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(_ _ M A R IO G . S C H A P IR O D A V ID M . TR U B E K I1I\ D IR E IT O E UM DIALOGO ENTRE os BRICS ORGANIZADORES DESENVOLVIMENTO Esta obra integra aColecio Direito,Desenvolvim ento eJustica,coorde- nada porJosé Rodrigo Rodriguez,e faz parte da linha de pesquisa "Di- reitos dos Negécios eDesenvolvim ento Econém ico eSocial",desenvo1- vida peia DIREITO GV. Foiavaliada e aprovada pelos m em bros do * Conselho Editorialdesta Coleqéoz Alexandre da M aia (U FPE):Pem am buco. Anténio José M aristrello Porto (D ireito R io):Rio de Janeiro. Antonio M oreira Maués (UFPA):Paré. G ustavo Feitosa (UFO ):Cearé. Gustavo Ferreira Santos (UFPE):Pem am buco. Ivo G ico Jr.(U C B):Brasilia. M arcus Faro de Castro (UnB):Brasilia. Série Scilange Silva Teles (M ackenzie):S20 Paulo. Ednw ra Vera Karam de C hueiri(U FPR ):Parana D|re|toDesenvolvimentojustiga S a ra lv a 2012 L II _ Q 55E:E‘;=5 D IR E ITO G V (_ _ M A R IO G . S C H A P IR O D A V ID M . TR U B E K I1I\ D IR E IT O E UM DIALOGO ENTRE os BRICS ORGANIZADORES DESENVOLVIMENTO Esta obra integra aColecio Direito,Desenvolvim ento eJustica,coorde- nada porJosé Rodrigo Rodriguez,e faz parte da linha de pesquisa "Di- reitos dos Negécios eDesenvolvim ento Econém ico eSocial",desenvo1- vida peia DIREITO GV. Foiavaliada e aprovada pelos m em bros do * Conselho Editorialdesta Coleqéoz Alexandre da M aia (U FPE):Pem am buco. Anténio José M aristrello Porto (D ireito R io):Rio de Janeiro. Antonio M oreira Maués (UFPA):Paré. G ustavo Feitosa (UFO ):Cearé. Gustavo Ferreira Santos (UFPE):Pem am buco. Ivo G ico Jr.(U C B):Brasilia. M arcus Faro de Castro (UnB):Brasilia. Série Scilange Silva Teles (M ackenzie):S20 Paulo. Ednw ra Vera Karam de C hueiri(U FPR ):Parana D|re|toDesenvolvimentojustiga S a ra lv a 2012 L II _ Q 55E:E‘;=5 D IR E ITO G V O direito maspoliticos sociais brasileiras; um estudo sobre o Program a Bolsa Fam ilia* Diogo R.C outinho 1.lntrodugéo Especialistas afirm aram que se alguém se dedicara estudaras prin- cipais m udancas ocorridas na sociedade brasileira na prim eira década do século XXI,poderia chama-lade“décadadareducao dadesigualdade de renda ou da equalizagao de resultados".A década de 1990 teria sido a da “conquista da estabilidade econom ica“e a de 1980 a “década da redemocratiza<_;éio”1. De fato,desde o ano de 2001 nao apenas a pobreza,mas tam bém a desigualdade de renda,m edida pelo coeficiente Gini,vém dim inuindo de form a inédita no Brasilz.Entre 2001 e 2008,provavelm ente pela prim eira * Este texto corresponde a relatorio parcialproduzido no am bito da pesquisa Lands — law and the new developm entalstate,coordenada porDavid Trubek (Universidade de W isconsin,M adison,EUA).Para mais inform acoes sobre essa investigacao,ver0size http://1aw.wisc.edu/gls/lands.htm l. ' M arcelo Nerietal.M iséria ea nova classe m edia na década.da des1lg'u.alda- de,2008.Publicacao do Centro de Politicas Socials,Instituto Brasileiro de Eco- nom ia,Fundagao Getulio Vargas.Disponivelem: <htI:p://www.fgv.br/cps/desi- gualdade>.Acesso em:14 set.2010,p.13. 2 Para m edira distribuicao e a desigualdade de renda no Brasilsao utilizados dois indicadores:0 indice Gini,para m edira distribuicao pessoalda renda,e a participacao dasrendas do trabalho no PIB,param ediradistribuigao funcional (ou global)da renda.No caso brasileiro,0 indice G inié calculado com base na PNAD (PesquisaNacionalporAm ostra de Dom icilios,do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - IBGE).Com o a quase totalidade das rendas declara- dasna PNAD correspondem arendas do trabalho eatransferéncias pfiblicas,a O direito maspoliticos sociais brasileiras; um estudo sobre o Program a Bolsa Fam ilia* Diogo R.C outinho 1.lntrodugéo Especialistas afirm aram que se alguém se dedicara estudaras prin- cipais m udancas ocorridas na sociedade brasileira na prim eira década do século XXI,poderia chama-lade“décadadareducao dadesigualdade de renda ou da equalizagao de resultados".A década de 1990 teria sido a da “conquista da estabilidade econom ica“e a de 1980 a “década da redemocratiza<_;éio”1. De fato,desde o ano de 2001 nao apenas a pobreza,mas tam bém a desigualdade de renda,m edida pelo coeficiente Gini,vém dim inuindo de form a inédita no Brasilz.Entre 2001 e 2008,provavelm ente pela prim eira * Este texto corresponde a relatorio parcialproduzido no am bito da pesquisa Lands — law and the new developm entalstate,coordenada porDavid Trubek (Universidade de W isconsin,M adison,EUA).Para mais inform acoes sobre essa investigacao,ver0size http://1aw.wisc.edu/gls/lands.htm l. ' M arcelo Nerietal.M iséria ea nova classe m edia na década.da des1lg'u.alda- de,2008.Publicacao do Centro de Politicas Socials,Instituto Brasileiro de Eco- nom ia,Fundagao Getulio Vargas.Disponivelem: <htI:p://www.fgv.br/cps/desi- gualdade>.Acesso em:14 set.2010,p.13. 2 Para m edira distribuicao e a desigualdade de renda no Brasilsao utilizados dois indicadores:0 indice Gini,para m edira distribuicao pessoalda renda,e a participacao dasrendas do trabalho no PIB,param ediradistribuigao funcional (ou global)da renda.No caso brasileiro,0 indice G inié calculado com base na PNAD (PesquisaNacionalporAm ostra de Dom icilios,do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - IBGE).Com o a quase totalidade das rendas declara- dasna PNAD correspondem arendas do trabalho eatransferéncias pfiblicas,a 74 J D/ogo/‘T’.Coot/n/'20 vezna historia de um dos paisesm ais desiguais do m undo,osricos perde- ram e os pobres ganharam .O coeficiente Gini,que em 2001 era iguala 0,59,decresceu constantem ente,chegando a 0,55 em 2008.Nesse perio- do,a renda dos 10% m ais pobres cresceu seis vezes m ais rapido que a renda dos 10% m ais ricosa.Em 2009 0 G inibrasileiro,que foium dosm ais altos do m undo no finalda década de 1980‘,baixou a 0,54.Durante esse m esm o periodo,tim idam ente,aeconom ia cresceu em m édia 3,3% ao ano. Ha autores que,diante desse cenario,sugerem que 0 Brasil,m es- m o com indices ainda m uito elevados de desigualdade (sobretudo entre as rendas do detentores de capitale dos trabalhadores assala- riados), vem experim entando um ciclo virtuoso de crescim ento com binadocom reducao da desigualdades.Esse ciclo,na pratica,es- taria transform ando estruturalm ente o W elfare State brasileiro°, desigualdade m edida pelo Gininao éinteiram ente adequada para revelaradis- tribuioao da renda entre trabalhadores,de um lado,eem presarios,banqueiros, latifundiarios,proprietarios de bens/im oveis alugados eproprietarios de titulos piiblicos e privados,de outro.Como explica Joao Sicsfi,“lslegundo dados do IBGE asom a dos salérios edas rem uneragoes de autonom os,em 2005,atingiu 58,4% ;em 2006,58,9% ;e,em 2007,59,4% .O IBGE ainda nao divulgou dados de 2008 e 2009.Contudo,é possivelcalcularosm im eros para esses anos com base na Pesquisa M ensalde Em prego enas Contas Nacionais Trim estrais,am - bas do IBGE.O técnico do Ipea Estévao Kopschitz estim ou que,em 2008,0 valoralcancado foide 60,1% ;em 2009,foide 62,3% ".lsso revelaria,para Sicsfi, um “m ovim ento positivo dadistribuicao funcionaldarenda favoravelaostraba- lhadores nos filtim os anos",que se som aria a queda do coeficiente Gini(Joao Sicsu,Nfim eros da distribuicao de renda,Folha de S.Paulo,13-10-2010). ° Ricardo Paes de Barros,M irela de Carvalho,Sam uelFranco e Rosane M endon- ca,A im portancia da queda recente da desigualdade na redugao da pobreza, 2007. 1256 Texto para Discussdo Ipea — Institute de Pesquisa Econém ica Aplicada,p.16.Verainda SergeiS.D.Soares,O ritm o da queda da desigualda- de no Brasil,2010.30Revista de Eccm om ia Politica 8,p.368. ‘ O coeficiente Ginichegou a0,63 em 1989. 5‘ Renato Boschi,Estado desenvolvim entista no Brasil: continuidades e incerti- dum bres,2010.2Ponto de Vista,p.24. Sobre aideia de um Estado de Bem -Estarno Brasil,m arcado pelo forte papeldo govem o no desenvolvim ento da dinam ica capitalista de industrializacao tardia e naregulaqaodastransform acoessociaiscomoum tipo distinto doEstadodeBem - EstarSocialeuropeuclassico,oriundo dasrevolugoesburguesas,verS.M.Draibe, W elfare State no Brasil:caracteristicas eperspectivas,1993,8 Caderno de Pes- quisas doNiicleo deEstudosdePoliticas Pziblicas— NEPP,Universidade Esta- dualde Campinas,p.7.Paraum adiscussaoarespeito dostracospeculiaresdesse W elfare State brasileiro,verL.Aureliano eS.Draibe,aespecificidade do W elfare State brasileiro,inM PAS/Cepal.Ecorwm ia edeserwolvim ento:reflexoes sobre anatureza do bem-estar,v.1,Brasilia,MPAS/Cepal,1989. I iFl1I1 O d/re/tonaspo//htas soc/a/'5 bras//E/ras.um estudo sobre 0 Program a 50/5a Fam i//a Dimikoem Debate 75 historicam ente centralizado,segm entado e elitista,porm eio de um a “expansao da fronteira social”. Aum entos do gasto em educacao,increm entos reaisno salario m inim o, investirnentos em capacitacao para otrabalho,program as de m icrocrédito, alteragoesnosm ecanism os contributivos daprevidéncia social,acom bina- cao de transferéncias governam entais focalizadas com program as univer sais,estabilidade,inflacao baixa eapossibilidade de expansao do m ercado interno e de insergao com petitiva seriam ,nesse contexto,atributos de um novo padrao de desenvolvim ento m arcado pela inclusao socialsim ultanea ao crescim ento.O utros autores sugerem que esse ciclo virtuoso se distin- guiria do desenvolvim entism o do peziodo de substituigao de im portacoes pornao trazerconsigo certos tracos negativos de estatism o7. M esm o que se afirm e que nao ha evidéncias suficientem ente robustas para concluirque o Brasilvive de fato um ciclo de desenvolvim ento que se possadesignarqualitativam ente com onovo,pode-se com algum a seguranca dizerque osganhos de equidade que 0 Brasilalcancou na ultim a década re- sultam de um a conjungao de cenarios econom icos,iniciativas epoliticas pu- blicas,dentre asquais o Program a Bolsa Fam ilia (PBF),criado no Brasilem 2003 edesde entao em processo de im plem entacao e3.p€I'f€iQ03.1Tl€1'1tOs. 7 O “novo ativism o estatal",diferentem ente de seu antecessordirigista,seria m ar- cado porestruturas politicas descentralizadas,que perm item liberdade de aqao nos niveis regionale local.Além disso,nesse novo padrao de acao publica,as relacoescom osetorprivado nao passam maispelaim posicao,pelo poderpubli- co,de estratégias com petitivas para 0 setorprivado.Porm eio de um dialogo publico-privado perm anente ecooperativo sao estim ulados einduzidos setores da econom ia ligados a inovagao e as nova.s tecnologias.Porfun,no cam po da politica social,estaria em curso asubstituicao do padrao de intervencao m arca- do porrelaqoes clientelistas que direcionava recursos do consum o para oinves- tim ento.Um novo tipo de politica social,que privilegia osm ais pobres sem per- dasde desem penho econom ico ou m aioresim pactos fiscais,estaria sendo forja- do.Exem plos disso seriam ,nos ultim os quinze anos,as reform as dos servigos sociais basicos com o saiide pfiblica,educacao,seguranca sociale a expansao sem precedentes de beneficios direcionados aosmais pobres.VerGlauco Arbix e ScottB.M artin,Beyond developm entalism and m arketfundam entalism in Brazil:inclusionarystate activism withoutstatism ,2010,paperpresented at the W orkshop on “States,developm ent,and globalgovernance" GlobalLegal Studies Center and the Center for W orld Affairs and the Global Econom y (W AGE),University ofW isconsin,M adison.Um a discussao teorica do novo de- senvolvim entism o naAm erica Latina verLuiz Carlos Bresser-Pereira,From old to new developm entalism in Latin Am erica, 2009,disponivelem: <http:// www.bresserpereira.org.br/papers/2009/09.08.New_Developm entalism Latin_ Am erica-TD193.pdf>.Acesso em:13 out.2010. 5 ParaNeri,“arenda dotrabalho explica 66,86% dareducao dadesigualdade entre 2001 e2008,aseguirvém osprogram associais,com destaque aoBolsaFam ilia e seu antecessorBolsa Escola,que explicam 17% da redugao da desigualdade, enquanto osbeneficiosprevidenciarios explicam l5,72% da desconcentracao de 74 J D/ogo/‘T’.Coot/n/'20 vezna historia de um dos paisesm ais desiguais do m undo,osricos perde- ram e os pobres ganharam .O coeficiente Gini,que em 2001 era iguala 0,59,decresceu constantem ente,chegando a 0,55 em 2008.Nesse perio- do,a renda dos 10% m ais pobres cresceu seis vezes m ais rapido que a renda dos 10% m ais ricosa.Em 2009 0 G inibrasileiro,que foium dosm ais altos do m undo no finalda década de 1980‘,baixou a 0,54.Durante esse m esm o periodo,tim idam ente,aeconom ia cresceu em m édia 3,3% ao ano. Ha autores que,diante dessecenario,sugerem que 0 Brasil,m es- m o com indices ainda m uito elevados de desigualdade (sobretudo entre as rendas do detentores de capitale dos trabalhadores assala- riados), vem experim entando um ciclo virtuoso de crescim ento com binado com reducao da desigualdades.Esse ciclo,na pratica,es- taria transform ando estruturalm ente o W elfare State brasileiro°, desigualdade m edida pelo Gininao éinteiram ente adequada para revelaradis- tribuioao da renda entre trabalhadores,de um lado,eem presarios,banqueiros, latifundiarios,proprietarios de bens/im oveis alugados eproprietarios de titulos piiblicos e privados,de outro.Como explica Joao Sicsfi,“lslegundo dados do IBGE asom a dos salérios edas rem uneragoes de autonom os,em 2005,atingiu 58,4% ;em 2006,58,9% ;e,em 2007,59,4% .O IBGE ainda nao divulgou dados de 2008 e 2009.Contudo,é possivelcalcularosm im eros para esses anos com base na Pesquisa M ensalde Em prego enas Contas Nacionais Trim estrais,am - bas do IBGE.O técnico do Ipea Estévao Kopschitz estim ou que,em 2008,0 valoralcancado foide 60,1% ;em 2009,foide 62,3% ".lsso revelaria,para Sicsfi, um “m ovim ento positivo dadistribuicao funcionaldarenda favoravelaostraba- lhadores nos filtim os anos",que se som aria a queda do coeficiente Gini(Joao Sicsu,Nfim eros da distribuicao de renda,Folha de S.Paulo,13-10-2010). ° Ricardo Paes de Barros,M irela de Carvalho,Sam uelFranco e Rosane M endon- ca,A im portancia da queda recente da desigualdade na redugao da pobreza, 2007. 1256 Texto para Discussdo Ipea — Institute de Pesquisa Econém ica Aplicada,p.16.Verainda SergeiS.D.Soares,O ritm o da queda da desigualda- de no Brasil,2010.30Revista de Eccm om ia Politica 8,p.368. ‘ O coeficiente Ginichegou a0,63 em 1989. 5‘ Renato Boschi,Estado desenvolvim entista no Brasil: continuidades e incerti- dum bres,2010.2Ponto de Vista,p.24. Sobre aideia de um Estado de Bem -Estarno Brasil,m arcado pelo forte papeldo govem o no desenvolvim ento da dinam ica capitalista de industrializacao tardia e naregulaqaodastransform acoessociaiscomoum tipo distinto doEstadodeBem - EstarSocialeuropeuclassico,oriundo dasrevolugoesburguesas,verS.M.Draibe, W elfare State no Brasil:caracteristicas eperspectivas,1993,8 Caderno de Pes- quisas doNiicleo deEstudosdePoliticas Pziblicas— NEPP,Universidade Esta- dualde Campinas,p.7.Paraum adiscussaoarespeito dostracospeculiaresdesse W elfare State brasileiro,verL.Aureliano eS.Draibe,aespecificidade do W elfare State brasileiro,inM PAS/Cepal.Ecorwm ia edeserwolvim ento:reflexoes sobre anatureza do bem-estar,v.1,Brasilia,MPAS/Cepal,1989. I iFl1I1 O d/re/tonaspo//htas soc/a/'5 bras//E/ras.um estudo sobre 0 Program a 50/5a Fam i//a Dimikoem Debate 75 historicam ente centralizado,segm entado e elitista,porm eio de um a “expansao da fronteira social”. Aum entos do gasto em educacao,increm entos reaisno salario m inim o, investirnentos em capacitacao para otrabalho,program as de m icrocrédito, alteragoesnosm ecanism os contributivos daprevidéncia social,acom bina- cao de transferéncias governam entais focalizadas com program as univer sais,estabilidade,inflacao baixa eapossibilidade de expansao do m ercado interno e de insergao com petitiva seriam ,nesse contexto,atributos de um novo padrao de desenvolvim ento m arcado pela inclusao socialsim ultanea ao crescim ento.O utros autores sugerem que esse ciclo virtuoso se distin- guiria do desenvolvim entism o do peziodo de substituigao de im portacoes pornao trazerconsigo certos tracos negativos de estatism o7. M esm o que se afirm e que nao ha evidéncias suficientem ente robustas para concluirque o Brasilvive de fato um ciclo de desenvolvim ento que se possadesignarqualitativam ente com onovo,pode-se com algum a seguranca dizerque osganhos de equidade que 0 Brasilalcancou na ultim a década re- sultam de um a conjungao de cenarios econom icos,iniciativas epoliticas pu- blicas,dentre asquais o Program a Bolsa Fam ilia (PBF),criado no Brasilem 2003 edesde entao em processo de im plem entacao e3.p€I'f€iQ03.1Tl€1'1tOs. 7 O “novo ativism o estatal",diferentem ente de seu antecessordirigista,seria m ar- cado porestruturas politicas descentralizadas,que perm item liberdade de aqao nos niveis regionale local.Além disso,nesse novo padrao de acao publica,as relacoescom osetorprivado nao passam maispelaim posicao,pelo poderpubli- co,de estratégias com petitivas para 0 setorprivado.Porm eio de um dialogo publico-privado perm anente ecooperativo sao estim ulados einduzidos setores da econom ia ligados a inovagao e as nova.s tecnologias.Porfun,no cam po da politica social,estaria em curso asubstituicao do padrao de intervencao m arca- do porrelaqoes clientelistas que direcionava recursos do consum o para oinves- tim ento.Um novo tipo de politica social,que privilegia osm ais pobres sem per- dasde desem penho econom ico ou m aioresim pactos fiscais,estaria sendo forja- do.Exem plos disso seriam ,nos ultim os quinze anos,as reform as dos servigos sociais basicos com o saiide pfiblica,educacao,seguranca sociale a expansao sem precedentes de beneficios direcionados aosmais pobres.VerGlauco Arbix e ScottB.M artin,Beyond developm entalism and m arketfundam entalism in Brazil:inclusionarystate activism withoutstatism ,2010,paperpresented at the W orkshop on “States,developm ent,and globalgovernance" GlobalLegal Studies Center and the Center for W orld Affairs and the Global Econom y (W AGE),University ofW isconsin,M adison.Um a discussao teorica do novo de- senvolvim entism o naAm erica Latina verLuiz Carlos Bresser-Pereira,From old to new developm entalism in Latin Am erica, 2009,disponivelem: <http:// www.bresserpereira.org.br/papers/2009/09.08.New_Developm entalism Latin_ Am erica-TD193.pdf>.Acesso em:13 out.2010. 5 ParaNeri,“arenda dotrabalho explica 66,86% dareducao dadesigualdade entre 2001 e2008,aseguirvém osprogram associais,com destaque aoBolsaFam ilia e seu antecessorBolsa Escola,que explicam 17% da redugao da desigualdade, enquanto osbeneficiosprevidenciarios explicam l5,72% da desconcentracao de 7 6 ‘ D lfE liO em D fi b fi tfi D /‘O 90 R C o u h h /7 0 O PBF serve am ais de 12 m ilhoes de fam ilias etem sido considerado um a politica barata (seu custo estim ado é de 0,35% do PIB brasileiro)9 e eficazno com bate apobreza ena reducao da desigualdadew.Além dis- so, seu graude focalizacao é considerado bom (80% dos recursos do Bolsa Fam flia chegam aos23% m ais pobres“),tendo em vista sua am pli- tude geografica,sua com plexidade adm inistrativa em im ero de benefici- arios a que se dirige. O PBF éum a transferéncia de renda condicionada (conditionalcash transfer,ou COT) que beneficia fam flias pobres com renda m ensalpor pessoa entre R$ 70 (US$ 4112)eR$ 140 (US$ 82).Sao quatro osbenefi- cios previstos:bdsico (R$ 68 ou US$ 40,pago as fam ilias consideradas extrem am ente pobres,com renda m ensalde até R$ 70 ou US$ 41 por pessoa,m esm o que elas nao tenham criangas,adolescentes ou jovens), varicivel(R$ 22 ou US$ 13,pago as fam ilias pobres,com renda m ensal de até R-$ 140 porpessoa,desde que tenham criancas e adolescentes de até 15 anos,sendo que cada fam ilia pode receberaté trés beneficios va- riaveis),oaridveloinculado ao nfim ero de adolescentes no dom icflio (R$ 33 ou US$ 19,5,pago a todas asfam ilias do PBF que tenham adoles- centes de 16 e 17 anos frequentando a escola,sendo que cada fam jlia pode receberaté dois beneficios variaveis vinculados ao adolescente)e beneficio varidvelde caraterextraordincirio,cujo valoré calculado caso a caso.Para obterastransferéncias de renda,osbeneficiarios de- vem cum prircondicionalidadesnasareasde saude eeducagao. renda"(M arcelo Cortes Neri,A geografia dasfontes de renda,Centro de Poli- ticas Sociais,Fundagao Getulio Vargas,2010). 9 SergueiSoares,RafaelPerezRibaseFabioVerasSoares,TargetingandCovera- ge ofthe Bolsa Fam flia Program m e:why knowing whatyou m easure isim por- tantin choosing the num bers,71 InternationalPolicy Centrefor Inclusive G rowth (IPC-IG ) W orking Paper,2010,p.5.A porcentagem refere-se ao ano de 2006. ‘° Linden.m enciona,com base na PNAD de 2004,que o PBF folresponsive!por algo em torno do 20-25% da “im pressionante"reduoao da desigualdade recente no Brasilepor16% da recente reduqao da pobreza (Kathy Lindert,AniaLinder, Jason HobbseBénédicte de la Brier.The nutsand boltsofBrazil'sBolsaFam ilia Program:implementating conditionalcash transfers in decentralized context, 2007,0709SocialProtection W ord BcmlcPaper,p.6). " Referido porFabio Veras Soares,em entrevista conceclida a revista brasileira Epoca,em 6 denovem bro de 2008 (O Bolsa Fam flia precisaserampliaclo evirar um direito do pobre. Disponivelem: <httpJ/revistaepoca.globo.comfRevista/ Epocall,,EM l16729-15254,00.htm l>.Acessado em 18out.2010.Verainda Fabio VerasScares.RafaelPerezRibaseRafaelGuerreiro Osorio,"Evaluating the Im- pactofBrazil'sBolsa Fam itia:cashtransferprogrammesin comparative pers- pective,2007,1IPC (11-ue1'nationalPo'uerty Center)Evaluation Note. '2 US$ 1=R3 1,7,aproximadamente. 1|lI1I O d/re/tonaspo//1/cassoc/a/S bras/76/ras um estudo p _ Sobre 0 Program a Bo/5a Fam ///a D"E't°em Debate 77 Naareadesaude,asfanuliascadastradasaoPBF assumem ocom pro- m isso de vacinare acom panharo crescim ento de criangas m enores de 7 anos.M ulheres na faixa de 14 a 44 anos tam bém devem subm eter-se ao acom panham ento m édico e,se estiverem na condigao de gestantes ou lactantes, devem realizar o exam e pré-natale 0 acom panham ento de sua safide,bem com o da saude da crianca.Na area de educacao,todas as criangas e adolescentes entre 6 e 15 anos devem estarm atriculados em escolas e devem terfrequéncia m ensalm inim a de 85% da carga ho- raria.Estudantes entre 16 e 17 anos devem terfrequéncia de,no m ini- m o,75% da carga horaria“. Em bora os conditional cash transfers sejam considerados um a criacao latino-am ericana evenham sendo adotados porvarios paises em diferentes continentes,pode-se dizerque PBF possuicertas caracteris- ticas que o tornam notavelno universo das transferéncias de renda con- dicionadas voltadas para osm ais pobres.Esses elem entos distintivos do PBF seriam,resum idam ente,sualarga escala,seum ecanism o de gestao descentralizada,a utilizagao de mecanismos de estim ulo ao desempe- nho adm inistrative dos M unicipios que dele participam ,seu papelde “politica socialintegradora"“ e o fato de poderserdescrito como um “laboratorio naturalde inovacao"‘5. O PBF teria ainda provocado um a ruptura na tradicao de politicas sociais brasileiras ao se firm arcomo 0 principalprogram a brasileiro de reducao dapobreza.Ele distinguiria,porisso,menosporsetratarde um CCT e mais porpassara “m onopolizara politica dirigida a populacao pobre em um paisquepossuium a dasmaisamplas,institucionalizadas e burocratizadaspoliticasdeassisténciasocialaessapopulaqao dirlgida”"*. Se é de fato verdadeiro que o PBF vem introduzindo inovaqoes de politica egestao publicas,quais seriam asfeiooesjuridicas dessas ino- vacoes? Tais caracteristicas ou tracos juridicos seriam tam bém inova- dores em relacao ao padrao historico de politica socialno Brasil? Com o 13 Além disso,crianqas e adolescentes com até 15 anos em risco ou retiradas do trabalho infantildevem participardosServicosde Convivéncia eFortalecim ento de Vinculos (SCFV)do Peti(Program a de Erradicaqao do Trabalho lnfantil) e obterfrequéncia m inim a de 85% da carga horaria m ensal. “ Bastaglilem bra que CCTspodem sercom binados com outraspoliticas no cam - po da assisténcia socialcom afnalidade de transform ararranjos fragm entarios em sistem as inclusivos de politica social.Francesca Bastagli,From socialsafety netto socialpolicy? The role ofconditionalcash transfers in welfare state deve- lopm entin latin am erica,60InternationalCenterforInclusive G rowth (IPC ) W orking Paper,2009,p.2. 15 Linden:etal.The Nuts and bolts ofBrazil’sBolsa Fam ilia Program ,p.2. “‘ S. M . D raibe, Brasil: Bolsa Escola y Bolsa Fam ilia, in E. C ohen e R. Franco (coords.),Tranferencias con corresponsabilidad:una rnirada latinoam erica- na,M éxico:Flacso,2006,p.137-178. 7 6 ‘ D lfE liO em D fi b fi tfi D /‘O 90 R C o u h h /7 0 O PBF serve am ais de 12 m ilhoes de fam ilias etem sido considerado um a politica barata (seu custo estim ado é de 0,35% do PIB brasileiro)9 e eficazno com bate apobreza ena reducao da desigualdadew.Além dis- so, seu grau de focalizacao é considerado bom (80% dos recursos do Bolsa Fam flia chegam aos23% m ais pobres“),tendo em vista sua am pli- tude geografica,sua com plexidade adm inistrativa em im ero de benefici- arios a que se dirige. O PBF éum a transferénciade renda condicionada (conditionalcash transfer,ou COT) que beneficia fam flias pobres com renda m ensalpor pessoa entre R$ 70 (US$ 4112)eR$ 140 (US$ 82).Sao quatro osbenefi- cios previstos:bdsico (R$ 68 ou US$ 40,pago as fam ilias consideradas extrem am ente pobres,com renda m ensalde até R$ 70 ou US$ 41 por pessoa,m esm o que elas nao tenham criangas,adolescentes ou jovens), varicivel(R$ 22 ou US$ 13,pago as fam ilias pobres,com renda m ensal de até R-$ 140 porpessoa,desde que tenham criancas e adolescentes de até 15 anos,sendo que cada fam ilia pode receberaté trés beneficios va- riaveis),oaridveloinculado ao nfim ero de adolescentes no dom icflio (R$ 33 ou US$ 19,5,pago a todas asfam ilias do PBF que tenham adoles- centes de 16 e 17 anos frequentando a escola,sendo que cada fam jlia pode receberaté dois beneficios variaveis vinculados ao adolescente)e beneficio varidvelde caraterextraordincirio,cujo valoré calculado caso a caso.Para obterastransferéncias de renda,osbeneficiarios de- vem cum prircondicionalidadesnasareasde saude eeducagao. renda"(M arcelo Cortes Neri,A geografia dasfontes de renda,Centro de Poli- ticas Sociais,Fundagao Getulio Vargas,2010). 9 SergueiSoares,RafaelPerezRibaseFabioVerasSoares,TargetingandCovera- ge ofthe Bolsa Fam flia Program m e:why knowing whatyou m easure isim por- tantin choosing the num bers,71 InternationalPolicy Centrefor Inclusive G rowth (IPC-IG ) W orking Paper,2010,p.5.A porcentagem refere-se ao ano de 2006. ‘° Linden.m enciona,com base na PNAD de 2004,que o PBF folresponsive!por algo em torno do 20-25% da “im pressionante"reduoao da desigualdade recente no Brasilepor16% da recente reduqao da pobreza (Kathy Lindert,AniaLinder, Jason HobbseBénédicte de la Brier.The nutsand boltsofBrazil'sBolsaFam ilia Program:implementating conditionalcash transfers in decentralized context, 2007,0709SocialProtection W ord BcmlcPaper,p.6). " Referido porFabio Veras Soares,em entrevista conceclida a revista brasileira Epoca,em 6 denovem bro de 2008 (O Bolsa Fam flia precisaserampliaclo evirar um direito do pobre. Disponivelem: <httpJ/revistaepoca.globo.comfRevista/ Epocall,,EM l16729-15254,00.htm l>.Acessado em 18out.2010.Verainda Fabio VerasScares.RafaelPerezRibaseRafaelGuerreiro Osorio,"Evaluating the Im- pactofBrazil'sBolsa Fam itia:cashtransferprogrammesin comparative pers- pective,2007,1IPC (11-ue1'nationalPo'uerty Center)Evaluation Note. '2 US$ 1=R3 1,7,aproximadamente. 1|lI1I O d/re/tonaspo//1/cassoc/a/S bras/76/ras um estudo p _ Sobre 0 Program a Bo/5a Fam ///a D"E't°em Debate 77 Naareadesaude,asfanuliascadastradasaoPBF assumem ocom pro- m isso de vacinare acom panharo crescim ento de criangas m enores de 7 anos.M ulheres na faixa de 14 a 44 anos tam bém devem subm eter-se ao acom panham ento m édico e,se estiverem na condigao de gestantes ou lactantes, devem realizar o exam e pré-natale 0 acom panham ento de sua safide,bem com o da saude da crianca.Na area de educacao,todas as criangas e adolescentes entre 6 e 15 anos devem estarm atriculados em escolas e devem terfrequéncia m ensalm inim a de 85% da carga ho- raria.Estudantes entre 16 e 17 anos devem terfrequéncia de,no m ini- m o,75% da carga horaria“. Em bora os conditional cash transfers sejam considerados um a criacao latino-am ericana evenham sendo adotados porvarios paises em diferentes continentes,pode-se dizerque PBF possuicertas caracteris- ticas que o tornam notavelno universo das transferéncias de renda con- dicionadas voltadas para osm ais pobres.Esses elem entos distintivos do PBF seriam,resum idam ente,sualarga escala,seum ecanism o de gestao descentralizada,a utilizagao de mecanismos de estim ulo ao desempe- nho adm inistrative dos M unicipios que dele participam ,seu papelde “politica socialintegradora"“ e o fato de poderserdescrito como um “laboratorio naturalde inovacao"‘5. O PBF teria ainda provocado um a ruptura na tradicao de politicas sociais brasileiras ao se firm arcomo 0 principalprogram a brasileiro de reducao dapobreza.Ele distinguiria,porisso,menosporsetratarde um CCT e mais porpassara “m onopolizara politica dirigida a populacao pobre em um paisquepossuium a dasmaisamplas,institucionalizadas e burocratizadaspoliticasdeassisténciasocialaessapopulaqao dirlgida”"*. Se é de fato verdadeiro que o PBF vem introduzindo inovaqoes de politica egestao publicas,quais seriam asfeiooesjuridicas dessas ino- vacoes? Tais caracteristicas ou tracos juridicos seriam tam bém inova- dores em relacao ao padrao historico de politica socialno Brasil? Com o 13 Além disso,crianqas e adolescentes com até 15 anos em risco ou retiradas do trabalho infantildevem participardosServicosde Convivéncia eFortalecim ento de Vinculos (SCFV)do Peti(Program a de Erradicaqao do Trabalho lnfantil) e obterfrequéncia m inim a de 85% da carga horaria m ensal. “ Bastaglilem bra que CCTspodem sercom binados com outraspoliticas no cam - po da assisténcia socialcom afnalidade de transform ararranjos fragm entarios em sistem as inclusivos de politica social.Francesca Bastagli,From socialsafety netto socialpolicy? The role ofconditionalcash transfers in welfare state deve- lopm entin latin am erica,60InternationalCenterforInclusive G rowth (IPC ) W orking Paper,2009,p.2. 15 Linden:etal.The Nuts and bolts ofBrazil’sBolsa Fam ilia Program ,p.2. “‘ S. M . D raibe, Brasil: Bolsa Escola y Bolsa Fam ilia, in E. C ohen e R. Franco (coords.),Tranferencias con corresponsabilidad:una rnirada latinoam erica- na,M éxico:Flacso,2006,p.137-178. 78 I Direilo em Debate I D/-Ogofi CCU!/nho vém sendo,desde 0 ponto de vistajuridico,construidas e operadas tais inovagoes? Recentem ente,uma hipotese de trabalho para aspesquisasno cam- po dasrelagoesentre direito edesenvolvim ento foiform ulada.Ela cogi- taria da existéncia de um “direito de um Estado neodesenvolvim entis- ta",ao mesmo tem po em que lancaria um desafio de pesquisa em pirica. O bserve David M .'IYubel<": Hoje ha um novo tema em ergindo no campo do direito edesen- volvim ento.Trata-se do possivelsurgim ento de tunnovo Bstado desenvolvim entista [...]esuasimplica<;6esparaodireito.[...]I-la evidéncias de que alguns paises estao retom ando a um papel mais ativo na promoqao de crescim ento e de equidade e um novo corpo teorico esté.surgindo paraauxiliarnessedesenvolvi- m ento esugerirasdirecoesqueeledevetomar.Essasmudancasna teoria ena pratica m erecem nossa atencao porque elas po- dem exigirque repensemos as teorias de direito e desenvolvi- m ento.O quevemosem algunspaisesnaoéum simplesretorno 9.politica de desenvolvim ento eaosmodelosjuridicos do passa- do,masabuscadeum tipo m uito diferente de Estadodesenvol- vim entista daquele que prevaleceu na Asia enaAm erica Latina nasdécadasde 1960 e 1970.Asnovasteoriasenfatizam ovalor daintervencao doEstado,masapontam paraformasm uito dife- rentes de intervencao em relacao aquelas que foram praticadas porm uitasnacoesnopassado.E aescassainform acao em pirica que temossugere que algunspaisesestaofazendo experiéncias com novos tipos de intervencao.Tanto asnovas teorias quanto aspraticas emergentes sugerem a necessidade de novas leis e novos processosjuridicos. ” "Today,there isanew topic em erging in the field oflaw and developm ent.This isthe possible em ergence ofanew developm entalstate [...1and itsim plications for law. [...]There is evidence thatsome countries are retum ing to a m ore active role in prom oting both growth and equity and a new body oftheory is em erging which helps accountforthis developm entand suggests directions it should take.These changes in theory and practice deserve ourattention for they could require rethinking theories oflaw and developm ent.W hatwe see in some countries is nota sim ple retum to the developm ent policy and legal modelsofthepast,butratherasearchforaverydiiiferentkindofdevelopmental state than the one thatprevailed in Asia orLatin America in the 1960s and l9'?0s.W hile the new theories stress the value ofstate intervention,they point to verydifferentform sofintervention thathave beenpracticed bym anynations in the past. And the little em piricaldata thatwe have suggests thatsome countries are experimenting with noveltypes ofintervention.Both the new theoriesand the emerging practicessuggestaneed fornew typesoflawsand legalprocesses“(David M.'I‘rubel-c,Developm entalstates and the legalorder: towards a new politicaleconomy ofdevelopmentand law,2009,1075 Legal Stud-iesResearchPaperSeries,UniversityofW isconsinLaw School,p.2). illl O d/re/lo naspo//T/cossoc/a/'5bras//E/ras urnestudo sobre o Program a Bo/5a Fam ///a Di"eit°em Debate 79 Este artigo procurara identificaralgunsdospapéis do direito em po- liticas sociais.Portras desse exercicio esta a suposicao de que se 0 de- senvolvim ento inegavelm ente depende de boas decisoes politicas e eco- nom icas, ele tam bém é por certo produto de um a bem concertada instrum enta.liza<;ao juridica.Subjacente esta tam bém aprem issa de que 0 direito pode,praticam ente falando,sertanto um elem ento que viabili- za ou catalisa m udangas identificadas com 0 desenvolvim ento, quanto um em pecilho a elas,cristalizando 0 status qua“. Nao é nada trivial,porém ,avancarna identificagao de causalidades entre direito e desenvolvim ento.A0 longo da historia,0 direito,incrus- tado em politicas econom icas e sociais,desem penhou distintos papéis naprom océo deobjetivosptiblicos,easexperiéncias etrajetoriasnacio- nais do século XX ilustram m om entos em que 0 arcabouco juridico foi intensam ente empregado pelo Estado para prom overam odem izacao,o crescim ento,a industrializaoao,o investim ento e,de m odo geral,m u- dancasestruturais,assim como periodos nosquais sua funcao predom i- nante foiim porLimitesaoEstado,protegendo individuos eestim ulando 0 funcionam ento eficiente dos m ercadoslg. Um elem ento que torna aabordagem do tem a m ais dificilé 0 fato de, além de poderserinstrum entalizado para diferentes finalidades em di- ferentes m om entos historicos,0 direito poderinfluenciar,definire insti- tucionalizar os fins aos quais serve, ele proprio, com o m eio. D ireitos, adem ais,podem ser entendidos, ao m esm o tem po, com o requisitos e com o resultados do processo de desenvolvim ento — ou com o am bos.Ha, ainda, 0 cam po pouco explorado das relacoes envolvendo 0 direito e instituigoes.Com o o direito,ele proprio um a instituicao,colabora para m oldare articularinstituigoes cuja agao conduz a resultados desejaveis do ponto de vista de um a certa concepgao de desenvolvim ento? Porisso,0 estudo das re1a<;6es entre direito e desenvolvim ento é m etodologicam ente intrincado.N ele,as dim ensoes historica,politica, " Procureianalisaro m odo com o ax-ran,josjuridico-institucionais concorrem para consolidarsituacoes de desigualdade de renda e oportunidades no Brasilem Diogo R.Coutinho,Linking prom ises to policies:law and developm entin an unequalBrazil,2010,3The Law and DevelopmentReview 2.Aliha tarnbém um exercicio deanalisedoPBF. '9 Para um a periodlzacao a respeito das m udancas do direito e de sens papéis na economiavis-a-visastransformacoesde tiposideaisde Estado,verDavid ‘Pru- bek eAlvaro Santos,Introduction:the third momentin law and development theory and the em ergence ofa new criticalpractice,in David Trubek e Alvaro Santos.The new law and developm ent:acriticalappraisal,New York:Gam- bridge University Press,2006. 78 I Direilo em Debate I D/-Ogofi CCU!/nho vém sendo,desde 0 ponto de vistajuridico,construidas e operadas tais inovagoes? Recentem ente,uma hipotese de trabalho para aspesquisasno cam- po dasrelagoesentre direito edesenvolvim ento foiform ulada.Ela cogi- taria da existéncia de um “direito de um Estado neodesenvolvim entis- ta",ao mesmo tem po em que lancaria um desafio de pesquisa em pirica. O bserve David M .'IYubel<": Hoje ha um novo tema em ergindo no campo do direito edesen- volvim ento.Trata-se do possivelsurgim ento de tunnovo Bstado desenvolvim entista [...]esuasimplica<;6esparaodireito.[...]I-la evidéncias de que alguns paises estao retom ando a um papel mais ativo na promoqao de crescim ento e de equidade e um novo corpo teorico esté.surgindo paraauxiliarnessedesenvolvi- m ento esugerirasdirecoesqueeledevetomar.Essasmudancas na teoria ena pratica m erecem nossa atencao porque elas po- dem exigirque repensemos as teorias de direito e desenvolvi- m ento.O quevemosem algunspaisesnaoéum simplesretorno 9.politica de desenvolvim ento eaosmodelosjuridicos do passa- do,masabuscadeum tipo m uito diferente de Estadodesenvol- vim entista daquele que prevaleceu na Asia enaAm erica Latina nasdécadasde 1960 e 1970.Asnovasteoriasenfatizam ovalor daintervencao doEstado,masapontam paraformasm uito dife- rentes de intervencaoem relacao aquelas que foram praticadas porm uitasnacoesnopassado.E aescassainform acao em pirica que temossugere que algunspaisesestaofazendo experiéncias com novos tipos de intervencao.Tanto asnovas teorias quanto aspraticas emergentes sugerem a necessidade de novas leis e novos processosjuridicos. ” "Today,there isanew topic em erging in the field oflaw and developm ent.This isthe possible em ergence ofanew developm entalstate [...1and itsim plications for law. [...]There is evidence thatsome countries are retum ing to a m ore active role in prom oting both growth and equity and a new body oftheory is em erging which helps accountforthis developm entand suggests directions it should take.These changes in theory and practice deserve ourattention for they could require rethinking theories oflaw and developm ent.W hatwe see in some countries is nota sim ple retum to the developm ent policy and legal modelsofthepast,butratherasearchforaverydiiiferentkindofdevelopmental state than the one thatprevailed in Asia orLatin America in the 1960s and l9'?0s.W hile the new theories stress the value ofstate intervention,they point to verydifferentform sofintervention thathave beenpracticed bym anynations in the past. And the little em piricaldata thatwe have suggests thatsome countries are experimenting with noveltypes ofintervention.Both the new theoriesand the emerging practicessuggestaneed fornew typesoflawsand legalprocesses“(David M.'I‘rubel-c,Developm entalstates and the legalorder: towards a new politicaleconomy ofdevelopmentand law,2009,1075 Legal Stud-iesResearchPaperSeries,UniversityofW isconsinLaw School,p.2). illl O d/re/lo naspo//T/cossoc/a/'5bras//E/ras urnestudo sobre o Program a Bo/5a Fam ///a Di"eit°em Debate 79 Este artigo procurara identificaralgunsdospapéis do direito em po- liticas sociais.Portras desse exercicio esta a suposicao de que se 0 de- senvolvim ento inegavelm ente depende de boas decisoes politicas e eco- nom icas, ele tam bém é por certo produto de um a bem concertada instrum enta.liza<;ao juridica.Subjacente esta tam bém aprem issa de que 0 direito pode,praticam ente falando,sertanto um elem ento que viabili- za ou catalisa m udangas identificadas com 0 desenvolvim ento, quanto um em pecilho a elas,cristalizando 0 status qua“. Nao é nada trivial,porém ,avancarna identificagao de causalidades entre direito e desenvolvim ento.A0 longo da historia,0 direito,incrus- tado em politicas econom icas e sociais,desem penhou distintos papéis naprom océo deobjetivosptiblicos,easexperiéncias etrajetoriasnacio- nais do século XX ilustram m om entos em que 0 arcabouco juridico foi intensam ente empregado pelo Estado para prom overam odem izacao,o crescim ento,a industrializaoao,o investim ento e,de m odo geral,m u- dancasestruturais,assim como periodos nosquais sua funcao predom i- nante foiim porLimitesaoEstado,protegendo individuos eestim ulando 0 funcionam ento eficiente dos m ercadoslg. Um elem ento que torna aabordagem do tem a m ais dificilé 0 fato de, além de poderserinstrum entalizado para diferentes finalidades em di- ferentes m om entos historicos,0 direito poderinfluenciar,definire insti- tucionalizar os fins aos quais serve, ele proprio, com o m eio. D ireitos, adem ais,podem ser entendidos, ao m esm o tem po, com o requisitos e com o resultados do processo de desenvolvim ento — ou com o am bos.Ha, ainda, 0 cam po pouco explorado das relacoes envolvendo 0 direito e instituigoes.Com o o direito,ele proprio um a instituicao,colabora para m oldare articularinstituigoes cuja agao conduz a resultados desejaveis do ponto de vista de um a certa concepgao de desenvolvim ento? Porisso,0 estudo das re1a<;6es entre direito e desenvolvim ento é m etodologicam ente intrincado.N ele,as dim ensoes historica,politica, " Procureianalisaro m odo com o ax-ran,josjuridico-institucionais concorrem para consolidarsituacoes de desigualdade de renda e oportunidades no Brasilem Diogo R.Coutinho,Linking prom ises to policies:law and developm entin an unequalBrazil,2010,3The Law and DevelopmentReview 2.Aliha tarnbém um exercicio deanalisedoPBF. '9 Para um a periodlzacao a respeito das m udancas do direito e de sens papéis na economiavis-a-visastransformacoesde tiposideaisde Estado,verDavid ‘Pru- bek eAlvaro Santos,Introduction:the third momentin law and development theory and the em ergence ofa new criticalpractice,in David Trubek e Alvaro Santos.The new law and developm ent:acriticalappraisal,New York:Gam- bridge University Press,2006. 80 ‘ Direito em Debate I D/ogo FfCouf/hho teérica, em pirica, descritiva e norm ativa facilm ente se confundem e im bricam , im pondo desafios a delim itaqao de pesquisas aplicadas, bem com o a extracao de conclusoes e,no lim ite, a identificacao de solugoes juridicas que possam serreplicadas ou testadas em diferen- tes contextos de desenvolvim ento. M ais do que buscarou definircausalidades,neste artigo busco iden- tificarinferéncias defensaveis”,baseadasno que pode serobsezvado em um certo universo — localizado setorialm ente,no tem po eno espago — de politicas de desenvolvim ento.E m ais para entender0 que o direitofaz do que para entender0 que ele é 21,procuro,enfim ,indutiva e em pirica- m ente,descreverum caso brasileiro que possa oferecerelem entos e al- gum a contribuicao para 0 bem -vindo debate sobre os papéis contem po- raneos do direito no desenvolvim ento. M ais especificam ente,0 objetivo neste artigo seréidentificaralgunspa- péisdesem penhadospelo direito (e pelosjuristas)no PBF.Sem necessaria- m ente procurardem onstrarque ele representa um tipo de politica social propria de um “Estado neodesenvolvim entista“,analisareiseus atributos juridicosprincipalse,sobretudo,procurareidescrever0modocomoodirei- to publico o programa,oferece-lhe uma série de instrumentos de imple- mentacao eoestrutura desdeumaperspectivainstitucional. Para tanto,como exercicio de contextualizacao,0 artigo apresenta, inicialm ente,um panoram a das politicas sociais brasileiras das filtim as décadas. Evidentem ente, essa reconstituicao nao pretende capturar toda acom plexidade historica dessaspoliticas.A periodizacao resum ida servira apenaspara exibirapenas os tragos mais visiveis da construcao paulatina doEstado deBem -EstarSocialbrasiieiro e,também,comoum exercicio prelim inarde identificacao dos papéis de quese ocupou o ar- cabouco juridico de direito piiblico nesse processo.Nem todas as leis e m arcosjuridicos im portantes de cada periodo serao referidos,portanto. Em especial,0 periodo pos-1988 (ano em que 0 pais prom ulgou sua nova Constituigao Federaldepois de duas décadas de ditadura m ilitar) 2° VerJohn K.Ohnesorge,Developing developm enttheory:law and deveopm ent ortodoxiesand the northeastasianexperience,28 U niversity ofPennsylvania JournalofInternationalLaw 2,2007,p.226.Ohnesorge alirm a,com referen- ciasaproposta m etodologica de Alice Am sden,que um a boa form a de produzir um a contribuicao teorica para o debate de direito edesenvolvim ento é,induti~ vam ente,estudarexem plos historicos recentes de sucessos e fracassos econo- micos,delesextraindo inferencias defensaveis lastreadasno que pode serob- servado do funcionam ento do direito nessesepisodios.Talabordagem seoporia aconstrucao demodelo baseadoem hipotesesabstratasvoltadasparaexplicar teoricamenteoprocessodedesenvolvimentoouaconstnicfiodaspoliticasaele associadas. 2‘ David 'I‘rubek,W here the action is:criticallegalstudies and em piricism ,1984, 36 Stanford Law Review,p.587. O d/re/i‘onaspo//2‘/cassoc/a/'5bras//e/ras um estudo ‘ V sobre 0 Program a Bo/sa Fam ///a D"@ 't°Em Debate 81 sera descrito como 0 inicio de um processo de alargam ento de direitos sociais no Brasil.A partirda nova Constittuqao,um m odelo de assistén- cia socialnovo é inaugurado,um sistem a de saiide unificado naciona1- m ente éinstituido easprim eiras transferéncias de renda condicionadas com foco nosmais pobres,criancas,idosos edeficientes saoim plem en- tadas.Naparte seguinte,algumas caracteristicas do PBF que considero relevantescom oconstrucoesjuridico-institucionais serao discutidaspor m eio de categorias de analise antesapresentadas. 2.A politica socialno Brasilentre 1930 e 1988: clientelism o,regressividade,centralizagao e fragm entagao Como sintetizam Birdsalle Szekely,a Am erica Latina,com o regiao mais desigualdo m undo,esta enredada em um ciclo vicioso no qual“o baixo crescim ento contribuiparaapersisténciadapobreza,especia.lmen- te dada aelevada desigualdade,aomesmo tem po que niveis elevadosde pobrezaedesigualdade contribuem paraque ocrescim ento sejabaixo"22. Politicas sociais - sobretudo arranjos previdenciarios contributivos voltadospara trabalhadoresform ais- tém sidoim plem entadasnaAm eri- ca Latina desde que asestratégias nacionais de desenvolvim ento basea- dasnasubstituiqao deim portacoespassaram atentaralterarestrutural- m ente economias prim ordialm ente agrarias, transform anclo-as em sociedades industriais dotadas de algumas instituicoes de bem-estar. Essas politicas,contudo,nao im pediram ,como regra geral,que na re- giao tais arranjos servissern aos interesses das elites politicas,benefi- ciassem sobretudo cidadaos urbanosja incorporados ao m undo do tra- bal.ho e aprofundassem o dualism o que opoe as dim ensoes urbana e rural,m odem aearcaica,form aleinform al.Além dainclustrializacao,na Am erica Latina o processo de substituicao de im portacoes produziu 22 N.Birdsalle M.Szekely,Bootstraps,notband-aids:poverty,equity and social policy,24 C em erforG lobalDevelopm entW orking Paper,p.4.Essadescricao rem ete A ideia de “arm adilha da desigualclade“,cunhada porVijayendra Rao. Em um a situacao em que se vezitica um a arm adilha de clesigualdade “os pobres saopobresporqueosricossaoricos",explica Rao.‘lrata-se cleum ciclo vicioso pelo qualadesigualdade se perpetua perversam ente ou,com o explica Francois Bourguignon,um a situacao em que “toda adistribuicao é estavelporque asva- rias dim ensoes da desigualdade (ern riqueza,podere status social)interagem paraprotegerosricosdamobilidade‘parabaixo',eimpedem ospobresdesubi- rem“.VerV.Rao,On"inequalitytraps"and developmentpolicy,2006;Develop- m entOutreach,February,eF.Bourguignon,F.Ferreira e M.W alton,Equity, efficiencyand inequalitytraps:aresearchagenda,2007,5JournalofEcono- m icInequality,p.235-256. 80 ‘ Direito em Debate I D/ogo FfCouf/hho teérica, em pirica, descritiva e norm ativa facilm ente se confundem e im bricam , im pondo desafios a delim itaqao de pesquisas aplicadas, bem com o a extracao de conclusoes e,no lim ite, a identificacao de solugoes juridicas que possam serreplicadas ou testadas em diferen- tes contextos de desenvolvim ento. M ais do que buscarou definircausalidades,neste artigo busco iden- tificarinferéncias defensaveis”,baseadasno que pode serobsezvado em um certo universo — localizado setorialm ente,no tem po eno espago — de politicas de desenvolvim ento.E m ais para entender0 que o direitofaz do que para entender0 que ele é 21,procuro,enfim ,indutiva e em pirica- m ente,descreverum caso brasileiro que possa oferecerelem entos e al- gum a contribuicao para 0 bem -vindo debate sobre os papéis contem po- raneos do direito no desenvolvim ento. M ais especificam ente,0 objetivo neste artigo seréidentificaralgunspa- péisdesem penhadospelo direito (e pelosjuristas)no PBF.Sem necessaria- m ente procurardem onstrarque ele representa um tipo de politica social propria de um “Estado neodesenvolvim entista“,analisareiseus atributos juridicosprincipalse,sobretudo,procurareidescrever0modocomoodirei- to publico o programa,oferece-lhe uma série de instrumentos de imple- mentacao eoestrutura desdeumaperspectivainstitucional. Para tanto,como exercicio de contextualizacao,0 artigo apresenta, inicialm ente,um panoram a das politicas sociais brasileiras das filtim as décadas. Evidentem ente, essa reconstituicao nao pretende capturar toda acom plexidade historica dessaspoliticas.A periodizacao resum ida servira apenaspara exibirapenas os tragos mais visiveis da construcao paulatina doEstado deBem -EstarSocialbrasiieiro e,também,comoum exercicio prelim inarde identificacao dos papéis de que se ocupou o ar- cabouco juridico de direito piiblico nesse processo.Nem todas as leis e m arcosjuridicos im portantes de cada periodo serao referidos,portanto. Em especial,0 periodo pos-1988 (ano em que 0 pais prom ulgou sua nova Constituigao Federaldepois de duas décadas de ditadura m ilitar) 2° VerJohn K.Ohnesorge,Developing developm enttheory:law and deveopm ent ortodoxiesand the northeastasianexperience,28 U niversity ofPennsylvania JournalofInternationalLaw 2,2007,p.226.Ohnesorge alirm a,com referen- ciasaproposta m etodologica de Alice Am sden,que um a boa form a de produzir um a contribuicao teorica para o debate de direito edesenvolvim entoé,induti~ vam ente,estudarexem plos historicos recentes de sucessos e fracassos econo- micos,delesextraindo inferencias defensaveis lastreadasno que pode serob- servado do funcionam ento do direito nessesepisodios.Talabordagem seoporia aconstrucao demodelo baseadoem hipotesesabstratasvoltadasparaexplicar teoricamenteoprocessodedesenvolvimentoouaconstnicfiodaspoliticasaele associadas. 2‘ David 'I‘rubek,W here the action is:criticallegalstudies and em piricism ,1984, 36 Stanford Law Review,p.587. O d/re/i‘onaspo//2‘/cassoc/a/'5bras//e/ras um estudo ‘ V sobre 0 Program a Bo/sa Fam ///a D"@ 't°Em Debate 81 sera descrito como 0 inicio de um processo de alargam ento de direitos sociais no Brasil.A partirda nova Constittuqao,um m odelo de assistén- cia socialnovo é inaugurado,um sistem a de saiide unificado naciona1- m ente éinstituido easprim eiras transferéncias de renda condicionadas com foco nosmais pobres,criancas,idosos edeficientes saoim plem en- tadas.Naparte seguinte,algumas caracteristicas do PBF que considero relevantescom oconstrucoesjuridico-institucionais serao discutidaspor m eio de categorias de analise antesapresentadas. 2.A politica socialno Brasilentre 1930 e 1988: clientelism o,regressividade,centralizagao e fragm entagao Como sintetizam Birdsalle Szekely,a Am erica Latina,com o regiao mais desigualdo m undo,esta enredada em um ciclo vicioso no qual“o baixo crescim ento contribuiparaapersisténciadapobreza,especia.lmen- te dada aelevada desigualdade,aomesmo tem po que niveis elevadosde pobrezaedesigualdade contribuem paraque ocrescim ento sejabaixo"22. Politicas sociais - sobretudo arranjos previdenciarios contributivos voltadospara trabalhadoresform ais- tém sidoim plem entadasnaAm eri- ca Latina desde que asestratégias nacionais de desenvolvim ento basea- dasnasubstituiqao deim portacoespassaram atentaralterarestrutural- m ente economias prim ordialm ente agrarias, transform anclo-as em sociedades industriais dotadas de algumas instituicoes de bem-estar. Essas politicas,contudo,nao im pediram ,como regra geral,que na re- giao tais arranjos servissern aos interesses das elites politicas,benefi- ciassem sobretudo cidadaos urbanosja incorporados ao m undo do tra- bal.ho e aprofundassem o dualism o que opoe as dim ensoes urbana e rural,m odem aearcaica,form aleinform al.Além dainclustrializacao,na Am erica Latina o processo de substituicao de im portacoes produziu 22 N.Birdsalle M.Szekely,Bootstraps,notband-aids:poverty,equity and social policy,24 C em erforG lobalDevelopm entW orking Paper,p.4.Essadescricao rem ete A ideia de “arm adilha da desigualclade“,cunhada porVijayendra Rao. Em um a situacao em que se vezitica um a arm adilha de clesigualdade “os pobres saopobresporqueosricossaoricos",explica Rao.‘lrata-se cleum ciclo vicioso pelo qualadesigualdade se perpetua perversam ente ou,com o explica Francois Bourguignon,um a situacao em que “toda adistribuicao é estavelporque asva- rias dim ensoes da desigualdade (ern riqueza,podere status social)interagem paraprotegerosricosdamobilidade‘parabaixo',eimpedem ospobresdesubi- rem“.VerV.Rao,On"inequalitytraps"and developmentpolicy,2006;Develop- m entOutreach,February,eF.Bourguignon,F.Ferreira e M.W alton,Equity, efficiencyand inequalitytraps:aresearchagenda,2007,5JournalofEcono- m icInequality,p.235-256. 82 | Direito em Debate D/‘ogoll? C-Duh-nho efeitos concentradores de renda e afetou negativam ente os incentivos para que osgovernos,em presas etrabalhadores investissem m ais inten- sam ente em educacao”.Porisso,praticam ente falando,“a desigualdade é hereditaria na regiao”Z“. 2.1.O perfodo 1930-1964 No Brasil,0 ponto de partida para a estruturacao de um sistem a na- cionalm ente articulado e estatalm ente regulado de protecao socialé 0 ano de 1930,quando 0 pais inicia sua trajetoria de industrializaqao,ur- banizacao e construcao de um a tecnocracia estatal25.Com aascensao de G etulio Vargas ao poder,tem inicio,no plano social,aim plantacao de um m odelo de Estado — essencialm ente corporativista — e de um a estrutura populista de organizacao e regulacéo das relacoes de trabalho e de pre- vidéncia social,sobretudo para as cam adas urbanaszfi. Em 1931 é criado no Brasil0 M inistério do Trabalho,que consolidou as Caixas de Aposentadoria e Pensoes (criadas em 1923),dando origem aos cham ados Institutos de Aposentadorias e Pensoes (lAPs),cada qual voltado para um a corporacao ou categoria profissional". Pelo Decreto n. 19.770,de 1931,foiprom ulgada a cham ada Leide Sindicalizacao,destinada a regulam entaros djreitos de todas as classes patronais eoperarias-napratica,elasedestinavaatransfom iarossi.ndi- catos em “orgaos de colaboracao do Estado”? Essanova legislacao ado- tou o principio da unidade sindical,pelo qualapenas um sindicato por categoria profissionalera reconhecido pelo governo.A sindicalizacao nao era obrigatoria,m as aleiestabelecia que apenas asagrem iacoesreconhe- cidas pelo poderpfiblico poderiam serbeneficiadas pela legislacao social, sendo do M inistério do Trabalho a incum béncia de supervisionar os 2° Stephen Haggard eRobertR.Kaufm an,Developm ent,dem ocracy,and welfa- re states,Princeton University Press,2008,p.9. 2‘ PNUD (Program a dasNacoesUnidaspara0Desenvolvim ento).Actuarsobre el futuro:rom perla transm ision intergeneracionalde la desigualdad,2010,Infor- me Regionalsobre Desarrollo Hum ano para Am érica Latina y elCaribe. 25 S.M.Draibe,W elfare State no Brasil:caracteristicas eperspectivas,p.19. 2° Para u.ma discussao sobre a legislacao socialrelativa aos trabalhadores rurais nesseperiodo,verM arcusDezem one,Legislaqaosocialeapropriagao ca.mp0ne- sa:Vargaseosm ovim entos rurais,2008,21 EstudosHistéricos,42. 2' Em fevereiro de 1938,foicriado 0 Instituto de Previdéncia e Assisténcia aos Servidores do Estado (Ipase) e,apos 1945,os lnstitutos de Aposentadoria e Pensoesexpandiram suasareasde atuacao.Ver0dossié do Centro de Pesquisa e Docum entacio de Historia Contem poranea do Brasil(CPDOC),A Era Var- gas:dos anos 20 a 1945.Disponivelem:<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies. AEraVargas1/apresentacao>.Acesso em:9 de set.2010. 2“ Conform e 0 dossiéA Era Vargas:dos anos20 a 1945. 1I3FI O d/re/tonaspo//ticassoc/a/5 bras/'/r_=/ras.urnestudo ‘ v sobre o Program a Bolsa Farm‘//a D"E't°em Debate 83 sindicatos.Essanorm ajuridicaprocurava,em outraspalavras,criarmeios para tom ar o m ovim ento sindicalcooptado, dependente do Estado, ao determ inarquem teria legitim idade para encam inhardem andas.Paraviabilizaresse m odelo de sindicalism o,0governo fazpassarum a série de novas leis trabalhistas e previdenciarias.Nos anos seguintes fo- ram adotadas iniciativas legislativas e norm ativas no sentido de regula- m entarasrelacoes de trabalho no pais.Entre asm ais im portantes,anova Leide Férias,0 Codigo de M enores,a regulam entagao do trabalho fem i- nino e o estabelecim ento de convencoes coletivas de trabalho”. Jadurante 0Estado Novo3°osalario m inim o foiregulam entado no Bra- sil(1938) e um a nova organizacao sindical, ainda m ais centralizada,foi detalhada pelo Decreto n.1.402,de 1939.Foiassim estruturada,porm eio da reuniao de norm asja existentes e em vigor,a Consolidacao das Leis do Trabalho (CLT),editada em 1943.Até hoje a CLT regula as relacoes de trabalho no pais,norrnatizando aspectos com o identificacao profissional do trabalhador,duracao do trabalho,salario m inim o,férias,seguranca e condigoes de trabalho,trabalho dam ulheredo m enor,contratos de traba- lho,organizacao e contribuicao sindical,ajustica do processo trabalhista. Em 1938 é criado porVargas 0 Conselho Nacionalde Servigo Social (CNSS).Form ado porfiguras ilustres da sociedade culturale da elite brasileira,o CNSS era um orgao consultivo cuja atuacao,m arcada por relacoes clientelistas nas quais os “direitos sociais" eram ,na pratica, tratados com o filantropia e benem eréncia.Em 1942 é criada a Legiao Brasileira de Assisténcia (LBA), orgao brasileiro fundado pela entao prim eira-dam a Darcy Vargas e a partir daipresidido,até sua extincao em 1995,pelas esposas dospresidentes da Republica brasileiros.A LBA que,a rigor,foium a instituicao de caridade,direcionou sua acao as fa- m flias da grande m assa nao previdenciaria com base em preceitos m o- rais e de boa vontade. As inovacoes juridico-institucionais iniciadas na década de 1930 se estendem ,até 1964,quando com eca um novo ciclo,para os cam pos da safide,educacao e,em m enorintensidade,habitaqao e m oradia.O diag- nostico sintético desse pri.m eiro pen'odo (1930-1964),na periodizacao de D raibe“,é de que a politica socialsegue um padrao de incorporacao seletiva,heterogénea e fragm entada,um a vez que a expansao e a cober- tura sociais nao se dao de form a plena e sim ultanea em relacao a todas asareas a que se aplicam ,em relacao aosgrupos sociais que beneficiam e em relagio aos m ecanism os de fnanciam ento com que contavam . 2° Ainda conform e 0 dossiéA Era Vargas:dosanos 20 a 1945. 3° Periodo ditatorial(1937-1945)no qualVargas governou 0 pais sob a égide de um a nova Constituicao,autoritaria ecentralizadora,outorgada porele proprio. 3‘ S.M.Draibe,W elfare State no Brasil:caracteristicas eperspectivas,p.20. 82 | Direito em Debate D/‘ogoll? C-Duh-nho efeitos concentradores de renda e afetou negativam ente os incentivos para que osgovernos,em presas etrabalhadores investissem m ais inten- sam ente em educacao”.Porisso,praticam ente falando,“a desigualdade é hereditaria na regiao”Z“. 2.1.O perfodo 1930-1964 No Brasil,0 ponto de partida para a estruturacao de um sistem a na- cionalm ente articulado e estatalm ente regulado de protecao socialé 0 ano de 1930,quando 0 pais inicia sua trajetoria de industrializaqao,ur- banizacao e construcao de um a tecnocracia estatal25.Com aascensao de G etulio Vargas ao poder,tem inicio,no plano social,aim plantacao de um m odelo de Estado — essencialm ente corporativista — e de um a estrutura populista de organizacao e regulacéo das relacoes de trabalho e de pre- vidéncia social,sobretudo para as cam adas urbanaszfi. Em 1931 é criado no Brasil0 M inistério do Trabalho,que consolidou as Caixas de Aposentadoria e Pensoes (criadas em 1923),dando origem aos cham ados Institutos de Aposentadorias e Pensoes (lAPs),cada qual voltado para um a corporacao ou categoria profissional". Pelo Decreto n. 19.770,de 1931,foiprom ulgada a cham ada Leide Sindicalizacao,destinada a regulam entaros djreitos de todas as classes patronais eoperarias-napratica,elasedestinavaatransfom iarossi.ndi- catos em “orgaos de colaboracao do Estado”? Essanova legislacao ado- tou o principio da unidade sindical,pelo qualapenas um sindicato por categoria profissionalera reconhecido pelo governo.A sindicalizacao nao era obrigatoria,m as aleiestabelecia que apenas asagrem iacoesreconhe- cidas pelo poderpfiblico poderiam serbeneficiadas pela legislacao social, sendo do M inistério do Trabalho a incum béncia de supervisionar os 2° Stephen Haggard eRobertR.Kaufm an,Developm ent,dem ocracy,and welfa- re states,Princeton University Press,2008,p.9. 2‘ PNUD (Program a dasNacoesUnidaspara0Desenvolvim ento).Actuarsobre el futuro:rom perla transm ision intergeneracionalde la desigualdad,2010,Infor- me Regionalsobre Desarrollo Hum ano para Am érica Latina y elCaribe. 25 S.M.Draibe,W elfare State no Brasil:caracteristicas eperspectivas,p.19. 2° Para u.ma discussao sobre a legislacao socialrelativa aos trabalhadores rurais nesseperiodo,verM arcusDezem one,Legislaqaosocialeapropriagao ca.mp0ne- sa:Vargaseosm ovim entos rurais,2008,21 EstudosHistéricos,42. 2' Em fevereiro de 1938,foicriado 0 Instituto de Previdéncia e Assisténcia aos Servidores do Estado (Ipase) e,apos 1945,os lnstitutos de Aposentadoria e Pensoesexpandiram suasareasde atuacao.Ver0dossié do Centro de Pesquisa e Docum entacio de Historia Contem poranea do Brasil(CPDOC),A Era Var- gas:dos anos 20 a 1945.Disponivelem:<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies. AEraVargas1/apresentacao>.Acesso em:9 de set.2010. 2“ Conform e 0 dossiéA Era Vargas:dos anos20 a 1945. 1I3FI O d/re/tonaspo//ticassoc/a/5 bras/'/r_=/ras.urnestudo ‘ v sobre o Program a Bolsa Farm‘//a D"E't°em Debate 83 sindicatos.Essanorm ajuridicaprocurava,em outraspalavras,criarmeios para tom ar o m ovim ento sindicalcooptado, dependente do Estado, ao determ inarquem teria legitim idade para encam inhardem andas. Paraviabilizaresse m odelo de sindicalism o,0governo fazpassarum a série de novas leis trabalhistas e previdenciarias.Nos anos seguintes fo- ram adotadas iniciativas legislativas e norm ativas no sentido de regula- m entarasrelacoes de trabalho no pais.Entre asm ais im portantes,anova Leide Férias,0 Codigo de M enores,a regulam entagao do trabalho fem i- nino e o estabelecim ento de convencoes coletivas de trabalho”. Jadurante 0Estado Novo3°osalario m inim o foiregulam
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