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ACÓRDÃO 1 VÍNCULO DE EMPREGO

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Acórdão-2ªT RO 00106-2008-053-12-00-9
VÍNCULO EMPREGATÍCIO. RECONHECIMENTO. A coexistência dos elementos pessoalidade, não eventualidade, onerosidade e, principalmente, a subordinação converge para o reconhecimento do vínculo empregatício do trabalhador, prestador de serviços ligados à atividade-fim da empresa, sob a rígida fiscalização no tocante aos horários a cumprir e tarefas a realizar.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de RECURSO ORDINÁRIO, provenientes da 3ª Vara do Trabalho de Criciúma, SC, sendo recorrente CARBONÍFERA CRICIÚMA S.A. e recorrido RINALDO DOS SANTOS.
Inconformada em parte com a sentença das fls. 141-145, complementada à fl. 150, recorre a ré principalmente no tocante ao reconhecimento do vínculo ao autor, na função de motorista de caminhão e no período compreendido entre 14-1-2003 e 13-8-2007.
Primeiramente destaca que o contrato realidade firmado entre as partes, mesmo de forma verbal, previa a execução de serviços no meio ambiente, ou seja, visava à recuperação de áreas degradadas e à limpeza das bacias de decantação de carvão mineral, conforme o relato de Jonatas (testemunha emprestada, fl. 86), e foi ajustada com o fito de dar cumprimento ao termo de ajustamento de conduta – TAC – firmado com o Ministério Público Federal, uma vez que a empresa não dispunha à época de caminhões e equipamentos suficientes para a realização desses trabalhos. Assim expende que recorreu a terceiros para viabilizar o TAC, caso contrário correria o sério risco de paralisar as atividades de extração e beneficiamento do carvão – atividade-fim da empresa, com conseqüências desastrosas.
Aduz que não ficou comprovado que o recorrido preenchia todos os requisitos do art. 3º da CLT.
No que tange à alegação de obrigatoriamente cumprir jornada de trabalho, a argumentação é de que o horário de prestação de serviços coincidia apenas em parte com o horário dos funcionários da ré, bem assim de que poderia se fazer substituir por outra pessoa. Expõe que a conferência dos horários executados se deu pela simples razão e necessidade de aferir todas as horas prestadas, porque a contratação dos serviços (locação de máquinas) as tinha como base.
Comenta que não havia obrigação por parte do autor de cumprir horários, como por exemplo em caso de problemas com o caminhão, podendo dispor do tempo
para levá-lo à manutenção e para realizar atividades particulares, conforme infere do depoimento de Daniel Kulakauskas, e, obviamente, esse tempo de inatividade não era remunerado, porquanto o pacto firmado previa a remuneração baseada nas horas que as máquinas estivessem em operação. Também comenta que as tarefas eram repassadas ao autor, mas a ele caberia escolher a forma e o meio da execução que melhor lhe aprouvesse, sendo submetido apenas à fiscalização regular para a observação dos serviços realizados a contento, sob pena de refazê-los.
Diz a ré que não exerceu poder disciplinar, que o autor era autônomo (equiparado a empresário), com total liberdade de ação e direcionamento, não ficando sujeito às ingerências da ré, pois tinha interesse no resultado final do trabalho, e que não exigiu exclusividade.
Anota que o autor recebia por hora e que, na inexistência de “quebra” do caminhão, teria lucro porque no valor estaria embutido parte para a manutenção que, afinal, não foi necessária, e que um empregado motorista de caminhão comum não recebe salários de R$ 6.000,00 (seis mil reais).
Enfim, conclama sejam observados os primados da boa-fé objetiva, probidade e eticidade, regras de condutas não observadas pelo recorrido, e refere, uma vez mais, não estar comprovado estreme de dúvidas que o recorrido estaria obrigado a executar ordens sob direção dos prepostos da recorrente, bem como obrigado a cumprir jornada, tanto que não havia necessidade de execução de outras tarefas enquanto o caminhão estivesse em período de reparos, lembrando que o caminhão é de propriedade do autor e que este ficou por longo espaço de tempo silente enquanto trabalhava, quer seja por conveniência de auferir valores muito acima aos pagos aos que exercem função similar na empresa, quer seja porque estar ciente do que fora entabulado.
 [...]
É o relatório.
VOTO
Conheço do recurso e das contrarrazões porque atendidos os pressupostos legais de admissibilidade.
MÉRITO
1. VÍNCULO DE EMPREGO E RESSARCIMENTO DAS DESPESAS COM NOTAS FISCAIS EMITIDAS (DEVOLUÇÃO DOS DESCONTOS NOTICIADOS PELAS NOTAS)
A prova emprestada dos autos nº 3981-2007-003-12-00-5 é concludente.
Das informações coletadas exsurge nitidamente o liame empregatício entre o autor e a ré, no período indigitado e não-impugnado (entre 14-1-2003 e 15-8-2007), na função de motorista de caminhão. Senão vejamos trechos dos relatos que seguem: “(...) o autor transportava material denominado “xilame” para o local onde o depoente trabalhava; (...) o autor era obrigado a cumprir horário de trabalho; o autor trabalhava das 07h15min às 12h e das 13h às 16h45min, de segunda a sexta-feira; (...) o encarregado repassava os serviços ao autor; constatou o encarregado dando ordens ao autor, como por exemplo,
determinar o trabalho a ser por ele executado; o autor trabalhava no meio ambiente e no lavador (este no setor de produção), que são setores diferentes; no início do contrato do autor, a anotação do horário era realizado pelo encarregado e, posteriormente, passou a ser feita pelo apontador”. (Aparecido da Silva Cardoso, fl. 85)
“(...) o autor era obrigado a cumprir horário de trabalho das 07h15min às 17h, com intervalo de uma hora, de segunda a sexta-feira; (...) o encarregado dava ordens ao autor; havia controle de horário de trabalho, ou seja, era anotado num caderno pelo encarregado”. (Acacio Mateus Marques, fl. 86)
“(...) o horário era “determinado das 07h15min às 16h45min; o autor trabalhava todos os dias e raramente (uma vez por mês) prestava serviços aos finais de semana; o pagamento ao autor era feito mensalmente, mediante apresentação de nota fiscal da empresa pertencente ao autor e de outro colega; (...) o controle de horas era feito pelo depoente; as tarefas a serem realizadas eram repassadas ao autor pelo depoente e pelo engenheiro André; no início era pago ao autor em torno de R$ 30,45 por hora; a empresa fornecia, ainda, o combustível, no início; (...) o serviço realizado pelo autor era fiscalizado e caso não fosse feito a contento, o autor o refazia mediante acordo/conversa; (...) esclarece o depoente que o autor não possui empresa constituída; (Jonatas da Luz Vieira, fls. 86 e 86)
Denotam esses relatos os requisitos característicos da relação de emprego: pessoalidade, nãoeventualidade, onerosidade e subordinação.
Registro que a não-eventualidade ressuma do aspecto de que a atividade contratada (prestação de serviços relacionados à recuperação das áreas degradadas e à limpeza das bacias de decantação de carvão mineral) estava ligada sim à atividade-fim da ré (extração e beneficiamento do carvão), sendo extremamente necessária (prova disso é o reconhecimento da ré-recorrente de que correria o risco de paralisar as atividades se não tivesse os serviços que contratou) e duradoura, já que o suposto contrato de prestação de serviços perdurou por aproximadamente 4 anos e meio.
É fácil intuir que o sistema de extração de carvão traz a pronta necessidade de recuperação das áreas degradadas, logo, sob a responsabilidade das empresas, mais amiúde condenadas que são pelos que danos que produzem ao meio-ambiente1. A empresa se beneficia da atividade, deve contratar pessoal necessário (integrando o quadro funcional) para dar prossecução à atividade e envidar esforços para não causar danos ao meio ambiente, sob pena de repará-los.
A subordinação, traço marcante para a solução da contenda, exsurge da obrigatoriedade de cumprir horários, cuja fiscalização a ré implementava mediante anotação nos relatórios jungidos às fls. 1116-140. O serviço era repassado ao motorista pelo encarregado e sob rígida fiscalização. Logo não tinhaele a autonomia para se conduzir da forma que lhe aprouvesse, ditando horários e dias, por exemplo, para a prestação dos serviços.
O fato de o autor colocar o caminhão seu a serviço da empresa não desnatura o vínculo empregatício. Aliás, chama atenção que a empresa concedia inicialmente combustível, assumindo, portanto, os riscos da atividade.
Noto que essa mesma prova emprestada dos autos nº 3981-2007-003-12-00-5 foi o alicerce para o reconhecimento do vínculo para Daniel Kulakauskas.
Aproveita sublinhar que o preposto ouvido nos autos referendou que “o autor realizava as mesmas atividades e nas mesmas condições que o senhor Daniel” (fl. 111).
Tirando isso, a empresa admite a prestação dos serviços e contrapõe-se à existência do vínculo sob o argumento de que contratou o autor para serviços de terraplanagem. Ocorre que não trouxe um único documento, nota de pagamento que fosse ou mesmo o citado termo de conduta, por meio do qual se viu na necessidade de contratar caminhões para trabalhar no meio ambiente para o cumprimento da meta estipulada no ajuste (vide depoimento do preposto, fl. 84). Possível ajuste firmado no termo, levando a contratar motoristas de caminhão, não dá alforria à ré para negar-lhes a condição de empregado ao arrepio das normas trabalhistas e da primazia da realidade.
Para o reconhecimento do vínculo não são requisitos imprescindíveis o elemento exclusividade e a perfeita coincidência de horários trabalhados pelo autor em cotejo aos dos demais funcionários, nem desfaz a realidade do vínculo a circunstância de não receber o autor as horas não-trabalhadas em função de o caminhão requerer manutenção periódica.
Voto, pois, pela manutenção do vínculo, [...]
Pelo que, ACORDAM os Juízes da 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, por unanimidade, CONHECER DO RECURSO. No mérito, por igual votação, DAR-LHE PROVIMENTO PARCIAL para restringir ao pagamento do adicional extraordinário a condenação alusiva à jornada extraordinária e excluir da condenação o pagamento dos honorários assistenciais. Custas de R$ 440,00 (quatrocentos e quarenta reais) sobre o valor provisório da condenação arbitrado em R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais). Dou fé.
Custas na forma da lei.
Intimem-se.
Participaram do julgamento realizado na sessão do dia 21 de janeiro de 2009, sob a presidência da Exma. Juíza Lourdes Dreyer (Relatora), com a participação das Exmas. Juízas Maria Aparecida Caitano e Teresa Regina Cotosky e com a presença do Exmo. Dr. Jaime Roque Perottoni, Procurador do Trabalho.
Florianópolis, 05 de fevereiro de 2009. LOURDES DREYER
Atividade:
O que é “acórdão”? 					c) O que é “jurisprudência”?
O que é “ementa”? Localize na decisão em análise.		d) Qual é o Tribunal prolator da decisão?
Qual é a Vara de origem?					f) Divida o acórdão em relatório, fundamentação e dispositivo:
Quem é o Recorrente e o Recorrido?			h) Resuma a “idéia” do acórdão.

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