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Fichamentos - Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau

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Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de Vortù. SADEK, Maria Tereza. (pp. 11-24) segundo capitulo. 
	WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da Política Vol. 1. Ática, 2006
	Os termos “maquiavelismo” e “maquiavélico” fazem parte tanto do discurso erudito quanto da fala do dia-a-dia. Eles se metamorfoseiam de acordo com os acontecimentos, já que podem ser apropriados por todos. Personificando o jogo sujo e sem escrúpulos, tornaram-se mais fortes do que Maquiavel.
Por outro lado, há a interpretação de Maquiavel como defensor da liberdade, ao oferecer conselhos para sua conquista ou proteção. Rousseau, por exemplo, afirmou que Maquiavel deu grandes lições ao povo fingindo dá-las aos Príncipes (Do Contrato Social, livro 3, cap. IV).
Maquiavel nasceu em Florença em 03 de maio de 1469. A Itália era então uma série de pequenos Estados, sujeita a conflitos e invasões constantes por parte de estrangeiros. Em um cenário em que a maior parte dos governantes não conseguia se manter no poder por mais de dois meses, Maquiavel passou a infância e adolescência.
Aos 29 anos Nicolau exerce um cargo de destaque na vida pública. Com a deposição de Savonarola, que substituíra os Médicis, Maquiavel passa a ocupar a Segunda Chancelaria, posição de considerável responsabilidade na administração do Estado.
Quando os Médicis recuperaram o poder, em 1512, Maquiavel foi demitido, proibido de abandonar Florença e ficava-lhe vedado o acesso a qualquer prédio público. Impedido de exercer sua profissão, dedica-se aos estudos. Desse retiro nasceram as obras do analista político: O Príncipe (1512/1513), Os Discursos Sobre a Primeira Década de Tito Lívio (1513/1519), A Arte da Guerra (1519/1520) e História de Florença (1520/1525). Escreveu ainda a comédia A Mandrágora, uma biografia sobre Castruccio Castracani e uma coleção de poesias e ensaios literários. Em 1520, a Universidade de Florença encarrega-o de escrever sobre Florença. Com a queda dos Médicis em 1527 e a restauração da república, Maquiavel é identificado pelos republicanos como alguém relacionado com os tiranos depostos, já que recebera deles atarefa de escrever sobre a cidade. Triste, adoece e morre em junho.
A preocupação de Maquiavel em todas as suas obras é o Estado real; rejeita a tradição idealista de Platão, Aristóteles e Santo Tomas de Aquino. Seu ponto de partida e de chegada é a realidade concreta, a verdade efetiva das coisas (verità effetuale). O problema central de sua análise política é descobrir como pode ser resolvido o inevitável ciclo de estabilidade e caos, como fazer reinar a ordem para que seja instaurado um Estado estável.
Maquiavel representa uma nova articulação sobre o pensar e fazer política ao pôr fim à ideia de uma ordem natural e eterna. A ordem, produto necessário da política, deve ser construída para se evitar o caos e a barbárie e, uma vez alcançada, deve ser mantida. Para conhecer Maquiavel, é preciso suportar a ideia da incerteza, da contingência, de que nada é estável e que o espaço da política se constitui e é regido por mecanismos distintos dos que norteiam a vida privada.
Ao analisar a história e sua própria experiência como funcionário do Estado, conclui que há traços humanos imutáveis. São atributos negativos (como a simulação, covardia ingratidão, etc.) que compõem a natureza humana e mostram que o conflito e a anarquia são seus desdobramentos necessários. O estudo do passado é, desta forma, uma privilegiada fonte de ensinamentos, um desfile de fatos dos quais se deve extrair as causas e os meios utilizados para enfrentar o caos resultante da expressão da natureza humana.
A história é cíclica: a ordem sucede à desordem que clama por uma ordem – não há meios absolutos para “domesticar” a natureza humana. O poder político aparece como a única possibilidade de enfrentar o conflito, ainda que qualquer forma de “domesticação” seja precária e transitória.
Maquiavel soma outro fator de instabilidade à desordem proveniente da natureza humana: a presença, em todas as sociedades, de duas forças opostas, o desejo do povo de não ser dominado e oprimido pelos grandes e o desejo dos grandes de dominar e oprimir o povo. O problema político é encontrar mecanismos que imponham estabilidade e sustentem uma determinada correlação de forças.
Há basicamente duas respostas à anarquia decorrente da natureza humana e do confronto entre os grupos sociais: o Principado e a República. A escolha entre uma e outra forma institucional depende da situação concreta. Quando a nação encontra-se ameaçada de deterioração, é necessário um governo forte para inibir a vitalidade das forças desagregadoras e centrífugas. O príncipe é um fundador do Estado, um agente da transição numa fase em que a nação se acha ameaçada de decomposição. Quando a sociedade encontra formas de equilíbrio, o poder político cumpriu sua função “educadora”, ela está preparada para a República, que o pensador também chama de “liberdade”, onde o povo é virtuoso, as instituições são estáveis e os conflitos são fonte de vigor, sinal de cidadania ativa e, portanto, desejáveis.
A atividade política é uma prática do homem sujeito da história, que exige virtù, o domínio sobre a fortuna.
Maquiavel inicia o penúltimo capítulo de O Príncipe referindo-se à crença no destino (Fortuna) como força da providência divina, sendo o homem impossibilitado de alterar o seu curso. Depois, atribui ao livre-arbítrio grande influência às ações humanas, a liberdade do homem é capaz de amortecer o suposto poder incontrastável da Fortuna; o poder, honra, glória são bens pelos quais o homem de virtù luta para conquistar a Fortuna.
Desta forma, o poder está relacionado à sabedoria do uso, à forma virtuosa de usar a força, não à força bruta, que permite a conquista, mas não a manutenção do poder.
A força explica o fundamento do poder: deve haver mais nos domínios recém-adquiridos do que naqueles há longo tempo acostumados ao governo de um príncipe e sua família. Porém, é a posse da virtù a chave para o sucesso do príncipe, que é a manutenção da conquista. Para isso, o príncipe deve guiar-se pela necessidade, saber associar vícios à virtù, conhecer os meios de não ser bom e fazer o uso deles caso precise, sem deixar de aparentar possuir as qualidades valorizadas pelos governados. Os meios para vencer as dificuldades e manter o Estado, para Maquiavel, nunca deixarão de ser julgados honrosos.
O mito, na obra de Maquiavel, é desmistificado. Recupera as questões que jazem pacificadas; ao fazer isso, subverte as concepções estabelecidas e instaura a modernidade no pensar a política. Ele pagou em vida pelo risco da desmistificação. Ao ser transformado em mito, é novamente vitimado. Resgatar a obra é o que se deve a Nicolau Maquiavel, o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtù.
 
	Hobbes: O medo e a esperança. RIBEIRO, Renato Janine. (pp. 51-77) terceiro capitulo
	WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da Política Vol. 1. Ática, 2006
	Para entender Hobbes é necessário entender o que ele diz em relação a “estado de natureza”. Sendo um contratualista, ou seja, ele acredita que a origem do estado e da sociedade, está sob um contrato. Assim, o poder e a organização que antes não existiam, surgiram a partir de um pacto feito entre os homens que estabeleceriam regras de convivência e de subordinação política.
Dizer que os contratualistas tinham a visão que homens selvagens se reuniam para fazer pactos de civilidade está totalmente equivocada. Para Hobbes, o homem natural é o mesmo que vive em sociedade, com sua essência imutável mesmo ao longo do tempo.
Para Hobbes a igualdade entre os homens está na capacidade de que um tem de triunfar sobre outros. Sendo assim, se dois homens desejam um mesmo bem que só pode ser desfrutado por apenas um, eles se tornaram inimigos. Enquanto vivem sem um poder comum capaz de manter a todos em respeito, eles se encontram na condição de guerra, o que envolve tanto a batalha quanto à disposição para a guerra.
O mito de queo homem é sociável por natureza dificulta a identificação da origem do conflito – e de contê-lo, é necessário identifica-lo como carregado de preconceitos. A política só será uma ciência se soubermos como o homem é de fato e só com a ciência política será possível construir Estados que se sustentem.
 O homem almeja a honra, valor atribuído a alguém em função das aparências externas. Mais importante do que riquezas, para ele é importante ter sinais de honra. Assim, ele imagina ter poder, do mesmo jeito quando imagina ser respeitado ou ofendido. A imaginação é perigosa, pois o homem se põe a fantasiar o que é irreal. O estado de natureza é uma condição de guerra porque cada um se imagina (com razão ou sem) poderoso, perseguido ou traído.
Para pôr termo a esse conflito, Hobbes apresenta a lei da natureza. É uma regra geral que proíbe alguém de fazer tudo o que possa destruir sua vida ou omitir aquilo que possa preservá-la. O homem vive em condição de guerra, onde todos têm direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros. Enquanto isso durar, não haverá a segurança. Assim, é um dever de todo homem esforçar-se pela paz e, caso não seja possível, usar todas as ajudas e vantagens da guerra. O homem tem o direito (liberdade) de defender-se por todos os meios possíveis, mas tem a obrigação (lei) de procurar a paz e segui-la.
Da lei fundamental de natureza deriva a segunda: que um homem concorde em renunciar a seus direitos a todas as coisas. Isso é necessário para a paz desde que outros façam o mesmo, pois, se os outros não renunciarem também, isso equivaleria a oferecer-se como presa.
Para que esse pacto não seja apenas um conjunto de palavras, é preciso que haja um poder capaz de fazer com que sejam respeitadas. Esse poder, o Estado, tem que ser um foco de autoridade que possa resolver todas as pendências e arbitrar qualquer decisão. O Estado é condição para existir a própria sociedade. Ele surge quando todos designam um homem como representante de suas pessoas, e, assim, transferem o direito de governar o grupo a ele, autorizando todas as suas ações. A multidão assim unida é o Estado, o Leviatã, o Deus mortal (abaixo do Imortal), a quem deverão a paz e a defesa. Para haver o poder absoluto, Hobbes concebe um contrato, assinado apenas pelos que irão se tornar súditos, devido ao fato de o soberano passar a existir a partir do contrato, não podendo assiná-lo, portanto. Disso resulta que o soberano é isento de qualquer obrigação ou compromisso relacionado ao contrato.
Hobbes desmonta o valor retórico dos conceitos de “igualdade” e “liberdade”. A igualdade é o fator que leva à guerra de todos contra todos, pois é quando dois homens ou mais podem querer a mesma coisa e nasce a competição. E por “liberdade”, Hobbes entende a capacidade de um homem fazer o que quer, muito diferente da visão que entende a liberdade como um princípio perseguido pelos homens.
Há, contudo, o que Hobbes entende ser a verdadeira liberdade do súdito. Quando o indivíduo assina o contrato social e dá poderes ao soberano, ele abre mão do direito de natureza para proteger a própria vida. Se o soberano não atende a este fim, o súdito (e só o prejudicado, ninguém mais) não lhe deve mais obediência por desaparecer a razão que levava o súdito a obedecer.
No Estado absoluto de Hobbes, o direito à vida é garantido de uma forma que não encontra paralelo na teoria política moderna. Mas o medo é a sua principal característica.
O soberano governa pelo temor que inflige a seus súditos. Não se trata de terror, existente no estado de natureza quando o ataque é iminente. O poder soberano apenas mantém os súditos temerosos o suficiente para fazê-los evitar a ira do governante.
O Estado não apenas detém a morte violenta; a esperança de uma vida mais confortável também é um incentivo à vida no Estado. O conforto deve-se à propriedade e a liberdade de usufrui-lo como bem entender, ao contrário do que ocorria na idade Média, quando inúmeros costumes e obrigações controlavam a posse. O limite da autonomia do proprietário, para Hobbes, é o controle do soberano. Onde há Estado, isso ocorre; onde não há estado, cada coisa é de quem a conserva pela força, ou seja, não há direito de propriedade. A propriedade que um súdito tem consiste em excluir todos os outros súditos do uso da propriedade, exceto o soberano, a quem caberá regular a transferência dessa propriedade de qualquer maneira que isso venha a ocorrer, ao determinar de que maneira devem fazer-se entre os súditos todas as espécies de contrato (compra, venda, troca, empréstimo etc.), e de que forma esses contratos são válidos.
Hobbes é considerado um dos pensadores mais “malditos” da filosofia política não apenas por romper a imagem do bom governante que se assemelha a um pai e do indivíduo que é naturalmente bom; mas também por negar o direito natural do indivíduo à propriedade. A burguesia, já no seu tempo, considera a propriedade privada um direito anterior e superior ao Estado. Assim, o pensamento de Hobbes não encontra aplicação em seu próprio país. Frustrante para um pensador que elaborou sua filosofia política enquanto seu país vivia uma guerra civil, e considerava que sua obra oferecia a única base para fundar um estado que desse aos homens paz e conforto.
Se existe Estado, é porque o homem o criou; só vivemos em sociedade devido a esse contrato. O contrato indica que o homem é o artífice da sua condição, não a natureza. Por ter sido o próprio homem que elaborou essa condição, pode conhecer tanto a situação em que se encontra quanto os meios de alcançar paz e prosperidade. Esses dois efeitos continuam inspirando o pensamento sobre o poder e as relações sociais.
	John Locke e o Individualismo Liberal. MELLO, Leonel Itaussu Almeida. (pp. 79-89) quarto capitulo
	WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da Política Vol. 1. Ática, 2006
	O século XVII foi marcado pelo antagonismo entre a Coroa e o Parlamento, controlados, respectivamente, pela dinastia Stuart, defensora do absolutismo, e a burguesia ascendente, partidária do liberalismo. A crise envolveu também as lutas entre católicos, anglicanos, presbiterianos e puritanos, e entre os beneficiários dos privilégios e monopólios mercantilistas concedidos pelo Estado e os setores que advogavam a liberdade de comércio e de produção. A Revolução Puritana, como foram denominados esses eventos, culminou com a execução de Carlos I e a implantação da República na Inglaterra. É instaurada, então, a Ditadura de Cromwell, que recebe o apoio do exército e da burguesia puritana. Após sua morte, em 1660, o país entra em nova crise política, cuja solução foi a restauração da monarquia e o retorno dos Stuart ao trono.
Durante a Restauração (1660-88), reativou-se o conflito entre a Coroa e o Parlamento, que se opunha à política pró-católica e pró-francesa dos Stuart.
A crise da Restauração chegou ao auge no reinado de Jaime II, soberano católico e absolutista. Os abusos reais levaramTories (partido conservador) e Whigs (liberal) a se unirem e aliarem-se a Guilherme de Orange, chefe de Estado da Holanda e genro de Jaime II. Guilherme aportou no país em 1688, depôs Jaime II, e ganhou a Coroa do Parlamento. A Revolução Gloriosa assinalou o triunfo do liberalismo político sobre o absolutismo e, com a aprovação do Bill of Rights em 1689, foi instituída uma monarquia limitada na Inglaterra.
John Locke (1632-1704), opositor dos Stuart, retornou do refúgio na Holanda após o triunfo da Revolução Gloriosa. Em 1689-90 publica suas principais obras: Cartas Sobre a Tolerância, Ensaio Sobre o Entendimento Humano e os Dois Tratados Sobre o Governo Civil.
Locke nasceu no seio de uma família burguesa da cidade de Bristol. Em 1652, Locke foi estudar medicina em Oxford, de onde se tornou professor. Em 1666, foi requisitado como médico e conselheiro e Lorde Shaftesbury, líder dos Whigs e opositor do rei Carlos II no parlamento. Acusados de Conspiração contra Carlos II, foram, Shaftesbury e Locke, obrigados a refugiarem-se naHolanda.
Escritos provavelmente em 1679-80, quando da conspiração de Shaftesbury contra Carlos II, foram publicados em 1690, após o triunfo da Revolução Gloriosa.
O Primeiro Tratado é uma refutação do Patriarca, obra em que Robert Filmer defende o direito divino dos reis. O Segundo Tratado é um ensaio sobre a origem, extensão e objetivo do governo civil. Nele, Locke defende que o consentimento expresso dos governos é a única fonte do poder político legítimo, não a tradição nem a força. Este ensaio tornou Locke celebre, e exerceu enorme influência sobre as revoluções liberais da época moderna. A teoria política desenvolvida no Segundo Tratado foi considerada por Norberto Bobbio a primeira e mais completa formulação do Estado Liberal.
Juntamente com Hobbes e Rousseau, Locke é um dos principais representantes do jusnaturalismo, ou a teoria dos direitos naturais.
O modelo jusnaturalista de Locke é, em suas linhas gerais, semelhante ao de Hobbes: ambos partem do estado de natureza que, pela mediação do contrato social, realiza a passagem para o estado civil. Hobbes e Locke divergem em como concebem cada um dos termos do trinômio estado natural, contrato social, e estado civil.
Locke afirma ser a existência do indivíduo anterior ao surgimento da sociedade e do Estado. Os homens viviam originalmente em liberdade e igualdade, denominado estado de natureza. O estado de natureza era uma situação real, para ele, pela qual passara, ainda que em épocas diversas, a maior parte da humanidade. Esse estado diferia do estado de guerra de Hobbes, baseado na insegurança e na violência, por ser um estado de paz e harmonia, em que os homens desfrutavam da propriedade, noção que designava vida, liberdade e os bens como direitos naturais do ser humano.
Locke utiliza a noção de propriedade num sentido diferente da de Hobbes.
Para Hobbes, a propriedade inexiste no estado de natureza, e foi instituída pelo Estado – Leviatã após a formação da sociedade política ou civil (Locke não distingue entre ambas). Assim como a criou, o Estado pode também tirar a propriedade dos súditos. Para Locke, a propriedade já existe no estado de natureza e, sendo anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo, que não pode ser violado pelo Estado.
Como a terra fora dada por Deus a todos os homens, ao incorporar seu trabalho à matéria que se encontrava em estado natural, o homem tornava-a sua propriedade privada, estabelecendo sobre ela um direito próprio, do qual estavam excluídos todos os outros homens. O trabalho, para Locke, era o fundamento originário da propriedade.
A concepção de Locke, que atribui ao trabalho a diferença de valor em tudo que existe, pode ser considerada como precursora do valor-trabalho, desenvolvida por Smith e Ricardo, economistas do liberalismo clássico.
O estado de natureza, apesar de pacífico, não está isento de inconvenientes, como a violação de propriedade, o que coloca indivíduos singulares uns contra os outros.
É a necessidade de superar esses inconvenientes que, segundo Locke, leva os homens a estabelecerem entre si o contrato social, que realiza a passagem do estado de natureza para a sociedade civil. O objetivo é a preservação da propriedade e a proteção da comunidade tanto dos perigos internos quanto das invasões estrangeiras.
No contrato social de Hobbes, os homens firmam entre si um pacto de submissão, trocando voluntariamente sua liberdade pela segurança do Estado-Leviatã. Em Locke, o contrato social é um pacto de consentimento em que os homens concordam livremente em formar a sociedade civil para preservar e consolidar os direitos que possuíam no estado de natureza, protegidos, sob o amparo da lei, do arbítrio e da força comum e um corpo político unitário.
A passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil (Locke não distingue entre ambas) se opera quando, através do contrato social, os indivíduos singulares dão seu consentimento unânime para a entrada no estado civil.
O passo seguinte é a escolha de uma determinada forma de governo pela comunidade, quando é utilizado o princípio da maioria. Qualquer que seja a forma de governo escolhida, sua finalidade será a mesma: a conservação da propriedade.
Para Locke, em suma, os principais fundamentos do estado civil são: o livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da sociedade, o livre consentimento da comunidade para a formação do governo, a proteção dos direitos de propriedade pelo governo, o controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade.
Quando o executivo ou o legislativo violam a lei estabelecida e atentam contra a propriedade, o governo torna-se ilegal. A violação deliberada da propriedade (vida, liberdade e bens) e o uso continuo da força sem amparo legal colocam o governo em estado de guerra contra a sociedade, conferindo ao povo o legítimo direito de resistência à opressão e à tirania.
O estado de guerra, nesse caso, configura a dissolução do estado civil e o retorno ao estado de natureza, onde, por falta de um arbítrio comum, o impasse só pode ser decidido pela força, a fim de depor o governo rebelde. O direito do povo à resistência é legítimo tanto para defender-se de um governo tirânico quanto para libertar-se do domínio de uma nação estrangeira.
A doutrina do direito de resistência não era recente. Resgatada por Locke no Segundo Tratado, transformou-se no fermento das revoluções liberais que eclodiram depois na Europa e na América.
	ALBUQUERQUE, J. A. Guilhon. Montesquieu: sociedade e poder. (pp. 111-120) quinto capitulo
	WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da Política Vol. 1. Ática, 2006
	Várias disciplinas atribuem a Montesquieu o caráter de precursor, ora da sociologia, ora do determinismo geográfico, quase sempre como aquele que desenvolveu a teoria dos três poderes, que permanece como uma das condições de funcionamento do Estado de direito.
A preocupação central de Montesquieu foi compreender, além das razões da decadência das monarquias, os mecanismos que garantiram sua estabilidade por tantos séculos. A moderação é a pedra de toque do funcionamento estável dos governos, e é preciso encontrar os mecanismos que a produziram nos regimes do passado e do presente para propor um regime ideal para o futuro.
Até Montesquieu, as leis eram simultaneamente legítimas (porque expressão da autoridade), imutáveis (porque dentro da ordem das coisas) e ideais (porque visavam uma finalidade perfeita).
Montesquieu define o conceito de lei, no início de O Espírito das Leis, como “relações necessárias que derivam da natureza das coisas” Diz ele que é possível encontrar constâncias na variação dos comportamentos e formas de organizar os homens. Isso ocorre, pois, as leis que regem os costumes e as instituições são relações que derivam da natureza das coisas, das relações políticas. Assim, Montesquieu traz a política para fora do campo da teologia e da crônica, e a insere num campo propriamente teórico.
O objeto de Montesquieu é o espírito das leis, isto é, as relações entre as leis (positivas, ou seja, leis e instituições criadas pelos homens para reger as relações entre os homens) e “diversas coisas”, tais como o clima, as dimensões do Estado, a organização do comércio, as relações entre as classes etc.
Montesquieu, ao se preocupar com a estabilidade dos governos, retoma a problemática de Maquiavel, que discute essencialmente as condições de manutenção do poder.
Os pensadores políticos que precedem Montesquieu (e Rousseau, que o sucede) são teóricos do Contrato Social, tendem a reduzir a questão da estabilidade do poder à sua natureza. Montesquieu constata que o estado de sociedade comporta uma variedade imensa de formas de realização, que se acomodam a uma diversidade de povos. O que deve ser investigado não é, portanto, a existência de instituições propriamente políticas, mas sim a maneira como elas funcionam.
Assim, ele considera duas dimensões do funcionamento político das instituições: a naturezae o princípio de governo. A natureza do governo diz respeito a quem detém o poder; o princípio é como o poder é exercido. São três os princípios, cada um correspondendo a um governo: o da monarquia é a honra; o da república é a virtude; e o do despotismo é o medo.
O governo de um só, baseado em leis fixas e instituições permanentes, com poderes intermediários e subordinados – tal como Montesquieu caracteriza a monarquia – só pode funcionar se esses poderes intermediários orientarem sua ação pelo princípio da honra. É através da honra que a arrogância e os apetites desenfreados da nobreza, bem como o particularismo dos seus interesses, se traduzem em bem público.
A virtude é o espírito cívico, a supremacia do bem público sobre os interesses particulares, por isso que é o princípio da república. Onde não há leis fixas nem poderes intermediários, onde não há poder que contrarie o poder como a nobreza contraria o rei e este à nobreza, somente a prevalência do interesse público poderia moderar o poder e impedir a anarquia ou o despotismo.
A combinação do princípio com a natureza do regime permite-nos entender melhor a teoria dos três governos. Já sabemos que o despotismo é menos que um regime, é um governo cuja natureza é não ter princípio. O despotismo seria menos do que um regime político, quase uma extensão do estado de natureza, onde os homens atuam movidos pelos instintos e orientados para a sobrevivência.
A monarquia não precisa da virtude, e mesmo as paixões desonestas da nobreza a favorecem. Na conjunção entre o princípio e a natureza da monarquia fica claro que ela repousa em instituições. São as instituições que contêm os impulsos da autoridade executiva e os apetites dos poderes intermediários. Essa capacidade de conter o poder, que só outro poder possui, é a chave da moderação dos governos monárquicos.
Montesquieu não defendia a restauração dos privilégios nobiliárquicos. Trata-se, portanto, de procurar, naquilo que confere estabilidade à monarquia, algo que possa substituir o efeito moderador que resultava do papel da nobreza, cujo poder político definhava.
É com isso em mente que Montesquieu vai à Inglaterra, estudar as bases constitucionais da liberdade, o qual inspira uma das partes mais controvertidas do Espírito das leis. Trata-se de uma análise da estrutura bicameral do Parlamento britânico – a Câmara Alta, constituída pela nobreza, e a Câmara dos Comuns, eleita por voto popular – e das funções dos três poderes, executivo, legislativo e judiciário.
A teoria dos poderes é conhecida como a separação dos poderes ou a equipotência (ou equivalência). Montesquieu estabeleceria, como condição para o Estado de direito, a separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário e a independência entre eles, dotados de igual poder.
Na verdade, trata-se de assegurar a existência de um poder que seja capaz de contrariar outro poder. Isto é, trata-se de encontrar uma instância independente capaz de moderar o poder do rei (do executivo). É um problema político, de correlação de forças, e não um problema jurídico-administrativo, de organização de funções. Para que haja moderação é preciso que a instância moderadora encontre sua força política em outra base social. Montesquieu considera a existência de dois poderes – ou duas fontes de poder político, mais precisamente: o rei, cuja potência provém da nobreza, e o povo. É preciso que a classe nobre, de um lado, e a classe popular, de outro lado (na época “o povo” designa a burguesia), tenham poderes independentes e capazes de se contrapor. A estabilidade do regime ideal está em que a correlação entre as forças reais da sociedade possa se expressar também nas instituições políticas.
Lida desta forma, a teoria dos poderes de Montesquieu se torna vertiginosamente contemporânea. Ela se inscreve na linha direta das teorias democráticas que apontam a necessidade de arranjos institucionais que impeçam que alguma força política possa prevalecer sobre as demais, reservando-se a capacidade de alterar as regras depois de jogado o jogo político.
	Rousseau: da servidão à liberdade. NASCIMENTO, Milton Meira. (pp.187-199) sexto capitulo
	WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da Política Vol. 1. Ática, 2006
	O ingresso de Rousseau na república das letras deu-se com a obtenção do prêmio concedido pela Academia de Dijon, que havia proposto o seguinte tema para dissertação: “O restabelecimento das ciências e das artes teria contribuído para aprimorar os costumes?” Ao responder negativamente a essa questão, Rousseau iria marcar uma posição bem diferente do espírito da época. “Se nossas ciências são inúteis no objeto que se propõem, são ainda mais perigosas pelos efeitos que produzem.”
A ciência que se pratica mais pela busca da glória e da reputação do que por um verdadeiro amor ao saber, não passa de uma caricatura e sua difusão só pode contribuir para piorar muito mais as coisas. Não se trata, entretanto, de acabar com as academias, as universidades, as bibliotecas, os espetáculos. Uma vez que já quase não mais se encontram homens virtuosos, as ciências e as artes poderão desempenhar o papel de impedir que a corrupção seja maior ainda.
Este filho de relojoeiro não iria encontrar um caminho fácil pela frente. O mundo das letras era dominado, na sua maioria, por pensadores como Voltaire, cuja linhagem era a de uma burguesia bem abastada, que não dispensavam uma proximidade da corte.
Rousseau deixou-nos trabalhos exemplares em vários domínios, da música à política, passando pela produção de peças de teatro e pelo romance A nova Heloísa. E deixou-nos o testemunho maior de sua vida na sua autobiografia, As confissões.
A trajetória do homem, da sua condição de liberdade no estado de natureza, até o surgimento da propriedade, com todos os inconvenientes que daí surgiram, foi descrita no Discurso sobre a origem da desigualdade. Nesta obra, o objetivo de Rousseau é o de construir a história hipotética da humanidade e demonstrá-la através de argumentos racionais, procedimento semelhante ao que outros filósofos já haviam feito no século XVII.
O Contrato Social trata de apresentar o dever ser de toda ação política. Pretende estabelecer as condições de possibilidade de um pacto através do qual os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural, ganhem, em troca, a liberdade civil. No processo de legitimação do pacto social, o fundamental é a condição de igualdade das partes contratantes.
Ao contrário da situação descrita no Discurso sobre a origem da desigualdade, ninguém sai prejudicado, porque o corpo soberano que surge após o contrato é o único a determinar o modo de funcionamento da máquina política. Desta vez, estariam dadas todas as condições para a realização da liberdade civil, pois o povo soberano, sendo ao mesmo tempo agente do processo de elaboração das leis e aquele que obedece a essas mesmas leis, tem todas as condições para se constituir enquanto um ser autônomo. Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo é um ato de liberdade. Um povo, portanto, só será livre quando tiver condições de elaborar suas leis de tal modo que a obediência a essas mesmas leis signifique, na verdade, uma submissão à vontade geral e não à vontade de um indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos.
Tal é a condição primeira de legitimidade da vida política, ou seja, aquela que marca a sua fundação através de um pacto legítimo, onde a alienação é total e onde a condição de todos é a de igualdade. Este processo de legitimação deverá estender-se também para a máquina política em funcionamento. Para que o corpo político se desenvolva, não basta o ato de vontade fundador da associação, é preciso que essa vontade se realize. Os fins da constituição da comunidade política precisam ser realizados. Donde a necessidade de se criarem os mecanismos adequados para a realização desses fins. Essa tarefa caberá ao corpo administrativo do Estado. Para Rousseau, antes de mais nada, impõe-se definir o governo como um órgão limitado pelopoder do povo e não como o próprio poder máximo. Se a administração é um órgão importante para o bom funcionamento da máquina política, qualquer forma de governo que se venha a adotar terá que submeter-se ao poder soberano do povo. As formas clássicas de governo, a monarquia, a aristocracia e a democracia, teriam um papel secundário dentro do Estado e poderiam variar ou combinar-se de acordo com as características do país. Mesmo sob um regime monárquico, segundo Rousseau, o povo pode manter-se como soberano, desde que o monarca se caracterize como funcionário do povo.
Uma outra instituição que merece muita atenção é a da representação política. Rousseau não admite a representação ao nível da soberania. Quando um quer pelo outro, a vontade de quem a delegou não mais existe ou não mais está sendo levada em consideração. A soberania é inalienável. Mas Rousseau reconheceria a necessidade de representantes a nível de governo. E, se já era necessária uma grande vigilância em relação ao executivo, por sua tendência a agir contra a autoridade soberana, não se deve descuidar dos representantes, cuja tendência é a de agirem em nome de si mesmos e não em nome daqueles que representam.
A considerarmos os próprios textos de Rousseau, deparamo-nos com certa incredulidade quanto à recuperação da liberdade por povos que já a perderam. Sua visão da história é pessimista. Fazer com que um povo, da servidão recupere a liberdade, é o mesmo que recuperar a vida de um doente prestes a morrer. Tal façanha, evidentemente, não ocorre todos os dias.
O que há de fascinante na Revolução Francesa e na interpretação que uma grande parte de revolucionários fazia do pensamento político de Rousseau é que, a partir daquela data, tudo o mais se ilumina a partir da ótica dos revolucionários. A exceção virou regra. O Contrato social, de uma análise do modo de funcionamento da engrenagem política e das condições de sua legitimidade, transformou-se num manual prático de política. Se a leitura que os revolucionários fizeram de Rousseau é possível, é bom não nos esquecermos de que existe um outro Rousseau, que teria muito a dizer aos povos em tempos normais, ou pelo menos no vigor das leis.

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