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P2 de Direito Civil IX - Prof. Bacellar - 9º DC 2018 - UNISANTOS

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Resumo pra P2 de Civil IX da Lê Maiorano – 9º DC 2018 UNISANTOS – Prof. Bacellar
Relações de Parentesco
Conceito de parentesco: esse conceito não se identifica com a noção de família. É a relação jurídica calcada na afetividade e reconhecida pelo Direito entre pessoas integrantes de um mesmo grupo familiar, seja pela ascendência, descendência ou colateralidade, independentemente da natureza.
Classificação quanto à natureza:
Parentesco civil: a relação de parentesco advém de vínculo jurídico. Segundo Maria Helena Diniz, é o estabelecido em razão de adoção. O parentesco socioafetiva se enquadra aqui.
Atualmente, dá-se interpretação extensiva no sentido de o parentesco civil ser o que resulta de qualquer outra origem que não a biológica, como concepção por fecundação heteróloga.
Em realidade, se define por exclusão não sendo fundado na reprodução biológica nem em relação de afinidade, é parentesco civil.
 
Parentesco natural ou consanguíneo: é o vínculo de sangue, consanguíneo. Consubstancia-se num vínculo ancestral. 
Parentesco por afinidade: surge com a ocorrência de casamento ou de união estável. Como o nome sugere, advém de relação de afeto. 
É o parentesco entre um dos cônjuges ou companheiros e os parentes do outro. 
Ex: sogra e nora. Concunhado não é parente (irmão do marido da sua irmã).
Classificação quanto a linhas:
Parentesco em linha reta: segundo o art. 1.591 do CC, são as pessoas na relação de ascendentes e descendentes. 
Esse parentesco é infinito, subindo ou descendo, gerando uma linha reta ascendente e uma linha reta descendente.
Observação: pai adotante e filho adotado são parentes em linha reta de primeiro grau. Quanto a parentesco por afinidade, é possível a linha reta, como no caso da sogra em relação ao genro.
Verticalmente, parentes consanguíneos em linha reta descendem uns dos outros: neto, filho, pai, avô, etc. Ocorre, ainda, uma subdivisão em graus. 
Parentesco em linha colateral: são as pessoas provenientes do mesmo tronco, sem descenderem umas das outras.
Horizontalmente, parentes consanguíneos em linha colateral são irmãos (colaterais de segundo grau) ou tios/sobrinhos (colaterais de terceiro grau).
Observação: no parentesco por afinidade, a linha colateral só vai até cunhado.
Classificação do parentesco quanto a graus: 
Critério: o critério é o número de gerações. É preciso subir até o ascendente comum e descer até o outro parente. 
Ex: seu irmão é seu parente de segundo grau porque tem que primeiro contar seu pai, e então conta outro grau até ele. Seu pai é de primeiro grau, desce pro seu irmão e ele acaba sendo de segundo grau.
Permanência do parentesco por afinidade na linha reta após dissolução do casamento ou união estável: esse parentesco por afinidade em linha reta (sogro e nora, sogra e genro, nora e sogro, padrasto e enteada, madrasta e enteado) persiste ainda que se dissolva a relação afetiva que o constituiu. Isso por força do art. 1.595, §2º do CC.
O art. 14 do Estatuto das Famílias dispõe que a afinidade se extingue, exceto para impedir a formação de entidade familiar, caso em que permanece.
Filiação
Conceito de filiação: se determina como sendo a relação jurídica existente entre ascendentes e descendentes de primeiro grau. É a relação de parentesco consanguíneo ou não que une uma pessoa àquelas que a geraram ou que as receberam em seu lar como se a tivessem gerado.
Espécies de filiação:
Filiação biológica: é a baseada em vínculo biológico, relativa ao nascimento.
Filiação socioafetiva: é fundamentada não no nascimento, mas num ato de vontade, em que os pais declaram expressa ou implicitamente a vontade de ter certa pessoa como filha.
Presunção de paternidade: é relativa, cabendo prova em contrário, mas não qualquer prova (a exemplo do art. 1.602 do CC). A maternidade, em contrário, não precisa ser provada. 
Ler o art. 1.597 do CC (aparentemente caiu em desuso, porque a presunção relativa hoje é suprida com o teste de DNA). 
Reconhecimento de filhos
Modos de reconhecimento voluntário (ou perfilhação): se dá em geral, extrajudicialmente. Aplicam-se especialmente aos filhos havidos fora do casamento. Será feito, segundo o art. 1.609 do Código Civil, nas hipóteses abaixo. Esse reconhecimento é irrevogável. Havendo vício de consentimento, porém, pode haver ação anulatória.
No registro de nascimento.
Por escritura pública ou escrito particular a ser arquivado em cartório.
Por testamento.
Por manifestação direta e expressa perante o juiz.
Reconhecimento de filhos falecidos: é possível, mas somente se tiverem deixado descendentes, para que não haja interesse apenas econômico. 
Oposição ao reconhecimento voluntário: por conta do art. 1.614 do CC, o maior de idade na pode ser reconhecido sem que haja seu consentimento e os menores de idade podem impugnar o reconhecimento em até quatro anos após a maioridade ou emancipação. 
Guarda de filho menor reconhecido: “Art. 1.612. O filho reconhecido, enquanto menor, ficará sob a guarda do genitor que o reconheceu, e, se ambos o reconheceram e não houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses do menor”. 
Sobre reconhecimento judicial: se dá geralmente por a ação investigatória, sendo mais comum a de investigação de paternidade. 
A legitimidade para propositura dessa ação é do alegado filho ou investigante e do Ministério Público. A legitimidade passiva, por sua vez, é do pai, da mãe ou de seus herdeiros. 
Continuidade da demanda de ação investigatória: nos termos do art. 1.606 do CC, os herdeiros do investigante podem continuar a demanda instaurada. 
Relação avoenga: é possível que netos peçam o reconhecimento contra o avô ou seus herdeiros.
Comprovação da filiação: o documento básico é a certidão de nascimento.
Recusa no exame de DNA: a recusa gera presunção de paternidade, que é relativa. 
Foro competente para ação investigatória de paternidade/maternidade: domicílio do réu. Se houver cumulação do reconhecimento com pedido de alimentos, é do domicílio do autor. 
Sentença da ação investigatória: gera os mesmos efeitos do reconhecimento voluntário. 
Paternidade e maternidade socioafetiva: permite até mesmo ação declaratória hoje em dia. Seu reconhecimento pode ser elemento gerador de obrigação alimentar. 
Posse do estado de filho: é o filho de criação. 
Multiparentalidade: situação um indivíduo tem mais de um pai ou mais de uma mãe simultaneamente, tendo todos os mesmos efeitos jurídicos. Pode-se incluir mais de um no registro civil. 
O filho tem direito a duas heranças. 
A fixação da pensão alimentícia pode ter dois legitimados passivos. 
Alimentos 
Conceito: conjunto de prestações necessárias para a vida digna do indivíduo.
Pressupostos: tradicionalmente, a fixação de alimentos leva em consideração o binômio necessidade-possibilidade. Isto é, necessidade do credor obter alimentos para viver e porque não tem bens suficientes para tal e possibilidade do devedor em poder fornecer os alimentos sem que seu próprio sustento fique prejudicado. 
A doutrina atual fala em trinômio, incluindo a razoabilidade. 
Conservação do valor aquisitivo dos alimentos: vide art. 1.710 do CC. A prestação de alimentos deve permitir que se realize os pressupostos.
Obrigação alimentar: é decorrente do parentesco ou da formação de família. Vide art. 1.694 do CC.
Reciprocidade: característica dos alimentos, pode ser observada no art. 1.696 (alimentos são recíprocos entre pais e filhos).
Ausência de limitação de grau: a obrigação alimentar se estende a avós, bisavós, sem limites. 
Caráter sucessivo da obrigação alimentar: na ausência de ascendente, passa a descendente, depois aos irmãos. Vide art. 1.697 do CC.
Princípio da solidariedade familiar na obrigação alimentar: vide art. 1.698 do CC. O doutrinador Stolze entende por subsidiariedade, que diz ser uma solidariedade com preferência. 
Transmissibilidade nos alimentos: vide art. 1.700 do CC. A herança respondepela obrigação alimentar, mas não sendo suficiente, o sucessor não pode ter seu patrimônio pessoal atingido.
Irrepetibilidade dos alimentos: se verificados indevidos posteriormente, os alimentos não podem ser restituídos.
Irrenunciabilidade dos alimentos: ainda que o credor opte por não receber ou não exercer seu direito, não pode renunciar aos alimentos. 
Classificações dos alimentos: 
Quanto à fonte:
Legais: decorrentes da lei, de relação de parentesco, casamento ou união estável. São os únicos que autorizam prisão civil do devedor.
Convencionais: advém da autonomia da vontade daquele que assume o pagamento de prestação alimentar sem ter obrigação legal de fazê-lo, como por relação contratual ou em decorrência de testamento.
Indenizatórios: decorrem da responsabilidade civil, como em caso de prática de ato ilícito. 
Quanto à extensão: 
Civis: aqueles alimentos que garantem o status quo, a manutenção da condição social. Vide art. 1.694 do CC.
Indispensáveis: são aqueles necessários à subsistência da pessoa.
Quanto ao tempo: 
Pretéritos: correspondem aqueles alimentos anteriores ao ajuizamento da ação de alimentos, não considerados devidos.
Presentes: são aqueles postulados a partir da ação de alimentos. 
Futuros: são as parcelas, os alimentos devidos a partir da sentença, pendentes de cobrança.
Quanto à forma de pagamento:
Próprios (in natura): são os que atendem às necessidades do indivíduo, pagos em espécie.
Impróprios: são pagos mediante pensão, em dinheiro.
Quanto à finalidade: 
Definitivos: são fixados por decisão judicial ou acordo, comportando revisão por meio de ação revisional. No caso de acordo, pode-se mencionar por exemplo o divórcio extrajudicial, em que o casal estabelece a questão dos alimentos.
Provisórios: fixados liminarmente na ação de alimentos, segundo rito especial previsto na Lei de Alimentos.
Bem de família
Conceito: “Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família”.
Requisito para que se institua: É importante mencionar que somente poderá instituir um bem de família, o indivíduo que tenha patrimônio suficiente para garantir os débitos anteriores, ou seja, é solvente, sob pena de invalidade. Só vale a instituição como bem de família para dívidas constituídas posteriormente.
Caracterização de fraude contra credores: fica caracterizada quando o devedor, visando se livrar de execução ou arresto de imóvel de seu patrimônio, destina este em função de domicílios familiar, sabendo que este imóvel é garantia comum de seus credores.
Modalidades: são duas as modalidades, o bem de família voluntário e o bem de família legal.
Bem de família voluntário: é aquele instituído como tal pela autonomia da vontade, por ato de vontade do casal ou da entidade familiar, mediante registro no cartório de imóveis. 
Ele determina a impenhorabilidade limitada e inalienabilidade relativa ao imóvel residencial. Aquela isenta o imóvel de dívidas futuras, resguarda este, exceto as relativas a impostos provenientes do mesmo prédio como ITR ou IPTU ou ainda despesas de condomínio. Esta, por sua vez, consista na impossibilidade de que seja alienado ou tenha outro destino, senão com expresso consentimento dos interessados e seus representantes legais, bem como devendo ser judicialmente comprovada a necessidade da alienação.
Limitação: o bem de família voluntário não pode ultrapassar 1/3 do patrimônio líquido do casal ou da entidade familiar, sob pena de invalidade do ato.
Extinção: o bem de família dura enquanto os cônjuges viverem ou até que os filhos completem a maioridade. A morte de um dos cônjuges pode, a requerimento do sobrevivente e se tratando de bem único do casal, extinguir o bem de família. 
Ainda, comprovada a impossibilidade de manter o bem de família nas condições em que foi instituído, se as partes fizerem um requerimento ao juiz, este poderá extingui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o constituem em outros, ouvindo o instituidor e o MP. Tal hipótese é comum nos casos em que o bem de família é instituído por terceiros, por membro da família já falecido ou por situações que impeçam o instituidor a desfaça. Se faz mister salientar, que se o instituidor faz parte da família, poderá desfazer instituição do bem de família por declaração.
Valores mobiliários: os valores mobiliários, que são os rendimentos que mantem ou ajudam a conservar o imóvel, não podem exceder o valor do prédio instituído em bem de família, à época da sua instituição.
Bem de família legal: é o imóvel onde reside o casal ou a entidade familiar. Se a família só possui um bem, este será considerado por força de lei como bem de família. Tal imóvel é isento de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de qualquer natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, ressalvadas as hipóteses previstas em lei. Essa proteção é imediata, decorre da lei, não precisa de instituição em cartório e registro. Não há limitação sobre o valor patrimonial da família.
Exceção da impenhorabilidade: pelo titular do crédito decorrente de financiamento destinado à construção ou aquisição do imóvel; para a cobrança de dívidas propter rem do imóvel (IPTU, taxas, etc). Tais hipóteses compreendem o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissionais, ou móveis que guarneçam a casa, desde que estejam quitados. 
Veículos de transporte, obras de arte e adornos sinuosos que fiquem guardados no imóvel não estão ressalvados da impenhorabilidade, ou seja, caso um dos membros tenha dívidas, poderão ser penhorados.
Garagem: a garagem do apartamento residencial também é impenhorável.
No caso daqueles que são locatários, não terá o imóvel que não lhe pertence como bem impenhorável, mas somente seus bens que ficam guarnecidos na residência, desde que estes estejam quitados. Tal proteção se estende ao comodatário, usufrutuário e ao promitente comprador que estejam em situação semelhante à do inquilino.

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