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LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 1LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 1 7/2/2011 09:53:167/2/2011 09:53:16 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 2LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 2 7/2/2011 09:53:187/2/2011 09:53:18 Universidade Estadual de Santa Cruz Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro Pró-reitora de Graduação Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa Diretor do Departamento de Letras e Artes Prof. Samuel Leandro Oliveira de Mattos Ministério da Educação LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 3LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 3 7/2/2011 09:53:187/2/2011 09:53:18 Ficha Catalográfi ca M582 Mesquita Filho, Odilon Pinto de. Lingüística III : teoria da análise do discurso - Letras Vernáculas - EAD, módulo 3, volume 4 / Odilon Pinto de Mesquita Filho. – [Ilhéus, BA] : UAB/ UESC, [2011]. 230p. : il. Inclui referências. ISBN: 978-85-7455-221-7 1. Análise do discurso. 2. Lingüística. I. Título: Letras Vernáculas: módulo 3, volume 4. CDD 401.41 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 4LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 4 7/2/2011 09:53:207/2/2011 09:53:20 Coordenação UAB – UESC Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado Coordenação do Curso de Licenciatura em Letras Vernáculas (EAD) Prof. Dr. Rodrigo Aragão Elaboração de Conteúdo Prof. Dr. Odilon Pinto de Mesquita Filho Instrucional Design Profª. Msc. Marileide dos Santos de Olivera Profª. Drª. Gessilene Silveira Kanthack Revisão Profª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira Coordenação de Design Profª. Msc. Julianna Nascimento Torezani Diagramação Jamile A. de Mattos Chagouri Ocké João Luiz Cardeal Craveiro Capa Sheylla Tomás Silva LE TR A S V ER N Á C U LA S EA D - U ES C LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 5LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 5 7/2/2011 09:53:207/2/2011 09:53:20 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 6LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 6 7/2/2011 09:53:207/2/2011 09:53:20 Ao longo do texto você encontrará alguns boxes com orientações de estudo. A seguir descrevo o que cada uma signifi ca e como você deve proceder diante das orientações. PARA REFLETIR As pausas para refl exão são pequenas provocações feitas ao longo do texto para que você interrompa por alguns minutos a leitura e pense sobre o que está sendo estudado. Não é necessário escrever nem debater com seus colegas, mas é importante que você pare para refl etir sobre o que está sendo proposto antes de dar continuidade à leitura. ATENÇÃO Nos boxes em que há o pedido de atenção são apresentadas questões ou conceitos importantes para a elaboração de sua aprendizagem e continuidade dos estudos. SAIBA MAIS Aqui são apresentados trechos de textos que complementam e enriquecem o estudo que está sendo realizado. EXERCÍCIOEXERCÍCIO Momento de debates sobre questões específi cas. Cada exercício possui uma orientação específi ca sobre como deve ser realizado. LEITURA RECOMENDADA/ NECESSÁRIA São indicações de leituras que contribuem para a complementação e aprofun- damento dos estudos realizados. ATIVIDADE As atividades devem ser realizadas de acordo com as orientações específi cas de cada uma. VOCÊ SABIA? Esses são boxes que trazem curiosidades a respeito da temática abordada. UM CONSELHO Um conselho, uma orientação feita pelo professor a respeito de algo que foi dito, auxiliando assim, na construção do conhecimento. PARA CONHECER Indicação e referências de autores, fontes de pesquisa, livros, websites, fi lmes (curtas-metragens e/ou longas-metragens) etc. Os desafi os auxiliarão na assimilação e aplicação dos conhecimetnos adquiridos. Cada um deles deve ser realizado de acordo com as orientações específi cas. PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS DESAFIOSDESAFIOS LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 7LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 7 7/2/2011 09:53:207/2/2011 09:53:20 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 8LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 8 7/2/2011 09:53:217/2/2011 09:53:21 I II Sumário AULA 1: A QUESTÃO DO SENTIDO NA LINGUÍSTICA ESTRUTURAL DE SAUSSURE ..15 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 17 2 PROBLEMAS QUE DERAM ORIGEM À CIÊNCIA LINGUÍSTICA .................................... 18 2.1 O problema do objeto da ciência linguística ................................................. 18 2.2 O problema do signifi cado ou sentido ......................................................... 20 2.2.1 A arbitrariedade do signo ..................................................................... 21 RESUMINDO ..................................................................................................... 25 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 25 AULA 2: ENUNCIAÇÃO, IDEOLOGIA E SENTIDO .....................................................27 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 29 2 ENUNCIAÇÃO E ENUNCIADO ............................................................................... 30 3 IDEOLOGIA ....................................................................................................... 33 RESUMINDO ..................................................................................................... 36 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 37 AULA 3: O CONCEITO DE DISCURSO ......................................................................39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 41 2 O DISCURSO ..................................................................................................... 42 RESUMINDO ..................................................................................................... 48 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 49 AULA 4: TEXTO E DISCURSO ..................................................................................51 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 53 2 TEXTO E DISCURSO ........................................................................................... 54 RESUMINDO ..................................................................................................... 60 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 60 U N ID A D E U N ID A D E O QUE É DISCURSO CONCEITOS TEÓRICOS DA ANÁLISE DE DISCURSO AULA 1: O SUJEITO ................................................................................................65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 67 2 O SUJEITO ........................................................................................................68 2.1 Bom sujeito e mau sujeito ........................................................................ 71 2.2 Os esquecimentos .................................................................................... 72 2.3 O autor ................................................................................................. 74 2.4 Polifonia ................................................................................................. 75 RESUMINDO ..................................................................................................... 76 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 77 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 9LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 9 7/2/2011 09:53:217/2/2011 09:53:21 AULA 2: CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS........................79 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 81 2 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS ...................................... 82 RESUMINDO ..................................................................................................... 87 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 88 AULA 3: PRÉ-CONSTRUÍDO E DISCURSO TRANSVERSO .........................................91 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 93 2 O PRÉ-CONSTRUÍDO .......................................................................................... 94 RESUMINDO .....................................................................................................99 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 100 AULA 4: HETEROGENEIDADE DISCURSIVA E POLIFONIA .....................................103 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 105 2 HETEROGENEIDADE DISCURSIVA ...................................................................... 106 3 POLIFONIA ..................................................................................................... 110 RESUMINDO ................................................................................................... 113 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 114 IIIUNIDADE METODOLOGIA E PRÁTICA EM ANÁLISE DE DISCURSOAULA 1: METODOLOGIA EM ANÁLISE DE DISCURSO .........................................119 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 121 2 A METODOLOGIA EM ANÁLISE DE DISCURSO ...................................................... 122 2.1 O Recorte ......................................................................................... 125 2.2 O silêncio ......................................................................................... 126 2.3 O tipo de discurso ............................................................................. 127 2.4 Discurso e texto ................................................................................ 127 2.5 Propriedade e marca .......................................................................... 128 RESUMINDO ................................................................................................. 129 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 130 AULA 2: EXERCÍCIOS EM ANÁLISE DE DISCURSO .............................................133 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 135 2 O DISCURSO DOS BRASILEIROS SOBRE O BRASIL ........................................... 136 2.1 Formação Ideológica ........................................................................... 138 2.2 Formações Discursivas ........................................................................ 139 2.3 A Formação Discursiva Negativa .......................................................... 140 2.4 O Espaço Discursivo ............................................................................ 142 2.5 Considerações fi nais ............................................................................ 146 RESUMINDO ................................................................................................ 147 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 148 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 10LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 10 7/2/2011 09:53:217/2/2011 09:53:21 IVUNIDADE APLICAÇÃO DA ANÁLISEDE DISCURSO NO ENSINO ESCOLARDE PORTUGUÊS, FUNDAMENTAL E MÉDIO AULA 3: EXERCÍCIOS EM ANÁLISE DE DISCURSO .........................................................151 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 153 2 O DISCURSO SOBRE OS CIGANOS NA OBRA DE BARTOLOMEU CAMPOS QUEIRÓS ............. 154 RESUMINDO ............................................................................................................. 163 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 163 AULA 4: EXERCÍCIOS EM ANÁLISE DE DISCURSO .......................................................................... 165 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 167 2 O DISCURSO DE GÊNERO NO EVANGELHO DE MARIA MADALENA .................................... 168 2.1 Análise dos dados ........................................................................................... 169 2.2 Considerações fi nais ........................................................................................ 174 RESUMINDO ............................................................................................................. 176 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 176 AULA 1: ANÁLISE DE DISCURSO E LEITURA INTERPRETATIVA DE TEXTOS ...................181 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 183 2 ANÁLISE DE DISCURSO E O ENSINO ESCOLAR DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO .. 184 2.1 O leitor é co-autor .......................................................................................... 184 2.2 A incompletude .............................................................................................. 188 RESUMINDO ............................................................................................................. 190 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 190 AULA 2: ANÁLISE DE DISCURSO E LEITURA INTERPRETATIVA DE TEXTOS ...................193 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 195 2 LEITURA .................................................................................................................. 196 2.1 Legibilidade ................................................................................................... 196 RESUMINDO ............................................................................................................. 202 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................202 AULA 3: ANÁLISE DE DISCURSO E LEITURA INTERPRETATIVA DE TEXTOS ...................205 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 207 2 O ENSINO DE LEITURA .............................................................................................. 208 RESUMINDO ............................................................................................................. 217 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 217 AULA 4: ANÁLISE DE DISCURSO E PRODUÇÃO TEXTUAL ...............................................219 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 221 2 PRODUÇÃO TEXTUAL ................................................................................................. 222 RESUMINDO ............................................................................................................. 230 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 230 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 11LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 11 7/2/2011 09:53:217/2/2011 09:53:21 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 12LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 12 7/2/2011 09:53:217/2/2011 09:53:21 DISCIPLINA LINGUÍSTICA III TEORIA DA ANÁLISE DE DISCURSO Prof. Odilon Pinto de Mesquita Filho Professor do Curso de Letras da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Possui graduação, mestrado e doutorado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Dentre os vários trabalhos divulgados, des- tacam-se os livros Usos do Português, Coisas da Vida, Português no Vestibular e Turismo em Porto Seguro: aspectos (Org.), publicados pela Editora Via Litterarum, em 2003, 2004, 2005 e 2006, respecti- vamente. Estudo dos conceitos básicos em Análise de Discurso: discurso, texto, linguagem, enunciação, polifonia, sujeito, ideologia. Heterogeneidade discursiva e inter-intradiscurso. As condições de produção do discur- so e as formações imaginárias. As principais vertentes teóricas da linguística do discurso. Análise de discurso e ensino. EMENTAEMENTA APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 13LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 13 7/2/2011 09:53:217/2/2011 09:53:21 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 14LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 14 7/2/2011 09:53:217/2/2011 09:53:21 Aula 1 A questão do sentido na linguística estrutural de Saussure Aula 2 Enunciação, ideologia e sentido Aula 3 O conceito de discurso Aula 4 Texto e discurso 1 2 3 4unidade O QUE É DISCURSO LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 15LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 15 7/2/2011 09:53:217/2/2011 09:53:21 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 16LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 16 7/2/2011 09:53:227/2/2011 09:53:22 Ao fi nal desta aula, você deverá: • analisar criticamente a proposta teórica da linguística estruturalista de Saussure; • estabelecer a diferença entre língua, linguagem e fala; • identifi car o tipo de relação existente entre signifi cante e signifi cado na concepção de Saussure; • compreender os signos como um sistema de valores consensuais estabelecidos pela coletividade. 1aula Ob jet ivo s A QUESTÃO DO SENTIDO NA LINGUÍSTICA ESTRUTURAL DE SAUSSURE LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 17LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 17 7/2/2011 09:53:227/2/2011 09:53:22 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 18LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 18 7/2/2011 09:53:227/2/2011 09:53:22 19Letras VernáculasUESC 1 U ni da de I A ul a AULA 1 A QUESTÃO DO SENTIDO NA LINGUÍSTICA ESTRUTURAL DE SAUSSURE 1 INTRODUÇÃO Toda ciência surge para resolver problemas enfrentados pelo homem. Por exemplo, a Física surgiu quando o homem quis enten- der o problema das causas do movimento dos corpos na Terra e no Universo. Da mesma forma, a Química surgiu quando o homem quis entender o problema de como algumas substâncias se transformam em outras. Nesta aula, vamos analisar alguns problemas que deram origem à ciência Linguística e que teorias foram propostas pelo seu fundador, Saussure, para resolvê-los. LEITURAS PRÉVIAS ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso e leitura. 4. ed. São Paulo: Cortez; Campi- nas: Editora da Universida- de Estadual de Campinas, 1999. ... LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 19LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 19 7/2/2011 09:53:227/2/2011 09:53:22 Linguística III - Teoria da análise de discurso 20 Módulo 3 I Volume 1 EAD A questão do sentido na linguística estrutural de saussure 2 PROBLEMAS QUE DERAM ORIGEM À CIÊNCIA LIN- GUÍSTICA 2.1 O problema do objeto da ciência linguística Para que um conhecimento seja considerado científi co, é pre- ciso que ele tenha um objeto delimitado, distinto dos objetos de todos os outros conhecimentos científi cos. Antes de Saussure, os estudos linguísticos já tinham uma tradição de séculos, mas não eram ainda considerados uma ciência porque não possuíam um objeto delimita- do. No caso do fenômeno linguístico, Saussure (1995) mostrou que ele apresenta variados aspectos. Por exemplo, quando pronun- ciamos o fonema /a/, podemos considerá-lo: - como um som; mas se trata de um som produzido pelo aparelho fo- nador humano e, portanto, o som do fonema /a/ não pode ser isolado dos órgãos vocais humanos; - além disso, o fonema /a/, e os outros sons de uma língua, formam palavras que estão associadas a ideias do pensamento. Portanto, o fenômeno linguístico é som, é produto do aparelho fonador e é, tam- bém, ideia mental; - a linguagem é, ao mesmo tempo, um fenômeno individual e social. Enquanto fenômeno social, está no campo da sociologia e, enquanto fenômeno individual, está no campo da Psicologia e da Antropologia; - fi nalmente, a linguagem está sempre em mudança. O português que falamos hoje não é o mesmo falado por Camões nem por Pedro Álvares Cabral, no ano de 1500. E aí, que língua devemos estudar: a mais antiga ou a atual? O fenômeno linguístico pode ser estudado enquanto som, en- quanto produto do aparelho fonador, enquanto ideia mental, enquan- to fato social, enquanto fato individual e enquanto mudanças histó- ricas. Se delimitarmos qualquer um desses aspectos como objeto da Linguística, estaremos desprezando outros aspectos importantes da linguagem. Como Saussure enfrentou esse problema de delimitar o objeto da ciência Linguística? Ele responde: Há, segundo nos parece, uma solução para todas essas difi culdades: é necessário colocar-se primeiramente no terreno da língua e tomá-la como norma de todas as outras manifestações da linguagem. De fato, entre Figura 1: Ferdinand de Saussure Fonte: http://commons.wikimedia.org/ wiki/File:Ferdinand_de_Saussure.jpgLETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 20LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 20 7/2/2011 09:53:237/2/2011 09:53:23 21Letras VernáculasUESC 1 U ni da de I A ul a tantas dualidades, somente a língua parece suscetível duma defi nição autônoma e fornece um ponto de apoio satisfatório para o espírito (SAUSSURE, 1995, p. 16-17). E o que é a língua, para Saussure? Primeiro, vamos distinguir dois conceitos que, muitas vezes, são tomados como iguais: lingua- gem e língua. Linguagem, tomada no seu todo, tem várias formas e está situada em vários campos científi cos ao mesmo tempo: por ser som, é estudada pela Física; por ser produzida pelo aparelho fonador, é estudada pela Fisiologia; por estar associada às ideias do pensamen- to, a linguagem está no campo psíquico; por ser social, é estudada pela Sociologia. Enfi m, a Linguagem não se deixa classifi car, de modo exclusivo, em nenhum campo científi co (ARRIVÉ, 1999). A linguagem apresenta dois fatores: língua e fala. O fenômeno total da linguagem apresenta dois fatores: a lín- gua e a fala. A Língua é a parte mais importante da Linguagem. Ela não depende da fala e é social, “exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modifi cá-la” (SAUSSURE, 1995, p. 22). A língua é a linguagem, sem a fala. Por exemplo, hoje o Latim não é mais falado, porém, mesmo assim, podemos estudá-lo, enquanto lín- gua. A língua é social, enquanto a fala é individual; a língua é essen- cial, enquanto a fala é o acessório, mais ou menos acidental. Brandão (1995, p. 91) explica a diferença entre língua e fala: Segundo a dicotomia estabelecida por Saussure entre língua e fala – a língua é o sistema abstrato, virtual ou potencial, enquanto que a fala é o ato lingüístico material e concreto, é o uso que cada indivíduo faz da língua. Se a linguagem só existe como atividade, língua e fala não se excluem, pois se a fala é a realização concreta da língua, aquela não existe sem ela. Assim, a língua é um sistema de signos que permite a um su- jeito compreender e fazer-se compreender. Por exemplo, na estrutura da língua portuguesa, temos o seguinte princípio sintático: o artigo precede o substantivo. Este princípio pertence à língua portuguesa, enquanto as inúmeras frases, como O curso começou ontem, Dei o livro ao professor, não fi z o trabalho etc., são realizações concretas desse princípio na fala. Saussure estabeleceu a língua como objeto da ciência linguística. Nenhum outro campo científi co pode incluir a língua em seu objeto. Dessa forma Saussure conseguiu delimitar um objeto específi co para a ciência linguística, dando-lhe autonomia. LINGUAGEM: pode ser estudada enquanto fenô- meno sonoro, fi siológico, psíquico e sociológico, além de outros. Apresen- ta dois fatores: língua e fala. PARA REFLETIR Segundo Saussure, a língua não depende da fala. Se você observar a linguagem de LIBRAS, usada pelos surdos-mu- dos, você pode analisar e discutir com colegas se eles têm uma língua, isto é, um sistema so- cial e abstrato de signos, apesar de não terem a fala. A propósito, você pode tentar ver fi lmes como O Milagre de Anne Sullivan, Filhos do Silên- cio e outros fi lmes, que tratam do uso de lin- guagens por defi cientes físicos. LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 21LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 21 7/2/2011 09:53:237/2/2011 09:53:23 Linguística III - Teoria da análise de discurso 22 Módulo 3 I Volume 1 EAD A questão do sentido na linguística estrutural de saussure 2.2 O problema do signifi cado ou sentido Além do objeto, outro problema enfrentado no estabelecimen- to da ciência linguística foi o do signifi cado das palavras. A língua, na visão de Saussure, é um sistema de signos que exprime ideias. O es- sencial da língua é a união do sentido e da imagem acústica (BENVE- NISTE, 1989). Por isso, ela é “comparável à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc.” (SAUSSURE, 1995, p. 24). A Linguística foi considera- da parte de uma outra ciência, a Semiologia, que estuda “a vida dos signos no seio da vida social” (ibidem). A noção mais simples do signifi cado das palavras é a de que a língua é uma lista de nomes para as coisas do mundo. Assim, o signifi cado da palavra cavalo seria o animal chamado por esse nome. O vínculo que une um nome a uma coisa seria uma operação muito simples (SAUSSURE, 1995). Mas o signo linguístico não une uma palavra a uma coisa. Ele une uma imagem acústica, isto é, a impressão psíquica do som da palavra (signifi cante) a um conceito (signifi cado). O signifi cante não é o som concreto da palavra, mas a impressão psíquica desse som em nossa mente. Tanto assim que podemos falar conosco mes- mos, ou recitar mentalmente um poema, sem movermos os lábios. Nesse caso, estamos usando signifi cantes? Sim, estamos, porque o signifi cante não é o som concreto das palavras, mas as impressões deles em nossa mente. E Saussure conclui: “O signo lingüístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces: signifi cante e signifi cado” (SAUSSURE, 1995, p. 80). O signo linguístico pode ser representado pela fi gura abaixo: LÍNGUA: sistema de signos de caráter social, abstrato e essencial na linguagem, objeto da ci- ência linguística. FALA: ato concreto de linguagem, de caráter in- dividual, material e aces- sório. ATENÇÃO Observe a expressão “entidade psíquica”. Isto quer dizer que tanto o signifi cante quanto o signifi cado são entida- des que existem ape- nas em nossa mente. O signifi cante não é o som que ouvimos, mas é a impressão psíquica dele em nossa mente. Da mesma forma, o signifi - cado de uma palavra não é a coisa concreta cha- mada por esse nome, mas é um conceito abs- trato. Conceito Imagem acústica Figura 2: O signo linguístico Fonte: SAUSSURE (1995, p. 80). LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 22LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 22 7/2/2011 09:53:247/2/2011 09:53:24 23Letras VernáculasUESC 1 U ni da de I A ul a 2.2.1 A arbitrariedade do signo No signo linguístico, o laço que une o signifi cante ao signi- fi cado é arbitrário. (SAUSSURE, 1995, p. 80). Assim, o signifi cante cadeira poderia ter como signifi cado o conceito do objeto panela. O signifi cado das palavras é, portanto, uma convenção social, um hábi- to coletivo. O signifi cante é a imagem acústica dos sons da língua em nossa mente. O signifi cado está ligado ao nosso pensamento. Não podemos acreditar, no entanto, que as ideias estão claras em nossa mente e que os sons da língua são apenas instrumentos para trans- mitir essas ideias. Saussure (1995, p. 131) afi rma que “O pensa- mento é caótico por natureza (...). O papel característico da língua é servir de intermediário entre o pensamento e o som, em condições tais que uma união conduza necessariamente a delimitações recípro- cas de unidades”. Assim, os sons da língua delimitam unidades de pensamento e estas, por sua vez, delimitam os sons da língua. A língua é também comparável a uma folha de papel: o pensamento é o anverso e o som o verso; não se pode cortar um sem cortar, ao mesmo tempo, o outro; assim tampouco, na língua, se poderia isolar o som do pensamento, ou o pensamento do som (SAUSSURE, 1995, p. 132). Mas cada união de um som, imagem acústica (signifi cante) com um conceito(signifi cado), não pode ser vista isoladamente. Os signos formam um sistema de valores consensuais, estabelecidos pela coletividade. Todas as palavras de uma língua formam um siste- ma de signos. O signifi cado de cada palavra de uma língua é a dife- rença própria que ela tem de todas as outras palavras dessa língua. Essa diferença é chamada valor. Assim, o valor de qualquer termo que seja está determinado por aquilo que o rodeia; nem sequer da palavra ‘sol’ se pode fi xar imediatamente o valor sem levar em conta o que lhe existe em redor (SAUSSURE, 1995, p. 135). As palavras não servem para expressar ideias já prontas de antemão. Elas têm valores que emanam do sistema total de signos. Cada palavra tem um signifi cado, que é o conceito, e tem um valor que é puramente diferencial, defi nido por suas relações com outros termos do sistema. Por exemplo, a palavra homem tem como signi- fi cado o conceito: homem é um animal racional; e tem um valor: o LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 23LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 23 7/2/2011 09:53:257/2/2011 09:53:25 Linguística III - Teoria da análise de discurso 24 Módulo 3 I Volume 1 EAD A questão do sentido na linguística estrutural de saussure valor do signifi cado da palavra homem é defi nido por todas as outras palavras semelhantes no sistema da língua. Assim, o valor da palavra homem é sua diferença de outras palavras, como: gente, pessoa, ser humano, indivíduo etc. Ou seja, o valor de homem é constituído pelo que não é gente, não é pessoa, não é ser humano, não é indivíduo etc. Como se pode ver, para eu identifi car o valor de uma palavra, é preciso que eu conheça todas as outras palavras semelhantes da língua. Nesse caso, vemos que o conceito, o signifi cado de uma pala- vra, não é autônomo, original, mas é um valor determinado pelas re- lações dessa palavra com outras palavras com valores semelhantes. Assim, o signifi cado da palavra homem é o conceito: animal racional. Mas esse conceito é apenas o valor dessa palavra, isto é, a diferença que ela tem com palavras semelhantes. A palavra homem signifi ca o conceito animal racional. E o que é animal racional? É o animal que não é irracional, não é sem inteligência, não é sem pensamento etc. A gente pode dizer, simplesmente, que o signifi cado da palavra homem é o conceito animal racional. Mas isso não exprime a essência do fato linguístico de que o signifi cado de uma palavra é o seu valor, isto é, a diferença que essa palavra tem com todas as outras palavras seme- lhantes da língua. O signifi cado de uma palavra tem fundamento no seu valor, isto é, na diferença que ele mantém com todos os outros signifi cados da língua. Qual o valor da palavra branca? Branca é a cor que não é preta, não é azul, não é vermelha, não é verde etc. (SAUS- SURE, 1995). Saussure, para estabelecer a ciência linguística, teve de ex- plicar como as palavras signifi cam ideias. A saída que ele achou para esse problema foi fazer a semântica, não do signifi cado diretamente, mas do valor: [...] ou seja, a ‘posição’ de um signo no interior de um conjunto de signos. Essa posição ou valor é inteiramente determinada pelas relações desse signo com os demais. Assim, ao tratar semanticamente um signo como ‘cadeira’, Saussure não vai se preocupar em saber qual é o seu signifi cado (a ‘idéia’ que lhe corresponde) mas vai investigar as relações que esse signo mantém com outros signos, como ‘sofá’, ‘poltrona’, ‘mesa’, etc. O conjunto dessas relações vai determinar o valor de ‘cadeira’ (DASCAL; BORGES, 1991, p. 36). Dessa forma, só podemos determinar o valor de qualquer sig- no tendo em vista a totalidade do sistema da língua, que é autônoma em relação aos falantes e ao meio social. Com essa caracterização LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 24LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 24 7/2/2011 09:53:257/2/2011 09:53:25 25Letras VernáculasUESC 1 U ni da de I A ul a abstrata da língua, Saussure desvinculou-a daquilo que é propria- mente social e histórico. Mas “se partirmos do fato de que as línguas só existem na medida em que se acham associadas a grupos hu- manos, podemos chegar à concepção de que, na língua, o social e o histórico coincidem” (ORLANDI, 1996, p. 99). Saussure exclui a fala do objeto da ciência linguística e, assim, exclui o sujeito falante e o seu interlocutor. Dessa forma, exclui toda a prática histórico-social. Mas aprendemos a língua no contato com a família, com os vizinhos, com a escola e, por fi m, com toda nossa experiência social. Para Saussure, o signifi cado de uma palavra é um conceito mental e este tem sua base no valor, isto é, nas diferenças que apresenta em relação a todos os outros signifi cados da língua. Mas, como aprendemos a língua nas interações com a comunidade, Eagleton (1997) considera que o conceito é mais uma prática social do que uma entidade mental. Além disso, vemos que, uma mesma palavra, em determi- nada sociedade, apresenta conceitos diferentes. Basta observarmos os preconceitos: para uma pessoa com ideologia racista, a palavra negro signifi ca “raça inferior”, diferente do signifi cado não-racista de “ser humano igual a todos os outros”. E aí? Como fi ca a teoria de Saussure? Um signifi cante pode ter mais de um signifi cado? Confor- me já visto, Saussure não estuda a fala, as interações sociais. Para ele, os preconceitos seriam usos individuais da língua, acidentais, acessórios, fora do objeto da ciência linguística. No entanto, em vez de sustentarmos que as palavras “representam” conceitos, podemos considerar que “ter um conceito” é a capacidade do indivíduo de usar palavras de maneiras particulares, na fala (Eagleton, 1997). Para isso, temos de incluir a fala como objeto da ciência linguística, con- trariando Saussure. O preconceito ideológico, portanto, é um determinante do sig- nifi cado das palavras. Segundo Voloshinov (1997), signo e ideologia andam sempre juntos, não existindo um sem o outro. As palavras, longe de terem um signifi cado fi xo, baseado no valor, como propõe Saussure, podem “preencher qualquer espécie de função ideológica, estética, científi ca, moral, religiosa” (VOLOSHINOV, 1997, p. 37). Além da ideologia, o contexto é também determinante do sig- nifi cado das palavras. Por exemplo, no colunismo social da mídia, a palavra “sociedade” signifi ca elite econômica. Mas, na sociologia, a mesma palavra signifi ca grupo social. De fato, há tantas signifi cações possíveis quantos contextos possíveis. No entanto, nem por isso, a palavra deixa de ser una. (...) Como conciliar a LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 25LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 25 7/2/2011 09:53:257/2/2011 09:53:25 Linguística III - Teoria da análise de discurso 26 Módulo 3 I Volume 1 EAD A questão do sentido na linguística estrutural de saussure polissemia da palavra com sua unicidade? É assim que podemos formular, de modo grosseiro e elementar, o problema fundamental da semântica (VOLOSHINOV, 1997, p. 106). Vimos, portanto, que Saussure defi niu a língua, abstrata e social, como objeto da linguística, sem levar em conta a fala que usamos no cotidiano. Segundo ele, para estabelecer o signifi cado de uma palavra, é preciso conhecer todas as outras palavras da língua para delimitarmos o seu valor, isto é, a diferença que este signifi cado mantém com ossignifi cados de todas as outras palavras. Mas nenhum indivíduo conhece todas as palavras de sua lín- gua. Como, portanto, ele pode estabelecer o valor de cada signifi ca- do, isto é, a diferença deste com todos os outros signifi cados? Desse modo, a semântica do valor, proposta por Saussure, torna-se inviá- vel. Além disso, aprendemos e usamos a língua nas interações sociais. Devido aos preconceitos ideológicos, observamos que uma mesma palavra, como negro, pode apresentar mais de um conceito, em vez de um signifi cado fi xo. Ou seja, a teoria do valor não é obser- vável na fala concreta. Na fala cotidiana, o contexto em que se usa uma palavra é determinante do seu signifi cado. Uma mesma palavra, em contextos diferentes, pode ter signifi cados diferentes. Isso contraria a teoria proposta por Saussure de uma relação fi xa e abstrata entre signifi - cante e signifi cado. Na próxima aula, vamos analisar aspectos da relação entre ideologia e signifi cados de palavras. AATIVIDADESTIVIDADES 1. Conforme Saussure, quais as diferenças entre língua e fala? 2. Se a linguagem tem dois fatores, língua e fala, por que Saussure estabeleceu apenas a língua como objeto da ciência linguística? 3. Explique a teoria do valor, na teoria de Saussure. 4. Na fala, cada palavra tem apenas um signifi cado? Por quê? 5. Por que a língua, segundo Saussure, é um sistema de signos sociais? 6. Por que o signifi cante tem uma relação arbitrária com seu signifi cado? LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 26LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 26 7/2/2011 09:53:257/2/2011 09:53:25 27Letras VernáculasUESC 1 U ni da de I A ul a RESUMINDO Nesta aula você viu que, para Saussure: A linguagem é constituída por dois fatores: língua e fala. A língua é um sistema de signos abstratos, sociais e essenciais. A fala é concreta, individual e acessória. A língua é o objeto da ciência linguística, sem incluir a fala. O signo linguístico é formado pela união de um signifi cante e um signifi cado. O signifi cado de uma palavra está baseado unicamente no seu valor, isto é, na diferença que mantém com todos os outros signifi cados da língua. A teoria do valor não leva em conta a infl uência da ideologia nem do contexto no signifi cado de palavras. ARRIVÉ, Michel. Linguagem e psicanálise, lingüística e incons- ciente. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. BENVENISTE, Émile. Problemas de lingüística geral II. Tradução de Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 1989. BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise do discurso. 4. ed. Campinas: UNICAMP, 1995. DASCAL, Marcelo; BORGES NETO, José. De que trata a lingüística, afi - nal?. In: Histoire Epistemologie Langage, tome 13, fascicule I - 1991. Paris: Presses Universitaires de Vincennes, 1991. p. 13-50. EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. Tradução de Luís Carlos Borges; Silvana Vieira. São Paulo: UNESP, 1997. ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento. As for- mas do discurso. 4. ed. Campinas: Pontes, 1996. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. Tradução de Antônio Chelini; José Paulo Paes; Izidoro Blinkstein. São Paulo: Cultrix, 1995. VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e fi losofi a da linguagem. 8. ed.Tradução de Michel Lahud; Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Huci- tec, 1997. R E F E R Ê N C IA S LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 27LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 27 7/2/2011 09:53:257/2/2011 09:53:25 _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Suas anotações... LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 28LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 28 7/2/2011 09:53:257/2/2011 09:53:25 Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: • estabelecer a relação existente entre enun- ciação e enunciado; • analisar o conceito de ideologia apresenta- do nas diferentes concepções; • analisar a relação entre ideologia e sentido em enunciados. 2aula Ob jet ivo s ENUNCIAÇÃO, IDEOLOGIA E SENTIDO LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 29LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 29 7/2/2011 09:53:267/2/2011 09:53:26 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 30LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 30 7/2/2011 09:53:267/2/2011 09:53:26 31Letras VernáculasUESC 2 U ni da de I A ul a AULA 2 ENUNCIAÇÃO, IDEOLOGIA E SENTIDO 1 INTRODUÇÃO Já vimos que Sa ussure tomou a língua, abstrata e social, como objeto científi co de estudo. Isto o levou a uma teoria sobre o signifi cado das palavrasbaseada no valor, isto é, nas diferenças que um signifi cado mantém com todos os outros signifi cados da língua. No entanto, se tomarmos a linguagem, incluindo língua e fala, como objeto científi co de estudo, podemos chegar a outras teorias sobre o signifi cado das palavras, ou o sentido das palavras. LEITURAS PRÉVIAS ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de estado. Tradução de Walter José Evangelista e Maria Laura Viveiros de Castro. 7. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985. BENVENISTE, Émile. O Aparelho Formal da Enunciação. In ____. Problemas de lingüística geral II. Tradução de Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 1989. p. 81- 90 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva; Guacira Lopes Louro. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. ... LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 31LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 31 7/2/2011 09:53:267/2/2011 09:53:26 Linguística III - Teoria da análise de discurso 32 Módulo 2 I Volume 8 EAD Enunciação, ideologia e sentido 2 ENUNCIAÇÃO E ENUNCIADO Saussure excluiu a fala do objeto científi co da linguística. En- tretanto, a enunciação está situada no campo da fala. Segundo Ben- veniste, (1989, p. 82), a enunciação é “este colocar em funcionamen- to a língua por um ato individual de utilização”. Mas a enunciação não é simplesmente a fala, ela é o ato de produzir um enunciado. E assim ela vai exigir uma situação, em que se dá esse ato, e vai exigir um sujeito da enunciação. Para Cardoso (1999, p. 16) a enunciação res- titui “aos estudos da linguagem a instância que coloca o propriamen- te lingüístico em conexão com os enunciadores e mundo”. Brandão (1995, p. 89) defi ne: Enunciação é a emissão de um conjunto de signos que é produto da interação de indivíduos socialmente organizados. A enunciação se dá num aqui e agora, jamais se repetindo. Ela se marca pela singularidade. A linguagem, então, deixa de ser vista apenas como instru- mento externo de comunicação e de transmissão de informação, mas passa a ser vista como uma forma de atividade entre o sujeito da enunciação e seu destinatário. As formas da língua, tal como defi nida por Saussure, se oferecem aos falantes como virtualidades, como possibilidades. Mas elas só funcionam quando são usadas nos atos de enunciação. Ao produzir um enunciado, o sujeito da enunciação institui a si mesmo, como sujeito que fala, e institui o outro, o interlocutor. A enunciação é um espaço em que se organizam os lugares dos pro- tagonistas do ato de linguagem. Por exemplo, imagine o seguinte enunciado: - Vá para casa agora mesmo! Ao produzir este enunciado, o sujeito da enunciação se coloca numa posição superior e institui o interlo- cutor como alguém numa posição inferior. Este enunciado só é possível numa situação em que, hierarquicamente, um superior se dirige a um subalterno. No cotidiano, quando alguém, que não ocupa uma posição superior à nossa, nos dá uma ordem, nossa resposta é: “quem você pensa que eu sou?” “Quem você pensa ENUNCIAÇÃO: é a emis- são de um conjunto de signos que é produto da interação de indivíduos socialmente organizados. LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 32LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 32 7/2/2011 09:53:277/2/2011 09:53:27 Bruno Underline Bruno Highlight Bruno Underline 33Letras VernáculasUESC 2 U ni da de I A ul a que é?” Em outras palavras, dizemos que não aceitamos o modo como o sujeito da enunciação instituiu a si mesmo e a nós, através do enunciado, dando-nos uma ordem. A enunciação institui seu sujeito e o interlocutor. Além disso, ela também “tenta legitimar esse quadro instituído” (MAINGUENEAU, 2001, p. 93). No exemplo acima, quando uma ordem nos instituiu como inferior ao sujeito da enunciação, nossa reação foi não aceitar essa relação como legítima e respondemos: “Quem você pensa que é?” Agora não estamos mais diante da língua abstrata estabele- cida por Saussure. O ato da enunciação está centrado no sujeito da enunciação e na situação em que este produz o enunciado. Com a enunciação, a língua deixa de ser apenas possibilidades e se torna uma instância sonora da fala de um locutor, que atinge um ouvinte e que provoca uma outra enunciação de retorno (BENVENISTE, 1989). Assim, todo enunciado é o produto de um acontecimento único, sua enunciação, “que supõe um sujeito da enunciação, um destinatário, um momento e um lugar particulares. Esse conjunto de elementos defi ne a situação de enunciação” (MAINGUENEAU, 1996, p. 5). Ao mesmo tempo em que se declara locutor, isto é, aquele que fala, o sujeito da enunciação implanta também o outro diante de si: “Toda enunciação é, explícita ou implicitamente, uma alocução, ela postula um alocutário” (BENVENISTE, 1989, p. 84). A enunciação emprega a língua para expressar uma certa relação com o mundo, referida pela sua fala e para o interlocutor. Essa relação é expressa como sendo um consenso pragmático entre o sujeito da enunciação e o seu destinatário. Por exemplo, quando uma pessoa lhe diz: “A mulher foi quem trouxe o pecado ao mundo!”, esta pessoa supõe que você está de acordo com isso, e que tal afi rmação seja um consenso entre ela, sujeito da enunciação, e você, o destinatário. Ela está ex- pressando uma certa relação com um tipo de mundo onde o pecado foi trazido pela mulher. Caso você fi que calado e continue a conversa, a enunciação estabeleceu um mundo que é consenso entre o sujeito da enunciação e você. Os dois estão de acordo, se referindo a um mesmo mundo. Assim, podemos dizer que o destinatário participa também da enunciação, sendo um co-enunciador, porque o mundo referido foi estabelecido em comum acordo entre ambos. Da enunciação é que emergem os índices de pessoa, a relação eu-tu. O termo eu denota o indivíduo que profere a enunciação e o termo tu denota o destinatário. Quando falo, assumo o índice de pes- soa eu, mas quando alguém fala comigo, assumo o índice de pessoa tu. ATENÇÃO Observe que antes estu- dávamos apenas a estru- tura da língua, abstrata- mente. Por exemplo, estudávamos que o ver- bo concorda em número e pessoa com o sujeito. Trata-se de um princí- pio geral que pode ser exemplifi cado em fra- ses, sem precisar espe- cifi car quem falou, com quem falou, onde falou, quando falou etc. Com a enunciação, passamos a estudar a linguagem, in- cluindo língua e fala e a situação de enunciação. No entanto, no ensino escolar, ainda predomina o ensino da estrutura da língua, por meio de fra- ses, e não o ensino da linguagem, por meio de enunciados. SITUAÇÃO DE ENUN- CIAÇÃO: é o conjunto dos seguintes elemen- tos: sujeito da enun- ciação, o destinatário, o momento e o lugar em que foi produzido o enunciado. LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 33LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 33 7/2/2011 09:53:297/2/2011 09:53:29 Bruno Underline Bruno Underline Bruno Typewriter formação imaginarianullcondições de produção socionullhistoricasnulldao a situação de enunciação Bruno Highlight Linguística III - Teoria da análise de discurso 34 Módulo 2 I Volume 8 EAD Enunciação, ideologia e sentido Também é da enunciação que emergem as formas chamadas “pronomes pessoais” e “demonstrativos” que adquirem signifi cados a depender da situação ou contextoem que são usadas. Por exemplo, se digo a alguém: “Não saio daqui!”, o signifi cado do termo aqui vai depender do lugar de onde eu esteja falando. Vemos, portanto, que, na enunciação, não há uma união fi xa entre signifi cante e signifi cado, mas existe uma união que varia, a depender do contexto. O uso das formas temporais emerge igualmente do eu da enun- ciação. Nas formas verbais, o “presente” coincide com o momento da enunciação. Quando digo a alguém: “Viajo agora!”, o presente do verbo “viajo” e do advérbio “agora” coincidem com o momento da enunciação, isto é, com o momento em que estou falando. O tempo é produzido na e pela enunciação. Esta instaura a categoria do presen- te, da qual deriva o passado e o futuro. Podemos concluir que a enunciação tem importância funda- mental na signifi cação das palavras, tornando insufi ciente a relação arbitrária entre signifi cante e signifi cado, postulada inicialmente por Saussure. As teorias linguísticas da enunciação refutam precisa mente o corte que Saussure operou entre o linguístico, a estrutura da lín- gua, e o “extralin guístico”, isto é, a fala. Dessa forma, em vez de uma relação fi xa entre signifi cado e signifi cante, as signifi cações so- cioculturais “estão sendo constituídas no próprio ato de enunciação” (BHABHA, 2003, p. 230). Por exemplo, quando falamos do samba, na música brasileira, não estamos repetindo um conceito já pronto e aceito por todos. A cada vez que é feita alguma enunciação sobre o samba, seu signifi cado está sendo constituído. A palavra samba, em cada fala, assume conotações e nuances próprias daquela enuncia- ção e da Formação Discursiva dominante. Por exemplo, no enunciado de um professor, reclamando da preguiça do aluno: “Você não fez a atividade! Só quer viver no samba!”, a palavra “samba” signifi ca brin- cadeira, folga. Mas no enunciado, avaliando os planos de um amigo: “Isso não vai dar samba!”, a expressão signifi ca “não vai dar certo”. Assim, é ilusória a crença de que há um único mundo estável, no qual toda uma comunidade acredite. O mundo é sempre constituído no ato de cada enunciação. Daí a necessidade de estar- mos sempre conversando, isto é, de estarmos fazendo enunciações para atualizar nosso mundo socioculturalmente compartilhado. Por exemplo, as fofocas, numa cidade pequena, são enunciações que ins- tituem novas pessoas. Se alguém enuncia que a mulher de Fulano o está traindo com outro homem, estamos instituindo novas pesso- as: a mulher, antes considerada honesta, agora é constituída como uma adúltera; o marido, antes considerado capaz e correto, agora é LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 34LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 34 7/2/2011 09:53:297/2/2011 09:53:29 Bruno Underline Bruno Underline Bruno Underline Bruno Underline Bruno Highlight Bruno Underline 35Letras VernáculasUESC 2 U ni da de I A ul a constituído como um bobo que está sendo enganado. É assim que, na verdade, vamos constituindo o mundo e as pessoas em nossas enunciações, acreditando ingenuamente que tudo já existia antes tal como o estamos constituindo em nosso discurso. A maioria das pessoas pensa que, primeiro, existe um mundo já pronto, já constituído, e que nossa fala, nossas enuncia- ções, apenas se referem a ele. Isso é uma ilusão. Na realidade, quan- do fazemos uma enunciação é que estamos constituindo o mundo. A enunciação institui seu sujeito, seu destinatário e o mundo compartilhado pelos dois. Todos estes elementos estão mar- cados no enunciado, que é o produto da enunciação. O sentido de um enunciado é, portanto, a representação de sua enunciação. Des- sa forma, “não há sentidos cristalizados, independentes, mas senti- dos construídos numa situação discursiva”, isto é, numa enunciação (BRANDÃO, 1998, p. 98). A enunciação é um acontecimento que não se repete, porque se realiza num certo local, numa certa data e num certo horário. O enunciado, por sua vez, se caracteriza por ser repetível. Assim, pode- mos dizer que dois enunciados, pronunciados por duas pessoas, em situações um pouco diferentes, constituiriam um só enunciado. 3 IDEOLOGIA A ideologia se materializa na linguagem e é um mecanis- mo estruturante do processo de signifi cação. O conceito de ideolo- gia, desde o seu surgimento, no século XIX, tem recebido diferentes signifi cações. Eagleton (1997, p. 15) apresenta 16 delas, como falsa consciência, visão de mundo, ocultamento da realidade, ideias de um determinado grupo social, entre outras. A concepção marxista de ide- ologia é a de ser um instrumento de dominação de classe (BRANDÃO, 1995). Segundo Althusser (1985), a ideologia interpela os indiví- duos como sujeitos e é uma representação da relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência. Assim, a ideologia não representa o mundo real, mas a relação que o indivíduo tem com esse mundo real. Tal representação existe sempre num Aparelho Ide- ológico de Estado (AIE), que são as instituições, como o AIE religioso, formado pelo sistema das diferentes igrejas; o AIE escolar, o familiar, o jurídico, o político, o sindical, etc. Eles funcionam principalmente pela ideologia e, secundariamente, pela repressão. Por exemplo, na Idade Média, os servos eram explorados pelos PARA REFLETIR Se você conversa com uma pessoa muito reli- giosa, pode perceber que o mundo que ela consti- tui em sua enunciação é diferente do mundo tal como o vivemos em nos- so cotidiano. Basta per- guntar-lhe o que acha do carnaval, por exemplo, para ver que este deixa de ser uma festa popu- lar para se transformar numa orgia satânica. Se perguntar a um pescador o que ele acha do mar, seu mundo oceânico é totalmente diverso do mundo turístico. Con- verse com pessoas de diferentes classes sociais e você irá perceber que, em suas enunciações, vão ser constituídos dife- rentes mundos. LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 35LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 35 7/2/2011 09:53:297/2/2011 09:53:29 Bruno Underline Bruno Underline Bruno Underline Linguística III - Teoria da análise de discurso 36 Módulo 2 I Volume 8 EAD Enunciação, ideologia e sentido senhores feudais. Esta era a realidade do mundo. No entanto, na instituição religiosa, os padres en- sinavam uma relação imaginária, em que o sofri- mento causado pela exploração seria recompen- sado com o céu, após a morte. Dessa forma, a ideologia católica medieval não representava as condições reais de existência dos servos, mas re- presentava uma relação imaginária que esses ser- vos tinham com a exploração que sofriam. Assim, as escolas e igrejas dispõem de mé- todos adequados de punição, expulsão, seleção, para disciplinar não apenas seus pastores e sacerdotes, mas também seus rebanhos. O mesmo se aplica às outras instituições, como a família, a escola e órgãos culturais. Todos os AIEs contribuem para a reprodução das relações capitalistas de exploração. Por isso, uma ideologia existe sempre num aparelho e em suas práticas, regida por rituais: ir à missa, assistir a uma aula, participar de uma reunião política ou familiar etc. A ideologia se materializa, portanto, nas instituições sociais, isto é, nos Aparelhos Ideológicos do Estado. Nossa prática está ligada às instituições e, portanto, só exis- te prática dentro de uma ideologia. Como sujeito é aquele que age, podemos dizer que a ideologia, nasinstituições, nos interpela como sujeitos, nos faz agir. Vamos imaginar que você escute a voz de sua mãe, às suas costas, chamando-o pelo nome. Você já se volta agindo como fi lho: “Sim, mãe!”. Se a voz fosse a de um amigo, você já se voltaria agin- do como amigo: “Oi cara!”. Da mesma forma, ao fazer parte das instituições sociais, como a família, a escola e a religião, é como se você respondesse a um chamado da ideologia, como se você fosse interpelado pela ideologia, passando a agir, inconscientemente, pelo funcionamento dela. As instituições nos chamam, nos interpelam o tempo todo em sujeitos e nós atendemos a esse chamado, pensando que fazemos uma escolha livre e consciente. E assim, cada um de nós é levado a ocupar um determinado lugar na sociedade. Nessa visão althusseriana, a infraestrutura econômica da so- ciedade determina o funcionamento da superestrutura, formada pela ideologia, nas instituições jurídicas, familiares, religiosas etc. Desse modo, a ideologia só pode ser vista como reprodutora, perpetuando a base econômica e a estrutura da sociedade. Essa circularidade no funcionamento da sociedade acaba por criar uma impossibilidade de mudanças sociais e o sujeito difi cilmente consegue sair do movimen- to circular entre infraestrutura e superestrutura. Bem aventurados os pobres porque verão a Deus! Figura 2 - Fonte: http://www.sxc.hu/photo/472534 IDEOLOGIA: é a repre- sentação de uma relação imaginária dos indivíduos com suas condições re- ais de existência, numa determinada instituição social. PARA REFLETIR Observe que, nas cida- des brasileiras, quase não encontramos pes- soas da religião islâ- mica ou budista. Por quê? Porque, em nossa formação histórica, as instituições religiosas que nos interpelam em sujeitos são a religião cristã, trazida pelo co- lonialismo europeu, e o culto das entidades, trazido pelos africanos e já praticado pelos in- dígenas. Só podemos ser membros de algum grupo religioso, se for- mos antes interpelados por ele. LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 36LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 36 7/2/2011 09:53:297/2/2011 09:53:29 Bruno Highlight Bruno Underline Bruno Underline 37Letras VernáculasUESC 2 U ni da de I A ul a A Análise de Discurso parte do conceito de interpelação proposto por Althusser, mas introduz uma teoria materialista do dis- curso, em que as relações de classe se caracterizam pelo afronta- mento de formações ideológicas (ABREU, 2006). Nos aparelhos ideo- lógicos, isto é, nas instituições, temos, em um dado momento, forças se contrapondo a outras forças. Por exemplo, dentro da Igreja católi- ca hoje, os adeptos da Teologia da Libertação se contrapõem à teolo- gia tradicional e aos grupos carismáticos. Dentro de uma instituição, as Formações Ideológicas são esses conjuntos de representações e atitudes, relacionados com as posições de classe em confl ito. Cada Formação Ideológica, numa dada conjuntura, inclui uma ou várias formações discursivas, que determinam o que pode e deve ser dito a partir dessa posição. Assim, as palavras ganham seu sentido de acordo com a formação ideológica na qual se inscrevem aqueles que as empregam. O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é nesse e por esse processo que se constituem os signifi cados ou sen- tidos das palavras. Dessa forma, o signo linguístico não é uma relação fi xa e arbitrária entre signifi cante e signifi cado, mas tem um caráter ideoló- gico, relacionado à luta de classe dentro das instituições sociais: Na realidade, um signo, uma palavra, uma enunciação só podem ser tomados dentro de um contexto de produção que leve em consideração o seu caráter ideológico, social e histórico, ou seja, no momento concreto de sua realização, dentro da situação concreta que lhes deu origem (BRAGGIO, 1992, p. 90). Na próxima aula, vamos ver como língua, enunciação e ideologia são articuladas no discurso. LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 37LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 37 7/2/2011 09:53:347/2/2011 09:53:34 Bruno Underline Bruno Typewriter Formação ideológicanullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullformação discursiva Bruno Underline Linguística III - Teoria da análise de discurso 38 Módulo 2 I Volume 8 EAD Enunciação, ideologia e sentido AATIVIDADETIVIDADE 1. O que diferencia uma frase de um enunciado? 2. Quem institui o sujeito da enunciação, o destinatário e o mundo referente? Explique. 3. O que são e em que lugar da sociedade ocorrem as Formações Ideológicas? Explique. 4. Qual a relação entre Ideologia e o sentido das palavras? 5. O mundo e as pessoas sobre os quais você fala, existem antes de você falar sobre eles? 6. Explique e dê exemplos de dêiticos. RESUMINDO Nesta aula você viu que a enunciação: Institui o enunciador e seu destinatário. Estabelece, de forma consensual, o mundo a que se refere, tornando o destinatário co-enunciador. Faz emergir os índices de pessoa eu-tu e outros dêiticos, isto é, palavras cujos signifi cados dependem do contexto, como os “pronomes pessoais” e os “demonstrativos”. A enunciação interfere no signifi cado das palavras. As signifi cações socioculturais são constituídas no próprio ato de enuncia- ção. O mundo é sempre constituído no ato de cada enunciação. O sentido de um enunciado é, a representação de sua enunciação. A enunciação é um acontecimento que não se repete, porque se realiza num certo local, data e horário. O enunciado é repetível. Viu também que a ideologia: Materializa-se na linguagem, infl uenciando o signifi cado das palavras; Interpela os indivíduos como sujeitos e é uma representação da relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência; Existe sempre nas instituições e em suas práticas. Leva-nos a ocupar um determinado lugar na sociedade; Manifesta-se no afrontamento de formações ideológicas nas instituições. Cada Formação Ideológica, numa dada conjuntura, inclui uma ou várias formações discursivas, que determinam o que pode e deve ser dito a partir dessa posição. Cada Formação Ideológica dominante determina o signifi cado das pala- vras. LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 38LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 38 7/2/2011 09:53:347/2/2011 09:53:34 39Letras VernáculasUESC 2 U ni da de I A ul a ABREU, Ana Sílvia Couto de. Escola e Escola on line: alguns efeitos do discurso pedagógico midiatizado. Tese de doutorado. Campinas: FE/UNICAMP, 2006. ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de estado. 7. ed. Tradu- ção de Walter José Evangelista; Maria Laura Viveiros de Castro; Rio de Janeiro: Graal, 1985. BENVENISTE, Émile. “O Aparelho Formal da Enunciação” In: ____. Problemas de lingüística geral II. Tradução de Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 1989. p. 81-90. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila; Elia- na Lourenço de Lima Reis; Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: UFMG, 2003. BRAGGIO, Sílvia Lúcia Bigonjal. Leitura e alfabetização: da concep- ção mecanicista à sociopsicolingüística. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise do discurso. 4. ed. Campinas: UNICAMP, 1995. _____. Subjetividade, argumentação, polifonia. A propaganda da Petrobrás. São Paulo: UNESP,1998. CARDOSO, Sílvia Helena Barbi. Discurso e ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. Tradução de Luís Car- los Borges; Silvana Vieira. São Paulo: UNESP, 1997. MAINGUENEAU, Dominique. Elementos de lingüística para o texto literário. Tradução de Maria Augusta Bastos de Mattos. São Paulo: Martins Fontes, 1996. _____. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Souza Silva; Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001. R E F E R Ê N C IA S LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 39LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 39 7/2/2011 09:53:357/2/2011 09:53:35 _______________________________________________________ ______________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Suas anotações... LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 40LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 40 7/2/2011 09:53:357/2/2011 09:53:35 Ao fi nal desta aula você deverá: • analisar o conceito de discurso na concepção de Foucault; • estabelecer diferença/relação entre língua, discur- so, ideologia e instituições sociais; • analisar a relação discurso e formação discursiva; • relacionar o conceito de discurso com enunciação; • relacionar o conceito de discurso com ideologia. 3aula Ob jet ivo s O CONCEITO DE DISCURSO LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 41LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 41 7/2/2011 09:53:357/2/2011 09:53:35 LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 42LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 42 7/2/2011 09:53:367/2/2011 09:53:36 3 U ni da de I A ul a 43Letras VernáculasUESC AULA 3 O CONCEITO DE DISCURSO 1 INTRODUÇÃO Já vi mos que a enunciação fez com que os estudos linguísticos deixassem de considerar apenas a língua abstrata, tal como formulada por Saussure, para tomar como objeto a linguagem, incluindo a fala. Com isso, a linguística passou a considerar a situação imediata e o contexto sócio-histórico da enunciação. Além da instância do fonema, da palavra e da frase, a linguística voltou-se também para a instância do texto e a instância do discurso. Na análise de discurso, o sentido das palavras passa a ser determinado pela enunciação e pela ideologia do discurso em que são usadas. LEITURAS PRÉVIAS ORLANDI, Eni Puccinelli. A lingua- gem e seu funcionamento. As formas do discurso. 4. ed. Campinas: Pontes, 1996. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. www.ciberfi l.hpg.ig.com.br ... LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 43LETRAS - MOD 3 - VOL 4 - TEORIA DA ANALISE DO DISCURSO - Odilon - parte 1.indd 43 7/2/2011 09:53:367/2/2011 09:53:36 44 Módulo 2 I Volume 8 EAD Linguística III - Teoria da análise de discurso O conceito de Discurso 2 O DISCURSO Podemos estudar a linguagem de diversas maneiras: a Linguística concentra sua atenção sobre a língua, enquanto sistema de signos; a Gramática Normativa enfoca as normas de bem dizer; a Gramática Histórica estuda as mudanças da língua no tempo etc. A Análise de Discurso é um modo particular de se estudar a linguagem. Etimologicamente, a palavra discurso signifi ca percurso, correr por, movimento. Assim, discurso é palavra em movimento, prática de linguagem, observar o homem falando (ORLANDI, 1999). A Análise de Discurso surgiu nos anos 60 do século XX. Mas os estudos sobre a produção de sentidos na língua já tinham sido realizados pelos retóricos da Antiguidade e, no século passado, pela semântica histórica de Bréal, linguista francês, e pelos formalistas russos, que pressentiram no texto uma estrutura. Todos estes enfoques permitem analisar unidades além da frase, ou seja, o texto. Em sua linha francesa, a Análise de Discurso (daqui em diante AD) parte de “uma relação necessária entre o dizer e as condições de produção desse dizer”, exigindo uma articulação teórica com a História, a Psicologia, a Sociologia etc. (BRANDÃO, 1995, p. 17-18). Não se trabalha com a língua fechada nela mesma, mas com o discurso, que é um objeto sócio-histórico. Por outro lado, não se trabalha com a história e a sociedade como se fossem independentes do que signifi cam na linguagem. Conforme já visto, os confl itos ideológicos ocorrem nas instituições, como família, escola, igrejas, sindicatos etc. Por isso o conceito de discurso vai levar em conta a instituição a que está relacionado, com seus afrontamentos ideológicos, além do espaço próprio que cada discurso confi gura para si mesmo, entre os outros discursos. A materialidade específi ca da ideologia é o discurso e a materialidade específi ca do discurso é a língua. A AD trabalha essa relação língua/discurso/ideologia
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