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r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .1 , nov. 2001 ... 1 EXPORT AÇÕES: entraves e oportunidades EXPORT AÇÕES: entraves e oportunidades Boa estratégia de exportação pode superar entraves e garantir à empresa espaço no competitivo mercado global A concorrência global já não permite que as empresas adotem uma abordagem país a país para os negócios internacionais. Um concorrente com orientação global supera provavelmente as vantagens competitivas iniciais ao cobrir os mercados mundiais com produtos similares, em período de tempo mais curto. A década de 90, no Brasil, foi marcada por um processo de transformação da economia caracterizado pela participação do país no processo de globalização. A abertura econômica significou a integração das empresas nos mercados internacionalizados, dos meios de comunicação, dos transportes, das áreas financeira, produtiva e comercial, o que vem exigindo do governo posturas ora protecionistas ora mais liberais para administrar os saldos da balança comercial. Poucos sabem que o Brasil tem a quarta indústria aeronáutica do mundo, ocupando atualmente o primeiro lugar, em faturamento, na pauta de exportação. Essa posição favorável, porém, não é ocupada pelas demais áreas de produção. A participação no competitivo mercado internacional pressupõe que as empresas brasileiras estejam preparadas para enfrentar os desafios do mercado externo. Como Exportar? Praticamente qualquer produto pode ser exportado. Todavia, como conseqüência direta para as exportações brasileiras, tem-se que a simples percepção do consumidor quanto à qualidade e valor atribuído a um bem tende a ser fator subjetivo que acaba por se transferir para sua decisão de compra, interferindo no preço do produto. Nesse sentido, a imagem do país como produtor pouco qualificado, com produtos deficientes, sem marca reconhecida e com empresas que entram no mercado internacional somente como aventureiras, acaba contribuindo para os números menos favoráveis do comércio exterior brasileiro. O grande problema das empresas que pretendem exportar é conseguir as informações sobre o mercado externo. Enquanto no mercado interno é suficiente conhecer o cadastro do comprador, para exportar é precondição avaliar também o cadastro do país comprador, seu risco político e cambial (lembram da moratória do México?), suas peculiaridades legais, sua estrutura econômica, sua dívida externa, entre outros fatores. Artur Nappo Dalla Libera r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .1, nov. 2001 A m b ie nt e Ec on ôm ic o 2 Essa não é uma tarefa muito fácil, porque para se obter um bom cadastro é necessário despender recursos. Infelizmente os empresários brasileiros são arredios a esses gastos com informações cadastrais, preferindo correr riscos desnecessários. Para obter todas as informações necessárias para iniciar o processo de exportação, a empresa precisa ter uma pessoa experiente em exportação. Hoje no Brasil poucos profissionais estão capacitados para atuar de forma estratégica nesse ambiente externo, o que pode ser um grande agravante para a empresa, porque não se aceita aventureiro no mercado externo. Atitudes amadoras poderão comprometer a empresa como um todo. Outro ponto é que o domínio do inglês ou do idioma do importador é o caminho natural para evitar constrangimentos, mal- entendidos ou dificuldades de concretização dos negócios. Entraves Muitos empresários só aceitam exportar se o preço de venda for maior que o preço referência do mercado interno. Não pensam a longo prazo e só se lembram de exportação quando suas vendas estão baixas no mercado interno. É preciso tomar cuidado com isso, pois não se deve considerar a exportação como um tapa-buraco momentâneo para compensar eventuais reduções de vendas internas. Esse procedimento pode se transformar em uma grande decepção para a empresa. Ela precisa respeitar as diferenças entre o mercado interno e externo e não simplesmente comparar preços, pois cada país tem sua concorrência, e os produtos devem ser adequados às características de cada país. A instabilidade cambial no Brasil, principalmente nestes últimos anos, também pode ser considerada como um grande entrave ao processo de exportação. Esse fato é crítico, pois quando se está iniciando a negociação com o importador e formando o preço para a exportação, considera-se a taxa cambial daquele momento ou daquele dia em que se está fechando o negócio. Esse é um ponto crítico, pois na realidade deve- se considerar a taxa de câmbio da data de recebimento da exportação (liquidação do contrato de câmbio) e isso na maioria das vezes não é fácil de prever, principalmente com as turbulências cambiais do Brasil, o que pode comprometer todo o planejamento da empresa. Para tanto, deve-se analisar muito bem o mercado cambial antes de definir o preço de exportação, evitando, assim, problemas futuros, pois se o preço ficar abaixo do previsto, será muito difícil aumentá-lo depois do fechamento do negócio. Pensando em exportação, necessariamente a escolha da modalidade de transporte e do porto ou aeroporto de embarque da mercadoria é de extrema importância no planejamento financeiro da empresa. Os altos custos portuários e a burocracia de desembaraço aduaneiro são grandes problemas, principalmente para pequenas e médias empresas. A taxa média de embarque de um produto destinado à exportação no Brasil gira em torno de R$ 500,00 por contêiner. Exportar: atividade estratégica A exportação deve ser uma atividade estratégica para a empresa, e o empresário deve ter consciência de que as vendas externas só começam a ter resultado a médio prazo, sendo necessário um planejamento financeiro para não compromenter o capital de giro da empresa. Antes de ingressar no mercado externo, algumas perguntas devem ser respondidas: No Brasil, poucos profissionais estão capacitados para atuar de forma estratégica no mercado externo O empresário deve ter consciência de que as vendas externas só começam a ter resultado a médio prazo r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .1 , nov. 2001 ... 3 • Meu produto precisa de atributos especiais para venda no mercado externo? Na maioria das vezes sim, devendo a empresa fazer as adaptações exigidas pelo mercado. Se essas mudanças acarretarem novos investimentos na produção, verifique a viabilidade desses investimentos e o retorno que a exportação pode lhe proporcionar. • A empresa tem condição de continuar produzindo no mercado interno e externo simultaneamente? Não pense em exportação como uma única venda, pois isso conseqüentemente irá elevar o custo de produção. Ao iniciar a exportação, defina a parcela de produção para o mercado externo, mesmo que seja apenas 1%, e mantenha esse índice estável até perceber que pode ampliá- lo com segurança. • Como devo escolher o canal de distribuição? Contrato um agente ou posso exportar por meio de um intermediário? Esse é um outro grande entrave ao processo, pois poucas empresas conhecem o mercado externo. Às vezes são convencidas a exportar por um agente externo que está procurando fornecedores. Muito cuidado com esses agentes! Nunca exporte sem ter informações sobre a empresa importadora. A escolha correta do agente ou do intermediário requer uma pesquisa prévia, tempo e dinheiro. Conhecer o mercado que se almeja atingir, estabelecer o segmento de mercado em que se pretende atuar, identificar as especificidades do produto que o mercado deseja e definir o agente de exportação são alguns fatores que devem ser analisados antes de se iniciar uma exportação. O frágil conhecimento dessas variáveis são grandes entraves ao processo de exportação. Com certeza, as exportações brasileiras ganhariam maior dinamismo se houvesse no Brasil incentivos e órgãos de apoio para contribuir nessa importante e necessária pesquisainicial. As transformações em processo no setor produtivo estão alterando as políticas econômicas e sociais das nações e configurando uma nova geografia do poder, fundamentada na capacidade competitiva das empresas instaladas em países, regiões ou blocos econômicos. Essa nova ordem econômica tem como característica a capacidade de as empresas atenderem a um conjunto dinâmico de requisitos, como satisfação dos clientes, preços, prazos, flexibilidade, serviços pós-venda, inovação e criação de novas oportunidades para esses clientes, estejam eles localizados na cidade vizinha ou no outro lado do mundo. O mercado externo vai ser cada vez mais uma peça fundamental dentro dessa nova ordem econômica de integração e competição global. Mas, cuidado, porque a exportação é como um plano de vôo e não admite erros. “Não se aventure em um vôo (exportação) se você não tem uma meta (objetivo), um plano de vôo (plano de marketing), conhecimento das turbulências (barreiras à exportação), combustível (recursos) e instrumentação (suporte técnico e experiência).” Artur Nappo Dalla Libera é economista, mestre e doutorando em Gestão de Negócios pela UFSC e professor da FAE Business School. E-mail: arturl@fae.edu
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