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Guia de Estudos Introdução à Análise do Discurso

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Universidade Estadual
de Santa Cruz
Reitor
Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos 
Vice-reitora
Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro
Pró-reitora de Graduação
Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa
Diretor do Departamento de Letras e Artes
Prof. Samuel Leandro Oliveira de Mattos
Ministério da
Educação
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Ficha Catalográfi ca
M582 Mesquita Filho, Odilon Pinto de.
 Lingüística III : teoria da análise do discurso -
 Letras Vernáculas - EAD, módulo 3, volume 4 / Odilon
 Pinto de Mesquita Filho. – [Ilhéus, BA] : UAB/ UESC,
 [2011].
 230p. : il.
 Inclui referências.
 ISBN: 978-85-7455-221-7
 1. Análise do discurso. 2. Lingüística. I. Título:
 Letras Vernáculas: módulo 3, volume 4.
 CDD 401.41
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Coordenação UAB – UESC
Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado
Coordenação do Curso de Licenciatura em 
Letras Vernáculas (EAD)
Prof. Dr. Rodrigo Aragão
Elaboração de Conteúdo
Prof. Dr. Odilon Pinto de Mesquita Filho
Instrucional Design
Profª. Msc. Marileide dos Santos de Olivera
Profª. Drª. Gessilene Silveira Kanthack
Revisão
Profª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira
Coordenação de Design
Profª. Msc. Julianna Nascimento Torezani
Diagramação
Jamile A. de Mattos Chagouri Ocké
João Luiz Cardeal Craveiro
Capa 
Sheylla Tomás Silva LE
TR
A
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Á
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Ao longo do texto você encontrará alguns boxes com orientações de estudo. A seguir 
descrevo o que cada uma signifi ca e como você deve proceder diante das orientações.
PARA REFLETIR
As pausas para refl exão são pequenas provocações feitas ao longo do texto 
para que você interrompa por alguns minutos a leitura e pense sobre o que está 
sendo estudado. Não é necessário escrever nem debater com seus colegas, mas 
é importante que você pare para refl etir sobre o que está sendo proposto antes 
de dar continuidade à leitura.
ATENÇÃO
Nos boxes em que há o pedido de atenção são apresentadas questões ou 
conceitos importantes para a elaboração de sua aprendizagem e continuidade 
dos estudos.
SAIBA MAIS
Aqui são apresentados trechos de textos que complementam e enriquecem o 
estudo que está sendo realizado.
EXERCÍCIOEXERCÍCIO
Momento de debates sobre questões específi cas. Cada exercício possui uma 
orientação específi ca sobre como deve ser realizado.
LEITURA 
RECOMENDADA/
NECESSÁRIA
São indicações de leituras que contribuem para a complementação e aprofun-
damento dos estudos realizados.
ATIVIDADE
As atividades devem ser realizadas de acordo com as orientações específi cas 
de cada uma.
VOCÊ SABIA?
Esses são boxes que trazem curiosidades a respeito da temática abordada.
UM CONSELHO
Um conselho, uma orientação feita pelo professor a respeito de algo que foi 
dito, auxiliando assim, na construção do conhecimento.
PARA CONHECER
Indicação e referências de autores, fontes de pesquisa, livros, websites, fi lmes 
(curtas-metragens e/ou longas-metragens) etc.
Os desafi os auxiliarão na assimilação e aplicação dos conhecimetnos adquiridos. 
Cada um deles deve ser realizado de acordo com as orientações específi cas.
PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS
DESAFIOSDESAFIOS
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I
II
Sumário
AULA 1: A QUESTÃO DO SENTIDO NA LINGUÍSTICA ESTRUTURAL DE SAUSSURE ..15
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 17
2 PROBLEMAS QUE DERAM ORIGEM À CIÊNCIA LINGUÍSTICA .................................... 18
2.1 O problema do objeto da ciência linguística ................................................. 18
2.2 O problema do signifi cado ou sentido ......................................................... 20
 2.2.1 A arbitrariedade do signo ..................................................................... 21
RESUMINDO ..................................................................................................... 25
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 25
AULA 2: ENUNCIAÇÃO, IDEOLOGIA E SENTIDO .....................................................27
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 29
2 ENUNCIAÇÃO E ENUNCIADO ............................................................................... 30
3 IDEOLOGIA ....................................................................................................... 33
RESUMINDO ..................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 37
AULA 3: O CONCEITO DE DISCURSO ......................................................................39
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 41
2 O DISCURSO ..................................................................................................... 42
RESUMINDO ..................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 49
AULA 4: TEXTO E DISCURSO ..................................................................................51
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 53
2 TEXTO E DISCURSO ........................................................................................... 54
RESUMINDO ..................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 60
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ID
A
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ID
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O QUE É DISCURSO
CONCEITOS TEÓRICOS DA ANÁLISE DE DISCURSO
AULA 1: O SUJEITO ................................................................................................65
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 67
2 O SUJEITO ........................................................................................................68
2.1 Bom sujeito e mau sujeito ........................................................................ 71
2.2 Os esquecimentos .................................................................................... 72
2.3 O autor ................................................................................................. 74
2.4 Polifonia ................................................................................................. 75
RESUMINDO ..................................................................................................... 76
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 77
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AULA 2: CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS........................79
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 81
2 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS ...................................... 82
RESUMINDO ..................................................................................................... 87
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 88
AULA 3: PRÉ-CONSTRUÍDO E DISCURSO TRANSVERSO .........................................91
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 93
2 O PRÉ-CONSTRUÍDO .......................................................................................... 94
RESUMINDO .....................................................................................................99
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 100
AULA 4: HETEROGENEIDADE DISCURSIVA E POLIFONIA .....................................103
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 105
2 HETEROGENEIDADE DISCURSIVA ...................................................................... 106
3 POLIFONIA ..................................................................................................... 110
RESUMINDO ................................................................................................... 113
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 114
IIIUNIDADE METODOLOGIA E PRÁTICA EM ANÁLISE DE DISCURSOAULA 1: METODOLOGIA EM ANÁLISE DE DISCURSO .........................................119
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 121
2 A METODOLOGIA EM ANÁLISE DE DISCURSO ...................................................... 122
 2.1 O Recorte ......................................................................................... 125
 2.2 O silêncio ......................................................................................... 126
 2.3 O tipo de discurso ............................................................................. 127
 2.4 Discurso e texto ................................................................................ 127
 2.5 Propriedade e marca .......................................................................... 128
RESUMINDO ................................................................................................. 129
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 130
AULA 2: EXERCÍCIOS EM ANÁLISE DE DISCURSO .............................................133
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 135
2 O DISCURSO DOS BRASILEIROS SOBRE O BRASIL ........................................... 136
2.1 Formação Ideológica ........................................................................... 138
2.2 Formações Discursivas ........................................................................ 139
2.3 A Formação Discursiva Negativa .......................................................... 140
2.4 O Espaço Discursivo ............................................................................ 142
2.5 Considerações fi nais ............................................................................ 146
RESUMINDO ................................................................................................ 147
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 148
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IVUNIDADE APLICAÇÃO DA ANÁLISEDE DISCURSO NO ENSINO ESCOLARDE PORTUGUÊS, FUNDAMENTAL E MÉDIO
AULA 3: EXERCÍCIOS EM ANÁLISE DE DISCURSO .........................................................151
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 153
2 O DISCURSO SOBRE OS CIGANOS NA OBRA DE BARTOLOMEU CAMPOS QUEIRÓS ............. 154
 RESUMINDO ............................................................................................................. 163
 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 163
AULA 4: EXERCÍCIOS EM ANÁLISE DE DISCURSO .......................................................................... 165
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 167
2 O DISCURSO DE GÊNERO NO EVANGELHO DE MARIA MADALENA .................................... 168
2.1 Análise dos dados ........................................................................................... 169
2.2 Considerações fi nais ........................................................................................ 174
 RESUMINDO ............................................................................................................. 176
 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 176
AULA 1: ANÁLISE DE DISCURSO E LEITURA INTERPRETATIVA DE TEXTOS ...................181
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 183
2 ANÁLISE DE DISCURSO E O ENSINO ESCOLAR DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO .. 184
2.1 O leitor é co-autor .......................................................................................... 184
2.2 A incompletude .............................................................................................. 188
 RESUMINDO ............................................................................................................. 190
 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 190
AULA 2: ANÁLISE DE DISCURSO E LEITURA INTERPRETATIVA DE TEXTOS ...................193
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 195
2 LEITURA .................................................................................................................. 196
2.1 Legibilidade ................................................................................................... 196
 RESUMINDO ............................................................................................................. 202
 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................202
AULA 3: ANÁLISE DE DISCURSO E LEITURA INTERPRETATIVA DE TEXTOS ...................205
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 207
2 O ENSINO DE LEITURA .............................................................................................. 208
 RESUMINDO ............................................................................................................. 217
 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 217
AULA 4: ANÁLISE DE DISCURSO E PRODUÇÃO TEXTUAL ...............................................219
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 221
2 PRODUÇÃO TEXTUAL ................................................................................................. 222
 RESUMINDO ............................................................................................................. 230
 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 230
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DISCIPLINA
LINGUÍSTICA III 
TEORIA DA ANÁLISE DE DISCURSO
Prof. Odilon Pinto de Mesquita Filho
Professor do Curso de Letras da Universidade Estadual de Santa Cruz 
(UESC). Possui graduação, mestrado e doutorado pela Universidade 
Federal da Bahia (UFBA). Dentre os vários trabalhos divulgados, des-
tacam-se os livros Usos do Português, Coisas da Vida, Português no 
Vestibular e Turismo em Porto Seguro: aspectos (Org.), publicados 
pela Editora Via Litterarum, em 2003, 2004, 2005 e 2006, respecti-
vamente.
Estudo dos conceitos básicos em Análise de Discurso: discurso, texto, 
linguagem, enunciação, polifonia, sujeito, ideologia. Heterogeneidade 
discursiva e inter-intradiscurso. As condições de produção do discur-
so e as formações imaginárias. As principais vertentes teóricas da 
linguística do discurso. Análise de discurso e ensino.
EMENTAEMENTA
APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO
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Aula 1
A questão do sentido na linguística estrutural de Saussure
Aula 2
Enunciação, ideologia e sentido
Aula 3
O conceito de discurso
Aula 4
Texto e discurso
1 2 3 4unidade
O QUE É DISCURSO
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Ao fi nal desta aula, você deverá:
• analisar criticamente a proposta teórica da 
linguística estruturalista de Saussure;
• estabelecer a diferença entre língua, linguagem 
e fala;
• identifi car o tipo de relação existente entre 
signifi cante e signifi cado na concepção de 
Saussure;
• compreender os signos como um sistema 
de valores consensuais estabelecidos pela 
coletividade.
1aula
Ob
jet
ivo
s
A QUESTÃO DO SENTIDO NA
LINGUÍSTICA ESTRUTURAL DE SAUSSURE
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19Letras VernáculasUESC
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a
 AULA 1
A QUESTÃO DO SENTIDO NA
LINGUÍSTICA ESTRUTURAL DE SAUSSURE
1 INTRODUÇÃO
Toda ciência surge para resolver problemas enfrentados pelo 
homem. Por exemplo, a Física surgiu quando o homem quis enten-
der o problema das causas do movimento dos corpos na Terra e no 
Universo. Da mesma forma, a Química surgiu quando o homem quis 
entender o problema de como algumas substâncias se transformam 
em outras. Nesta aula, vamos analisar alguns problemas que deram 
origem à ciência Linguística e que teorias foram propostas pelo seu 
fundador, Saussure, para resolvê-los. 
LEITURAS PRÉVIAS
ORLANDI, Eni Puccinelli. 
Discurso e leitura. 4. ed. 
São Paulo: Cortez; Campi-
nas: Editora da Universida-
de Estadual de Campinas, 
1999.
...
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Linguística III - Teoria da análise de discurso
20 Módulo 3 I Volume 1 EAD
A questão do sentido na linguística estrutural de saussure
2 PROBLEMAS QUE DERAM ORIGEM À CIÊNCIA LIN-
GUÍSTICA 
2.1 O problema do objeto da ciência linguística
 Para que um conhecimento seja considerado científi co, é pre-
ciso que ele tenha um objeto delimitado, distinto dos objetos de todos 
os outros conhecimentos científi cos. Antes de Saussure, os estudos 
linguísticos já tinham uma tradição de séculos, mas não eram ainda 
considerados uma ciência porque não possuíam um objeto delimita-
do. 
 No caso do fenômeno linguístico, Saussure (1995) mostrou 
que ele apresenta variados aspectos. Por exemplo, quando pronun-
ciamos o fonema /a/, podemos considerá-lo:
- como um som; mas se trata de um som produzido pelo aparelho fo-
nador humano e, portanto, o som do fonema /a/ não pode ser isolado 
dos órgãos vocais humanos; 
- além disso, o fonema /a/, e os outros sons de uma língua, formam 
palavras que estão associadas a ideias do pensamento. Portanto, o 
fenômeno linguístico é som, é produto do aparelho fonador e é, tam-
bém, ideia mental; 
- a linguagem é, ao mesmo tempo, um fenômeno individual e social. 
Enquanto fenômeno social, está no campo da sociologia e, enquanto 
fenômeno individual, está no campo da Psicologia e da Antropologia; 
- fi nalmente, a linguagem está sempre em mudança. O português 
que falamos hoje não é o mesmo falado por Camões nem por Pedro 
Álvares Cabral, no ano de 1500. 
E aí, que língua devemos estudar: a mais antiga ou a atual?
 O fenômeno linguístico pode ser estudado enquanto som, en-
quanto produto do aparelho fonador, enquanto ideia mental, enquan-
to fato social, enquanto fato individual e enquanto mudanças histó-
ricas. Se delimitarmos qualquer um desses aspectos como objeto da 
Linguística, estaremos desprezando outros aspectos importantes da 
linguagem. 
 Como Saussure enfrentou esse problema de delimitar o objeto 
da ciência Linguística? Ele responde:
Há, segundo nos parece, uma solução para todas essas 
difi culdades: é necessário colocar-se primeiramente 
no terreno da língua e tomá-la como norma de todas 
as outras manifestações da linguagem. De fato, entre 
Figura 1: Ferdinand de Saussure
Fonte: http://commons.wikimedia.org/
wiki/File:Ferdinand_de_Saussure.jpgLETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 20LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 20 7/2/2011 09:53:237/2/2011 09:53:23
21Letras VernáculasUESC
1
U
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de
 I 
 A
ul
a
tantas dualidades, somente a língua parece suscetível 
duma defi nição autônoma e fornece um ponto de 
apoio satisfatório para o espírito (SAUSSURE, 1995, 
p. 16-17).
 E o que é a língua, para Saussure? Primeiro, vamos distinguir 
dois conceitos que, muitas vezes, são tomados como iguais: lingua-
gem e língua.
 Linguagem, tomada no seu todo, tem várias formas e está 
situada em vários campos científi cos ao mesmo tempo: por ser som, 
é estudada pela Física; por ser produzida pelo aparelho fonador, é 
estudada pela Fisiologia; por estar associada às ideias do pensamen-
to, a linguagem está no campo psíquico; por ser social, é estudada 
pela Sociologia. Enfi m, a Linguagem não se deixa classifi car, de modo 
exclusivo, em nenhum campo científi co (ARRIVÉ, 1999). A linguagem 
apresenta dois fatores: língua e fala. 
O fenômeno total da linguagem apresenta dois fatores: a lín-
gua e a fala. A Língua é a parte mais importante da Linguagem. Ela 
não depende da fala e é social, “exterior ao indivíduo, que, por si só, 
não pode nem criá-la nem modifi cá-la” (SAUSSURE, 1995, p. 22). A 
língua é a linguagem, sem a fala. Por exemplo, hoje o Latim não é 
mais falado, porém, mesmo assim, podemos estudá-lo, enquanto lín-
gua. A língua é social, enquanto a fala é individual; a língua é essen-
cial, enquanto a fala é o acessório, mais ou menos acidental. Brandão 
(1995, p. 91) explica a diferença entre língua e fala:
Segundo a dicotomia estabelecida por Saussure entre 
língua e fala – a língua é o sistema abstrato, virtual 
ou potencial, enquanto que a fala é o ato lingüístico 
material e concreto, é o uso que cada indivíduo faz 
da língua. Se a linguagem só existe como atividade, 
língua e fala não se excluem, pois se a fala é a 
realização concreta da língua, aquela não existe sem 
ela. 
 
Assim, a língua é um sistema de signos que permite a um su-
jeito compreender e fazer-se compreender. Por exemplo, na estrutura 
da língua portuguesa, temos o seguinte princípio sintático: o artigo 
precede o substantivo. Este princípio pertence à língua portuguesa, 
enquanto as inúmeras frases, como O curso começou ontem, Dei o 
livro ao professor, não fi z o trabalho etc., são realizações concretas 
desse princípio na fala. Saussure estabeleceu a língua como objeto 
da ciência linguística. Nenhum outro campo científi co pode incluir a 
língua em seu objeto. Dessa forma Saussure conseguiu delimitar um 
objeto específi co para a ciência linguística, dando-lhe autonomia. 
LINGUAGEM: pode ser 
estudada enquanto fenô-
meno sonoro, fi siológico, 
psíquico e sociológico, 
além de outros. Apresen-
ta dois fatores: língua e 
fala.
PARA REFLETIR
Segundo Saussure, a 
língua não depende da 
fala. Se você observar 
a linguagem de LIBRAS, 
usada pelos surdos-mu-
dos, você pode analisar 
e discutir com colegas 
se eles têm uma língua, 
isto é, um sistema so-
cial e abstrato de signos, 
apesar de não terem a 
fala. A propósito, você 
pode tentar ver fi lmes 
como O Milagre de Anne 
Sullivan, Filhos do Silên-
cio e outros fi lmes, que 
tratam do uso de lin-
guagens por defi cientes 
físicos. 
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Linguística III - Teoria da análise de discurso
22 Módulo 3 I Volume 1 EAD
A questão do sentido na linguística estrutural de saussure
 2.2 O problema do signifi cado ou sentido
 Além do objeto, outro problema enfrentado no estabelecimen-
to da ciência linguística foi o do signifi cado das palavras. A língua, na 
visão de Saussure, é um sistema de signos que exprime ideias. O es-
sencial da língua é a união do sentido e da imagem acústica (BENVE-
NISTE, 1989). Por isso, ela é “comparável à escrita, ao alfabeto dos 
surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais 
militares etc.” (SAUSSURE, 1995, p. 24). A Linguística foi considera-
da parte de uma outra ciência, a Semiologia, que estuda “a vida dos 
signos no seio da vida social” (ibidem). 
 A noção mais simples do signifi cado das palavras é a de que 
a língua é uma lista de nomes para as coisas do mundo. Assim, o 
signifi cado da palavra cavalo seria o animal chamado por esse nome. 
O vínculo que une um nome a uma coisa seria uma operação muito 
simples (SAUSSURE, 1995). 
 Mas o signo linguístico não une uma palavra a uma coisa. 
Ele une uma imagem acústica, isto é, a impressão psíquica do som 
da palavra (signifi cante) a um conceito (signifi cado). O signifi cante 
não é o som concreto da palavra, mas a impressão psíquica desse 
som em nossa mente. Tanto assim que podemos falar conosco mes-
mos, ou recitar mentalmente um poema, sem movermos os lábios. 
Nesse caso, estamos usando signifi cantes? Sim, estamos, porque o 
signifi cante não é o som concreto das palavras, mas as impressões 
deles em nossa mente. E Saussure conclui: “O signo lingüístico é, 
pois, uma entidade psíquica de duas faces: signifi cante e signifi cado” 
(SAUSSURE, 1995, p. 80). 
 O signo linguístico pode ser representado pela fi gura abaixo:
LÍNGUA: sistema de 
signos de caráter social, 
abstrato e essencial na 
linguagem, objeto da ci-
ência linguística. 
FALA: ato concreto de 
linguagem, de caráter in-
dividual, material e aces-
sório.
ATENÇÃO
Observe a expressão 
“entidade psíquica”. Isto 
quer dizer que tanto o 
signifi cante quanto o 
signifi cado são entida-
des que existem ape-
nas em nossa mente. O 
signifi cante não é o som 
que ouvimos, mas é a 
impressão psíquica dele 
em nossa mente. Da 
mesma forma, o signifi -
cado de uma palavra não 
é a coisa concreta cha-
mada por esse nome, 
mas é um conceito abs-
trato.
Conceito
Imagem acústica
Figura 2: O signo linguístico
Fonte: SAUSSURE (1995, p. 80). 
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 2.2.1 A arbitrariedade do signo
 No signo linguístico, o laço que une o signifi cante ao signi-
fi cado é arbitrário. (SAUSSURE, 1995, p. 80). Assim, o signifi cante 
cadeira poderia ter como signifi cado o conceito do objeto panela. O 
signifi cado das palavras é, portanto, uma convenção social, um hábi-
to coletivo. 
 O signifi cante é a imagem acústica dos sons da língua em 
nossa mente. O signifi cado está ligado ao nosso pensamento. Não 
podemos acreditar, no entanto, que as ideias estão claras em nossa 
mente e que os sons da língua são apenas instrumentos para trans-
mitir essas ideias. Saussure (1995, p. 131) afi rma que “O pensa-
mento é caótico por natureza (...). O papel característico da língua é 
servir de intermediário entre o pensamento e o som, em condições 
tais que uma união conduza necessariamente a delimitações recípro-
cas de unidades”. Assim, os sons da língua delimitam unidades de 
pensamento e estas, por sua vez, delimitam os sons da língua. 
A língua é também comparável a uma folha de papel: 
o pensamento é o anverso e o som o verso; não 
se pode cortar um sem cortar, ao mesmo tempo, o 
outro; assim tampouco, na língua, se poderia isolar 
o som do pensamento, ou o pensamento do som 
(SAUSSURE, 1995, p. 132).
 Mas cada união de um som, imagem acústica (signifi cante) 
com um conceito(signifi cado), não pode ser vista isoladamente. Os 
signos formam um sistema de valores consensuais, estabelecidos 
pela coletividade. Todas as palavras de uma língua formam um siste-
ma de signos. O signifi cado de cada palavra de uma língua é a dife-
rença própria que ela tem de todas as outras palavras dessa língua. 
Essa diferença é chamada valor. 
Assim, o valor de qualquer termo que seja está 
determinado por aquilo que o rodeia; nem sequer da 
palavra ‘sol’ se pode fi xar imediatamente o valor sem 
levar em conta o que lhe existe em redor (SAUSSURE, 
1995, p. 135).
 As palavras não servem para expressar ideias já prontas de 
antemão. Elas têm valores que emanam do sistema total de signos. 
Cada palavra tem um signifi cado, que é o conceito, e tem um valor 
que é puramente diferencial, defi nido por suas relações com outros 
termos do sistema. Por exemplo, a palavra homem tem como signi-
fi cado o conceito: homem é um animal racional; e tem um valor: o 
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Linguística III - Teoria da análise de discurso
24 Módulo 3 I Volume 1 EAD
A questão do sentido na linguística estrutural de saussure
valor do signifi cado da palavra homem é defi nido por todas as outras 
palavras semelhantes no sistema da língua. Assim, o valor da palavra 
homem é sua diferença de outras palavras, como: gente, pessoa, ser 
humano, indivíduo etc. Ou seja, o valor de homem é constituído pelo 
que não é gente, não é pessoa, não é ser humano, não é indivíduo 
etc. Como se pode ver, para eu identifi car o valor de uma palavra, 
é preciso que eu conheça todas as outras palavras semelhantes da 
língua. 
 Nesse caso, vemos que o conceito, o signifi cado de uma pala-
vra, não é autônomo, original, mas é um valor determinado pelas re-
lações dessa palavra com outras palavras com valores semelhantes. 
Assim, o signifi cado da palavra homem é o conceito: animal racional. 
Mas esse conceito é apenas o valor dessa palavra, isto é, a diferença 
que ela tem com palavras semelhantes. A palavra homem signifi ca o 
conceito animal racional. E o que é animal racional? É o animal que 
não é irracional, não é sem inteligência, não é sem pensamento etc. A 
gente pode dizer, simplesmente, que o signifi cado da palavra homem 
é o conceito animal racional. Mas isso não exprime a essência do fato 
linguístico de que o signifi cado de uma palavra é o seu valor, isto é, a 
diferença que essa palavra tem com todas as outras palavras seme-
lhantes da língua. O signifi cado de uma palavra tem fundamento no 
seu valor, isto é, na diferença que ele mantém com todos os outros 
signifi cados da língua. Qual o valor da palavra branca? Branca é a cor 
que não é preta, não é azul, não é vermelha, não é verde etc. (SAUS-
SURE, 1995). 
 Saussure, para estabelecer a ciência linguística, teve de ex-
plicar como as palavras signifi cam ideias. A saída que ele achou para 
esse problema foi fazer a semântica, não do signifi cado diretamente, 
mas do valor: 
[...] ou seja, a ‘posição’ de um signo no interior 
de um conjunto de signos. Essa posição ou valor é 
inteiramente determinada pelas relações desse signo 
com os demais. Assim, ao tratar semanticamente um 
signo como ‘cadeira’, Saussure não vai se preocupar 
em saber qual é o seu signifi cado (a ‘idéia’ que lhe 
corresponde) mas vai investigar as relações que 
esse signo mantém com outros signos, como ‘sofá’, 
‘poltrona’, ‘mesa’, etc. O conjunto dessas relações vai 
determinar o valor de ‘cadeira’ (DASCAL; BORGES, 
1991, p. 36).
 
 Dessa forma, só podemos determinar o valor de qualquer sig-
no tendo em vista a totalidade do sistema da língua, que é autônoma 
em relação aos falantes e ao meio social. Com essa caracterização 
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abstrata da língua, Saussure desvinculou-a daquilo que é propria-
mente social e histórico. Mas “se partirmos do fato de que as línguas 
só existem na medida em que se acham associadas a grupos hu-
manos, podemos chegar à concepção de que, na língua, o social e o 
histórico coincidem” (ORLANDI, 1996, p. 99).
 Saussure exclui a fala do objeto da ciência linguística e, assim, 
exclui o sujeito falante e o seu interlocutor. Dessa forma, exclui toda 
a prática histórico-social. Mas aprendemos a língua no contato com 
a família, com os vizinhos, com a escola e, por fi m, com toda nossa 
experiência social. Para Saussure, o signifi cado de uma palavra é um 
conceito mental e este tem sua base no valor, isto é, nas diferenças 
que apresenta em relação a todos os outros signifi cados da língua. 
Mas, como aprendemos a língua nas interações com a comunidade, 
Eagleton (1997) considera que o conceito é mais uma prática social 
do que uma entidade mental.
 Além disso, vemos que, uma mesma palavra, em determi-
nada sociedade, apresenta conceitos diferentes. Basta observarmos 
os preconceitos: para uma pessoa com ideologia racista, a palavra 
negro signifi ca “raça inferior”, diferente do signifi cado não-racista de 
“ser humano igual a todos os outros”. E aí? Como fi ca a teoria de 
Saussure? Um signifi cante pode ter mais de um signifi cado? Confor-
me já visto, Saussure não estuda a fala, as interações sociais. Para 
ele, os preconceitos seriam usos individuais da língua, acidentais, 
acessórios, fora do objeto da ciência linguística. No entanto, em vez 
de sustentarmos que as palavras “representam” conceitos, podemos 
considerar que “ter um conceito” é a capacidade do indivíduo de usar 
palavras de maneiras particulares, na fala (Eagleton, 1997). Para 
isso, temos de incluir a fala como objeto da ciência linguística, con-
trariando Saussure.
 O preconceito ideológico, portanto, é um determinante do sig-
nifi cado das palavras. Segundo Voloshinov (1997), signo e ideologia 
andam sempre juntos, não existindo um sem o outro. As palavras, 
longe de terem um signifi cado fi xo, baseado no valor, como propõe 
Saussure, podem “preencher qualquer espécie de função ideológica, 
estética, científi ca, moral, religiosa” (VOLOSHINOV, 1997, p. 37). 
 Além da ideologia, o contexto é também determinante do sig-
nifi cado das palavras. Por exemplo, no colunismo social da mídia, a 
palavra “sociedade” signifi ca elite econômica. Mas, na sociologia, a 
mesma palavra signifi ca grupo social.
De fato, há tantas signifi cações possíveis quantos 
contextos possíveis. No entanto, nem por isso, 
a palavra deixa de ser una. (...) Como conciliar a 
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Linguística III - Teoria da análise de discurso
26 Módulo 3 I Volume 1 EAD
A questão do sentido na linguística estrutural de saussure
polissemia da palavra com sua unicidade? É assim que 
podemos formular, de modo grosseiro e elementar, o 
problema fundamental da semântica (VOLOSHINOV, 
1997, p. 106). 
 
 Vimos, portanto, que Saussure defi niu a língua, abstrata e 
social, como objeto da linguística, sem levar em conta a fala que 
usamos no cotidiano. Segundo ele, para estabelecer o signifi cado de 
uma palavra, é preciso conhecer todas as outras palavras da língua 
para delimitarmos o seu valor, isto é, a diferença que este signifi cado 
mantém com ossignifi cados de todas as outras palavras. 
 Mas nenhum indivíduo conhece todas as palavras de sua lín-
gua. Como, portanto, ele pode estabelecer o valor de cada signifi ca-
do, isto é, a diferença deste com todos os outros signifi cados? Desse 
modo, a semântica do valor, proposta por Saussure, torna-se inviá-
vel. 
Além disso, aprendemos e usamos a língua nas interações 
sociais. Devido aos preconceitos ideológicos, observamos que uma 
mesma palavra, como negro, pode apresentar mais de um conceito, 
em vez de um signifi cado fi xo. Ou seja, a teoria do valor não é obser-
vável na fala concreta. 
Na fala cotidiana, o contexto em que se usa uma palavra é 
determinante do seu signifi cado. Uma mesma palavra, em contextos 
diferentes, pode ter signifi cados diferentes. Isso contraria a teoria 
proposta por Saussure de uma relação fi xa e abstrata entre signifi -
cante e signifi cado.
Na próxima aula, vamos analisar aspectos da relação entre 
ideologia e signifi cados de palavras. 
AATIVIDADESTIVIDADES
1. Conforme Saussure, quais as diferenças entre língua e fala?
2. Se a linguagem tem dois fatores, língua e fala, por que Saussure estabeleceu apenas 
a língua como objeto da ciência linguística?
3. Explique a teoria do valor, na teoria de Saussure. 
4. Na fala, cada palavra tem apenas um signifi cado? Por quê?
5. Por que a língua, segundo Saussure, é um sistema de signos sociais?
6. Por que o signifi cante tem uma relação arbitrária com seu signifi cado? 
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RESUMINDO
Nesta aula você viu que, para Saussure: 
 A linguagem é constituída por dois fatores: língua e fala.
 A língua é um sistema de signos abstratos, sociais e essenciais.
 A fala é concreta, individual e acessória.
 A língua é o objeto da ciência linguística, sem incluir a fala. 
 O signo linguístico é formado pela união de um signifi cante e um 
signifi cado.
 O signifi cado de uma palavra está baseado unicamente no seu valor, 
isto é, na diferença que mantém com todos os outros signifi cados 
da língua.
 A teoria do valor não leva em conta a infl uência da ideologia nem do 
contexto no signifi cado de palavras. 
 
ARRIVÉ, Michel. Linguagem e psicanálise, lingüística e incons-
ciente. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
BENVENISTE, Émile. Problemas de lingüística geral II. Tradução 
de Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 1989.
BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise do discurso. 4. ed. 
Campinas: UNICAMP, 1995. 
DASCAL, Marcelo; BORGES NETO, José. De que trata a lingüística, afi -
nal?. In: Histoire Epistemologie Langage, tome 13, fascicule I - 
1991. Paris: Presses Universitaires de Vincennes, 1991. p. 13-50.
EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. Tradução de Luís Carlos 
Borges; Silvana Vieira. São Paulo: UNESP, 1997.
ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento. As for-
mas do discurso. 4. ed. Campinas: Pontes, 1996.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. Tradução de 
Antônio Chelini; José Paulo Paes; Izidoro Blinkstein. São Paulo: Cultrix, 
1995. 
VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e fi losofi a da linguagem. 8. 
ed.Tradução de Michel Lahud; Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Huci-
tec, 1997. 
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Suas anotações...
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Ao fi nal desta aula, o aluno deverá:
• estabelecer a relação existente entre enun-
ciação e enunciado;
• analisar o conceito de ideologia apresenta-
do nas diferentes concepções;
• analisar a relação entre ideologia e sentido 
em enunciados.
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ENUNCIAÇÃO, IDEOLOGIA E SENTIDO
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 AULA 2
ENUNCIAÇÃO, IDEOLOGIA E SENTIDO
1 INTRODUÇÃO 
 Já vimos que Sa ussure tomou a língua, abstrata e social, 
como objeto científi co de estudo. Isto o levou a uma teoria sobre o 
signifi cado das palavrasbaseada no valor, isto é, nas diferenças que 
um signifi cado mantém com todos os outros signifi cados da língua. 
No entanto, se tomarmos a linguagem, incluindo língua e fala, como 
objeto científi co de estudo, podemos chegar a outras teorias sobre o 
signifi cado das palavras, ou o sentido das palavras. 
LEITURAS PRÉVIAS
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de estado. 
Tradução de Walter José Evangelista e Maria Laura Viveiros 
de Castro. 7. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
BENVENISTE, Émile. O Aparelho Formal da Enunciação. In 
____. Problemas de lingüística geral II. Tradução de 
Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 1989. p. 81-
90
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 
Tradução de Tomaz Tadeu da Silva; Guacira Lopes Louro. 3. 
ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
...
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Linguística III - Teoria da análise de discurso
32 Módulo 2 I Volume 8 EAD
Enunciação, ideologia e sentido
2 ENUNCIAÇÃO E ENUNCIADO
Saussure excluiu a fala do objeto científi co da linguística. En-
tretanto, a enunciação está situada no campo da fala. Segundo Ben-
veniste, (1989, p. 82), a enunciação é “este colocar em funcionamen-
to a língua por um ato individual de utilização”. Mas a enunciação não 
é simplesmente a fala, ela é o ato de produzir um enunciado. E assim 
ela vai exigir uma situação, em que se dá esse ato, e vai exigir um 
sujeito da enunciação. Para Cardoso (1999, p. 16) a enunciação res-
titui “aos estudos da linguagem a instância que coloca o propriamen-
te lingüístico em conexão com os enunciadores e mundo”. Brandão 
(1995, p. 89) defi ne:
Enunciação é a emissão de um conjunto de signos 
que é produto da interação de indivíduos socialmente 
organizados. A enunciação se dá num aqui e agora, 
jamais se repetindo. Ela se marca pela singularidade.
A linguagem, então, deixa de ser vista apenas como instru-
mento externo de comunicação e de transmissão de informação, mas 
passa a ser vista como uma forma de atividade entre o sujeito da 
enunciação e seu destinatário. As formas da língua, tal como defi nida 
por Saussure, se oferecem aos falantes como virtualidades, como 
possibilidades. Mas elas só funcionam quando são usadas nos atos 
de enunciação. 
 Ao produzir um enunciado, o sujeito da enunciação institui a 
si mesmo, como sujeito que fala, e institui o outro, o interlocutor. A 
enunciação é um espaço em que se organizam os lugares dos pro-
tagonistas do ato de linguagem. Por exemplo, imagine o seguinte 
enunciado: 
 
 - Vá para casa agora mesmo!
 
Ao produzir este enunciado, o sujeito da enunciação se 
coloca numa posição superior e institui o interlo-
cutor como alguém numa posição inferior. Este 
enunciado só é possível numa situação em 
que, hierarquicamente, um superior se dirige a 
um subalterno. No cotidiano, quando alguém, 
que não ocupa uma posição superior à nossa, 
nos dá uma ordem, nossa resposta é: “quem 
você pensa que eu sou?” “Quem você pensa 
ENUNCIAÇÃO: é a emis-
são de um conjunto de 
signos que é produto da 
interação de indivíduos 
socialmente organizados. 
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que é?” Em outras palavras, dizemos que não aceitamos o modo 
como o sujeito da enunciação instituiu a si mesmo e a nós, através 
do enunciado, dando-nos uma ordem.
 A enunciação institui seu sujeito e o interlocutor. Além disso, 
ela também “tenta legitimar esse quadro instituído” (MAINGUENEAU, 
2001, p. 93). No exemplo acima, quando uma ordem nos instituiu 
como inferior ao sujeito da enunciação, nossa reação foi não aceitar 
essa relação como legítima e respondemos: “Quem você pensa que 
é?”
 Agora não estamos mais diante da língua abstrata estabele-
cida por Saussure. O ato da enunciação está centrado no sujeito da 
enunciação e na situação em que este produz o enunciado. Com a 
enunciação, a língua deixa de ser apenas possibilidades e se torna 
uma instância sonora da fala de um locutor, que atinge um ouvinte e 
que provoca uma outra enunciação de retorno (BENVENISTE, 1989). 
Assim, todo enunciado é o produto de um acontecimento único, sua 
enunciação, “que supõe um sujeito da enunciação, um destinatário, 
um momento e um lugar particulares. Esse conjunto de elementos 
defi ne a situação de enunciação” (MAINGUENEAU, 1996, p. 5).
 Ao mesmo tempo em que se declara locutor, isto é, aquele 
que fala, o sujeito da enunciação implanta também o outro diante de 
si: “Toda enunciação é, explícita ou implicitamente, uma alocução, 
ela postula um alocutário” (BENVENISTE, 1989, p. 84). A enunciação 
emprega a língua para expressar uma certa relação com o mundo, 
referida pela sua fala e para o interlocutor. Essa relação é expressa 
como sendo um consenso pragmático entre o sujeito da enunciação 
e o seu destinatário. Por exemplo, quando uma pessoa lhe diz: “A 
mulher foi quem trouxe o pecado ao mundo!”, esta pessoa supõe que 
você está de acordo com isso, e que tal afi rmação seja um consenso 
entre ela, sujeito da enunciação, e você, o destinatário. Ela está ex-
pressando uma certa relação com um tipo de mundo onde o pecado 
foi trazido pela mulher. Caso você fi que calado e continue a conversa, 
a enunciação estabeleceu um mundo que é consenso entre o sujeito 
da enunciação e você. Os dois estão de acordo, se referindo a um 
mesmo mundo. Assim, podemos dizer que o destinatário participa 
também da enunciação, sendo um co-enunciador, porque o mundo 
referido foi estabelecido em comum acordo entre ambos. 
 Da enunciação é que emergem os índices de pessoa, a relação 
eu-tu. O termo eu denota o indivíduo que profere a enunciação e o 
termo tu denota o destinatário. Quando falo, assumo o índice de pes-
soa eu, mas quando alguém fala comigo, assumo o índice de pessoa 
tu. 
ATENÇÃO
Observe que antes estu-
dávamos apenas a estru-
tura da língua, abstrata-
mente. Por exemplo, 
estudávamos que o ver-
bo concorda em número 
e pessoa com o sujeito. 
Trata-se de um princí-
pio geral que pode ser 
exemplifi cado em fra-
ses, sem precisar espe-
cifi car quem falou, com 
quem falou, onde falou, 
quando falou etc. Com a 
enunciação, passamos a 
estudar a linguagem, in-
cluindo língua e fala e a 
situação de enunciação. 
No entanto, no ensino 
escolar, ainda predomina 
o ensino da estrutura da 
língua, por meio de fra-
ses, e não o ensino da 
linguagem, por meio de 
enunciados.
SITUAÇÃO DE ENUN-
CIAÇÃO: é o conjunto 
dos seguintes elemen-
tos: sujeito da enun-
ciação, o destinatário, 
o momento e o lugar 
em que foi produzido o 
enunciado.
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formação imaginarianullcondições de produção socionullhistoricasnulldao a situação de enunciação
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Linguística III - Teoria da análise de discurso
34 Módulo 2 I Volume 8 EAD
Enunciação, ideologia e sentido
 Também é da enunciação que emergem as formas chamadas 
“pronomes pessoais” e “demonstrativos” que adquirem signifi cados a 
depender da situação ou contextoem que são usadas. Por exemplo, 
se digo a alguém: “Não saio daqui!”, o signifi cado do termo aqui vai 
depender do lugar de onde eu esteja falando. Vemos, portanto, que, 
na enunciação, não há uma união fi xa entre signifi cante e signifi cado, 
mas existe uma união que varia, a depender do contexto.
 O uso das formas temporais emerge igualmente do eu da enun-
ciação. Nas formas verbais, o “presente” coincide com o momento 
da enunciação. Quando digo a alguém: “Viajo agora!”, o presente do 
verbo “viajo” e do advérbio “agora” coincidem com o momento da 
enunciação, isto é, com o momento em que estou falando. O tempo é 
produzido na e pela enunciação. Esta instaura a categoria do presen-
te, da qual deriva o passado e o futuro.
 Podemos concluir que a enunciação tem importância funda-
mental na signifi cação das palavras, tornando insufi ciente a relação 
arbitrária entre signifi cante e signifi cado, postulada inicialmente por 
Saussure. As teorias linguísticas da enunciação refutam precisa mente 
o corte que Saussure operou entre o linguístico, a estrutura da lín-
gua, e o “extralin guístico”, isto é, a fala. Dessa forma, em vez de 
uma relação fi xa entre signifi cado e signifi cante, as signifi cações so-
cioculturais “estão sendo constituídas no próprio ato de enunciação” 
(BHABHA, 2003, p. 230). Por exemplo, quando falamos do samba, 
na música brasileira, não estamos repetindo um conceito já pronto e 
aceito por todos. A cada vez que é feita alguma enunciação sobre o 
samba, seu signifi cado está sendo constituído. A palavra samba, em 
cada fala, assume conotações e nuances próprias daquela enuncia-
ção e da Formação Discursiva dominante. Por exemplo, no enunciado 
de um professor, reclamando da preguiça do aluno: “Você não fez a 
atividade! Só quer viver no samba!”, a palavra “samba” signifi ca brin-
cadeira, folga. Mas no enunciado, avaliando os planos de um amigo: 
“Isso não vai dar samba!”, a expressão signifi ca “não vai dar certo”. 
 Assim, é ilusória a crença de que há um único mundo 
estável, no qual toda uma comunidade acredite. O mundo é sempre 
constituído no ato de cada enunciação. Daí a necessidade de estar-
mos sempre conversando, isto é, de estarmos fazendo enunciações 
para atualizar nosso mundo socioculturalmente compartilhado. Por 
exemplo, as fofocas, numa cidade pequena, são enunciações que ins-
tituem novas pessoas. Se alguém enuncia que a mulher de Fulano 
o está traindo com outro homem, estamos instituindo novas pesso-
as: a mulher, antes considerada honesta, agora é constituída como 
uma adúltera; o marido, antes considerado capaz e correto, agora é 
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constituído como um bobo que está sendo enganado. É assim que, 
na verdade, vamos constituindo o mundo e as pessoas em nossas 
enunciações, acreditando ingenuamente que tudo já existia antes tal 
como o estamos constituindo em nosso discurso. 
 A maioria das pessoas pensa que, primeiro, existe um 
mundo já pronto, já constituído, e que nossa fala, nossas enuncia-
ções, apenas se referem a ele. Isso é uma ilusão. Na realidade, quan-
do fazemos uma enunciação é que estamos constituindo o mundo.
 A enunciação institui seu sujeito, seu destinatário e o 
mundo compartilhado pelos dois. Todos estes elementos estão mar-
cados no enunciado, que é o produto da enunciação. O sentido de 
um enunciado é, portanto, a representação de sua enunciação. Des-
sa forma, “não há sentidos cristalizados, independentes, mas senti-
dos construídos numa situação discursiva”, isto é, numa enunciação 
(BRANDÃO, 1998, p. 98). 
 A enunciação é um acontecimento que não se repete, porque 
se realiza num certo local, numa certa data e num certo horário. O 
enunciado, por sua vez, se caracteriza por ser repetível. Assim, pode-
mos dizer que dois enunciados, pronunciados por duas pessoas, em 
situações um pouco diferentes, constituiriam um só enunciado. 
3 IDEOLOGIA
 A ideologia se materializa na linguagem e é um mecanis-
mo estruturante do processo de signifi cação. O conceito de ideolo-
gia, desde o seu surgimento, no século XIX, tem recebido diferentes 
signifi cações. Eagleton (1997, p. 15) apresenta 16 delas, como falsa 
consciência, visão de mundo, ocultamento da realidade, ideias de um 
determinado grupo social, entre outras. A concepção marxista de ide-
ologia é a de ser um instrumento de dominação de classe (BRANDÃO, 
1995). 
 Segundo Althusser (1985), a ideologia interpela os indiví-
duos como sujeitos e é uma representação da relação imaginária dos 
indivíduos com suas condições reais de existência. Assim, a ideologia 
não representa o mundo real, mas a relação que o indivíduo tem com 
esse mundo real. Tal representação existe sempre num Aparelho Ide-
ológico de Estado (AIE), que são as instituições, como o AIE religioso, 
formado pelo sistema das diferentes igrejas; o AIE escolar, o familiar, 
o jurídico, o político, o sindical, etc. Eles funcionam principalmente 
pela ideologia e, secundariamente, pela repressão.
 Por exemplo, na Idade Média, os servos eram explorados pelos 
PARA REFLETIR
Se você conversa com 
uma pessoa muito reli-
giosa, pode perceber que 
o mundo que ela consti-
tui em sua enunciação é 
diferente do mundo tal 
como o vivemos em nos-
so cotidiano. Basta per-
guntar-lhe o que acha do 
carnaval, por exemplo, 
para ver que este deixa 
de ser uma festa popu-
lar para se transformar 
numa orgia satânica. Se 
perguntar a um pescador 
o que ele acha do mar, 
seu mundo oceânico é 
totalmente diverso do 
mundo turístico. Con-
verse com pessoas de 
diferentes classes sociais 
e você irá perceber que, 
em suas enunciações, 
vão ser constituídos dife-
rentes mundos.
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36 Módulo 2 I Volume 8 EAD
Enunciação, ideologia e sentido
senhores feudais. Esta era a realidade do mundo. 
No entanto, na instituição religiosa, os padres en-
sinavam uma relação imaginária, em que o sofri-
mento causado pela exploração seria recompen-
sado com o céu, após a morte. Dessa forma, a 
ideologia católica medieval não representava as 
condições reais de existência dos servos, mas re-
presentava uma relação imaginária que esses ser-
vos tinham com a exploração que sofriam. 
 Assim, as escolas e igrejas dispõem de mé-
todos adequados de punição, expulsão, seleção, 
para disciplinar não apenas seus pastores e sacerdotes, mas também 
seus rebanhos. O mesmo se aplica às outras instituições, como a 
família, a escola e órgãos culturais. Todos os AIEs contribuem para a 
reprodução das relações capitalistas de exploração. 
 Por isso, uma ideologia existe sempre num aparelho e em suas 
práticas, regida por rituais: ir à missa, assistir a uma aula, participar 
de uma reunião política ou familiar etc. A ideologia se materializa, 
portanto, nas instituições sociais, isto é, nos Aparelhos Ideológicos do 
Estado. Nossa prática está ligada às instituições e, portanto, só exis-
te prática dentro de uma ideologia. Como sujeito é aquele que age, 
podemos dizer que a ideologia, nasinstituições, nos interpela como 
sujeitos, nos faz agir. 
 Vamos imaginar que você escute a voz de sua mãe, às suas 
costas, chamando-o pelo nome. Você já se volta agindo como fi lho: 
“Sim, mãe!”. Se a voz fosse a de um amigo, você já se voltaria agin-
do como amigo: “Oi cara!”. Da mesma forma, ao fazer parte das 
instituições sociais, como a família, a escola e a religião, é como se 
você respondesse a um chamado da ideologia, como se você fosse 
interpelado pela ideologia, passando a agir, inconscientemente, pelo 
funcionamento dela. As instituições nos chamam, nos interpelam o 
tempo todo em sujeitos e nós atendemos a esse chamado, pensando 
que fazemos uma escolha livre e consciente. E assim, cada um de nós 
é levado a ocupar um determinado lugar na sociedade.
 Nessa visão althusseriana, a infraestrutura econômica da so-
ciedade determina o funcionamento da superestrutura, formada pela 
ideologia, nas instituições jurídicas, familiares, religiosas etc. Desse 
modo, a ideologia só pode ser vista como reprodutora, perpetuando 
a base econômica e a estrutura da sociedade. Essa circularidade no 
funcionamento da sociedade acaba por criar uma impossibilidade de 
mudanças sociais e o sujeito difi cilmente consegue sair do movimen-
to circular entre infraestrutura e superestrutura. 
Bem 
aventurados os 
pobres porque 
verão a Deus!
Figura 2 - Fonte: http://www.sxc.hu/photo/472534
IDEOLOGIA: é a repre-
sentação de uma relação 
imaginária dos indivíduos 
com suas condições re-
ais de existência, numa 
determinada instituição 
social.
PARA REFLETIR
Observe que, nas cida-
des brasileiras, quase 
não encontramos pes-
soas da religião islâ-
mica ou budista. Por 
quê? Porque, em nossa 
formação histórica, as 
instituições religiosas 
que nos interpelam em 
sujeitos são a religião 
cristã, trazida pelo co-
lonialismo europeu, e 
o culto das entidades, 
trazido pelos africanos 
e já praticado pelos in-
dígenas. Só podemos 
ser membros de algum 
grupo religioso, se for-
mos antes interpelados 
por ele.
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 A Análise de Discurso parte do conceito de interpelação 
proposto por Althusser, mas introduz uma teoria materialista do dis-
curso, em que as relações de classe se caracterizam pelo afronta-
mento de formações ideológicas (ABREU, 2006). Nos aparelhos ideo-
lógicos, isto é, nas instituições, temos, em um dado momento, forças 
se contrapondo a outras forças. Por exemplo, dentro da Igreja católi-
ca hoje, os adeptos da Teologia da Libertação se contrapõem à teolo-
gia tradicional e aos grupos carismáticos. Dentro de uma instituição, 
as Formações Ideológicas são esses conjuntos de representações e 
atitudes, relacionados com as posições de classe em confl ito. Cada 
Formação Ideológica, numa dada conjuntura, inclui uma ou várias 
formações discursivas, que determinam o que pode e deve ser dito 
a partir dessa posição. Assim, as palavras ganham seu sentido de 
acordo com a formação ideológica na qual se inscrevem aqueles que 
as empregam. O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é 
nesse e por esse processo que se constituem os signifi cados ou sen-
tidos das palavras. 
 Dessa forma, o signo linguístico não é uma relação fi xa e 
arbitrária entre signifi cante e signifi cado, mas tem um caráter ideoló-
gico, relacionado à luta de classe dentro das instituições sociais: 
Na realidade, um signo, uma palavra, uma enunciação 
só podem ser tomados dentro de um contexto de 
produção que leve em consideração o seu caráter 
ideológico, social e histórico, ou seja, no momento 
concreto de sua realização, dentro da situação 
concreta que lhes deu origem (BRAGGIO, 1992, p. 
90).
 Na próxima aula, vamos ver como língua, enunciação e 
ideologia são articuladas no discurso.
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Formação ideológicanullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullformação discursiva
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Linguística III - Teoria da análise de discurso
38 Módulo 2 I Volume 8 EAD
Enunciação, ideologia e sentido
AATIVIDADETIVIDADE
 
1. O que diferencia uma frase de um enunciado?
2. Quem institui o sujeito da enunciação, o destinatário e o mundo referente? Explique. 
3. O que são e em que lugar da sociedade ocorrem as Formações Ideológicas? Explique. 
4. Qual a relação entre Ideologia e o sentido das palavras?
5. O mundo e as pessoas sobre os quais você fala, existem antes de você falar sobre eles?
6. Explique e dê exemplos de dêiticos. 
RESUMINDO
Nesta aula você viu que a enunciação:
 Institui o enunciador e seu destinatário. 
 Estabelece, de forma consensual, o mundo a que se refere, tornando o 
destinatário co-enunciador. 
 Faz emergir os índices de pessoa eu-tu e outros dêiticos, isto é, palavras 
cujos signifi cados dependem do contexto, como os “pronomes pessoais” e 
os “demonstrativos”.
 A enunciação interfere no signifi cado das palavras. 
 As signifi cações socioculturais são constituídas no próprio ato de enuncia-
ção. 
 O mundo é sempre constituído no ato de cada enunciação.
 O sentido de um enunciado é, a representação de sua enunciação.
 A enunciação é um acontecimento que não se repete, porque se realiza 
num certo local, data e horário. 
 O enunciado é repetível.
 Viu também que a ideologia: 
 Materializa-se na linguagem, infl uenciando o signifi cado das palavras; 
 Interpela os indivíduos como sujeitos e é uma representação da relação 
imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência;
 Existe sempre nas instituições e em suas práticas.
 Leva-nos a ocupar um determinado lugar na sociedade;
 Manifesta-se no afrontamento de formações ideológicas nas instituições.
 Cada Formação Ideológica, numa dada conjuntura, inclui uma ou várias 
formações discursivas, que determinam o que pode e deve ser dito a partir 
dessa posição.
 Cada Formação Ideológica dominante determina o signifi cado das pala-
vras.
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ABREU, Ana Sílvia Couto de. Escola e Escola on line: alguns efeitos 
do discurso pedagógico midiatizado. Tese de doutorado. Campinas: 
FE/UNICAMP, 2006. 
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de estado. 7. ed. Tradu-
ção de Walter José Evangelista; Maria Laura Viveiros de Castro; Rio de 
Janeiro: Graal, 1985.
BENVENISTE, Émile. “O Aparelho Formal da Enunciação” In: ____. 
Problemas de lingüística geral II. Tradução de Eduardo Guimarães 
et al. Campinas: Pontes, 1989. p. 81-90.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila; Elia-
na Lourenço de Lima Reis; Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: 
UFMG, 2003.
BRAGGIO, Sílvia Lúcia Bigonjal. Leitura e alfabetização: da concep-
ção mecanicista à sociopsicolingüística. Porto Alegre: Artes Médicas, 
1992.
BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise do discurso. 4. ed. 
Campinas: UNICAMP, 1995.
_____. Subjetividade, argumentação, polifonia. A propaganda 
da Petrobrás. São Paulo: UNESP,1998.
CARDOSO, Sílvia Helena Barbi. Discurso e ensino. Belo Horizonte: 
Autêntica, 1999.
EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. Tradução de Luís Car-
los Borges; Silvana Vieira. São Paulo: UNESP, 1997.
MAINGUENEAU, Dominique. Elementos de lingüística para o 
texto literário. Tradução de Maria Augusta Bastos de Mattos. São 
Paulo: Martins Fontes, 1996.
_____. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. 
de Souza Silva; Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001. 
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Suas anotações...
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Ao fi nal desta aula você deverá:
• analisar o conceito de discurso na concepção de 
Foucault;
• estabelecer diferença/relação entre língua, discur-
so, ideologia e instituições sociais;
• analisar a relação discurso e formação discursiva;
• relacionar o conceito de discurso com enunciação;
• relacionar o conceito de discurso com ideologia. 
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O CONCEITO DE DISCURSO
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43Letras VernáculasUESC
 AULA 3
O CONCEITO DE DISCURSO
1 INTRODUÇÃO 
 Já vi mos que a enunciação fez com que os estudos linguísticos 
deixassem de considerar apenas a língua abstrata, tal como formulada 
por Saussure, para tomar como objeto a linguagem, incluindo a 
fala. Com isso, a linguística passou a considerar a situação imediata 
e o contexto sócio-histórico da enunciação. Além da instância do 
fonema, da palavra e da frase, a linguística voltou-se também para a 
instância do texto e a instância do discurso. Na análise de discurso, o 
sentido das palavras passa a ser determinado pela enunciação e pela 
ideologia do discurso em que são usadas. 
LEITURAS PRÉVIAS
ORLANDI, Eni Puccinelli. A lingua-
gem e seu funcionamento. As formas 
do discurso. 4. ed. Campinas: Pontes, 
1996.
FOUCAULT, Michel. A ordem do 
discurso. www.ciberfi l.hpg.ig.com.br 
...
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44 Módulo 2 I Volume 8 EAD
Linguística III - Teoria da análise de discurso O conceito de Discurso
2 O DISCURSO
Podemos estudar a linguagem de diversas maneiras: a 
Linguística concentra sua atenção sobre a língua, enquanto sistema 
de signos; a Gramática Normativa enfoca as normas de bem dizer; a 
Gramática Histórica estuda as mudanças da língua no tempo etc. A 
Análise de Discurso é um modo particular de se estudar a linguagem. 
Etimologicamente, a palavra discurso signifi ca percurso, correr por, 
movimento. Assim, discurso é palavra em movimento, prática de 
linguagem, observar o homem falando (ORLANDI, 1999). 
A Análise de Discurso surgiu nos anos 60 do século XX. Mas 
os estudos sobre a produção de sentidos na língua já tinham sido 
realizados pelos retóricos da Antiguidade e, no século passado, pela 
semântica histórica de Bréal, linguista francês, e pelos formalistas 
russos, que pressentiram no texto uma estrutura. Todos estes 
enfoques permitem analisar unidades além da frase, ou seja, o texto.
Em sua linha francesa, a Análise de Discurso (daqui em 
diante AD) parte de “uma relação necessária entre o dizer e as 
condições de produção desse dizer”, exigindo uma articulação teórica 
com a História, a Psicologia, a Sociologia etc. (BRANDÃO, 1995, p. 
17-18). Não se trabalha com a língua fechada nela mesma, mas com 
o discurso, que é um objeto sócio-histórico. Por outro lado, não se 
trabalha com a história e a sociedade como se fossem independentes 
do que signifi cam na linguagem. 
Conforme já visto, os confl itos ideológicos ocorrem nas 
instituições, como família, escola, igrejas, sindicatos etc. Por isso 
o conceito de discurso vai levar em conta a instituição a que está 
relacionado, com seus afrontamentos ideológicos, além do espaço 
próprio que cada discurso confi gura para si mesmo, entre os outros 
discursos. A materialidade específi ca da ideologia é o discurso e a 
materialidade específi ca do discurso é a língua. A AD trabalha essa 
relação língua/discurso/ideologia

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