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Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
1 
 
CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA 
ASSUNTO: Tombamento – Capela de São Salvador (Aracaju) 
INTERESSADO: Subsecretário de Estado do Patrimônio Histórico e Cultural 
PROCEDÊNCIA: Câmara de Ciências e Patrimônio Histórico e Artístico 
RELATOR: Conselheiro Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
PARECER No. 001/2011 – CCPHA 
 
RELATÓRIO 
 
1. Considerações iniciais 
 
 Por conduto do ofício no. 28 – ref. SUBPAC/2011, de 28 de março passado, o Sr. 
Subsecretário de Estado do Patrimônio Histórico e Cultural, Luiz Alberto Santos 
submeteu ao Conselho o pedido de tombamento da Capela de São Salvador, localizada 
na esquina da rua Laranjeiras com a rua João Pessoa, em Aracaju. 
 
 Em seu expediente, ele lembra que a edificação está relacionada no Plano 
Diretor de Aracaju como bem de interesse cultural, e na listagem de prédios para 
tombamento apresentada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de 
Sergipe (IAB/SE) ao Conselho em 1983. 
 
 É, portanto, importante colocar que um processo de tombamento dessa Capela 
[processo no. 036/83-CEC (anexo I)] já tramitou no Colegiado, há 28 anos, quando o 
seu relator, o então Conselheiro Urbano de Oliveira Lima Neto se manifestou contrário à 
decretação da medida de proteção, sob os argumentos de que a atual construção não 
guarda qualquer dos traços de sua concepção original (1856) e de que outras 
características arquitetônicas e artísticas, decorrentes da reforma por que passou nas 
primeiras décadas do século XX, desapareceram com outra reforma na década de 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
2 
 
1960/1970, num período posterior ao Concílio Vaticano II, quando houve a 
recomendação de que os atos religiosos fossem celebrados com o sacerdote voltado 
para os fiéis, bem como os templos católicos se apresentassem mais despojados de 
ornamentos. 
 
(...) A Igreja de São Salvador, construída na gestão do presidente 
Salvador Correia de Sá, foi a primeira que se edificou depois da mudança 
da capital. Enquadrada que foi no estilo colonial, acabou perdendo em 
sucessivas reformas a sua feição primitiva. O exterior conserva ainda 
aspecto gótico que lhe emprestaram Belando Belandi e Oresti Gatti na 
década de 1920. O interior nada mais apresenta de notável. Não me 
parece haver, em vista das razões supra citadas, uma razão sólida para 
tombamento. [Arquivo do Conselho Estadual de Cultura. Processo no. 
036/83, página 5] 
 
 Desta forma, o atual processo deve ser entendido como um recurso à decisão 
anterior do Conselho, razão pela qual, de acordo com o nosso Regimento Interno (art. 
30, inciso IV), o novo parecer necessita da concordância da maioria absoluta dos 
Conselheiros para ser aprovado. 
 
2. O processo 
 
O processo, além do ofício de encaminhamento, contém as seguintes peças 
 
a) relatório de inspeção no. 3, de 22 de março de 2011, elaborado pela equipe 
técnica da SUBPAC (fls. 03 e 05); 
 
b) conjunto de 16 (dezesseis) fotografias (fls. 06 a 016 e 018); 
 
c) matéria do Jornal da Cidade (ano XXXIX, no. 11.570), de 6 e 7 de fevereiro de 
2011, intitulada “Prédio histórico espera tombamento” (fls. 017); 
 
d) publicação “Capela de São Salvador – Sesquicentenário de Fundação 1856-
2006”, organizada por Maria da Conceição Luduvice e editada sob o 
patrocínio do Governo do Estado (fls. 018 a 028). 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
3 
 
 
3. A tramitação 
 
Na Câmara de Ciências e Patrimônio Histórico e Artístico, o processo foi 
distribuído à Conselheira Ana Maria Nascimento Fonseca Medina que, em despacho 
exarado às fls. 029, solicitou dispensa da incumbência de relatar o pleito, em função do 
que fui designado para a relatoria pela Conselheira-Presidente. 
 
4. A Capela 
 
a) Dados históricos 
 
Antes de emitir o parecer, necessário se torna traçar alguns dados históricos 
sobre a construção, evidenciando a sua importância no contexto da nova capital de 
Sergipe. 
 
Após a mudança da sede administrativa da Província de Sergipe para “as praias 
do Aracaju”, por força da Resolução no. 413, de 17 de março de 1855, um dos 
primeiros prédios a serem construídos (obviamente após os prédios de governo, mais 
urgentes), entre a Maçaranduba e o Tramandaí, seria a nova matriz da capital, sob a 
invocação de Nossa Senhora da Conceição. 
 
A escolha do orago é uma homenagem à Mãe do Redentor, cujo dogma da 
Imaculada Conceição fora promulgado pelo Papa Pio X em dezembro do ano anterior ao 
da mudança da capital (1854). 
 
O local escolhido construir o primeiro templo de Aracaju foi uma parte do terreno 
que D. Clara Angélica vendeu ao Governo da Província e ao tenente-coronel João 
Manuel de Sousa Pinto. 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
4 
 
 
Estava compreendido no quarteirão delimitado pelas atuais praças Fausto 
Cardoso e Olímpio Campos e as travessas José de Faro e Benjamin Constant. 
 
A 15 de maio de 1855 doou o tenente-coronel João Manuel de Souza 
Pinto as terras para a capela de Nossa Senhora da Conceição, que se 
pretendia erigir no lugar que depois foi edificada a Assembléia 
Legislativa. Eram dez e meia braças de frente e trinta e cinco de fundos 
até encontrar as terras do futuro Ateneu, que João Gomes, pai e filho, 
diziam ser suas! (SOBRINHO, Sebrão. Laudas da História de Aracaju, 
Aracaju: Livraria Regina, 1955, p. 310) 
Um mapa de Aracaju encontrado na obra “A Cidade do Aracaju – (1855-1865)”, 
do Professor Fernando Porto, identifica não apenas a área onde seria erguida a matriz, 
no meio da atual praça Almirante Barroso, vizinha ao Palácio Olímpio Campos, mas 
também indica a capela de São Salvador, na esquina da atuais ruas de Laranjeiras e 
João Pessoa, no segundo quarteirão da área fundacional da capital. (figura 1) 
 
 
Figura 1 - Mapa de Aracaju – 1857 
[Fernando Porto – A Cidade do Aracaju (1855/1865)] 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
5 
 
 
Não obstante os esforços do Presidente Inácio Barbosa, essa igreja (matriz) ficou 
nos alicerces, fato que pode ser explicado pelas dificuldades financeiras da província e 
mesmo em razão da questão jurídica sobre a posse e domínio da área. Assim, a 
população, que desejava cumprir com as suas obrigações religiosas, era obrigada a 
deslocar-se até a capela de Santo Antônio, situação incômoda diante da distância (mais 
de um quilometro da cidade) e da dificuldade de chegar-se até o povoado, pois os 
caminhos eram precários e ainda não estava concluída a estrada nova (atuais avenidas 
Carlos Firpo e João Ribeiro). 
 
 Este quadro era o existente em 1856, quando aqui chegou o Presidente Salvador 
Correia de Sá e Benevides, o primeiro nomeado pelo Imperador após a morte do 
Presidente Inácio Barbosa. 
 
(...) a nova capital ainda não possuía sua Igreja, pois a que constava da 
planta da cidade, como Matriz, o Presidente Barbosa deixara nos 
alicerces. Mandou então o Presidente Sá e Benevides fazer o orçamento 
da construção da Matriz, andando este em 80:000$000 (oitenta contos 
de réis), importância pesadíssima para os cofres provinciais naquela 
época (...) [TELES, Epaminondas Rocha. Igreja de São Salvador 
(mimeo.), Aracaju: Associação Sergipana de Cultura, 1969, p. 2-3] 
(anexo II) 
 
 Então ele deu início à construção de uma casa de oração no centro da cidade, no 
segundo quarteirão para o norte, a partir da praça onde estava o Palacete da 
Presidência. 
 
A necessidade de terem os fiéis um lugar apropriado, onde dirigissem 
suas preces ao Altíssimo e se praticassem os sagrados mistérios de nossa 
Religião, não permite que se espere a conclusão da Matriz, assim, julgueicumprir um rigoroso dever mandando edificar uma casa de oração com 
pequenas dimensões, mas decente e que satisfizesse, em parte e com 
brevidade, os ardentes votos dos habitantes desta Capital. Confiei a 
direção desta obra, orçada em 6:000$000, ao capitão de engenheiros 
Francisco Pereira da Silva. Caminha com rapidez essa obra, cuja 1ª pedra 
tive a honra de colocar no dia 22 de maio, tendo-se gasto, até hoje, 
663$540. Cumpro um dever reconhecer, por esta ocasião, a filantropia 
Débora Evelinnull 
Realce
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
6 
 
com que o digno inspetor da alfândega e seus empregados têm brindado 
a futura capela com materiais para auxílio da obra [Relatório com que foi 
aberta a 1ª. sessão da undécima legislatura da Assembléia Provincial de 
Sergipe no dia 2 de julho de 1856 pelo Excelentíssimo Presidente Doutor 
Salvador Correia de Sá e Benevides, Salvador: Tipografia de Carlos 
Poggetti, 1856, p. 27-28] 
 
Ainda sem estar concluída a obra, no Natal de 1856, aí foi celebrada a chamada 
Missa do Galo. 
 
No curso dos trabalhos de construção, segundo decisão do Presidente Sá e 
Benevides, o projeto sofreu alterações, sendo o edifício ampliado. 
 
(...) Devo declarar-vos que o pensamento primitivo do plano desta obra 
foi alterado. Atendendo a necessidade urgente, que sentia esta nova 
Capital, de uma nova casa de oração onde se reunissem os fiéis, e que 
atestasse o domínio do sentimento religioso, concebi a idéia de mandar 
edificar uma pequena igreja em pouco tempo e com pequena despesa. 
Debaixo deste pensamento se tirou uma planta da obra que foi [orçada] 
em 6:000$000 réis. O crescimento rápido, porém, da população da nova 
capital, que de dia em dia vai tomando grandes proporções, interesse 
geral e entusiasmo do povo pela primeira igreja que se erguia nesta 
cidade, lastimando-se que fosse ela de tão acanhadas dimensões, a 
necessidade, finalmente, de acompanhar o aformoseamento da rua onde 
se acha a igreja, tudo isso atuou em meu espírito de modo a deliberar 
que se alterasse o plano primitivo e se construísse um Templo que 
preenchesse satisfatoriamente o seu fim, até que as circunstâncias 
permitissem edificar uma Matriz, correspondente à importância que breve 
terá a capital desta província. Para essa deliberação, muito concorreu o 
estado próspero das rendas públicas que jamais avultaram, como 
atualmente. [Relatório com que foi aberta a 3ª. sessão da undécima 
legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe no doa 1º. de fevereiro de 
1857 pelo Excelentíssimo Presidente Doutor Salvador Correia de Sá e 
Benevides, Aracaju: Tipografia Provincial, 1857, 18]. 
 
 
Por sua vez sabe-se que em janeiro de 1857, segundo relatório do Engenheiro 
Pereira da Silva ao Presidente da Província, já estavam erguidas as paredes, prontos a 
cornija inferior, a cobertura e o madeiramento. 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
7 
 
Já contava, então, com alguns ornamentos e objetos necessários ao culto, 
adquiridos na praça de Salvador por 1:656$160. 
 
Ao mesmo tempo conseguia o Presidente Salvador Correia de Sá e Benevides a 
aprovação da Resolução no. 423, de 23 de março de 1857, removendo a sede da 
Freguesia de Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba para a capela de São Salvador 
do Aracaju, desde que ouvido o Arcebispo Metropolitano, Dom Romualdo Seixas, este 
concordasse com a pretensão do poder temporal. 
 
A autoridade eclesiástica manifestou, em abril do mesmo ano, a sua anuência, 
mas condicionou a transferência da paróquia à conclusão do templo. 
 
Não é fora de significar aqui a V. Exa. que, em virtude da Resolução 
Provincial no. 473 de 28 de março deste ano, foi o governo da província 
autorizado para remover, ouvido o respectivo Diocesano, a Freguesia de 
Socorro para esta Capital. 
Efetivamente foi ouvido o distinto Prelado, convindo na remoção, eu tive 
de determiná-la por intermédio do Vigário Geral da Província, por ato de 
27 de abril último, com a cláusula, porém, de que a remoção só se 
efetuaria depois de concluída a Capela de S. Salvador que se acha em 
construção [Relatório com que foi entregue a administração da Província 
de Sergipe no dia 5 de agosto de 1857 ao Ilmo. e Exmo. Sr, Dr. João 
Dabney de Avelar Brotero pelo Exmo. Sr. Comandante Superior José da 
Trindade Prado, 3º. Vice-Presidente desta Província, Aracaju: Tipografia 
Provincial, 1857, p. 17. 
 
Neste mesmo ano de 1857 (23 de outubro) ocorreu a benção litúrgica do templo, 
segundo o ritual previsto pela Igreja Católica, ato provavelmente presidido pelo Vigário-
Geral de Sergipe, Cônego Inácio Antônio da Costa Lobo, maior autoridade religiosa da 
Província. 
 
Em 23 de outubro próximo passado entendi, de acordo com o honrado 
vigário geral que já se podia celebrar na nova igreja, apesar de não 
concluída. Procedeu-se, pois, solenemente as cerimônias eclesiásticas das 
benções da nova capela, e desde então ai se celebram os Ofícios Divinos. 
Entendi que para a ultimação das obras, convinha adotar o sistema de 
contrato. Contratei o retelhamento da igreja e conclusão de seu 
frontispício com o tenente coronel Antônio Carneiro de Menezes pela 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
8 
 
quantia de 2:602$682 e o doiramento do interior com Domingos José de 
Sá pela quantia de 2:300$000 rs. Conto que em curto prazo estará 
definitivamente ultimada esta obra reclamada pela mudança da Capital 
[Relatório com que foi aberta a 1ª. sessão da duodécima Legislatura da 
Assembléia Legislativa de Sergipe pelo Excelentíssimo Presidente Doutor 
João Dabney d´ Avelar Brotero, Salvador: Tipografia de A. Olavo da 
França Guerra, 1858, p. 43. 
 
 Na mesma data da consagração do templo “foi bento no fundo da igreja o 
cemitério exclusivo com o túmulo onde se guardariam os restos mortais de Inácio 
Barbosa” [CARDOSO, Amâncio. Igreja de São Salvador: primeiro templo católico de 
Aracaju, Jornal da Cidade, 25 de outubro de 2007, p. B-6] (anexo III)1 
 
 De acordo com o Relatório do Presidente João Dabney de Avelar Brotero, sabe-
se que a Província – entre 1845 e 1857, despendera 85:175$782 réis com obras e 
reparos em igrejas, dos quais 50:9434$015 réis correspondiam àquelas atinentes à 
construção de São Salvador (59,81%). [ALMEIDA, Aurélio Vasconcelos de (Pe.) Esboço 
Biográfico de Inácio Barbosa, v. 3, Aracaju: Gráfica Editora J. Andrade, 2003, p. 29] 
 
O quadro anexo, n. 6, mostrar-vos-á quais as despesas que tem feito a 
Província com as obras das matrizes desde o ano de 1845 até 1857. 
Vereis que neste período os socorros concedidos às igrejas paroquiais 
somam em rs. 85:175$782 
 Desta quantia convém ponderar que 50:943$015 rs. foram despendidos 
nesta capital com a construção da capela de S. Salvador, e deduzindo 
essa quantia reconhece-se que a soma dos socorros prestados a todas as 
matrizes da Província nesse período de 12 anos, cifra-se em 34:232$768 
{Relatório citado, p. 27-28] (figura 2) 
 
 
1
 OS restos mortais de Inácio Joaquim Barbosa foram, para este cemitério, transladados da matriz (atual Catedral) 
de Nossa Senhora de Guadalupe em Estância no ano de 1858. Em 1917, foram transferidos para um obelisco que 
se localizava nas imediações do Palácio do Governo e da Assembléia Legislativa, no Jardim Olímpio Campos, atual 
praça Almirante Barroso. Daí passaram para uma praça entre o Mercado Antônio Franco (em frente ao antigo 
Colégio Nossa Senhora de Lourdes) e a estação da Viação Férrea Leste Brasileiro, e, finalmente, para a praça Inácio 
Barbosa, onde está o seu monumento. 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
9 
 
 
Figura2 – Capela de São Salvador (anos 20 do século XX) 
 (antes da reforma de 1921-1923) 
(Memorial de Sergipe) 
 
Com a transferência da sede da freguesia para Aracaju e a posse do Vigário, 
Cônego Eliziário Vieira Muniz Teles, vai surgir uma séria querela entre a Irmandade do 
Santíssimo Sacramento da antiga freguesia de Socorro e as autoridades provinciais pela 
entrega das alfaias, assunto que chegou à barras da Justiça, com o depósito das alfaias 
sob a guarda de um morador de Socorro e a troca de correspondência entre o 
Presidente da Província, o Juiz de Direito da Comarca da Capital e o Juiz Municipal de 
Aracaju. 
 
Já em 1859, o Vigário da Freguesia dirigia-se ao Presidente da Província 
requerendo a compra de paramentos e alfaias para a celebração dos atos da Semana 
Santa em 1860. Indeferido o pleito, recorreu o Cônego Eliziário Vieira Muniz Teles aos 
Deputados Provinciais que, pela Resolução no. 577, de 13 de julho de 1859, aprovaram 
uma verba de 2:000$000 para tal finalidade. 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
10 
 
Por ato de 25 de maio do ano passado foi definitivamente transferida a 
sede da Freguesia de Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba para a 
Igreja de São Salvador nesta capital, com a denominação de Freguesia 
de São Salvador do Aracaju. 
À requisição do respectivo Vigário tenho autorizado algumas despesas 
indispensáveis ao decoro e decência do Culto. Sendo uma Igreja há 
pouco acabada, precisando de tudo e passando a servir de Matriz sem 
que tivesse ainda uma só confraria, essas despesas não podiam ser 
dispensadas. 
Até hoje, porém, e por autorização minha só têm elas consistido na 
fatura de um Sacrário decente, na compra de uma Custódia e uma 
Âmbula, na cobertura do Trono para não arruinar o retábulo há pouco 
dourado, e na gratificação de 10$000 reis mensais a um Zelador que se 
encarregue de assear a Igreja, e da guarda das alfaias compradas com 
os dinheiros públicos [Relatório com que foi entregue a administração da 
Provincia de Sergipe no dia 7 de março de 1859 ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. 
Manuel da Cunha Galvão, pelo Exmo. Sr. Dr. João Dabney d´Avelar 
Brotero, Aracaju: Tipografia Provincial, 1859, p. 12] 
 
É de registrar-se que este templo quase seria consumido por um incêndio, se 
não fora a pronta intervenção dos circunstantes, quando se celebrava o Te Deum em 
homenagem a Suas Majestades Imperiais, a 11 de janeiro de 1860. É que os tules que 
envolviam as velas se queimaram, o que poderia significar a destruição do retábulo e 
do madeiramento do telhado [Ver: Viagem Imperial à Província de Sergipe, Salvador: 
Tipografia do Diário, 1860, p. 11]. 
 
Sobre a “matriz” diz o Imperador Dom Pedro II em seu diário que é “Matriz 
bonita, mas simples capela”, acrescentando “grande indolência nos padres. Te Deum e 
cerimônias nunca se acabavam; sermão medíocre do vigário de S. Cristóvão, Barroso 
(...) [Diário do Imperador D. Pedro II na sua visita a Sergipe em janeiro de 1860, 
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, no. 26 (1961-1965), P. 64-65] 
 
Como sede da freguesia de Socorro permaneceu até 1864, quando a Resolução 
no. 701, de 7 de julho, separou as duas freguesias (Aracaju e Socorro, agora recriada), 
sendo os limites iniciais modificados por resolução de 2 de maio de 1870 [Ver: FREIRE, 
Felisbelo. História Territorial de Sergipe, Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe / 
Secretaria de Estado da Cultura / FUNDEPAH, 1995, p. 89-90] 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
11 
 
Enquanto isto, em face à falta de recursos, carência que se acentuaria durante 
os seis anos que corresponderam ao período da guerra do Paraguai ou ainda em 
virtude de mudanças no projeto, as obras da matriz não eram encetadas, fazendo com 
que a capela de São Salvador continuasse a fazer as vezes de matriz, acolhendo os fiéis 
no atendimento de suas necessidades espirituais. 
 
Na Capital, ainda se celebram os atos divinos na pequena capela de S. 
Salvador, porque, tendo falhado o auxílio das loterias, que corriam na 
Corte em benefício da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a Província 
não tem podido distrair quantia alguma para a construção da obra da 
mesma Igreja [Fala com que foi aberta, no dia 20 de janeiro de 1966, a 
Primeira Sessão da Décima Quinta Legislatura da Assembléia Legislativa 
desta Província, pelo Terceiro Vice-Presidente Comendador Dr. Ângelo 
Francisco Ramos, Aracaju: Tipografia Provincial, 1866. P. 15] 
 
Ainda no século em que o templo foi erguido, vários documentos oficiais 
testemunham a opinião de autoridades oficiais sobre problemas encontrados na capela 
e mesmo evidenciam a necessidade de certas intervenções que o tornem mais cômodo 
para a população. 
 
Sobre a capela, em 1872, dizia o Presidente Luiz Álvares d´ Azevedo Maciel: 
 
Esta Capela serve atualmente como Matriz. Não tem ela, entretanto, a 
capacidade necessária, para que todos os fiéis concorram aos atos 
religiosos, que nela se celebram, o que torna ainda mais urgente a 
terminação da obra da Matriz [Relatório apresentado perante a 
Assembléia Provincial da Província de Sergipe pelo Exm. Sr. Presidnete 
Doutor Luiz Alvares d´Azevedo Macedo por ocasião da sua abertura no 
dia 4 de março de 1872, Aracaju: Tipografia do Jornal de Aracaju, 1872, 
p. 13] 
 
 
 Em 1869 não contava a capela com uma pia batismal, quando então a Província 
dotou o templo com 235$000 réis para a compra de uma pia. [Relatório com que o Exm. Sr. 
Tenente Coronel Francisco José Cardoso Júnior abriu a Primeira Sessão da Décima Nona Legislatura da 
Assembléia Provincial de Sergipe no dia 4 de março de 1870, Aracaju: Tipografia Provincial, 1870]. 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
12 
 
 
Remoção do retábulo da Capela de S. Salvador mais para o fundo da 
Igreja, ou encostar no fundo da mesma, fazendo-se um corredor do lado 
do mar, a fim de que a Capela fique com mais capacidade para a 
celebração dos atos divinos 
Um cemitério que não fique, como o que existe, extra-portas [Relatório 
citado p. 23] 
 
Desempenhou a função de matriz até 1875, quando foi transferida a sede da 
freguesia para a igreja de Nossa Senhora da Conceição (iniciada em 1862), o novo 
templo edificado no centro da praça Olímpio Campos, a qual é forçoso lembrar ocupa 
duas quadras consecutivas dentro do traçado de Pirro. Assim, a igreja de São Salvador 
passou a ser uma capela. 
 
 
Com a proclamação da República e a separação da Igreja e do Estado, e o 
consequente com o fim do Padroado, a capela ficou entregue à sua própria sorte, a 
mercê de limitados recursos oriundos do óbulo de esporádicos fiéis tanto que, no século 
XX, quando da criação da Diocese de Sergipe, pela bula “Divina disponente clementia” 
(1910), do Papa Pio X, a situação do templo era precária, segundo testemunho de Dom 
José Thomaz Gomes da Silva. 
 
A Capela de S. Salvador, que vivia na época da minha chegada à 
Diocese, em lastimável abandono e fechada ao Culto Público, teve 
grande melhoramento na gestão da Capelania do monsenhor Francisco 
Gonçalves Lima, de saudosa memória, e prosseguem os seus 
melhoramentos na zelosa direção atual do monsenhor Juvêncio Brito, 
nosso Vigário Geral [In: SOBRINHO, Sebrão. Obra citada, p. 335] 
 
 
Não é demais também colocar que a igreja serviu para as eleições, num 
simbolismo de que, sendo aquele um espaço sagrado, não seria conspurcado por 
processos menos lícitos no curso da escolha dos representantes da sociedade nos 
corpor legislativos então existentes [Câmara Municipal, Assembléia Provincial e 
Assembléia Geral Legislativa (Câmara dos Deputados e Senado do Império)], segundo 
os preceitos previstosna Constituição de 1824. 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
13 
 
 
A igreja de São Salvador, em seus primórdios, não funcionou apenas 
como casa de oração e cemitério. Ela também abriu suas portas para 
sediar as eleições políticas. Exemplo disto ocorreu em 1861 quando 
houve sufrágio no interior do templo para escolha dos membros da 14ª. 
Legislatura da Assembléia Provincial. Este fato representa, entre outras 
coisas, a confraternização entre o poder político e religioso, tão 
acentuado à época... [CARDOSO, Amâncio. Artigo citado] 
 
b) Sua inserção na cidade 
(século XX) 
 
 
 Entretanto, a grande transformação por que passou ocorreu na segunda 
década do século XX, durante a capelania do Pe. Solano Dantas Menezes, quando foi 
reformada, entre março de 1921 e dezembro de 1923. Esta obra apagou os traços 
originais, imprimindo-lhe características indicadoras do neogótico, como acentua, 
inclusive com fotos, a equipe da SUBPAC no relatório juntado ao processo. 
 
Segundo o mestre Fernando Porto, em “Alguns nomes antigos do Aracaju” 
(recentemente reeditado pela contribuição pessoal da nossa companheira Ana Medina), 
o neogótico chegou a Sergipe (Aracaju, principalmente) na década de 60 e 70 do século 
XIX, com a construção do prédio da antiga Cadeia Pública (transformada para dar 
origem ao atual Palácio Serigi) e da matriz (hoje Catedral Metropolitana), cujas cúpulas 
das torres não apresentavam as agulhas características do estilo gótico (figuras 3 e 4). 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
14 
 
 
 
Figura 3 – Cadeia Pública 
(Fernando Porto – Alguns nomes antigos do Aracaju) 
 
 
 
Figura 4 – Catedral Diocesana2 
(Fototeca do IHGS) 
 
 
2
 Observar que esta fotografia foi retirada da torre da Capela de São Salvador, conclusão que se chega pela 
presença da imagem do orago e de uma cruz no primeiro plano da fotografia, acima da sua identificação. 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
15 
 
Contudo 
 
(...) o nosso neogótico foi de uma modinatura muito simples; brilhou, 
todavia, nas bandeiras ogivais das janelas, que, em grande número, 
apresentavam belos caprichados trabalhos de carpintaria. Belo exemplo 
dessa arte pode ser visto na página 91 do Álbum. Muitos houve que o 
martelo e a picareta apagaram, alguns podendo ser catados em antigas 
fotografias. [PORTO, Fernando Figueiredo. Alguns nomes antigos do 
Aracaju, 2ª. ed., Gráfica Editora J. Andrade, 2011, p. 35]. 
 
Até então, a grande maioria das construções em Aracaju, notadamente os 
edifícios públicos, seguia os cânones do neoclássico, introduzido no Brasil pelos artistas 
franceses chegados em 1816, contratados pelo conde da Barca para a fundação da Real 
Academia de Desenho. 
 
O novo estilo dominou o Rio de Janeiro onde se podem ver exemplares 
majestosos e bem assim amostras simples da chamada arquitetura 
popular, espalhou-se pelo país e foi presente até o final do século 
passado [século XIX], como exemplares esparsos e retardados no início 
deste século [século XX] [PORTO, Fernando Figueiredo. Obra citada, p. 
25] 
 
Devemos a introdução do neoclássico em Sergipe aos engenheiros militares, 
como Sebastião José Basílio Pirro e Francisco Pereira da Silva (entre outros), que 
andaram a trabalhar para o Governo da Província. Podemos notar que esses traços 
neoclássicos são bem mais simples do que aqueles encontrados em outras regiões do 
País, características que, de acordo com Fernando Porto, também se verifica no Recife, 
quando afirma que essa transposição “mantendo o frontão e o arco-pleno, reduziu ao 
mínimo as decorações e cingiu-se a uma ordenação rítmica de janelas e peças de 
fachada” [PORTO, Fernando Figueiredo. Obra citada, p. 26] 
 
Nas figuras 5, 6, 7, 8 e 9 vemos alguns exemplares do neoclássico em Sergipe. 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
16 
 
 
Figura 5 – Palácio do Governo 
(antes da reforma dos anos 20) 
(Fernando Porto – Alguns nomes antigos de Aracaju) 
 
Figura 6 – Assembléia Legislativa (início do século XX) 
(Fernando Porto – Alguns nomes antigos do Aracaju) 
 
 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
17 
 
 
Figura 7 – Antiga Tesouraria Provincial (início do século XX) 
(Fernando Porto – Alguns nomes antigos do Aracaju) 
 
 
 
Figura 8 – Quartel da Força Pública (início do século XX)3 
(Fernando Porto – Alguns nomes antigos do Aracaju) 
 
 
3
 Este prédio situava-se no local onde hoje está o prédio do antigo Atheneu Pedro II (futura sede do Museu da 
Gente) 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
18 
 
 
Figura 9 – Atheneu Sergipe (século XIX)4 
(Fernando Porto – Alguns nomes antigos do Aracaju) 
 
As fotografias 10 e 11 identificam construções, dentre as várias que existiram 
em Aracaju, nas quais se apresentam as ogivas nas janelas. No caso da fotografia no. 6 
podemos identificar a predominância das ogivas neogóticas encontradas nas edificações 
do lado sul da praça do Palácio, atual praça Fausto Cardoso. 
 
4
 Esta construção situa-se no quadrilátero voltado para a praça Olímpio Campos. É ocupado por um prédio que lhe 
aproveitou a estrutura. Atualmente é o Palácio Graccho Cardoso (Câmara Municipal. A foto apresenta à direita e à 
esquerda, respectivamente, as fachadas posteriores do Palácio Olímpio Campos e do Palácio Fausto Cardoso; 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
19 
 
 
Figura 10 – Casa do Des. Simeão Sobral (Rua Maruim) 
(Fernando Porto – Alguns nomes antigos do Aracaju) 
 
 
 
Figura 11 – Praça Fausto Cardoso - casario (início do século XX) 
(coleção do autor) 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
20 
 
Ademais, ao estudar a evolução da arquitetura em Aracaju, Fernando Porto 
coloca que, na passagem do século XIX para o XX, vivia-se em nossa capital uma época 
relativamente fraca em termos de construções e de não definição de um estilo 
arquitetônico dominante. 
 
(...) O neoclássico foi esquecido, o neogótico em raros estertores. Este, 
todavia, deu um forte alento por volta de 1920, quando o padre Solano 
Dantas cobriu de roupagens neogóticas a Igreja de São Salvador. 
Reforma bem avançada, indo muito além das simples ogivas do passado, 
foi ela um sucesso; à noite, muitas pessoas faziam “sereno” no passeio 
fronteiro para apreciar os coloridos vitrais iluminados, uma novidade em 
Sergipe. Essa reforma desencadeou uma onda neogótica sobre o Estado, 
onde pulularam, aqui e ali, igrejas e capelas no mesmo estilo soterrando 
ao desprezo o velho barroco. Seria nostalgia do medievo? [PORTO, 
Fernando Figueiredo. Obra citada, p. 36] (figura 11) 
 
Figura 12 – Igreja São Salvador (foto atual) (Jornal da Cidade – 06 e 07.02.2011) 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
21 
 
Apresentava-se, na época da reforma encabeçada pelo Pe. Solano Dantas e 
realizada por Belando Belandi e Orestes Gatti (informação encontrada no processo 
original de tombamento), com características do estilo colonial brasileiro, inclusive com 
frontão com curvas (barroco). (figura 13) 
 
 
 
Figura 13 – Capela de São Salvador (início do século XX) 
(detalhe da fachada) 
(Memorial de Sergipe) 
 
 
À vista da fotografia acima, ainda que não seja muito nítida, porquanto não se 
trata de uma foto isolada da capela, mas a coloca como uma das construções 
importantes da rua do Barão (depois Japaratuba e, por fim, João Pessoa), posso 
destacar alguns elementos que, por volta dos anos 20 do século passado (antes dareforma do Pe. Solano Dantas) a caracterizavam. 
 
Refiro-me a elas: 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
22 
 
a) como acontece em todas as construções religiosas de séculos pretéritos, a 
fachada, no sentido da largura da construção, apresenta três planos. O 
primeiro corresponde à parte mais baixa; o segundo ao plano do coro e o 
terceiro, acima da cimalha) ao do frontão; 
 
b) no primeiro plano encontramos a porta de acesso ao templo, provavelmente 
de verga reta (a fotografia não permite fazer a afirmação, nem assegurar que 
existiam portas laterais); 
 
c) o plano intermediário era marcado pela janela correspondente ao coro e por 
óculos laterais (apenas percebido aquele existente no lado do Evangelho); 
 
d) o plano superior, grosso modo 1/3 da altura da construção, é o frontão. Este 
apresenta-se partido para incorporar a torre flanqueada por duas volutas; 
 
e) a torre, considerada isoladamente, também apresenta três planos: o do terço 
inferior com um óculo vedado, o terço médio com a janela sineira e o terço 
superior com frontão encimado pela cruz; 
 
f) a fachada é também marcada por três partes longitudinais. Cada um dos 
terços longitudinais (laterais), acima da cimalha, é demarcada por uma parte 
do frontão partido e a central pela torre; 
 
g) cada divisão longitudinal é marcada por pilastras que se prolongam além da 
cimalha (até o frontão, nas laterais). Os cunhais, que também têm pilastras, 
são interrompidos na cimalha, sendo coroado por coruchéus. 
 
Na figura no. 14 podemos observar a fachada lateral, aberta para a rua João 
Pessoa, como se apresentava em 1880. Desta observação nos é permitido visualizar 
que, na parte mais baixa da construção, existiam duas portas abertas para a rua e no 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
23 
 
mais alto da parede cinco óculos para iluminação e aeração, os quais deveriam fazer 
pendant com outros existentes na fachada leste. 
Na parte posterior da construção ficava o túmulo do Presidente Inácio Joaquim 
Barbosa, num lote de terreno definido por um gradil. 
 
 
Figura 14 – Capela de São Salvador – lateral (1880) 
(Fernando Porto – Alguns nomes antigos do Aracaju) 
 
 
 
 
 
 
Por sua vez, a foto no. 15 – que como ocorre com a anterior – é uma parte da 
fachada lateral leste e nos permite visualizar apenas um dos óculos existentes e que a 
torre apresenta uma pequena profundidade, tendo – provavelmente – o espaço 
necessário para o sino e uma escada para o acesso do sineiro. 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
24 
 
 
Figura 15 – Rua Laranjeiras (início do século XX) 
(coleção do autor) 
 
 
Na figura 16 podemos ver o lado leste da rua João Pessoa, entre Laranjeiras e 
São Cristóvão. A sua análise serve, por um lado, para verificarmos um belo conjunto 
arquitetônico hoje relativamente perdido e, por outro, para observarmos como a capela 
tem uma presença marcante naquele logradouro. 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
25 
 
 
Figura 16 – Rua João Pessoa (anos 40) 
(Foto Brasil – coleção do autor) 
 
Mais recentemente a capela passou por obras, como aludi nas considerações 
iniciais, as quais significaram a perda de elementos artísticos caracterizadores da 
reforma empreendida pelo Padre Solano Dantas, como o altar-mor, a mesa de 
comunhão, bem como a transferência da sacristia para uma casa vizinha adquirida para 
ral fim e a ampliação da capela-mor até a parede da antiga sacristia. Manteve-se, nesta 
reforma, a capela do Senhor do Passos. 
 
À capela de São Salvador estão ligados nomes de sergipanos ilustres que 
chegaram ao episcopado, como Dom Manuel Raimundo de Melo [(1872-1945), Bispo de 
Caitité na Bahia], Dom Juvêncio Brito [(1886-1954), Bispo de Caitité, na Bahia, e de 
Garanhuns, em Pernambuco] e Dom Luciano José Cabral Duarte (1925), Arcebispo 
Emérito de Aracaju, e mesmo o alagoano Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela [(1912-
1986), Bispo de Petrolina, Arcebispo de Teresina e de Salvador e Primaz do Brasil, o 
qual iniciou sua vida sacerdotal em Sergipe, após seguir o curso no Seminário Sagrado 
Coração de Jesus, criado por Dom José Thomaz Gomes da Silva, nosso primeiro Bispo 
Diocesano. 
 
c) Características arquitetônicas 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
26 
 
 
Deixo de tecer considerações sobre as características construtivas do templo, 
visto que estas foram tratadas, de forma exaustiva, no relatório de inspeção (fls. 03 e 
04 do processo) 
 
d) Outras considerações sobre a capela 
 
É importante notar que a época da reforma da capela, nos anos 20 do último 
século, não está desconectada das transformações que se viveu em Aracaju nas duas 
primeiras décadas dos anos novecentos e que se iniciam com a introdução de muitas 
comodidades urbanas no campo da infraestrutura. Isto foi resultante da combinação de 
vários fatores, propiciando um fluxo de recursos que foi investido na melhoria das 
condições de vida em nossa capital. 
 
Como observou o historiador Josué Modesto dos Passos, a economia 
estadual continuou com baixo dinamismo, perdeu posição relativa nas 
exportações, mas houve uma recriação das atividades, proporcionando 
diferenciação produtiva. 
Essa diferenciação era de certo modo facultada pela pequena 
concorrência dos produtos de outras localidades, especialmente dos 
demais Estados. Como o estágio de integração inter-regional ainda era 
relativamente diminuta, as iniciativas econômicas locais passavam a 
contar com uma demanda relativamente segura, diante do baixo nível de 
concorrência. 
Na conjuntura da Primeira Guerra (1914/1918), marca por restrições das 
importações da Europa, essa tendência ainda mais se acentuou, 
favorecendo não apenas as indústrias locais mas também as atividades 
comerciais internas; Como as exportações de nosso principal produto, o 
açúcar, eram destinadas a essa altura para os Estados do Sudeste e do 
Sul, o empresariado local poucos se ressentiu dos efeitos daquele conflito 
mundial. Talvez não seja mera coincidência que, nesse período, alguns 
grupos familiares estabeleceram-se na capital, a grande parte 
proveniente do interior com origem na pecuária ou no próprio comércio. 
[DANTAS, Ibarê. História de Sergipe – República (1889-2000), Rio de 
Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004, p. 51] 
 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
27 
 
Nesta fase da nossa evolução urbana, as construções apresentam mais aprumo 
no uso de materiais e na concepção do espaço edificado, algumas se afastando de uma 
das margens do lote [casa de Adolfo Rollemberg (atual sede da OAB/SE), casa do Dr. 
Augusto Leite (demolida no final dos anos 80 do século passado), do Dr. Thomaz Cruz 
(antigo Hotel Marozzi, atual edifício Cidade de Aracaju), de Nicola Mandarino (atual 
Palácio Arquiepiscopal), a do coronel Manoel Correia Dantas (atual sede do Museu do 
Homem Sergipano), a de Pereira Lobo (também conhecida como palacete da pouca 
vergonha), dentre outros. 
 
Alarga-se a influência da Capital. Aracaju se moderniza com construções 
luxuosas, “os palacetes” como pomposamente eram denominados, centro 
de diversões, destacando-se o cinema que começou a funcionar desde 
1909, o bonde à tração animal a partir de 1901, automóveis circulando (o 
primeiro apareceu em 1913). As obras de infra-estrutura – água 
encanada (1908), luz elétrica (1913), esgotos (1914) – fazem que a 
capital sergipana perca o jeito provinciano que a marcara até então. Em 
1914 o “Chémin du fer” completaria revolução quando o trem ligou 
Salvador ao São Francisco (Propriá), concretizando-se um velho anseio 
dos sergipanos e dos governos republicanos [NUNES,Maria Thétis. 
História da Educação em Sergipe, Rio de Janeiro / Aracaju: Paz e Terra / 
Secretaria de Estado da Educação e Cultura / Universidade Federal de 
Sergipe, 1974, p. 216] 
 
O Governo do Estado, por sua vez, volta – depois de muito tempo – a investir no 
embelezamento da cidade, cujo marco sem dúvida alguma é a reforma do “velho” 
Palácio do Governo, iniciada na administração de Oliveira Valadão e concluída na do 
Presidente Pereira Lobo, com a decisiva presença dos artistas italianos, os quais 
deixaram marcas indeléveis na arquitetura aracajuana. 
 
(...) Já estávamos, por isto, devidamente aparelhados quando 
desabrochava o gosto pelos serviços de embelezamento urbano, aí pelo 
ano 20, instigado pela necessidade de preparar a cidade para as grandes 
festas comemorativas do primeiro centenário da emancipação política 
sergipana. Já então a municipalidade, reagindo aos estímulos do poder 
estadual, vinha trazer a sua contribuição ao melhoramento da cidade, 
contribuição modesta, comparada às tarefas vultosas a cargo do Estado, 
mas bem significativa quanto a reduzidas possibilidades e como 
demonstração de que o poder aprendia a gerir, finalmente, os interesses 
de seus governados. E assim chegamos ao quatriênio Graccho Cardoso, o 
apex (sic) da atividade estadual nas coisas urbanas de Aracaju (...) 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
28 
 
[PORTO, Fernando. Teófilo Dantas – Um intendente de Aracaju, Revista 
do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, no. 29 (1983-1987), p. 79] 
 
 
Evidentemente a Igreja Católica não podia ficar de fora dessa febre de 
melhoramentos que a cidade vivia. Esse processo se inicia com a construção do 
Seminário Sagrado Coração de Jesus, da construção da igreja do Rosário (na avenida 
Pedro Calazans), com as “remodelações” das capelas de São Salvador e de Santo 
Antônio), a edificação da igreja São José e do Colégio Salesiano, encerrando-se este 
ciclo com a reforma da Catedral, seguida – muito mais tarde – com a construção da 
igreja de Nossa Senhora Menina. As demais, como as do Espírito Santo, Nossa Senhora 
de Lourdes e São Judas Tadeu são bem posteriores. 
 
Figura 17 - Igreja São Salvador – obras - 1921 
 (acervo do Pesquise) 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
29 
 
 
 
 
Figura 18 – Igreja de São Salvador (Nave e capela-mor)5 
Acervo do Instituto Dom Luciano Duarte 
 
5
 A observação desta foto, comparando-a com as fotos 18 e 19, permitir visualizar as intervenções realizadas no 
templo quando da reforma pós o Concílio Vaticano II, tais como a demolição das paredes laterais da capela-mor, 
do arco-cruzeiro e do retábulo. 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
30 
 
 
 
 
 
Figura 19 – Igreja de São Salvador (Altar) 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
31 
 
 
Figura 20 – Igreja de São Salvador (após a reforma dos anos 60 e 70) 
(Relatório de inspeção da SUBPAC – página 10 do processo) 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
32 
 
 
Figura 21 – Igreja de São Salvador (após a reforma dos anos 60 e 70)6 
(Relatório de inspeção da SUBPAC – página 10 do processo) 
 
 
 
VOTO 
 
Os traços históricos acima referidos, quando tratei da capela, enfocando a 
trajetória deste imóvel, evidenciam a importância do templo como um bem cultural 
edificado, o qual está diretamente ligado à vida religiosa da capital sergipana, desde os 
seus primeiros tempos, porquanto data de 1856. 
 
 
6
 Comparando-se esta fotografia e a de número 16, podemos verificar que os nichos existentes na nave foram 
retirados na última reforma, sendo substituídos placas colocadas nas paredes, a fim de servirem de sustentação às 
imagens. 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
33 
 
Se ao longo da sua história perdeu as suas características arquitetônicas 
originais, mas incorporou outras mais contemporâneas da época em que foi reformada 
 
A ela se agregaram outros elementos simbólicos, a partir da sua busca por todos 
os sergipanos ou não que encontraram – e ainda encontram – ali um espaço para 
colocar suas dúvidas, suas dores e suas esperanças, no campo da fé, pedindo ao 
Redentor sua intercessão junto ao Deus Pai no encaminhamento de suas súplicas de 
qualquer tipo. 
 
É, portanto, um espaço de cultura, pois a crença em Deus é também (antes de 
tudo) uma manifestação cultural. 
 
È oportuno também lembrar que, por quase vinte anos, foi o único templo do 
centro da cidade, na qual ocupava uma posição importante no traçado urbano, 
justamente num dos primeiros quarteirões definidos em nossa Capital, delimitado pela 
ruas do Barão (atual João Pessoa), da Aurora (avenida Rio Branco), de São Salvador 
(atual Laranjeiras) e São Cristóvão, no centro fundacional de Aracaju (figura 20). 
 
 
Figura 22 – Centro Histórico de Aracaju (anos 2000) 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
 
34 
 
 
O conceito atual de patrimônio não se limita exclusivamente à importância do 
bem a ser protegido pela sua relevância arquitetônica (vinculada à determinada época 
ou a determinado estilo), pela sua vinculação a fato memorável da História ou a figura 
de notoriedade. Incorporou outros aspectos como a estreita ligação do bem com a 
comunidade em que se insere e a que serve, como acontece com a Capela de São 
Salvador, cujo tombamento é proposto ao Conselho. 
 
Diante das informações constantes no relatório, manifesto-me 
favorável ao tombamento da Capela de São Salvador, localizada na rua 
Laranjeiras, esquina com a rua João Pessoa, na cidade de Aracaju, por 
considerar este templo como um espaço de memória como parte integrante 
do centro fundacional da capital de Sergipe. 
 
Este é o meu parecer, s.m.j 
 
Sala das Sessões do Conselho Estadual de Cultura, em Aracaju, 23 de agosto de 
2011. 
 
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo 
CONSELHEIRO-RELATOR 
 
[versão definitiva]