2003 ... 29 A oportunidade mais evidente para estabelecer o melhor canal de distribuição será o nível de participação e interesse da empresa na realização de exportação. Quanto mais informações obtiver, mais preparada estará para definir por um canal, pois deterá sob seu domínio o grau de controle sobre a intermediação, para a tomada de decisão de como atuar com seu produto no mercado internacional. Por outro lado, tornar-se-á uma ameaça constante a escolha arbitrária do canal de distribuição, proveniente da falta de profissionalismo da empresa que quer exportar sem angariar as informações necessárias para realizar seu planejamento estratégico de preparação para ingresso no mercado externo. Impossível afirmar quando uma empresa, que não investiu nesse processo de coleta de informações estratégicas, conseguirá ou não exportar, conseguirá ou não sucesso além fronteira. Mas é possível afirmar que o grande segredo internacional não está na venda e sim na compra, acrescido do domínio do canal de distribuição. João Emilio Thomaz Granato é mestre em Administração, professor da FAE Business School e sócio-gerente da TWS Assessoria em Comércio Exterior e Despachos Aduaneiros Ltda. E-mail: joao_emilio@trendways.com.br Dessa forma, os compradores estrangeiros bem preparados criam canais de distribuição que permitem gerar lucros em outros países, enfraquecendo o valor agregado das exportações e contribuindo cada vez mais para o achatamento da cultura de exportação brasileira. O mercado externo é para gigantes e, para crescer nesse segmento, é preciso acreditar na exportação e perceber que os consumidores preferem também os produtos made in Brazil. Assim, o ditado popular será uma realidade: “Queremos e podemos exportar!” E x p o r t a d o r E x p o r t a d o r E x p o r t a d o r E x p o r t a d o r E x p o r t a d o r C o n s u m i d o r C o n s u m i d o r C o n s u m i d o r C o n s u m i d o r C o n s u m i d o r F IGURA 3 - ALTERNATIVAS DE CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO Rock Jobbing C o n s i g n a ç ã o V a r e j i s t a s Filial no exterior V a r e j i s t a s Máster franchise F r a n c h i s e Portais de venda pela Internet A t a c a d i s t a s Lojas especializadas Cadeias de lojas de departamento Agente / representante I m p o r t a d o r Empresa de venda por corresp. I m p o r t a d o r e s Varejistas especializados diversos Consórcios de exportação Filial de venda do consórcio Trading companies / Com. exportadora Importador Centrais de compra privadas Cooperativas de varejistas Organizações de compra (governo) Cadeias de lojas do governo Distribuidor exclusivo A t a c a d i s t a s V a r e j i s t a s i n d e p e n d e n t e s ν
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