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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUÍZ(A) DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE NOVO HAMBURGO/RS PROCESSO Nº: SIMONE _____________, já devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe, vem, através de seu procurador judicial signatário, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, tempestivamente, apresentar, ALEGAÇÕES FINAIS NA FORMA DE MEMORIAIS, com fulcro no Art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal, pelos fatos e fundamentos que passa a expor. 1. DOS FATOS - RELATÓRIO Ocorre que, no dia 23 de fevereiro de 2016, a Ré, Simone, com 20 anos de idade, encontrava-se em um curso preparatório para concurso na cidade de Novo Hamburgo/RS. Ao final da aula, resolveu ir comprar um café na cantina do local, tendo deixado seu notebook carregando na tomada. Ao retornar, retirou um notebook da tomada e foi para sua residência. Ao chegar em casa, foi informada de que foi realizado registro de ocorrência na Delegacia em seu desfavor, tendo em vista que as câmeras de segurança da sala de aula captaram o momento em que subtraiu o notebook de Simaria, sua colega de classe, que havia colocado seu computador para carregar em substituição ao da Ré, o qual estava ao lado. No dia seguinte, antes mesmo de qualquer busca e apreensão do bem ou atitude da autoridade policial, cabe ressaltar que Simone restituiu a coisa subtraída. As imagens da câmera de segurança foram encaminhadas ao Ministério Público, que denunciou a Ré pela prática do crime de furto simples, tipificado no art. 155, caput, do Código Penal. O Ministério Público deixou de oferecer proposta de suspensão condicional do processo, destacando que o delito de furto não é de menor potencial ofensivo, não se sujeitando à aplicação da Lei nº 9.099/95, tendo a defesa se insurgido. Recebida a denúncia por este Juízo, durante a instrução, foi ouvida a vítima Simaria, que confirmou ter deixado seu notebook acoplado à tomada, mas que Simone o subtraíra, somente havendo restituição do bem com a descoberta dos agentes da lei. Também foram ouvidos os funcionários do curso preparatório, que disseram ter identificado a autoria a partir das câmeras de segurança. A Ré, em seu interrogatório, confirma os fatos, mas esclarece que acreditava que o notebook subtraído era seu e, por isso, levara-o para casa. Foi juntada a Folha de Antecedentes Criminais da ré sem qualquer outra anotação, o laudo de avaliação do bem subtraído, que constatou seu valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), e o CD com as imagens captadas pela câmera de segurança. O Ministério Público, em sua manifestação derradeira, requereu a condenação da ré nos termos da denúncia. É o relatório dos fatos. 2. DOS FUNDAMENTOS 2.1 PRELIMINARMENTE: DA NULIDADE EM FACE DO NÃO OFERECIMENTO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (ART. 89, LEI 9.099/95) Inicialmente, destaca-se que, conforme preceitua o artigo 89, da Lei 9.099/1995 nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena, previstos no Art. 77 do Código Penal. No presente caso, o Ministério Público deixou de oferecer proposta de suspensão condicional do processo, destacando que o delito de furto não é de menor potencial ofensivo, não se sujeitando à aplicação da Lei nº 9.099/95. Entretanto, Excelência, observa-se que os requisitos para a suspensão condicional do processo foram devidamente preenchidos, eis que o crime de furto simples possui pena mínima de um ano, a ré é primária, ou seja, não há reincidência em nenhuma espécie de crime, tampouco doloso e, por fim, a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizam a concessão do benefício. Deste modo, considerando que houve o correto preenchimento dos requisitos mencionados, é obrigatório o benefício em comento, uma vez que não estamos diante de mera faculdade do Promotor de Justiça, mas sim de um poder-dever limitado pela lei, de modo que deveria ter sido oferecida a proposta do instituto despenalizador. Portanto, em caráter preliminar, a Ré requer a nulidade do presente feito, em face do não oferecimento de suspensão condicional do processo, devendo haver a renovação dos atos praticados. 2.2 NO MÉRITO: DO ERRO DE TIPO A Ré, conforme dito alhures, foi denunciada pela prática do crime de furto simples, previsto no Art. 155 do Código Penal, que assim prevê: Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Entretanto, ocorre que a intenção da Ré JAMAIS foi subtrair o notebook da colega Simaria. O que houve, em verdade, foi que a Ré acreditava que aquele era o seu notebook, isto porque antes de ir comprar o café, havia deixado o seu laptop na tomada, carregando e, ao retornar, pegou aquele que estava plugado na tomada, sem verificar que não se tratava de sua propriedade. Destaca-se, neste sentido, a previsão do Art. 20 do Código Penal, vejamos: Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. Logo, de acordo com o mencionado, o erro sobre elemento constitutivo do tipo exclui o dolo, mas permite a punição do agente a título de culpa, caso previsto em lei. Inicialmente deve ser destacado que o erro de tipo, na hipótese, era escusável, de modo que não há que se falar em dolo ou culpa, isto porque estava em erro em relação a uma das elementares do tipo, qual seja, a coisa alheia, tendo em vista que acreditava estar levando para casa o seu próprio notebook, o que não configuraria crime. Ademais, ainda que assim não fosse, não existe previsão da modalidade culposa do furto, logo, ainda assim, a Ré deve ser absolvida. Diante do exposto, a acusada requer, face o reconhecimento da ocorrência de erro de tipo, previsto no artigo 20 do Código Penal, a consequente ABSOLVIÇÃO, consoante previsão legal do Art. 386, III e VI, do Código de Processo Penal. 2.3 DA DOSIMETRIA, DO REGIME INICIAL E DA SUBSTITUIÇÃO DA PENA Por outro lado, não sendo o entendimento de Vossa Excelência em acolher a preliminar argüida, para que haja a nulidade do presente feito, com a renovação dos atos praticados ou, pela não absolvição da Ré, conforme razões acima expostas, em caso de condenação da acusada, o que se admite apenas por amor ao debate, passa-se a argumentar a dosimetria da pena, o regime inicial e a possibilidade de substituição da pena. Em relação à dosimetria da pena a ser aplicada, em caso de eventual condenação, deve ser atentado para os seguintes parâmetros, conforme determinada o Art.68 do Código Penal: a) A pena-base será fixada, atendendo os critérios do Art. 59 do Código Penal, logo, no presente caso, considerando que as circunstâncias judiciais são favoráveis, deve ser fixada no mínimo legal, que, para o delito de furto simples, é de 01 (um) ano. b) No que tange as circunstâncias atenuantes e agravantes, ressalta-se que, in casu, há apenas atenuantes, previstas no Art. 65, I e III, alínea “d”, do Código Penal, a serem reconhecidas, quais sejam: que a Ré, na data do fato, era menor de 21 (vinte e um) anos, e, que houve a confissão espontânea desta, perante a autoridade, da autoria do crime. c) Não há causas de aumento a serem reconhecidas. Entretanto, Excelência, deve ser ponderado ofato de que houve restituição do bem subtraído antes do recebimento da denúncia, que tal ato decorreu de conduta voluntária da denunciada e que o delito não foi praticado com violência ou grave ameaça à pessoa, sendo, portanto, cabível o reconhecimento da causa de diminuição do arrependimento posterior, prevista no Art. 16 do Código Penal. Logo, com base nos fundamentos acima expostos, a pena aplicada, em caso de eventual condenação, deverá ser entre 04 à 08 meses. Outrossim, em face dessa dosimetria, o regime inicial de reclusão a ser aplicado é o aberto, tendo em vista que a possível condenada não é reincidente e a pena é inferior a 04 anos, conforme determina o Art. 33, § 2º, alínea “c” do Código Penal. Por fim, Nobre Julgador, cumpre ressaltar que estão presentes todas as condições para que a pena privativa de liberdade seja substituída por penas restritivas de direito, conforme condições expostas no Art. 44 do Código Penal, quais sejam: a) que a pena privativa de liberdade aplicada não é superior a quatro anos e o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; b) a ré não é reincidente em nenhuma espécie de crime, tampouco em crime doloso; c) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. Logo, deverá-ser-lhe aplicada alguma das penas restritivas de direitos, dentre as previstas no Art. 43 do Código Penal. 3. DOS PEDIDOS Ante todo o exposto, REQUER: A) Em caráter preliminar, a nulidade do presente feito, em face do não oferecimento de suspensão condicional do processo, devendo haver a renovação dos atos; B) Diante da configuração de erro de tipo, previsto no artigo 20 do Código Penal, a consequente absolvição da Ré, consoante previsão legal do Art. 386, III e VI, do Código de Processo Penal. Subsidiariamente, em caso de eventual condenação, Requer-se: C) Que a pena base seja fixada no mínimo legal em face das circunstâncias favoráveis, D) Que sejam reconhecidas as atenuantes da menoridade e da confissão espontânea; E) Que seja aplicada a minorante do arrependimento posterior, F) Que seja atribuído o regime aberto para fins de início de cumprimento da pena; G) Que seja substituída a pena restritiva de liberdade em pena privativa de direitos, com base no Art. 44, do Código de Processo Penal. Nesses termos, pede e espera deferimento. Novo Hamburgo/RS, 07 de maio de 2018. Assinatura do advogado Nome do advogado OAB/__ nº _____
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