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www.cers.com.br 1 www.cers.com.br 2 Interceptação telefônica Lei n. 9.296/96 Previsão legal: Fundamento constitucional: Art. 5º, CF/88 (...) XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações tele- fônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de in- vestigação criminal ou instrução processual penal. Requisitos constitucionais para a interceptação telefônica Observância de lei Finalidade criminal Ordem judicial E antes da Lei 9.296/96 não havia interceptação telefônica? Questão: Atenção! Interceptações realizadas antes da lei em estudo e após a CF/88, que se basearam no Código Brasileiro de Tele- comunicações, foram consideradas ilícitas pelo STF. A expressão “salvo no último caso” inserta no inciso XII do art. 5º da CF/88 refere-se somente à comuni-Questão: cação telefônica? Em outras palavras, admite-se a interceptação da comunicação de dados, da comunicação te- legráfica ou de correspondência? Cuidado! Admite-se a quebra do sigilo de toda a forma de comunicação (correspondência, telegráfica, de dados e telefôni- ca), pois nenhum direito fundamental é absoluto, podendo o juiz, no caso concreto, afastar o sigilo diante da su- premacia do interesse público sobre o individual. O STF já decidiu desta forma ao entender válida a regra disposta no art. 41, parágrafo único, da Lei Em resumo: de Execução Penal (Lei n.º 7.210/84), que prevê que a autoridade administrativa responsável pela gestão do pre- sídio pode interceptar correspondência de presos que se destinem ao exterior do presídio. A Suprema Corte as- sim decidiu por entender que o direito à privacidade e à intimidade do preso deve ceder espaço aos ditames de segurança pública, disciplina prisional e a própria preservação da ordem jurídica, uma vez que "a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas" (HC. 70.814-5/SP). Destaques Não existe direito fundamental absoluto. O próprio direito à vida não é absoluto A privacidade, a intimidade devem ceder espaço para o interesse público Admite-se, por meio de ordem judicial, que o sigilo das correspondências, das comunicações telegráficas e de dados sejam devassados quando o interesse público o exigir. As interceptações telefônicas dependem de lei que preveja a necessidade de ordem judicial e de formas e hi- póteses de interceptação (Lei 9.296/96). As interceptações realizadas antes do advento da Lei 9.296/96 foram consideradas ilícitas pelo STF. Conceitos relevantes a) Interceptação telefônica em sentido estrito É a captação da conversa telefônica feita por um terceiro sem o conhecimento dos interlocutores. Conceito: www.cers.com.br 3 Interceptação telefônica x dados telefônicos Interceptação telefônica: Dados telefônicos: Por envolver o direito à intimidade, o afastamento do sigilo dos dados telefônicos (extrato de ligações) de-Obs. pende de autorização judicial, embora não esteja abrangido pela Lei nº 9.296/96, já que esta cuida especificamen- te das interceptações telefônicas propriamente ditas. Art. 5º, CF/88 (...) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indeniza- ção pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; b) Escuta telefônica É a captação da conversa telefônica feita por um terceiro com o conhecimento de um dos interlocutores Conceito: e sem o conhecimento do outro. c) Gravação telefônica ou gravação clandestina É a captação da conversa telefônica por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro. Conceito: A interceptação telefônica, a escuta telefônica e a gravação telefônica precisam de autorização judicial? Questão: Todas estão abrangidas pela Lei nº 9.296/96? De acordo com a jurisprudência do STF e do STJ, a Lei 9.296/96 se aplica tão somente à interceptação tele-Obs. fônica e à escuta telefônica, pois apenas nestas hipóteses há comunicação telefônica e a figura do terceiro inter- ceptador. Assim, a gravação telefônica é válida mesmo que tenha sido realizada SEM autorização judicial. Captação ambiental a) Interceptação Ambiental É a captação da conversa ambiente por um terceiro sem o conhecimento dos interlocutores. Conceito: b) Escuta ambiental É a captação da conversa ambiente por um terceiro com o conhecimento de um dos interlocutores e Conceito: sem o conhecimento do outro. c) Gravação ambiental É a captação da conversa ambiente por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro. Conceito: Atenção! precisam de autorização judicial quando o ambiente for privado, Interceptação ambiental e escuta ambiental: sob pena de violar a intimidade e a vida privada (art. 5º, X, CF). Exceção: Gravação ambiental: Requisito constitucional: finalidade criminal Art. 5º, CF/88 (...) www.cers.com.br 4 XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. A interceptação telefônica produzida no inquérito ou no processo criminal pode ser utilizada como prova Questão: emprestada em processos não criminais? 6. Ordem judicial Lei 9.296/96 Art. 1º. A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Juiz estadual autoriza a interceptação por tráfico de drogas local (doméstico). No curso da investigação, Questão: descobre-se que o tráfico é transnacional, pois a droga vem do estrangeiro e o processo é remetido para a Justiça Federal. Essa prova é válida? Não caia nessa! Segundo os Tribunais Superiores, havendo modificação de competência a interceptação autorizada pelo juiz an- terior é válida perante o novo juízo ou tribunal. se no momento da decretação da medida, com base nos elementos de convicção até Teoria do juízo aparente: então obtidos, o juízo que decretou a medida era, aparentemente competente, a prova é válida. Em resumo Juiz inicialmente incompetente: Juiz inicialmente competente e tornou-se incompetente com o descortinar das investigações: Fique atento! A simples menção dos interlocutores a pessoas que possuem foro privilegiado não autoriza o encaminhamento imediato dos autos ao Tribunal (precedentes do STF). A Lei 9.296/96 alcança as conversas realizadas via Skype, Whatsapp, etc.? Questão: Art. 1º, parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. O Delegado de Polícia, efetuou a prisão em flagrante de um traficante e com ele foi apreendido Questão: um smartphone. A Autoridade Policial pode acessar as mensagens trocadas no whatsapp ou outro aplicativo de comunicação em tempo real sem autorização judicial? Ex. Telegram; snapchat etc. STJ: HC 210.746 (2012) – 5ª Turma RHC 51.531 (abril/2016) – 6ª Turma RHC 67.379 (nov/2016) – 5ª Turma Lei 12.965⁄14 (Marco Civil da Internet) Art. 7º. O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decor- rente desua violação; www.cers.com.br 5 II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial; [...] Conclusão: De acordo com o STJ, é ilícita a devassa de dados, bem como das conversas de WhatsApp, obtidas direta- mente pela polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial. Direito comparado 1) a polícia não pode acessar as mensagens do celular do preso sem prévia autoriza-Suprema Corte dos EUA: ção judicial (2014). 2) sendo um ato contínuo à prisão não é necessário ter prévia autorização judicial. Suprema Corte do Canadá: Ainda não julgou o tema, no entanto, tem precedente autorizando a polícia a acessar o Supremo Tribunal Federal: celular do preso, sem autorização judicial, para analisar os registros de chamada (ligações efetuadas e recebidas). O que vem a ser o chamado direito probatório de terceira geração? Questão: Resumindo 1. Admite-se a verificação de registros das últimas ligações realizadas e recebidas ou dos nomes existentes em agenda de telefone celular apreendido pelo Delegado de Polícia, sem a necessidade de autorização judicial. (Pre- cedente: HC nº 91.867-STF). 2. O acesso a e-mails e conversas existentes em aplicativo de mensagens instantâneas extraídas do aparelho celular apreendido depende de prévia autorização judicial (Precedente: RHC nº 51.531 – STJ) 3. O direito probatório de 3ª geração diz respeito às provas invasivas, altamente tecnológicas, que permitem al- cançar conhecimentos e resultados inatingíveis pelos sentidos e pelas técnicas tradicionais. A Ministra Maria Thereza de Assis Moura, ao emitir seu voto sobre o tema, afirmou que, 4. Situações urgentes: caso a demora na obtenção de um mandado judicial possa trazer prejuízos concretos à investigação ou especial- mente à vítima do delito, é possível admitir a validade da prova colhida por meio do acesso imediato aos dados do aparelho celular. (Precedente: RHC nº 51.531 – STJ) A polícia ou o MP precisam de ordem judicial para obter os dados do IP de um computador? Questão: O número IP do computador pode ser obtido diretamente pela polícia ou MP, tendo em vista que é Fique atento! considerado mero dado cadastral, dispensando, portanto, ordem judicial. Em suma São requisitos constitucionais para a interceptação telefônica: Observância da Lei 9.296/96 Ordem Judicial Finalidade Criminal Requisitos legais (Lei 9.296/96) Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. 1. Indícios de autoria e participação www.cers.com.br 6 Não se admite a interceptação telefônica pré-delitual, também chamada de interceptação de prospecção. Obs. Somente se admite a interceptação pós-delitual. 2. Imprescindibilidade da interceptação Pode o juiz decretar interceptação telefônica somente com base em delação anônima? Questão: A interceptação telefônica não pode ser a medida imediatamente seguinte à delação anônima, sob pena de a Obs. prova ser considerada ilícita. A denúncia anônima constituiu apenas o “ponto de partida” para o início de investi- gações preliminares antes da instauração do inquérito policial. Jurisprudência sobre o tema 1) É sabido que a investigação não pode ser baseada, unicamente, em denúncia anônima. Entretanto, se a inter- ceptação telefônica foi precedida de constatação de fato concreto, em que se verificou a possibilidade da veraci- dade das condutas narradas na informação, tal providência torna a persecução e as medidas cautelares requeri- das válidas (HC 193562/PR). 2) Inexiste ilegalidade na instauração de inquérito policial ou na deflagração da ação penal provenientes de delatio criminis anônima, desde que o oferecimento da denúncia tenha sido precedido de investigações preliminares acerca da existência de indícios da veracidade dos fatos noticiados, o que, no caso dos autos, ocorreu exaustiva- mente. (HC 224898/SE) A polícia é informada que uma pessoa está sendo vítima de ameaça ao telefone. Se não houver outro Questão: meio de se colher a prova, admite-se a interceptação telefônica? 3. Crime punido com reclusão Lei n. 9.296/96 Art. 2º. (...). Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada. O Delegado de Polícia representa pela interceptação telefônica, descrevendo a situação objeto da inves-Questão: tigação e indica a qualificação dos criminosos. A interceptação é deferida, mas durante as investigações desco- bre-se outro crime ou outro criminoso não mencionado no pedido de interceptação. Essa prova será válida em relação ao outro crime ou ao outro criminoso? SIM. 1 C: A interceptação será válida, desde que o crime descoberto fortuitamente seja conexo com o crime para o qual foi autorizada a interceptação. SIM. 2 C: A interceptação será válida como prova, mesmo que a infração descoberta fortuitamente não seja conexa com o crime para o qual foi autorizada a interceptação. O juiz autoriza interceptação para apurar um tráfico ilícito de drogas praticado por A e B. Durante as Questão: interceptações a polícia descobre também um crime de ameaça e uma contravenção penal de jogo do bicho. Per- gunto: Pode a interceptação ser utilizada como prova do crime de ameaça e da contravenção do jogo do bicho? Em princípio , havendo o encontro fortuito de notícia da prática futura de conduta delituosa, durante a realização de interceptação telefônica devidamente autorizada pela autoridade competente, não se deve exigir a demonstra- ção da conexão entre o fato investigado e aquele descoberto, a uma , porque a própria Lei nº 9.296/96 não a exi- ge, a duas , pois o Estado não pode se quedar inerte diante da ciência de que um crime vai ser praticado e, a três , tendo em vista que se por um lado o Estado, por seus órgãos investigatórios, violou a intimidade de alguém, o fez com respaldo constitucional e legal, motivo pelo qual a prova se consolidou lícita. HC 69552/PR www.cers.com.br 7 Em resumo: é a descoberta fortuita de crimes ou criminosos que não são objeto da investigação. Teoria da serendipidade: Quando os novos fatos são conexos com os que deram início à investigação, fala-se em serendipidade de primei- ro grau. Por outro lado, quando os novos fatos não guardam qualquer relação com o primeiro, a serendipidade é considerada de segundo grau. Não é cabível interceptação para apurar crime punido com detenção e tampouco contravenção penal (art. 2º, Obs. inciso III, Lei 9.296/96). Entretanto, é possível que no curso de uma interceptação telefônica para apurar delito apenado com reclusão, surjam provas de crime punido com detenção (ex.: ameaça) e contravenção penal (jogo do bicho). O STJ tem admitido como válida essa prova obtida fortuitamente em função da aplicação da teoria da serendipidade. Legitimidade Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimen- to: I - da autoridade policial, na investigação criminal; II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal. Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônicaconterá a demonstração de que a sua realização é necessária à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem empregados. §1º. Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde que estejam pre- sentes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão será condicionada à sua redu- ção a termo. § 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá sobre o pedido. Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização. Procedimento a) O pedido de interceptação é feito ao juiz: pode ser formulado verbalmente em situações excepcionais (art. 4º, § 1º). b) O juiz deve decidir no prazo de 24 horas: prazo impróprio c) Juiz defere o pedido: quem conduz a interceptação é o Delegado de Polícia. d) A Autoridade Policial determinará a degravação das conversas captadas. e) Após 15 dias, a Autoridade Policial encaminhará o resultado da interceptação ao juiz, que deverá conter o re- sumo do que foi apurado. f) A gravação que não interessar será inutilizada por decisão judicial (art. 9º) g) A interceptação pode ser prorrogada indefinidamente, desde que estejam presentes os requisitos. h) A interceptação é realizada em autos apartados, sendo juntada aos autos principais imediatamente antes do relatório final: art. 8º. i) É crime realizar interceptação (telefônica, telemática ou de dados) sem autorização judicial ou quebrar segredo de justiça (art. 10). www.cers.com.br 8
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