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17/04/2018 1 Processamento de Geleia Prof. Brígida Monteiro Vilas Boas Introdução Geleia → é o produto obtido pela concentração da polpa ou suco de fruta com quantidades adequadas de açúcar, pectina e ácido até a concentração suficiente para que ocorra a geleificação durante o resfriamento. Geleiada → é uma geleia com pedaços de frutas em suspensão. Geleia Boa Qualidade Tecnológica: • Conservar-se bem sem sofrer alterações sensoriais e microbiológicas; • Quando retirada do recipiente tremer sem escorrer macia ao cortar porém firme e com os ângulos definidos; • Não deve ser açucarada, pegajosa ou viscosa conservar o sabor e aroma da fruta original. Designação “geleia” + “nome da fruta” “geleia mista” + “nome das frutas” Fundamento e Princípios de Conservação A conservação das geleias deve-se basicamente, aos seguintes fatores: • elevada concentração de açúcar; • baixo pH; • tratamento térmico (uso do calor). Além das boas condições higiênicas do processo e dos manipuladores de alimentos e a utilização de embalagens adequadas. Figura 1 Influência dos constituintes básicos de uma geleia na sua consistência. Fonte: Rauch (1978) 0,5 1,0 1,5 Concentração da pectina (%) Uniformidade da estrutura 2,5 geléia dura 3,2 ótimo 3,5 não forma gel Acidez (pH) 64,0 geléia mole 67,5 ótimo 71,0 cristalização Concentração de açúcar (%) Rigidez da estrutura Grau de gelificação Consistência da Geleia Formação do Gel ou Geleificação 17/04/2018 2 Frutas • Frutas destinadas à fabricação de geleia devem estar no ponto ótimo de maturação, quando apresentam seu melhor sabor, cor e aroma e são ricas em açúcar e pectina. • Frutas muito maduras têm mais dificuldade para formar o gel, enquanto que as muito verdes, apesar de terem maior rendimento em pectina, podem provocar o aparecimento de coloração castanha no produto final. • Geleias frutas in natura como de polpas de fruta ou frutas pré-processadas, congeladas ou preservadas quimicamente. • Frutas mais apropriadas para a fabricação de geleias são aquelas naturalmente ácidas e ricas em pectina, entretanto, pode-se fabricar geleias com outros tipos de frutas, desde que se faça a complementação necessária de ácido, pectina ou de ambos. Açúcar • Sacarose (ou açúcar de cana-de-açúcar) é o açúcar mais empregado na fabricação de geleias, entretanto em concentrações acima de 65ºBrix ela tende a sofrer cristalização. • Esse fenômeno é evitado com a substituição parcial da sacarose por xarope de glicose ou por açúcar invertido. • Na cocção, a sacarose sofre, em meio ácido, um processo de hidrólise - conhecido como inversão - que a transforma parcialmente em glicose e frutose (açúcar invertido). calor Sacarose glicose + frutose ácido (açúcar invertido) • A inversão parcial da sacarose é necessária, para evitar a cristalização que pode ocorrer durante o armazenamento. • Este açúcar é obtido na cocção da sacarose em presença de ácido, ou seja, parte dele se forma na própria fabricação da geleia. • Em termos práticos, obtém-se melhor resultado, adicionando-se xarope de glicose que, além de diminuir a cristalização, melhora o brilho do produto e reduz o sabor adocicado. • A adição de glicose ou açúcar invertido é sempre recomendável no caso de processamento a vácuo (cocção 50-60ºC) ou quando se deseja melhorar a cor e ter menor poder adoçante. Ácido • Para se conseguir uma adequada geleificação, o pH final deve ser 3,2. Geralmente esse pH não é alcançado com o pH natural das frutas. • Os ácidos mais comumente empregados para esse fim são o cítrico (mais utilizado), o málico e o tartárico. • A quantidade normalmente usada em geleias é de 0,2% sobre o açúcar total. 17/04/2018 3 Pectina • Pectinas são substâncias presentes naturalmente nos vegetais e que em determinadas condições apresentam propriedades de geleificação. • Comercialmente, as maiores fontes de pectina são os resíduos das indústrias que processam frutas cítricas e maçã. • A pectina deve ser adicionada na forma líquida ou sólida (pó). • 0,5% a 1,5% de pectina em relação à quantidade de açúcar. • As pectinas podem ser de alto ou baixo teor de metoxilação: - Pectinas de alta metoxilação – são aquelas que apresentam um grau de metoxilação (DM) maior que 50%, geleificando a concentrações de 60% a 80% de sólidos solúveis e pH de 2,8 a 3,8. - Pectinas de baixa metoxilação – são aquelas que apresentam DM inferiores a 50%, podendo formar gel em concentrações de sólidos solúveis de 10% a 70% e pH de 2,8 a 6,0, somente em presença de íons polivalentes, como cálcio e magnésio. * São utilizadas em produtos de baixa caloria. Figura 2 Pectina de alto teor de metoxilação (ATM) Fonte: Siguemoto (1993) Figura 3 Pectina de baixo teor de metoxilação (BTM) • Principais características que definem uma pectina de alto metoxilação são sua graduação, seu graus de esterificação e o intervalo ótimo de pH para a sua atuação. • Graduação → é a medida do poder de geleificação expressa em graus SAG. Exemplo: 150 SAG, isto é, 1 grama dessa pectina geleifica 150 gramas de sacarose, formando um gel de 65oBrix finais em pH 3,0 e uma determinada consistência. • Grau de esterificação → determina a temperatura de formação do gel durante o resfriamento. • De acordo com a temperatura e a velocidade de geleificação, a pectina de alto teor de metoxilação é conhecida comercialmente como de geleificação rápida, média e lenta. - Pectinas de geleificação rápida são usadas em produtos que incluem pedaços de fruta ou tiras de casca. - Pectinas de geleificação lenta são aplicadas em geleias normais e nas envasadas e grandes recipientes. • “Teste do álcool” usado para saber se a fruta é rica ou pobre em pectina. • 1 colher de chá do suco da fruta + 3 colheres de chá de álcool etílico comercial. Agitar levemente e deixar em repouso. Observar o precipitado formado. Resultados: • Pobre em pectina: não forma coágulo. • Média em pectina: coágulo pouco firme. • Rica em pectina: coágulo firme. Figura 4 Teste do álcool. 17/04/2018 4 Tabela 1 Classificação das frutas quanto ao teor de pectina e ácidos para a fabricação de geleias. Frutas ricas em pectina e ácidos Frutas cítricas, maçãs ácidas e silvestres, cerejas ácidas, goiabas, algumas variedades de uva. Frutas medianamente ricas em pectina e ácidos Uvas viníferas maduras, maçãs maduras e todas as frutas ricas em pectina e ácidos, no estado maduro. Frutas ricas em pectina e pobres em ácidos Melão, cerejas e figos verdes. Frutas ricas em ácidos e pobres em pectina Morangos, damascos e uvas de vinho. Frutas pobres em pectina e ácidos Pêssegos, pêras e figos maduros Fluxograma Básico de Processamento de Geleias 1 Recepção e seleção Figura 5 Seleção manual em esteira Figura 6 Seleção manual em mesa de aço inox 2 Lavagem e sanificação Figura 7 Lavagem por imersão com agitação Figura 8 Lavagem por imersão Figura 10 Lavagem por aspersão Figura 9 Lavagem por aspersão • Sanificação realizada imergindo as frutas em água clorada. Esta solução deve ser constantemente renovada. Figura 11 Sanificação de morangos 17/04/2018 5 • O despolpamento é utilizado para separar a polpa da fruta do material fibrosos, sementes, casca, etc. • Despolpadeiras. 3 Descascamento/Despolpamento/Refino Figura 12 Despolpadeira horizontal Figura 13 Esquema de uma despolpadeira horizontal 4 Formulação • Obtido o suco da fruta, procede-se à formulação do produto, que consiste no cálculo e pesagem das quantidadesadequadas de cada ingrediente. • Durante o processo ocorrem o amolecimento dos tecidos da fruta e a associação íntima de todos os componentes, a inversão parcial da sacarose e a concentração do produto. • A cocção do produto deve ser conduzida apenas no tempo necessário à obtenção das características desejadas. Cocções prolongadas depreciam a coloração e o sabor do produto, além de provocar inversão excessiva de sacarose, degradação de pectina e desperdício de energia. 5 Cocção/concentração Métodos básicos para o processamento de geleia: • Concentração a pressão atmosférica tachos abertos, com camisa de vapor e agitador mecânico. • Concentração a vácuo temperatura de concentração (50oC a 60oC). Processamento a vácuo, a pectina pode ser adicionada no começo do processo, mas no caso de concentradores a pressão atmosférica, a adição de pectina deve ocorrer da metade para o final do processo de cocção. Figura 14 Tachos utilizados na concentração de geleias: (a) aberto, com camisa de vapor e agitador mecânico e (b) concentrador a vácuo. 17/04/2018 6 • Para se alcançar o pH ideal, entre 3,0 e 3,2, são adicionados acidulantes. • A adição do ácido deve acontecer ao final da fabricação da geleia, imediatamente antes do envase, principalmente no processamento a pressão atmosférica. Na concentração a vácuo, a adição do ácido poderá ocorrer em qualquer etapa do processamento. Métodos para determinar o ponto final da cocção: • Teor de sólidos solúveis → determinado usando-se refratômetros manuais ou digitais. Figura 15 Refratômetro para determinação do teor de sólidos solúveis. • Teste da colher → consiste em retirar, com o auxílio de uma colher, uma pequena porção de geleia, incliná-la e deixá-la escorrer: • se escorrer em forma de fio ou formar gotas, a geleia não está no ponto; • se ficar parcialmente solidificada ou escorrer sob a forma de lâminas ou flocos limpos, a concentração está no ponto desejado. Figura 16 Teste da colher • Ponto de ebulição → mediante o uso de termômetros. Tabela 2 Conversão da temperatura de ebulição em oBrix. • Teste do copo 6 Envase • Embalagem mais usada → recipiente de vidro → possibilidade de observação do produto pelo consumidor. • Embalagens plásticas vêm sendo cada vez mais utilizadas. • Temperatura mínima recomendada para o envase (enchimento) do produto é de 85ºC (acima de 85ºC). Figura 17 Geleia de abacaxi envasada em pote de vidro 17/04/2018 7 • Processamento a vácuo, a temperatura de concentração está por volta de 50-60ºC, assim sendo, a temperatura da geleia deve ser elevada a 85oC, antes do enchimento. • Os potes de vidro e suas tampas devem ser lavados em água corrente com detergente neutro e posteriormente tratados termicamente por 30 minutos em água fervente. 7 Fechamento das embalagens 8 Inversão térmica • Produtos envasados com a temperatura acima de 85ºC não necessitam de tratamento térmico adicional, bastando, apenas fazer o fechamento das embalagens e mantê-las invertidas por 3 a 5 minutos, a fim de que a geleia quente esterilize o espaço livre e a tampa. Figura 18 Inversão térmica • No caso de, no envase, não ser garantida a temperatura mínima (85oC), deve-se realizar um tratamento térmico final no produto. • Esse consiste, via de regra, em mantê-lo imerso em água com temperatura próxima da ebulição por 20 a 30 minutos, este tempo dependerá do tamanho da embalagem. 9 Resfriamento • As geleias, tanto as que sofreram um tratamento térmico ou que foram embaladas a quente (temperatura acima de 85°C), devem ser resfriadas logo em seguida. 10 Rotulagem • O rótulo do produto contribui muito com a comercialização do produto, sendo prevista na legislação para alimentos sua obrigatoriedade. 11 Estocagem Problemas durante o processamento • Deterioração microbiana do produto • Ocorrência de sinérese – consiste na exsudação de parte da água do produto, ficando esta na forma de uma fina camada sobre o gel, ou formando regiões de diferentes consistências. Principais fatores que contribuem para a ocorrência de sinérese são: baixo pH, alto teor de cálcio (na água ou nos ingredientes); temperatura baixa no enchimento e pectina insuficiente, deteriorada ou mal dissolvida. • Formação de cristais - a cristalização de açúcares é um fenômeno que altera o aspecto e a textura do produto sendo provocado, principalmente, pela pouca inversão da sacarose ou pela adição de pouco xarope de glicose, no caso de geleias processadas a vácuo. 17/04/2018 8 Processamento de geleia mista de acerola e morango 17/04/2018 9 Cálculo do rendimento na fabricação de geleias Vendruscolo (1989) propõe a seguinte fórmula para se calcular o rendimento obtido na fabricação de doces em pasta e geleias. Onde: PD : Quantidade de geleia ou doce a ser obtido em kg (rendimento final) PA: Peso do açúcar a ser utilizado na formulação em kg (açúcar cristal) PF: Peso da fruta, polpa ou suco usado na formulação em kg BF: Teor de sólidos solúveis da fruta, polpa ou suco em graus Brix BD: Concentração de sólidos solúveis desejada no doce acabado, em graus Brix Exemplo: Suponha-se que se deseja fabricar uma geleia de morango partindo de polpa com 7oBrix. Na formulação, deverão ser utilizados 90 kg de polpa e 110 kg de açúcar cristal, isto é: 45 partes de fruta para 55 partes de açúcar. Deseja-se que a geleia tenha 65 oBrix de concentração final. Substituindo os valores na fórmula acima, obtém-se o valor de 179 kg de geleia com 65oBrix
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