Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BIOQUÍMICA CLÍNICA PROF: FERNANDA JONCK CURSO: MEDICINA VETERINÁRIA PÂNCREAS E DERRAMES CAVITÁRIOS FUNÇÃO PANCREÁTICA O pâncreas tem um intimo contato com o estômago e o duodeno. Tem dupla função endócrina e exócrina. Sua função endócrina é secretando hormônios como insulina e glucagon, sua função é regular os níveis de glicose, elevando ou diminuindo. A exócrina é liberar várias enzimas com a função de metabolização, quebra, emusificação de gorduras e do amido (amilase), auxiliando na digestão através do sulco pancreático passando pelo ducto pancreático que se comunica com o duodeno. EXÓCRINA: a parte exócrina contém as células acinares tem uma série de enzimas digestivas que auxiliam na quebra de proteínas, carboidratos e gorduras. A secreção dessas enzimas necessita de um controle hormonal, que atua como estimulo para que sejam secretadas, sendo realizado pela secretina e colecistoquinina que serão incentivadas pela digestão quando chega o bolo alimentar no duodeno, ativando o parassimpático com liberação dos dois hormônios. Devendo ser inativadas no pâncreas e ativadas no duodeno, pois se forem ativadas na parte endócrina farão a autodigestão no pâncreas. Quando se tem uma inflamação ou alteração no tecido pancreático pode ter liberação dessas enzimas proteolíticas, tanto nos tecidos quanto na cavidade, digerindo o tecido pancreático ou/e tecidos adjacentes. As enzimas proteolíticas (citou 3) ficam na forma inativa para proteção do pâncreas. Para avaliar se o pâncreas esta exercendo sua função, tem uma grande quantia de enzimas que se pode dosar. Uma dessas enzimas é a amilase, que vai catalisar a hidrolise do amido, quebrando o amido em maltose e catalisa a hidrolise do hidrogênio, tendo como resultado uma glicose residual. Entretanto a amilase é uma isoenzima que pode ser produzida por outros órgãos (rins, testículos, intestino, ovários) além do pâncreas, necessitando então ter cuidado na avaliação, não podendo ser avalia isoladamente, como, por exemplo, uma enterite onde ocorre alteração da amilase, mas não por decorrência de alteração do pâncreas. Quando o nível amilase se encontra elevado é indicativo de injuria (lesão) de células acinares e obstrução do ducto pancreático, não sendo válida para felinos. Em felinos se pede a lípase (amilase e lípase são as duas enzimas que se analisa a função pancreática), quando as duas se encontram aumentadas, é indicativo de alteração da parte exócrina do pâncreas. A lípase é secretada na forma ativa, diferente das outras enzimas pancreáticas, tem sua atividade exacerbada/aumentada quando entra em contato com os sais biliares, porém no pâncreas ela não tem sua atuação, apenas no duodeno, com função de lipólise, hidrolisando os triglicerídeos, ácidos graxos e glicerol, sendo absorvidos para a circulação. Não podendo ser avaliada separadamente por ser produzida em outros órgãos (rins, fígado). É indicativo de lesão de células acinares e obstrução de ducto pancreático. Também tem testes rápidos, mas o mais comum a ser pedido é amilase e lípase. Tripsina Imunoreativa faz parte das enzimas que ficam inativas no pâncreas, no entanto só será secretada quando houver situações anormais, alterações no pâncreas, tecido pancreático. Sua forma ativa não sai das células pancreáticas, indicando de forma bem específica quando tem uma injúria. O teste é feito na reação de anticorpos de antitripsina espécie-específico (um anticorpo específico para cada espécie). A aplicação deste teste é na insuficiência pancreática exógena em cães e na pancreatite aguda em gatos. Provas fecais indicam e auxiliam na função de digestão do pâncreas. Como as enzimas pancreáticas fazem a digestão do bolo alimentar, teoricamente, nas fezes se terá o resultado do que esta sendo digerido ou não. Contendo diferentes tipos de testes fecais, como, teste do filme de raio-X, prova da gelatina e o teste de absorção, para saber se a parte de proteína, amido e gordura estão sofrendo metabolização e absorção adequada. Para as provas fecais é necessário ter fezes frescas, recolhidas e avaliadas o quanto antes, pois com o tempo ocorre atividade bacteriana podendo degradar as enzimas se estiverem presentes, dando um resultado inválido. Quando tem deficiência na absorção dos nutrientes na digestão, se tem uma insuficiência pancreática exócrina, pâncreas está liberando enzimas insuficientes para que ocorra a metabolização adequada desses nutrientes. Pode ocorrer também à absorção inadequada desses nutrientes, que estará relacionado à síndrome de má absorção, sendo um problema intestinal da mucosa do intestino que não está conseguindo absorve os nutrientes de forma apropriada, não estando relacionada muitas vezes à insuficiência pancreática, pois ele desempenha sua função com o suco pancreático, mas o intestino não consegue absorver estes nutrientes. Amido fecal: O amido quando não digerido forma uns grânulos pretos, se utiliza um corante chamado de lugol forte, que marca este amido nas fezes, ocorrendo quando se tem deficiência nas enzimas que digerem amido. Na insuficiência pancreática exócrina se tem essa alteração na digestão, sendo chamado de amilorreia, pelo excesso de amido nas fezes. Ocorre também quando se tem o fluxo do intestino acelerado, como por exemplo, em diarréias, onde o bolo alimentar não tem tempo de ser quebrado. Gordura fecal: A gordura não estará digerida, se utiliza um corante chamado de sudan três, marcando a gordura com pigmento laranja meio avermelhado, mostrando alteração nas enzimas que digerem a gordura ocorre na deficiência pancreática exócrina sendo chamada de esteatorreia. Animais que tem alto teor de gordura na dieta, terão um alto índice de gordura nas fezes. Atividade proteolítica fecal é realizada através da digestão do filme de raio-x, são utilizados potes, o primeiro é de controle negativo tendo apenas bicarbonato de sódio e filme de raio-x e as fezes , outro de controle positivo que contem o bicarbonato de sódio e as enzimas proteolíticas fazendo a digestão do filme de raio-x, para comparar se tem a digestão pelas enzimas no pote que contem as fezes, para ter certeza se ocorre ou não a atividade proteolítica. Quanto maior for a digestão do filme de raio-x, maior a quantia de enzimas proteolíticas agindo. Em um animal sem alteração pancreática ou de motilidade intestinal, não ocorrera à digestão, pois não se encontra essas enzimas nas fezes. Teste da digestão da gelatina é utilizado bicarbonato de sódio, as fezes do animal a ser avaliado e gelatina dissolvida, no controle negativo a gelatina fica solidificada (dura) e no controle positivo é quando ocorre digestão da gelatina ficando amolecida, mostrando que contem atividade proteolítica, ou seja, enzimas nas fezes. É o teste mais sensível. Em um animal sem alterações a gelatina ficará solidificada. DOENÇAS PANCREÁTICAS EXÓCRINAS PANCREATITE AGUDA: Atinge o pâncreas de forma mais aguda, normalmente está relacionada à inflamação, o animal tem alteração no tecido pancreático, podendo atingir tanto a parte exócrina quanto a endócrina, pois estão intimamente ligadas, se tem as células acinares (exócrinas) e as ilhotas de langerlans (endócrinas), podendo ter alterações hormonais por conta dessa inflamação. É uma injuria no parênquima pancreático, que ocorre de forma repentina, normalmente relacionada com animais obesos ou que ingeriram uma quantia excessiva de alimento gorduroso, por exemplo, animais com contato a óleo de cozinha(acidentalmente). Ocorre liberação das enzimas fazendo a digestão dos tecidos adjacentes (destruição do parênquima) e ativação de células inflamatórias. Os sinais clínicos são dor abdominal bastante aguda, apatia, anorexia e vomito e muitas vezes os sinais são inespecíficos, podendo ou não ocorrer alteração de fezes. As principais alterações são na amilase e lípase, que devem ser sempre analisadas juntas, indicando lesão no pâncreas exócrino quando estão aumentadas de 3 a 4 vezes. INSUFICIÊNCIA PANCREATICA: Ocorre quando o pâncreas não está exercendo sua função adequadamente, podendo advir de pancreatites agudas recorrentes. É através de alterações no tecido pancreático, induzindo a produção de tecido fibroso, ou seja, substituição do parênquima por tecido fibroso, tendo todas as suas funções reduzidas. Não ocorrendo aumento de amilase e lípase, pois o pâncreas está deficiente. Os sinais clínicos são perda de peso, polifagia e esteatorreia (pela falta de enzimas para ingerir o que o animal está comendo). O animal come demais, tem o apetite voraz e as fezes são pálidas. Nos exames laboratoriais na pancreatite aguda ocorre ausência da lipoproteína lípase, o plasma fica lipêmico (é normal após alimentação de 2 a 4 horas em que o plasma fica branco leitoso, que corresponde a uma maior quantia de quilomicrons no plasma, após isso, essas lipoproteínas deixam o plasma novamente transparente, limpando o plasma e os quilomicrons são absorvidos pelo fígado). Essas lipoprotreínas são liberadas pelo pâncreas, quando ocorre injúria esse processo de limpeza do plasma fica prejudicado, ocasionando a lipemia. Primeira pergunta a ser feita quando trazem a amostra é se o animal estava em jejum ou não. A lípase permanece elevada por mais tempo que a amilase, e a amilase se eleva após 12 horas do início do processo. Se a lesão for aguda e ocorrer antes de 12 horas, a amilase não estará alterada ainda, como outra opção se faz o teste de tripsina imunoreativa, tendo uma boa sensibilidade. Se ocorrer lesão pancreática, existe o aumento de amilase e lípase no sangue também. As alterações que podem ser encontradas em exames laboratoriais na pancreatite aguda são: leucocitose (pela inflamação, liberação de células inflamatórias), hemoconcentração (decorrente da desidratação, anorexia, vômito), azotemia (pela desidratação), densidade urinária aumentada (devido à desidratação também, ficando mais concentrada a urina), hiperglicemia (pelo estresse da dor e da própria doença em si), aumento das enzimas hepáticas (pois toda a área próxima do pâncreas vai sofrer a intercorrência da liberação das enzimas pancreáticas, sofrendo algum tipo de alteração, como peritonite ou enterite, com liberação das enzimas de extravassamento do fígado ALT e AST), trombocitopenia, entre outros. Nos exames laboratoriais na insuficiência pancreática (destruição progressiva do pâncreas, consequentemente, sua função reduzida). Os valores de amilase e lípase podem se encontrar normais ou reduzidos. Nas provas fecais terá nutrientes que não foram digeridos, os testes de gordura e amido darão positivos, ausência de digestão no filme de raio-x e na gelatina e a tripsina pode estar ativa ou não, dependendo se tem alguma parte de tecido funcional ainda, sendo que a maior parte se transformou em tecido fibroso. Todos os metabolitos e toxinas que saem do pâncreas para o duodeno, pela funcionalidade reduzida das enzimas pancreáticas e sulco pancreático, se encaminham para o fígado pelo sistema porta, podendo ter aumento de ALT e AST pela lesão hepática que as toxinas vão causar. A insuficiência pancreática atinge a parte endócrina do sistema pancreático também, não havendo liberação de insulina o animal fica com hiperglicemia e glicosúria, uma diabetes secundária com aumento de frutosamina. ENDÓCRINA: Fazem parte as ilhotas de langerhans que formam vários cordões celulares (glândulas) que dentro e entre eles tem muitos vasos sanguíneos, pois o pâncreas produz hormônios que são encaminhados para corrente sanguínea através dos vasos. Existem dois tipos de células, as betas que produzem insulina e as alfas glucagon. A insulina faz glicogenese, usando a glicose para reduzir a quantidade no sangue e o glucagon faz ao contrário a gliconeogenese, aumenta a quantia de açúcar no sangue. Os testes para avaliar o pâncreas endócrino são feitos a partir da mensuração da glicose, sendo feitos 12 horas após jejum, um animal normal não deve ter hiperglicemia após esse tempo de jejum, os níveis estarão elevados apenas de 2 a 4 horas após alimentação, em momentos de estresse, glicocorticóides exógenos também podem ocasionar essa hiperglicemia, alguns sedativos e fluidos ricos em glicose (dextrose), porém não são hiperglicemias tão exageradas, são estados considerados pré- diabéticos, se ele continuar de forma progressiva acarretará em uma diabetes. A hiperglicemia metabólica vai ser um indicativo de alteração quando tem diabetes melittus, sendo o mais comum relacionado com a glicose sérica ou alguns transtornos relacionados à diminuição da tolerância a glicose, aumentando a gliconeogenese. Os corticóides endógenos estimulam a gliconeogenese, imitando a função do glucagon, animais que tem hiperadrenocorticismo, tem uma maior liberação de corticóides podendo ter uma hiperglicemia. Ovinos submetidos a estresse e transtornos neurológicos em ruminantes podem ter o aumento da glicose também. A hipoglicemia pode ocorrer também, quando se tem manejo inadequado das amostras, quando consumo é baixo, desnutrição, acetose (induzindo a gliconeogenese), perdas (má absorção de nutrientes pelo intestino), falha na gligogenolese em suínos (leitões), exaustão ou transtornos do glicogênio. Em problemas hepáticos é onde ocorre principalmente a falha da gliconeogenese, quando o fígado se encontra insuficiente, consequentemente hipoglicemia e hipoadrenocorticismo (porque há pouco glicocorticóide e por conseqüência há baixa da glicose e baixa estimulação pela pituitária também). O aumento da utilização periférica em casos de endotoxemia, leucocitose, parasitemia, as células precisam de mais glicose e acabam utilizando e diminuindo a glicose. O excesso de capitação periférica, quando se tem excesso de insulina por ação de neoplasias. Quando a alteração do pâncreas endócrino, a curva glicêmica (avaliação da quantia de glicose no indivíduo em 12 ou 24 horas, sendo feita através da medição antes, em seguida, aplica a insulina, e 2 horas após alimentação, para formar essa curva), mostrará se ocorreu diminuição nos níveis de insulina por deficiência. Em um animal com diabetes tipo I, que ocorre por falta de insulina, a curva glicêmica antes e após a alimentação permanecera a cima, neste caso se faz a aplicação da quantia adequada de insulina, que é feita baseada na curva glicêmica para que não ocorra uma diminuição drástica e cause uma hipoglicemia. Em um animal normal após a alimentação a curva vai a baixar. A insulina sérica age nas membranas celulares e permite a entrada de glicose, aminoácidos, glucagon, gastrina e secretina, o que inibe a insulina é a hipoglicemia, pois o organismo capta que não é preciso insulina. A insulina sérica pode ser avaliada a partir da frutosamina, uma proteína glicosilada que sempre esta associada a um carboidrato, que é indicadora de concentração de glicose que havia 1 a 2 semanas antes da coleta de sangue. Quanto mais frutosamina circulante, maior era a quantia de glicose circulanteno individuo. DOENÇAS PANCREÁTICAS ENDÓCRINAS: DIABETES MELLITUS: Contem dois tipos, a I e a II. A tipo I é quando tem secreção insuficiente de insulina, alguma alteração em que essa insulina não vai ser produzida. A tipo II é quando ocorre alteração nos receptores de insulina, esta sendo liberada mas não captada, a correção é feita a partir da alimentação, com diminuição de componentes que interferem, para controlar os níveis de glicemia. Sendo a diabetes tipo I mais comum, acontece em animais mais velhos, obesos e do sexo feminino, os sinais clínicos são anorexia, depressão e fraqueza, sendo um animal insulino dependente. As causas que predispõem, podem ser pancreatites, gestação e medicamentosa como por corticóides. Na tipo II é mais em animais obesos, pois o excesso de tecido adiposo faz com que ocorra inibição de insulina. Nos exames laboratoriais de diabetes a urinalise vai ter glicosúria que faz com que a pressão nos túbulos proximais aumente e ocorra inibição da reabsorção de água, causando poliúria e polidipsia, e a cetonúria (sem liberação de glicose o organismo vai procurar uma via mais fácil degradando a gordura e formando os corpos cetônicos). O histórico clínico e os exames são essenciais, fazendo avaliação da glicose, frutosamina e colesterol (pelo excesso de tecido adiposo, pois são animais obesos, utilização de lipídios, pois animais diabéticos utilizam como fonte de energia porque não ocorre absorção de glicose pela falta de insulina, aumentando os níveis de colesterol pela utilização de gordura para produzir a energia). DERRAMES CAVITÁRIOS As cavidades contem um pouco de líquido para lubrificação e motilidade. Sempre que se encontra líquido mais que o comum/normal pode ser sistêmico (podendo ser localizada) ou trauma (normalmente localizada). Fisiologia dos líquidos corpóreos O volume de água corporal nos animais corresponde a cerca de 65% do peso total. Esta percentagem está mais relacionada com a massa dos tecidos magros; os animais magros possuem maior percentagem de água que os obesos. A distribuição do volume de água não é eqüitativa porque os tecidos e órgãos do corpo contêm quantidades diferentes e características de água. Esta distribuição desigual de água é divisível em dois compartimentos – o líquido extracelular e o líquido intracelular. O líquido extracelular corresponde aproximadamente 24% do volume de líquido total e inclui o plasma (4%), o líquido tissular ou intersticial (15%) e o líquido transcelular (5%). O líquido transcelular é aquele que ocorre nas cavidades corporais, nas vísceras ocas, nos olhos e nos produtos de secreção das várias glândulas. O plasma ou a fase intercelular líquida do sangue contém numerosos e variados cristalóides, assim como proteínas plasmáticas. Os cristalóides não deixam o sangue em quantidades significativas sob condições normais; apenas a água e os cristalóides têm livre acesso aos tecidos conjuntivos. O líquido tissular, portanto, é o plasma desprovido da maioria de suas proteínas características. O liquido tissular que ganha acesso aos capilares linfáticos é chamado de linfa. A linfa não contém quantidades significativas de proteínas, mas as proteínas plasmáticas que adentram o interstício retornam indiretamente para a circulação geral pelos vasos linfáticos. Os metabólitos e o oxigênio devem atravessar o líquido tissular antes de atingir as células. Os produtos residuais do metabolismo atravessam o líquido tissular e são transportados no sangue para os seus locais adequados de excreção (rins) ou troca (pulmões). As substâncias dissolvidas no sangue se movem a favor do seu gradiente de concentração (difusão) de forma aleatória, para fora ou para dentro do compartimento vascular através das fenestras das células endoteliais. A permeabilidade seletiva da célula endotelial impede, exceto por uma pequena quantidade, o transporte de macromoléculas (proteínas) por meio desta barreira. O movimento do fluído e de substâncias é governado pelas relações entre a pressão hidrostática e oncótica que regulam o delicado equilíbrio líquido do or ganismo. A pressão hidrostática no interior dos capilares move continuamente o líquido e as substâncias nele dissolvidas para o tecido conjuntivo. A perda de líquido do espaço vascular poderia ser contínua, se a pressão oncótica das proteínas plasmáticas do leito vascular não recuperasse os líquidos do espaço intersticial de volta para o espaço intracapilar. O movimento e a distribuição de fluídos no organismo dependem do balanço de quatro fatores, que governam a direção e quantidade de líquidos que são movidos e/ou mantidos nos vários locais, esses fatores são: a pressão hidrostática do capilar, a pressão hidrostática intersticial, a pressão coloidosmóstica do capilar e a pressão coloidosmótica intersticial. A pressão hidrostática capilar é iniciada e mantida pela força mecânica do coração. Embora a pressão hidrostática capilar caia aprecialvelmente no lado arterial dos capilares para 30mmHg, esta pressão excede a pressão hidrostática intersticial, que é de 8mmHg. As proteínas plasmáticas, principalmente a albumina, contribuem para a pressão coloidosmótica do sangue. Esta é de aproximadamente de 25mmHg no lado arterial do leito capilar; a pressão coloidosmótica do líquido tissular é de aproximadamente 10mmHg. Deste modo, no leito capilar arterial há uma pressão resultante de 7mmHg, também chamada de pressão 0 de filtração, a favor do líquido para o tecido. No lado venoso há uma queda na pressão hidrostática capilar para 17mmHg, sendo que as demais pressões mantêm-se aproximadamente nos mesmos valores. A pressão resultante desta vez ocorre a favor da entrada de líquido para o interior dos vasos, em torno de 6 mmHg, também chamada de pressão de reabsorção. A reabsorção movimenta, de volta para o leito vascular, cerca de 90% do líquido filtrado para o tecido conjuntivo. Os 10% restantes do líquido que não retorna para o leito vascular desequilibrariam essas correlações entre a filtração e a reabsorção, se fosse permitido a esse fluído a sua permanência no interstício. Para evitar este problema, o líquido e a pequena quantidade de proteínas, resultante desta diferença de 1mmHg entre a filtração e a reabsorção, são devolvidos para a circulação geral por meio dos vasos linfáticos. Alterações nas trocas de fluídos Numerosos fatores podem influenciar e alterar o delicado equilíbrio que existe entre os componentes líquidos dos compartimentos do sistema vascular, do sistema linfático e do tecido conjuntivo. Alterações como ingestão excessiva ou inadequada de água, desequilíbrio eletrolítico, deficiência de proteínas, processos inflamatórios e doenças sistêmicas podem se manifestar na troca de uma perturbação generalizada do equilíbrio fluído. O edema é a retenção e o subseqüente acúmulo de líquido tissular, resultante da transformação da pressão hidrostática intersticial em positiva. As condições edematosas sistêmicas e/ou regionais não ocorrem facilmente. Como manifestação clínica, o edemageralmente é resultado de sérios processos patológicos. Dois mecanismos específicos proporcionam uma margem de segurança para o acúmulo de fluídos. A substância fundamental, representada pela propriedade intrínseca de absorção do tecido conjuntivo, pode absorver cerca de 30% de líquido além do seu conteúdo normal. O mecanismo de fluxo linfático proporciona uma margem de segurança adicional. Este fluxo é influenciado pela pressão hidrostática intersticialnegativa, pelo bombeamento dos capilares linfáticos e pelo mecanismo de arrastamento de proteínas intersticiais pela água. O sistema de fluxo linfático gera um mecanismo que requer um aumento de 70% da pressão hidrostática capilar antes que o edema seja observado. Ainda é necessário que haja uma redução aproximada de 70% da pressão coloidosmótica do capilar antes que seja atingida uma condição edematosa. Apesar destes fatores de segurança, o edema ocorre. Quatro mecanismos básicos provocam a formação excessiva de líquido tissular: Obstrução linfática: Influencia este processo em duas vias. Inicialmente a obstrução linfática impede o retorno do líquido tissular para a circulação, resultando no aumento gradual e contínuo de líquidos no tecido conjuntivo. Isto aumenta a pressão hidrostática do líquido tissular. Ocorre também uma acumulação progressiva de proteínas no tecido conjuntivo. As proteínas elevam a pressão coloidosmótica do tecido conjuntivo, resultando numa tendência para atrair e reter mais água. As causas podem incluir linfangite e linfadenoma, tumores e/ou metástases, abcessos e extirpação cirúrgica de cadeia linfática. Aumento da permeabilidade capilar: Resulta no vazamento de plasma para o compartimento do tecido conjuntivo. A elevada pressão coloidosmótica intersticial devido ao excesso de proteínas no tecido conjuntivo provoca o aumento da quantidade de líquido tissular. O fato mais significante é a diminuição da capacidade do sangue para atrair a água de volta para os capilares. As causas podem ser processos inflamatórios, reações alérgicas, substâncias tóxicas e venenos e queimaduras. Diminuição da pressão oncótica capilar: A baixa da pressão coloidosmótica está associada à baixa concentração de proteínas plasmáticas. Este tipo de deficiência resulta na diminuição da habilidade do sangue de remover fluídos do tecido conjuntivo. A hipoproteinemia pode ser resultado de distúrbios hepáticos, perda excessiva de proteínas na urina (distúrbios renais), desnutrição protéica, perda excessiva de proteínas pelo tubo digestivo e parasitismo. Aumento da pressão hidrostática capilar: A obstrução venosa resulta na elevação da pressão hidrostática capilar. Quando a pressão hidrostática excede a pressão coloidosmótica capilar, os líquidos são retidos no tecido conjuntivo. A elevação da pressão hidrostática capilar pode resultar de insuficiência cardíaca congestiva ou estase portal, inflamação ou obstrução dos vasos, compressão com bloqueio dos vasos por tumores ou nódulos, aumento da resistência pulmonar e colocação apertada de bandagens. Classificação dos derrames cavitários Os derrames cavitários são denominados de acordo com o local de formação e classificados conforme o tipo de líquido (características físicas, químicas e citológicas) em transudato puro, transudato modificado e exsudato. Transudato puro: límpidos e incolores (cães e gatos), amarelados (herbívoros), pequena quantidade de proteína total (<2,5g/dL), poucas células nucleadas (CTCN<1.500/μlL), pHalcalino, densidade (<1.017), células predominantes: mesoteliais, poucos linfócitos e neutrófilosíntegros e raros macrófagos e hemácias. Causas: diminuição da concentração das proteínas plasmática, ou seja, diminuição da pressão coloidosmótica na nefropatia, hepatopatia crônica, enteropatia e deficiência nutricional. Transudato modificado: A citologia do transudato modificado depende da sua origem, mas geralmente apresenta neutrófilos não degenerados em pequena quantidade, células mesoteliais reativas, pequenas quantidades de linfócitos e macrófagos, poucas hemácias. Pode ser denominado de acordo com o local de formação. Características: leve a moderadamente turvo, quantidade de proteína total moderada (2,5 a 7,0g/dL), baixa a moderada celularidade (CTCN 1.000–7.000/μL), células predominantes: mesoteliais, poucos linfócitos e neutrófilos íntegros, macrófagos e hemácias. Causas: aumento da presssão hidrostática capilar: estase venosa portal, ruptura de bexiga, ureter e uretra, insuficiência cardíaca, ruptura do ducto biliar, neoplasias, hemorragias intracavitárias, bloqueio das veias que drenam os tecidos, torção pulmonar. Bloqueio do sistema linfático: massas, tumores e outros. Efusão Quilosa: formada pelo extravasamento de linfa, cor creme (branca) ou rosada devido a presença de hemácias, proteína total 2,0 a 6,5g/dL, células nucleadas: 1.000 a 17.000/μL, células predominantes: linfócitos, podendo estar presentes neutrófilos e macrófagos, concentração de triglicerídeos no fluido maior que no soro, concentração de colesterol do fluido menor que no soro. Peritonite Infecciosa Felina (PIF): aguda: pouco quimiotactante - fluído com poucas células, alta proteína, incolor, viscoso, neutrófilos degenerados, macrófagos, plasmócitos, céls. mesoteliais e linfócitos; crônica: menor quantidade de neutrófilos, maior de outras células Peritonite Biliar: ruptura da vesícula ou ducto biliar, amarelo alaranjado, PT e CTCN moderada a alta, pigmento biliar em macrófagos, concentração de bilirrubina do fluido maior do que no soro. Exsudato: O exsudato possui formação ativa e origem inflamatória, com presença de substâncias vasoativas e quimiotáticas, que aumentam respectivamente o conteúdo de proteínas e células do líquido que são as substâncias vasoativas - aumento da permeabilidade vascular (proteína), e substâncias quimiotactantes - aumento de células. Características: turvos, cor: branca, rosa, âmbar, vermelha, etc, proteína total (>3,0g/dL), densidade (>1020), pH ácido, células nucleadas (CTCN>7.000/μL), geralmente coagulam, citologia: predominância de neutrófilos, macrófagos e células mesoteliais; bactérias podem estar presentes. Exsudatos podem ser divididos em: Sépticos: agentes bacterianos, fúngicos, etc. Assépticos: uroperitônio, peritonite biliar, pancreatite necrótica e neoplasias.
Compartilhar