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DIREITOS DOS ANIMAIS TRABALHO

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
OS DIREITOS DOS ANIMAIS
NITERÓI
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE DIREITO
DIREITOS HUMANOS
EDUARDO VAL
CLÉO GOTELIPE, JOÃO VITOR MEDEIROS, JULIA ESTEVES E SARAH RAMALHO
TRABALHO DE PESQUISA SOBRE OS DIREITOS DOS ANIMAIS
A Evolução Histórica do Direito dos Animais e a Formação deste Grupo de Vulnerabilidade
Para abordarmos os direitos dos animais no presente trabalho é necessário traçar, antes de tudo, um panorama histórico acerca do referido grupo de vulnerabilidade, a fim de obtermos uma melhor compreensão acerca do tema. Sendo assim, cabe abordar o ano de 1638, quando o médico britânico William Harvey realizou a primeira pesquisa científica no mundo utilizando animais sistematicamente. Já no ano de 1750, o filósofo francês Jean Jacques Rousseau defendeu que seres humanos são animais e, por esse motivo, todos os animais teriam o direito natural de não serem maltratados. Por conseguinte, no ano de 1789, Jeremy Benthan lançou a base para a posição dos atuais defensores dos animais com a seguinte frase: “A questão não é se eles podem racionar ou falar, mas sim se eles podem sofrer”. 
Em meio a esse cenário, estabeleceu a Inglaterra, no ano de 1822, a Lei Britânica de Anticrueldade, enquanto que no ano de 1824 foi criada a primeira sociedade de proteção dos animais no mundo, a “Society for the Prevention of Cruelty to Animals”. Por outro lado, surgiu em 1876 a primeira lei sobre regulamentação do uso de animais em pesquisas científicas no Reino Unido. Já no século XX, com a entrada do partido nazista no poder na Alemanha, mais precisamente no ano de 1933, foi aprovada uma série de leis de proteção animal no país. Esta foi vista como a primeira tentativa realizada pelo governo com o objetivo de quebrar a barreira que existia entre as espécies, negando a mera visão de distinção entre seres humanos e animais. Por outro lado, logo após o término da Segunda Guerra, houve um significativo aumento da demanda por produtos de origem animal, pelo fato de a produção ter aumentado nessa época. Esse aumento de produção advinha da necessidade de fomentar o consumo e fornecer alimentos aos países que se encontravam extremamente devastados no pós-guerra. 
No Brasil, o Decreto de número 16.590, datado de 1924, representou o marco inicial da proteção legal contra a violência ao grupo dos animais, passando a ser visto como um grupo de vulnerabilidade pelo ordenamento jurídico. Este realizou a regulamentação das Casas de Diversão Pública, proibiu corridas de touros, garraios e novilhos, as brigas de galo e canários, além de outros atos de crueldade contra os animais. 
No ano de 1975, Peter Singer publicou a chamada “bíblia do movimento moderno pelos direitos dos animais”, o livro Liberação Animal, influenciando gerações. Por conseguinte, em 1978 a Unesco estabeleceu a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, tentando igualar a existência dos seres humanos aos animais. Na década de 1980, por meio desse viés, foram praticados por defensores dos direitos dos animais diversos atentados contra laboratórios, universidades e casas de pesquisadores. No ano de 2088 foi aprovada no Brasil a Lei Arouca – de número 11.794 – a qual estabeleceu procedimentos para uso científico de animais e sanções para as práticas indevidas. 
Sendo assim, fica evidente, pelo exposto, que a relação entre os homens e os animais foi se modificando ao longo dos anos, visto que diversas preocupações foram surgindo. Isso se explica pelo fato de que à medida que o homem evolui, a demanda da participação dos animais na cadeia aumenta, e, sendo assim, a preocupação do homem com a sua vida futura na Terra faz com que ele busque maneiras de frear essa exploração indevida dos animais no planeta. 
 6. Jurisprudência Atualizada
Caso 1: STJ - RECURSO ESPECIAL : REsp 1115916 MG 2009/0005385-2
Ementa
ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL – CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSE – SACRIFÍCIO DE CÃES E GATOS VADIOS APREENDIDOS PELOS AGENTES DE ADMINISTRAÇÃO – POSSIBILIDADE QUANDO INDISPENSÁVEL À PROTEÇÃO DA SAÚDE HUMANA – VEDADA A UTILIZAÇÃO DE MEIOS CRUÉIS.
1. O pedido deve ser interpretado em consonância com a pretensão deduzida na exordial como um todo, sendo certo que o acolhimento do pedido extraído da interpretação lógico-sistemática da peça inicial não implica em julgamento extra petita.
2. A decisão nos embargos infringentes não impôs um gravame maior ao recorrente, mas apenas esclareceu e exemplificou métodos pelos quais a obrigação poderia ser cumprida, motivo pelo qual, não houve violação do princípio da vedação da reformatio in pejus.
3. A meta principal e prioritária dos centros de controles de zoonose é erradicar as doenças que podem ser transmitidas de animais a seres humanos, tais quais a raiva e a leishmaniose. Por esse motivo, medidas de controle da reprodução dos animais, seja por meio da injeção de hormônios ou de esterilização, devem ser prioritárias, até porque, nos termos do 8º Informe Técnico da Organização Mundial de Saúde, são mais eficazes no domínio de zoonoses.
4. Em situações extremas, nas quais a medida se torne imprescindível para o resguardo da saúde humana, o extermínio dos animais deve ser permitido. No entanto, nesses casos, é defeso a utilização de métodos cruéis, sob pena de violação do art. 225 da CF, do art. 3º da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, dos arts. 1º e 3º, I e VI do Decreto Federal n. 24.645 e do art. 32 da Lei n. 9.605/1998. 5. Não se pode aceitar que com base na discricionariedade o administrador realize práticas ilícitas. É possível até haver liberdade na escolha dos métodos a serem utilizados, caso existam meios que se equivalham dentre os menos cruéis, o que não há é a possibilidade do exercício do dever discricionário que implique em violação à finalidade legal. 6. In casu, a utilização de gás asfixiante no centro de controle de zoonose é medida de extrema crueldade, que implica em violação do sistema normativo de proteção dos animais, não podendo ser justificada como exercício do dever discricionário do administrador público. Recurso especial improvido.
Caso 2: TJ-RS - Agravo de Instrumento : AI 70058136094 RS
Ementa
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO DOS ANIMAIS. INTERDIÇÃO DE CANIL MUNICIPAL DE TORRES. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. REQUISITOS CONFIGURADOS. PRELIMINAR DE LITISPENDÊNCIA AFASTADA.
1. A configuração da litispendência está relacionada a existência concomitante das mesmas partes, causa de pedir e pedido com demanda anteriormente ajuizada. Inteligência do art. 301, § 2º, do CPC. Não é o caso dos autos. Preliminar desacolhida.
2. Incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, sem colocar em risco a sua função ecológica, a extinção de espécies ou submeter os animais a crueldade, conforme prevê o art. 225, § 1º, inc. VII, da CF.
3. O art. 1º da Lei Municipal nº 4.003/06 estabelece que o controle e proteção das populações animais são de responsabilidade conjunta da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Secretaria Municipal da Saúde.
4. No caso, restou comprovado aos autos o estado de precariedade do Canil Municipal de Torres, de modo que deve ser mantida a decisão que interditou parcialmente o local, a fim de evitar maiores prejuízos aos animais que venham a ser colocados àquela situação.
5. Hipótese em que restou comprovado nos autos a verossimilhança do direito alegado e a urgência da tutela pretendida. Preenchidos os requisitos caracterizadores da antecipação de tutela, a teor do que disciplina o art. 273 do CPC. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. (Agravo de Instrumento Nº 70058136094, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sergio Luiz Grassi Beck, Julgado em 12/03/2014)
 7. Conclusões Individuais
Diante de todo o exposto neste trabalho, fica clara a necessidade de continuarmos defendendo com grande fervor a proteção dos animais, lutando contra as crueldades e maus tratos que ainda perduram em nossa realidade. Estes nãopodem continuar sendo objeto de cultura e consentimento dos seres humanos, visto que estão em desconformidade com diversas normas constitucionais. São atentados contra a ética e a moral do homem, os quais são princípios norteadores do nosso Estado Democrático de Direito e que são tão defendidos pela nossa sociedade. O Direito Brasileiro condena, portanto, a submissão dos animais à crueldade e qualquer descumprimento em relação a isso será um ato inconstitucional. Além disso, o Brasil é signatário da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, o que poderia nos fazer concluir que cabe a ele zelar pelos 13 artigos proclamados e contribuir pela difusão e propagação das ideias para países não signatários. 
Sendo assim, as regras e normas espalhadas pelo nosso ordenamento jurídico devem ser cumpridas e respeitadas, para que as próximas gerações continuem a construir o mesmo caminho que viemos construindo, contribuindo para um futuro melhor para o nosso planeta e defendendo o direito à vida, o direito à liberdade e o direito à integridade psíquico-física para todas as espécies humanas e não humanas, acima de tudo. Só assim caminharemos para o progresso. (Cléo Gomes Gotelipe Campos)

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