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PROCESSO CIVIL I

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Petição inicial
1.1. Introdução
É o ato que dá início ao processo, e define os contornos subjetivos e objetivo da lide, dos quais o juiz não poderá desbordar. É por meio dela que será possível apurar os elementos identificadores da ação: as partes, o pedido e a causa de pedir. Daí a sua importância para o processo, e a necessidade de um exame particularmente acurado pelo juiz, antes de determinar a citação do réu, uma vez que até então será possível eventual correção ou emenda, o que, depois da resposta do réu, dependerá de seu consentimento. A petição inicial ainda repercutirá sobre o procedimento a ser observado, que depende da matéria discutida ou do valor da causa.
1.2. Requisitos da petição inicial
Vêm enumerados no art. 282 e 283, do CPC. O primeiro indica quais são os requisitos intrínsecos, da própria petição inicial; o segundo diz respeito a eventuais documentos que devam necessariamente acompanhá-la. De acordo com o art. 282, a petição inicial deverá indicar:
1.2.1. O juiz ou tribunal a que é dirigida
Como ela contém um requerimento dirigido ao Poder Judiciário, e como este é composto por inúmeros órgãos, entre os quais é dividida a competência, o autor deve indicar para quem a sua petição é dirigida. Um eventual erro não ensejará o indeferimento da inicial, mas tão somente a remessa da inicial ao correto destinatário;
1.2.2. Os nomes, prenomes, estados civis, profissão, domicílio e residência do autor e do réu A indicação e a qualificação são indispensáveis para que as partes sejam identificadas. Nenhuma dificuldade existirá em relação ao autor, mas é possível que o réu, no momento da propositura, não esteja identificado, ou seja, incerto. Isso não impedirá o recebimento da inicial caso o juiz verifique que não há meios para tal identificação. A citação será então feita por edital, na forma do CPC, art. 231, I. É o que ocorre, por exemplo, nas ações possessórias quando há grandes invasões de terra, em que nem sempre será possível identificar e qualificar os invasores. 296 Direito Processual Civil Esquematizado Marcus Vinicius Rios Gonçalves Os nomes e prenomes servirão para identificar as partes. O estado civil, além de auxiliar a identificação, poderá ter relevância naquelas ações em que se exige outorga uxória. E os endereços são relevantes para que possam ser localizadas, quando da necessidade da comunicação pessoal dos atos processuais. Quando a parte for pessoa jurídica, a inicial deverá fornecer os elementos necessários para a sua identificação.
1.2.3. Causa de pedir
O autor deve indicar quais são os fatos e os fundamentos jurídicos em que se embasa o pedido, a causa de pedir. Esse é um dos requisitos de maior importância da petição inicial, sobretudo a descrição dos fatos, que, constituindo um dos elementos da ação, vinculam o julgamento (teoria da substanciação). O juiz não pode se afastar dos fatos declinados na inicial, sob pena de a sentença ser extra petita. A causa de pedir e o pedido formulado darão os limites objetivos da lide, dentro dos quais deverá ser dado o provimento jurisdicional. Por isso, os fatos devem ser descritos com clareza, e manter correspondência com a pretensão inicial. É causa de inépcia da petição inicial a falta de causa de pedir, ou de correspondência entre ela e o pedido (CPC, art. 295, parágrafo único). Além dos fatos, o autor deve indicar qual o direito aplicável ao caso posto à apreciação do juiz. Não é necessária a indicação do dispositivo legal, mas das regras gerais e abstratas das quais se pretende extrair a consequência jurídica postulada pelo autor. A indicação do direito aplicável não vincula o juiz, que conhece o direito (jura novit curia) e pode valer-se de regras diferentes daquelas apontadas na petição inicial. Por isso, pode haver alguma tolerância do juízo em relação a isso na inicial, mas não em relação aos fatos, que devem ser descritos com toda a precisão e clareza necessárias para que o juiz possa compreendê-los.
1.2.4. Pedido e suas especificações
É a pretensão que o autor leva à apreciação do juiz. É desnecessário realçar a sua importância, já que, sendo um dos três elementos da ação, forma, com a causa de pedir e as partes, o núcleo central da petição inicial. É preciso que o autor indique com clareza o pedido imediato, o tipo de provimento jurisdicional (condenatório, constitutivo, declaratório) e o mediato (bem da vida almejado). Ambos vincularão o juiz, já que servem para identificar a ação. O julgador não poderá conceder nem um provimento jurisdicional, nem um bem da vida, distintos daqueles postulados na inicial. Daí a necessidade de que seja redigido com clareza, e de que mantenha correlação lógica com a causa de pedir. A atividade judiciária é silogística: o juiz, ao proferir o julgamento, examinará a premissa maior (as regras gerais e abstratas do ordenamento jurídico, os fundamentos jurídicos), a premissa menor (os fatos) para então extrair delas as consequências jurídicas (pedido). Por isso, é preciso que na petição inicial, o autor indique os fatos, o direito, e o pedido, que deve decorrer logicamente da aplicação do direito ao fato concreto levado ao seu conhecimento. VI Do Processo e do Procedimento 297 A importância do pedido é tal que o CPC dedicou-lhe uma seção própria (Seção II do Título VIII) na qual são examinadas as possibilidades de pedido genérico, implícito e de cumulação de pedidos.
1.2.5. Valor da causa
A toda causa será atribuída um valor certo, ainda que ela não tenha conteúdo econômico imediato (CPC, art. 258). Tal atribuição terá grande relevância para o processo, pois repercutirá sobre:
a) a competência, pois o valor da causa é critério para fixação do juízo;
b) o procedimento: pois influi na adoção do sumário, para causas de valor até sessenta salários mínimos, bem como sobre o âmbito de atuação do juizado especial cível;
c) no cálculo das custas e do preparo, que podem ter por base o valor da causa;
d) nos recursos em execução fiscal, conforme a Lei n. 6.830/80;
e) na possibilidade de o inventário ser substituído por arrolamento sumário (CPC, art. 1.036, caput).
Todas as demandas devem indicar o valor da causa, o que inclui a reconvenção, a oposição e os embargos de devedor.
1.2.5.1. Qual deve ser o valor da causa?
Deve corresponder ao conteúdo econômico do que está sendo postulado, e não daquilo que é efetivamente devido. Com frequência, o réu o impugna sob o argumento de que o valor pretendido é excessivo e que o autor não faz jus a tal montante. Mas o que cabe ao juiz avaliar, na impugnação, é o conteúdo econômico da pretensão formulada, sem qualquer juízo de valor a respeito de ela ser ou não devido. Do contrário, o juiz teria de antecipar o exame do mérito, decidindo-o já nessa fase. Mas não se pode perder de vista a lealdade e boa-fé processual. Às vezes, o autor postula, por exemplo, indenização por danos morais, estimando o valor em montante excessivo, ao mesmo tempo em que pede justiça gratuita, para eximir-se do recolhimento das custas iniciais e do pagamento das verbas de sucumbência. O juiz poderá determinar a redução equitativa do valor da causa, se verificar que, fixada em montante excessivo, pode prejudicar o exercício de alguma faculdade processual pelo réu, que depende do recolhimento de custas calculadas com base no valor da causa. É o que foi decidido pelo STJ — 3ª Turma, Resp. 784.986, Rel. Min. Nancy Andrigui). O valor da causa não repercute sobre os limites objetivos da lide. Se o autor postula um montante, e atribui valor à causa menor, ainda que isso passe despercebido e o valor seja mantido, o juiz na sentença não ficará limitado a este, mas ao que foi pedido. 298 Direito Processual Civil Esquematizado Marcus Vinicius Rios Gonçalves
1.2.5.1.1. Critérios para a fixação do valor da causa
Os arts. 259 e 260 do CPC fornecem alguns critérios para fixação do valor da causa. Em regra, deve corresponder ao conteúdo econômico da demanda. Naquelas que não têm conteúdo econômico, a fixação será feita por estimativa do autor. Os incs. I a IV do art. 259 cuidamdo valor da causa nas ações de cobrança de dívida, que deverá corresponder à soma do principal, da pena e dos juros vencidos até a propositura da ação. Se houver cumulação de pedidos, os valores deverão ser somados; se os pedidos forem alternativos, corresponderá ao de maior valor; e se houver pedido principal e subsidiário, corresponderá ao do primeiro. Quando o pedido for genérico, o valor da causa deve ser estimado pelo autor, que cuidará para que mantenha proporcionalidade com o conteúdo econômico da pretensão. O art. 260 complementa o 259, acrescentando que, se forem postuladas prestações vencidas e vincendas, o valor da causa consistirá na soma de todas as vencidas mais um ano das vincendas, se a obrigação for por tempo indeterminado ou por tempo superior a um ano; e, se por tempo inferior, será igual à soma das prestações. O inc. V trata das ações que tenham por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação ou rescisão de negócio jurídico, nas quais o valor da causa deve corresponder ao do contrato. Quando a ação for de alimentos, o valor deve corresponder a 12 prestações mensais pedidas pelo autor; e quando a ação for de divisão, demarcação e reivindicação, o valor será o da estimativa oficial para lançamento do imposto.
1.2.5.2. Controle judicial do valor da causa
O art. 261 do CPC autoriza o réu a impugnar o valor da causa, no prazo de resposta. O parágrafo único estabelece que, não havendo impugnação, presume-se aceito o valor atribuído à causa pelo autor, o que traz a impressão de que o juiz não poderia de ofício, determinar a retificação. Mas, em determinadas circunstâncias, ele poderá fazê-lo. São elas: o autor ter desrespeitado algum dos critérios fixados em lei; ter atribuído valor à causa em montante incompatível com o conteúdo econômico da demanda, que possa repercutir sobre a competência ou o procedimento a ser observado.
1.2.6. As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados Como na petição inicial, o autor ainda não tem condições de saber o que será controvertido pelo réu, há certa tolerância quanto a este requisito da inicial. Entende- se que a sua omissão não é razão para indeferi-la, nem impede que oportunamente sejam requeridas provas pelo autor.
1.2.7. O requerimento de citação do réu
Trata-se de requisito de menor importância, cuja ausência há de ser tolerada, já que o pedido de citação está implícito no ajuizamento da demanda. Não há VI Do Processo e do Procedimento 299 razão para que se mande emendar a inicial, ou para que se a indefira, por falta desse requisito.
1.2.8. O endereço do advogado do autor
Compete ao advogado declarar o endereço em que receberá as intimações. Se a inicial for omissa, o juiz mandará que a omissão seja suprida no prazo de 48 horas, sob pena de indeferi-la. Havendo qualquer mudança de endereço, cumpre ao advogado comunicá-la ao juízo, sob pena de reputarem-se válidas as intimações enviadas, em carta registrada, para o endereço constante dos autos.
1.2.9. Documentos
O art. 283 do CPC estabelece que a petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. Os documentos não indispensáveis podem ser juntados a qualquer tempo, na forma do art. 397, do CPC. Mas os indispensáveis devem ser juntados desde logo. Por exemplo, em ação de separação judicial, é indispensável juntar a certidão de casamento; em ação reivindicatória de imóveis, a certidão de propriedade; em ação de alimentos de procedimento especial, a prova da paternidade ou do parentesco; em ação de anulação de contrato escrito, o contrato. Se o documento não estiver em poder do autor, caber-lhe-á requerer ao juiz que ordene ao réu ou ao terceiro a sua exibição (CPC, arts. 355 a 360). Com a inicial, o autor juntará ainda a procuração e o comprovante de recolhimento das custas judiciais, salvo eventual requerimento de justiça gratuita.
1.2.10. Deficiências da petição inicial e possibilidade de correção Ao verificar que a inicial não preenche os requisitos dos arts. 282 e 283, do CPC, ou que apresenta defeitos ou irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, o juiz determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de dez dias. Não pode a indeferir, desde logo, se existe a possibilidade de o vício ou irregularidade serem sanados pelo autor. Daí a necessidade de que o juiz faça uma leitura atenta, antes de recebê-la, uma vez que depois da citação do réu é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o consentimento do réu (CPC, art. 264). Mas tem-se admitido, mesmo depois da contestação, o aditamento da inicial, do qual não resulte alteração do pedido ou causa de pedir, mas que sirva apenas para o esclarecimento de alguma dúvida ou o afastamento de algum defeito, que dificultava a sua compreensão. O prazo para emenda da inicial não é preclusivo: se o autor a emendar depois dos dez dias, o juiz receberá a emenda, salvo se tiver proferido a sentença de indeferimento. Se necessário, poderá determinar mais de uma vez a emenda inicial, até que todos os esclarecimentos sejam prestados.
1.3. Pedido
1.3.1. Introdução
O pedido é um dos requisitos da petição inicial, mencionado no art. 282 do CPC. É tal a sua importância que o CPC dedica uma seção especial a ele, que inclui 300 Direito Processual Civil Esquematizado Marcus Vinicius Rios Gonçalves os arts 286 a 294. Nos itens seguintes, serão examinadas algumas situações particulares relacionadas ao pedido.
1.3.2. Pedido certo e pedido genérico
O art. 286, do CPC determina que o pedido seja certo ou determinado, mas a redação foi infeliz, porque ele precisa ser certo e determinado. Certo é aquele que permite a identificação do bem da vida pretendido (an). E determinado é aquele que indica a quantidade postulada (quantum). Excepcionalmente, porém, o pedido poderá ser genérico, isto é, certo, mas não determinado. O autor indica o bem da vida pretendido, mas não a quantidade. Permite-se a formulação de pedido genérico:__

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