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TRABALHO OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO CIVIL II 
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Obrigação de não fazer
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Porto Alegre
2018 
SUMÁRIO
NOÇÕES …………………………………………………………………………………… 3
IMPOSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO …………………………………………….... 5
INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO NEGATIVA ……………………………………. 6
BIBLIOGRAFIA …………………………………………………………………………….. 7
NOÇÕES
 		As obrigações fazem parte da vida do homem como integrante de uma sociedade, e tão importante quanto a sua constituição, é o seu adimplemento ou inadimplemento, que gera consequências e que é regulado pelo Direito das Obrigações, dentro do ramo do Direito Civil e cristalizado no Código Civil de 2002.
 	 O presente trabalho tem o intuito de apresentar e analisar uma das espécies desses direitos obrigacionais, qual seja, a obrigação de não fazer. 
 	 Enquanto na obrigação de fazer há uma injunção a uma ou mais pessoas de praticar um fato, posto que se deve fazer relativamente a alguém, já na de não fazer está-se diante de toda a sociedade, que exige postura de convivência normal de qualquer pessoa, a qual restringe enormemente as ações ou os atos das pessoas. O respeito aos direitos dos outros conduz à omissão de atos ou ações de coletividade. 
“A obrigação de não fazer se caracteriza por uma abstenção, uma pati, em relação ao devedor” Serpa Lopes
 	 Trata-se de uma obrigação negativa cujo objeto da prestação é uma omissão ou abstenção. Os romanos chamavam de obrigação ad non faciendum.. Seu conceito configura um vínculo jurídico pelo qual o devedor se compromete a se abster de fazer certo ato, que poderia livremente praticar, se não tivesse se obrigado em benefício do credor. O devedor vai ter que sofrer, tolerar ou se abster de algum ato em benefício do credor. 
Para fins de compreensão, surgem os seguintes exemplos: 
-O engenheiro químico que se obriga a não revelar a fórmula do perfume da fábrica onde trabalha; 
-O condômino que se obriga a não criar cachorro no apartamento onde reside;
-O professor que se obriga a não dar aula em outra faculdade concorrente; 
-O jogador de futebol que se obriga a não jogar contra o time que o revelou, etc. 
 	 A imposição de uma obrigação negativa determina ao devedor uma abstenção que pode ou não ser limitada no tempo. Essa obrigação ora se apresenta como pura e simples abstenção (Ex. um alienante de estabelecimento comercial que se compromete a não se estabelecer em um mesmo ramo de negócios, em determinada zona de influência), ora como um dever de abstenção ligado a uma obrigação positiva (Ex. caso de artista que se compromete a exibir-se apenas para determinada empresa). 
	 Toda a obrigação deve revestir-se de objeto lícito, negócio jurídico que é. Na obrigação de não fazer, tal licitude reveste-se de um especial aspecto 
. 
 		Se a prestação, objeto da obrigação (in obligatione), tornar-se impossível de ser satisfeita, sem culpa do devedor, extingue-se a obrigação, pois o credor não poderá exigir uma prestação in facultate solutiones. 
 Não são lícitas as convenções em que seja exigido sacrifício excessivo da liberdade do devedor ou que atentem contra os princípios dos direito fundamentais e humanos. 
 Como à autonomia privada dispõem de grande liberdade, as obrigações negativas podem se constituir de múltiplas formas, mas obrigações imorais e anti-sociais, ou que sacrifiquem a liberdade das pessoas, são proibidas. Nesses casos, impera a questão do bom senso, ou de razoabilidade. 
 	 Como exemplos disso, temos as obrigações de: não casar; não trabalhar; não cultuar com certa religiãoe etc., pois o Estado as repugna. Porém, deve-se atentar ao caso concreto. A obrigação de não casar, por exemplo, em geral é ilícita, mas se houver justificativa para tal, torna-se lícita, como por exemplo, os menores de 16 anos são considerados inabilitados para o casamento, mas pode haver exceções, conforme o conteúdo disposto no Art. 1520 do Código Civil - Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.
 As obrigações de não fazer se caracterizam pela omissão autônoma, ou pode estar ligada a outra obrigação positiva. Surge aqui então inadimplemento, a partir do instante em que há a realização de ação não devida por parte do devedor. 
		De acordo com o conceito trazido pelo ex-magistrado Arnaldo Rizzardo, em seu livro Direito das Obrigações, nos diplomas disciplinares, que regulam condutas e impõem sanções, há uma sequência de normas impondo a abstenção de atos, sob pena das mais diversas cominações, como se pode verificar no conteúdo disposto em nosso Código Penal, como por exemplo no Art. 24, § 1- Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo; e ainda em nosso Código de Trânsito, a exemplo do Art. 33 - Nas interseções e suas proximidades, o condutor não poderá efetuar ultrapassagem.
		Ainda com citação ao escritor Arnaldo Rizzardo, no Código de Defesa do Consumidor, ao consignarem-se as inúmeras situações de abuso do fornecedor, está-se exigindo a abstenção da exploração do mais fraco, da propaganda enganosa e da vantagem excessiva, entre outras situações.
		
 	 Assim, conforme Araken Assis, podemos identificar três tipos diferentes de obrigações de não fazer, são elas:
A de não fazer algo: exemplo no Art. 23, VI, da Lei 8.245 de 1991 - O locatário é obrigado a:(...) VI - não modificar a forma interna ou externa do imóvel sem o consentimento prévio e por escrito do locador; (...)
A de tolerar fato natural ou atividade alheia: Art. 1288 do Código Civil;- O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas que correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior.
A de consentir prática de certo ato dependente de autorização: Art. 23, IX, da Lei 8.245 de 1991 - O locatário é obrigado a: (...) IX - permitir a vistoria do imóvel pelo locador ou por seu mandatário, mediante combinação prévia de dia e hora, bem como admitir que seja o mesmo visitado e examinado por terceiros, na hipótese prevista no art. 27;
IMPOSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO
		Existem obrigações de não fazer que são impossíveis de serem cumpridas e, nesses casos, cabe o Art. 250 do Código Civil - Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar; que extingue a obrigação de não fazer. Provém a impossibilidade de um caso de força maior e não há culpa por parte do devedor.
 A exemplo disso temos, situação onde o devedor comprometeu-se a não construir um muro para não atrapalhar a vista de seu vizinho. Porém, uma autoridade competente determinou que o muro deve ser construído. Logo, o devedor deverá atender à determinação da autoridade, deixando de cumprir a obrigação prévia.
		Além do exemplo dado assim, podemos ilustrar o caso, também, em uma concessão na representação comercial de um produto. Caso haja exclusividade do produto a uma única empresa e este mesmo produto desapareça de do comércio, a obrigação será rompida. 
		É necessário observar que existem obrigações de abstenção que exigem exagerada limitação da liberdade humana, por exemplo, a obrigação por contrato que veda que um artista participe de outras propagandas comerciais se não aquela exclusiva. 
INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO NEGATIVA
		Conforme dispõe o Art. 251 do Código Civil - Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigar, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer àsua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos; se o devedor praticar o ato, o credor pode exigir que o mesmo o desfaça, sob pena de desfazer à sua custa, procurando, ainda, ressarcimento pelas perdas e danos. 
	Nas obrigações de não fazer, a mora é presumida pelo descumprimento do dever de abstenção. O devedor, em caso de mora, deve desfazer pessoalmente o ato, respondendo ainda por perdas e danos, ou o credor poderá desfazê-lo às custas do devedor requerendo, ainda, perdas e danos. 
Nada impede, porém, que o credor peça somente o pagamento, convertendo a obrigação de não fazer em perdas e danos. O mesmo caso se aplica quando não for possível desfazer o ato, conforme o Art. 816 do Código de Processo Civil - Se o executado não satisfizer a obrigação no prazo designado, é lícito ao exequente, nos próprios autos do processo, requerer a satisfação da obrigação à custa do executado ou perdas e danos, hipótese em que se converterá em indenização.
BIBLIOGRAFIA 
GOMES, Orlando. Obrigações. 16ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
MONTEIRO, Washington de barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso de direito civil: direito das obrigações: 1ª parte. Vol. 4, 40ª edição. São Paulo: Saraiva, 2015.
RIZZARDO, Arnaldo. Direito das obrigações. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. Vol. 2, 6ª ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006.
 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil - Vol. 2 - Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 8ª ed. São Paulo: Método, 2013.
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