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AO JUÍZO DO TRABALHO DA ___ VARA DO TRABALHO DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP JULIETA CAPULETO, brasileira, gerente, divorciada, inscrita no CPF nº XXX.XXX.XXX-XX, portadora da Cédula de Identidade RG n° XXXXXXXXX, tendo como endereço eletrônico xxxxxxxx@xxx.xxx residente e domiciliada à NOME DA RUA/AVENIDA, n° xxx, Bairro XXXX, CEP XXXXX, cidade de Presidente Prudente/SP, vem, mui respeitosamente perante Vossa Senhoria, propor RECLAMAÇÃO TRABALHISTA, com fulcro no art. 840, § 1º CLT e art. 319 do CPC, a qual deverá seguir pelo procedimento comum ordinário em face de LOJAS SANTO ANTÔNIO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n. XX.XXX.XXX/XXXX-XX, tendo como endereço eletrônico xxxxxxxx@xxx.xxx, com sua unidade sede localizada na RUA/AVENIDA, n° XXX, Bairro XXXXX, CEP XXXXX, cidade de Ribeirão Preto/SP, neste ato representada por seu representante legal XXXX, pelas razões de fato e de direito adiante aduzidas. 1. DOS FATOS. Trata-se de reclamação trabalhista proposta pelo procedimento comum ordinário em favor da Reclamante, em razão de sua demissão sem justa causa. A princípio, a requerente foi contratada pela ré, empresa esta que possui diversas filiais espalhadas pelo Brasil. Em 10 de março de 2015, foi convocada para exercer a função de gerente, tendo como remuneração fixa o valor de R $4.286,55, bem como outros rendimentos que a mesma auferia pelo cumprimento de metas. A autora exerceu função laborativa nessa loja até meados de 2017, após este período foi transferida para a loja situada na cidade de Araçatuba sem o consentimento da mesma, do que resultou gastos excessivos, frustrações e abalos, uma vez que teve que se deslocar da cidade a qual morou por anos, deixar amigos e familiares para viver em uma cidade que mal conhecia. Em fevereiro de 2018, a empresa ré ordenou novamente o deslocamento da requerente para a cidade de Santos, para atuar no mesmo cargo como gerente. Em Agosto de 2019 a autora foi convocada mais uma vez para mudar-se sem o seu devido consentimento, sendo transferida para a cidade de Barueri. Veja, Douto Magistrado, isto é um descaso com a requerente, uma vez que foi OBRIGADA a se mudar de cidade, todas as vezes foi forçada e sem o seu consentimento, Pela Ordem Excelência!!!!! Após todo o descaso com a autora, em 27 de novembro de 2021, a empresa ré demitiu a requerente sem justa causa, não dando motivos nem explicações sobre a eventual demissão. Porém, passados alguns dias após a sua saída da empresa, a requerente descobriu que estava grávida de 3 semanas, o que torna a sua demissão totalmente ilegal, uma vez que a empregada grávida não pode ser demitida sem justa causa, obtendo, assim, seu periodo de estabilidade, o que não ocorreu no caso em tela. Assim, depois de sua demissão, Julieta passou a conversar com o gerente da loja de Alphaville, localizada na cidade de Barueri, sendo esta uma das lojas na qual a autora exerceu sua atividade de trabalho. Conversando com o Sr. Clovis Alberto, gerente da loja citada anteriormente, a requerente evidenciou a distinção salarial que ela tinha relacionado ao gerente que exercia a mesma função que ela. Ademais, o Sr. Clovis afirmou que sua remuneração fixa é de R $ 7.462,28 (sete mil quatrocentos e sessenta e dois reais e vinte e oito centavos) e, juntando com as premiações chegou a receber R $ 9.674,88 (nove mil seiscentos e setenta e quatro reais e oitenta e oito centavos), o que causou questionamento na autora, uma vez que sua remuneração fixa era de R $ 6.444,25 (seis mil quatrocentos e quarenta e quatro reais e vinte e cinco centavos) e somando com as premiações totalizava o montante de R $ 8.789,25 (oito mil setecentos e oitenta e nove reais e vinte e cinco centavos). Desse modo, fica mais do que claro a desigualdade salarial, tendo em vista que ambos exerciam a mesma função, ocupavam o mesmo cargo, trabalhavam no mesmo horário e pelo fato de ser mulher a autora recebia salário inferior, o que é um ABSURDO!!!! Ainda, durante todo o período que laborou na empresa, pelo fato de ser gerente e possuir um cargo de confiança, a requerente era obrigada a realizar 15 minutos em seu horário de almoço, bem como chegou a trabalhar das 07h30 até às 19h00 de segunda a sexta, e aos sábados das 07h30 até às 14h00, ultrapassando todos os limites da normalidade. Em razão disso, durante seu período de férias, a autora sempre era indagada no “WhatsApp”, e até mesmo convocada para ir até a empresa, para esclarecer dúvidas e auxiliar a funcionária que ocupava o seu lugar, não tendo ela o descanso merecido em razão da suas férias, necessitando ficar à disposição da empresa em qualquer horário e momento do dia. Contudo, sempre que o gerente responsável pela loja de Osasco entrava de férias, a requerente era obrigada a gerenciar ambas as lojas, indo até a empresa semanalmente com seu veículo, obtendo gastos e nunca recebeu qualquer adicional em seu salário por isto. Ainda assim, nesta loja em que gerenciava para seu colega de trabalho, a requerente prestava serviço até as 23h00 de segunda a sexta, e jamais obteve premiações, remuneração ou metas referente a esta loja, no período de substituição. Está mais do que claro todo o desprezo que a empresa ré teve com a autora. Após a descoberta de sua gravidez, a autora ligou para o gerente regional Sr. Fernando Bravo, para comunicá-lo sobre sua gestação, e apontar que enquanto trabalhava na empresa a mesma ficou grávida, ocasião esta, que revoltou o gerente, afirmando ele que jamais iria acreditar, e não iria cair no “golpe da barriga” para devolver o cargo a ela, conforme áudio anexado aos autos. Vale mencionar que a requerente retornou para sua cidade de origem, sendo ela Presidente Prudente/SP, para buscar outra oportunidade de emprego e ficar ao lado de sua família nesse momento de gravidez. Portanto, a requerente se encontra desempregada e sem nenhuma fonte de renda, sobrevivendo somente com seu seguro desemprego. É de suma importância analisarmos os danos que a empresa ré causou à requerente, uma vez que foi tratada com maior desleixo e sem nenhum respeito, tendo em vista a contribuição desta para o crescimento da empresa, bem como tudo aquilo que se dispôs e enfrentou para continuar exercendo sua função com excelência e, ainda assim, saiu prejudicada. Eis a síntese do necessário. 2. DAS PRELIMINARES DE MÉRITO 2.1 DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA Conforme narrado nos fatos, a reclamante era trabalhadora da empresa requerida, que realizava prestações de serviços de maneira habitual para garantir sua subsistência e de sua família, tendo em vista sua demissão na empresa ré à Reclamante se encontra desempregada até o presente momento. Veja Excelência, a autora da presente reclamação, permanece desempregada e sem o exercício de atividade laborativa, levando em consideração que a mesma se encontra grávida, tendo ela que arcar com seus gastos e de seu bebê, não conseguindo dispor de gastos processuais na atual situação em que se encontra. A mesma não é declarante de imposto de renda, nem mesmo é titular de cartões de crédito. A concessão de tal benefício, é previsto pela Constituição Federal como direito fundamental do indivíduo, bem como pela Consolidação das Leis Trabalhistas e pelo Código de Processo Civil Brasileiro, o que demonstra plena aplicação a esse caso, in verbis: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiênciade recursos;” (Constituição Federal) “Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá às instruções que serão expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho. [...] § 4o O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo.” (Consolidação das Leis Trabalhistas) “Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.” (Código de Processo Civil). Deste modo, é clarividente a hipossuficiência financeira da Reclamante, uma vez que se encontra de fato desempregada e sem renda capaz de arcar com o pagamento de custas e taxas judiciárias. Sendo assim, diante a situação precária da economia brasileira, os casos de reclamações trabalhistas com Reclamantes em alto nível de hipossuficiência passou a ser mais comum, de modo com que os Tribunais Regionais do Trabalho e o Tribunal Superior do Trabalho já firmaram entendimentos acerca do presente caso, deferindo então o benefício da justiça gratuita, ipsis litteris: JUSTIÇA GRATUITA. RECLAMANTE DESEMPREGADO. REFORMA TRABALHISTA. CABIMENTO. Comprovada a insuficiência de recursos do Reclamante, em razão da foi feito com tácondição de desemprego, é de se deferir a gratuidade da justiça, nos termos do art. 790, §§ 3º e 4º, da CLT, com a redação dada pela Lei nº 13.467/2017. (TRT-15 - AIRO: 00108216520195150063 0010821-65.2019.5.15.0063, Relator: LUIZ ANTONIO LAZARIM, 9ª Câmara, Data de Publicação: 12/03/2021). Logo, ante a análise do precedente supramencionado correlacionando-o com o caso em tela, fica consignado a necessidade do deferimento do benefício da justiça gratuita à Reclamante, para que fique isenta de arcar com as custas processuais. Com isso, requer-se que seja concedido o pedido da Reclamante no que concerne o pedido do benefício da justiça gratuita, bem como requer-se a juntada da declaração de hipossuficiência da Requerente para a corroboração dos fatos narrados. 2.2 DO FORO COMPETENTE Em proêmio, impende mencionar que a competência territorial (ratione loci) na Justiça do Trabalho, é determinada pela regra do art. 651, caput, da CLT, a qual dispõe que a reclamação deverá ser proposta no foro do local da prestação de serviços. Entretanto, à mercê do que se extrai dos parágrafos 1º, 2º e 3º do mesmo dispositivo, é possível inferir que, inserindo exceções à regra supramencionada, a legislação celetista permite a flexibilização da competência trabalhista para abarcar outras hipóteses de propositura da reclamação que atendam ao princípio constitucional de acesso à Justiça (art. 5º, XXXV da Carta Magna). Neste sentido, a jurisprudência dos tribunais superiores trabalhistas, com vistas a viabilizar o amplo acesso da prestação jurisdicional e considerando a hipossuficiência do empregado, admite que este proponha reclamação no foro do local de seu domicílio, desde que haja filial do empregador na localidade correspondente. Digna de citação é a ementa a seguir, que trata do tema, in verbis: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. TRABALHADOR MIGRANTE. RECRUTAMENTO. PRESUNÇÃO. PONDERAÇÃO DOS INTERESSES EM CONFLITO. AJUIZAMENTO DA AÇÃO NO DOMICÍLIO DO RECLAMANTE. 1. Verifica-se que, em se tratando o empregador de empresa de grande porte e âmbito nacional, que realiza contratação e presta serviços em localidades distintas do país, é plenamente possível uma exegese do § 3º do art. 651 da CLT em consonância com o princípio constitucional do art. 5º, XXXV, de modo a permitir ao reclamante o ajuizamento da reclamação trabalhista no local do seu domicílio, onde presumidamente se deu seu recrutamento, sob pena de vedar-se economicamente o acesso à jurisdição. 2. Não se pode olvidar a necessidade de preservação do direito ao contraditório e à ampla defesa, possibilitando, nessas circunstâncias, a acessibilidade também ao reclamado, assegurando-lhe os meios inerentes à defesa de seu direito, que não se compromete economicamente em razão da preservação da competência jurisdicional do foro do recrutamento do empregado. É preciso, pois, ponderar os interesses em conflito para harmonizar a solução dada ao caso concreto. 3. Assim sendo, verificadas a capacidade econômica e a possibilidade de formulação da defesa de seus interesses, em seu sentido material e formal, preserva-se a acessibilidade àquele economicamente débil, pois, do contrário, a acessibilidade à jurisdição e a uma jurisdição especial para uma relação jurídica assimétrica estaria restrita à mera retórica do texto constitucional. 4. Não se trata, portanto, de ampliar irrestritamente a regra legal, mas, observando-a, adequá-la às normas constitucionais que inspiram o processo como instrumento de realização do direito material. Conflito de competência acolhido para declarar competente a Vara do Trabalho de Ipiaú/BA. (TST-CC-54-74.2016.5.14.0006, Redator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Data de Julgamento: 27/09/2016, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 11/11/2016) (Informativo TST nº 146) Desta feita, conforme se vislumbra, é o caso dos autos a plena competência deste foro, já que a pessoa jurídica empregadora possui filial em Presidente Prudente/SP (loja 95), sem haver qualquer óbice ao direito de defesa da ré. 2.3 DA PRESCRIÇÃO Sem delongas, faz-se mister consignar que a pretensão veiculada não é atingida pela prescrição bienal/total que consta no art. 7º, XXIX da Constituição Federal e art. 11 da Consolidação das Leis do Trabalho. Dessarte, tendo em vista que o contrato de trabalho se extinguiu em 27/11/2021, a extinção da pretensão pela inércia, conforme o prazo constitucional, ocorreria em 27/11/2023. Em contrapartida, com fulcro na celeridade e na boa-fé processual, é possível vislumbrar a ocorrência da prescrição quinquenal/parcial no tocante às prestações periódicas dos direitos trabalhistas aos quais a reclamante faz jus, ressalvado a declaração do vínculo empregatício desde o efetivo início das atividades laborais, que é imprescritível segundo o art. 11, §1º da legislação celetista. Nesta toada, a equiparação salarial (Súmula 6/TST), o adicional de horas extras, o adicional noturno, as férias não gozadas em dobro, o FGTS (Súmula 362/TST) e demais verbas e multas postuladas, devem respeitar o prazo prescricional de cinco anos a partir da data do ajuizamento desta reclamação, não sendo objeto da demanda aquelas já alcançadas pela prescrição. 3. DO MÉRITO 3.1 DO ADICIONAL DE TRANSFERÊNCIA Conforme mencionado, a requerente trabalhou como gerente da loja de Ribeirão Preto/SP e foi transferida, sem o seu consentimento, para a loja de Araçatuba/SP para exercer a mesma função. Nesse sentido, se fazem presentes os seus direitos na CLT: “Artigo 469, CLT. Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar necessariamente a mudança do seu domicílio.” “§ 3º - Em caso de necessidade de serviço o empregador poderá transferir o empregado para localidade diversa da que resultar do contrato, não obstante as restrições do artigo anterior, mas, nesse caso, ficará obrigado a um pagamento suplementar, nunca inferior a 25% (vinte e cinco por cento) dos salários que o empregado percebia naquela localidade, enquanto durar essa situação.” (Parágrafo incluído pela Lei nº 6.203, de 17.4.1975). “Art. 470, CLT. As despesas resultantes da transferência correrão por conta do empregador.” (Redação dada pela Lei nº 6.203, de 17.4.1975).A distância entre os municípios de Ribeirão Preto/SP e Araçatuba/SP, é de, no mínimo, 327,3 km, sendo o tempo estimado do percurso da viagem de aproximadamente 4h e 20min (quatro horas e vinte minutos). Assim, fica evidente que houve a necessidade de mudança do domicílio da requerente – ainda que sem a sua vontade – para que essa continuasse exercendo o seu trabalho. A transferência da requerente se enquadra na exigência de ser provisória para acusar o adicional, uma vez que a situação relatada não foi a única sofrida por ela. A mesma foi transferida injustificavelmente de loja três vezes (duas delas sem o seu consentimento), no período de quatro anos. Sendo várias transferências realizadas em um curto período de tempo, não há que se esperar e justificar que elas sejam consideradas definitivas. Além de ter sido obrigada a abandonar o seu local de trabalho, no qual já estava habituada e possuía vínculo com os colegas e clientes da cidade, Julieta teve que se mudar do seu domicílio. Tal atividade, além de ter demandado gastos financeiros do patrimônio da requerente, exigiu disposição física e mental – ainda que ela não possuísse a última, uma vez que teve a sua vontade invalidada. Diante disso, justificado direito da reclamante ao adicional de transferência, requer, assim, que a reclamada seja condenada a realizar pagamento suplementar de X% (X por cento) dos salários recebidos pela reclamante no período em que morou em Araçatuba, ou seja, referentes ao mês de abril de 2017 e os meses subsequentes, até fevereiro de 2018. Ainda, requer o pagamento dos valores gastos na mudança (referentes ao transporte, desmontagem e montagem dos móveis e embalagem de itens pessoais), uma vez que foram abatidos do patrimônio da requerente. 3.2 DA ESTABILIDADE PROVISÓRIA Conforme narrado anteriormente, a requerente, alguns dias após a sua demissão, descobriu que estava grávida há exatas três semanas, fato este que torna sua demissão totalmente injusta. Vale ressaltar que, o artigo 10 inciso II, alínea b do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, garante estabilidade do serviço da funcionária grávida, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. In Verbis: Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição : II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. (Vide Lei Complementar nº 146, de 2014) Tendo em vista que no caso concreto, ocorreu a demissão da reclamante sem justa causa no momento em que ela se encontrava no início da gravidez, a mesma incontestavelmente, tem direito a sua estabilidade gestacional e aos recebimentos dos proventos sem atraso. Contudo, a Constituição Federal garante à funcionária gestante estabilidade em seu serviço desde o momento da confirmação da gravidez, assegurando também que ela receba seus proventos a fim de garantir seu sustento e do seu filho. O Tribunal já fixou entendimentos acerca deste assunto em casos similares. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. GESTANTE. INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. GESTANTE. INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. GESTANTE. INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. GESTANTE.. INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA. O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito à percepção da indenização decorrente da estabilidade provisória da gestante, sendo que a garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o período de estabilidade . Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos correspondentes ao período de estabilidade (Súmula 244/TST e ADCT, 10, II, b). Outrossim, o direito à estabilidade não é uma garantia exclusiva para a gestante, tratando-se, mormente, de matéria de ordem pública, que visa assegurar o bem-estar do nascituro (art. 2°, CC). Vejamos, que no presente caso há a necessidade de se aplicar a súmula 244 do TST, tornando o direito de estabilidade legítimo pela requerente, pois mesmo que o gerente regional desconhecesse o estado de gravidez da autora, isso não afasta o direito de indenização decorrente da estabilidade. Salienta-se que a reclamante, no presente caso não faz jus à reintegração de seu cargo, tendo em vista todo o descaso e abalos que a mesma sofreu, por isso, tem se a necessidade de ser reconhecida a indenização do trabalho devido à estabilidade provisória, por estar grávida do período de descoberta até o quinto mês após o parto. 3.3 DO ADICIONAL NOTURNO O pedido de adicional noturno postulado pela requerente é garantia fundamental, regulado pela Constituição Federal de 1988, in verbis: “Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno.” Conforme narrado nos fatos, era acordado com a empresa que a jornada de trabalho da requerente durasse até às 19h (dezenove horas) nos dias úteis da semana. Contudo, por motivos de demanda de tarefas a ela imputada, fora inconvenientemente exigido que a mesma deixasse o local de trabalho apenas às 23h30min (vinte e três horas e trinta minutos), para que fossem concluídos todos os encargos. “Art. 73, CLT. Salvo nos casos de revezamento semanal ou quinzenal, o trabalho noturno terá remuneração superior a do diurno e, para esse efeito, sua remuneração terá um acréscimo de 20 % (vinte por cento), pelo menos, sobre a hora diurna. § 1º A hora do trabalho noturno será computada como de 52 minutos e 30 segundos. § 2º Considera-se noturno, para os efeitos deste artigo, o trabalho executado entre as 22 horas de um dia e as 5 horas do dia seguinte. § 3º O acréscimo, a que se refere o presente artigo, em se tratando de empresas que não mantêm, pela natureza de suas atividades, trabalho noturno habitual, será feito, tendo em vista os quantitativos pagos por trabalhos diurnos de natureza semelhante [...]. § 4º Nos horários mistos, assim entendidos os que abrangem períodos diurnos e noturnos, aplica-se às horas de trabalho noturno o disposto neste artigo e seus parágrafos.” (Redação dada pelo Decreto-lei nº 9.666, de 1946). Como bem se verifica pela legislação explicitada que regula o direito, a requerente faz jus ao adicional noturno por adequar-se ao requisito de executar o trabalho a partir das 22h (vinte e duas horas), disposto no §2º, e por não compreender a hipótese de exceção do caput. Não bastasse a legislação legal acima narrada, é princípio do Direito do Trabalho a proteção ao trabalhador, conferida pelo Estado a fim de evitar abusos por parte do empregador. Recorrendo ao princípio da condição mais benéfica, é assegurado que nenhuma regra criada após a contratação prejudique o trabalhador, sendo orientado na CLT: “Art. 468. Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia.” Nesse sentido, o encargo imputado à requerente para permanecer no local de trabalho e continuar exercendo a sua função em período posterior ao acordado se adequa ao artigo anteriormente citado, uma vez que a submissão da trabalhadora a jornada exaustiva resultou prejuízos a ela. Requer, assim, que a reclamada seja condenada a realizar pagamento do adicional noturno por acréscimo de X% (X por cento) da remuneração recebida pela reclamante sobre a hora diurna. 3.4 DO HORÁRIO DE ALMOÇO Conforme narrado nos fatos, no período de seis anos no qual Julieta trabalhou na empresa, era concedido à ela apenas um intervalo para alimentação, sendo de 15 minutosde duração. Considerando a jornada de trabalho acordada entre as partes, era estabelecido que a requerente exercesse a sua função no período de 11h30min (onze horas e trinta minutos) durante os dias úteis da semana e 6h30min (seis horas e trinta minutos) aos sábados. Ainda, por ter atuado em cargo de gerente e por ter sido atribuída a realização de uma alta demanda de tarefas, a requerente vivia em situação de constante exaustão física e mental. Desse modo, gozar de um intervalo para repouso ou alimentação suficiente para a proteção da sua saúde, e, não só isso, restaurar sua energia e concentração para dar o melhor de si nas horas seguintes a serem trabalhadas, era de suma importância para a requerente. “Art. 71. Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis) horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas. § 1º - Não excedendo de 6 (seis) horas o trabalho, será, entretanto, obrigatório um intervalo de 15 (quinze) minutos quando a duração ultrapassar 4 (quatro) horas.” “§ 4º A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho.” (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017). Era direito da requerente ter gozado de, no mínimo, 1 (uma) hora de intervalo para repouso ou alimentação diariamente. Como resultado, a mesma ficou propensa a adquirir prejuízos inestimáveis à sua saúde em razão do estresse causado por longas jornadas de trabalho. Nesse sentido, requer que a reclamada seja condenada a realizar pagamento de natureza indenizatória do intervalo de tempo de 10/03/2015 a 27/11/2021,com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (das 7h30min até às 19h de segunda à sexta e das 7h30min às 14h aos sábados). 3.5 DA EQUIPARAÇÃO SALARIAL Como disposto nos fatos anteriormente, a reclamante exercia a função de Gerente, possuindo as mesmas condições do Sr. Clóvis Alberto, tendo em vista que o mesmo ocupa cargo de Gerente em uma das lojas Santo Antônio. No entanto, era nítida a diferença salarial entre os dois, visto que, ambos trabalhavam para a mesma empresa e exerciam a mesma função, chegando a ter uma diferença de aproximadamente R$1.000,00 (um mil reais) entre seus respectivos salários, valor este que fere os dispositivos legais, bem como o artigo 5º da CLT. “Art. 5º - A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual, sem distinção de sexo.” É equiparado no artigo supramencionado que, o trabalho de valor idêntico não poderá sofrer distinções em relação ao sexo, e neste caso, é perceptível que a remuneração da autora vinha sofrendo certo abatimento simplesmente por ser mulher. Logo, dois trabalhadores não podem coexistir na mesma situação aceitando salários diferentes, visto que ambos desempenham as mesmas funções e sem nenhum tipo de diferença entre seus respectivos cargos. Posto isso, o artigo 461 da CLT nos traz o seguinte entendimento: "Art. 461. Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade.” (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017). Em razão disso, o artigo mencionado, está claramente assegurando a equiparação salarial, uma vez que, a autora e seu paradigma, Sr. Clóvis Alberto, exerciam a mesma função e trabalhavam para a mesma empresa. Neste ponto, verifica-se que no momento de sua dispensa a reclamante recebia uma remuneração de R$ 6.444,25 que quando acrescida das remunerações variáveis, o seu último holerite chegou a somar R$ 8.789,25, enquanto o Sr. Clóvis Alberto, gerente da loja de Alphaville - Barueri (loja 9), recebeu a quantia de R$ 7.462,28 que quando somado com as premiações, chegou a auferir R$ 9.674,88 no último mês, ou seja, uma diferença no aporte de 10%. Veja meritíssimo, quanto descaso com a requerente, uma vez que o gerente Sr. Clóvis Alberto vem recebendo um salário maior e, ainda, exercendo as mesmas funções que a autora, ficando nítido a desigualdade de gênero no ambiente de trabalho. Em vista disso, requer-se que a empresa ré arque com a diferença salarial, tendo em vista o valor desproporcional que a requerente recebia, pelo simples fato de ser mulher. Contudo, pleiteia-se que a diferença salarial seja computada a partir de xxxxxx no montante de xxxxxx.. 3.6 DO ASSÉDIO MORAL Diante o exposto, após descoberta da gravidez a requerente entrou em contato com o Gerente Regional, Sr. Fernando Bravo para informá-lo que antes de ser demitida já se encontrava no período de gestação. Logo após, a própria foi abordada com frase de cunho insultuoso, onde o mesmo alegava que não iria cair no golpe da barriga somente para devolver o seu antigo cargo, conforme conversa gravada e anexada aos autos. Com isso, o Sr. Fernando insinua que a autora tenha inventado a gravidez para recuperar seu cargo dentro da empresa. É estarrecedor que um Gerente Regional desmereça a autora a tratando de forma desprezível, colocando sua integridade em risco, bem como a sua honra, sendo essa equiparada pela Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso X. Art. 5º, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Portanto, o intuito do inciso X é especificamente proteger a intimidade, a privacidade, a imagem e a honra das pessoas, assegurando-lhes o direito à indenização por possíveis danos causados pelo descumprimento desses direitos, que é o caso da requerente, onde a mesma teve sua honra lesada. Convém ressaltar que tal insinuação colocou a autora em situação de plena humilhação e constrangimento, uma vez que a mesma ficou totalmente abalada com a alegação do Sr. Fernando, o que pode acabar gerando complicações em sua gestação, visto que a requerente ainda se encontra em período de gravidez e esse estresse produzido poderá afetar o seu filho ainda no útero, sendo capaz de gerar efeitos por um longo período. O cargo ocupado pelo Sr. Fernando é de gerente regional, sendo uma função superior ao que a autora ocupava, posto isto, é nítida a evidência do assédio moral, uma vez que estamos diante de superioridade em função de seu cargo, encontrando-se fundamentação legal no artigo 186 do Código Civil, que diz: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” Neste caso, se um empregado é assediado por um chefe ou superior, e o assédio se baseia no vínculo empregatício entre as partes, fica claro que ele ou a empresa (se superior hierárquico) responderá pelo dano moral sofrido pelo trabalhador. É preciso insistir também no fato de que a relação de trabalho entre empregado e empregador carece absolutamente ser uma relação de mútuo respeito e, uma das causas do abalo desse vínculo é o assédio moral sofrido pela autora. Solicita-se então que a autora seja indenizada pelo assédio moral sofrido, em decorrência das falas do Sr. Fernando, uma vez que a tenha desonrado e ferido sua reputação. 3.7 DOS DANOS MORAIS Segundo o doutrinador Aguiar Dias, entende-se dano moral como “[...] o efeito não patrimonial da lesão de direito e não a própria lesão, abstratamente considerada. O conceito de dano é único, e corresponde a lesão de direito. Os efeitos da injúria podem ser patrimoniaisou não, e acarretar, assim, a divisão dos danos em patrimoniais e não patrimoniais. Os efeitos não patrimoniais da injúria constituem os danos não patrimoniais” (DIAS, 1987, p.852). Não obstante, segundo Fernando Capez, “no dano moral objetivo (in re ipsa), a culpa do agente é presumida e não precisa ser demonstrada pela vítima para receber a reparação”. Nesse sentido, em conformidade com o entendimento doutrinário, dispõe a Constituição Federal e a CLT: CLT, art. 223-B - Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas do direito à reparação. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) CF, art. 5º, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. No caso tratado, a Autora alega que, ao entrar em contato com o gerente regional Fernando Bravo para informá-lo de que já estava grávida antes de ser demitida, este disse a ela que não “cairia” no “golpe da barriga” para reintegrá-la no antigo cargo que ela ocupava. Levando em conta não só o que foi citado no parágrafo anterior, como também os conceitos e legislação supracitados, pode-se presumir assédio moral por parte do gerente regional, o que dá justificativa para que a requerente seja indenizada em danos morais pela empresa (vez que esta responde por seus empregados, serviçais e prepostos, conforme exposto Código Civil, arts. 932, caput e inciso III, e 933 caput): Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Destarte, requer a condenação por danos morais pelas razões supra. 3.8 DAS FÉRIAS Segundo Vólia Bonfim Cassar, em sua obra "Direito do Trabalho" (2014, p. 732), as férias possuem fundamentos fisiológicos essenciais para que o trabalhador mantenha uma boa qualidade de vida, influenciando diretamente na produtividade do empregado após as férias. A doutrinadora ainda enfatiza a finalidade deste período, “eliminar as toxinas originadas pela fadiga e que não foram liberadas com os repousos semanais e descansos entre e intrajornadas''. O trabalho contínuo, dia após dia, gera grande desgaste físico e intelectual, acumulando preocupações, obrigações e outros fenômenos psicológicos e biológicos adquiridos em virtude dos problemas funcionais do cotidiano”. Esse “privilégio” está muito bem expresso na CLT: Art. 134 - “As férias serão concedidas por ato do empregador, em um só período, nos 12 (doze) meses subseqüentes à data em que o empregado tiver adquirido o direito”. Como já salientado, não foram poucas as vezes que a reclamante teve a frustração de ser “convocada” para realizar tarefas da empresa reclamada, atividades que iam desde meros esclarecimentos via WhatsApp a prestações de assistência presencial. Resta claro que os dias de serviços prestados nestas condições podem ser classificados como não concedidos, fazendo com que a remuneração referente a eles deva ser dobrada, levando em conta o artigo 137 da CLT: Art. 137 - “Sempre que as férias forem concedidas após o prazo de que trata o art. 134, o empregador pagará em dobro a respectiva remuneração”. § 1º - “Vencido o mencionado prazo sem que o empregador tenha concedido as férias, o empregado poderá ajuizar reclamação pedindo a fixação, por sentença, da época de gozo das mesmas”. § 2º - “A sentença cominará pena diária de 5% (cinco por cento) do salário mínimo da região, devida ao empregado até que seja cumprida”. § 3º - “Cópia da decisão judicial transitada em julgado será remetida ao órgão local do Ministério do Trabalho, para fins de aplicação da multa de caráter administrativo”. Destarte, requer a condenação pelas férias em dobro. 3. 9. DA DEMISSÃO SEM JUSTA CAUSA, DAS MULTAS E DAS VERBAS INDENIZATÓRIAS Em 27/11/2021 a reclamante foi demitida sem qualquer fundamento que pudesse indicar “justa causa”. Nessa linha de raciocínio, dispõe o art. 477 caput da CLT que “na extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá proceder à anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa aos órgãos competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo e na forma estabelecidos neste artigo”(grifo meu). “As verbas rescisórias são aquelas devidas no final do contrato de trabalho, quando o empregado é dispensado ou quando ele pede demissão, ou seja, quando o contrato é rescindido” (Disponível em: <https://trilhante.com.br/curso/verbas-rescisorias-e-calculos- trabalhistas/aula/verbas-rescisorias-conceito-prazos-e- multa#:~:text=Verbas%20Rescis%C3%B3rias%3A%20Conceito%20As%20verbas%20rescis% C3%B3rias%20s%C3%A3o%20aquelas,demiss%C3%A3o%2C%20ou%20seja%2C%20quando %20o%20contrato%20%C3%A9%20rescindido> . Acesso em 19 de Agosto de 2022). “Verbas indenizatórias, diferentemente das remuneratórias, não são devidas em função de algum serviço prestado. Elas são um direito do trabalhador que sofre qualquer tipo de dano dentro da empresa (material ou moral) ou mesmo por uma situação menos vantajosa para ele. O pagamento da verba visa reparar o problema, amenizá-lo ou contornar a dificuldade” (Disponível em: <https://solutta.com/blog/verbas-indenizatorias-informacoes-e- cuidados-essenciais/> . Acesso em 19 de Agosto de 2022). Nos casos de demissão sem justa causa, além das verbas rescisórias, pode-se considerar também verbas indenizatórias dependendo do caso concreto. No caso que trata esta petição inicial, por exemplo, serão abordadas: as questões do Aviso Prévio e do FGTS, que se encaixam tanto na modalidade de verbas rescisórias como indenizatórias; e também a questão da Autora ter feito uso de seu veículo pessoal sem ter ganho um valor adicional para cobrir as custas do combustível utilizado, o que não tem nada haver com a demissão sem justa causa, mas sim com algo que, mesmo sendo devido ao empregado, não foi fornecido (ou compensado) a ele durante o período em que laborou na empresa. Esclarecida a questão das verbas que são rescisórias/indenizatórias e das verbas que são somente indenizatórias, detalharei as questões de Direito referentes a multas e a verba indenizatória devida à Autora. 3. 9. 1. DAS MULTAS Além do que discorre o artigo 477 da CLT (citado acima) quanto às consequências da rescisão do contrato de trabalho, o art. 467 da mesma lei dispõe o seguinte: Art. 467. Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinqüenta por cento" (grifo meu). Nesse sentido, compreende-se que essa “parte incontroversa” das verbas refere-se aos montantes devidos de quando ocorre a rescisão do contrato propriamente dita, ou seja, a parte “original”, sem contar os valores adicionais decorrentes de atrasos ou cálculos de correção após haver passado determinado período desde a rescisão do contrato. Portanto, no que concerne às verbas rescisórias (e, no caso em questão, principalmente às verbas referentes ao cálculo do FGTS e Aviso Prévio indenizado), caso se verifique que a “parte incontroversa” de alguma(s) dela(s) não tenha sido paga pelo empregador, este poderá incorrer no risco de ter de pagá-la(s) sob um acréscimo de multas de 50% do(s) valor(es) devido(s). 3. 9. 2. DA VERBAINDENIZATÓRIA PELO USO DE VEÍCULO PESSOAL Segundo o Decreto nº 95.247 de 17 de novembro de 1987, no p.u. de seu art. 5º, “no caso de falta ou insuficiência de estoque de Vale-Transporte, necessário ao atendimento da demanda e ao funcionamento do sistema, o beneficiário será ressarcido pelo empregador, na folha de pagamento imediata, da parcela correspondente, quando tiver efetuado, por conta própria, a despesa para seu deslocamento”. Pelo teor do relato da Autora, que disse nunca ter recebido um “adicional” por ter de usar seu próprio veículo para se locomover até a loja 19 semanalmente, pode-se supor que a requerente não possuía um vale-transporte que cobrisse os custos das viagens que realizava à loja de Osasco (loja 19) “É preciso, no entanto, que haja um acordo entre empregador e empregado no qual o primeiro mostre-se de acordo com a prática do segundo de utilizar seu veículo para realizar suas tarefas. Em julgamento de caso análogo, a 4ª Turma do TST (Tribunal Superior do Trabalho) decidiu que o empregado somente teria direito a ressarcimento se não houvesse veículo da empresa disponível para execução das tarefas, se esta desse sua permissão para tal prática ou na ocorrência de ambas as circunstâncias” (Disponível em <https://doutormultas.jusbrasil.com.br/artigos/533967899/situacoes-em-que-o- empregador-deve-reembolsar-gastos-do-empregado-com-veiculo-proprio-usado-para- trabalhar> . Acesso em 19 de agosto de 2022). Ainda considerando o que foi dito pela reclamante, no que diz respeito a ter se queixado de nunca ter recebido um “adicional” pelas viagens extras que fazia à loja de Osasco, fica evidente que: não houve acordo entre a empregadora e a empregada, no qual aquela mostraria-se de acordo com esta utilizar o próprio veículo para realizar as tarefas; não havia veículo da empresa disponível para que a requerente pudesse executar as tarefas (no caso, realizar as viagens até a outra loja, na qual não exercia o cargo de gerente), razão pela qual é devido o ressarcimento (em dinheiro) da gasolina gasta pela Autora. 3. 10. DA HORA EXTRA AO CARGO DE GERENTE Diz o art. 59 caput e parágrafo 1, CLT: Art. 59. A duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas extras, em número não excedente de duas, por acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. § 1o A remuneração da hora extra será, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) superior à da hora normal. Entretanto, o cargo de gerente não está incluso no disposto pelo artigo supracitado, como dispõe o art. 62, II, CLT: Art. 62 - Não são abrangidos pelo regime previsto neste capítulo: II - os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gestão, aos quais se equiparam, para efeito do disposto neste artigo, os diretores e chefes de departamento ou filial. Algumas empresas se aproveitam do que está disposto no artigo acima (62, II) para que, obrigando os exercentes de cargos de gestão a trabalhar por períodos maiores que o estipulado, não precisem pagar a quantia devida de horas extras a eles, ou seja, violam a legislação trabalhista. Sobre essa questão, eis uma jurisprudência: CARGO DE CONFIANÇA. PAGAMENTO INCORRETO DA GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO. INOBSERVÂNCIA DO CRITÉRIO OBJETIVO PREVISTO EM LEI. HORAS EXTRAS. Constatada a viabilidade de trânsito do recurso trancado por meio de decisão monocrática. O agravo interno deve ser acolhido. Agravo conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. CARGO DE CONFIANÇA PAGAMENTO INCORRETO DA GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO. INOBSERVÂNCIA DO CRITÉRIO OBJETIVO PREVISTO EM LEI. HORAS EXTRAS. O artigo 62 da CLT define os casos em que o contrato de trabalho do empregado não estará sujeito ao regime de duração normal do trabalho. Em relação ao trabalhador que executa cargo de gestão, assim tipificado no inciso II da indigitada norma, é necessário o recebimento de incremento salarial não “inferior ao valor do respectivo salário efetivo acrescido de 40% (quarenta por cento)”. Uma vez evidenciado pelo Regional que o empregador não observou os critérios da lei, na medida em que o aumento do salário foi de apenas 25% (vinte e cinco por cento), a consequência lógica é o afastamento da incidência do art 62 da CLT e, por conseguinte, o reconhecimento do direito às horas extras. Precedentes. Recurso de Revista conhecido e provido. TST- RECURSO DE REVISTA R.R 22084720115030103 (TST) 16/12/2019. Logo, pela lógica expressa no julgado acima, se o cargo de gerente oferecido pelo empregador violar os requisitos expressos em lei, o trabalhador (gerente) que for prejudicado por essa violação terá direito a horas extras. 3. 11. DAS PREMIAÇÕES Como já ressaltado anteriormente, foram inúmeras as vezes em que a reclamante se colocou à disposição da empresa reclamada (indo muito além de suas atividades laborativas habituais). Nos momentos em que o gerente de Osasco (loja 19) estava de férias, a autora conciliava atividades simultâneas em diferentes lojas, fato que, por si só, exige recebimento de premiações adicionais. A doutrina entende como premiações (BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Ltr, 2008, p. 770): "parcela paga ao empregado em decorrência de evento ou circunstância considerada como relevante pela empresa e vinculada à conduta individual do empregado, ou de grupo de empregados. Compõe a sua natureza as características de contraprestação do trabalho prestado, e de condição, tanto que normalmente estão vinculadas a certas circunstâncias objetivas e subjetivas previamente pactuadas (aumento de vendas, captação de novos clientes, otimização de processos, etc.) que, se atingidas, ensejarão o pagamento do prêmio" Feita uma breve análise do artigo 457 da CLT, fica claro que a requerente, ao cumular as duas lojas, exerceu desempenho superior ao ordinariamente esperado: Art. 457 –“ Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber”. § 4o “Consideram-se prêmios as liberalidades concedidas pelo empregador em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro a empregado ou a grupo de empregados, em razão de desempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de suas atividades”. A respeito disso, (DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed.- São Paulo: LTr, 2019, p. 921): "De fato, em decorrência do novo texto do § 2º do art. 457 da CLT, combinado com a nova redação do § 4º do mesmo artigo (ambas mudanças inseridas pela Lei da Reforma Trabalhista), além do disposto no art. 28, § 9º, "z", da lei 8.212/91 (alínea "z" também conforme redação conferida pela lei 13.467/17), os prêmios deixaram de ter natureza salarial, por expressa determinação legal, e passaram a ser tipificados da seguinte forma: "§ 4º Consideram-se prêmios as liberalidades concedidas pelo empregador em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro a empregado ou a grupo de empregados, em razão de desempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de suas atividades". Por essa tipicidade legal, percebe-se que a verba poderá ser concedida, em seu formato regular, ao empregado. Ou seja, em circunstância efetivamente especial, ao invés de ser utilizada como mero artifício para suprimir a natureza salarial de verba paga aos trabalhadores". Partindo do entendimento legal e doutrinário, uma vez constatado o desempenho superior por parte da reclamante, não se pode, sob nenhuma hipótese, manter-se a variável fixa de salário, sem que se leve em conta as premiações referentes a loja 19 (Osasco). 4. DOS PEDIDOS Ante todo exposto, requer-se: a) A notificação do Reclamado para que apresente sua resposta processual nos autos no prazolegal sob pena de revelia; b) A concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita à Reclamante, por tratar-se de hipossuficiência, conforme documentos em anexos. c) Que seja reconhecida a estabilidade provisória, por ser gestante desde a data de sua demissão, assegurando a ela os recebimentos dos proventos sem atrasos. d) Que seja a requerida condenada a indenizar a requerente por danos morais a título de assédio moral, no valor de R$ XX,XX; e) A condenação da empresa reclamada aos pagamentos das diferenças de remuneração referentes ao pedido de equiparação salarial e reflexos, conforme fundamentação supra, calculadas no aporte de R$ ____________________; f) Julgar totalmente procedente o pedido de pagamento suplementar de R$____________________, calculados a X% dos salários recebidos pela reclamante no período em que residiu em Araçatuba; g) Julgar totalmente procedente o pedido de pagamento dos valores de R$____________________ gastos pela reclamante na mudança; h) Julgar totalmente procedente o pedido de pagamento do adicional noturno nos valores de R$____________________, calculados por acréscimo de X% (X por cento) da remuneração recebida pela reclamante sobre a hora diurna; i) Julgar totalmente procedente o pedido de pagamento indenizatório do intervalo de tempo de 10/03/2015 a 27/11/2021, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (das 7h30min até às 19h de segunda à sexta e das 7h30min às 14h aos sábados); j) Que seja condenada a requerida a pagar o dobro da remuneração referente aos dias de férias não concedidos. k) Que seja condenada a requerida a indenizar a requerente no valor de R$ XX,XX , em razão das horas extras que a reclamante laborou. l) Que seja condenada a requerida a indenizar a requerente no valor de R$ XX,XX , em razão dos gastos de combustível que a reclamante teve ao precisar usar seu veículo pessoal. m) O direito da autora de receber todas as premiações referentes a loja 19 (Osasco), em razão do trabalho simultâneo em lojas diversas. n) A condenação do Requerido ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios sucumbenciais sobre o valor da causa; o) A condenação da requerida a pagar a parte incontroversa das verbas rescisórias que ainda não pagou, sob pena do acréscimo de multas de 50% sobre os valores, com fulcro nos artigos 467 e 477 da CLT. p) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas lícitas admitidas em direito, inclusive prova documental e testemunhal; Por fim, requer-se que todas as intimações sejam realizadas em nome da advogada X, sob pena de nulidade do ato. Dá-se o valor da causa a importância R$ XXXXXX. Termos em que, Pede deferimento. Presidente Prudente, 20 de agosto de 2022. X OAB/SP nº X.
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