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<p>1</p><p>2ª FASE PENAL 39º EXAME</p><p>Questões de Provas</p><p>Anteriores</p><p>Padrão de respostas</p><p>2</p><p>2ª FASE OAB | PENAL | 39º EXAME</p><p>Direito Penal e</p><p>Processual Penal</p><p>SUMÁRIO</p><p>3</p><p>4</p><p>5</p><p>1) XXIX Exame – Questão 1</p><p>Caio e Bruno são irmãos e estão em dificuldades financeiras. Caio, que estava sozinho em seu</p><p>quarto, verifica que a janela da casa dos vizinhos está aberta; então, ingressa no local e subtrai</p><p>um telefone celular avaliado em R$ 500,00. Ao mesmo tempo, apesar de não saber da conduta</p><p>de seu irmão, Bruno percebe que a porta da residência dos vizinhos também ficou aberta. Tendo</p><p>conhecimento que os proprietários eram um casal de empresários muito rico, ingressa no local</p><p>e subtrai uma bolsa, avaliada em R$ 450,00. Os fatos são descobertos dois dias depois, e Bruno</p><p>e Caio são denunciados pelo crime de furto qualificado (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal),</p><p>sendo acostadas as Folhas de Antecedentes Criminais (FAC), contendo, cada uma delas, outra</p><p>anotação pela suposta prática de crime de estelionato, sem, contudo, haver condenação com</p><p>trânsito em julgado em ambas. Após instrução, a pretensão punitiva do Estado é julgada</p><p>procedente, sendo aplicada pena mínima de 02 anos de reclusão e 10 dias-multa, em regime</p><p>inicial aberto, devidamente substituída por restritiva de direitos.</p><p>Com base nas informações expostas, intimado(a) para apresentação de recurso, responda, na</p><p>condição de advogado(a) de Caio e Bruno, aos itens a seguir.</p><p>A) Existe argumento de direito material a ser apresentado para questionar a capitulação</p><p>jurídica apresentada pelo Ministério Público e acolhida na sentença? (Valor: 0,60)</p><p>B) Mantida a capitulação acolhida na sentença (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal),</p><p>existe argumento em busca da redução da pena aplicada? (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>6</p><p>A) Sim, o argumento de direito material para questionar a capitulação delitiva constante</p><p>na exordial é que deverá ser afastada a qualificadora do concurso de pessoas, pois</p><p>inexiste liame subjetivo entre os agentes. Isso, porque Caio e Bruno não sabiam da</p><p>conduta um do outro, não havendo, portanto, concurso de agentes.</p><p>B) O argumento para buscar a redução da pena aplicada é a aplicação do furto</p><p>privilegiado. Embora os agentes responderem a outras ações penais, ostentam bons</p><p>antecedentes e são primários, já que não há sentença condenatória transitada em julgado,</p><p>nos termos da Súmula 444 do STJ.</p><p>Assim, considerando que a coisa é de pequeno valor e os réus serem primários, incide a</p><p>hipótese de furto privilegiado, ainda que se trate de furto qualificado, conforme Súmula</p><p>511 do STJ.</p><p>7</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Sim, a capitulação jurídica realizada pelo Ministério Público e acolhida na sentença poderá</p><p>ser questionada, tendo em vista que não deveria ter sido imputada a qualificadora do concurso</p><p>de agentes. O Art. 155, § 4º, inciso IV, do CP prevê qualificadora do furto quando este for</p><p>praticado mediante concurso de duas ou mais pessoas.</p><p>Ocorre que, apesar de Caio e Bruno serem irmãos e terem praticado crimes de furto no mesmo</p><p>local, data e horário, não houve concurso de agentes. Dentre os requisitos para configuração do</p><p>concurso de agentes está o liame subjetivo, que não restou configurado na hipótese</p><p>apresentada. A todo momento o enunciado deixa claro que Caio e Bruno sequer sabiam da</p><p>conduta um do outro, não havendo que se falar, então, em comunhão de ações e desígnios e,</p><p>consequentemente, concurso de agentes, apesar de configurado o crime de furto simples em</p><p>relação a ambos.</p><p>B) Mesmo em caso de manutenção da capitulação apresentada, ou seja, de furto qualificado,</p><p>seria possível a redução da pena aplicada em razão do privilégio previsto no Art. 155, § 2º, do</p><p>CP. Apesar de os agentes responderem a outras ações penais, nos termos da Súmula 444 do</p><p>STJ, não havendo sentença condenatória anterior com trânsito em julgado, são considerados</p><p>tecnicamente primários e de bons antecedentes. Ademais, as coisas furtadas podem ser</p><p>consideradas de pequeno valor, não havendo que se falar em insignificância, na hipótese, seja</p><p>pelo valor dos bens seja porque o enunciado indaga sobre a redução da pena aplicada e não</p><p>afastamento da tipicidade da conduta.</p><p>É preciso, ainda, ressaltar que os Tribunais Superiores pacificaram o entendimento de que a</p><p>figura do furto privilegiado poderá ser reconhecida ainda que o crime em questão seja de furto</p><p>qualificado, topograficamente localizado após a disciplina do privilégio, nos termos da Súmula</p><p>511 do Superior Tribunal de Justiça.</p><p>8</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Sim, o argumento seria pela inexistência de liame subjetivo</p><p>entre os agentes (0,45), afastando-se a qualificadora do</p><p>concurso de pessoas (0,15).</p><p>0,00/0,15/0,45/0,60</p><p>B. Sim, aplicação do furto privilegiado (0,35), já que a coisa é</p><p>de pequeno valor e os réus são primários (0,20), conforme a</p><p>Súmula 511 do STJ (0,10).</p><p>0,00/0,20/0,30/0,35/</p><p>0,45/0,55/0,65</p><p>9</p><p>2) XXIX Exame – Questão 2</p><p>No dia 01 de janeiro de 2008, após ingerir bebida alcoólica, Caio, 50 anos, policial militar</p><p>reformado, efetuou dois disparos de arma de fogo em direção à parede de sua casa vazia,</p><p>localizada no interior de grande quintal, com arma de sua propriedade, devidamente registrada</p><p>e com posse autorizada. Apesar de os tiros terem sido efetuados em direção ao interior do imóvel,</p><p>vizinhos que passavam pela rua naquele momento, ao ouvirem os disparos, entraram em contato</p><p>com a Polícia Militar, que compareceu ao local e constatou que as duas munições deflagradas</p><p>ficaram alojadas na parede do imóvel, sendo a perícia acostada ao procedimento. Caio obteve</p><p>liberdade provisória e foi denunciado como incurso nas sanções do Art. 15 da Lei nº 10.826/03,</p><p>não sendo localizado, porém, por ocasião da citação, por ter mudado de endereço, apesar das</p><p>diversas diligências adotadas pelo juízo. Após não ser localizado, Caio foi corretamente citado</p><p>por edital e, não comparecendo, nem constituindo advogado, foi aplicado o Art. 366 do Código</p><p>de Processo Penal, suspendendo-se o processo e o curso do prazo prescricional, em 04 de abril</p><p>de 2008. Em 06 de julho de 2018, o novo juiz titular da vara criminal competente determinou que</p><p>fossem realizadas novas diligências na tentativa de localizar o denunciado, confirmando que o</p><p>processo, assim como o curso do prazo prescricional, deveria permanecer suspenso.</p><p>Com base nas informações narradas, na condição de advogado(a) de Caio, que veio a tomar</p><p>conhecimento dos fatos em julho de 2018, responda aos questionamentos a seguir.</p><p>A) Existe argumento para questionar a decisão do magistrado que, em julho de 2018,</p><p>determinou que o processo e o curso do prazo prescricional permanecessem suspensos?</p><p>(Valor: 0,65)</p><p>B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em busca da absolvição de</p><p>Caio? (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>10</p><p>A) Sim, o argumento para questionar a decisão do Magistrado é de que a suspensão da</p><p>prescrição somente poderia durar durante o período do prazo prescricional, computado</p><p>de acordo com o máximo da pena em abstrato prevista, voltando a recorrer em abril de</p><p>2016, conforme Súmula 415 do STJ. O delito previsto no artigo 15 da Lei 10826/2003</p><p>prevê pena máxima de 04 anos. Logo, o prazo prescricional seria de 08 anos, nos termos</p><p>do artigo 109, IV, do CP. Considerando que a suspensão do processo e da prescrição</p><p>ocorreu em 04 de abril de 2008, o prazo prescricional deveria voltar a correr em abril de</p><p>2016. Logo, equivocada a decisão do Magistrado que determinou a manutenção da</p><p>suspensão da prescrição.</p><p>B) Sim, o argumento de direito</p><p>vem a</p><p>falecer naquela mesma data. Ao tomar conhecimento dos fatos, de imediato a família de Gabriel</p><p>procura você, como advogado, para esclarecimentos.</p><p>Considerando apenas as informações expostas, responda, na condição de advogado(a) de</p><p>Gabriel, aos itens a seguir.</p><p>A) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado para questionar a prisão em</p><p>flagrante de Gabriel? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em busca da absolvição de</p><p>Gabriel pelo crime pelo qual foi indiciado? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não</p><p>confere pontuação.</p><p>52</p><p>A) A prisão em flagrante de Gabriel foi ilegal (0,20), já que não estava configurada em</p><p>qualquer das situações previstas no artigo 302 do Código de Processo Penal, uma vez</p><p>que não foi preso cometendo crime ou quando acabou de praticar, nem após perseguição</p><p>iniciada logo após o delito ou encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos</p><p>ou papéis (0,40).</p><p>B) Gabriel foi indiciado pela prática do crime de tráfico drogas, previsto no artigo 33 da Lei</p><p>11.343/2006. Todavia, Gabriel transportou e entregou a droga para o tio, acreditando ser</p><p>tal conduta lícita para fins medicinais. Logo, Gabriel agiu erro de proibição inevitável,</p><p>incorrendo em erro sobre ilicitude do fato (0,40), previsto no artigo 21 do Código Penal</p><p>(0,10), devendo ser isento de pena, já que se trata de causa de extinção da culpabilidade</p><p>(0,15).</p><p>53</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) A defesa técnica de Gabriel deveria argumentar que sua prisão em flagrante foi ilegal, o que</p><p>ensejaria o relaxamento da mesma. Isso porque nenhuma das situações do Art. 302 do CPP</p><p>restou configurada. Em que pese houvesse drogas sendo guardadas na residência de Jorge no</p><p>momento da prisão em flagrante, não havia atuação deste em comunhão de ações e desígnios</p><p>com Gabriel. Gabriel, em tese, teria praticado crime de tráfico ao transportar material</p><p>entorpecente e entregá-lo para Jorge em 27 de maio de 2019. Ocorre que a apreensão do</p><p>material só ocorreu em 29 de maio de 2019, logo não estava Gabriel cometendo o crime, não</p><p>tinha acabado de cometê-lo, não foi perseguido logo após a infração e nem encontrado com</p><p>instrumentos do delito que fizessem presumir a autoria. Diante da ausência das situações</p><p>previstas no Art. 302 do CPP, impossível a prisão em flagrante de Gabriel.</p><p>B) Sim, o argumento de direito material a ser apresentado pela defesa técnica de Gabriel é o de</p><p>que houve erro de proibição, afastando o potencial conhecimento da ilicitude indispensável para</p><p>o reconhecimento da culpabilidade como elemento do crime. Para a doutrina majoritária, crime</p><p>seria um fato típico, ilícito e culpável. Sem dúvida, a conduta de Gabriel de transportar drogas</p><p>seria típica e ilícita. Ocorre que o agente agiu por acreditar que, naquela situação, sua conduta</p><p>seria lícita, já que estaria transportando droga para fins medicinais, conforme aprendeu em livro</p><p>oficial obtido em faculdade pública. Diante disso, fica afastado o elemento da culpabilidade do</p><p>potencial conhecimento da ilicitude. Cabe esclarecer que não estamos diante de hipótese de erro</p><p>de tipo, já que ele tinha conhecimento sobre todas as elementares do crime e não houve falsa</p><p>percepção da situação fática. Gabriel sabia estar transportando drogas. Também não há que se</p><p>falar em desconhecimento da lei, que é inescusável. Gabriel sabia que o tráfico configura crime,</p><p>apenas atuando em erro sobre a ilicitude do fato, nos termos da parte final do Art. 21 do CP. O</p><p>advogado deveria defender que o erro foi inevitável, logo buscando a isenção de pena, ou, ao</p><p>menos, que houve erro evitável, o que poderia funcionar como causa de diminuição de pena.</p><p>54</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. A prisão em flagrante foi ilegal (0,20), já que não estava</p><p>configurada em qualquer das situações previstas no Art. 302 do</p><p>CPP (0,40).</p><p>0,00/0,20/0,40/0,60</p><p>B. Sim, o argumento seria de que ocorreu erro de proibição OU</p><p>erro sobre ilicitude (0,40), nos termos do Art. 21 do CP (0,10),</p><p>que poderia funcionar como causa de isenção de pena OU que</p><p>afasta a culpabilidade do agente OU que afasta o potencial</p><p>conhecimento da ilicitude (0,15)</p><p>0,00/0,15/0,25/0,40/</p><p>0,50/0,55/0,65</p><p>55</p><p>14) XXXII Exame – Questão 2</p><p>Luiz, no dia 05 de fevereiro de 2019, ingressou na residência de Henrique e, mediante grave</p><p>ameaça contra a vítima, buscou subtrair a televisão do imóvel. Após o emprego da grave ameaça</p><p>à pessoa e a retirada dos parafusos da televisão, mas ainda quando estava dentro da casa com</p><p>o bem, Luiz é surpreendido pela Polícia Militar, que informada dos fatos por vizinhos, realizou</p><p>sua prisão em flagrante.</p><p>Em sede policial, foi descoberto que Luiz contou com a participação de José, que, sabendo do</p><p>plano criminoso do amigo, foi o responsável por dizer o horário em que a vítima estaria sozinha</p><p>em sua residência, bem como a porta que teria uma falha na fechadura, facilitando o ingresso</p><p>de Luiz no imóvel. Luiz e José foram denunciados pela prática do crime de roubo majorado pelo</p><p>concurso de agentes.</p><p>Observado o procedimento previsto em lei e confirmados os fatos, foi proferida sentença</p><p>condenatória, sendo aplicada a pena mínima possível de 5 anos e 4 meses de reclusão, além</p><p>de 13 dias-multa, para José. Já Luiz teve sua pena base fixada acima do mínimo legal, em 4</p><p>anos e 6 meses de reclusão e 12 dias-multa, reconhecendo o magistrado a existência de má</p><p>conduta social, pelo fato de Luiz possuir 5 condenações sem trânsito em julgado pela suposta</p><p>prática de crimes de roubo, apesar de admitir, na decisão, que as anotações constantes da Folha</p><p>de Antecedentes Criminais não poderiam justificar o reconhecimento de maus antecedentes.</p><p>Não foram reconhecidas agravantes, sendo, na terceira fase, a pena aumentada, no mínimo</p><p>possível, em razão da majorante do concurso de agentes. Assim, a pena final de Luiz restou</p><p>acomodada em 06 anos de reclusão e 15 dias-multa. Intimado da decisão, o advogado de José</p><p>apresentou recurso buscando reconhecimento da modalidade tentada do delito, bem como da</p><p>causa de diminuição da participação de menor importância.</p><p>Luiz, então, consulta você, como advogado(a), para avaliar o interesse em apresentar recurso</p><p>de apelação.</p><p>Na condição de advogado(a) de Luiz, esclareça os questionamentos formulados pelo seu cliente.</p><p>A) Não sendo apresentado recurso de apelação por Luiz, poderá ele ser beneficiado pelo</p><p>reconhecimento da causa de diminuição de pena da tentativa no julgamento do recurso</p><p>apresentado por José? E da causa de diminuição de pena da participação de menor</p><p>importância? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>56</p><p>B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em busca da redução da pena</p><p>base aplicada a Luiz? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não</p><p>confere pontuação.</p><p>57</p><p>A) Luiz poderá ser beneficiado por eventual causa de diminuição de pena em razão da</p><p>tentativa, mesmo não apresentando recurso, tendo em vista que se trata de circunstância</p><p>objetiva ou de caráter não exclusivamente pessoal (0,30). A participação de menor</p><p>importância é circunstância pessoal, não se estendendo ao corréu (0,25), nos termos do</p><p>artigo 580 do Código de Processo Penal (0,10).</p><p>B) Sim, o argumento seria de que ações penais em curso não podem ser valoradas de</p><p>maneira negativa ao réu no momento de aplicação da pena base (0,35), sob pena de</p><p>violação ao princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade (0,15), conforme</p><p>Súmula 444 do Superior Tribunal de Justiça OU artigo 5º, inciso LVII, da Constituição</p><p>Federal/88 (0,10).</p><p>58</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Luiz não poderá ser beneficiado por eventual reconhecimento de causa de diminuição de pena</p><p>de participação de menor importância, enquanto</p><p>poderá ser beneficiado em caso de</p><p>reconhecimento da modalidade tentada do delito, ainda que não tenha apresentado recurso de</p><p>apelação questionando tal tema. De acordo com o Art. 580 do CPP, no caso de concurso de</p><p>agentes, a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam</p><p>de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros. A causa de diminuição de pena da</p><p>tentativa é dado objetivo, não sendo de caráter pessoal, já que o crime restou ou não consumado</p><p>em relação a todos os agentes. Assim, reconhecida a modalidade tentada, possível a extensão</p><p>dos efeitos ao corréu que não recorreu. Por outro lado, a participação de menor importância,</p><p>trazida pelo Art. 29, § 1º, do CP, é dado exclusivamente pessoal. Luiz adotou conduta relevante</p><p>na execução do crime, sendo o executor direto da grave ameaça e da subtração da televisão. A</p><p>situação de José seria diferente, já que sua participação poderia vir a ser considerada de menor</p><p>relevância. Luiz sequer é partícipe, mas sim autor. Dessa forma, mesmo que reconhecida a</p><p>causa de diminuição de pena do Art. 29, § 1º, do CP, para José, não haverá extensão para Luiz.</p><p>B) Sim, existe argumento a ser apresentado em busca da redução da pena base aplicada, tendo</p><p>em vista que ações em curso não podem ser valorizadas de maneira negativa no momento da</p><p>aplicação da pena base. Durante muito tempo se controverteu sobre a possibilidade de as ações</p><p>em curso, com ou sem condenações sem trânsito em julgado, poderem ser reconhecidas como</p><p>maus antecedentes. Prevaleceu o entendimento pela impossibilidade, sob pena de violação ao</p><p>princípio da presunção de inocência. Contudo, diversos magistrados valorizavam essas ações</p><p>em curso como condição social negativa ou personalidade voltada para prática de crimes,</p><p>aumentando a pena base. Ocorre que o Superior Tribunal de Justiça, por meio da Súmula 444,</p><p>afastou a possibilidade de tal conduta por parte dos magistrados, já que decidiu que as ações</p><p>em curso e inquéritos policiais não poderão ser considerados no momento da aplicação da pena</p><p>base como um todo e não apenas como maus antecedentes, sob pena de violação</p><p>transversa/indireta ao princípio da não culpabilidade.</p><p>Obs.: não será suficiente a mera afirmativa de que ações em curso não podem funcionar como</p><p>maus antecedentes, já que esse não foi o argumento utilizado pelo magistrado para aumento da</p><p>59</p><p>pena base.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Luiz poderá ser beneficiado por eventual causa de diminuição</p><p>de pena em razão da tentativa, mesmo não apresentando</p><p>recurso, tendo em vista que se trata de circunstância objetiva ou</p><p>de caráter não exclusivamente pessoal (0,30). A participação de</p><p>menor importância é circunstância pessoal, não se estendendo</p><p>ao corréu (0,25), nos termos do Art. 580 do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,25/0,30/0,35/</p><p>0,40/0,55/0,65</p><p>B. Sim, o argumento seria de que ações penais em curso não</p><p>podem ser valoradas de maneira negativa ao réu no momento</p><p>de aplicação da pena base (0,35), sob pena de violação ao</p><p>princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade</p><p>(0,15), conforme Súmula 444 do STJ OU Art. 5º, inciso LVII, da</p><p>CRFB (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>60</p><p>15) XXXII Exame – Questão 3</p><p>O apenado Fabrício cumpria pena pela prática do delito de extorsão simples, tendo requerido,</p><p>por meio de advogado, a extinção da punibilidade por satisfazer os requisitos, objetivos e</p><p>subjetivos, previstos no Decreto Presidencial de Indulto, publicado no ano de 2018 (requisito</p><p>objetivo temporal e requisito subjetivo de não possuir falta grave nos últimos 12 meses anteriores</p><p>ao decreto).</p><p>Enquanto aguardava o deferimento do benefício requerido, no dia 02 de março de 2019, ocorreu</p><p>uma rebelião na galeria em que se encontrava. O diretor do presídio, em procedimento disciplinar</p><p>próprio, no qual foi garantida a ampla defesa e o contraditório, não conseguindo identificar</p><p>aqueles que efetivamente participaram da rebelião, reconheceu que todos os apenados daquela</p><p>galeria praticaram falta grave.</p><p>Ao tomar conhecimento dessa punição disciplinar, o juiz da execução indeferiu o pedido de</p><p>indulto por ausência do requisito subjetivo. Ultrapassado o prazo recursal por desídia da defesa,</p><p>novo advogado contratado pela família impetrou habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça, na</p><p>busca da extinção da punibilidade. A ordem foi denegada pelo Tribunal.</p><p>Considerando a situação fática apresentada, na condição de novo advogado contratado, ao ser</p><p>intimado da decisão que denegou a ordem, responda aos itens a seguir.</p><p>A) Qual o recurso a ser apresentado pela defesa para combater a decisão do Tribunal de</p><p>Justiça que denegou a ordem no habeas corpus impetrado em favor do apenado Fabrício?</p><p>Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Na busca da concessão do indulto e, consequentemente, da extinção da punibilidade,</p><p>quais argumentos jurídicos poderão ser apresentados? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>61</p><p>A) Considerando a decisão do Tribunal de denegar a ordem de habeas corpus, o recurso</p><p>cabível é o recurso ordinário constitucional (0,50), nos termos do artigo 105, inciso II,</p><p>alínea a, da Constituição Federal/88 OU artigo 30 da Lei nº 8.038/90 (0,10).</p><p>B) O diretor do presídio, em procedimento disciplinar próprio, no qual foi garantida a ampla</p><p>defesa e o contraditório, não conseguindo identificar aqueles que efetivamente</p><p>participaram da rebelião, reconheceu que todos os apenados daquela galeria praticaram</p><p>falta grave. Todavia, não é possível a aplicação de sanções coletivas (0,20), nos termos</p><p>do artigo 45, § 3º, da Lei de Execução Penal (0,10).</p><p>Além disso, não pode ser considerado fato posterior à publicação do decreto, como falta</p><p>grave, a afastar o preenchimento do requisito subjetivo OU o decreto mencionava que o</p><p>apenado não poderia ter praticado falta grave nos 12 meses anteriores ao decreto (0,20),</p><p>em respeito ao princípio da legalidade OU porque a decisão que reconhece o indulto é</p><p>meramente declaratória (0,15).</p><p>62</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão exige do examinando conhecimento sobre os temas recursos e execução penal.</p><p>Narra o enunciado que Fabrício cumpria pena pela prática de crime de extorsão, entendendo o</p><p>apenado que teria direito à extinção da punibilidade em razão do indulto, já que preencheria os</p><p>requisitos objetivos (temporal) e subjetivos (ausência de falta grave nos últimos 12 meses).</p><p>Ocorre que, após o requerimento de indulto, Fabrício foi punido por falta grave, constando do</p><p>enunciado que os fatos que justificaram a punição teriam ocorrido após a publicação do decreto</p><p>de indulto, ou seja, após o preenchimento dos requisitos previstos na legislação, bem como que</p><p>a punição aplicada pelo diretor do presídio foi coletiva.</p><p>A) De acordo com o Art. 105, inciso II, alínea a, da CRFB, caberá ao Superior Tribunal de Justiça,</p><p>em sede de recurso ordinário constitucional, julgar os habeas corpus decididos em única ou</p><p>última instância pelos Tribunais estaduais quando denegatória a decisão. Assim, considerando</p><p>que o Tribunal denegou a ordem de habeas corpus pleiteada pela defesa, o único recurso cabível</p><p>seria o Recurso Ordinário Constitucional. Poderia, também, a defesa apresentar novo habeas</p><p>corpus ao STJ, mas o questionamento formulado era sobre o recurso cabível.</p><p>B) Existem dois principais argumentos em busca da extinção da punibilidade com o</p><p>reconhecimento do indulto: proibição de sanções disciplinares coletivas e aplicação do princípio</p><p>da legalidade, o que impediria o magistrado de considerar faltas graves praticadas após a</p><p>publicação do decreto de indulto, ainda que tivessem sido validamente reconhecidas. A sentença</p><p>que tem por objeto o indulto tem natureza meramente declaratória, na medida em que o direito</p><p>já fora constituído pelo decreto</p><p>presidencial concessivo do benefício, devendo ser examinado se</p><p>o apenado satisfazia os requisitos legais na data de sua edição, não podendo interferir no exame</p><p>respectivo fato posterior. Fato é que Fabrício não praticou falta grave nos 12 meses anteriores</p><p>ao decreto, logo, em respeito ao princípio da legalidade, não poderia o magistrado vedar a</p><p>concessão do benefício com esse fundamento. Ademais, ainda que pudesse ser considerado no</p><p>exame do requisito subjetivo fato posterior à edição do decreto presidencial, a LEP veda</p><p>expressamente a punição coletiva (Art. 45, § 3º, da Lei nº 7.210), sendo o que ocorreu na</p><p>hipótese vertente, porquanto o diretor do presídio puniu todos os apenados da galeria ao não</p><p>identificar aqueles que efetivamente participaram da rebelião.</p><p>63</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Considerando a decisão do Tribunal de denegar a ordem de</p><p>habeas corpus, o recurso cabível é o recurso ordinário</p><p>constitucional (0,50), nos termos do Art. 105, inciso II, alínea a,</p><p>da CRFB OU Art. 30 da Lei 8038/90 (0,10)</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>B.1. A defesa deveria alegar a proibição de aplicação de</p><p>sanções coletivas (0,20), nos termos do Art. 45, §3º, da LEP</p><p>(0,10)</p><p>0,00/0,20/0,30</p><p>B.2. Não pode ser considerado fato posterior como falta grave a</p><p>afastar o preenchimento do requisito subjetivo OU o decreto</p><p>mencionava que o apenado não poderia ter praticado falta grave</p><p>nos 12 meses anteriores ao decreto (0,20), em respeito ao</p><p>princípio da legalidade OU porque a decisão que reconhece o</p><p>indulto é meramente declaratória (0,15)</p><p>0,00/0,15/0,20/0,35</p><p>64</p><p>16) XXXII Exame – Questão 4</p><p>Maria, no dia 07 de julho de 2020, compareceu à Delegacia e narrou que foi vítima, dois dias</p><p>antes, de um crime de lesão corporal praticada por seu marido, Francisco, e motivada pela</p><p>insatisfação com a qualidade da refeição que teria sido feita pela vítima. Maria foi encaminhada</p><p>para perícia, que constatou, por meio de laudo, a existência de lesão corporal de natureza leve.</p><p>Ouvido, Francisco confessou a prática delitiva, dizendo que este seria um evento isolado em sua</p><p>vida. Diante disso, Francisco foi indiciado pelo crime do Art. 129, § 9º, do CP, na forma da Lei nº</p><p>11.340/06.</p><p>Considerando a pena prevista para o delito e a inexistência de envolvimento pretérito com</p><p>aparato judicial ou policial pelo autor do fato, o Ministério Público apresentou proposta de acordo</p><p>de não persecução penal a Francisco. Ao tomar conhecimento dos fatos, Maria procura você,</p><p>como advogado, para esclarecimentos.</p><p>Considerando apenas as informações expostas, responda na qualidade de advogado de Maria,</p><p>aos itens a seguir.</p><p>A) Existem argumentos para questionar a proposta de acordo de não persecução penal</p><p>formulada pelo Ministério Público? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Em caso de denúncia, diante da natureza da ação pública incondicionada, existe</p><p>alguma forma de participação direta da vítima no processo, inclusive com posição ativa</p><p>na produção das provas e interposição de recursos? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>65</p><p>A) Francisco foi indiciado pelo crime do Art. 129, § 9º, do CP, na forma da Lei nº 11.340/06,</p><p>tendo o Ministério Público apresentado proposta de acordo de não persecução penal ao</p><p>réu. Todavia, considerando que o crime em tese praticado envolveu violência à pessoa</p><p>OU porque foi praticado no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher, não</p><p>seria cabível a proposta de Acordo de Não Persecução Penal (0,55), nos termos do artigo</p><p>28-A, caput, do Código de Processo Penal OU do artigo 28-A, § 2º, inciso IV, do Código</p><p>de Processo Penal (0,10).</p><p>B) Sim. Maria poderá se habilitar como assistente de acusação ou assistente do Ministério</p><p>Público (0,50), na forma do artigo 268 do Código de Processo Penal OU do artigo 271 do</p><p>Código de Processo Penal (0,10).</p><p>66</p><p>Gabarito comentado</p><p>Narra o enunciado que Maria foi vítima de um crime de lesão corporal leve praticado no contexto</p><p>da violência doméstica e familiar contra a mulher, sendo apontado como autor seu marido</p><p>Francisco. O Ministério Público teria oferecido proposta de acordo de não persecução penal</p><p>(ANPP), considerando apenas a pena do delito em tese praticado a primariedade e a confissão</p><p>plena. Diante disso, Maria demonstrou interesse em intervir no processo.</p><p>A) Sim, existem argumentos para questionar a proposta de acordo de não persecução penal</p><p>(ANPP) formulada pelo Ministério Público. De fato, considerando unicamente a pena de detenção</p><p>de 3 meses a 3 anos prevista para o delito em tese praticado e a confissão, seria possível a</p><p>proposta do acordo de não persecução penal (ANPP), pois a pena mínima cominada é inferior a</p><p>4 anos. Contudo, o Art. 28-A do CPP estabelece que o crime não poderá ter sido praticado com</p><p>violência ou grave ameaça à pessoa. Ademais, em seu parágrafo 2º, inciso IV, o dispositivo veda</p><p>a aplicação do instituto quando o crime for praticado no contexto da violência doméstica e familiar</p><p>contra a mulher, como na situação apresentada. A vítima era do sexo feminino, as partes tinham</p><p>relação de matrimônio e a motivação do delito foi relacionada à condição de mulher.</p><p>B) Sim, a vítima poderia, por meio de seu advogado, se habilitar como assistente de acusação,</p><p>na forma do Art. 268 do CPP. De acordo com o dispositivo, em todos os termos da ação pública,</p><p>poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido. No caso, temos uma vítima</p><p>determinada, Maria. Ademais, a ação penal é pública incondicionada, já que não se aplicam as</p><p>previsões da Lei nº 9.099/95, nos termos do Art. 41 da Lei nº 11.340/06. Uma vez habilitada</p><p>como assistente de acusação, Maria poderá interferir de diversas maneiras no processo,</p><p>inclusive para propor meios de prova, realizar perguntas para testemunhas, apresentar</p><p>manifestações de mérito e recursos, tudo na forma do Art. 271 do CPP.</p><p>67</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Sim, tendo em vista que o crime em tese praticado envolveu</p><p>violência à pessoa OU porque foi praticado no contexto da</p><p>violência doméstica e familiar contra a mulher, impossibilitando</p><p>a proposta de ANPP (0,55), nos termos do Art. 28-A, caput, do</p><p>CPP OU do Art. 28-A, § 2º, inciso IV, do CPP (0,10)</p><p>0,00/0,55/0,65</p><p>B. Sim. Maria poderá se habilitar como assistente de acusação</p><p>ou assistente do Ministério Público (0,50), na forma do Art. 268</p><p>do CPP OU do Art. 271 do CPP (0,10)</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>68</p><p>17) XXXIII Exame – Questão 1</p><p>Em uma pequena cidade do interior do Amazonas, uma virose se espalha entre os adolescentes</p><p>locais, gerando diversos casos de jovens com febre, vômitos e infecções. Considerando a</p><p>dificuldade de acesso à cidade, que dependia de viagem de barco, e a inexistência de</p><p>profissionais de medicina no local, os pais dos adolescentes procuram Jorge, 22 anos, estudante</p><p>de odontologia, para auxílio. Verificando o estado de desidratação dos adolescentes e a urgência</p><p>da situação, Jorge, que sempre gostara de ler livros sobre medicina, realiza o atendimento e</p><p>indica os remédios e os tratamentos que deveriam ser realizados. Os adolescentes ficaram</p><p>curados após o atendimento “médico” de Jorge e, em razão disso, passaram a ser constantes</p><p>os atendimentos por ele realizados em casos urgentes, com perigo atual à vida e à saúde das</p><p>pessoas da cidade, mas que não tinham qualquer vínculo com a virose anterior. Descobertos os</p><p>fatos e verificado que foram realizados 10 atendimentos diferentes ao longo de um ano, o</p><p>Ministério Público denunciou Jorge como incurso nas sanções penais do Art. 282 do Código</p><p>Penal, por 10 vezes, em continuidade delitiva. A proposta de suspensão condicional do processo</p><p>não foi aceita pelo réu. Após regular instrução, a pretensão punitiva do Estado foi julgada</p><p>procedente, sendo Jorge condenado à pena de 10 meses de detenção</p><p>(pena base no mínimo</p><p>legal, aumentada de 2/3 em razão da continuidade delitiva), substituída a privativa de liberdade</p><p>por uma restritiva de direitos. Intimado da decisão, responda na condição de advogado de Jorge,</p><p>aos itens a seguir.</p><p>A) Existe argumento de direito material a ser apresentado em busca da absolvição de</p><p>Jorge? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Em caso de manutenção da condenação, qual argumento poderá ser apresentado para</p><p>questionar a capitulação realizada e a pena aplicada? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>69</p><p>A) O argumento a ser apresentado em busca da absolvição de Jorge é de que ele agiu</p><p>em estado de necessidade (0,35), causa de exclusão da ilicitude (0,20), prevista no artigo</p><p>24 e/ou artigo 23, inciso I do Código Penal (0,10), tendo em vista que ele atuou somente</p><p>em situações de risco e urgência para a vida das pessoas, já que na cidade não havia</p><p>médicos. Assim, ele agiu para salvar as pessoas de perigo atual, não provocado por sua</p><p>vontade, cujo sacrifício não era exigível na situação.</p><p>B) O argumento para questionar a capitulação e a pena aplicada é o de que foi praticado</p><p>crime único (0,40), previsto no artigo 282 do Código Penal, e não em concurso de delitos.</p><p>Ou seja, não houve o cometimento de dez crimes autônomos, e sim apenas um crime, já</p><p>que o referido delito se trata de crime habitual, necessitando, para a configuração, a</p><p>reiteração da prática do ato (0,20). Logo, deve ser reconhecida a prática de crime único,</p><p>com o consequente afastamento da causa de aumento de pena pela continuidade delitiva.</p><p>70</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão exige do examinando conhecimento sobre o tema dos Crimes contra a Saúde Pública,</p><p>mais especificamente sobre o delito previsto no Art. 282 do Código Penal, além de</p><p>conhecimentos básicos sobre o conceito analítico de crime. Narra o enunciado que Jorge, em</p><p>diversas oportunidades, realizou “atendimentos médicos” urgentes, o que, em tese, poderia</p><p>configurar o crime de exercício ilegal da medicina, disciplinado no artigo antes mencionado.</p><p>Todavia, algumas peculiaridades da situação justificariam um pedido, por parte da defesa</p><p>técnica, de absolvição em razão da atuação em situação de estado de necessidade. A) Sim,</p><p>existe argumento a ser apresentado pelo advogado de Jorge em busca de sua absolvição. O</p><p>conceito de crime, de acordo com a doutrina majoritária, envolve o fato típico, ilícito e culpável.</p><p>A princípio, a conduta de Jorge seria típica, já que realizou, com habitualidade, ao longo de um</p><p>ano, atendimentos médicos sem autorização para exercer a profissão, sendo certo, porém, que</p><p>tais atendimentos somente era realizados em situações de emergência. No caso, a conduta</p><p>narrada seria típica de acordo com as previsões do Art. 282 do CP. Todavia, claramente há</p><p>situação de estado de necessidade. A todo momento consta do enunciado que Jorge somente</p><p>atuava em situações de risco e urgência para vida e saúde das pessoas, sendo ainda destacado</p><p>que a pequena cidade não tinha médico e que a obtenção de um profissional demandaria longo</p><p>tempo. Assim, todos os requisitos do Art. 24 do CP foram preenchidos. Jorge agiu para salvar</p><p>perigo atual, que não provocou por sua vontade, cujo sacrifício não era exigível na situação. Em</p><p>razão disso, o advogado deveria pleitear o reconhecimento do estado de necessidade e,</p><p>consequentemente, a exclusão da ilicitude da conduta. B) O argumento a ser apresentado é que,</p><p>ainda que se considere que o crime foi praticado, haveria crime único do Art. 282 do CP e não</p><p>concurso de delitos. A capitulação imputada pelo Ministério Público e acolhida pelo magistrado</p><p>foi equivocada, não se tratando de erro apenas no momento de aplicação da pena. A acusação</p><p>imputou na denúncia 10 CRIMES autônomos do Art. 282 do CP, o que era equivocado. O crime</p><p>do Art. 282 do Código Penal é classificado, pela doutrina e pela jurisprudência, como crime de</p><p>natureza habitual, ou seja, a própria configuração do delito exige situação de habitualidade,</p><p>reiteração na prática dos atos. Apesar de realizados 10 “atendimentos médicos”, essas</p><p>condutadas reiteradas configurariam, em tese, um crime de exercício ilegal da medicina, que</p><p>pressupõe essa habitualidade. Assim, deveria a defesa técnica esclarecer que houve equívoco</p><p>na imputação de 10 crimes, buscando o reconhecimento de delito único e, consequentemente,</p><p>71</p><p>redução da pena com o afastamento da causa de aumento da continuidade delitiva.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Sim, deveria a defesa técnica alegar a existência de</p><p>excludente de ilicitude (0,20), em razão do estado de</p><p>necessidade (0,35), nos termos do Art. 24 ou do Art. 23, inciso</p><p>I, do CP (0,10)</p><p>0,00/0,20/0,30/0,35/</p><p>0,45/0,55/0,65</p><p>B. O argumento é o de que não houve concurso de crimes, mas</p><p>sim crime único (0,40), diante da natureza de crime habitual da</p><p>infração imputada ou diante da imprescindibilidade da reiteração</p><p>para configuração do delito (0,20).</p><p>0,00/0,20/0,40/0,60</p><p>72</p><p>18) XXXIII Exame – Questão 2</p><p>Bernardo, em 31 de dezembro de 2018, com a intenção de causar dano à loja de Bruno, seu</p><p>inimigo, arremessou uma pedra na direção de uma janela com mosaico, que tinha valor</p><p>significativo de mercado. Ocorre que, no momento da execução do crime, Bernardo errou o</p><p>arremesso e a pedra acabou por atingir Joana, funcionária que passava em frente à loja e que</p><p>não tinha sido percebida, causando-lhe lesões corporais que a impossibilitaram de trabalhar por</p><p>50 dias. A janela restou intacta. No momento do crime, não foi identificada a autoria, mas, após</p><p>investigação, em 04 de março de 2019, foi descoberto que Bernardo seria o autor do arremesso.</p><p>O Ministério Público iniciou procedimento em face de Bernardo imputando-lhe o crime de lesão</p><p>corporal de natureza culposa, figurando como vítima Joana, que apresentou representação</p><p>quando da descoberta do autor. Bruno, revoltado com o ocorrido, contratou um advogado,</p><p>conferindo-lhe procuração com poderes gerais, constando o nome do ofendido e do ofensor. O</p><p>procurador apresenta queixa-crime, em 02 de julho de 2019, imputando a prática do crime de</p><p>tentativa de dano a Bernardo. Ao tomar conhecimento da queixa-crime, Bernardo o procura,</p><p>como advogado.</p><p>Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) de Bernardo,</p><p>responda aos questionamentos a seguir.</p><p>A) Qual argumento de direito processual poderá ser apresentado em busca da rejeição da</p><p>queixa-crime apresentada? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Qual argumento de direito material a ser apresentado para questionar o delito imputado</p><p>na queixa-crime? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>73</p><p>A) O argumento a ser apresentado é que não foram observadas as formalidades legais</p><p>da queixa-crime, pois oferecida por procurador com poderes gerais. Todavia, nos termos</p><p>do artigo 44 do Código de Processo Penal (0,10), para oferecimento da queixa-crime, deve</p><p>ser outorgada procuração com poderes especiais (0,50), exigidos no artigo 44 do Código</p><p>de Processo Penal, razão pela qual a queixa deveria ser rejeitada.</p><p>B) O argumento de direito material a ser alegado é de que houve aberratio criminis, uma</p><p>vez que ocorreu resultado diverso do pretendido (0,40), previsto no artigo 74 do Código</p><p>Penal (0,10). Isso porque Bernardo pretendia causar dano à loja de Bruno, mas, por</p><p>acidente e erro no uso dos meios de execução, acabou provocando lesão corporal em</p><p>Joana. Assim, trata-se de resultado diverso do pretendido, razão pela qual deverá</p><p>responder apenas pelo crime na modalidade culposo, conforme o artigo 74 do Código</p><p>Penal, ou seja, lesão corporal culposa. Logo, não incide, no caso, o crime de dano tentado,</p><p>restando apenas a responsabilização</p><p>pelo delito de lesão corporal culposa (0,15).</p><p>74</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) O argumento é o de que não foram observadas as formalidades legais, tendo em vista que a</p><p>queixa-crime foi apresentada por procurador sem poderes especiais. De acordo com o Art. 44</p><p>do Código de Processo Penal, a queixa-crime poderá ser apresentada por procurador, desde</p><p>que sejam concedidos poderes especiais. Na hipótese, de acordo com o enunciado, a</p><p>procuração concedida pelo querelante apenas previa poderes gerais; logo, a queixa deveria ser</p><p>rejeitada.</p><p>B) A intenção de Bernardo era causar um dano à loja de Bruno, tendo o agente iniciado a</p><p>execução desse ato, o que configuraria crime de tentativa de dano. Ocorre que, por política</p><p>criminal, no Art. 74 do Código Penal, o legislador previu o instituto do “resultado diverso do</p><p>pretendido” ou aberratio criminis, estabelecendo que quando, por erro na execução, advém</p><p>resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa se o fato é previsto como culposo.</p><p>Somente se ocorrer, também, o resultado inicialmente pretendido, será aplicada a regra do</p><p>concurso formal. Diante da previsão legal, o crime de dano inicialmente pretendido fica afastado.</p><p>Se houvesse dano e lesão, haveria concurso formal. Não ocorrendo o dano, o crime de tentativa</p><p>de dano fica afastado, restando apenas o crime de lesão corporal culposa, que efetivamente foi</p><p>imputado pelo Ministério Público, diante da previsão do Art. 74 do CP.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. A queixa-crime somente poderia ter sido apresentada por</p><p>procurador com poderes especiais OU a procuração apenas</p><p>previa poderes gerais, o que não é admitido, (0,50) nos termos</p><p>do Art. 44 do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>B. Houve aberratio criminis OU houve resultado diverso do</p><p>pretendido (0,40), devendo o agente responder apenas pelo</p><p>crime de lesão corporal culposa (0,15), nos termos do Art. 74 do</p><p>CP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,40/</p><p>0,50/0,55/0,65</p><p>75</p><p>19) XXXIII Exame – Questão 3</p><p>Beatriz e seu esposo José, no dia 02/01/2021, enquanto celebravam o aniversário de casamento</p><p>em um restaurante, iniciaram uma discussão, por José entender que a esposa não lhe</p><p>dispensava a devida atenção. Durante a discussão, José desferiu um soco no rosto de Beatriz,</p><p>causando-lhe lesão corporal de natureza leve. Testemunhas presenciais do fato chamaram a</p><p>Polícia, sendo José preso em flagrante, mas posteriormente liberado pelo magistrado, em sede</p><p>de audiência de custódia. O Ministério Público ofereceu denúncia imputando a José a prática do</p><p>crime do Art. 129, § 9º, do Código Penal, havendo habilitação imediata de Beatriz, por meio de</p><p>seu advogado, como assistente de acusação, já que ela não aceitou ter sido agredida pelo então</p><p>marido. O magistrado em atuação no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher</p><p>não recebeu a denúncia, afirmando a inexistência de fato culpável, escorado em laudo</p><p>apresentado pela defesa indicando que, no momento dos fatos, em razão da paixão, José era</p><p>inteiramente incapaz de determinar-se de acordo com seu entendimento. Destacou o magistrado</p><p>a possibilidade de rejeição da denúncia por não ser necessária a aplicação de medida de</p><p>segurança, já que, atualmente, não haveria incapacidade de José. Insatisfeita com o teor da</p><p>decisão, Beatriz procura você, como advogado(a), para a adoção das medidas cabíveis e</p><p>assistência técnica.</p><p>Na condição de advogado(a) de Beatriz, esclareça os questionamentos a seguir.</p><p>A) Para combater a decisão do magistrado, qual o recurso cabível? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Existe argumento de direito material para questionar o conteúdo da decisão judicial?</p><p>Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>76</p><p>A) O recurso cabível contra a rejeição da denúncia é o Recurso em Sentido Estrito (0,50),</p><p>nos termos do artigo 581, inciso I do Código de Processo Penal (0,10), com o prazo de 5</p><p>dias.</p><p>B) Sim. O argumento a ser alegado seria que o fato praticado é típico, ilícito e culpável,</p><p>não devendo ser afastada a culpabilidade de agente (0,15). Assim, o magistrado não</p><p>poderia deixar de receber a peça acusatória, pois a paixão não exclui a imputabilidade</p><p>penal do agente (0,40), na forma do artigo 28, inciso I, do Código Penal (0,10).</p><p>77</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão exige do examinando conhecimentos sobre os temas recursos e culpabilidade. Narra</p><p>o enunciado que José teria cometido um crime de lesão corporal qualificada no contexto de</p><p>violência doméstica e familiar contra a mulher, figurando como vítima sua esposa Beatriz.</p><p>Apresentada denúncia pelo Ministério Público imputando a José a prática do crime do Art. 129,</p><p>§ 9º, do CP, o magistrado competente optou pela rejeição da inicial acusatória sob o fundamento</p><p>de que José seria inimputável na data dos fatos, afastada a culpabilidade.</p><p>A) A decisão do magistrado foi de rejeição da inicial acusatória. Contra a decisão de rejeição da</p><p>denúncia, segundo o Art. 581, inciso I, do CPP, cabe recurso em sentido estrito, a ser</p><p>apresentado no prazo de 05 dias.</p><p>B) Sim, existe, tendo em vista que a paixão não exclui a culpabilidade, nos termos do Art. 28,</p><p>inciso I, do CP. De acordo com a doutrina majoritária, existe crime quando for praticado fato</p><p>típico, ilícito e culpável. O magistrado entendeu que, apesar de praticado fato típico e ilícito, não</p><p>haveria culpabilidade em razão da inimputabilidade momentânea do agente. Um dos elementos</p><p>da culpabilidade é a imputabilidade, relacionada à capacidade do agente ter consciência de seus</p><p>atos e determinar-se de acordo com esse entendimento. Ocorre que o Art. 28, inciso I, do CP,</p><p>prevê expressamente que a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade penal, de modo</p><p>que não poderia o magistrado deixar de receber a denúncia sob o fundamento de que, em razão</p><p>da paixão, o agente não tinha capacidade de determinar-se de acordo com seu entendimento e,</p><p>consequentemente, a culpabilidade estaria afastada.</p><p>78</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Caberá recurso em sentido estrito (0,50), nos termos do Art.</p><p>581, inciso I, do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>B. Sim, o argumento seria que, considerando a imputabilidade</p><p>elemento da culpabilidade, o fato praticado é típico, ilícito e</p><p>culpável OU que não deveria ser afastada a culpabilidade do</p><p>agente (0,15), tendo em vista que a paixão não exclui a</p><p>imputabilidade penal (0,40), nos termos do Art. 28, inciso I, do</p><p>CP (0,10)</p><p>0,00/0,15/0,25/0,40/</p><p>0,50/0,55/0,65</p><p>79</p><p>20) XXXIII Exame – Questão 4</p><p>Talita conduzia seu veículo automotor quando sofreu uma colisão na traseira de seu automóvel</p><p>causada por Lauro, que conduzia seu automóvel a 120 km/h, apesar de a velocidade máxima</p><p>permitida, na via pública em que estavam, ser de 50km/h. A perícia realizada no local indicou</p><p>que o acidente foi causado pela violação do dever de cuidado de Lauro, que, em razão da alta</p><p>velocidade imprimida, não conseguiu frear a tempo de evitar a colisão. Talita realizou exame de</p><p>corpo de delito que constatou a existência de lesão corporal de natureza leve. Lauro, por sua</p><p>vez, fugiu do local do acidente sem prestar auxílio. O Ministério Público, ao tomar conhecimento</p><p>dos fatos e não havendo composição dos danos civis, ofereceu proposta de transação penal em</p><p>favor de Lauro, destacando que o crime de lesão corporal culposa, previsto no Art. 303, § 1º, da</p><p>Lei nº 9.503/97, admitia o benefício e que a Folha de Antecedentes Criminais do autor do fato</p><p>apenas indicava a existência de uma outra anotação referente à infração em que Lauro foi</p><p>beneficiado também por transação penal, mas o benefício foi oferecido e extinto há mais de 06</p><p>anos. Talita ficou insatisfeita com a proposta do Ministério Público e procurou você, como</p><p>advogado(a), para esclarecimentos.</p><p>Considerando as informações expostas, responda, na condição de</p><p>advogado(a) de Talita, aos</p><p>itens a seguir.</p><p>A) Existe previsão de recurso para questionar a decisão homologatória de transação</p><p>penal? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Existe argumento para questionar o oferecimento de transação penal ao autor do fato?</p><p>Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>80</p><p>A) Sim, nos termos do artigo 76, §5º da Lei 9.099/95 (0,10), o recurso cabível da decisão</p><p>que homologou a transação penal, é o Recurso de Apelação (0,50), com base no artigo</p><p>82 da Lei 9.099/95.</p><p>B) Sim, uma vez que, no caso, não seria possível aplicar o instituto da transação penal,</p><p>uma vez que Lauro transitava em velocidade acima da permitida em 50 km/h (0,55).</p><p>Assim, no caso em tela, o acusado estava em uma via de velocidade máxima de 50 km/h,</p><p>trafegando com seu veículo a 120 km/h, portanto, não sendo possível o oferecimento da</p><p>proposta de transação penal, conforme dispõe o artigo 291, §1º, inciso III, do Código de</p><p>Trânsito Brasileiro (0,10).</p><p>81</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Sim, de acordo com o Art. 76, § 5º, da Lei nº 9.099/95, da decisão que homologa a transação</p><p>penal caberá recurso de apelação, nos termos do Art. 82 do mesmo diploma legal. Diferente do</p><p>que ocorre com a sentença que homologa composição civil dos danos, que é irrecorrível,</p><p>conforme Art. 74 da Lei nº 9.099/95, a sentença que homologa a transação penal pode ser</p><p>questionada por meio de recurso.</p><p>B) O advogado de Talita deverá esclarecer que existe argumento para questionar a proposta de</p><p>transação penal oferecida pelo Ministério Público. Com base na Folha de Antecedentes Criminais</p><p>do autor do fato, ele é, tecnicamente, primário. Ademais, o benefício da transação penal anterior</p><p>foi oferecido, cumprido e extinto há mais de 05 anos, de modo que não haveria impedimento,</p><p>com base no Art. 76 da Lei nº 9.099/95. O Art. 291 do CTB (Lei nº 9.503/97), a princípio permite</p><p>que sejam aplicados os institutos da composição dos danos civis, transação penal e exigência</p><p>de representação da vítima nos crimes de lesão corporal culposa praticadas na condução de</p><p>veículo automotor. Ocorre que o próprio Art. 291, § 1º, inciso III, do CTB, prevê que não serão</p><p>aplicáveis tais institutos despenalizadores quando o crime for praticado por agente que esteja</p><p>transitando em velocidade acima da máxima permitida para a via em 50 km/h. No caso, a</p><p>velocidade máxima da via era de 50 km/h e Lauro conduzia seu automóvel a 120km/h, afastando</p><p>a possibilidade de oferecimento de proposta de transação penal. Não será considerado suficiente</p><p>pela Banca apenas a afirmativa de que a pena máxima prevista para o delito supera 02 anos,</p><p>tendo em vista que, mesmo com essa pena, se não constatadas as situações dos incisos I, II ou</p><p>III do Art. 291, § 1º, do CTB, a proposta seria possível.</p><p>82</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Sim, a decisão homologatória de transação penal pode ser</p><p>questionada por meio de apelação (0,50), nos termos do Art. 76,</p><p>§ 5º, da Lei nº 9.099/95 (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>B. Sim. Considerando que não poderia ser aplicado o instituto</p><p>da transação penal, tendo em vista que o crime foi praticado</p><p>quando o agente transitava em velocidade superior à máxima</p><p>permitida para a via em mais de 50 km/h (0,55), conforme o Art.</p><p>291, § 1º, inciso III, do CTB (0,10).</p><p>0,00/0,55/0,65</p><p>83</p><p>21) XXXIV Exame – Questão 1</p><p>Geraldo, 30 anos, constrangeu Eugênia, desconhecida que passava pela rua, mediante grave</p><p>ameaça, a transferir R$ 2.000,00 (dois mil reais) para sua conta. Diante da grave ameaça,</p><p>Eugênia compareceu ao estabelecimento bancário com Geraldo e fez a transferência devida,</p><p>sendo liberada em seguida. Eugênia, nervosa, compareceu à sede policial e narrou o ocorrido,</p><p>sendo instaurado inquérito para identificação do autor do fato. Ocorre que Geraldo, no dia</p><p>seguinte, antes de qualquer denúncia, arrependeu-se de sua conduta e transferiu de volta para</p><p>a conta de Eugênia todo o valor antes obtido de maneira indevida. Confirmada a autoria, o</p><p>Ministério Público ofereceu denúncia em face de Geraldo pela prática do crime de extorsão</p><p>simples consumada (Art. 158, caput, do Código Penal), sendo decretada sua prisão preventiva,</p><p>em razão da gravidade do fato e da reincidência. Durante audiência de instrução e julgamento,</p><p>foi ouvida a vítima, que confirmou os fatos narrados na denúncia. O réu permaneceu em sala de</p><p>audiência, e o reconhecimento foi realizado ao final da oitiva da vítima, ainda no local, sob o</p><p>argumento de que, como havia muitos presos no Fórum, não haveria policiais suficientes para</p><p>transporte de presos até a sala de reconhecimento. Assim, Eugênia apenas apontou para o</p><p>denunciado e disse que ele seria o autor. As demais testemunhas esclareceram que não</p><p>presenciaram o ocorrido. Com base no reconhecimento realizado, foi o réu condenado nos</p><p>termos da denúncia, sendo aplicada pena base de 04 anos; pena intermediária de 04 anos e 03</p><p>meses em razão da reincidência, não sendo reconhecidas atenuantes ou outras agravantes; na</p><p>terceira fase, não foram reconhecidas causas de aumento ou de diminuição de pena. O regime</p><p>inicial aplicado foi o fechado. Intimado da sentença, esclareça, na condição de advogado de</p><p>Geraldo em atuação em recurso de apelação, os itens a seguir.</p><p>A) Qual argumento de direito processual poderá ser apresentado para questionar a</p><p>produção probatória em audiência? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Qual argumento de direito material poderá ser apresentado, caso mantida a</p><p>condenação, em busca da redução da pena aplicada? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>84</p><p>A) O argumento de direito processual a ser apresentado em favor de Geraldo é o de que</p><p>a produção de provas não foi integralmente válida, tendo em vista que o reconhecimento</p><p>do réu não foi realizado observando as formalidades legais. De acordo com o Art. 226 do</p><p>Código de Processo Penal, o reconhecimento, em sendo possível, deverá ser realizado</p><p>na presença de outras pessoas com características semelhantes àquelas da pessoa a ser</p><p>reconhecida. No caso, o reconhecimento foi na própria sala de audiência, apenas com o</p><p>réu presente na condição de preso, então claramente foi viciado. Dessa forma, aquela</p><p>prova não poderia ser considerada na sentença condenatória.</p><p>B) Como o crime imputado ao réu é praticado mediante violência ou grave ameaça, não</p><p>incide o arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal. Assim, o</p><p>argumento é o de que deveria ter sido reconhecida a atenuante da reparação do dano,</p><p>prevista no Art. 65, inciso III, alínea b, do Código Penal, visto que Geraldo procurou</p><p>minorar as consequências de seu ato e reparou o dano.</p><p>85</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) O argumento de direito processual é o de que a produção de provas não foi integralmente</p><p>válida, tendo em vista que o reconhecimento do réu não foi realizado observando as formalidades</p><p>legais. De acordo com o Art. 226 do CPP, o reconhecimento, em sendo possível, deverá ser</p><p>realizado na presença de outras pessoas com características semelhantes àquelas da pessoa a</p><p>ser reconhecida. No caso, o reconhecimento foi na própria sala de audiência, apenas com o réu</p><p>presente na condição de preso, então claramente foi viciado. Dessa forma, aquela prova não</p><p>poderia ser considerada na sentença condenatória. Havia outros presos disponíveis para serem</p><p>colocados ao lado do denunciado em sala especial para reconhecimento, não sendo o argumento</p><p>de economia suficiente para afastar as exigências legais.</p><p>B) O argumento é o de que deveria ter sido reconhecida a atenuante da reparação do dano,</p><p>prevista no Art. 65, inciso III, alínea b, do CP. De acordo com o enunciado, antes mesmo do</p><p>oferecimento da denúncia, logo após a prática delitiva, o autor</p><p>do fato procurou minorar as</p><p>consequências de seu ato e reparou o dano, de modo que aplicável a atenuante antes</p><p>mencionada. Não haveria de se falar em tentativa a justificar o reconhecimento de causa de</p><p>diminuição de pena, já que o crime se consumou por ocasião do constrangimento. Ademais,</p><p>mesmo a reparação tendo ocorrido antes do oferecimento da denúncia, não caberia aplicação</p><p>da causa de diminuição de pena do arrependimento posterior, prevista no Art. 16 do Código</p><p>Penal, pois o crime foi praticado com grave ameaça à pessoa.</p><p>86</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. O argumento é o de que o reconhecimento realizado não foi</p><p>válido, pois não foram observadas as formalidades legais (0,55),</p><p>nos termos do Art. 226 do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,55/0,65</p><p>B. O argumento seria o de que deveria ter sido reconhecida a</p><p>atenuante da reparação do dano, tendo em vista que o</p><p>denunciado devolveu o valor obtido indevidamente (0,50), nos</p><p>termos do Art. 65, inciso III, alínea b, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>87</p><p>22) XXXIV Exame – Questão 2</p><p>Flávio figurava como indiciado em procedimento em que se investigava a prática do crime de</p><p>concussão. Após não mais ter disponíveis outros meios de investigação, o Ministério Público</p><p>formulou requerimento de interceptação das conversas telefônicas de Flávio, sendo o pedido</p><p>deferido pela autoridade judicial pelo prazo de 10 dias. No período interceptado, todas as</p><p>conversas de Flávio foram transcritas. Em uma das conversas interceptadas, Flávio mantinha</p><p>contato com seu advogado João e confessava a autoria do crime de concussão, solicitando</p><p>orientação jurídica, sendo possível perceber que João não teria qualquer conhecimento anterior</p><p>sobre aquela prática delitiva. A partir do teor das transcrições das conversas de Flávio, o</p><p>Ministério Público ofereceu denúncia em desfavor do mesmo, imputando-lhe a prática do crime</p><p>previsto no Art. 316 do Código Penal. Ao tomar conhecimento da denúncia, Flávio contata seu</p><p>advogado, que tem acesso ao procedimento, inclusive ao teor das transcrições obtidas a partir</p><p>da interceptação das conversas telefônicas. Durante a instrução, após requerimento do</p><p>Ministério Público, o juiz determina, sem anuência do acusado e de sua defesa técnica, que seja</p><p>realizada perícia de voz em Flávio para confirmar que ele seria um dos interlocutores da</p><p>conversa, intimando-o para apresentar gravação a servir de paradigma para o exame.</p><p>Considerando apenas as informações expostas, responda, na condição de advogado(a) de</p><p>Flávio, aos itens a seguir.</p><p>A) Qual o argumento a ser apresentado para questionar a prova obtida a partir da</p><p>interceptação das comunicações telefônicas? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Existe argumento a ser apresentado para questionar a decisão do magistrado que</p><p>determinou a realização da perícia de voz, com apresentação de gravação que servisse de</p><p>paradigma à perícia? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação</p><p>88</p><p>A) O argumento a ser apresentado é de que a prova é ilícita, pois não poderia ter havido</p><p>transcrição das conversas entre Flávio e João, sua defesa técnica. Não estava o</p><p>advogado praticando crime com seu cliente, mas tão só prestando assistência jurídica,</p><p>de modo que o sigilo na relação advogado-cliente deverá ser resguardado, nos termos</p><p>do artigo 7º, incisos II e III, do Estatuto da OAB ou artigo 157, caput, do Código de</p><p>Processo Penal ou artigo 5º, inciso LVI da Constituição Federal.</p><p>B) Sim, o argumento a ser apresentado é de que não poderia o magistrado ter</p><p>determinado a realização de perícia de voz em Flávio sem a sua concordância, tendo em</p><p>vista que ninguém é obrigado a produzir prova contra si, havendo violação ao princípio</p><p>do nemo tenetur se detegere, conforme prevê o artigo 5º, LXIII, da Constituição Federal.</p><p>89</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) O argumento é de que a prova é ilícita, pois não poderia ter havido transcrição das conversas</p><p>travadas entre o investigado e sua defesa técnica. O crime investigado é punido com pena de</p><p>reclusão; havia indícios de autoria, tanto que Flávio figurava como indiciado; e não havia outros</p><p>meios investigatórios para obtenção da prova. O prazo fixado pela autoridade judicial também</p><p>está dentro do autorizado pela lei. Ocorre que, apesar de a interceptação em si ser válida, de</p><p>acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, não pode haver transcrição, ou seja, a</p><p>conversa travada entre o investigado e seu advogado não poderá ser utilizada como meio de</p><p>prova, quando este não for alvo da investigação. Ademais, não estava o advogado praticando</p><p>novo crime com seu cliente, mas tão só prestando assistência jurídica, de modo que o sigilo na</p><p>relação advogado-cliente deverá ser resguardado. A garantia do sigilo das comunicações entre</p><p>advogado e cliente não confere imunidade para a prática de crimes no exercício da advocacia, o</p><p>que não ocorreu na hipótese. No mesmo sentido, a previsão do Art. 7º, incisos II e III, da Lei nº</p><p>8.906/94 ou Art. 157 caput do CPP ou Art. 5º, inciso LVI da CRFB/88.</p><p>B) Não poderia o magistrado ter determinado a realização de perícia de voz em Flávio, sem a</p><p>sua concordância, tendo em vista que ninguém é obrigado a produzir prova contra si. O princípio</p><p>do nemo tenetur se detegere tem previsão não apenas na legislação nacional, mas também em</p><p>tratados internacionais, sendo direito relevante de todo aquele que figure como réu ou</p><p>investigado. Sempre que a prova depender de uma participação ou contribuição positiva do réu,</p><p>esta somente poderá ser determinada se houver concordância do acusado, sob pena de violação</p><p>ao princípio supramencionado. Considerando que Flávio não concordou em se submeter à</p><p>perícia de voz e, ainda, considerando que tal exame dependeria do fornecimento de sua voz para</p><p>padrão de comparação, não poderia o magistrado ter imposto a produção da prova, conforme</p><p>Art. 5º, inciso LXIII da CRFB/88 ou Art. 8º, item 2, alínea g, do anexo do Decreto 678/1992.</p><p>90</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. O argumento é de que a prova é ilícita, tendo em vista que</p><p>não poderia ter havido transcrição da conversa travada entre</p><p>Flávio e seu advogado, que tem direito ao sigilo ou</p><p>inviolabilidade das comunicações, não sendo o advogado</p><p>coautor de crimes e nem figurando como investigado (0,50), nos</p><p>termos do Art. 7º, inciso II ou III, da Lei nº 8.906/94 ou Art. 157</p><p>caput do CPP ou Art. 5º, inciso LVI da CRFB/88 (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>B. Sim, o argumento seria o de que não poderia o réu ser</p><p>obrigado a fornecer sua voz para perícia ou que não poderia o</p><p>magistrado ter exigido um comportamento positivo/ativo por</p><p>parte do réu ou a perícia de voz dependeria da concordância de</p><p>Flávio (0,15), já que o acusado não pode ser obrigado a produzir</p><p>prova contra si (0,40), conforme Art. 5º, inciso LXIII da CRFB/88</p><p>ou Art. 8º, item 2, alínea g, do anexo do Decreto 678/1992(0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25</p><p>0,40/0,50/0,55/0,65</p><p>91</p><p>23) XXXIV Exame – Questão 3</p><p>Carla, funcionária de determinado estabelecimento comercial, inseriu, em documento particular,</p><p>informação falsa acerca da data de determinado serviço que teria sido prestado pela empresa,</p><p>em busca de prejudicar direito de terceiro, sendo realmente a inserção da informação de sua</p><p>responsabilidade. Descobertos os fatos pelo superior hieráquico de Carla, foi apresentada notitia</p><p>criminis em desfavor da funcionária, que veio a ser denunciada como incursa nas sanções penais</p><p>do Art. 298 do Código Penal (falsificação de documento particular). No momento da citação, o</p><p>Oficial de Justiça compareceu ao endereço fornecido pelo Ministério Público, sendo que</p><p>constatou, na primeira vez que foi ao local, que Carla lá residia, mas que estava se ocultando</p><p>para não ser citada. Diante disso, certificou tal fato e foi determinada a citação por edital pelo</p><p>magistrado. Carla</p><p>é informada do teor do edital por uma amiga que trabalhava no Tribunal de</p><p>Justiça e procura você, como advogado(a), para prestar assistência jurídica.</p><p>Responda, na condição de advogado(a) de Carla, considerando apenas as informações</p><p>expostas, aos seguintes questionamentos.</p><p>A) A citação de Carla foi realizada de forma válida? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Qual o argumento de direito material a ser apresentado para questionar a capitulação</p><p>delitiva? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação ou transcrição do</p><p>dispositivo legal não confere pontuação.</p><p>92</p><p>A) Não, a citação de Carla não foi válida, pois a citação por edital é cabível quando o</p><p>denunciado está em local incerto e não sabido, o que não é o caso, tendo em vista que o</p><p>oficial de justiça confirmou que Carla residia no endereço informado pelo Ministério</p><p>Público, apenas alegando que ela estava se ocultando para não ser citada. Em tese,</p><p>estando se ocultando, pode ocorrer a citação com hora certa, prevista no Art. 362 do</p><p>Código de Processo Penal, mas, para tanto, deve o Oficial de Justiça comparecer mais</p><p>vezes ao local, na tentativa de citar a ré, conforme se extrai do artigo 252 do Código de</p><p>Processo Civil.</p><p>B) O argumento a ser apresentado é no sentido de que houve crime de falsidade</p><p>ideológica, previsto no Art. 299 do Código Penal, tendo em vista que o documento é falso</p><p>em relação ao seu conteúdo e não em relação à sua forma. No caso, Carla era</p><p>responsável por preencher o documento, inserindo informação falsa em seu conteúdo</p><p>para prejudicar direito de terceiro, o que tipifica a conduta de falsidade ideológica.</p><p>93</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) A citação de Carla não foi válida, pois a citação por edital é cabível quando o denunciado está</p><p>em local incerto e não sabido, o que não é o caso, tendo em vista que o oficial de justiça</p><p>confirmou que Carla residia no endereço informado pelo Ministério Público, apenas alegando</p><p>que ela estava se ocultando para não ser citada. Em tese, estando se ocultando, pode ocorrer a</p><p>citação com hora certa, prevista no Art. 362 do CPP, mas, para tanto, deve o Oficial de Justiça</p><p>comparecer mais vezes ao local, na tentativa de citar a ré.</p><p>B) O argumento é no sentido de que houve crime de falsidade ideológica, previsto no Art. 299 do</p><p>CP, e que tem a pena mais branda do que o crime imputado. O documento é falso em relação</p><p>ao seu conteúdo e não em relação à sua forma. Não houve falsificação de documento particular,</p><p>com sua alteração ou elaboração por quem não deveria. Pelo contrário, Carla era responsável</p><p>por preencher o documento, que, quanto à forma, era hígido. Todavia, inseriu informação falsa</p><p>em seu conteúdo para prejudicar direito de terceiro, o que tipifica a conduta de falsidade</p><p>ideológica.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Não foi válida a citação de Carla, já que ela não estava em</p><p>local incerto e não sabido ou que não estava se ocultando para</p><p>não ser citada, já que Carla possuía endereço fixo e conhecido</p><p>(0,50), conforme Art. 361 ou 362 ambos do CPP (0,10)</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>B. O argumento é o de que o crime praticado por Carla foi de</p><p>falsidade ideológica, com inserção de conteúdo falseado, e não</p><p>falsificação de documento particular (0,40), tendo em vista que</p><p>inseriu informação falsa em documento verdadeiro quanto à sua</p><p>forma (0,15), nos termos do Art. 299 do CP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,40/</p><p>0,50/0,55/0,65</p><p>94</p><p>24) XXXIV Exame – Questão 4</p><p>Renato e Abel foram denunciados pelo crime de “falsificação, corrupção, adulteração ou</p><p>alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais”, por terem exposto à venda,</p><p>na farmácia em que eram sócios, diversos frascos de medicamentos fitoterápicos para</p><p>tratamento urinário que estavam corrompidos. Lote de fabricação UR031FT-PLANT (Art. 273, §</p><p>1º, do CP). A Vigilância Sanitária, ao fiscalizar aquela farmácia, apreendeu os referidos</p><p>medicamentos e encontrou um aviso enviado pelo fabricante informando que os medicamentos</p><p>relativos àquele lote não se achavam em condições para consumo por estarem corrompidos,</p><p>devendo ser recolhidos e devolvidos. Na instrução criminal, foram ouvidos os agentes da</p><p>Vigilância Sanitária que fizeram as apreensões, os quais declararam ter recebido diversas</p><p>reclamações de consumidores que compraram o medicamento relativo ao lote de fabricação</p><p>UR031FT-PLANT, pois se sentiram mal. Ouvidos os farmacêuticos do fabricante, disseram que,</p><p>feita a análise, constataram que o medicamento daquele lote estava corrompido e recomendaram</p><p>aos comerciantes que os adquiriram que efetuassem a devolução. Foi ouvida uma testemunha</p><p>de defesa, ou seja, o gerente da farmácia que recebeu o aviso do fabricante. Ele esclareceu que</p><p>não abriu a correspondência e nem deu ciência do recebimento ao farmacêutico da loja.</p><p>Interrogados, os réus negaram a autoria. Alegaram que desconheciam qualquer irregularidade</p><p>no medicamento do lote de fabricação UR031FT-PLANT. Declararam que não receberam</p><p>qualquer reclamação de clientes, considerando que 15 (quinze) unidades daquele lote foram</p><p>comercializadas, além disso, pesquisaram e não encontraram reclamação no Procon relativa a</p><p>esse fato. A corrupção do referido medicamento ficou demonstrada nos autos pelos documentos</p><p>laboratoriais do fabricante. Renato e Abel foram condenados nas penas mínimas (10 anos de</p><p>reclusão, em regime fechado, 10 dias-multa ao valor mínimo legal). O Ministério Público não</p><p>recorreu. A defesa dos réus apelou.</p><p>A) Em razões recursais defensivas, que eventual matéria processual poderia ser</p><p>sustentada como preliminar? (Valor: 0,65)</p><p>B) Com vistas à absolvição de Renato e Abel, qual(is) tema(s) de direito material</p><p>poderia(m) ser alegado(s)? (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>95</p><p>A) A matéria processual que pode ser sustentada como preliminar é de que, como se trata</p><p>de crime que deixa vestígio, seria necessária a realização de exame pericial dos</p><p>medicamentos apreendidos, conforme previsto no art. 158 do Código de Processo Penal,</p><p>sendo esse um ônus da acusação. Essa diligência também poderia ter sido determinada</p><p>de ofício e supletivamente pelo juiz, constante artigo 156 e inciso II do Código de Processo</p><p>Penal.</p><p>B) A tese de direito material a ser alegada é a de inexistência de prova do fato,</p><p>considerando que os documentos laboratoriais do fabricante não servem para a</p><p>condenação. Como não houve comprovação do crime por falta de prova pericial, Renato</p><p>e Abel devem ser absolvidos, com base no artigo 386, inciso II, do Código de Processo</p><p>Penal. Poderia ser alegado também o erro de tipo invencível, previsto no artigo. 20, caput,</p><p>do Código Penal. Isso porque, ocorreu erro sobre elemento constitutivo do tipo, faltou aos</p><p>sócios consciência de que estariam expondo à venda medicação corrompida. Assim, o</p><p>fato é atípico e os réus devem ser absolvidos, forte artigo 386, inciso III, do Código de</p><p>Processo Penal.</p><p>Ainda, também seria possível alegar que é cabível a absolvição por estar provado que</p><p>Renato e Abel não concorreram para eventual infração penal, com base no artigo 386,</p><p>inciso IV, do Código de Processo Penal.</p><p>96</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Como se trata de crime que deixa vestígio, seria necessária a realização de exame pericial</p><p>dos medicamentos apreendidos – Art. 158 do CPP, sendo esse um ônus da acusação. Essa</p><p>diligência também poderia ter sido determinada de ofício e supletivamente pelo juiz – Art. 156 e</p><p>inciso II do CPP.</p><p>B) Não houve comprovação do crime por falta de prova pericial, os documentos laboratoriais do</p><p>fabricante não servem para a condenação, sendo o caso de absolvição dos recorrentes.</p><p>Cabendo ainda absolvição por não estar provado que os recorrentes concorreram quer culposa</p><p>ou dolosamente para a prática da infração penal. Ainda</p><p>podemos entender que os recorrentes</p><p>incorreram em erro de tipo ocasionando o reconhecimento da atipicidade de conduta. Existem</p><p>vários dados no enunciado que reforçam as teses dentre eles: o aviso do fabricante era</p><p>desconhecido dos apelantes ou de qualquer outro funcionário, posto que a correspondência não</p><p>foi entregue ao farmacêutico da loja e nem sequer foi aberta. Acresça-se ainda que nenhum</p><p>consumidor que adquiriu o medicamento do lote de fabricação UR031FT-PLANT fez qualquer</p><p>reclamação, tendo sido vendidas 15 (quinze) unidades. Conforme o Art. 386, inciso III, IV ou V,</p><p>do CPP ou Art. 20, caput do CP.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Como se trata de crime que deixa vestígio, seria necessária</p><p>a realização de exame pericial dos medicamentos apreendidos</p><p>ou a prova do fato por perícia seria ônus da acusação, diligência</p><p>que também poderia ter sido determinada de ofício e</p><p>supletivamente pelo juiz (0,55), segundo o Art. 158, caput ou Art.</p><p>156, inciso II, ambos do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,55/0,65</p><p>B. Não houve comprovação do crime por falta de prova pericial,</p><p>sendo o caso de absolvição ou absolvição por não estar provado</p><p>que os recorrentes concorreram culposa ou dolosamente para</p><p>eventual infração penal ou incorreram em erro de tipo ou</p><p>atipicidade de conduta (0,50). Conforme o Art. 386, inciso III, IV</p><p>ou V, do CPP ou Art. 20, caput do CP (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>97</p><p>25) 35º Exame – Questão 1</p><p>Pedro, nascido em 20 de janeiro de 2000, foi condenado, definitivamente, pela prática do crime</p><p>furto simples à pena de 1 ano de reclusão em regime inicial aberto, tendo sua pena privativa de</p><p>liberdade substituída por pena de multa. O crime ocorreu no dia 14 de junho de 2018, e a</p><p>sentença condenatória transitou em julgado, no dia 20 de abril de 2019, tendo sido feito o</p><p>pagamento da multa no prazo legal. Ocorre que, no dia 23 de março de 2020, o agente foi preso</p><p>em flagrante, após empregar ameaça para subtrair o aparelho telefônico de Luiza. Os policiais</p><p>que efetuaram a prisão conseguiram evitar a consumação delitiva e, posteriormente, Pedro foi</p><p>denunciado pela prática do crime de roubo, em sua modalidade tentada. Finda a instrução, foi</p><p>condenado na forma do Art. 157, c/c. Art. 14, inciso II, ambos do Código Penal. Ao aplicar a pena,</p><p>o juiz fixou a pena-base no mínimo legal, pois favoráveis as circunstâncias judiciais. Na segunda</p><p>fase, manteve a pena no patamar de 4 anos, apesar de reconhecer a agravante da reincidência.</p><p>Isto porque observou a menoridade relativa do agente à data do fato. Aplicada a minorante da</p><p>tentativa em sua fração máxima, alcançou a pena definitiva de 1 ano e 4 meses de reclusão e</p><p>fixou o regime inicial semi-aberto, sendo negada a suspensão condicional da pena em razão da</p><p>reincidência. A defesa técnica de Pedro interpôs, assim, recurso de apelação, insurgindo-se</p><p>apenas quanto à negativa do sursis. O magistrado, no entanto, não admitiu o recurso,</p><p>sustentando que a via adequada era a do Recurso em Sentido Estrito, a teor do Art. 581, inciso</p><p>XI, do Código de Processo Penal. Considerando apenas as informações apresentadas,</p><p>responda, na qualidade de advogado(a) de Pedro, aos itens a seguir.</p><p>A) Aponte o recurso a ser interposto em face da decisão do juiz de primeiro grau que não</p><p>admitiu a apelação e o fundamento de direito processual penal a ser alegado para que o</p><p>apelo seja admitido. Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Existe alguma tese de Direito Penal material que permita a concessão da suspensão</p><p>condicional da pena no caso concreto? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>98</p><p>A) O recurso cabível é o Recurso em Sentido Estrito, nos termos do artigo 581, inciso</p><p>XV, do Código de Processo Penal. O fundamento de direito processual penal a ser</p><p>alegado é que a apelação foi interposta corretamente, uma vez que, conforme dispõe o</p><p>artigo 593, §4º, do Código de Processo Penal, quando cabível a apelação não poderá ser</p><p>usado o recurso em sentido estrito. Desta forma, de acordo com o artigo 593, inciso I, do</p><p>Código de Processo Penal, o recurso adequado para impugnar as sentenças de mérito,</p><p>de condenação ou absolvição, é a apelação, no prazo de 5 dias, e não poderia o juízo ter</p><p>inadmitido o recurso defensivo.</p><p>B) O argumento de direito material a ser alegado é que o magistrado negou a suspenção</p><p>condicional da pena sustentando que o condenado era reincidente. Todavia, o agente fora</p><p>anteriormente condenado à pena de multa e, nos termos do artigo 77, §1º, do Código Penal,</p><p>a condenação anterior a pena de multa não impede a concessão da suspensão condicional</p><p>da pena. Sendo assim, Pedro faz jus ao benefício.</p><p>99</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) O examinando deve apontar que o recurso adequado a impugnar a decisão que não admitiu</p><p>a apelação é o Recurso em Sentido Estrito, nos termos do Art. 581, inciso XV, do CPP. Como</p><p>fundamento para questionar a inadmissão do recurso de Apelação, deveria indicar que a negativa</p><p>da suspensão condicional da pena ocorreu em sede de sentença penal condenatória, proferida</p><p>por juiz de primeiro grau. Desse modo, a defesa técnica interpôs corretamente o Recurso de</p><p>Apelação para questionar a sentença, pois, como dispõe o Art. 593, § 4º, do CPP, quando cabível</p><p>a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da</p><p>decisão se recorra. Desse modo, como disciplina o próprio Art. 593, inciso I, o recurso adequado</p><p>para impugnar as sentenças de mérito, de condenação ou absolvição, é a apelação, no prazo de</p><p>5 dias, e não poderia o juízo a quo ter inadmitido o recurso defensivo.</p><p>B) O examinando deveria desenvolver raciocínio no sentido de que existe tese de direito material</p><p>a ser alegada no caso concreto, objetivando a concessão do sursis. É que o magistrado negou</p><p>a suspensão condicional da pena sustentando que o condenado era reincidente. De fato, Pedro</p><p>ostentava condenação definitiva anterior à prática do crime de roubo tentado. Ocorre que o</p><p>agente fora anteriormente condenado à pena de multa e, nos termos do Art. 77, § 1º, do Código</p><p>Penal, a condenação anterior a pena de multa não impede a concessão da suspensão</p><p>condicional da pena. Desse modo, Pedro faz jus ao benefício.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. O recurso cabível é o Recurso em Sentido Estrito (0,25), nos</p><p>termos do Art. 581, inciso XV, do CPP (0,10). O argumento de direito</p><p>processual é que a apelação deveria ser admitida, pois é o recurso</p><p>adequado à impugnação das sentenças condenatórias, ainda que se</p><p>recorra apenas de parte delas (0,30).</p><p>0,00/0,25/0,30/0,35</p><p>0,55/0,65</p><p>B. A condenação anterior à pena de multa não impede a concessão</p><p>da suspensão condicional da pena (0,50), de acordo com o Art. 77, §</p><p>1º, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>100</p><p>26) 35º Exame – Questão 2</p><p>Roberto foi denunciado pelo crime de perseguição (Art. 147-A do CP). Segundo a denúncia, no</p><p>dia 15 de janeiro de 2022, na filial da sociedade empresária Ruan S/A, situada no Rio de</p><p>Janeiro/RJ, Roberto se aproveitou da proximidade física com Fábio (colega que trabalha na</p><p>matriz da empresa em São Paulo/SP e estava visitando a filial carioca por um dia apenas) no</p><p>ambiente de trabalho, para lançar-lhe olhares lascivos, o que teria “perturbado a esfera de</p><p>liberdade ou privacidade” de Fábio. Este ofereceu representação contra Roberto. O Ministério</p><p>Público se recusou a formular proposta de transação penal a Roberto, com fundamento em uma</p><p>anotação existente na sua Folha de Antecedentes Criminais (FAC), relativa à condenação</p><p>definitiva à pena corporal – extinta há mais de 5 (cinco) anos – pela prática de crime. Sobre a</p><p>hipótese apresentada, responda aos itens a seguir.</p><p>A) Quais teses de mérito podem ser invocadas pelo defensor técnico de Roberto?</p><p>Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Qual medida pode ser adotada pelo defensor</p><p>técnico de Roberto para viabilizar a</p><p>proposta de transação penal? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>101</p><p>A) A tese de mérito que pode ser alegada é a de atipicidade da conduta, pois o crime de</p><p>perseguição é crime habitual, exigindo a reiteração do comportamento para a</p><p>caracterização da tipicidade objetiva. No caso, inexistiu reiteração, tratando-se de</p><p>episódio isolado, ocorrido num único dia, sendo o fato atípico.</p><p>B) A medida a ser adotada pelo defensor técnico do acusado para viabilizar a proposta de</p><p>transação penal é requerer ao Juízo a remessa dos autos ao órgão superior do Ministério</p><p>Público para reexame do cabimento dessa proposta. Isso porque a extinção da pena há</p><p>mais de cinco anos deixa de produzir efeitos jurídicos, de acordo com o artigo 64, inciso I,</p><p>do Código Penal.</p><p>102</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Atipicidade objetiva da conduta, pois a figura delitiva da perseguição (Art. 147-A do CP) adota</p><p>verbo nuclear no infinitivo (“perseguir”), o que denota crime habitual, a exigir reiteração do</p><p>comportamento para a caracterização da tipicidade objetiva. No caso concreto, inexistiu</p><p>reiteração, tratando-se de episódio isolado, ocorrido num único dia.</p><p>B) A medida a ser adotada pelo defensor técnico do acusado para viabilizar proposta de</p><p>transação penal é requerer ao Juízo a remessa dos autos ao órgão superior do Ministério Público</p><p>para reexame do cabimento dessa proposta. Isso porque a extinção da pena há mais de cinco</p><p>anos deixa de produzir efeitos jurídicos (Art. 64, inciso I do CP).</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Atipicidade objetiva da conduta (0,20), pois a figura delitiva da</p><p>perseguição (Art. 147-A do CP); adota verbo nuclear no infinitivo</p><p>(“perseguir”), o que denota crime habitual, a exigir reiteração do</p><p>comportamento para a caracterização da tipicidade objetiva (0,40)</p><p>0,00/0,20/0,40/ 0,60</p><p>B. A medida a ser adotada pelo defensor técnico do acusado para</p><p>viabilizar proposta de transação penal é requerer ao Juízo a remessa</p><p>dos autos ao órgão superior do Ministério Público para reexame do</p><p>cabimento dessa proposta (0,30). Isso porque a extinção da pena há</p><p>mais de cinco anos deixa de produzir efeitos jurídicos (0,25), nos termos</p><p>do Art. 64, inciso I, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,25/0,30/0,35/</p><p>0,40/0,55/0,65</p><p>103</p><p>27) 35º Exame – Questão 3</p><p>Em 09 de agosto de 2021, durante uma reunião de condomínio, iniciou-se uma discussão. O</p><p>morador Paulo, lutador de vale tudo, chamou Fábio, o síndico, de ladrão. Ato contínuo, Paulo</p><p>partiu para cima de Fábio, no intuito de quebrar seu nariz com um soco. Em seguida, Fábio,</p><p>praticante de jiu jitsu, golpeou Paulo, que caiu no chão desmaiado. Paulo foi levado para o</p><p>hospital, mas foi liberado horas depois. O laudo hospitalar atestou apenas escoriações leves. Em</p><p>10 de maio de 2022, em outra reunião de condomínio, Paulo e Fábio encontraram-se novamente.</p><p>Fábio já tinha esquecido os fatos ocorridos na ocasião anterior, porque não era pessoa de</p><p>guardar rancor. No entanto, Paulo lembrou de tudo que passou, sentiu-se envergonhado perante</p><p>os demais condôminos e resolveu seguir em frente para processar Fábio criminalmente. No dia</p><p>seguinte, Paulo noticiou o ocorrido na reunião anterior à autoridade policial e apresentou o laudo</p><p>hospitalar para comprovar a lesão sofrida. Após os trâmites regulares das investigações, o</p><p>promotor de justiça com atribuição para o caso ofereceu denúncia em face Fábio como incurso</p><p>nas sanções do crime de lesão corporal leve, previsto no art. 129, caput do CP. A denúncia foi</p><p>recebida e determinada a citação do réu. Considerando as informações acima, na condição de</p><p>advogado(a) de Fábio, responda aos itens a seguir.</p><p>A) Qual tese a defesa pode alegar como preliminar? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Qual tese de direito material pode ser utilizada para a defesa de Fábio? Justifique.</p><p>(Valor: 0,65)</p><p>Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>104</p><p>A) A tese que a defesa pode alegar como preliminar é a extinção de punibilidade pela</p><p>decadência, na forma do artigo 107, inciso IV, do Código Penal, tendo em vista que Paulo</p><p>somente apresentou a representação após 6 meses do conhecimento da autoria do fato,</p><p>tendo transcorrido o prazo decadencial previsto no artigo 38 do Código de Processo Penal.</p><p>B) A tese de direito material que pode ser utilizada é que Fábio agiu em legítima defesa,</p><p>uma vez que, usando moderadamente dos meios necessários, repeliu injusta e iminente</p><p>agressão de Paulo, que foi em sua direção para lhe dar um soco com o intuito de quebrar</p><p>seu nariz. Assim, houve exclusão da ilicitude do fato, na forma do artigo 23, inciso II e</p><p>artigo 25, caput, ambos do Código Penal</p><p>105</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Em preliminar de defesa, deve ser alegada a extinção de punibilidade pela decadência, na</p><p>forma do Art. 38 do CPP c/c. o Art. 107, inciso IV, do CP. Em se tratando de imputação pelo</p><p>crime de lesão corporal leve, previsto no Art. 129, caput, do CP, a ação é penal pública</p><p>condicionada à representação, conforme o Art. 88 da Lei nº 9.099/95. No caso, Paulo somente</p><p>apresentou a representação após 6 meses do conhecimento da autoria do fato, quando</p><p>transcorrido o prazo decadencial previsto no Art. 38 do CPP.</p><p>B) Fábio atuou em legítima defesa, uma vez que, usando moderadamente dos meios</p><p>necessários, repeliu injusta e iminente agressão de Paulo, que foi em sua direção para lhe dar</p><p>um soco com o intuito de quebrar seu nariz. Assim, houve exclusão da ilicitude do fato e Fábio</p><p>não responde por crime algum, na forma do Art. 23, inciso II c/c. o Art. 25, caput, ambos do CP.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Em preliminar de defesa, deve ser alegada a extinção de punibilidade</p><p>pela decadência (0,35), tendo em vista que Paulo deixou de oferecer</p><p>representação no prazo de 6 meses, conhecendo a autoria desde a data</p><p>do fato (0,15), conforme estabelecido no Art. 38 do CPP c/c. o Art. 107,</p><p>inciso IV, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>B. Fábio atuou em legítima defesa, uma vez que, usando moderadamente</p><p>dos meios necessários, repeliu injusta e iminente agressão de Paulo, que</p><p>foi em sua direção para lhe dar um soco com o intuito de quebrar seu nariz</p><p>(0,35). Assim, houve exclusão da ilicitude do fato (0,20), na forma do Art.</p><p>23, inciso II, c/c. o Art. 25, caput, ambos do CP (0,10).</p><p>0,00/0,20/0,30/0,35/</p><p>0,45/0,55/0,65</p><p>106</p><p>28) 35º Exame – Questão 4</p><p>Arnaldo e Fábio, 22 anos, são irmãos gêmeos idênticos, mas Arnaldo sempre fez mais sucesso</p><p>com as meninas por ser mais extrovertido. Arnaldo inicia um relacionamento com Mônica, de 14</p><p>anos. Ambos costumam manter relação sexual consentida. Elena, amiga de Mônica, sempre foi</p><p>apaixonada por Arnaldo e, movida por ciúmes, resolve noticiar às autoridades sobre as relações</p><p>mantidas entre Arnaldo e Mônica, no intuito de incriminá-lo por estupro de vulnerável. Noticiado</p><p>o fato em sede policial e concluídas as investigações, o Ministério Público ofereceu denúncia,</p><p>imputando a Arnaldo o crime de estupro de vulnerável, previsto no Art. 217-A do CP. Após</p><p>recebimento da denúncia, citação e apresentação de defesa, foi designada audiência de</p><p>instrução e julgamento. De posse do mandado, o oficial de justiça foi até a residência dos irmãos</p><p>e realizou a intimação na pessoa de Fábio, que se fez passar por Arnaldo. No dia da audiência,</p><p>Arnaldo não compareceu, embora seu advogado estivesse presente. Finalizada a instrução e</p><p>após alegações finais, o juiz condenou Arnaldo no crime de estupro de vulnerável, na forma do</p><p>Art. 217-A do CP, a pena de 8 anos de reclusão, visto que Arnaldo não tinha qualquer anotação</p><p>criminal, sendo favoráveis as condições do crime. Considerando apenas as informações</p><p>narradas no enunciado, responda</p><p>material a ser apresentado em busca da absolvição de</p><p>Caio é de que houve a atipicidade da conduta, pois os disparos de arma de fogo não foram</p><p>realizados em via pública e nem em direção a ela, mas sim, dentro de um quintal, em</p><p>direção à parede da casa onde não havia ninguém.</p><p>11</p><p>Gabarito comentado</p><p>Narra o enunciado que Caio teria efetuado disparos de arma de fogo, no interior de seu quintal,</p><p>na direção da parede do imóvel em que residia, estando a casa vazia. Ademais, consta a</p><p>informação que os disparos foram realizados do quintal para o interior da residência, sendo que</p><p>as munições ficaram alojadas na parede. Os fatos, porém, foram descobertos por policiais</p><p>militares, vindo Caio a ser denunciado pela suposta prática do crime previsto no Art. 15 da Lei nº</p><p>10.826/03.</p><p>A) A decisão do magistrado não foi correta. De fato, uma vez que o denunciado não foi localizado</p><p>para citação pessoal, seria cabível sua citação por edital. Em consequência, não comparecendo</p><p>o denunciado e nem constituindo advogado, em razão da natureza de citação ficta, o processo,</p><p>assim como o curso do prazo prescricional, deve ficar suspenso. Ocorre que uma suspensão</p><p>indefinida do prazo prescricional acabaria por criar um crime, na prática, imprescritível, o que, de</p><p>acordo com grande parte da doutrina, não poderia ocorrer através de legislação ordinária. Diante</p><p>disso, através da Súmula 415 do STJ, foi pacificado o entendimento de que a suspensão do</p><p>prazo prescricional somente poderia durar o período do prazo prescricional, regulado pela pena</p><p>máxima do crime imputado. O delito do Art. 15 da Lei nº 10.826/03 tem pena máxima prevista de</p><p>04 anos, de modo que o prazo prescricional seria de 08 anos. Desde a suspensão do processo,</p><p>na forma do Art. 366 do CPP, passaram-se mais de 08 anos, logo o prazo prescricional deveria</p><p>voltar a correr em abril de 2016, sendo equivocada a decisão do magistrado de, em 2018,</p><p>determinar que fosse mantida a suspensão do prazo prescricional.</p><p>B) Sim, existe argumento de direito material a ser apresentado pela defesa técnica de Caio em</p><p>busca de sua absolvição. Deveria o advogado alegar a atipicidade da conduta, tendo em vista</p><p>que nem todas as elementares do crime do Art. 15 da Lei nº 10.826/03 foram preenchidas. Em</p><p>que pese tenha Caio realizado disparos de arma de fogo, não haveria que se falar no crime</p><p>imputado, pois os disparos não foram realizados em via pública e nem em direção à via pública.</p><p>Apesar de a rua da residência do denunciado ser habitada, os disparos foram realizados dentro</p><p>de um quintal, em direção à parede da casa onde não havia ninguém. Independentemente de a</p><p>conduta ser moralmente reprovável, não foi praticado o delito imputado.</p><p>12</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Sim, a suspensão da prescrição somente poderia durar o</p><p>período do prazo prescricional, computado de acordo com o</p><p>máximo da pena em abstrato prevista, voltando a correr em abril</p><p>de 2016 (0,55), nos termos da Súmula 415 do STJ (0,10).</p><p>0,00/0,55/0,65</p><p>B. Sim, a atipicidade da conduta (0,20), tendo em vista que o</p><p>disparo não foi realizado em via pública e nem em direção à via</p><p>pública OU tendo em vista que o disparo não foi realizado em</p><p>local habitado (0,40).</p><p>0,00/0,20/0,40/0,60</p><p>13</p><p>3) XXIX Exame – Questão 3</p><p>Em patrulhamento de rotina, policiais militares receberam uma informação não identificada de</p><p>que Wesley, que estava parado em frente à padaria naquele momento, estaria envolvido com o</p><p>tráfico de drogas da localidade. Diante disso, os policiais identificaram e realizaram a abordagem</p><p>de Wesley, não sendo, em um primeiro momento, encontrado qualquer material ilícito com ele.</p><p>Diante da notícia recebida momentos antes da abordagem, porém, e considerando que o crime</p><p>de associação para o tráfico seria de natureza permanente, os policiais apreenderam o celular</p><p>de Wesley e, sem autorização, passaram a ter acesso às fotografias e conversas no WhatsApp,</p><p>sendo verificado que existiam fotos armazenadas de Wesley portando suposta arma de fogo,</p><p>bem como conversas sobre compra e venda de material entorpecente. Entendendo pela</p><p>existência de flagrante em relação ao crime permanente de associação para o tráfico, Wesley foi</p><p>encaminhado para a Delegacia, sendo lavrado auto de prisão em flagrante. Após liberdade</p><p>concedida em audiência de custódia, Wesley é denunciado como incurso nas sanções do Art.</p><p>35 da Lei nº 11.343/06. No curso da instrução, foram acostadas imagens das conversas de</p><p>Wesley via aplicativo a que os agentes da lei tiveram acesso, assim como das fotografias. Os</p><p>policiais foram ouvidos em audiência, ocasião em que confirmaram as circunstâncias do</p><p>flagrante. O réu exerceu seu direito ao silêncio. Com base nas fotografias acostadas, o juiz</p><p>competente julgou a pretensão punitiva do estado procedente, aplicando a pena mínima de 03</p><p>anos de reclusão, além de multa, e fixando o regime inicial fechado, já que o crime imputado</p><p>seria equiparado a hediondo. Ainda assim, substituiu a pena privativa de liberdade por restritiva</p><p>de direitos.</p><p>Considerando as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Wesley,</p><p>intimado(a) para apresentação de recurso de apelação.</p><p>A) Existe argumento a ser apresentado para questionar as provas utilizadas pelo</p><p>magistrado como fundamento para condenação? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Mantida a condenação, qual o argumento a ser apresentado para questionar a sanção</p><p>penal aplicada? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>14</p><p>A) Sim, o argumento a ser apresentado para questionar as provas utilizados pelo</p><p>Magistrado é de que se tratam de provas ilícitas, pois foram obtidas sem autorização</p><p>judicial para quebra de sigilo de dados e sem autorização de Wesley para acesso ao</p><p>conteúdo de seu celular, violando ao direito à intimidade, privacidade e vida privada,</p><p>previsto no artigo 5º, inciso X, da CRFB. Logo, as provas ilícitas devem ser</p><p>desentranhadas dos autos, nos termos do artigo 157 do CPP.</p><p>B) O argumento a ser prestado para questionar a sanção penal aplicada é de que o crime</p><p>de associação para o tráfico não é delito equiparado ao hediondo, pois não está previsto</p><p>no rol taxativo do artigo 1º da Lei 8.072/90, não cabendo analogia in malam partem, em</p><p>respeito ao princípio da legalidade.</p><p>Além disso, o artigo 2º, §1º, da Lei 8072/90 foi declarado inconstitucional pelo STF, por</p><p>violação ao princípio da individualização da pena, previsto no artigo 5º, XLVI, da CRFB.</p><p>Assim, poderá ser aplicado o regime aberto.</p><p>15</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão exige do candidato conhecimento sobre uma pluralidade de temas, destacando-se os</p><p>temas prova ilícita, Lei nº 11.343/06 e crimes hediondos. Narra o enunciado que Wesley foi</p><p>abordado por policiais militares e, apesar de nada ilícito ter sido encontrado com ele, os policiais,</p><p>sem autorização, apreenderam seu celular e obtiveram acesso às conversas de Wesley via</p><p>aplicativo whatsapp e ao álbum de fotografias, onde encontraram imagens de Wesley</p><p>supostamente com armas de fogo. Com base nesse conteúdo do celular, Wesley foi preso em</p><p>flagrante, denunciado e condenado como incurso nas sanções penais do Art. 35 da Lei nº</p><p>11.343/06.</p><p>A) Sim, existe argumento para questionar as provas que serviram de fundamento para a</p><p>condenação, tendo em vista que se trata de provas ilícitas. As provas utilizadas pelo magistrado</p><p>foram obtidas com violação ao direito à intimidade, já que os policiais obtiveram acesso ao teor</p><p>das conversas de Wesley por mensagens e suas fotografias sem sua autorização ou sem prévia</p><p>autorização judicial. Ocorreu violação à garantia de inviolabilidade da intimidade e vida privada,</p><p>assegurada no Art. 5º, inciso X, da CRFB, já que não houve o indispensável requerimento (e</p><p>autorização judicial) de quebra de sigilo de dados. Dessa forma, estamos</p><p>aos itens a seguir.</p><p>A) O que pode ser alegado em favor de Arnaldo em matéria processual? Justifique. (Valor:</p><p>0,60)</p><p>B) Qual argumento de direito material poderia ser apresentado? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>107</p><p>A) A alegação em favor de Arnaldo em matéria processual seria a de nulidade da</p><p>intimação e dos demais atos, na forma do artigo 564, inciso IV, do Código de Processo</p><p>Penal. No caso, a intimação deveria ter sido feita na pessoa do réu, Arnaldo, de modo que</p><p>ele ficou privado de efetuar sua autodefesa na audiência de instrução e julgamento. Desta</p><p>forma, houve a violação do Princípio da Ampla Defesa ou do Contraditório ou do Princípio</p><p>do Devido Processo Legal, na forma do artigo 5º, inciso LV e LIV, da Constituição Federal.</p><p>B) O argumento de direito material a ser apresentado é de que o delito de estupro de</p><p>vulnerável tem como vítima pessoa menor de 14 anos, conforme dispõe o artigo 217-A,</p><p>caput, do Código Penal. Todavia, Mônica possuía 14 anos e, portanto, capacidade para</p><p>consentir a relação sexual. Dessa forma, o fato é atípico, devendo Arnaldo ser absolvido,</p><p>conforme artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.</p><p>108</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Nulidade da intimação e dos demais atos, na forma do Art. 564, inciso IV, do CPP. A intimação</p><p>deveria ter sido feita na pessoa do réu, Arnaldo, de modo que ele ficou privado de efetuar sua</p><p>autodefesa na audiência de instrução e julgamento, restando evidente o prejuízo diante da</p><p>condenação. Houve, portanto, violação ao Princípio da Ampla Defesa e do Contraditório ou ao</p><p>Princípio do Devido Processo Legal, na forma do Art. 5º, incisos LV e LIV, da CRFB/88.</p><p>B) Arnaldo deve ser absolvido, na forma do Art. 386, inciso III, do CPP, porque o delito de estupro</p><p>de vulnerável tem como vítima pessoa menor de 14 anos, conforme o Art. 217-A, caput, do CP.</p><p>Mônica tinha 14 anos e, portanto, capacidade para consentir a relação sexual. Dessa forma, o</p><p>fato é atípico.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. A intimação deveria ter sido feita na pessoa do réu, Arnaldo, de modo</p><p>que ele ficou privado de efetuar sua autodefesa na audiência de instrução</p><p>e julgamento, em violação ao Princípio da Ampla Defesa ou do</p><p>Contraditório ou do Princípio do Devido Processo Legal (0,35). Houve,</p><p>portanto, nulidade da intimação e dos demais atos subsequentes (0,15),</p><p>na forma do Art. 564, inciso IV, do CPP ou do Art. 5º, incisos LV e LIV, da</p><p>CRFB/88 (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>B. O delito de estupro de vulnerável tem como vítima pessoa menor de 14</p><p>anos, conforme o Art. 217-A, caput, do CP. Mônica tinha 14 anos e,</p><p>portanto, capacidade para consentir a relação sexual (0,35). Assim, o fato</p><p>é atípico, devendo Arnaldo ser absolvido (0,20), segundo o Art. 386, inciso</p><p>III, do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,20/0,30/0,35/</p><p>0,45/0,55/0,65</p><p>109</p><p>29) 36º Exame – Questão 1</p><p>Ana Beatriz foi denunciada pelo Ministério Público pela prática dos crimes de falsificação de</p><p>documento particular (Art. 298 do CP) e estelionato (Art. 171 do CP), em concurso material (Art.</p><p>69 do CP), por ter obtido vantagem patrimonial ilícita às custas da vítima Rita (pessoa civilmente</p><p>capaz e mentalmente sã, à época com 21 anos de idade), induzindo-a e mantendo-a em erro,</p><p>mediante meio fraudulento. Segundo narra a denúncia, em julho de 2020 Ana Beatriz falsificou</p><p>bilhete de loteria premiado e o vendeu para Rita por metade do valor do suposto prêmio,</p><p>alegando urgência em receber valor em espécie para poder custear cirurgia da sua filha. Rita,</p><p>envergonhada, não procurou as autoridades públicas para solicitar a apuração dos fatos. A</p><p>denúncia foi oferecida ao Juízo competente em dezembro de 2020.</p><p>Sobre a hipótese, responda aos itens a seguir.</p><p>A) Qual é a tese jurídica de mérito que pode ser invocada pela defesa técnica de Ana</p><p>Beatriz? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Qual é a tese jurídica processual que pode ser invocada pela defesa técnica de Ana</p><p>Beatriz? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>110</p><p>A) A tese jurídica de mérito que pode ser alegada é a ocorrência do princípio da</p><p>consunção. No caso, Ana Beatriz falsificou bilhete de loteria premiado com o fim de</p><p>praticar o delito de estelionato. Dessa forma, o crime-meio de falsificação de documento</p><p>particular é absorvido pelo crime-fim de estelionato, conforme a Súmula nº 17 do STJ.</p><p>B) A tese jurídica processual que pode ser invocada pela defesa de Ana Beatriz é a</p><p>necessidade de rejeição da denúncia por falta de representação da vítima. No caso, a</p><p>vítima Rita, envergonhada com o fato, não procurou as autoridades públicas para solicitar</p><p>a apuração dos fatos. Todavia, o crime de estelionato, em regra, é de ação penal pública</p><p>condicionada à representação, nos termos do artigo 171, §5º, do Código Penal. Dessa</p><p>forma, diante da ausência de representação, a denúncia deve ser rejeitada.</p><p>111</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) A tese jurídica de mérito é a ocorrência de consunção, pois o crime-meio de falsificação de</p><p>documento particular é absorvido pelo crime-fim de estelionato, nos termos da Súmula nº 17 do</p><p>STJ (“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este</p><p>absorvido.”).</p><p>B) A tese jurídica processual que pode ser invocada pela defesa técnica de Ana Beatriz é a</p><p>necessidade de rejeição da denúncia por falta representação da vítima, pois, a partir da Lei nº</p><p>13.964/19, o crime de estelionato, em regra, comporta ação penal de iniciativa pública</p><p>condicionada à representação (Art. 171, § 5º, do CP).</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. A tese jurídica de mérito é a ocorrência de consunção, pois o crime-meio</p><p>de falsificação de documento particular é absorvido pelo crime-fim de</p><p>estelionato (0,55), nos termos da Súmula nº 17 do STJ (0,10).</p><p>0,00/0,55/0,65</p><p>B. A tese jurídica processual é a necessidade de rejeição da denúncia por</p><p>falta de representação da vítima, pois, a partir da Lei nº 13.964/19, o crime</p><p>de estelionato, em regra, comporta ação penal de iniciativa pública</p><p>condicionada à representação (0,50), segundo o Art. 171, § 5º, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>112</p><p>30) 36º Exame – Questão 2</p><p>David foi denunciado pela prática do crime de descaminho (Art. 334 do Código Penal), por</p><p>supostamente ter importado contêiner contendo 1 tonelada de materiais têxteis de procedência</p><p>estrangeira sem a quitação do imposto de importação devido à União, que soma R$ 750,00</p><p>(setecentos e cinquenta reais). Na cota que acompanha a denúncia, o Ministério Público Federal</p><p>se manifestou pelo não oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo a David,</p><p>pois o acusado possui anotação na sua Folha de Antecedentes Criminais (FAC), relativa à</p><p>condenação definitiva à pena de multa pelo crime de ameaça (Art. 147 do Código Penal). Sobre</p><p>a hipótese apresentada, responda aos itens a seguir.</p><p>A) Qual é a tese de mérito que pode ser invocada pelo Defensor técnico de David no caso</p><p>concreto? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Qual é a questão preliminar ao mérito que pode ser invocada pelo Defensor técnico de</p><p>David no caso concreto? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>113</p><p>A) A tese de mérito que pode ser alegada é a de atipicidade da conduta, em razão do</p><p>reconhecimento do princípio da insignificância/bagatela. No caso, David foi denunciado</p><p>por supostamente ter importado contêiner contendo 1 tonelada de materiais têxteis de</p><p>procedência estrangeira sem a quitação do imposto de importação devido à União, que</p><p>soma R$ 750,00. Todavia, conforme as atualizações efetivadas pelas Portarias nº 75 e</p><p>130, ambas do</p><p>Ministério da Fazenda, a União está dispensada de ajuizar ações de</p><p>cobrança de tributos cujo valor esteja aquém do patamar de R$ 20.000.00. Ainda, note-se</p><p>que o valor de R$ 1.000,00 segue insignificante, se considerarmos o valor previsto no Art.</p><p>20, § 2º, da Lei nº 10.522/02. Dessa forma, considerando que o valor do tributo não</p><p>quitado é de R$ 750,00, deve ser reconhecida a atipicidade da conduta.</p><p>B) A questão preliminar ao mérito que pode ser alegada seria o cabimento da suspenção</p><p>condicional do processo. No caso, o Ministério Público Federal se manifestou pelo não</p><p>oferecimento de proposta de suspenção condicional do processo, pois o acusado possui</p><p>anotação na Folha de Antecedentes Criminais, relativa à condenação definitiva à pena de</p><p>multa pelo crime de ameaça. Todavia, a condenação anterior à pena de multa não</p><p>inviabiliza a suspenção condicional do processo, por aplicação analógica do artigo 77, §1º,</p><p>do Código Penal. Dessa forma, a defesa deve requerer a remessa dos autos à autoridade</p><p>superior do Ministério Público Federal, nos termos da Súmula 696 do STF.</p><p>114</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) A tese de mérito a ser invocada pelo defensor técnico de David é a da atipicidade por</p><p>insignificância da conduta, pois a União está dispensada de ajuizar ações de cobrança de tributos</p><p>cujo valor esteja aquém do patamar de R$ 20.000.00 (vinte mil reais), com as atualizações</p><p>efetivadas pelas Portarias nº 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda. Note-se que o valor de</p><p>R$ 1.000,00 (mil reais) segue insignificante, se considerarmos o valor previsto no Art. 20, § 2º,</p><p>da Lei nº 10.522/02.</p><p>B) A questão preliminar ao mérito a ser invocada pelo defensor técnico de David é a da</p><p>necessidade de remessa dos autos à autoridade superior do Ministério Público Federal nos</p><p>termos da Súmula nº 696 do STF, pois a condenação anterior à pena de multa não inviabiliza a</p><p>suspensão condicional do processo, por aplicação analógica do Art. 77, § 1º, do Código Penal.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. A tese de mérito é a da atipicidade (0,30) por insignificância da</p><p>conduta (0,20), pois a União está dispensada de ajuizar ações de</p><p>cobrança de tributos cujo valor esteja aquém do patamar de R$</p><p>20.000.00 (vinte mil reais), com as atualizações efetivadas pelas</p><p>Portarias nº 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda ou R$ 1.000,00</p><p>(mil reais) nos termos do Art. 20, § 2º, da Lei nº 10.522/02 (0,15).</p><p>0,00/0,15/0,20/0,30/</p><p>0,35/0,45/0,50/0,65</p><p>B. A questão preliminar é que a condenação anterior à pena de multa</p><p>não inviabiliza a suspensão condicional do processo (0,35), por</p><p>aplicação analógica do Art. 77, § 1º, do CP (0,10), devendo haver a</p><p>remessa dos autos à autoridade superior do Ministério Público Federal,</p><p>nos termos da Súmula 696 do STF (0,15).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>115</p><p>31) 36º Exame – Questão 3</p><p>Marcelo, condenado em regime semiaberto, formulou, por meio de sua defesa técnica, pedido</p><p>de remição de penas em razão de trabalho realizado no curso da execução, o qual é executado</p><p>mediante supervisão de seu empregador e com autorização do Juiz da Vara de Execuções</p><p>Penais. O Juízo, contudo, indeferiu o pedido, sob o argumento de que Marcelo está em prisão</p><p>domiciliar, ante a ausência de vagas do regime semiaberto do Estado. Assim, por analogia com</p><p>o regime aberto, Marcelo não pode usufruir da remição por trabalho, indeferindo o pedido. A</p><p>defesa interpôs Agravo em Execução no prazo de cinco dias da intimação da decisão, o qual foi</p><p>inadmitido, sob o fundamento de não estar acompanhado das razões respectivas.</p><p>Na qualidade de advogado de Marcelo, responda às perguntas a seguir.</p><p>A) Qual o recurso cabível contra a decisão do Juiz que inadmitiu o recurso interposto?</p><p>Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Qual o direito material a ser pleiteado por Marcelo? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou</p><p>transcrição do dispositivo legal não pontua.</p><p>116</p><p>A) O recurso cabível contra a decisão que inadmite o Agravo em Execução é a Carta</p><p>Testemunhável, com base no artigo 639, inciso I, do Código de Processo Penal.</p><p>B) A tese de direito material que pode ser utilizada é a de que apenas o regime aberto</p><p>inadmite a remição de penas por trabalho, sendo inviável a aplicação de analogia</p><p>prejudicial ao réu. No caso, Marcelo foi condenado em regime semiaberto e formulou</p><p>pedido de remição de penas em razão de trabalho, sendo o pedido indeferido pelo Juiz</p><p>sob o argumento de que Marcelo está em prisão domiciliar. Todavia, Marcelo está em</p><p>prisão domiciliar ante a ausência de vagas no regime semiaberto do Estado. Desta forma,</p><p>considerando a expressa previsão legal de admissibilidade da remissão por trabalho no</p><p>regime semiaberto, Marcelo faz jus a remição de pena por trabalho, na forma do artigo</p><p>126, caput, da LEP.</p><p>117</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão envolve conhecimentos de execução penal e de recursos. Nesse sentido:</p><p>A) Nota-se que a decisão que inadmite o Agravo em Execução desafia Carta Testemunhável, na</p><p>forma do Art. 639, inciso I, do CPP.</p><p>B) Quanto ao direito material, apenas o regime aberto inadmite a remição de penas por trabalho,</p><p>sendo inviável, em direito penal, a aplicação de analogia prejudicial ao réu. Assim, conclui-se</p><p>que há expressa previsão legal de admissibilidade da remissão por trabalho no regime</p><p>semiaberto, na forma do Art. 126, caput, da LEP, a qual deve ser admitida.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Carta testemunhável (0,55), na forma do Art. 639, inciso I, do CPP</p><p>(0,10).</p><p>0,00/0,55/0,65</p><p>B. O regime semiaberto de cumprimento de pena admite a remição de</p><p>penas por trabalho (0,35), na forma do Art. 126, caput, da LEP (0,10)</p><p>sendo incabível, no Direito Penal, a analogia prejudicial ao réu (0,15).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>118</p><p>32) 36º Exame – Questão 4</p><p>Juntos, Bruno, Leila, Valter e Vinícius cometeram determinado ilícito em 2016. O processo veio</p><p>a ser desmembrado, de forma que Bruno aceitou a suspensão condicional do processo, em 2017;</p><p>Leila foi condenada, definitivamente, em 2018, tendo terminado de cumprir a sua condenação</p><p>em 2020; Valter foi condenado em primeira instância, porém, interpôs recurso, vindo a transitar</p><p>em julgado o acórdão condenatório em 2022; e Vinícius, por sua vez, não foi encontrado para</p><p>ser citado, tendo o processo sido suspenso, assim como o prazo prescricional, na forma do Art.</p><p>366 do CPP. Em 2021, os amigos se reúnem e praticam novo ilícito penal, sem violência ou</p><p>grave ameaça à pessoa. Na qualidade de advogado de todos eles, responda às questões a</p><p>seguir.</p><p>A) À vista dos antecedentes criminais mencionados, e considerando preenchidos todos</p><p>os demais requisitos legais, há algum acusado(s) impedido(s) de se beneficiar, em tese,</p><p>de oferta de acordo de não persecução penal? justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Caso condenado(s) pelo novo fato, se fixada pena abaixo de quatro anos, qual(is)</p><p>acusado(s) poderá(ão) se beneficiar do regime aberto? justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou</p><p>transcrição do dispositivo legal não pontua.</p><p>119</p><p>A) Leila e Bruno estão impedidos de se beneficiar de Acordo de Não Persecução Penal.</p><p>O acusado Bruno está impedido em virtude de ter sido beneficiado com a suspensão</p><p>condicional do processo nos 5 anos anteriores ao cometimento da infração, conforme</p><p>dispõe o artigo 28-A, §2º, III, do Código de Processo Penal. Já a acusada Leila está</p><p>impedida em virtude de ser reincidente, conforme o artigo 28-A, §2º, II, do Código de</p><p>Processo Penal.</p><p>B) Poderão se beneficiar do regime aberto, em tese, os acusados Bruno, Valter e Vinícius,</p><p>uma vez que são considerados primários, de acordo com o artigo 33, §2º, alínea “c”, do</p><p>Código Penal. Dessa forma, apenas a acusada Leila não seria beneficiada com o regime</p><p>aberto, uma vez</p><p>que é reincidente, incidindo para ela obrigatoriamente o regime inicial, ao</p><p>menos, semiaberto.</p><p>120</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão envolve conhecimentos acerca de antecedentes criminais e reincidência. O conceito</p><p>de reincidência é normativo, não se identifica pela mera existência de condenação anterior, na</p><p>forma do art. 63, do CP, necessário que o trânsito em julgado da condenação anterior tenha</p><p>ocorrido antes do novo fato. De resto, o fato anterior, com trânsito em julgado posterior ao novo</p><p>ilícito pode ensejar o reconhecimento de maus antecedentes, mas não, de reincidência. A</p><p>aceitação de suspensão condicional do processo não enseja o reconhecimento de maus</p><p>antecedentes, assim como a existência de ações penais em curso, nos termos do enunciado nº</p><p>444, da Súmula da Jurisprudência do STJ. Entretanto, há óbice normativo expresso à oferta de</p><p>ANPP a quem, nos cinco anos anteriores, recebeu proposta de suspensão condicional do</p><p>processo.</p><p>A) Assim, em vista de tais informações, certo é que apenas Leila e Bruno estão impedidos de se</p><p>beneficiar de Acordo de Não Persecução Penal, devendo ser mencionado o Art. 28-A, § 2º,</p><p>incisos II e III, respectivamente, do CPP.</p><p>B) Quanto a questão material, apenas Leila é reincidente, incidindo na obrigatoriedade de regime</p><p>inicial, ao menos, semiaberto. Todos os demais podem, em tese, serem beneficiados com o</p><p>regime aberto, pois considerados primários. Art. 33, § 2º, alínea c, do CP.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A1. Bruno, em razão de ter celebrado suspensão condicional do</p><p>processo no quinquênio antecedente (0,20), na forma do Art. 28-A, § 2º,</p><p>inciso III, do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,20/0,30</p><p>A2. Leila, por ser tecnicamente reincidente (0,20) na forma do Art. 28-A,</p><p>§ 2º, inciso II, do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,20/0,30</p><p>B. Bruno, Valter e Vinícius podem iniciar o cumprimento da pena em</p><p>regime aberto, pois não são reincidentes (0,55), na forma do Art. 33, §</p><p>2º, c, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,55/0,65</p><p>121</p><p>33) 37º Exame – Questão 1</p><p>Em 15 de julho de 2020, surgiu uma calorosa discussão entre os amigos Pedro e Júnior, durante</p><p>uma comemoração de aniversário em um bar da cidade. Pedro, sem querer mais discussões,</p><p>levantou-se para ir embora. Júnior, ainda transtornado, olhou para a porta do bar e, vendo que o</p><p>amigo ia embora, arremessou uma caneca de cerveja contra ele, no intuito de lesioná-lo. Ocorre</p><p>que Júnior errou o alvo e acabou acertando seu próprio irmão, Geraldo, que usava uma camisa</p><p>idêntica à de Pedro, causando-lhe lesão leve. Em 16 de julho de 2020, a lesão leve foi atestada</p><p>em laudo pericial e o fato foi registrado na Delegacia, por Pedro e Geraldo, que acharam absurda</p><p>a reação de Júnior. Em 23 de julho de 2020, Pedro e Geraldo mudaram de ideia. Eles retornaram</p><p>à Delegacia, afirmando que Júnior tem sangue quente e que não merecia ser processado, porque</p><p>era boa pessoa. Relataram que se conhecem há muitos anos, que é comum discutirem daquela</p><p>forma e que já tinham esquecido o ocorrido. Em 30 de março de 2021, o Ministério Público</p><p>ofereceu denúncia em face de Júnior, como incurso nas sanções do Art. 129, caput, agravada</p><p>pelo Art. 61, inciso II, alínea e, ambos do CP, crime de lesão corporal leve agravado por ter sido</p><p>cometido contra irmão.</p><p>Sobre o caso narrado, responda aos itens a seguir.</p><p>A) Qual o argumento de direito processual que pode ser alegado em favor de Júnior para</p><p>o não recebimento da denúncia? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) É cabível a incidência da agravante imputada em desfavor de Júnior? Justifique. (Valor:</p><p>0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>122</p><p>A) O argumento de direito processual é de que houve a retratação da representação, uma</p><p>vez que antes do oferecimento da denúncia, Geraldo manifestou não ter interesse em</p><p>processar Júnior, nos termos do artigo 25 do Código de Processo Penal. Desse modo,</p><p>tendo em vista a ausência de procedibilidade para a ação penal pública condicionada,</p><p>deve ser rejeitada a denúncia, nos termos do artigo 395, inciso II, do Código de Processo</p><p>Penal.</p><p>B) Não é cabível a incidência da agravante imputada em desfavor de Júnior, uma vez que</p><p>houve erro de tipo acidental, tendo Júnior errado quanto à pessoa a ser atingida, conforme</p><p>previsto no artigo 20, § 3º do Código Penal. Desse modo, não devem ser consideradas as</p><p>condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem Júnior queria atingir,</p><p>incidindo no caso, o artigo 73, do Código Penal, tendo em vista o erro na execução.</p><p>Assim, deve ser afastada a agravante do artigo 61, inciso II, alínea “e” do Código Penal.</p><p>123</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Embora tenha feito o registro de ocorrência sobre o fato, dias após e antes do oferecimento</p><p>da denúncia, Geraldo manifestou na Delegacia que não tinha interesse em processar Júnior.</p><p>Houve, portanto, retratação da representação, na forma do Art. 25, a contrario sensu, do CPP.</p><p>Ausente a condição de procedibilidade para a ação penal pública condicionada, a denúncia deve</p><p>ser rejeitada pelo juiz, na forma do Art. 395, inciso II, do CPP.</p><p>B) Não. Houve erro de tipo acidental, erro quanto à pessoa, previsto no Art. 20, § 3º, do CP.</p><p>Nesse caso, não se consideram as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa</p><p>contra quem o agente queria praticar o crime. Júnior, pensando que seu amigo ia embora,</p><p>arremessou uma caneca de cerveja no intuito de lesioná-lo. Entretanto, Júnior acabou acertando</p><p>Geraldo, seu irmão, causando-lhe lesão leve. Alternativamente, admite-se aplicação do Art. 73,</p><p>do CP, com a conclusão de ter havido erro na execução. De todo modo, Júnior está incurso nas</p><p>sanções do crime de lesão corporal leve, na forma do Art. 129, caput, do CP, devendo ser</p><p>afastada a agravante do Art. 61, inciso II, alínea e, do CP.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Ausência de condição de procedibilidade (0,20), pois, houve a</p><p>retratação da representação antes do oferecimento da denúncia (0,30),</p><p>nos moldes do Art. 395, inciso II do CPP OU Art. 25, a contrario sensu,</p><p>do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,20/0,30/</p><p>0,40/0,50/0,60</p><p>B. Não. Houve erro quanto à pessoa OU erro na execução (0,30). Nesse</p><p>caso, não se consideram as condições ou qualidades da vítima, e sim as</p><p>da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime (0,25), conforme</p><p>o Art. 20, § 3º, do CP OU Art. 73 do CP (0,10).</p><p>0,00/0,25/0,30/0,35/</p><p>0,40/0,55/0,65</p><p>124</p><p>34) 37º Exame – Questão 2</p><p>Luís, sócio administrador de Exatas Contábeis S/A, foi condenado pela supressão de tributos</p><p>praticada pela prestação de informações falsas às autoridades fazendárias (Art. 1º, inciso I, da</p><p>Lei nº 8.137/90), apurado definitivamente em procedimento fiscal, no montante de R$</p><p>1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais). A sentença condenou o acusado a uma pena</p><p>de dois anos de reclusão, em regime aberto, substituída por duas penas restritivas de direito a</p><p>serem fixadas pelo MM Juízo de Execução Penal. Expedida a carta de execução ao Juízo de</p><p>Execução Penal, este fixou as penas restritivas substitutivas da pena privativa de liberdade em</p><p>prestação de serviços à comunidade, em jornada semanal de 8h (oito horas), calculada à razão</p><p>de uma hora por dia de condenação, e prestação pecuniária, esta equivalente ao valor do</p><p>prejuízo apurado (R$ 1.500.000,00). Insatisfeito com a decisão do Juiz de Execução Penal, Luís</p><p>solicita que você, como advogado(a), adote as providências necessárias à observância da</p><p>legalidade estrita na aplicação das penas restritivas de direitos. Na qualidade de advogado de</p><p>Luís, responda aos itens a seguir.</p><p>A) Qual o recurso cabível contra a decisão mencionada? Fundamente. (Valor: 0,65)</p><p>B) Qual o argumento de mérito a ser deduzido em favor de Luís? Fundamente. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo</p><p>legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>125</p><p>A) O recurso cabível contra a decisão mencionada pelo Juízo de Execução Penal, é o</p><p>Agravo em Execução, nos termos do artigo 197 da Lei de Execução Penal.</p><p>B) O argumento de mérito a ser deduzido em favor de Luís, é de que a pena de prestação</p><p>pecuniária tem o limite de valor de 360 salários-mínimos, conforme prevê o artigo 45, § 1º</p><p>do Código Penal.</p><p>126</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Tendo em vista que foi prolatada decisão pelo Juízo de Execução Penal, a decisão deve ser</p><p>atacada pela via de agravo em execução, na forma do Art. 197 da LEP.</p><p>B) O advogado de Luís deve alegar que a pena de prestação pecuniária é limitada ao valor de</p><p>360 salários-mínimos, conforme Art. 45, § 1º, do Código Penal.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Agravo em execução (0,55), na forma do Art. 197 da LEP (0,10). 0,00/0,55/0,65</p><p>B. Inobservância da limitação da pena de prestação pecuniária ao</p><p>montante de 360 salários-mínimos (0,50), na forma do Art. 45, § 1º, do</p><p>Código Penal (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>127</p><p>35) 37º Exame – Questão 3</p><p>Débora e Cristiane são amigas e se encontraram em um restaurante. Durante o almoço, elas</p><p>começaram a conversar, de forma reservada e sem expectativa de estarem sendo ouvidas por</p><p>terceiros, sobre Jéssica, conhecida de ambas. As amigas mencionaram que Jéssica era “ridícula”</p><p>e que “se acha”. Jenifer, amiga de Jéssica, sem que Débora e Cristiane percebessem,</p><p>aproximou-se da mesa de ambas de forma discreta e iniciou uma gravação ambiental (com</p><p>amplificação sonora), captando o áudio da conversa com todas as qualidades negativas que</p><p>Débora e Cristiane atribuíam a Jéssica. Jenifer entregou a gravação à ofendida. De posse da</p><p>referida gravação ambiental, Jéssica ajuizou uma queixa-crime contra Débora e Cristiane,</p><p>dando-as como incursas nas penas do Art. 140, caput, do Código Penal.</p><p>Na qualidade de advogado(a) contratado(a) por Débora e Cristiane, responda às questões a</p><p>seguir.</p><p>A) Qual a tese de direito processual a ser deduzida em favor das quereladas, notadamente,</p><p>sobre a prova utilizada para embasar a queixa? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Qual a tese de direito material a ser deduzida em favor das quereladas? Justifique.</p><p>(Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>128</p><p>A) A tese de direito processual a ser deduzida em favor das quereladas é de que a prova</p><p>utilizada é ilícita, já que a captação ambiental foi realizada sem autorização judicial,</p><p>conforme prevê o artigo 8º-A da Lei nº 9.296/96 Logo, trata-se de prova ilícita, nos termos</p><p>do artigo 157 do Código de Processo Penal, e/ou artigo 5º, inciso LVI da Constituição</p><p>Federal.</p><p>B) A tese de direito material que pode ser utilizada é que o delito de injúria requer o dolo</p><p>direto de causar ofensa à honra subjetiva da vítima, uma vez que se trata de crime doloso.</p><p>Desse modo, não havendo a intenção de atingir a honra subjetiva de Jéssica, a conduta</p><p>é atípica.</p><p>129</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) A questão processual envolve conhecimentos sobre a (i)licitude de provas produzidas</p><p>mediante gravação ambiental, sem autorização judicial e sem conhecimento de qualquer dos</p><p>interlocutores, devendo ser destacada a inexistência de qualquer objetivo de autodefesa. Assim,</p><p>a conduta de Jenifer viola o direito à intimidade das quereladas, tratando-se de prova ilícita, ante</p><p>a violação expressa do que dispõe o Art. 8º-A da Lei nº 9.296/96 (ou Art. 157, do CPP ou Art. 5º,</p><p>inciso LVI, da CRFB/88). A conduta de Jenifer, inclusive, poderia em tese ser tipificada no Art.</p><p>10-A, da mesma lei, pois não autorizada por nenhuma das interlocutoras.</p><p>B) Quanto à questão material, deve ser observado que o delito de injúria se caracteriza por ser</p><p>um delito doloso, requer o dolo direto de causar ofensa à honra subjetiva da vítima. Dessa forma,</p><p>somente é possível a prática do delito se houver intenção deliberada de atingir o destinatário da</p><p>ofensa, o que não ocorreu no caso presente, pois Débora e Cristiane conversavam entre si, sem</p><p>qualquer expectativa de fazer chegar à Jéssica as ofensas proferidas. Por isso, deve ser</p><p>reconhecida a atipicidade da conduta.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Ilicitude do meio de obtenção da prova, produzida a partir da captação</p><p>ambiental realizada por Jenifer (0,35), pois a gravação ambiental</p><p>dependeria de autorização judicial (0,20), na forma do Art. 8º-A da Lei nº</p><p>9.296/96 OU Art. 157, do CPP OU Art. 5º, inciso LVI, da CRFB/88 (0,10).</p><p>0,00/0,20/0,30/</p><p>0,35/0,45/0,65</p><p>B. Atipicidade da conduta (0,25), diante da inexistência de dolo de</p><p>atingimento da honra subjetiva da vítima Jéssica OU ausência de</p><p>intenção das quereladas de fazer chegar à Jéssica o teor da conversa</p><p>privada havida entre elas (0,35).</p><p>0,00/0,25/</p><p>0,35/0,60</p><p>130</p><p>36) 37º Exame – Questão 4</p><p>Lúcio e Adamastor, em comunhão de ações e desígnios, com o emprego de arma de fogo,</p><p>subtraíram o veículo dirigido pela vítima, Vilma. Pela dinâmica delituosa, Lúcio empunhava a</p><p>arma de fogo contra a cabeça da vítima, enquanto Adamastor exigia a entrega das chaves do</p><p>veículo, sob palavras de ordem e graves ameaças contra a vida de Vilma, afirmando que “caso</p><p>não entregasse o veículo, levaria um tiro.” Ambos foram condenados, sendo que Lúcio e o</p><p>Ministério Público não recorreram da condenação. Adamastor, por meio de sua defesa técnica</p><p>(distinta da defesa de Lúcio), interpôs recurso, alegando que a arma de fogo era portada apenas</p><p>por Lúcio e que esta era incapaz de produzir disparos. Lúcio afirma ao advogado que se sentiu</p><p>itraído pelo argumento deduzido por Adamastor, sendo sua intenção, apenas, que ambos</p><p>tivessem a mesma condenação.</p><p>Na qualidade de advogado de Lúcio, responda às questões a seguir.</p><p>A) A primeira tese recursal pode garantir tratamento penal mais vantajoso a Adamastor?</p><p>Justifique, levando em consideração o Direito Penal aplicável. (Valor: 0,65)</p><p>B) Caso o Tribunal acolha a segunda tese recursal de Adamastor, esta poderia ser</p><p>aproveitada a Lúcio? Justifique, considerando as normas de Direito Processual Penal</p><p>aplicáveis. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>131</p><p>A) A tese recursal, no sentido do afastamento da majorante do emprego de arma de fogo,</p><p>uma vez que somente Lúcio a portava, não poderá garantir tratamento mais vantajoso a</p><p>Adamastor, pois o emprego de arma de fogo se trata de circunstância objetiva, razão pela</p><p>qual se comunica entre os agentes, nos termos do artigo 30 do Código Penal, que prevê</p><p>a incomunicabilidade das circunstâncias objetivas. Nesse caso, mesmo que apenas Lúcio</p><p>portasse a arma de fogo, havia concurso de pessoas, sendo o emprego de arma uma</p><p>circunstância objetiva, comunicando-se assim a todos os coautores.</p><p>B) Sim, esta tese poderia ser aproveitada por Lúcio, tendo em vista o efeito extensivo do</p><p>recurso, que foi embasado em circunstância objetiva, na forma do artigo 580, do Código</p><p>de Processo Penal.</p><p>132</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão versa sobre concurso de pessoas, a comunicabilidade de circunstâncias e o reflexo</p><p>sobre o direito processual penal. A) Não, pois a dinâmica delitiva deixa claro que ambos agiram</p><p>com dolo, conhecimento e vontade de empregar a arma de fogo na atividade criminosa. Nesse</p><p>sentido, era exigido do examinando o conhecimento do Art. 30 do Código Penal, que trata sobre</p><p>a incomunicabilidade das circunstâncias pessoais, salvo quando elementares do crime. Assim,</p><p>pouco importa se quem portava a arma era Lúcio, havendo concurso de pessoas, e sendo o</p><p>emprego de arma uma circunstância objetiva, há comunicabilidade a todos os co-autores. Por</p><p>isso, a alegação de que apenas Lúcio portava a arma não poderia, no caso, prejudicá-lo ou</p><p>conceder a Adamastor tratamento</p><p>penal mais vantajoso.</p><p>B) Em razão do exposto acima, quanto à questão processual, esperava-se a resposta positiva,</p><p>pois o efeito extensivo do recurso beneficia Lúcio por ser embasado em circunstância objetiva,</p><p>na forma do Art. 580, do CPP.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Não, pois o emprego de arma é uma circunstância objetiva elementar</p><p>do delito (0,25), razão pela qual há comunicabilidade (0,30), nos termos</p><p>do Art. 30, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,25/0,30/0,35</p><p>0,40/0,55/0,65</p><p>B. Sim, pois o efeito extensivo do recurso beneficia Lúcio por ser</p><p>embasado em circunstância objetiva (0,50), na forma do Art. 580, do</p><p>CPP (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>133</p><p>diante de provas</p><p>ilícitas, que devem ser desentranhadas do processo, nos termos do Art. 157 do CPP.</p><p>B) O argumento a ser apresentado para questionar a sanção penal aplicada é o de que o crime</p><p>de associação para o tráfico não é delito equiparado ao hediondo, diferente do tráfico do Art. 33,</p><p>caput, da Lei nº 11.343/06, tendo em vista que não está previsto no rol taxativo do Art. 1º da Lei</p><p>nº 8.072/90. Em respeito ao princípio da legalidade, não há que se falar em analogia in malam</p><p>partem. Considerando que o crime de associação para o tráfico não está previsto na Constituição</p><p>como equiparado a hediondo e nem é mencionado no Art. 1º da Lei de Crimes Hediondos, não</p><p>pode o magistrado conferir tal natureza em sua decisão, ainda que exista previsão no sentido de</p><p>que o prazo do livramento condicional será de mais de 2/3, prazo esse típico dos crimes</p><p>hediondos e equiparados. Ademais, ainda que fosse considerada a natureza hedionda do delito,</p><p>a previsão de regime inicial fechado obrigatória vem sendo considerada inconstitucional pelos</p><p>Tribunais Superiores (Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90) por violar o princípio da individualização</p><p>da pena.</p><p>16</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Sim, a prova foi obtida por meio ilícito (0,30), diante da</p><p>ausência de autorização judicial para quebra de sigilo de dados</p><p>OU diante da ausência de autorização de Wesley para acesso</p><p>ao conteúdo de seu celular (0,25), com violação ao direito à</p><p>intimidade/privacidade/vida privada (0,10).</p><p>0,00/0,10/0,25/0,30/</p><p>0,35/0,40/0,55/0,65</p><p>B. O crime de associação para o tráfico não é delito equiparado</p><p>a hediondo (0,35) porque não está previsto no Art. 1º da Lei nº</p><p>8.072 OU porque não cabe analogia in malam partem, OU em</p><p>respeito ao princípio da legalidade (0,10), podendo ser aplicado</p><p>regime aberto (0,15).</p><p>0,00/0,10/0,15/0,25/</p><p>0,35/0,45/0,50/0,60</p><p>17</p><p>4) XXIX Exame – Questão 4</p><p>Em processo no qual se imputava a Antônio a prática do crime de constituição de milícia privada,</p><p>foi designada audiência de instrução e julgamento para oitiva das testemunhas arroladas pela</p><p>acusação e pela defesa. No dia da audiência, as testemunhas de acusação não compareceram,</p><p>determinando o magistrado, por economia processual, a oitiva das testemunhas de defesa</p><p>presentes, apesar de o advogado de Antônio se insurgir contra esse fato. Na ocasião, foram</p><p>ouvidas três testemunhas de defesa, dentre as quais Pablo, que prestou declarações falsas para</p><p>auxiliar o colega nesse processo criminal. Identificada sua conduta, porém, houve extração de</p><p>peças ao Ministério Público, que, em 09 de abril de 2019, ofereceu denúncia em face de Pablo,</p><p>imputando-lhe a prática do crime de falso testemunho na forma majorada. No processo de</p><p>Antônio, foi designada nova audiência de instrução e julgamento, ocasião em que foram ouvidas</p><p>as testemunhas de acusação; novamente, Pablo, a seu pedido, prestou declarações,</p><p>confirmando que havia mentido na audiência anterior, mas que agora contava a verdade, o que</p><p>veio a prejudicar a própria defesa do réu. Com base nas declarações das testemunhas de</p><p>acusação e nas novas declarações de Pablo, Antônio veio a ser condenado. Pablo, por sua vez,</p><p>em seu processo pelo crime de falso testemunho, também veio a ser condenado, reconhecendo</p><p>o magistrado a atenuante do Art. 65, inciso III, alínea b, do Código Penal.</p><p>Considerando as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Antônio e</p><p>Pablo.</p><p>A) Qual argumento de direito processual poderá ser apresentado por você para</p><p>desconstituir a sentença condenatória do réu? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Qual o argumento de direito material a ser apresentado pela defesa técnica de Pablo</p><p>para questionar a sentença condenatória? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>18</p><p>A) O argumento de direito processual é que houve violação ao devido processo legal,</p><p>ampla defesa e contraditório, pois houve inversão na ordem de oitiva das testemunhas,</p><p>na medida em que as testemunhas de defesa não poderiam ter sido ouvidas antes das</p><p>testemunhas de acusação, conforme artigos 564, inciso IV e 400, ambos do Código de</p><p>Processo Penal.</p><p>B) O argumento de direito material é que houve retratação antes da sentença ser proferida</p><p>no processo de Antônio. No caso, na nova audiência de instrução e julgamento, Pablo, a</p><p>seu pedido, prestou declarações, confirmando que havia mentido na audiência anterior,</p><p>contando a verdade. Logo, o fato deixou de ser punível, incidindo causa de extinção da</p><p>punibilidade, nos termos do artigo 342, §2º do Código Penal.</p><p>19</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) O advogado de Antônio poderá buscar o reconhecimento da nulidade da sentença</p><p>condenatória em razão da violação ao devido processo legal. Isso porque, de acordo com o Art.</p><p>400 do CPP, na audiência, primeiro devem ser ouvidas as testemunhas da acusação. Somente</p><p>após a produção de provas pela acusação poderiam ser ouvidas as testemunhas de defesa e</p><p>interrogado o acusado. Violando a ordem da oitiva das testemunhas, tendo a defesa se insurgido</p><p>contra tal inversão e ficando claro o prejuízo com a condenação e alteração dos fatos por parte</p><p>de Pablo, deverá ser reconhecida a nulidade do processo desde a primeira audiência de</p><p>instrução e julgamento.</p><p>B) A conduta de Pablo de, em audiência de instrução e julgamento de processo criminal, fazer</p><p>afirmação falsa como testemunha, a princípio, configura o crime realmente imputado: Art. 342, §</p><p>1º, do CP. Ocorre que, até como forma de incentivar a retratação e minorar os prejuízos causados</p><p>em processos, previu o legislador, no Art. 342, § 2º, do CP, que se o agente se retrata ou declara</p><p>a verdade antes da sentença ser proferida no processo em que ocorreu o ilícito, o fato deixa de</p><p>ser punível. No caso, Pablo se retratou, narrou a verdade, antes mesmo de ser proferida a</p><p>sentença condenatória de Antônio. Dessa forma, não poderia o magistrado reconhecer que tal</p><p>retratação funcionaria apenas como atenuante do Art. 65, inciso III, alínea b, do CP, ou</p><p>arrependimento posterior, devendo reconhecer a extinção da punibilidade do agente, já que o</p><p>fato deixa de ser punível.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Houve inversão na ordem de oitiva das testemunhas OU que</p><p>as testemunhas de defesa não poderiam ter sido ouvidas antes</p><p>das testemunhas de acusação (0,40), havendo violação ao</p><p>devido processo legal OU violação à ampla defesa OU violação</p><p>ao contraditório (0,15), conforme o Art. 564, inciso IV, do CPP</p><p>OU Art. 400 do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,40/</p><p>0,50/0,55/0,65</p><p>B. Houve retratação antes da sentença ser proferida no</p><p>processo de Antônio (0,35), deixando o fato de ser punível</p><p>(0,15), nos termos do Art. 342, § 2º, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>20</p><p>5) XXX Exame – Questão 1</p><p>Beto e Juca eram vizinhos em um prédio que veio a ser atingido por incêndio. Em razão as longas</p><p>obras que seriam necessárias para recuperar os apartamentos, decidem se hospedar em quarto</p><p>de hotel por 06 meses, novamente sendo vizinhos de quarto. Em determinada data, policiais</p><p>militares surpreenderam Juca entrando com uma sacola preta no seu quarto do hotel, ficando</p><p>claro que ele estava fugindo ao avistar os agentes da lei. Diante disso, ingressaram no quarto e</p><p>apreenderam 100g de maconha, que estavam na sacola que Juca trazia consigo, e mais 50g de</p><p>cocaína que estavam sendo guardadas no cômodo, sendo confirmado por Juca que o material</p><p>seria destinado à venda. Em seguida, os policiais optaram por fazer diligência também no quarto</p><p>vizinho, que era de Beto, apreendendo uma série de documentos que, após investigação, foi</p><p>verificado que estavam relacionados a um crime de estelionato. O Ministério Público ofereceu</p><p>denúncia em face de Juca pela prática de dois crimes de tráfico em concurso, tendo em vista</p><p>que</p><p>guardava cocaína e trazia consigo maconha. Já Beto, exclusivamente em razão da</p><p>documentação apreendida, foi denunciado pelo crime de estelionato.</p><p>Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) dos denunciados,</p><p>responda aos itens a seguir.</p><p>A) Qual argumento deve ser apresentado pela defesa técnica, em busca da absolvição de</p><p>Beto? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Qual argumento a ser apresentado pela defesa técnica para questionar a capitulação</p><p>jurídica constante na denúncia em face de Juca? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>21</p><p>A) Após apreenderem drogas no quarto de hotel onde estava Juca, policiais ingressaram</p><p>no quarto vizinho, que era de Beto, apreendendo uma série de documentos supostamente</p><p>relacionados a crime de estelionato. Todavia a apreensão dos documentos no quarto de</p><p>Beto constitui prova ilícita (0,15), tendo em vista que o quarto de hotel está amparado pela</p><p>inviolabilidade de domicílio e não havia situação de flagrante delito ou mandado de busca</p><p>e apreensão (0,35), na forma do artigo 5º, inciso XI, da CF/88 OU do artigo 150, § 4º, do</p><p>Código Penal OU do artigo 246 do Código de Processo Penal OU artigo 157 do Código</p><p>de Processo Penal (0,10).</p><p>B) O Ministério Público ofereceu denúncia contra Beto pela prática de dois crimes de</p><p>tráfico em concurso de crimes. Todavia, houve crime único (0,40), pois os dois verbos</p><p>nucleares mencionados pelo Ministério Público, guardar cocaína e trazer maconha foram</p><p>praticados em um mesmo contexto OU diante do princípio da alternatividade OU pelo fato</p><p>de o crime de tráfico ser misto alternativo OU houve uma única violação ao bem jurídico</p><p>protegido (0,25).</p><p>22</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Em busca da absolvição de Beto, a defesa técnica deve alegar que as provas obtidas foram</p><p>ilícitas, tendo em vista que os policiais apreenderam documentos em local amparado pela</p><p>inviolabilidade de domicílio. O Art. 5º, inciso XI, da CRFB/88, garante a todos a inviolabilidade de</p><p>domicílio, prevendo exceção no caso de cumprimento de ordem judicial ou flagrante delito, o que</p><p>não restou configurado no caso. Ademais, o próprio Art. 150, § 4º do CP e o Art. 246 do CPP</p><p>dizem que a expressão “casa” compreende aposento ocupado de habitação coletiva, sendo</p><p>pacífico o entendimento dos Tribunais Superiores no sentido de que quarto de hotel, em especial</p><p>quando habitado com certa permanência, está abrangido pela inviolabilidade de domicílio. Em</p><p>sendo os documentos apreendidos com violação deste direito fundamental as únicas provas,</p><p>impossível a condenação.</p><p>B) Para questionar a capitulação jurídica formulada pelo Ministério Público na denúncia, a defesa</p><p>técnica deveria esclarecer que não houve concurso de crimes, mas sim crime único de tráfico,</p><p>tendo em vista que os verbos núcleos do tipo “guardar” e “trazer” estavam sendo praticados em</p><p>um único contexto. De fato, a apreensão de drogas destinadas à venda configura crime de tráfico,</p><p>sendo certo que a diligência foi válida porque havia situação de flagrante delito a justificar o</p><p>ingresso dos policiais no quarto do hotel. O crime de tráfico de drogas é tipo misto alternativo, de</p><p>modo que a prática de mais de um verbo em um mesmo contexto configura crime único, em</p><p>respeito ao princípio da alternatividade. Apenas quando os verbos são praticados em contextos</p><p>diversos é possível a imputação de delitos autônomos ao mesmo agente, o que não ocorreu na</p><p>situação narrada.</p><p>23</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. O argumento é a ilicitude do meio de obtenção das provas na</p><p>apreensão dos documentos (0,15), tendo em vista que o quarto</p><p>de hotel está amparado pela inviolabilidade de domicílio e não</p><p>havia situação de flagrante delito ou mandado de busca e</p><p>apreensão (0,35), na forma do Art. 5º, inciso XI, da CRFB/88 OU</p><p>do Art. 150, § 4º, do CP OU do Art. 246 do CPP OU Art. 157 do</p><p>CPP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>B. O argumento a ser apresentado é que houve crime único</p><p>(0,40), pois os dois verbos núcleos do tipo foram praticados em</p><p>um mesmo contexto OU diante do princípio da alternatividade</p><p>OU pelo fato de o crime de tráfico ser misto alternativo OU houve</p><p>uma única violação ao bem jurídico protegido (0,25).</p><p>0,00/0,25/0,40/0,65</p><p>24</p><p>6) XXX Exame – Questão 2</p><p>Carleto foi denunciado pela prática do injusto de homicídio simples porque teria desferido</p><p>disparos, com sua arma regular, contra seu vizinho Mário durante uma discussão, causando-lhe</p><p>as lesões que foram a causa da morte da vítima. Logo que recebida a denúncia, Carleto foi</p><p>submetido à exame de insanidade mental, tendo o laudo concluído que ele se encontrava nas</p><p>condições do Art. 26, caput, do Código Penal.</p><p>Finda a primeira etapa probatória do procedimento dos crimes dolosos contra a vida, no momento</p><p>das alegações finais, a defesa técnica de Carleto, escorada em uma das vertentes da prova</p><p>produzida, alegou que o réu atuou em legítima defesa. O juiz, ao final da primeira fase do</p><p>procedimento, absolveu sumariamente o acusado em razão da inimputabilidade reconhecida,</p><p>aplicando a medida de segurança de internação pelo prazo mínimo de 01 ano.</p><p>A família de Carleto, insatisfeita com a medida de segurança aplicada, procura você, como</p><p>advogado(a), para a adoção das medidas cabíveis.</p><p>Considerando o caso narrado, responda, na condição de advogado(a) de Carleto, aos itens a</p><p>seguir.</p><p>A) Qual o recurso cabível para a defesa combater aquela decisão? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Qual a tese jurídica de direito processual que a defesa de Carleto poderá alegar para</p><p>combater a decisão respectiva? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>25</p><p>A) O recurso cabível é Apelação (0,50), com base no artigo 416, do Código de Processo</p><p>Penal (0,10).</p><p>B) O Juiz absolveu sumariamente o réu em razão da inimputabilidade. Todavia, nos</p><p>termos do artigo 415, parágrafo único, do Código de Processo Penal (0,10), o juiz não</p><p>poderia ter absolvido sumariamente em razão da inimputabilidade porque essa não era a</p><p>única tese defensiva (0,40).</p><p>No caso, o Magistrado somente poderia absolver sumariamente com reconhecimento da</p><p>legítima defesa e sem aplicação de medida de segurança, ou submeter o réu a julgamento</p><p>perante o Tribunal do Júri para análise da excludente de ilicitude. (0,15)</p><p>26</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Considerando que a decisão do magistrado foi de absolvição sumária, nos termos do Art. 416</p><p>do CPP, caberá à defesa apresentar recurso de apelação.</p><p>B) Não poderia o magistrado ter absolvido Carleto, com aplicação de medida de segurança, em</p><p>razão da inimputabilidade, tendo em vista que esta não era a única tese apresentada pela defesa.</p><p>Pelo contrário, a defesa de Carleto defendeu que o fato sequer seria ilícito, em razão de legítima</p><p>defesa, tese que, se acolhida pelos jurados, nem mesmo levaria à análise da culpabilidade do</p><p>agente. Sendo a absolvição própria pela legítima defesa, não seria cabível a aplicação de medida</p><p>de segurança. Para que esta seja aplicada, em razão da reconhecida inimputabilidade do agente</p><p>devido à doença mental, exige-se que o mesmo tenha praticado um fato típico e ilícito. Em se</p><p>tratando de crime doloso contra a vida, a competência para o julgamento respectivo é do Tribunal</p><p>do Júri, cabendo aos jurados a decisão se o acusado atuou sob a escora de excludente de</p><p>ilicitude, no caso a da legítima defesa, que encontrava amparo em uma das vertentes dos autos.</p><p>O Art. 415, parágrafo único, do CPP, autoriza a absolvição sumária em razão da inimputabilidade</p><p>do agente, quando esta for a única tese defensiva. Na hipótese, a tese principal é a de excludente</p><p>de ilicitude.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Recurso de apelação</p><p>(0,50), nos termos do Art. 416 do CPP</p><p>(0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>B. O agente não poderia ter sido absolvido sumariamente em</p><p>razão da inimputabilidade porque essa não era a única tese</p><p>defensiva (0,40), somente podendo o magistrado absolver</p><p>sumariamente com reconhecimento da legítima defesa e sem</p><p>aplicação de medida de segurança OU devendo o magistrado</p><p>submetê-lo a julgamento perante o Tribunal do Júri para análise</p><p>da excludente de ilicitude (0,15), nos termos do Art. 415,</p><p>parágrafo único, do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,40/</p><p>0,50/0,55/0,65</p><p>27</p><p>7) XXX Exame – Questão 3</p><p>Eduardo foi preso em flagrante no momento em que praticava um crime de roubo simples, no</p><p>bairro de Moema. Ainda na unidade policial, compareceram quatro outras vítimas, todas narrando</p><p>que tiveram seus patrimônios lesados por Eduardo naquela mesma data, com intervalo de cerca</p><p>de 30 minutos entre cada fato, no bairro de Moema, São Paulo.</p><p>As cinco vítimas descreveram que Eduardo, simulando portar arma de fogo, anunciava o assalto</p><p>e subtraía os bens, empreendendo fuga em uma bicicleta. Eduardo foi denunciado pela prática</p><p>do crime do Art. 157, caput, por cinco vezes, na forma do Art. 69, ambos do Código Penal, e, em</p><p>sede de audiência, as vítimas confirmaram a versão fornecida em sede policial.</p><p>Assistido por seu advogado Pedro, Eduardo confessou os crimes, esclarecendo que pretendia</p><p>subtrair bens de seis vítimas para conseguir dinheiro suficiente para comprar uma motocicleta.</p><p>Disse, ainda, que apenas simulou portar arma de fogo, mas não utilizou efetivamente material</p><p>bélico ou simulacro de arma. O juiz, no momento da sentença, condenou o réu nos termos da</p><p>denúncia, sendo aplicada a pena mínima de 04 anos para cada um dos delitos, totalizando 20</p><p>anos de pena privativa de liberdade a ser cumprida em regime inicial fechado, além da multa. Ao</p><p>ser intimado do teor da sentença, pessoalmente, já que se encontrava preso, Eduardo tomou</p><p>conhecimento que Pedro havia falecido, mas que foram apresentadas alegações finais pela</p><p>Defensoria Pública por determinação do magistrado logo em seguida à informação do</p><p>falecimento do patrono. A família de Eduardo, então, procura você, na condição de advogado(a),</p><p>para defendê-lo.</p><p>Considerando apenas as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de</p><p>Eduardo, constituído para apresentação de apelação, aos itens a seguir.</p><p>A) Existe argumento de direito processual, em sede de recurso, a ser apresentado para</p><p>desconstituir a sentença condenatória? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Diante da confirmação dos fatos pelo réu, qual argumento de direito material poderá</p><p>ser apresentado, em sede de apelação, em busca da redução da sanção penal aplicada?</p><p>Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>28</p><p>A) Sim, há argumento para desconstituir a sentença condenatória. Ao tomar conhecimento</p><p>de que o advogado de Eduardo teria falecido, de imediato o Magistrado encaminhou os</p><p>autos à Defensoria Pública para apresentação de alegações finais. Todavia, Eduardo</p><p>deveria ter sido intimado para manifestar seu interesse em constituir novo advogado ou</p><p>ser assistido pela Defensoria Pública, para oferecimento das alegações finais, em razão</p><p>do falecimento do antigo patrono (0,40). Logo, houve violação ao princípio da ampla</p><p>defesa (0,15), nos termos do artigo 5º, inciso LV, da CF/88 (0,10).</p><p>B) O argumento de direito material seria o reconhecimento da continuidade delitiva (0,35),</p><p>na forma do artigo 71 do Código Penal (0,10), já que os crimes são da mesma espécie e</p><p>foram praticados nas mesmas condições de tempo, local e modo de execução (0,15).</p><p>Assim, ao invés do cúmulo material, deveria o magistrado ter aumentado a pena de um</p><p>dos delitos (04 anos) em 1/6 a 2/3, ou, até mesmo, aplicar a previsão do artigo 71,</p><p>parágrafo único, do Código Penal.</p><p>29</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão exige do examinando conhecimentos sobre o tema concurso de crimes, além dos</p><p>direitos básicos dos acusados.</p><p>Narra o enunciado que Eduardo teria praticado cinco crimes de roubo, contra vítimas diferentes,</p><p>todos no bairro de Moema, com curto intervalo de tempo entre os fatos, com o mesmo modo de</p><p>agir, sendo seu objetivo obter dinheiro suficiente para a compra de uma motocicleta.</p><p>A) O argumento a ser apresentado, em sede de recurso, para desconstituir a sentença</p><p>condenatória, é o de que haveria violação ao princípio da ampla defesa, em sua vertente de</p><p>defesa técnica, tendo em vista que as alegações finais foram apresentadas pela Defensoria</p><p>Pública, não sendo o acusado intimado para, querendo, constituir novo patrono. De acordo com</p><p>o que consta do enunciado, durante a instrução processual, Eduardo foi assistido por Pedro,</p><p>advogado por ele constituído. Ocorre que, ao tomar conhecimento de que Pedro teria falecido,</p><p>de imediato o magistrado encaminhou os autos à Defensoria Pública para apresentação de</p><p>alegações finais, o que foi incorreto, já que o réu deveria ter sido intimado pessoalmente, pois</p><p>estava preso, para esclarecer se teria interesse em ser assistido pela Defensoria ou se pretendia</p><p>constituir novo advogado. Ao retirar esse direito do réu, o magistrado violou direito do acusado e</p><p>o princípio da ampla defesa.</p><p>B) Em sede de apelação, poderia ser buscado o reconhecimento da continuidade delitiva, o que</p><p>geraria redução da sanção penal aplicada. De acordo com o que consta do enunciado, de fato</p><p>foram praticados cinco crimes de roubo. Mesmo sem emprego de arma de fogo ou simulacro de</p><p>arma de fogo, houve grave ameaça na subtração dos bens de cinco vítimas diferentes, logo cinco</p><p>patrimônios foram atingidos e cinco crimes autônomos foram praticados. Ainda que Eduardo</p><p>tenha confessado os fatos, a pena mínima foi aplicada, não cabendo redução com fundamento</p><p>na atenuante do Art. 65, III, d, do CP, nos termos da Súmula 231 do STJ. Todavia, o magistrado</p><p>reconheceu o concurso material de crimes e somou a pena aplicada para cada um dos delitos.</p><p>De acordo com o Art. 71 do CP, a pena de apenas um dos crimes será aplicada e aumentada de</p><p>1/6 a 2/3 quando o agente, mediante mais de uma ação, pratica dois ou mais crimes da mesma</p><p>espécie, nas mesmas condições de tempo, lugar, maneira de execução, sendo os subsequentes</p><p>continuação do primeiro. Todas as exigências legais foram preenchidas. Os delitos foram</p><p>30</p><p>praticados no mesmo bairro, com intervalo de 30 minutos entre eles, sempre com o mesmo modo</p><p>de execução.</p><p>A intenção do agente sempre foi praticar vários crimes, um em continuidade do outro, para obter</p><p>dinheiro suficiente para comprar uma motocicleta. Assim, ao invés do cúmulo material, deveria o</p><p>magistrado ter aumentado a pena de um dos delitos (04 anos) em 1/6 a 2/3, ou, até mesmo,</p><p>aplicar a previsão do Art. 71, parágrafo único, do CP.</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Sim. Tendo em vista que Eduardo deveria ter sido intimado</p><p>para manifestar seu interesse em constituir novo advogado ou</p><p>ser assistido pela Defensoria Pública, para oferecimento das</p><p>alegações finais, em razão do falecimento do antigo patrono</p><p>(0,40), houve violação ao princípio da ampla defesa (0,15), nos</p><p>termos do Art. 5º, inciso LV, da CRFB (0,10),</p><p>0,00/0,15/0,25/0,40/</p><p>0,50/0,55/0,65</p><p>B. Reconhecimento da continuidade delitiva (0,35), na forma do</p><p>Art. 71 do CP (0,10), já que os crimes são da mesma espécie e</p><p>foram praticados nas mesmas condições de tempo, local e modo</p><p>de execução (0,15)</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>31</p><p>8) XXX Exame – Questão 4</p><p>Maria foi denunciada pela suposta prática do crime de descaminho, tendo em vista que teria</p><p>deixado de recolher impostos que totalizavam R$ 500,00 (quinhentos reais) pela saída de</p><p>mercadoria, fato constatado graças ao lançamento definitivo realizado pela Administração</p><p>Pública.</p><p>Considerando que constava da Folha de Antecedentes</p><p>Criminais de Maria outro processo pela</p><p>suposta prática de crime de roubo, inclusive estando Maria atualmente presa em razão dessa</p><p>outra ação penal, o Ministério Público deixou de oferecer proposta de suspensão condicional do</p><p>processo.</p><p>Após a instrução criminal em que foram observadas as formalidades legais, sendo Maria</p><p>assistida pela Defensoria Pública, foi a ré condenada nos termos da denúncia. A pena aplicada</p><p>foi a mínima prevista para o delito, a ser cumprida em regime inicial aberto, substituída por</p><p>restritiva de direitos. Maria foi intimada da sentença através de edital, pois não localizada no</p><p>endereço constante do processo.</p><p>A família de Maria, ao tomar conhecimento do teor da sentença, procura você, na condição de</p><p>advogado(a) para prestar esclarecimentos técnicos. Informa estar preocupada com o prazo</p><p>recursal, já que Maria ainda não tinha conhecimento da condenação, pois permanecia presa.</p><p>Na condição de advogado(a), esclareça os seguintes questionamentos formulados pela família</p><p>da ré.</p><p>A) Existe argumento de direito processual para questionar a intimação de Maria do teor</p><p>da sentença condenatória? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Qual argumento de direito material poderá ser apresentado, em eventual recurso, em</p><p>busca da absolvição de Maria? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>32</p><p>A) Sim, existe argumento de direito processual para questionar a intimação de Maria.</p><p>Maria foi intimada da sentença através de edital, pois não localizada no endereço</p><p>constante do processo. Todavia, Maria estava presa por outro processo pela suposta</p><p>prática de crimes de roubo. Logo, deveria ter sido intimada pessoalmente por estar presa</p><p>(0,50), na forma do artigo 392, inciso I, do Código de Processo Penal (0,10).</p><p>B) O argumento seria a atipicidade material da conduta (0,25), em razão do</p><p>reconhecimento do princípio da insignificância/bagatela (0,40). Nos termos do artigo 20</p><p>da Lei 10.522/2002, serão arquivados, sem baixa na distribuição, os autos das execuções</p><p>fiscais de débitos inscritos em dívida ativa da União quando o valor consolidado for igual</p><p>ou inferior àquele estabelecido em ato do Procurador-Geral da Fazenda Nacional. E,</p><p>segundo a Portaria do MF 75/2012, esse valor consolidado é igual ou inferior a R$</p><p>20.000,00. Assim, conforme entendimento pacificado pelos Tribunais Superiores, incide,</p><p>no caso, o princípio da insignificância, uma vez que Maria deixou de recolher imposto no</p><p>valor de R$ 500,00, valor bem inferior ao considerado pela Fazenda Pública para justificar</p><p>o ajuizamento de execução fiscal.</p><p>33</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão exige do examinando conhecimento sobre uma pluralidade de temas, mas em especial</p><p>sobre os elementos do fato típico e sobre as formas de intimação das sentenças condenatórias.</p><p>Narra o enunciado que Maria foi denunciada pela suposta prática de crime de descaminho, crime</p><p>esse que teria gerado um prejuízo aos cofres públicos no valor de aproximadamente R$500,00</p><p>(quinhentos reais), estando incursa nas sanções do Art. 334 do CP.</p><p>A) O advogado, ao ser procurado pela família de Maria, deveria esclarecer que a intimação de</p><p>Maria do teor da sentença condenatória não foi correta, tendo em vista que ela encontrava-se</p><p>presa por outro crime, fato do conhecimento do Ministério Público. De acordo com o Art. 392 do</p><p>CPP, a intimação da sentença deverá ser pessoal se o réu estiver preso, ainda que a prisão seja</p><p>decorrente de outro processo. A intimação por edital deve ocorrer quando o réu estiver em local</p><p>incerto e não sabido, quando não for possível sua localização, ou em alguma das situações</p><p>previstas no Art. 392, incisos IV, V e V, do CPP, o que não foi o caso. A intimação por edital,</p><p>como forma de intimação ficta, prejudicou Maria, que ainda não tinha conhecimento do teor da</p><p>sentença condenatória.</p><p>B) O argumento seria de que a conduta praticada por Maria é atípica em razão da aplicação do</p><p>princípio da insignificância. O conceito de crime envolve um fato típico, ilícito e culpável. Dentro</p><p>da tipicidade, está a tipicidade material, que é a lesão relevante ao bem jurídico protegido. Em</p><p>relação aos crimes tributários, a jurisprudência é tranquila no sentido de que haveria atipicidade</p><p>material sempre que o valor do imposto sonegado não ultrapassar aquele que a Fazenda Pública</p><p>considera baixo o suficiente para não justificar uma cobrança através de execução fiscal. Ainda</p><p>que exista controvérsia se tal valor seria de R$ 10.000,00 ou R$ 20.000,00, fato é que, na</p><p>presente hipótese, considerando que o valor do tributo não ultrapassaria R$ 500,00, o princípio</p><p>da insignificância deveria ser aplicado. A lesão constatada não é grave o suficiente para justificar</p><p>a intervenção do Direito Penal, diante de sua característica de subsidiariedade/última ratio.</p><p>34</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Sim. Existe, tendo em vista que Maria deveria ter sido</p><p>intimada pessoalmente por estar presa (0,50), na forma do Art.</p><p>392, inciso I, do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>B. Atipicidade material da conduta (0,25), em razão do</p><p>reconhecimento do princípio da insignificância/bagatela (0,40).</p><p>0,00/0,25/0,40/0,65</p><p>35</p><p>9) XXXI Exame – Questão 1</p><p>Após receber informações de que teria ocorrido subtração de valores públicos por funcionários</p><p>públicos no exercício da função, inclusive com vídeo das câmeras de segurança da repartição</p><p>registrando o ocorrido, o Ministério Público ofereceu, sem prévio inquérito policial, uma única</p><p>denúncia em face de Luciano e Gilberto, em razão da conexão, pela suposta prática do crime de</p><p>peculato, sendo que, ao primeiro, foi imputada conduta dolosa e, ao segundo, conduta culposa.</p><p>De acordo com a denúncia, Gilberto, funcionário público, com violação do dever de cuidado, teria</p><p>contribuído para a subtração de R$ 2.000,00 de repartição pública por parte de Luciano, que</p><p>teria tido sua conduta facilitada pelo cargo público que exercia. Diante da reincidência de</p><p>Gilberto, já condenado definitivamente por roubo, não foram à ele oferecidos os institutos</p><p>despenalizadores.</p><p>O magistrado, de imediato, sem manifestação das partes, recebeu a denúncia e designou</p><p>audiência de instrução e julgamento. No dia anterior à audiência, Gilberto ressarciu a</p><p>Administração do prejuízo causado. Com a juntada de tal comprovação, após a audiência, foram</p><p>os autos encaminhados às partes para apresentação de alegações finais.</p><p>O Ministério Público, diante da confirmação dos fatos, requereu a condenação dos réus nos</p><p>termos da denúncia. Insatisfeito com a assistência técnica que recebia, Gilberto procura você</p><p>para, na condição de advogado(a), assumir a causa e apresentar memoriais.</p><p>Com base nas informações expostas, responda, como advogado(a) contratado por Gilberto, aos</p><p>itens a seguir.</p><p>A) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de Gilberto para evitar</p><p>sua condenação? (Valor: 0,60)</p><p>B) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado em memoriais para</p><p>questionar toda a instrução produzida? (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>36</p><p>A) Sim, o argumento a ser apresentado em favor de Gilberto é o requerimento da extinção</p><p>da punibilidade, tendo em vista que houve reparação do dano (0,35) antes de ser proferida</p><p>sentença irrecorrível (0,15), nos termos do artigo 312, § 3º, do Código Penal (0,10).</p><p>Gilberto foi denunciado pela prática do crime de peculato culposo, delito esse previsto no</p><p>artigo 312, § 2º, do Código Penal. Todavia, o artigo 312, § 3º, do Código Penal, prevê que</p><p>a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade do</p><p>agente. Logo, deve ser declarada extinta a punibilidade, com base no artigo 312, § 3º, do</p><p>Código Penal.</p><p>B)</p><p>O argumento a ser apresentado é o de que houve nulidade em razão da ausência de</p><p>notificação do réu para apresentação de defesa prévia (0,40), antes do recebimento da</p><p>denúncia (0,15), nos termos do artigo 514 do CPP (0,10). No caso, os crimes foram</p><p>praticados por funcionários públicos contra a Administração Pública. Diante disso, antes</p><p>mesmo do recebimento da denúncia, caberia notificação dos réus para apresentação de</p><p>defesa, o que não foi determinado pelo magistrado que recebeu a denúncia sem qualquer</p><p>manifestação das partes. Cabe destacar que não se aplica a Súmula 330 do STJ, porque</p><p>a ação penal não foi instruída por prévio inquérito policial. Diante do desrespeito à previsão</p><p>do artigo 514 do Código de Processo Penal, caberia reconhecimento de que houve</p><p>violação ao princípio da ampla defesa ou do devido processo legal, previsto no artigo 5º,</p><p>inciso LV, da Constituição Federal.</p><p>37</p><p>Gabarito comentado</p><p>A) Sim, o advogado de Gilberto poderá requerer a imediata extinção da punibilidade, tendo em</p><p>vista que houve reparação do dano antes de ser proferida sentença irrecorrível. Gilberto foi</p><p>denunciado pela prática do crime de peculato culposo, delito esse previsto no Art. 312, § 2º, do</p><p>Código Penal. O Art. 312, § 3º, do CP, prevê uma peculiaridade para essa espécie de crime: a</p><p>reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade do agente. Em</p><p>geral, a reparação do dano, quando antes da denúncia, poderá funcionar como causa de</p><p>diminuição de pena do arrependimento posterior. Em crimes que não admitem arrependimento</p><p>posterior ou quando a reparação do dano for posterior ao recebimento da denúncia, aplica-se,</p><p>em regra, a atenuante prevista no Art. 65, inciso III, alínea b, do CP. Considerando, porém, a</p><p>peculiaridade da natureza culposa do delito, admitiu o legislador a extinção da punibilidade no</p><p>crime de peculato praticado culposamente.</p><p>B) O argumento é o de que houve nulidade em razão da ausência de notificação do réu para</p><p>apresentação de defesa prévia, desrespeitando-se o Art. 514 do CPP, que traz regras próprias</p><p>para o procedimento dos crimes praticados por funcionário público. No caso, os crimes foram</p><p>praticados por funcionários públicos contra a Administração Pública. Diante disso, antes mesmo</p><p>do recebimento da denúncia, caberia notificação dos réus para apresentação de defesa, o que</p><p>não foi determinado pelo magistrado, que recebeu a denúncia sem qualquer manifestação das</p><p>partes. Cabe destacar que não se aplica a Súmula 330 do STJ, porque a ação penal não foi</p><p>instruída por prévio inquérito policial. Diante do desrespeito à previsão do Art. 514 do CPP,</p><p>caberia reconhecimento de que houve violação ao princípio da ampla defesa ou do devido</p><p>processo legal.</p><p>38</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Sim, o argumento de que ocorreu extinção da punibilidade</p><p>diante da reparação do dano pelo réu (0,35), pagamento esse</p><p>que precedeu sentença irrecorrível (0,15), nos termos do Art.</p><p>312, § 3º, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>B. O argumento é de que houve nulidade em razão da ausência</p><p>de notificação do réu para apresentação de defesa prévia (0,40),</p><p>antes do recebimento da denúncia (0,15), nos termos do Art. 514</p><p>do CPP (0,10)</p><p>0,00/0,15/0,25/0,40/</p><p>0,50/0,55/0,65</p><p>39</p><p>10) XXXI Exame – Questão 2</p><p>Em 05 de junho de 2019, Paulo dirigia veículo automotor em via pública, com capacidade</p><p>psicomotora alterada em razão da influência de álcool, ocasião em que veio a atropelar Lúcia</p><p>por avançar cruzamento com o sinal fechado para os veículos. Lúcia sofreu lesões que a</p><p>deixaram com debilidade permanente no braço, o que foi reconhecido pelo laudo pericial</p><p>respectivo, também ficando comprovado o estado clínico em que se encontrava o motorista</p><p>atropelador. Considerando que Paulo arcou com as despesas que Lúcia teve que despender em</p><p>razão do evento, a vítima não quis representar contra ele. Inobstante tal manifestação da vítima,</p><p>o Ministério Público denunciou Paulo pela prática dos injustos do Art. 303, § 2º, e do Art. 306,</p><p>ambos da Lei nº 9.503/97.</p><p>Considerando as informações narradas, esclareça, na condição de advogado(a), aos seguintes</p><p>questionamentos formulados por Paulo, interessado em constituí-lo para apresentação de</p><p>resposta à acusação.</p><p>A) Qual a tese jurídica de direito material que a defesa de Paulo deverá alegar para</p><p>contestar a tipificação apresentada? (Valor: 0,60)</p><p>B) Diante da ausência de representação por parte da ofendida, o Ministério Público teria</p><p>legitimidade para propor ação penal contra Paulo? (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>40</p><p>A) A defesa de Paulo deverá alegar que o crime do artigo 306 do Código de Trânsito</p><p>Brasileiro deve ser absorvido pelo crime do artigo 303, § 2º, do Código de Trânsito</p><p>Brasileiro (0,40), em razão da aplicação do princípio da consunção OU já que a</p><p>capacidade psicomotora alterada em razão de álcool é elementar do crime de lesão</p><p>corporal (0,20). Paulo foi denunciado pela prática dos crimes previstos nos artigos 303, §</p><p>2º, e do art. 306, ambos da Lei nº 9.503/97. Todavia, se o agente conduz o veículo com</p><p>capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool, e se do crime resultar</p><p>lesão corporal grave, o crime de lesão corporal culposa na condução de veículo automotor</p><p>será qualificado, nos termos do artigo 303, § 2º, da Lei 9.503/97. Logo, não poderia ser</p><p>considerado o concurso de crimes, porquanto o estado de embriaguez do agente é</p><p>elementar do delito qualificado reconhecido.</p><p>B) Sim, o Ministério Público tem legitimidade para oferecimento da denúncia na presente</p><p>hipótese, tendo em vista que o agente estava sob a influência de álcool OU tendo em vista</p><p>que a representação da vítima é desnecessária diante da embriaguez OU tendo em vista</p><p>que não se aplica o artigo 88 da Lei 9.099/95 diante da embriaguez (0,55), nos termos do</p><p>artigo 291, § 1º, inciso I, do Código de Trânsito Brasileiro (0,10).</p><p>Em regra, os crimes de lesão corporal culposa, praticados ou não na direção de veículo</p><p>automotor, são de ação penal pública condicionada à representação, nos termos do artigo</p><p>88 da Lei nº 9.099/95. Todavia, nos termos do artigo 291, § 1º, inciso I, do Código de</p><p>Trânsito Brasileiro, se o agente estiver sob a influência de álcool, a ação será pública</p><p>incondicionada, tendo o Ministério Público legitimidade para oferecer a denúncia, mesmo</p><p>sem a representação da vítima.</p><p>41</p><p>Gabarito comentado</p><p>A questão exige do examinando conhecimento sobre uma pluralidade de temas. Narra o</p><p>enunciado que foi praticado um crime de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor,</p><p>sendo que o autor do fato estava embriagado e causou lesões de natureza grave na vítima. A</p><p>ofendida não tinha interesse em representar em face do autor do fato, mas ainda assim o</p><p>Ministério Público ofereceu denúncia imputando não somente o crime de lesão corporal culposa</p><p>qualificada, mas também o do Art. 306 do CTB.</p><p>A) Para contestar a capitulação, deveria a defesa alegar aplicação do princípio da consunção,</p><p>ficando o crime do Art. 306 do CTB absorvido pelo crime do Art. 303, § 2º, do CTB, tendo em</p><p>vista que a circunstância da condução do veículo sob a influência de álcool, com capacidade</p><p>psicomotora alterada, é elementar deste crime. Para que seja tipificada a forma qualificada do §</p><p>2º do Art. 303 da Lei 9.503/97, têm que restar demonstrada a conduta culposa do agente na</p><p>direção de veículo automotor, o estado de embriaguez e o resultado lesão grave ou gravíssima.</p><p>Presentes esses requisitos, a forma qualificada deve ser reconhecida, não podendo haver</p><p>concurso com o crime do Art. 306 do mesmo diploma legal, porquanto aquele estado do agente</p><p>é elementar do delito qualificado reconhecido.</p><p>B) Sim, o Ministério Público tem legitimidade para oferecimento da denúncia</p><p>na presente</p><p>hipótese. A princípio, os crimes de lesão corporal culposa, praticados ou não na direção de</p><p>veículo automotor, são de ação penal pública condicionada à representação, nos termos do Art.</p><p>88 da Lei nº 9.099/95. O Art. 291, §1º, do CTB confirma a aplicabilidade do Art. 88 da Lei nº</p><p>9.099/95. Ocorre que esse mesmo dispositivo legal traz exceções. Apesar de a vítima não ter</p><p>querido representar contra o acusado, considerando que o motorista dirigia sob a influência de</p><p>substância alcoólica, na forma do Art. 291 § 1º, inciso I, da Lei nº 9.503/97, a ação penal é pública</p><p>incondicionada, tendo o Ministério Público legitimidade para o oferecimento da denúncia.</p><p>42</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. O crime do Art. 306, do CTB deve ser absorvido pelo crime</p><p>do Art. 303, § 2º, do CTB (0,40), em razão da aplicação do</p><p>princípio da consunção OU já que a capacidade psicomotora</p><p>alterada em razão de álcool é elementar do crime de lesão</p><p>corporal (0,20).</p><p>0,00/0,20/0,40/0,60</p><p>B. Sim, teria, tendo em vista que o agente estava sob a influência</p><p>de álcool OU tendo em vista que a representação da vítima é</p><p>desnecessária diante da embriaguez OU tendo em vista que não</p><p>se aplica o Art. 88 da Lei 9.099/95 diante da embriaguez (0,55),</p><p>nos termos do Art. 291, § 1º, inciso I, do CTB (0,10).</p><p>0,00/0,55/0,65</p><p>43</p><p>11) XXXI Exame – Questão 3</p><p>Carlos, 43 anos, foi flagrado, no dia 10 de março de 2014, transportando arma de fogo de uso</p><p>permitido. Foi denunciado, processado e condenado à pena de 02 anos de reclusão, a ser</p><p>cumprida em regime aberto, e multa de 10 dias, à razão unitária mínima, sendo a pena privativa</p><p>de liberdade substituída por duas penas restritivas de direitos, consistentes em prestação de</p><p>serviços à comunidade e limitação de final de semana. A decisão transitou em julgado, para</p><p>ambas as partes, em 25 de novembro de 2015.</p><p>Após a condenação definitiva, Carlos conseguiu emprego fixo em cidade diferente daquela em</p><p>que morava e fora condenado, para onde se mudou, deixando de comunicar tal fato ao juízo</p><p>respectivo, não sendo encontrado no endereço constante nos autos para dar início à execução</p><p>da pena. Por tal motivo, o juiz, provocado pelo Ministério Público converteu, de imediato, as</p><p>penas restritivas de direitos em pena privativa de liberdade, determinando a expedição de</p><p>mandado de prisão. A ordem de prisão foi cumprida em 20 de dezembro de 2019, quando Carlos</p><p>foi ao DETRAN/RJ objetivando a renovação de sua habilitação, certo que, após aquele fato,</p><p>nunca se envolveu em qualquer outro ilícito penal. Desesperada, a família procura você, na</p><p>condição de advogado(a), para a adoção das medidas cabíveis.</p><p>Considerando a situação apresentada, responda, na condição de advogado(a) de Carlos, aos</p><p>itens a seguir.</p><p>A) Para questionar a decisão do magistrado de converter a pena restritiva de direitos em</p><p>privativa de liberdade e expedir mandado de prisão, qual o argumento de direito</p><p>processual a ser apresentado? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>B) Existe argumento de direito material a ser apresentado para evitar que Carlos cumpra</p><p>a sanção penal imposta na sentença? Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>44</p><p>A) Carlos foi condenado a 02 anos de reclusão, sendo a pena privativa de liberdade</p><p>substituída por restritiva de direitos. A requerimento do Ministério Público, o Magistrado,</p><p>de imediato, converteu a pena restritiva de direitos em privativa de liberdade. Todavia, nos</p><p>termos do artigo 44, § 4º, do Código Penal (0,10), somente será possível a conversão da</p><p>pena restritiva de direitos por privativa de liberdade se restar demonstrado o</p><p>descumprimento injustificado (0,15). No caso, antes da conversão, a defesa deveria ter</p><p>sido intimada para justificar aquele descumprimento, conforme os princípios do</p><p>contraditório e da ampla defesa, previstos no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal</p><p>(0,35). Na hipótese, a conversão ocorreu sem a oitiva da defesa previamente, o que</p><p>acarreta a nulidade da decisão respectiva.</p><p>B) Carlos foi condenado a 02 anos de reclusão, sendo a pena privativa de liberdade</p><p>substituída por restritiva de direitos. Logo, considerando a pena aplicada, o prazo</p><p>prescricional é de 04 anos, conforme artigo 109, inciso V, do Código Penal. Ocorreu o</p><p>trânsito em julgado da sentença condenatória para as partes, inclusive para a acusação,</p><p>no dia 25 de novembro de 2015. Logo, entre a data do trânsito em julgado (25/11/15) e a</p><p>data da prisão de Carlos (20/12/19) foi ultrapassado o prazo prescricional de 04 anos.</p><p>Assim, deverá ser declarada extinta a punibilidade (0,15), pela prescrição da pretensão</p><p>executória (0,40), nos termos do artigo 107, inciso IV, do Código Penal (0,10).</p><p>45</p><p>Gabarito comentado</p><p>Narra o enunciado que Carlos foi condenado definitivamente ao cumprimento da pena privativa</p><p>de liberdade de 02 anos, em regime inicial aberto, substituída por duas restritivas de direito.</p><p>Todavia, Carlos se mudou sem informar ao juízo e acabou por não dar início ao cumprimento da</p><p>pena restritiva de direito imposta, de modo que o magistrado converteu a PRD em pena privativa</p><p>de liberdade, após requerimento do Ministério Público.</p><p>A) A Pena Restritiva de Direito (PRD), em caso de descumprimento, poderá ser convertida em</p><p>privativa de liberdade, desde que o descumprimento seja injustificado, nos termos do Art. 44, §</p><p>4º, do CP. Exatamente pela exigência de que o descumprimento seja injustificado que deve o</p><p>apenado ser intimado para manifestação, em especial para esclarecer os motivos pelos quais</p><p>não vem cumprindo a PRD imposta. Não se controverte que para garantir a efetividade das penas</p><p>restritivas de direitos, faz-se necessária a existência de regras rígidas no sentido de que o seu</p><p>descumprimento acarrete uma consequência rigorosa para o condenado faltoso. Assim, é</p><p>prevista a conversão da PRD em PPL quando do seu descumprimento injustificado. Desta forma,</p><p>antes da conversão, a defesa deve ser intimada para justificar aquele descumprimento, não</p><p>podendo ser abandonados os princípios do contraditório e da ampla defesa. Na hipótese, a</p><p>conversão ocorreu sem a oitiva da defesa previamente, o que acarreta a nulidade da decisão</p><p>respectiva.</p><p>B) Sim, o argumento é o de que ocorreu prescrição da pretensão executória, de modo que deve</p><p>ser reconhecida a extinção da punibilidade do agente. Transitada em julgado a decisão</p><p>condenatória, se inicia o prazo da prescrição da pretensão executória, que tem por base a pena</p><p>aplicada, nos termos do Art. 110 do CP. Na hipótese, foi aplicada a pena de 02 anos de reclusão,</p><p>de modo que o prazo prescricional é de 04 anos, com base no Art. 109, inciso V, do CP. Entre a</p><p>data do trânsito em julgado (25/11/15) e a data da prisão de Carlos (20/12/19) foi ultrapassado o</p><p>prazo prescricional de 04 anos. Assim, deverá ser declarada extinta a punibilidade pela</p><p>prescrição da pretensão executória, nos termos do Art. 107, inciso IV, do CP.</p><p>46</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. A conversão da pena restritiva de direitos em privativa de</p><p>liberdade exige que haja descumprimento injustificado das</p><p>medidas impostas (0,15), de modo que deveria o condenado ter</p><p>sido intimado para justificar o descumprimento das penas</p><p>substitutivas OU logo houve violação da ampla</p><p>defesa/contraditório ao não ser possibilitado a Carlos o direito de</p><p>manifestação sobre o descumprimento (0,35), nos termos do Art.</p><p>44, § 4º, do CP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,35/</p><p>0,45/0,50/0,60</p><p>B. Sim, o argumento seria de que ocorreu a prescrição da</p><p>pretensão executória (0,40), com consequente extinção da</p><p>punibilidade do agente (0,15), conforme o Art. 107, inciso IV, do</p><p>CP, OU o Art. 109, inciso V, do CP, OU o Art. 110 do CP (0,10).</p><p>0,00/0,15/0,25/0,40/</p><p>0,50/0,55/0,65</p><p>47</p><p>12) XXXI Exame – Questão 4</p><p>Paulo, estudante,</p><p>condenado anteriormente por crime culposo no trânsito, em 20/08/2019</p><p>adentrou loja de conveniência de um posto de gasolina e, aproveitando-se de um descuido dos</p><p>funcionários do estabelecimento, furtou todo o dinheiro que se encontrava no caixa.</p><p>Após sair da loja sem ter sua conduta percebida, consumado o delito, Paulo avistou sua antiga</p><p>namorada Jaqueline, que abastecia seu carro no posto de gasolina, e contou-lhe sobre o crime</p><p>que praticara momentos antes, pedindo que Jaqueline, igualmente estudante, primária e sem</p><p>qualquer envolvimento anterior com fatos ilícitos, ajudasse-o a deixar o local, pois notou que os</p><p>empregados do posto já tinham percebido que ocorrera a subtração. Jaqueline, então, dá carona</p><p>a Paulo, que se evade com os valores subtraídos.</p><p>Após instauração de inquérito policial para apurar o fato, os policiais, a partir das câmeras de</p><p>segurança da loja, identificaram Paulo como o autor do delito, bem como o veículo de Jaqueline</p><p>utilizado pelo autor para deixar o local, tendo o Ministério Público denunciado ambos pela prática</p><p>do crime de furto qualificado pelo concurso de agentes, na forma do Art. 155, § 4º, inciso IV, do</p><p>Código Penal.</p><p>Por ocasião do recebimento da denúncia, o juiz indeferiu a representação pela decretação da</p><p>prisão preventiva formulada pela autoridade policial, mas aplicou aos denunciados medidas</p><p>cautelares alternativas, dentre as quais a suspensão do exercício de atividade de natureza</p><p>econômica em relação a Jaqueline, já que ela seria proprietária de um estabelecimento de</p><p>comércio de roupas no bairro em que residia, nos termos requeridos pelo Ministério Público.</p><p>Considerando os fatos acima narrados, responda, na condição de advogado(a) de Jaqueline,</p><p>aos questionamentos a seguir.</p><p>A) Qual argumento de direito material poderá ser apresentado pela defesa técnica de</p><p>Jaqueline para questionar a capitulação delitiva imputada pelo Ministério Público?</p><p>Justifique. (Valor: 0,65)</p><p>B) Existe argumento para questionar a medida cautelar alternativa de suspensão da</p><p>atividade econômica aplicada a Jaqueline? Justifique. (Valor: 0,60)</p><p>Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal</p><p>não confere pontuação.</p><p>48</p><p>A) Jaqueline foi denunciada pela prática do crime de furto qualificado pelo concurso de</p><p>agentes, na forma do artigo 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal. Todavia, Jaqueline não</p><p>concorreu para o crime de furto (0,15), já que a sua participação ocorreu somente após a</p><p>consumação da subtração realizada por Paulo. Não houve ajuste prévio entre Jaqueline</p><p>e Paulo, nem liame subjetivo antes ou durante a subtração (0,50). Logo, não há que se</p><p>falar em concurso de pessoas, não devendo Jaqueline responder pela prática do furto</p><p>qualificado.</p><p>B) O Magistrado aplicou medida cautelar diversa da prisão consistente na suspensão do</p><p>exercício da atividade de natureza econômica em relação à Jaqueline. Todavia, o artigo</p><p>319, inciso VI, do Código de Processo Penal e o artigo 282, inciso II, do Código de</p><p>Processo Penal (0,10), prevê que poderá ser aplicada cautelar de suspensão do exercício</p><p>da função pública ou de atividade de natureza econômica, desde que haja justo receio de</p><p>sua utilização para prática de novas infrações penais. No caso, o fato imputado à</p><p>Jaqueline não tem qualquer relação com a atividade que desenvolve, qual seja, atuar em</p><p>comércio de roupas em estabelecimento do qual seria proprietária. Além disso, Jaqueline</p><p>era primária, de bons antecedentes e sem qualquer envolvimento pretérito com o aparato</p><p>policial ou judicial, não havendo justo receio na utilização da atividade econômica para</p><p>prática de novas infrações (0,50).</p><p>49</p><p>Gabarito comentado</p><p>Narra o enunciado que Paulo praticou um crime de furto, já que subtraiu, sem violência ou grave</p><p>ameaça à pessoa, dinheiro da loja de conveniência de determinado posto de gasolina. Após a</p><p>consumação do delito, encontrou Jaqueline, sua ex-namorada, narrando sobre o crime praticado.</p><p>Jaqueline, então, auxilia Paulo a deixar o local dos fatos. Após descoberta do ocorrido, o</p><p>Ministério Público denunciou Jaqueline e Paulo pelo crime de furto qualificado pelo concurso de</p><p>agentes, aplicando, dentre outras, a cautelar de suspensão do exercício de atividade de natureza</p><p>econômica à Jaqueline.</p><p>A) O argumento é o de que Jaqueline não praticou crime de furto, já que sua contribuição ocorreu</p><p>após a consumação do delito patrimonial. Não há que se falar em participação após a</p><p>consumação do delito, salvo se a contribuição, apesar de ocorrer após a consumação, já houver</p><p>sido previamente ajustada. No caso em tela, Jaqueline não havia ajustado previamente com</p><p>Paulo que o auxiliaria na empreitada criminosa, tendo concorrido para o crime somente após a</p><p>consumação deste por Paulo. Sendo assim, não há que se falar em concurso de pessoas, não</p><p>devendo Jaqueline responder pela prática do furto qualificado. Nesse sentido, Paulo deveria</p><p>responder apenas pelo crime de furto simples (Art. 155, caput, do CP).</p><p>B) Nos termos do Art. 319 do CPP é possível ao magistrado aplicar medidas cautelares</p><p>alternativas. Para evitar a prisão, incentiva-se a aplicação de medidas cautelares alternativas.</p><p>Ademais, o Art. 319, inciso VI, do CPP, prevê que poderá ser aplicada cautelar de suspensão do</p><p>exercício da função pública ou de atividade de natureza econômica, desde que haja justo receio</p><p>de sua utilização para prática de novas infrações penais. O simples fato de Jaqueline ser</p><p>denunciada por crime contra o patrimônio (de maneira inadequada, ainda!) não torna a medida</p><p>de suspensão da atividade de natureza econômica adequada, qual seja atuar em comércio de</p><p>roupas em estabelecimento do qual seria proprietária. Jaqueline era primária, de bons</p><p>antecedentes e sem qualquer envolvimento pretérito com o aparato policial ou judicial, nada no</p><p>enunciado permitindo concluir que haveria justo receio na utilização da atividade econômica para</p><p>prática de novas infrações.</p><p>50</p><p>Distribuição de pontos</p><p>ITEM PONTUAÇÃO</p><p>A. Jaqueline não concorreu para o crime de furto (0,15), tendo</p><p>em vista que sua contribuição ocorreu após a consumação do</p><p>delito OU tendo em vista que não existe participação após a</p><p>consumação OU tendo em vista que não havia liame subjetivo</p><p>no momento da subtração (0,50),</p><p>0,00/0,15/0,50/0,65</p><p>B. O argumento é o de que a cautelar de suspensão da atividade</p><p>de natureza econômica exige que haja justo receio em sua</p><p>utilização para a prática de novas infrações penais, o que não</p><p>restou configurado na hipótese (0,50), conforme Art. 319, inciso</p><p>VI, OU Art. 282, inciso II, ambos do CPP (0,10).</p><p>0,00/0,50/0,60</p><p>51</p><p>13) XXXII Exame – Questão 1</p><p>Gabriel, estudante de farmácia, 22 anos, descobre que seu tio Jorge possuía grave doença no</p><p>fígado, que lhe causava dores físicas. Durante seus estudos sobre medicina alternativa em livro</p><p>oficial fornecido pela faculdade pública em que estudava, vem a ler que a droga conhecida como</p><p>heroína poderia, em doenças semelhantes à de seu tio, funcionar como analgésico e aliviar a</p><p>dor do paciente.</p><p>Tendo acesso ao material que sabia ser heroína e sua classificação como droga, Gabriel, em 27</p><p>de maio de 2019, transporta e entrega o material para o tio, acreditando que, apesar de existir a</p><p>figura típica do tráfico de drogas, sua conduta seria lícita diante dos fins medicinais. Avisou que</p><p>o material deveria ser usado naquele dia, de forma imediata. No dia 29 de maio de 2019, após</p><p>denúncia, policiais militares, com autorização para ingresso na residência de Jorge, apreendem</p><p>o material ilícito e descobrem que Jorge o recebera de Gabriel, mas não o utilizou. Em seguida,</p><p>comparecem à faculdade de Gabriel e realizam sua prisão em flagrante.</p><p>Jorge e Gabriel foram indiciados, após juntada do laudo confirmando a natureza do material, pelo</p><p>crime de tráfico de drogas (Art. 33 da Lei nº 11.343/06), mas, em razão da doença, Jorge</p>

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